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91376036 trabalho sistemas constitucionais

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
CURSO DE DIREITO
SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE JORGE MIRANDA
NOME: ALEX SANDRO DA SILVEIRA FILHO
ATIV. ACADÊMICA: TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
TURMA: 21
DATA: 23/04/2012
O autor procurou dividir os diversos sistemas constitucionais existentes em dois grupos: os de “famílias” constitucionais, que serviram de inspiração a muitos outros Estados, e por isso têm elementos semelhantes ao Estado principal, e os sistemas não integrados em famílias, que tem uma metodologia constitucional diferente das que são consideradas como famílias, por suas características peculiares. Assim, veremos primeiro as famílias constitucionais.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE MATRIZ INGLESA OU BRITÂNICA
 O ciclo constitucional inglês é considerado como o primeiro existente, pois foi concedido, no ano de 1215, o primeiro documento constitucional que se tem sabedoria, a Magna Carta, que proclamava direitos aos nobres da época, e que criou um Conselho de Barões para que o Rei os consultasse antes de instituir novos tributos. Esse Conselho de Barões, mais adiante, viria a se tornar a Câmara dos Lordes, cujos membros tinham mandato vitalício, e as cadeiras da Câmara se transmitiam de forma hereditária.
 Posteriormente, no séc. XVII foi desenvolvida a segunda Declaração de Direitos da Inglaterra, a Petition of Rights (ou Petição de Direitos) escrita em 1628, que nada mais era do que uma solicitação do Parlamento ao Rei para que este assegurasse os direitos do povo, coisa que ele não fez, entrando em conflito com a Câmara, que mais adiante fez eclodir a Revolução Gloriosa, no ano de 1688, que foi vencida pelo povo, e no ano seguinte foi instituído o terceiro diploma constitucional inglês, o Bill Of Rights (ou Declaração de Direitos), que dessa vez começou a ser respeitada pelo Rei.
 Por fim, no séc. XIX começaram a ser feitas algumas cruciais reformas no modo de governo inglês. A Câmara dos Lordes começou a perder espaço para a Câmara dos Comuns, formada por pessoas escolhidas pelo povo em mandatos eletivos, que impulsionou a criação de partidos políticos na Grã-Bretanha, além é claro, do desenvolvimento de uma monarquia constitucional, onde o Parlamento tem papel fundamental nas principais decisões que envolvem o Estado. 
 A Grã-Bretanha, como se sabe, não tem uma Constituição escrita, porém, as três Declarações de Direitos que foram desenvolvidas, em tese, tem vigência. Diferentemente de qualquer outro país, a predominância no Direito constitucional britânico é o costume, e não de lei, costume e jurisprudência, como se dá normalmente. O que deixa claro que não há Constituição escrita nesse país, é que grande parte das regras do poder político se dão de forma consuetudinária, e ainda que a unidade fundamental da Constituição não esteja prevista em nenhum texto ou declaração, mas em princípios que se fazem presentes na organização política e social do povo.
 Por se tratar de uma família constitucional, e pelo fato de ter colonizado muitos Estados, e também por ter esse sistema nos Estados que foram suas colônias, o sistema inglês é tido como espelho em muitos países, tanto no sistema jurídico (Common Law), quanto na forma do Parlamento. São países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Malta, Jamaica, Trindade e Malta (os cinco últimos também dentro do Commonwealth).
