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MEDIDA EM AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA Apostila Prof. MsC Cláudio Diehl Nogueira UNIDADE I INTRODUÇÃO À MEDIDA E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA A necessidade do homem de medir e avaliar o seu corpo e por conseguinte o seu desempenho físico, surgiu desde a sua criação, em sua luta contínua entre a vida e a morte. Em um processo de seleção natural, onde os mais fortes sempre se sobressaíam em relação aos mais fracos, através principalmente da força física, estes garantiam a sua sobrevivência e reprodução. Podemos dar como exemplo disto a atitude de Miron de Croton, que na Antigüidade Clássica, usava um novilho sobre os ombros para correr, visando aumentar a sua capacidade conforme o animal aumentava seu peso, realizando assim, uma avaliação de seu próprio estado. No campo da Educação Física, surge a Medida e Avaliação, antiga Biometria, que quer dizer “medida da vida” ou “medida dos fenômenos biológicos”, como método científico, que através de testes escalonados de acordo com a individualidade biológica de cada indivíduo, com um sistema de medição corporal e de rendimento bem padronizados, com uma avaliação de dados capaz de quantificar e/ou qualificar cada indivíduo e com um critério de análise onde as interpretações dos dados possam ser julgadas de acordo com as observações dos avaliadores, pode de fato, ajudar a determinar uma variação no quadro do rendimento físico. O termo Medida e Avaliação em Educação Física começou a surgir a partir do momento em que se admite que o desenvolvimento físico desacompanhado do desenvolvimento intelectual e vice-versa não é possível de ocorrer. Não se pode esquecer que tanto o físico, quanto o intelectual estão altamente correlacionados com as estruturas psicológicas, sociais, emocionais e econômicas não só do indivíduo mas de toda a sociedade. De acordo com RIZZO PINTO (1977), “o conceito de afastar o incapaz, de selecionar o mais forte, perde seu sentido tornando-se necessário transformar o fraco em um forte e fazer de ambos, elementos cada vez mais fortes e mais capazes”. É importante frisar que ao se mencionar incapaz, não estamos nos referindo apenas àqueles que são excluídos pela sociedade por uma deficiência física ou mental, mas sim aqueles que não podem por si próprio ter uma vida digna, entrosada no contexto da sociedade. Dentro desta visão de que a medida e a avaliação não pode excluir os indivíduos e sim de tentar aproxima-los e de que a medida focaliza um conhecimento ou habilidade específica de um momento e a avaliação é um processo dinâmico, uma mudança preferencialmente para melhor em um período de tempo, é que este livro foi desenvolvido. PORQUE MEDIR? O QUE MEDIR? COMO MEDIR? CONCEITOS BÁSICOS: Como vimos, dentro da Educação Física, para comprovarmos as modificações corporais e físicas de um programa de treinamento ou de atividade física usaremos técnicas e métodos capazes de nos quantificar e/ou qualificar estes dados. Para isto estaremos sempre utilizando uma linguagem comum que nos permite entender o que estamos fazendo. No campo da Medida e Avaliação, a todo momento estamos testando, medindo, analisando e avaliando , portanto sempre temos que ter em mente o por que, o como e o que medir. Nós medimos por que queremos verificar as variações antropométricas, orgânicas e físicas de um indivíduo diante de um programa elaborado para ele e de acordo com os seus objetivos, sem lhe causar dano. O modo como medimos é realizado através de protocolos, testes padronizados, atribuindo notas ou conceitos e sempre voltado para os objetivos da Educação Física. O que podemos medir é determinado através do desenvolvimento orgânico, que inclui a condição ou a aptidão física propriamente dita, o desenvolvimento psicomotor, as habilidades motoras (geral e/ou específica), o desenvolvimento afetivo, a aprendizagem socializante das atividades físicas (escolar ou desportiva) e o desenvolvimento cognitivo, através do conhecimento e compreensão relativa a exercícios em geral, e desportiva em particular. Quatro palavras nunca podem deixar de ser lembradas a todo momento em que se trabalha com Medida e Avaliação: teste, medida, análise e avaliação. De acordo com RIZZO PINTO (1977), elas são: TESTE – É uma pergunta ou um trabalho específico utilizado para aferir um conhecimento ou uma habilidade de uma pessoa. Estamos testando nosso conhecimento ao respondermos a um questionário previamente construído, a exemplo das provas realizadas em um vestibular, ou quando executamos um trabalho físico qualquer, visando obter uma resposta a uma indagação que nos fazemos: por exemplo, como está nossa força ? Sem o questionamento não há o teste. Para todo teste à ele se implica uma resposta pessoal, de quem está sendo analisado ou avaliado. Uma questão importante, é o fato de que muita das vezes consideramos o protocolo ( conjunto da descrição de uma atividade ) como sendo o teste. Um protocolo é a descrição clara e objetiva dos procedimentos que devem ser tomados antes, durante e após a realização de qualquer teste, devendo ser escrito com termos técnicos e sem deixar margens à dúvidas. Um bom exemplo disto é quando se atribui erroneamente à técnica de somatotipo de Heath-Carter a palavra teste quando queremos demonstrar a sua descrição. Não falamos teste de somatotipo de Heath-Carter e sim técnica de somatotipo de Heath-Carter. MEDIDA – É a quantificação da resposta do teste. É uma técnica capaz de nos dar, através de processos precisos e objetivos, dados quantitativos que exprimam caracteristicamente, e em bases numéricas, as qualidades que desejamos situar. Qual a minha estatura? Quanto obtive de índice na prova de espanhol? Qual o meu QI? Qual o meu índice de força nos membros inferiores? Qual a minha velocidade de deslocamento? Porém, simplesmente os dados numéricos podem não ser suficientes, necessitando de acompanhamento qualitativo. Assim, à questão qual a minha estatura? Cabe uma resposta: x m. Qual o meu tempo: y segundos. Porém nem sempre se poderá atribuir a resposta o seu valor quantitativo e qualitativo, apesar de ser este um procedimento preciso e objetivo. Como poderemos quantificar a motivação, atenção, liderança, estética e outros conceitos? Através de uma forma qualificada de forma gradativa: muito, média, regular, fraco ou insuficiente. ANÁLISE – São as técnicas que nos habilitam, comparando resultados, a situar-nos dentro da realidade do trabalho que se desenvolve e da veracidade dos fatos que estudamos, criando-nos condições para entender o grupo e situar um indivíduo dentro da totalidade do grupo, permitindo determinar pontos fracos e fortes, positivos e negativos, estabelecendo a realidade do trabalho em um momento. A classificação dos resultados são conseqüência de uma análise de resultados, de medidas ou conceito. Fazemos isto, quando classificamos uma turma em função dos resultados da própria turma ou dos indivíduos que a compõem. É a investigação científica dos fatos. AVALIAÇÃO – É o processo pelo qual, utilizando medidas, podemos subjetiva e objetivamente exprimir e comparar critérios e determinar a evolução de uma pessoa ou grupo numa linha de tempo, seus avanços e retrocessos. Assim, por exemplo, ao iniciarmos um programa de treinamento ou de atividade física e medirmos a situação em que se encontram nossos atletas ou alunos, poderemos, posteriormente, após aplicar o nosso programa, repetindo os testes iniciais, comparar os dados e julgar se estamos no caminho certo ouse necessitamos reformular, em parte ou no todo, o que vínhamos usando, sabendo-se se o resultado foi positivo ou negativo. Portanto, a avaliação é uma parte do processo avaliativo/educacional, que deve ser permanente para nos criar condições de, partindo de valores básicos, determinar a ação, características, desvios e toda a seqüência deste processo. Segundo KISS (1987), avaliação é o processo de delimitação, obtenção e aplicação de informações descritivas e de julgamento concernente ao mérito de objetos, à medida que revelados por suas metas, plano, implementação e resultados e para fins de tomada de decisões e de responsabilidades. A avaliação não pode ser encarada como o fim de um momento mas sim o de um período. Resumindo, RIZZO PINTO (1997), define todo este processo como: “Enquanto a medida nos dá uma informação, quantitativa ou qualitativa, de um fenômeno em um dado momento, a análise nos fornece informações de alguém ou um fato, ante um grupo, também em relação a um instante, a avaliação sempre nos posiciona dentro do fato numa linha de amplitude temporal. A análise nos informa um momento do fenômeno, a avaliação nos revela uma mudança, uma evolução, para mais ou menos, numa linha de tempo”. MODELOS DE AVALIAÇÃO: AVALIAÇÃO FORMAL: Caracterizada por cuidados especiais na preparação e na execução, tais como, cronometragem, marcação precisa dos resultados e padronização. As avaliações formais são construídas com grande cuidado e sujeitas a testes para se ter certeza que todos os itens não são ambíguos e os resultados são consistentes. AVALIAÇÃO INFORMAL: São em geral construídas localmente e raramente testadas durante o seu desenvolvimento. As avaliações informais são construídas sem grandes cuidados e geralmente de momento, de acordo com a situação. TIPOS DE AVALIAÇÃO: DIAGNÓSTICA: É a avaliação que é realizada para conhecermos a situação em que se encontra determinado aluno ou grupo, em