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE MATRIZ AMERICANA
 
 Embora a Constituição Americana tenha sido escrita em 1787, já existiam documentos constitucionais antes dessa data, como a Declaração de Direitos do bom povo da Virgínia e as Fundamental Orders Of Connecticut. Embora tenha sofrido muita influência da sua ex-colônia (a Grã-Bretanha), sendo a instauração do Common Law a principal delas, em muitas coisas o Estado americano foi inovador, inspirando outros Estados e se tornando uma família constitucional. Dentre essas diversas inovações, podemos destacar a criação do conceito de federalismo, afinal as Treze Colônias que se independeram da Inglaterra eram Estados separados uns dos outros, que, em um Concílio, decidiram se tornar uma união de Estados, os Estados Unidos da América. Assim, embora unidos, cada estado tem poder constituinte para definir o que é melhor para si, no que se resume a direitos fundamentais, legislação penal, civil, etc. Com o passar do tempo, foram feitos Aditamentos à Constituição, para que esta protegesse alguns direitos fundamentais que não eram assegurados da forma devida em algumas unidades da Federação, tais como liberdade de culto, respeito às garantias de processo penal, a proibição da escravatura (em 1865), entre outros. Como os EUA mantiveram o sistema jurídico do Common Law, se destacam alguns pontos no Direito americano, como a complexidade que se originou da estrutura federal, com dualismo de tribunais, federais e estaduais, a singularidade da relação democrática entre juízes e cidadãos e a elevada autoridade social de que dispõem, e a unidade do Supremo Tribunal (semelhante à Câmara dos Lordes inglesa, pois os mandatos são vitalícios, mas escolhidos pelo Presidente, e são apenas nove membros) e a unidade dos julgados a qual dela se obtém. Outro elemento inovador no sistema jurídico-constitucional dos Estados Unidos foi a aplicação da separação dos poderes de Montesquieu, sendo o Executivo atribuído ao Presidente dos Estados Unidos (cargo que até então não existia), eleito por sufrágio direto, o Legislativo fica a cargo de duas Câmaras do Congresso (bicameralismo), sendo que os Senadores tinham mandato de seis anos, e os Representantes, de dois anos, e o Judiciário, representado pela Suprema Corte e pelos demais Tribunais. Nesse sistema, vige o modo de governo presidencialista, que também surgiu nesse sistema, tendo o Presidente como chefe de Estado e chefe de governo. O sistema constitucional americano foi muito copiado por muitos países, inclusive pelo Brasil, após a proclamação da República, e também pelos países de língua espanhola da América após a sua independência. Esse sistema também foi imposto pelos EUA a países que estiveram sob sua dominação, como Libéria, Filipinas e Coréia do Sul. Logo, existem algumas particularidades do sistema americano (como o regime presidencialista e a separação de poderes), que foram implantadas em outros países, como Canadá, França, Austrália, etc.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE MATRIZ FRANCESA
Diferentemente dos sistemas inglês e norte-americano, o sistema constitucional francês se destaca pelo fato deste ter surgido após uma revolução, e posteriormente, pela característica de difusão de idéias que lhe está associada. A Revolução Francesa marcou a ruptura do Estado francês com o absolutismo, tendo como objetivo criar uma monarquia constitucional, modelo que já era vigente na Grã-Bretanha, logo, a reorganização do Estado se viu como algo bastante difícil, vistas as diversas mudanças de forma de governo e de Constituição que se deram após a Revolução. Foram um total de treze Constituições, algumas republicanas, outras monárquicas, umas com liberdades de direitos quase plenos, e outras com os direitos individuais bastante restringidos, devido as influências que ambas tiveram, especialmente de Rousseau e Montesquieu. Afinal, segundo Montesquieu, era necessário que “o Poder detenha o Poder”, saindo daí a teoria da separação dos poderes, e Rousseau acreditava na pureza máxima da democracia, sem representação, pois segundo ele, a vontade do povo não se representa o que conflitava com o pensamento de Montesquieu.
A Constituição francesa atual é essencialmente formada por leis desenvolvidas, em parte, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita em 1789, pois se acredita que, tendo a lei escrita, os governantes terão mais dificuldade para transgredir essas leis. Atualmente, o modo de governo francês é presidencialista, imposto na Constituição da V República, datada de 1958, na época em que o país era governado pelo autoritáriopresidente general Charles de Gaulle (por isso ficou conhecido como presidencialismo gaullista), que ficou conhecido pelo seu autoritarismo pelos movimentos de Maio de 1968 e por ter renunciado no ano seguinte. O presidencialismo francês tem algumas diferenças significativas em relação ao sistema que foi desenvolvido nos Estados Unidos, como por exemplo, o poder do Presidente de dissolver a Assembléia Nacional, como também é obrigatória a demissão do Governo em caso de votação desfavorável do Parlamento (o que ocorreu com De Gaulle), os ministros podem participar dos plenários nas Câmaras, e o Presidente tem mandato de sete anos e tentar a reeleição indefinidamente. 
O sistema constitucional francês, vistas as suas sucessivas mudanças, foi um dos sistemas que mais se difundiu no mundo, das mais diferentes formas, e em diferentes momentos. Da Constituição de 1791, se inspirou a Constituição espanhola de 1812, e a Portuguesa, de 1822, fora a inspiração ao senso revolucionário da América Latina. Da revolução de 1830, inspiraram-se a Constituição Belga de 1831, que ainda vigora a Constituição espanhola de 1837, e a Portuguesa de 1838. A Constituição portuguesa de 1911 também é inspirada na frança, com os institutos do republicanismo, da laicização do Estado, e do governo parlamentar de assembléia, desenvolvidos após a revolução de 1848, e também para as ex-colônias belgas e francesas, em termos precários, e para os países do Leste Europeu após o fim dos regimes socialistas. O sistema administrativo francês, desenvolvido pelo Código Civil de 1804, foi repercutido na Bélgica, na Holanda e no Luxemburgo. Do sistema aplicado durante a V República (que vige nos dias de hoje), a forma semipresidencialista do sistema foi implementada por alguns países, como na Grécia, em Portugal (após a Revolução dos Cravos), e após 1989, na Polônia, Romênia e Ucrânia (com o fim da Cortina de Ferro e dos regimes comunistas, especialmente o de Niculae Ceausescu, na Romênia). Também nos países africanos de língua francesa, o sistema tem sido levado até o presidencialismo.
3.1 As Constituições da Espanha
 A Espanha, assim como ocorreu na França, teve um sistema constitucional muito conturbado, com diversas transições, revoluções e modos de governo diferentes. A primeira Constituição espanhola foi escrita em 1812, nos moldes da Francesa de 1791, que veio a ser tornar um modelo de Constituição para a Europa latina, e em parte para a América hispânica. Daí em diante ocorreram diversas mudanças de governo, e de postura acerca da legitimidade. Até que em 1936, com o início da Guerra Civil Espanhola, se impõe o regime totalitário do ditador General Francisco Franco, que só foi se encerrar em 1975, com a sua morte, e daí, o país partiu para a sua reforma política, reafirmando a monarquia, dando o poder ao Rei Juan Carlos, só que agora de forma constitucional, nos moldes do sistema inglês. Então, foi promulgada a atual Constituição, datada de 1978, com um sistema de matriz francesa no que se resume a abertura de novos caminhos. Dentre as suas características, podemos mencionar a retomada das comunidades autônomas, e do Tribunal Constitucional. Além disso, houve a introdução de “princípios diretivos de política social e econômica”, que também está prevista nas Constituições italiana de 1947 e portuguesa de 1976, além da instituição dos direitos dos partidos, sindicatos e associações de empresas. Quanto ao modo de governo, se faz vigir um parlamentarismo racionalizado, incluindo a moção de censura construtiva, herdada da Constituição de Bona (alemã).
As Constituições da Itália
A história constitucional italiana se iniciou em 1848, após a sua unificação, quando o Rei Carlos Alberto do Piemente outorgou um documento conhecido como “Estatuto Albertino”, que ficou marcado como sendo o primeiro documento constitucional do país, se caracterizando por ser uma Constituição flexível. Logo, em 1922, um homem chamado Benito Mussolini liderou a chamada Marcha sobre Roma, e assumiu o comando do país, iniciando o regime totalitário que só se encerraria em 1945, com a derrota da Itália na II Guerra Mundial e com a morte do Duce. Após esse período, em 1946 foi proclamada a República, e em 1947, foi promulgada uma nova Constituição. Algumas características desse documento foram a previsão constitucional das relações civis, ético-sociais, econômicas e políticas na parte dos direitos fundamentais, a instituição de regiões autônomas, umas com estatuto comum, e outras com estatuto especial, a existência do Tribunal Constitucional, e o reforço da figura do Presidente como chefe de estado, mas sem ferir a forma de governo parlamentarista. Logo, o Estado italiano vem passando por diversas crises, tanto de legitimidade da classe política, quanto de governabilidade (percebe-se isso atualmente com a renúncia do primeiro-ministro Silvio Berlusconi) e as reformas que foram feitas para tentar resolver o problema não surtiram nenhum tipo de efeito.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DE MATRIZ SOVIÉTICA
 Dos sistemas constitucionais que se tornaram famílias pela sua grandiosa difusão, esse foi o último deles, e mais do que isso, foi o sistema mais fortemente marcado por uma revolução. O constitucionalismo soviético teve o seu início com a Revolução Russa de 1917, que derrubou a monarquia czarista vigente na época, instaurando uma nova forma de governo, pensada pelo filósofo Karl Marx e aplicada por Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lênin, que foi o grande líder da Revolução, chamada de Comunismo. Assim como ocorreu no sistema francês, o sistema soviético passou por inúmeras transições, inclusive tendo um período totalitário (durante o governo de Josef Stalin), e depois tendo um período mais moderado, até a sua dissolução, que se consumou em 1991. O primeiro documento de ordem constitucional expedido pelos soviéticos foi a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, em 1918, que tinha uma grande semelhança com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita na França, em 1789. No mesmo ano foi publicada uma Constituição de fato, que teve como principais características o direito de voto somente a classe trabalhadora que era “explorada” pelo regime anterior (as elites não votavam) e a organização hierárquica dos poderes, que se dava do soviete local até o Congresso Pan-Russo dos Sovietes, que funcionava como uma Assembléia que definia os membros da Junta Central Executiva dos Sovietes e esta junta definia o Conselho dos Comissários do Povo. Embora os nomes pareçam estranhos, essa organização política é semelhante à de qualquer país que admita o bicameralismo. Posteriormente, em 1924, foi publicada uma nova constituição, que consolidou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (CCCP), e desenvolveu o bicameralismo com o Conselho da União e o Conselho das Nacionalidades. Mais adiante, em 1936, mais uma Constituição foi colocada pela URSS, que marcou o início do sufrágio universal nesse Estado, pois não mais havia burguesia exploradora, pretendendo-se um boletim de vitória do Estado e do Direito socialistas. A última Constituição soviética foi escrita em 1977, caracterizando, por exemplo, a prescrição expressa do princípio da legalidade socialista e um aumento e precisão dos direitos dos cidadãos, dentre outras coisas. Em 1989 e 1990, essa mesma Constituição sofreu guturais restrições, como a limitação recíproca dos órgãos de poder e uma fiscalização da constitucionalidade das leis. Em 1991, a URSS tem seu fim declarado, e as repúblicas federadas tornaram-se independentes e readquiriram a sua soberania internacional.