relação a uma ou diferentes variáveis. FORMATIVA: Avaliação que procura, durante todo o decorrer do processo, saber e informar ao professor o que está ocorrendo, a fim de dinamizar ao máximo o processo ensino-aprendizagem. SOMATIVA: É a avaliação que analisa o aluno, no final do processo, a fim de darmos um conceito ou uma nota. EDUCAÇÃO E APTIDÃO: EDUCAÇÃO – Processo de humanização, promovendo mudanças nos planos do conhecimento e no da vivência de uma hierarquia de valores. APTIDÃO – É aquele estado que caracteriza o grau pelo qual uma pessoa está habilitada a uma função. Implica a habilidade de cada pessoa viver mais efetivamente o seu potencial. Habilidade para funcionar dependente dos componentes físico, mental, emocional, social e espiritual, todos eles relacionando-se uns com os outros e sendo mutuamente interdependentes. APTIDÃO TOTAL – Refere-se à capacidade individual de sobreviver e viver efetivamente em seu ambiente. APTIDÃO TOTAL HEREDITARIEDADE INTERFERÊNCIA AMBIENTAL SOCIAL EMOCIONAL FÍSICO INTELECTUAL ESTRUTURAL MOTOR FISIOLÓGICO Tamanho corporal Movimentos básicos: Condição cardio-pulmonar Peso corporal andar, correr, saltar, Pressão arterial Composição corporal lançar, levantar, Consumo de O2 Gordura corporal transportar, trepar Performance física Forma corporal Postura UNIDADE II PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS DE UM PROGRAMA DE AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO: O planejamento de um programa de medida e avaliação inclui teste, medida, avaliação e análise. Para que um programa de medida e avaliação tenha sucesso, deve-se ter em mente certos princípios que são fundamentais ao bom andamento do programa. A condução de um projeto que não esteja de acordo com os princípios da própria Educação Física e com os dos avaliadores é o caminho certo para o seu fracasso. A avaliação é o controle de qualidade do planejamento. Nesta concepção entendemos que há uma sinergia muito grande nos processos de avaliação e planejamento, embora a relação planejamento/avaliação seja bastante complexa. Antes de se administrar os testes, é preciso determinar os objetivos do programa para se poder avaliar os resultados advindos de acordo com os objetivos propostos. Para que esses objetivos sirvam de referência para o desenvolvimento do trabalho do professor de Educação Física, é necessário saber os próprios objetivos da Educação Física, quando se tratar de medida e avaliação. > Avaliar o estado do indivíduo ao iniciar a programação. > Detectar deficiências, permitindo uma orientação no sentido de superá-las. > Auxiliar o indivíduo na escolha de uma atividade física que, além de motivá-lo, possa desenvolver suas aptidões. > Impedir que a atividade física seja um fator de agressão. > Acompanhar o progresso do indivíduo. > Selecionar elementos de alto nível para integrar equipes de competição. > Estabelecer e reciclar o programa de treinamento. > Desenvolver pesquisa em Educação Física. > Acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento dos nossos alunos. De acordo com RIZZO PINTO (1977), existem três fases distintas, durante o planejamento, nas quais devemos nos preocupar: fase de preparação, fase de execução e fase de análise. FASE DE PREPARAÇÃO: É a fase inicial do seu programa, também chamada de fase de pré-teste, onde deve haver uma preocupação na elaboração do teste em si. Os cuidados desta fase são: - CRITÉRIOS SELETIVOS DE TESTE: Indicarão a aprovação do teste de acordo com critérios científicos, através de uma seleção adequada de testes que realmente irão medir o que se quer que eles meçam. > PADRONIZAÇÃO: Envolve a descrição do teste e das condições de realização, de modo claro a permitir que qualquer pessoa o entenda. Utiliza-se termos técnicos, não deixando dívidas. > CONFIABILIDADE: A medida repetida duas ou mais vezes dentro de um curto intervalo de tempo, sem que tenha havido, entre os testes, atividade que possa alterar a resposta, deve apresentar os mesmos resultados ou serem altamente correlacionados ( r = .90; ou no mínimo r deve ser superior a .70 ). > VALIDADE: O teste mede o que é destinado a medir. Se estabelecermos uma correlação entre o resultado do teste realizado por uma pessoa e o resultado colhido pela mesma pessoa em teste que dê resposta segura na mesma valência, o coeficiente de correlação deve ser elevado. > DISCRIMINATÓRIO: O teste deve nos dar condições de separar indivíduos dentro de um grupo e mesmo verificar as oscilações positivas e negativas de uma pessoa, com o tempo. > NORMAS: O teste deve fornecer meios conhecidos de comparação: escala, médias, desvios padrões, percentuais, etc. > OBJETIVO: O teste deve produzir resultados consistentes quando usado por diversos testadores. Um bom teste nunca pode depender de uma única pessoa. > ORTOGONALIDADE: Os diversos itens de uma bateria de teste não podem estar altamente correlacionados entre si. Se isso acontecer, estaremos usando testes diferentes para medir uma única valência, perdendo pois tempo e trabalho. - CONHECIMENTO DO TESTE: Tanto os indivíduos quanto os profissionais devem tirar proveito do processo de avaliação. Os testadores devem ter perfeito conhecimentoda técnica e do procedimento de aplicação do teste. Para isso é necessário que o teste seja entendido também por quem a ele se submete. - EQUIPAMENTO E FACILIDADE: É indispensável planejar e analisar o espaço e o material específico necessário à aplicação do teste, traçando um roteiro com uma planta das estações da bateria. O material para registro deve estar sempre à mão. - PREPARAÇÃO DAS FICHAS DE REGISTRO; Procurar ter nas fichas todas as informações necessárias à identificação do indivíduo ( nome, sexo, idade, etc. ) assim como dados a respeito do teste ( data de realização, temperatura ambiente, etc. ). - REGISTRO: É importante que o testador seja treinado a realizar o registro de forma correta. - PREPARAÇÃO DA ÁREA DO TESTE: arrumar as estações no sentido do esforço progressivo e de modo a permitir fácil fluxo de locomoção. - TESTES PRÓXIMOS DA SITUAÇÃO DA ATIVIDADE: Os testes devem refletir as situações da atividade, sendo construído de tal maneira que permita a reprodução de movimentos reais de atividade física desportiva ou não. - TESTADORES TREINADORES: Não é qualquer pessoa que pode administrar efetivamente um programa de medida e avaliação, que é um assunto muito sério para ser conduzido por alguém não treinado na área. Com o objetivo de administrar um programa de avaliação de Educação Física que seja efetivo, o profissional deve ter proficiência não só naquilo que vai ministrar, como também deve saber como e quando empregar corretamente as técnicas e instrumentos que irão avaliar o que foi ensinado. É importante que se treine todos os envolvidos na avaliação de forma que todos possam, usar as fichas de registro, as técnicas, a segurança e à administração propriamente dita. FASE DE EXECUÇÃO: Também conhecida como fase de aplicação dos testes, é a fase responsável pelo desenvolvimento do teste quando iniciado. - ÚLTIMA REVISÃO: Antes do início do teste, deve-se fazer uma última revisão em todos os itens da fase de preparação junto com os líderes, testadores e registradores. - EXPLICAÇÃO: O testador, ao explicar o teste, deve complementá-lo sempre com uma demonstração, pois isto auxiliará o testado na sua execução. - AQUECIMENTO: O aquecimento, além de proporcionar um melhor rendimento nos testes, é uma medida de segurança para evitar lesões. Deve-se dar maior atenção aos testes que requeiram aquecimento especial. - ADMINISTRAÇÃO: o testador deve conduzir o teste de modo positivo e eficiente, mantendo o testado o mais ativo possível, ocupando-o enquanto aguarda a vez, de modo a evitar aglomerações em torno das estações. - MOTIVAÇÃO: o avaliador deve instruir o testado sobre o desenvolvimento do teste e de sua utilização, procurando estimulá-lo ao máximo rendimento. Essa motivação deve ser transmitida ao testado com entusiasmo. - SEGURANÇA: Algumas observações devem ser levadas em conta para prevenir acidentes: - Antes da aplicação do teste, realizar um exame médico. - Proporcionar um bom aquecimento. - Manter a disciplina na turma. - Atender às limitações físicas de cada um. - Facilitar o fluxo de trânsito, mantendo desembaraçado o trajeto entre as estações, FASE DE ANÁLISE: É o momento da investigação científica, baseados nos resultados e comparações estatísticas, sendo também conhecida como, fase de pós-teste. - RECOLHIMENTO DAS FICHAS DE REGISTRO: É importante de se tenha um responsável pelo recolhimento das fichas de registro para que nenhuma se perca ou falte. É interessante que se faça a contagem das fichas de acordo com o número de avaliados. - COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS COM AS NORMAS E CONSTRUÇÃO DE PERFIS E GRÁFICOS: É a etapa em que faz a comparação dos resultados com critérios, ou referências escolhidos. É uma das principais fases do processo, mas não é comumente realizada em nosso meio. - ELABORAÇÃO DAS PRÓPRIAS NORMAS: Segue os mesmos padrões do item anterior, porém está relacionado com a construção de critérios, ou referências, à partir dos resultados da população específica em que se está trabalhando e quando as normas utilizadas não se mostram atualizadas ou não se correlacionam com os objetivos do trabalho a ser desenvolvido. - INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS: É o estudo dos resultados de forma coerente, utilizando informações