 Dentre as inúmeras características do sistema constitucional soviético, podemos destacar o domínio de todo o poder pelo partido comunista, como partido único exclusivo, mas que tinha diferentes candidatos para um mesmo posto (como foi, por exemplo, a disputa entre Stalin e Trotsky pela presidência do país). Além disso, o partido tinha seu papel reconhecido pela Constituição,era um partido de animação, era de centralismo democrático (as minorias não tinham liberdade de expressão), teve um grande desenvolvimento burocrático, e dominava as organizações sociais. Ao contrário do que se vê normalmente, com o Ministro, ou o Senador exercendo um papel importante no comando do Estado, o grande chefe de Estado era sim o Secretário-geral do Partido Comunista, o que foi uma inovação desse sistema, visto o gigantesco poder dessa instituição. Outra inovação do sistema soviético foi o desenvolvimento do princípio da legalidade socialista, que não deve ser confundido com o do Estado de Direito, pelas diferenças que tem em relação a este e pelo nível de envolvimento. Algumas diferenças podem ser percebidas à medida que o princípio da legalidade socialista envolve a aceitação da hierarquia das normas jurídicas apenas por serem normas de Direito socialista, a desvalorização das normas constitucionais em face de leis que se relacionariam melhor com as condições atuais da sociedade socialista, a redução do papel do juiz e da interpretação em geral, a recusa da fiscalização judicial da constitucionalidade das leis, a intervenção do Partido Comunista na interpretação e aplicação do Direito (algo absolutamente inaceitável em diversos ordenamentos), entre outras. A concepção socialista dos direitos fundamentais partia do pressuposto daquele que é chamado de cidadão ativo, i.e, que tem o direito e o dever de participar da vida política, econômica, social e cultural da sociedade socialista. Assim, os direitos se configuravam como sendo também deveres, pois, segundo a Constituição, os cidadãos tinham o dever de executar seus direitos para que a sociedade pudesse progredir. 
 Por fim, quanto a difusão do sistema soviético, esta se deu de forma bastante homogênea, com implantações quase integrais (e com algumas acentuações conceituais) do sistema socialista. O principal país que implantou esse sistema foi a China, com a Revolução Comunista
 de 1949 e ascensão de Mao Tse-Tung ao poder. Esse sistema ainda vige por lá, só que com grandes mudanças em seu conteúdo econômico que permitiram o que o país desenvolvesse nessa área e se tornasse a grande potência econômica dos dias de hoje. Alguns outros países também implantaram o comunismo como forma de governo, como por exemplo, Cuba, Angola, Camboja, Moçambique, Coréia do Norte, entre outros, sem esquecer os países que formaram a chamada Cortina de Ferro, após a Segunda Guerra Mundial, que se situavam, em grande maioria, no leste europeu.
Agora, prosseguiremos com os sistemas constitucionais que não se integram em famílias.