científicas, geralmente conseguidas por tratamento estatístico dos resultados, onde o coordenador juntamente com os avaliadores, farão se necessário, mudanças de metas e remanejamento do programa, para que os objetivos sejam alcançados. Para que o seu programa funcione prontamente, é importante que a equipe de avaliadores tenha os seguintes conhecimentos: > DEVE-SE LEMBRAR SEMPRE A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE TESTE, MEDIDA, AVALIAÇÃO E ANÁLISE – A avaliação, inclui testes e medidas. Entretanto, avaliar é muito mais amplo do que simplesmente testar e medir. A avaliação, como um todo, é uma tomada de decisão. Os dados, coletados através dos procedimentos de medidas são características que se devem fazer parte de um todo que é o indivíduo. > OS RESULTADOS DEVEM SER INTERPRETADOS EM TERMOS DO INDIVÍDUO COMO UM TODO: SOCIAL, MENTAL, FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE – Se um indivíduo sai-se mal num teste, o profissional consciente irá verificar quais as razões que levaram a tal resultado e, na medida do possível e se necessário, prover assistência especial a pessoa. As razões de resultados “fracos” em um teste físico, podem ser várias; entretanto, se a razão for física, o bom profissional deverás descobrir qual o ponto fraco do indivíduo e dirigir um programa para que ele possa superar tal deficiência. > NENHUM TESTE OU MEDIDA É PERFEITO – Os profissionais, às vezes, depositam tanta confiança nos testes e medidas que acabam acreditando que eles são infalíveis. Deve-se usar sempre o melhor teste possível, mas ter sempre em mente que podem existir erros. > TUDO O QUE EXISTE PODE SER MEDIDO – Em outras palavras, qualquer assunto incluído em um programa de Educação Física deve ser medido. Existem, naturalmente, áreas da Educação Física que ainda não estão muito bem definidas e por esta razão ainda não foram desenvolvidos testes para medi-las, por exemplo, alguns testes de capacidades físicas ainda necessitam o desenvolvimento de testes mais eficazes ou a reformulação de alguns já existentes. > NÃO HÁ TESTE QUE SUBSTITUA O JULGAMENTO PROFISSIONAL – este talvez seja o mais importante princípio da avaliação. Algumas vezes os profissionais tentam substituir medidas objetivas por julgamentos, entretanto, as, primeiras não podem nunca tomar o lugar dos segundos. Se não houvesse lugar para o julgamento, então o profissional poderia ser substituído por uma máquina ou por um técnico. Por outro lado, julgamentos feitos sem dados substanciais são sempre inaceitáveis. As medidas fornecem os dados que levam o profissional a fazer um melhor julgamento ou tomar uma melhor decisão. > DEVE SEMPRE EXISTIR O RETESTE PARA SE OBSERVAR O DESENVOLVIMENTO – Se a habilidade inicial do indivíduo não for medida, então não se terá conhecimento sobre o seu desenvolvimento no programa de Educação Física..Não é possível reconhecer as necessidades do indivíduo sem se saber por onde começar, como, também não se pode determinar o que os indivíduos aprenderam ou melhoraram, se não se souber em que nível eles estavam antes de começar o programa. CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Até cerca de 20 anos atrás a educação física escolar tinha como principal enfoque de avaliação o desenvolvimento motor e melhora de desempenho, o que era mensurado por meio de métodos de avaliações quantitativas. Já nos dias de hoje, a educação física escolar objetiva englobar, alémdo desenvolvimento motor, também o desenvolvimento social, afetivo e psicomotor. Surge então um novo instrumento de inferência da relação ensino-aprendizagem, a avaliação qualitativa. A avaliação quantitativa, instrumento da educação física escolar militarista clássica, ressaltava a influência política e autoritária da época na escola. A avaliação exercia o propósito de instrumento de "aprovação" ou "reprovação", classificando o aluno em "bom" ou "ruim" e reforçando esses valores já impostos pela sociedade. O autoritarismo da época também era refletido pela avaliação, usada pelo professor para o controle da ordem e da disciplina dos alunos. Durante anos a avaliação destinou-se a selecionar e rotular alunos. Expunha, apontava sucessos e fracassos, causava danos irreparáveis à aprendizagem do aluno. A avaliação era feita somente no final de um período predeterminado pela instituição, comprometendo, assim, todo o processo de aprendizagem, descartando as possibilidades de recuperação. Vivemos novos tempos, mas ainda encontramos profissionais que se encaixam neste perfil de avaliador. Os novos objetivos da educação física escolar exigem um método mais amplo de avaliação, que tenta sobrepor às questões políticas e autoritárias e ressaltar a real função da avaliação, "diagnosticar qual a posição do aluno em determinado momento em relação aos objetivos fixados e por que tem ou não dificuldades de progredir" (SOUSA, 1993, p.148). Portanto, se a proposta é diagnosticar a posição do aluno em determinado momento em relação aos objetivos fixados, a avaliação serve como instrumento de revisão do planejamento, o que significa revisar os conteúdos, a metodologia e a prática do docente. Apesar da especificidade que o processo avaliativo tem buscado, ainda paira no ar a subjetividade das questões que são inferidas qualitativamente. O professor pode julgar seu processo avaliativo perfeito, porém esse processo avaliativo não passa de uma mera inferência sobre o processo de ensino- aprendizagem. AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DIFERENTES VISÕES A avaliação da aprendizagem escolar tem conduzido educadores de todas as áreas do conhecimento à reflexão, ao estudo e ao aprofundamento, visando buscar novas formas de entendimento e compreensão, acerca de seus significados no contexto escolar. A literatura pertinente ao assunto é vasta e demonstra claramente a necessidade de compreender esta categoria de uma forma mais abrangente, evitando reduzi-la à sua dimensão mais técnica. Torna-se necessário examiná-la no contexto do projeto político-pedagógico que reflete o projeto histórico da sociedade. Na Educação Física, a avaliação da aprendizagem escolar tem gerado dificuldades, principalmente pelas limitações apresentadas nas explicações teóricas por se buscar esse entendimento à luz de paradigmas (referências filosóficas, científicas, políticas) tradicionais, insuficientes para a compreensão deste fenômeno educativo em uma perspectiva mais abrangente. Neste sentido, serão apresentadas as principais linhas de pensamento em relação à avaliação em Educação Física, que se construíram ao longo das últimas três décadas. Frisa-se que não são as únicas, somente as mais freqüentes neste período de tempo. 1. TENDÊNCIA CLÁSSICA/TRADICIONAL: Na década de 30 surgem no Brasil as primeiras instituições formadoras de professores de educação física, com caráter militarista, que priorizava o condicionamento físico e a disciplina. Esse enfoque no condicionamento físico possibilitava a aplicação de uma avaliação que seguia uma tendência fundamentada em medidas e que privilegiava os comportamentos humanos observáveis passíveis de mensuração (avaliação clássica), ou seja, uma "verificação quantitativa da extensão de conteúdos assimilados pelos alunos" (SOUZA e VOTRE, 1993, pg.122). Conforme a evolução da educação física escolar surge novas exigências e, consequentemente, novos objetivos, dentre eles o desenvolvimento motor e a esportivização (performance). Para tanto, a avaliação quantitativa ainda supria as necessidades do processo avaliativo, no que Libâneo (citado por SOUZA e VOTRE, 1993) denominou de tendência liberal tradicional e tendência liberal tecnicista. De acordo com Resende (1995), os docentes que defendem estes paradigmas (tradicional/esportivista/biologicista) limitam as suas preocupações avaliativas enfatizando o processo de medição, o desempenho dos alunos nas capacidades físicas, habilidades motoras, conhecimento técnico, medidas antropométricas, com o objetivo de conferir uma nota. Neste sentido, existe um modelo ideal e um desempenho esperado, e os testes fornecem as informações quantitativas que devem ser comparadas com uma norma, tabela ou padrão. Historicamente, como ressalta o documento da CENP (1986) eram aplicados na rede pública os famosos testes de suficiência física (início do ano) e eficiência física (final do ano), de tal forma formalizada que os diários de classe dos professores já continham instruções para a sua utilização. Constavam de testes de exercícios de verificação da força abdominal, força de membros inferiores (canguru), força de membros superiores (flexão no solo, no banco, e barra) e coordenação geral (burpee). Conforme a quantidade de repetições os alunos eram classificados em categorias: fraco, regular, bom e excelente. Estes testes também eram conhecidos como bateria de testes de Kraus-Weber. A aplicação destes testes era mecânica, descontextualizada e aleatória. Os professores não explicavam para os alunos os objetivos da aplicação dos testes e tão pouco havia vinculação entre os testes e o programa que era desenvolvido ao longo do ano. Os objetivos dos testes eram vinculados a proposta de avaliar a aptidão física enquanto o conteúdo hegemônico das aulas era a aprendizagem dos esportes, e o que é pior, esportes para os habilidosos e os que podiam representar a escola nas competições esportivas. Todavia, todos os alunos eram submetidos aos testes e ao sentimento de incompetência e vergonha, pois muitos nem participavam das atividades das aulas, mas precisavam ter uma “nota”. Então qual era o valor deste modelo de avaliação? Ao longo da história recente da Educação Física no Brasil não foram poucos os professores que advogaram em prol desta perspectiva avaliativa. Andrade et alli. (1973) num livro intitulado “Planejamento da 1a a 8a série até a cambalhota”, defendem a aplicação de testes na Educação Física com vistas a torná-la mais “científica” e, portanto mais objetiva e quantitativa. Nas palavras dos autores: “A aplicação de testes, como medida objetiva, indica não só uma tendência da obra educativa para ingressar definitivamente no terreno científico, como também resultante dessa própria tendência. Não podemos saber os resultados de nossos programas se não usamos as medidas, e sem estas, não podemos saber se estamos atingindo os fins e objetivos da Educação Física” (p.46). Os autores desta proposta continuam a mostrar a concepção do que estamos chamando de tradicional quando afirmam que: “Sugerimos ao professor que, dispuser de tempo necessário e tiver interesse pelo assunto em questão poderá estabelecer tabelas padrão com os dados obtidos, completando assim seu trabalho de forma eficiente” (p.53). No sentido de elaborar padrões e tabelas de classificação do desempenho dos alunos em testes de aptidão física, Barbanti (1983), por exemplo, realizou uma pesquisa em que administrou, em uma amostra de 2213 crianças de 7 a 14 anos, uma bateria de testes, sugerida pela AAHPERD (American Alliance for Heath Pysical Education, Recreation and Dance) inaugurando, nas suas palavras “... uma nova era na liderança da Educação Física escolar, com a promoção e avaliação da aptidãofísica da criança escolar Itapirense” (p.3). A perspectiva tradicional de avaliação, que infelizmente ainda frequenta a visão e a prática de muitos professores de Educação Física, cometeu uma série de equívocos. Os principais são; - a noção de que avaliação consiste em aplicar testes em prazos determinados, - que avaliação é algo que acontece somente no final de um prazo; - que avaliar é atribuir uma nota ou um conceito; - que a avaliação é punitiva; - que avaliação pode tomar o lugar do ensino, - que avaliação só é possível se for quantitativa e envolver medição e que avaliação é um mero cumprimento de uma exigência burocrática 2. TENDÊNCIA BASEADA NOS OBJETIVOS DE ENSINO: No modelo baseado nos objetivos de ensino, a avaliação consiste em medir o produto do aluno e comparar o resultado com o objetivo elaborado previamente pelo professor. Alguns autores como, Faria Junior (1981), Singer & Dick (1980) e Telama (1981), (estes dois últimos tiveram seus textos traduzidos para o português) propuseram o modelo de avaliação em Educação Física baseado nos objetivos de ensino. Nesta proposta é defendido o modelo de avaliação referenciada por critério e não por norma, como na perspectiva tradicional. Isto significa que o desempenho do aluno é comparado com os seus próprios resultados iniciais, e não com uma tabela de resultados previamente elaborados. Singer & Dick (1985) realizaram inúmeras críticas ao modelo tradicional de professor destacando novas maneiras de compreender o papel da Educação Física na escola. Para os autores a imagem típica do professor autoritário, administrando exercícios a seus alunos de maneira rígida, deve ser deixada de lado, assim como um ambiente controlador e inibidor no qual o professor mina o cenário. Criticam as situações em que os alunos devem obedecer aos padrões normativos ou sofrer exercícios punitivos, sugerindo aulas nas quais os alunos sejam individualmente desafiados, estimulados e que se sintam realizados num ambiente mais descontraído. O curioso é que apesar de defender um cenário menos tradicional para a Educação Física, quando propõe como deve ser conduzido o processo de avaliação a perspectiva é quantitativa e objetiva, embora reconheçam a necessidade de considerar a individualidade dos alunos. Neste sentido, os autores afirmam que: “As escolas devem evidenciar que estão modificando satisfatoriamente comportamentos do aluno e que estes comportamentos podem, de fato, ser medidos. Competências que se pretende atingir são expressas em termos avaliáveis, enfatizando a habilidade do aluno em demonstrar os comportamentos aprendidos, muito embora, nem todos os alunos sejam necessariamente avaliados seguindo os mesmo critérios. Por sua vez, o professor individualmente deve prestar contas a seus alunos da formulação de seus objetivos que devem ser a) razoavelmente altos, b) expressos claramente, sem ambigüidades, c) mensuráveis e d) atingíveis”. Singer & Dick (1980) exemplificam os objetivos de ensino para todos os domínios do comportamento: Social - O aluno demonstrará boa conduta em suas respostas aos chamados do juiz e em seu comportamento em relação ao time oponente. Afetivo - Dada uma possibilidade de escolha, o aluno se engajará em uma atividade física ao invés de uma sedentária. Cognitivo - Dada uma lista de violações de regra, o aluno identificará, corretamente, de uma segunda lista o esporte de equipe associado com cada uma delas. Psicomotor - O aluno fará, com êxito, seis entre dez lances livres em uma quadra padrão de basquete. Telama (1981) considera que a vantagem da avaliação baseada nos objetivos de ensino está no fato de que se o objetivo é muito amplo e geral o professor não sabe o que deveria ser ensinado e o que deveria ser avaliado. Em segundo lugar, o objetivo pode ser claro e correto, mas não é claro o nível de alcance que se espera que o aluno consiga e através da proposta de avaliação baseada nos objetivos de ensino é possível atender a estes critérios de qualidade de ensino. Ainda de acordo com o autor, se o ponto de partida é muito claro é mais fácil você alcançar um objetivo se você sabe o que você quer atingir. Conseqüentemente, um objetivo não pode ser definido, por exemplo, como aprender a jogar basebol, pelo contrário, a definição do objetivo terá que incluir especificações concretas sobre o desempenho que o aluno é capaz de alcançar. Num certo sentido, preocupações de Telama quanto à importância de se ter clareza quanto aos objetivos da disciplina no contexto escolar. O problema aflige a Educação Física, pois muitos professores realmente não conhecem os objetivos da área. Defini-los com clareza e dentro da perspectiva de formação do cidadão significaria um enorme avanço. Resende (1995) ressalta que há avanços nesta perspectiva em comparação com a tradicional, porque ainda que ela se reduza ao caráter quantitativo e se limite à avaliação dos comportamentos observáveis e passíveis de serem mensurados, a proposta avança quando passa a considerar a individualidade, propõe referências de comparação baseada em critérios, rejeita o uso de tabelas padronizadas, na maioria das vezes alheias à realidade brasileira, e possibilita a avaliação de outras dimensões do comportamento humano, para além do motor, com a inclusão da avaliação do domínio cognitivo, afetivo e social. Apesar dos progressos, dificuldades e limitações, as análises e as observações da prática dos professores de Educação Física (Darido, 1999) permitem inferir que poucos são os professores que utilizam este modelo de avaliação, mesmo que o tenham estudado na graduação. 3. TENDÊNCIA HUMANISTA-REFORMISTA: Na década de 70 surge a tendência humanista-reformista de avaliação, resultante de uma crítica à esportivização priorizada até então nas aulas de educação física escolar. Nessa nova tendência a principal preocupação passa a ser os aspectos internos ao indivíduo e a formação do ser humano integral. Para tanto, novos enfoques são considerados, como o psicológico, o afetivo, o social e o desenvolvimento cognitivo e crítico. Tais aspectos não podem mais ser mensurados quantitativamente. Cresce a necessidade de outro instrumento de inferência da relação ensino-aprendizagem, e a avaliação qualitativa ganha força. Passam a serem realizadas inúmeras críticas ao modelo tradicional de Educação Física na escola, inclusive, quanto ao processo de avaliação que vinha sendo adotado. O trabalho do Professor Lorenzetto (1977) é um bom exemplo. O autor foi um dos precursores dos movimentos renovadores surgidos neste período, escreveu em crítica ao modelo tradicional e esportivista: “Entendemos por Educação Física muitas coisas a mais do que a simples descoberta de indivíduos bem dotados para os esportes. Muito mais do que o relativamente simples treino dos grupos compostos por tais alunos. A Educação Física envolve muito mais que um adestramento físico motor...não devemos pretender um educando forte e ágil sem espírito de equipe, ou resistente, sem equilíbrio afetivo-emocional...