O SISTEMA CONSTITUCIONAL SUÍÇO
 O sistema suíço tem várias características próprias e diferenciadas, que lhe destacam como sistema e como objeto de nosso estudo. A Suíça passou por diversas mudanças em seu modo de governo e na formação do Estado, sendo a forma atual um federalismo diretorial, tendo sido a sua última Constituição publicada em 1999. Algumas das características do sistema suíço são o federalismo cantonal, a prática de democracia direta em alguns cantões menores, com a realização de assembléias populares, a consagração e a freqüência da iniciativa popular e do referendo, etc. Com essas características se percebe uma grandiosa participação popular, que sem dúvida é a marca registrada do sistema suíço. O Estado tem dois grandes órgãos federais, que são a Assembléia Federal (bicameral, composta pelo Conselho Nacional e pelo Conselho dos Estados) e o Conselho Federal (órgão executivo da Federação, que é integrado por sete membros, com mandato de quatro anos). A Assembleia Federal é o órgão supremo do Estado, de onde sai o Presidente da Confederação, que não seria necessariamente um chefe de Estado, pois essa função é mais cabível ao Conselho Federal, caracterizando assim um modo de governo diretorial. Dentre as características da forma de governo, podemos destacar a colegialidade do Conselho Federal, a inexistência de responsabilidade política do Conselho perante a Assembléia, e a impossibilidade de dissolução da Assembléia pelo Conselho e a inexistência do poder de veto.
 O sistema de governo suíço é tão somente aplicado por esse país, embora tenha sido tentado, duas vezes, mas sem sucesso, pelo Uruguai.
O SISTEMA CONSTITUCIONAL ALEMÃO
 O sistema alemão é dividido em quatro fases: a de Monarquia Constitucional, a da Constituição de Weimar (pós I Guerra Mundial), o III Reich de Hitler (que será visto mais adiante) e a Constituição de Bona (vigente na Alemanha Ocidental, inicialmente)
 6.1 Monarquia Constitucional
 
 Toda a Europa (Menos Rússia e Turquia) teve como seu modo de governo no séc. XIX uma monarquia constitucional. Porém, o significado do constitucionalismo foi bem diferente na Europa ocidental, em Estados que captaram as idéias da Revolução Francesa, e também na Europa central (Alemanha e Áustria), onde os governos conseguem resistir à grande onda democrática da época. Dessa forma, acabaram se desenvolvendo dois tipos de monarquia constitucional: a de tipo francês, em que o princípio democrático superava o princípio monárquico, pois o Rei só exercia o poder mediante a Constituição, e esta era feita pelo povo, e a de tipo austro-alemão, em que a monarquia superava a democracia, e embora o Rei tivesse que governar segundo uma Constituição, que a fazia e a outorgava e o Parlamento tinha poderes limitados. Porém, vista a ineficiência dessa monarquia por alguns doutrinadores do Direito alemão, ocorreram algumas mudanças no modo de governo que se consolidaram na Constituição de 1871, que instituiu a figura do Chanceler, desenvolvendo um dualismo de poder executivo com concentração de poderes.
A Constituição de Weimar
Após a derrota na I Guerra Mundial, e com a derrubada da monarquia, o Estado alemão e os países em que a monarquia também foi superada buscavam forjar novos textos constitucionais. Na Alemanha, em 1919, foi publicada a Constituição de Weimar, um dos mais importantes documentos constitucionais do séc. XX, pelo seu nível de democracia. As características marcantes desse documento foram como modo de governo algo próximo ao semipresidencialismo, pois tanto o Chefe de Estado quanto o Parlamento tinham a sua soberania reconhecida, o sufrágio universal, o mandato do Presidente durava sete anos, e este tinha o poder de nomear e demitir o Chanceler, e sob proposta deste, demitir os Ministros, e dissolver o Parlamento, da mesma forma de que o Presidente pode ser destituído por voto popular. Embora esse sistema tivesse tudo para dar certo, as sanções do Tratado de Versalhes e o nacionalismo que se exacerbou com a guerra impediram o sucesso do regime não só a nível nacional, mas também em nível mundial, por causa da crise de 29, e também pela ineficiência dos governantes para superar os problemas. Assim, acabou se dando a ascensão de Adolf Hitler ao poder, que será analisada mais adiante. 
O que podemos ressaltar é que a Constituição de Weimar foi fundamental para a concepção do conceito liberal do séc. XX, tendo inspirado muitos documentos constitucionais, inclusive no Brasil.
A Constituição de Bona
Com o fim do III Reich e com a nova derrota na II Guerra Mundial, a Alemanha foi partida em dois: o lado Ocidental (de influência política americana), e o lado Oriental (de influência política soviética). O lado Ocidental pôs em vigor, em maio de 1949, uma Lei Fundamental que ficou conhecida como Constituição de Bona, que tinha caráter provisório. O governo era composto pelo Chanceler e Ministros da sua escolha, passaria a ser responsável perante a Assembléia Federal, que elege o Chanceler e, se for necessário, o substitui. Além disso, na prática, o sistema alemão tinha muito do constitucionalismo inglês, e tinha uma grande estabilidade de governo. Também é importante ressaltar que o sistema eleitoral vigente nessa Constituição era o de representação proporcional personalizada.