é preciso que os educadores estejam em condições de desenvolver neles (alunos) noções de justiça, sentido de amizade, respeito pelos colegas, pelos concorrentes...” (p.59). Dentro da perspectiva humanista a preocupação central da avaliação volta-se aos aspectos internos do indivíduo, principalmente as dimensões psicológicas. Passa também a ser valorizada a prática da auto- avaliação baseada no fato de que é só o indivíduo que pode realmente conhecer a sua própria experiência e definir o que é, e o que não é significativo em termos de aprendizagem da tarefa (Souza, 1993). Além disso, admite-se a avaliação qualitativa, julgando-a como uma permanente reflexão sobre a atividade humanae que só pode ser captada através da vivência de cada um. As críticas ao modelo tradicional, quantitativo, baseado em tabelas-padrão, foram tão profundas, que em alguns textos pode-se perceber certa confusão, entendendo-se o processo de avaliação como sinônimo de medição. Estas propostas chegaram a negar o valor da avaliação na Educação Física. O discurso mais representativo desta negação pode ser verificado no documento elaborado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas do Estado de São Paulo (CENP, 1986): “Pode parecer estranho que, em nenhum momento desta proposta, tivéssemos a preocupação de quantificar o comportamento, sequer de avaliá-lo. Quando se mede o ser humano, deve-se estar consciente que se está medindo o imensurável”, (p.32). Outra crítica realizada comumente ao modelo tradicional diz respeito ao fato da avaliação ter uma preocupação apenas quanto ao domínio motor. A CENP (1986) ressaltou, por exemplo, que a Educação Física implica não só o rendimento físico, mas as relações cognitivas, afetivas, e sociais subjacentes, procurando, assim, enfatizar princípios que antes não eram observados. Além de haver certo mal entendido quanto aos processos de avaliação e medição, alguns autores confundiram também avaliação com atribuição de notas, para negá-la, como Freire (1989): “Em Educação Física o problema se agrava. Se é difícil avaliar a aprendizagem da escrita e da leitura, do cálculo, da geografia etc, que dirá quanto à aprendizagem da Educação Física? Como avaliar a aprendizagem do movimento quando sabemos a infinidade de fatores nele envolvidos, tais como força muscular, resistência, agilidade, equilíbrio, ritmo, sentimentos, cognição, afetividade etc?” (p.196). Em crítica ao modelo tradicional de avaliação Lorenzetto (1977) lembra que o uso de testes na área só tem servido para rotular os alunos em excelentes, bons, regulares e fracos, porque se baseia numa competição pura e simples contra um cronômetro ou concorrente. Em sua opinião a avaliação deve ser mais que uma tabela de pontos, pois isso contraria toda uma perspectiva que visa promover o ser humano de acordo com suas condições individuais. O autor finaliza o texto sugerindo que: “Todas as vezes que um professor verifica se os seus alunos estão se comportando com autonomia, responsabilidade e alegria, ele está avaliando todo um processo educacional” (p.65). CONSEQÜÊNCIAS E NOVAS ABORDAGENS PARA A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA: A partir da década de 80 surgem novas propostas, em oposição ao modelo esportivista/biológico para a Educação Física na escola - Desenvolvimentista, Construtivista, Crítico-superadora e Sistêmica – em função do novo cenário que se desenhava à época em relação ao país – redemocratização política, e especificamente na área com aberturas de programas de pós-graduação, aumento de publicações, e outros. Atualmente acrescentaria duas novas tendências: um retorno da proposta de Educação Física relacionada à saúde, aptidão física, mas com um discurso de renovado observado especialmente nos trabalhos de Nahas (1996)7; Guedes & Guedes (1996) e outros, além de uma proposta de Educação Física ligada à formação do cidadão (PCNs, 1998). 1. TENDÊNCIA DESENVOLVIMENTISTA: A avaliação na abordagem Desenvolvimentista pode ser verificada a partir da análise da proposta elaborada por Flinchum (1981). A autora apresenta um programa de atividades motoras para os professores de crianças pré-escolares, defendendo a importância do movimento no desenvolvimento da criança. Discute e analisa os objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação para o trabalho com pré- escolares. No apêndice do livro apresenta alguns testes de habilidades motoras, como corrida de 32 metros, arremessos, chutes, saltos e outros e ao final apresenta uma contagem de pontos referente ao desempenho dos alunos nos testes motores. Estas considerações nos remetem a um tipo de avaliação que estamos denominando de tradicional. É importante ressaltar que o trabalho mais expressivo dentro desta abordagem, Tani et alli (1988), embora apresente uma série de habilidades motoras e descreva a sequência de desenvolvimento e os níveis de aquisicação de padrões motores, não faz referências explicítas ao modelo de avaliação. Todavia, é possivel depreender que o papel do professor seja o de observar qualitativamente a aquisição destas habilidades básicas. 2. TENDÊNCIA CONSTRUTIVISTA: A proposta construtivista está explicitada principalmente nas propostas de Educação Física da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP, 1991) e em Freire (1989). Na orientação da CENP, a meta da construção do conhecimento é evidente quando “... explorar a gama múltipla de possibilidades educativas de sua atividade lúdica espontânea, e gradativamente propor tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com vista a construção do conhecimento” (p.18). Em muitos sentidos a proposta de avaliação dentro da concepção construtivista foi bastante influenciada pela visão humanista. Ou dito de outra forma, através dos documentos da CENP (1991, 1993) e Freire (1989) parece não haver uma proposta de avaliação construtivista e sim um “resignificar” da avaliação a partir da ótica do humanismo. No capítulo sobre a avaliação, o documento da CENP inicia a discussão apontando a dificuldade que é avaliar o aluno, embora a reconheça como parte do processo educacional. Afirma que não é possível adotar uma postura construtivista e promover avaliações autoritárias, mecânicas e padronizadas. Ainda em crítica ao modelo tradicional o texto afirma que: “... avaliar quantitativamente os alunos requer muito mais tempo e nem sempre corresponde à realidade” (p.51), ou quando ressalta que o uso da avaliação como um mecanismo repressor é um exercício de arbitrariedade e abuso do poder. Sobre a avaliação como punição a proposta continua a revelar posições contrárias quando afirma que: “..temos notícias de professores que, para castigar a indisciplina de seus alunos, promovem verdadeiras maratonas de corrida em volta da quadra ou estabelecem a execução de um número absurdo de exercícios abdominais” (p.52). Assim como a abordagem humanista levanta a necessidade de avaliar para além dos parâmetros motores, incluindo as dimensões cognitivas e também afetivo-sociais através da formação de atitudes e aquisição de valores. Além disso, propõe um modelo de avaliação qualitativa, baseada na observação sistemática. Freire (1989), além das críticas ao modelo tradicional, voltado ao rendimento e a visão quantitativa, propõe o uso de sociogramas e questionários com questões abertas para avaliar o aspecto social, cognitivo e moral vivenciado pelas crianças em situações de jogos, utilizando fichas individuais para cada aluno, além da observação do desenvolvimento e aprendizagem da criança dentro das atividades a partir do ponto de partida de cada um. 3. TENDÊNCIA CRÍTICO-SUPERADORA: Baseado na justiça social. Valoriza a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. É um projeto político pedagógico. Político porque encaminha propostas de intervenção em determinada direção. Pedagógico porque possibilita uma reflexão sobre as ações dos homens na realidade. Opõe-se ao mecanismo. Nesta concepção devem-se transmitir os conteúdos simultaneamente, os mesmos conteúdos devem ser trabalhados ao longo das séries, aprofundando-se a cada ano, porém sem a visão de pré- requisitos. A avaliação é criticada por estimular uma discriminação aos interesses da classe trabalhadora. A avaliação segundo esta proposta apenas tem atendido as normas legais selecionando alunos para apresentações e competições. Leva os objetivos da Educação Física para níveis abstratos, deixando a atividade motora emterceiro plano. Não interpreta o ser humano na sua individualidade e subjetividade, mas sim por classes sociais (classe dominante x classe trabalhadora). 4. TENDÊNCIA SISTÊMICA: Tem por objetivo introduzir o aluno no mundo da cultura física, formando o aluno que vai usufruir partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica). A Educação Física sofre influencias da sociedade e influencia. Tenta garantir o movimento como meio e fim da Educação Física. As habilidades motoras não são os únicos objetivos a serem alcançados pela Educação Física Escolar. Por exemplo, não basta aprender as habilidades específicas do basquetebol, é preciso organizar-se socialmente para jogar, compreender as regras com um elemento que torna o jogo possível, aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não como uma adversário a ser aniquilado pois sem ele o jogo não seria possível. Enfatiza as vivências do aluno (experimentação de movimentos) que proporcionam conhecimentos cognitivos e experiências afetivas ao aluno. O aluno deve incorporar o movimento para dele tirar o melhor proveito possível, não apenas pela sua qualidade mas pela compreensão que pode trazer de si e dos outros. Apresenta diversidade de conteúdos proporcionando maior número de vivências e incorporação destas atividades ao tempo livre de lazer oferecendo oportunidades para o alcance da cidadania. Baseia- se no princípio da não-exclusão: o acesso de todos os alunos às atividades de Educação Física. Não há uma proposta estabelecida de avaliação. 