Devido àpostura de grande restrição dos direitos fundamentais imposta pelo regime anterior (III Reich), fez uma concisa previsão da dignidade da pessoa humana e colocou que o Direito natural limita o poder do Estado, proclamando alguns princípios, como os direitos do homem sendo invioláveis e inalienáveis como fundamento da ordem social, a vinculação dos Três Poderes pelos direitos fundamentais que a Constituição prevê o desenvolvimento de um Tribunal Constitucional, ao qual teve um grande esforço construtivo.
Essa Constituição, assim como a de Weimar, teve alguma difusão pela Europa, tendo inspirado as Constituições do Chipre, de Portugal, e da Espanha, após o fim do regime franquista. Com a reunificação alemã concluída, a Constituição de Bona passou por algumas mudanças, especialmente no seu preâmbulo e no seu sentido de vigência, que puderam torná-la definitiva e sendo a Constituição vigente no Estado alemão até hoje.
Elementos em comum das três Constituições alemãs
 
 Dentre esses elementos, é importante destacar:
Todas as três Constituições estabelecem um Estado federal, considerado imperfeito pela representação inigualitária dos Estados;
A bicefalia do Poder Executivo, tendo um Chefe de Estado e um Chefe de Governo ou Chanceler, que hoje tem poder substanciais, diferentes da primeira Constituição;
A origem histórica, a elaboração doutrinária que foi desenvolvida pelos juristas e as relações entre o Direito constitucional e o Direito administrativo que se deu de forma diferente do modo francês.
O SISTEMA CONSTITUCIONAL AUSTRÍACO
Entre 1867 e 1918, Áustria e Hungria formavam um só Estado, o Império Austro-Húngaro, que se dissolveu com a derrota na I Guerra Mundial. Posteriormente, o país foi anexado à Alemanha por Hitler (Anschluss), e depois do fim da guerra até 1955 foi ocupado pelas potências vencedoras. 
Depois do fim da I Guerra, em 1920, a república foi proclamada na Áustria, e no mesmo ano foi publicada a Constituição, que foi toda preparada por aquele que é considerado como sendo o maior jurista de todos os tempos, Hans Kelsen. A Constituição austríaca, dentre as suas características, possuía um Estado federal, embora os nove Estados (Lander) tinham abrangência que não os poderia diferir de regiões autônomas. Além disso, o modo de governo era semipresidencialista, pois o Presidente tinha o poder de nomear o Governo e de dissolver o Parlamento, porém na prática o sistema era muito mais parlamentarista, pois havia candidatura para Presidente pelos partidos, o bipartidismo e a presença do Chanceler na maioria das Câmaras.
É muito importante ressaltar que a grande contribuição do constitucionalismo austríaco para o Direito constitucional como um todo foi a instituição do Tribunal Constitucional, usado também em muitos outros países, que nada mais era do que um tribunal que fiscalizava a constitucionalidade.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DOS REGIMES FASCISTAS E FASCIZANTES
Na primeira metade do séc. XX começaram a surgir na Europa regimes de governo de postura extremamente autoritária e nacionalista. Esse modo de governo ficou conhecido como fascismo ou totalitarismo, sendo instituído na Itália, na União Soviética, na Alemanha, na Espanha e em Portugal, num contexto básico. Os regimes de Mussolini e Hitler, os principais dessa forma de governo, tiveram algumas características em comum, especialmente na sua forma constitucional, como a inspiração filosófica em Hegel e Nietzsche, um sentido romântico de governo, mas avesso ao racionalismo, com o uso demasiado da força e o culto do chefe, e o governo das minorias, no caso alemão, da raça pura ariana, e o partido das massas elevado a único, tal como ocorre nos regimes socialistas. Ambos os regimes impactaram com força por toda a Europa, se debatendo com a fraqueza dos regimes democráticos e com os receios da dita “ameaça” comunista. Por mais que esses dois regimes tenham sido derrubados na II Guerra, seguiram existindo regimes autoritários, em Portugal, com Oliveira Salazar, na Espanha, com Francisco Franco, e novos regimes surgiram na Grécia, na Ásia, e na América Latina.
8.1 O Sistema Constitucional Do Fascismo Italiano
O fascismo italiano se focou no culto ao Estado, caracterizando um cesarismo assente, que foi prevista da Carta Del Lavoro, outorgada em 1927. Ao contrário do que se pensa, não foi criado uma nova organização de poder, entretanto, apenas se foi inserido na monarquia constitucional antes vigente com o poder do Rei Vitor Emanuel III, retirando a sua efetividade. Dessa forma, o sistema teve, durante esse período dois lados, o primeiro, que vigia antes do regime, com Rei e Parlamento, não-efetivos durante o governo, e o lado que tinha o poder, com 22 corporações, a Câmara dos Fáscios e das Corporações, e o Grande Conselho do Fascismo, cujo líder era Mussolini, chefe do Governo e detentor do poder.