5. TENDÊNCIA DA APTDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE: A Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS) é definida como a capacidade de realizar tarefas diárias com vigor e, demonstrar traços e características que estão associados com um baixo risco do desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas. Este conceito derivou basicamente dos estudos clínicos que evidenciaram a incidência de maiores problemas de saúde entre idosos, adultos e jovens de vida sedentária. O conceito que engloba a AFRS é o de que um melhor índice em cada um dos seus componentes está associado com um menor risco para o desenvolvimento de doenças e/ou incapacidades funcionais . A AFRS engloba 4 componentes, que compreendem os fatores morfológico, funcional, motor, fisiológico e comportamental. O componente morfológico refere-se à composição corporal, mais especificamente a quantia de gordura que, quando em excesso está relacionada à várias doenças crônicas não transmissíveis, como: elevados níveis de colesterol sangüíneo, hipertensão, osteoartrite, diabetes, acidente vascular cerebral, vários tipos de câncer, doenças coronarianas, além dos problemas psicológicos e sociais. A aptidão cardiorrespiratória ou a capacidade de captar, transportar e gastar oxigênio em atividades de média intensidade, por um período de duração moderada ou prolongada, refere-se ao componente funcional. Os componentes motores envolvem a força/resistência e a flexibilidade. A força/resistência refere-se a capacidade do músculo, ou de um grupo de músculos, sustentar contrações repetidas por um determinado período de tempo. A flexibilidade refere-se a amplitude de locomoção de uma determinada articulação. Juntos, força/resistência e flexibilidade previnem problemas posturais, articulares e lesões músculo-esqueléticas, osteoporose, lombalgia, fadigas localizadas. A bateria de testes físicos e medidas da gordura corporal proposta pela AAHPERD (1988) é uma das técnicas para avaliação da AFRS que têm recebido maior aceitação entre pesquisadores de diferentes países. Esta aliança apresenta escores critérios de referência para cada componente da AFRS. Estes escores servem de parâmetro para indicar se o avaliado apresenta uma recomendada AFRS. Avaliar a AFRS em escolares parece ser uma alternativa de intervenção primária, de baixo custo, de grande abrangência, de fácil reprodução e interpretação. A mesma autora cita que a avaliação dos componentes da AFRS torna-se importante por poder interagir decisivamente para a informação, conscientização, promoção e motivação da prática da atividade física regular por toda vida, numa sociedade onde as doenças crônico-degenerativas, devido a hipocinesia, têm seu período latente na infância e adolescência. É de fundamental importância a realização da avaliação da AFRS nas escolas, para se detectar os possíveis riscos de problemas para a saúde o mais precocemente possível e dar subsídios aos órgãos competentes para desenvolver ações que possam auxiliar na promoção do bem-estar da criança. Nesta tendência a avaliação é a chance de verificar se o aluno aprendeu a conhecer o próprio corpo e a valorizar a atividade física como fator de qualidade de vida. Portanto, nada de considerar apenas a freqüência às aulas, o uniforme ou a participação em jogos e competições — nem comparar os que têm "veia" de campeão com os que não têm. Não há uma única fórmula pronta para avaliar, mas é essencial detectar as dificuldades e os progressos dos estudantes. O mais indicado é não utilizar um só padrão para todos, mas fazer um diagnóstico inicial para poder acompanhar o desenvolvimento de cada um. 6. TENDÊNCIA LIGADA À FORMAÇÃO DO CIDADÃO (PCN): A vinculação da Educação Física ao Projeto Pedagógico da escola pode impulsionar a reflexão crítica de seu papel, caracterizando-se por uma conquista. Porém, dependerá muito da participação dos professores de Educação Física na construção do projeto, que deverá ter como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Os PCNs foram publicados pelo Ministério da Educação e da Cultura (MEC) em 1998, destinados aos alunos do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, tendo como objetivo a compreensão da cidadania como participação social e política. Conforme consta nos PCNs a Educação Física escolar deve garantir a participação de todos os alunos, visando seu aprimoramento como seres humanos, de forma democrática e não seletiva. Os PCNs definem a Educação Física como: Área de conhecimento da cultura corporal de movimento, e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício dos exercícios críticos da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam três focos principais de avaliação na Educação Física: A realização das práticas — É preciso observar primeiro se o estudante respeita o companheiro, como lida com as próprias limitações (e as dos colegas) e como participa dentro do grupo. Em segundo lugar vem o saber fazer, o desempenho propriamente dito do aluno tanto nas atividades quanto na organização das mesmas. O professor deve estar atento para a realização correta de uma atividade e também como um aluno e o grupo formam equipes, montam um projeto e agem cooperativamente durante a aula. A valorização da cultura corporal de movimento — É importante avaliar não só se o educando valoriza e participa de jogos esportivos. Relevante também é seu interesse e sua participação em danças, brincadeiras, excursões e outras formas de atividade física que compõem a nossa cultura dentro e fora da escola. A relação da Educação Física com saúde e qualidade de vida — É necessário verificar como crianças e jovens relacionam elementos da cultura corporal aprendidos em atividades físicas com um conceito mais amplo, de qualidade de vida. A RELAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS AVALIATIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: Paraentendermos melhor a distinção entre esses dois métodos avaliativos, podemos citar D´antola (1981, p.6), que afirma que para as avaliações quantitativas, é mais fácil estabelecer padrões, porque elas são baseadas em dados numéricos que permitem uma valoração mais objetiva. As avaliações qualitativas dependem geralmente de dados descritivos, para os quais o estabelecimento de normas e padrões é quase sempre discutível. A educação física atual valoriza, além de seus novos enfoques (social, crítico-cognitivo, psicológico, afetivo), também seus enfoques clássicos (desenvolvimento motor e desenvolvimento das habilidades e capacidades físicas) e, por meio dessa união, preconiza-se a formação de um ser integral. Surgindo essa união dos novos enfoques com os enfoques clássicos, ou seja, aspectos mensuráveis e não mensuráveis, surge, conseqüentemente, a união de métodos avaliativos (quantitativo e qualitativo). UNIDADE III AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO E DA FORMA CORPORAL AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL: A composição corporal constitui um aspecto dinâmico dos componentes estruturais do corpo humano, sofrendo alterações durante toda a vida dos indivíduos em decorrência de inúmeros fatores como: crescimento e desenvolvimento, aspecto nutricional e nível de atividade física. Através da avaliação da composição corporal pode-se além de determinar os componentes do corpo humano de forma quantitativa, utilizar-se os dados dessa análise para detectar o grau de desenvolvimento e crescimento de crianças e jovens, o status dos componentes corporais de adultos e idosos, bem com, prescrever exercícios. Diferentes autores consideram a composição corporal como componente da aptidão física relacionada com a saúde, devido às relações existentes entre a quantidade e distribuição da gordura corporal com alterações do nível de aptidão física, e o estado de saúde das pessoas. Considerando a relação existente entre a obesidade e doenças crônico-degenerativas, fica evidente a importância da realização de estudos com o objetivo de verificar os níveis de adiposidade da população, bem como a realização de avaliações de aspectos da composição corporal a fim de oferecer subsídios para a prescrição e o acompanhamento de programas de exercícios físicos e/ou dietas, que podem ser úteis no combate a estes problemas. Tão importante quanto o excesso de peso corporal à custa de um maior acúmulo de gordura, é o seu “déficit”. A redução excessiva do peso corporal pode induzir o organismo a uma série de complicações, notadamente no que se refere à produção e à transformação de energia para a manutenção das condições vitais e para a realização das tarefas do cotidiano. Além do aspecto nutricional, o nível de atividade física também tem relação direta com a composição corporal; diversos autores procuraram verificar as alterações produzidas por programas de exercícios físicos nas quantidades dos componentes corporais, onde observou-se principalmente as alterações nas quantidades de gordura e massa muscular, ocorrendo um aumento da massa corporal livre de gordura e diminuição da gordura corporal, aumento da eficiência de trabalho, menor susceptibilidade de adoecer, melhoria da aparência física e menor incidência de problemas de auto-conceito relacionados com a obesidade. A importância da avaliação da composição corporal deve-se ao fato de o peso corporal isoladamente não poder ser considerado um bom parâmetro para a identificação do excesso ou déficit dos componentes corporais ou as alterações nas quantidades proporcionais dos mesmos em decorrência de um programa de exercícios físicos e/ou dieta alimentar. De um modo geral as razões pelas quais somos levados a avaliar a composição corporal são: Como parte de uma avaliação abrangente da aptidão física relacionada à saúde. Como parte de um exame físico abrangente ou de uma avaliação de fatores de risco cardiovasculares. Para monitorar mudanças nos componentes corporais em reposta a programas de perda ou de ganho de peso. Para monitorar a eficiência de programas de treinamento físico para atletas e não atletas. Para monitorar a nutrição. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL: Atualmente estão disponíveis várias técnicas e variados métodos para análise da composição corporal, tendo como pressupostos diferentes modelos teóricos. Cada um desses modelos apresenta características conceituais e procedimentos metodológicos que lhes conferem maior ou menor validade e facilidade de utilização, tornando-os portanto mais ou menos aconselháveis em razão da precisão desejáveis e das finalidades a que se propõem. PESAGEM HIDROSTÁTICA: A densitometria, também conhecida como pesagem hidrostática, baseia-se no Princípio de Arquimedes, onde “todo corpo mergulhado num fluido ( líquido ou gás ) sofre, por parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo”. Assim, quando um corpo é pesado dentro da água é possível obter seu volume e através da relação entre massa e volume calcula-se sua densidade. A determinação do volume se dá pela diferença entre o peso corporal do indivíduo fora da água e completamente submerso na água. Considerando que corpos mais densos que a água tendem a afundar e menos densos tendem a flutuar, quanto mais pesado for um corpo dentro da água em relação ao mesmo volume, maior a sua densidade. Como a densidade da água sofre alterações em função da temperatura e de impurezas e a densidade corporal é influenciada pelo volume de ar pulmonar e pelo ar que permanece no aparelho gastrointestinal, o cálculo da densidade corporal deve levar em consideração todas essas variáveis. Uma vez calculada a densidade corporal, podemos converter este valor em porcentagem de gordura corporal, que em última análise, é o resultado que mais nos interessa quando realizamos avaliações da composição corporal. Esta conversão pode ser realizada através das equações propostas por SIRI ou BROZEK. A técnica da pesagem hidrostática tem sido utilizada como “gold standard”, ou seja, como método padrão para a validação em estudos de novos métodos de avaliação da composição corporal. Embora esta técnica apresente valores de densidade corporal muito precisos, somente indivíduos com razoável adaptação ao meio aquático podem ser submetidos aos seus procedimentos, o que limita enormemente sua utilização em análises rotineiras da composição corporal. MEDIDA DE DOBRAS CUTÂNEAS: As medidas de espessura de dobras cutâneas, como procedimento na análise da composição corporal, estão alicerçadas na observação de que grande proporção da gordura corporal se encontra localizada no tecido subcutâneo, e, dessa forma, medidas quanto à sua espessura servem como indicador da quantidade de gordura localizada naquela região do corpo. Como a disposição da gordura localizada no tecido subcutâneo não se apresenta de forma uniforme por todo o corpo, as medidas de espessura das dobras cutâneas são realizadas em várias regiões, na tentativa de se obter uma visão mais clara quanto à sua disposição. Quanto às estratégias de interpretação, as medidas de espessura das dobras cutâneas podem ser analisadas de duas formas. Uma delas é o seu envolvimento em equações de regressão, com a intenção de predizer valores de densidade corporal e, posteriormente, o de gordura em relação ao peso corporal. Uma segunda maneira é considerar os valores de espessura das dobras cutâneas de diferentes regiões anatômicas separadamente, procurando oferecer informações quanto à distribuição relativa da gordura subcutânea de região para região do corpo. A grande vantagem da utilização das medidas de espessura das dobras cutâneas éo fato de que, além de se obterem informações com relação às estimativas da quantidade de gordura corporal, torna-se possível conhecer o padrão de distribuição do tecido adiposo subcutâneo pelas diferentes regiões anatômicas. A exatidão e a precisão das medidas de espessura das dobras cutâneas dependem do tipo de compasso utilizado, da familiarização dos avaliadores com as técnicas de medidas e da perfeita identificação do ponto anatômico a ser medido. Neste particular, um elemento básico é considerado: a influência das variações intra e interavaliadores. Variações intra-avaliadores são definidas como deficiências do mesmo avaliador em obter resultados idênticos em repetidas medidas no mesmo indivíduo; enquanto variações interavaliadores são discrepâncias observadas em uma série de medidas realizadas no mesmo indivíduo por dois ou mais avaliadores. IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA: A análise da composição corporal através da impedância bio-elétrica tem como base a medida da resistência total do corpo à passagem de uma corrente elétrica de 500 a 800 microA e 50 kHz. Os componentes corporais oferecem uma resistência diferenciada à passagem da corrente elétrica, os ossos e a gordura, que contém uma pequena quantidade de água constituem um meio de baixa condutividade, ou seja, uma alta resistência à corrente elétrica. Já a massa muscular e outros tecidos ricos em água e eletrólitos, são bons condutores, permitindo mais facilmente a passagem de corrente elétrica. Segundo as leis de Ohm, a resistência de uma substância é proporcional à variação da voltagem de uma corrente elétrica a ela aplicada, desta forma, através de um sistema tetrapolar, onde dois eletrodos são fixados à região dorsal da mão direita e dois à região dorsal do pé direito do avaliado, o aparelho irá identificar os níveis de resistência e reactância do organismo à corrente elétrica, analisando a quantidade total de água no organismo e predizendo, através desta quantidade de água, a quantidade de gordura corporal do indivíduo. A velocidade e a relativa simplicidade de execução do método da impedância bio-elétrica representam uma grande vantagem de sua utilização na academia, no clube ou na clínica. A principal limitação deste método surge quando o avaliado apresenta alterações em seu estado de hidratação; assim, a quantidade de alimentos e líquidos ingeridos pelo avaliado, bem como a atividade física realizada no dia do teste, entre outros fatores como nefropatias, hepatopatias e diabetes podem influenciar o resultado obtido. Deste modo, o avaliado deve: - Não utilizar medicamentos diuréticos nos 7 dias que antecedem o teste; - Manter-se em jejum pelo menos nas 4 horas que antecedem o teste; - Não ingerir bebidas alcóolicas nas 48 horas anteriores ao teste; - Não realizar atividades físicas extenuantes nas 24 horas anteriores ao teste; - Urinar pelo menos 30 minutos antes do teste, e - Permanecer, pelo menos, 5 a 10 minutos deitado em decúbito dorsal, em total repouso antes da execução do teste. Além desses cuidados, o nível de desidratação e a temperatura ambiente podem apresentar alguma influência na qualidade das informações. MEDIDAS DE CIRCUNFERÊNCIAS: Esse método é baseado no entendimento que é mais provável encontrar tecidos de gordura em pontos corporais como o abdome, os quadris e as coxas, enquanto é mais provável encontrar os tecidos musculares em pontos como antebraços, panturrilhas e bíceps, na porção superior do braço. As estimativas da porcentagem de gordura corporal são baseadas nas razões das medidas de circunferência. As medidas de perímetros (circunferências) são mais úteis para determinar padrões de distribuição de gordura em uma pessoa, identificar mudanças no padrão de gordura de uma pessoa ao longo do tempo e classificar os indivíduos dentro de um grupo de acordo com a gordura. ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC): O IMC é uma evolução das tabelas de peso e estatura, embora estes sejam os únicos fatores utilizados no cálculo do índice. O IMC é definido como a razão do peso corporal total em quilogramas pela estatura elevada ao quadrado expressa em metros. O IMC é largamente utilizado em amplos estudos sobre saúde e é muito informativo, mas seu erro padrão é bastante grande. Ele é especialmente propenso a erros quanto a crianças e idosos, cujo pesos de massa muscular e óssea em relação a suas estaturas modificam-se rapidamente. Já que o IMC falha em distinguir entre o peso de gordura e o de massa magra, ele possui valor limitado como método de avaliação da composição corporal. Dessa forma é recomendado que os profissionais utilizem e interpretem o IMC com cuidado. RAZÃO CINTURA/QUADRIL: A gordura excessiva acumulada na região abdominal é mais perigosa do que a acumulada na região glúteo-femoral. A gordura abdominal excessiva está associada com riscos elevados de doença arterial coronariana, hipertensão e diabetes. A razão cintura/quadril (RCQ) é uma ferramenta paralela rápida e fácil que é muito eficiente em identificar pessoas com riscos de saúde elevados devido à gordura abdominal. A RCQ é simplesmente a circunferência da cintura dividida pela circunferência do quadril. A FORMA CORPORAL: BIOTIPOLOGIA: Em 1922 Nicola Pende, finalmente, define o conceito de biotipo. Para Pende, o biotipo é a resultante, a síntese funcional da personalidade integrada, construída a partir da herança e expressa pelas vertentes morfológica, funcional e temperamental. O temperamento, para Pende, depende da ação glandular ( sem se perder de vista os parcos conhecimentos endócrinos da época ). Para Pende, o biotipo nunca é algo pronto, mas em contínuo desenvolvimento. Como personalidade integrada, construída a partir