 8.3 O Nazismo Alemão
 Devido às circunstâncias do país, a estrutura do NSDAP e a sua concepção racista, o regime totalitário imposto por Hitler na Alemanha foi muito mais radical, violento e efêmero do que o sistema italiano. Os direitos subjetivos estavam disponíveis somente aos que configuravam o povo alemão que o Estado previa (isto sendo somente alemães puros), assim como o Direito objetivo só poderia ser evocado por estes. Quanto ao esquema constitucional, o Parlamento de esmagadora maioria nacional-socialista votou pela revogação da Constituição de Weimar, fazendo surgir um novo documento constitucional, que configurava como crime tudo aquilo que ferisse “o são sentimento do povo alemão. Definições dessa expressão foram todas as barbáries procedidas durante o regime. Hitler fundiu os cargos, tornando-se o Führer, transformou a Alemanha em Estado unitário e assumiu o controle dos Três Poderes. Dessa forma, ele não mais era um agente do exercício do poder, mas sim o poder de forma propriamente dita, sem nenhum tipo de intermédio no que se resume à idéia do Direito.
 8.4 O Franquismo espanhol e sua sistemática constitucional
 O regime totalitário espanhol foi um dos regimes que mais teve durabilidade (39 anos), e só foi se encerrar com a morte de seu líder, o General Francisco Franco. O regime de governo funcionava com princípios nacionalistas e tradicionalistas, uma concepção orgânica da vida em sociedade e da representação política, pelo intermédio da família, do município e do sindicato, os direitos individuais eram guturalmente restringidos, e os princípios democráticos e da separação dos poderes, recusados.
 No que se resume a constitucionalidade, não houve Constituição de fato no regime franquista, o que foi publicado são Leis Fundamentais do Reino, que foram publicadas em diversas épocas, a concepção da ordem constitucional como processo, e o valor hierárquico superior das Leis Fundamentais, embora estas fornecessem leis muito mais políticas do que jurídica. Os órgãos políticos eram O Chefe do Estado (General Franco), O Governo, que era composto pelo Presidente do Governo (nomeado por 5 anos pelo General), e pelos Ministros, As Cortes, que eram também nomeadas pelo Chefe do Estado, num princípio de representação orgânica familiar ou sindical, O Conselho do Reino, órgão de importantes funções consultivas e O Conselho Nacional, que cuidava da organização política de apoio ao regime. O Chefe do Estado detinha todo o poder político e administrativo, intervindo até mesmo na ordem jurídica. 
 O regime franquista teve algumas contribuições para o Direito constitucional, pois foi o único regime autoritário de direita da Europa que criou instituições próprias, e também foi o único em que essas mesmas instituições, por obra própria e transição constitucional, mudaram e foram substituídas por instituições democráticas pluralistas. 
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DOS ESTADOS ASIÁTICOS E AFRICANOS
9.1 Os problemas constitucionais dos Estados asiáticos e africanos
 Apesar de terem a sua independência devidamente reconhecida, alguns Estados que adquiriramessa condição na segunda metade do séc. XX tem muita dificuldade para estabelecer um modo de governo bem definido e ainda mais dificuldade para forjar um texto constitucional, muito pelas suas tradições e pelos condicionalismos socioculturais, especialmente no continente africano (como o conflito dos tutsis e dos hutus pelo comando de Ruanda). Podem ser vistos como problemas constitucionais dos Estados asiáticos e africanos a situação de criação, restauração e modernização de cada Estado, que se vê largado a própria sorte por sua respectiva ex-colônia, a precariedade da unidade política, a conexão estreita entre a situação do Estado e da sociedade e a opção por certo sistema político e econômico, o volume das incumbências do Estado, pela dificuldade de desenvolver um poder constituinte originário, o ascendente do Poder Executivo, apesar das deficiências de Administração, e as dependências externas, apesar dos esforços de liberação.