de uma base genética, traduz uma individualidade biológica, que ele representa soba a forma de uma pirâmide, que SETE RAMALHO, assim descreve: o vértice seria a personalidade integrada, a síntese funcional do biotipo, a herança seria a base e as três bordas a resultante da: morfologia, desenvolvimento da massa corporal absoluta, desenvolvimento proporcional do sistema vegetativo e de relação, dos comprimentos e larguras, do tônus e da elasticidade das formas corpóreas, e desenvolvimento proporcional dos sistemas circulatório, hemolinfopoiético, muscular e genital: funcionalidade, resultando de elementos neuro-químicos ( orientação metabólica, endócrina e neurovegetativa, energia e velocidade das reações funcionais ): temperamento ou caracteres psíquicos, desenvolvimento da inteligência geral, do instinto e do afetivo-ético, do tônus sentimental, das sensibilidades psquícas, de atitudes sensorias, de atenção, de percepção e da mneumônica, do desenvolvimento do pensamento da fantasia, do concreto e do abstrato, de atitudes volitivas e de vocação e atitudes especiais. Se a proposta de Pende, já na época, era revolucionária, a solução foi fraca, pois lista os homens em dois tipos: longilíneo e brevilíneo, cada um dos tipos subdividindo em dois subtipos: estênico e astênico. LONGILÍNEO ESTÊNICO – indivíduo comprido, alto, magro e forte. LONGILÍNEO ASTÊNICO – indivíduo comprido, alto, magro e fraco. BREVILÍNEO ESTÊNICO – indivíduo curto, baixo, gordo e forte. BREVILÍNEO ASTÊNICO – indivíduo curto, baixo, gordo e fraco. Pende tem, contudo, o mérito da concepção da personalidade individualizada, que será explorada por outros autores. Até ser encontrada a solução para a expressão desta individualidade por Sheldon, em 1940. SHELDON E O SOMATOTIPO; Sheldon, em seu livro “The Varieties of Human Physique – na introduction to constituitional psychology”, apresenta as primeiras conclusões sobre somatotipo, com estudos preliminares envolvendoa descrição morfológica de 4.000 estudantes, recrutados em cinco estabelecimentos de ensino, observações clínicas e anatômicas, a criação de uma câmara fotográfica e estudos antropométricos e de estatística. Alicerçado nas necropsias e na análise fotográfica, chega ao conceito de somatotipo, que ele fundamenta sobre os três folhetos embrionários: do endoderma deriva o endomorfismo, caracterizado basicamente pelos órgãos da digestão; do mesoderma o mesomorfismo, manifestado pelos músculos, ossos e tecidos conjuntivos, com predominância de ossos e músculos; e do ectoderma o ectomorfismo, que é a predominância relativa do linear e da fragilidade, relacionado à superfície corpórea ampla, em relação à massa, sobretudo nos mais importantes aspectos: cérebro e sistema nervoso central. Portanto a definição de somatotipo, de acordo com Sheldon é: a quantificação dos três componentes primários, determinando a estrutura morfológica de um indivíduo, expressos em uma série de três numerais, onde o primeiro refere-se à endomorfia, o segundo à mesomorfia e o terceiro à ectomorfia. Possibilita estabelecer biotipos praticamente individuais. CLASSIFICAÇÃO DE SHELDON: ENDOMORFO DOMINANTE: Corpo arredondado e flácido; tendência a igualar diâmetros antero-posteriores e transversos na cabeça, tronco e membros; concentração de massa no centro do corpo; domínio do abdomen sobre o tórax e destes sobre os membros; “forma apresuntada” dos membros; maior concentração de massa nas extremidades proximais; pescoço curto e volumoso, com cintura escapular de contornos globosos; cabeça quase esférica; ausência de relevos musculares e projeções ósseas pouco nítidas, à palpação; pés e mãos relativamente pequenos. MESOMORFO DOMINANTE: Musculatura saliente, com músculos definidos, maciços e com fortes relevos musculares; ossos longos, salientes e fortes, com maiores diâmetros transversos; tronco grande e fortemente musculoso; membros musculosos, em toda a sua extensão; volume torácico dominando o abdominal, com tórax mais largo no ápice do que na base; pélvis forte, quadris largos; forma cefálica variável com ossos salientes; musculatura abdominal bem definida a nível de vizinhança com as cristas ilíacas. ECTOMORFO DOMINANTE; Ossos pequenos e delicados; domínio da linearidade e aspecto de fragilidade; tórax longo em relação ao abdomen e tendência a um achatamento do tronco; músculos fracos, delicados e finos; ângulos costo-vertebrais agudos; costelas proeminentes; membros superiores e inferiores longos e finos, o oposto do endomorfo; cabeça globalmente longa, com face relativamente pequena, se comparada ao crânio; lábios delicados e finos; pele e cabelos finos. Um ponto vem sendo confirmado, na teoria de Sheldon: a imutabilidade da relação entre os três componentes. O mesomorfo gordo não vira endomorfo, como o endomorfo magro não vira mesomorfo. Estudos de Carter junto com Parizkova indicam que o nível da cifra de cada um dos componentes pode variar com a idade, coma atividade, mas a imutabilidade da ordem entre eles mantém-se. Pode-se, com o treinamento, ficar um pouco mais mesomorfo ou com o sedentarismo um pouco mais endomorfo mas não se alteram as posições de domínio entre os três fatores, posição esta que é determinada geneticamente. A TÉCNICA DE SHELDON: Conceitualmente Sheldon havia encontrado a resposta ao problema de Pende: há uma personalidade integrada, baseada no genotipo, e ela pode ser expressa de forma individual, quer no tocante ao somático, quer no psicológico. Sua técnica de baseou no uso de fotografias e a tomada de medidas antropométricas sobre ela. Porém apresentava um problema: a técnica era dispendiosa, demorada, necessitava de ambiente adequado e, o mais sério, a possibilidade de erro, por parte de quem não estivesse altamente treinado era grande. A TÉCNICA DE HEATH-CARTER: A solução prática do desafio, possibilitando ampla aplicação do conceito sheldiano, vai surgir em 1967, com a publicação, por Barbara Heath e Lindsay Carter, de um método simples de calcular o somatotipo, culminando nas técnicas antropométricas ora em uso. A novidade da metodologia se espalha, publicações são feitas constantemente e as aplicações vão crescendo: na área desportiva, desde atletas olímpicos até equipes colegiais de diferentes modalidades; na área da psicologia; na área médica, com a análise da epidemiologia das doenças isquêmicas; no estudo de características regionais de grupos populacionais, de estudantes, de profissionais de várias áreas, no entendimento de ajustamentos sociais, em resumo, a utilização generalizada trouxe aplicabilidade ao conceito de Sheldon. TÉCNICA: Realizar as seguintes medidas: - Estatura. - Peso. - Dobras Cutâneas de tríceps, subescapular, supra-ilíaca e perna. - Diâmetro biepicondiliano de úmero. - Diâmetro bicondilianos de fêmur. - Perímetro de braço contraído, - Perímetro de perna. Cálculo do 1º componente: ( ENDOMORFIA ) END = 0,1451(X) – 0,00068( X2) = 0,0000014(X3) – 0,7182 Somatório das dobras x 170,18 X = Estatura ( cm ) Cálculo do 2º componente: ( MESOMORFIA ) MESO = 0,858(U) + 0,601(F) + 0,188 (B) – 0,161(P) – 0,131(H) U = diâmetro biepicondiliano de úmero. F = diâmetro bicondiliano de fêmur. B = perímetro de braço contraído corrigido ( perímetro de braço cont. (cm) – DC de tríceps (cm).) P = perímetro de perna corrigido ( perímetro de perna (cm) – DC de perna (cm). ) Cálculo do 3º componente: ( ECTOMORFIA ) ECT = IP ( índice ponderal ) IP = estatura 3 v peso Se o índice ponderal for maior que 40,75, o grau de ectomorfia é: ECT = 0,732 (IP) – 28,58 Se o índice ponderal for maior que 38,25 e menor ou igual a 40,75, o grau de ectomorfia é: ECT = 0,463 (IP) – 17,63 Se o índice ponderal for menor ou igual a 38,25, o grau de ectomorfia é: ECT = 0,1 CLASSIFICAÇÃO - ENDOMORFO EQUILIBRADO – 1º componente é dominante e o 2º e o 3º são iguais ou não diferem de mais de meia unidade. - MESOMORFO EQUILIBRADO – 2º componente é dominante e o 1º e o 3º são iguais ou não diferem de mais de meia unidade. - ECTOMORFO EQUILIBRADO – 3º componente é dominante e o 1º e o 2º são iguais ou não diferem de mais de meia unidade. - ENDOMORFO MESOMÓRFICO – 1º componente é dominante e o 2º é maior que o 3º. - ENDOMORFO ECTOMÓRFICO – 1º componente é dominante e o 3º é maior que o 2º. - MESOMORFO ENDOMÓRFICO – 2º componente é dominante e o 1º é maior que o 3º. - MESOMORFO ECTOMÓRFICO – 2º componente é dominante e o 3º é maior que o 1º. - ECTOMORFO ENDOMÓRFICO – 3º componente é dominante e o 1º é maior que o 2º. - ECTOMORFO MESOMÓRFICO – 3º componente é dominante e o 2º é maior que o 1º. - ENDOMESOMORFO – 1º e 2º componentes são iguais ou não diferem de mais de meia unidade e, são maiores que o 3º. - ENDOECTOMORFO – 1º e 3º componentes são iguais ou não diferem de mais de meia unidade e, são maiores que o 2º. - MESOEDCTOMORFO – 2º e 3º componentes são iguais ou não diferem de mais de meia unidade e, são maiores que o 1º. - CENTRAL – Os três componentes são iguais, não diferindo um deles de mais de uma unidade em relação aos outros dois, ficando em torno dos índices 3 e 4. UNIDADE IV AVALIAÇÃO DA POSTURA A POSTURA Uma boa postura é a atitude que uma pessoa assume, utilizando a menor quantidade de esforço muscular e, ao mesmo tempo, protegendo as estruturas de suporte contra trauma. Entre os indivíduos, existem variações consideráveis na quantidade de esforço muscular utilizado durante e realização de tarefas idênticas. Algumas pessoas utilizam um determinado
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