 Nos países que puderam reaver a sua independência, ou que, num critério formal, jamais a perderam, lograram a sua reafirmação. Em países novos, ou que tenham conseguido a independência pela primeira vez, de forma pacífica e gradual, copiaram o sistema constitucional de suas ex-colônias. E em países que se tornaram independentes por meio de guerra, em alguns Estados foi instaurado o sistema soviético revolucionário, e em outros foi criado um sistema composto com elementos locais ou com intenções de originalidade. Porém, em muitos desses países houveram intervenções, geralmente das Forças Armadas, que acabaram impondo ditaduras autoritárias, e em outros, se desenvolveu o fundamentalismo islâmico. Com o fim da URSS e do regime do Apartheid, na África do Sul, muitos desses países começaram a lutar pela democracia e pelo fim do unipartidismo (em Angola, por exemplo, houve Guerra Civil por mais de 40 anos).
 Hoje em dia, existem formas de governo muito diversas na África e na Ásia. Existem países de monarquia absoluta, de monarquia pluralista, socialistas, autoritários, de ditaduras militares, e de fundamentalismo religioso islâmico. Isso mostra que muitos países colheram influência de sistemas europeus, mas muitos desenvolveram seu próprio sistema do governo, que em alguns prazos prosperou e se encontra em vigência até hoje.
Os sistemas político-constitucionais com características peculiares
As monarquias tradicionais tem,além de um modo de governo bem semelhante ao absolutismo europeu, as seguintes características:
Ausência de Constituição formal;
Permanência da legitimidade monárquica (algo bem difícil nos dias de hoje);
O monarca tinha domínio sob toda a vida política, sendo muito pouco limitado:
Autoritarismo conservador (principalmente em países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita);
Regime jurídico de União do Estado e da confissão religiosa dominante.
Os regimes nacionalistas revolucionários (mas não socialistas) tiveram como características principais:
A adoção como ideologia oficial de um socialismo que não tinha como base o marxismo (socialismo árabe ou africano);
Unipartidismo no sentido de libertação, e não no sentido de classe que conquista o poder (funcionamento na URSS);
A criação de uma Administração fortemente centralizada;
O empenho prioritário no desenvolvimento econômico, com sistema planificado.
 Os regimes autoritaristas do Sudeste da Ásia tem uma base prática semelhante a da democracia representativa, mas com mudanças grandiosas em sua prática, tendo base militar na maioria dos Estados. Algumas características das quais podemos destacar são:
Liberdades públicas restringidas e/ou privadas e os mecanismos jurisdicionais de limitação do poder muito deficientes;
Hegemonia dominante de um único partido (em alguns casos, com apoio militar);
Crescimento econômico em primasia, com capitalismo ou liberalismo radical.
 Os regimes com base governamental no fundamentalismo islâmico (o Irã, por exemplo), tem como marca registrada a união do poder político e do poder religioso (Estado teocrático). Seguem suas características:
A comunidade política é definida pela comunidade religiosa;
Vida social e liberdades regida e controlada pelos preceitos islâmicos;
Validade do Direito positivo, e também da Constituição, dependentes da conformidade com o Alcorão;
Juramento religioso dos titulares dos cargos políticos;
Papel eminente dos teólogos islâmicos.
 É impossível não adequar esse sistema de governo ao Irã, que implantou uma Revolução Cultural no país, liderada pelo Aiatolá Khomeini, e que tem uma Constituição escrita, a qual tenta se unir teocracia e democracia, com artigos que em outros países seria normalmente caso de risos.
Por fim, iremos estudar os sistemas de língua portuguesa.
O SISTEMA CONSTITUCIONAL PORTUGUÊS
A história constitucional portuguesa teve seu início em 1822, com uma Constituição de caráter liberal, com moldes na Revolução Francesa, mas com uma monarquia vigente. Após esta, foram escritas Constituições em 1826, 1838 e em 1911, quando a forma de governo foi convertida em república. Embora tenha ocorrido essa mudança na forma de governar em Portugal, não se percebeu uma grande variação prática no modo de governar, que sempre teve bases parlamentaristas.
Porém, em 1926, houve um golpe militar, e Antônio de Oliveira Salazar foi chamado para assumir o comando do país, criando um chamado “Estado Novo”, que tem muitas semelhanças com o de mesmo nome que foi instituído no Brasil por Getúlio Vargas. Em 1933, foi publicada uma nova Constituição, com muitas restrições políticas e públicas. Salazar se afasta do cargo em 1968, por motivos de saúde, e em seu lugar assume Marcelo Caetano. Em 25 de abril de 1974, um novo golpe militar afasta Caetano do poder, consolidando a chamada Revolução dos Cravos, finalizando o Estado Novo e celebrando o retorno à democracia nesse país. Esse processo de redemocratização se concluiu em 1976, com a Constituição que foi promulgada por uma Assembléia constituinte nesse mesmo ano. 
A Constituição de 1976 foi um documento muito complexo, principalmente pelo fato de ter sido uma Constituição normativa, e não mais meramente nominal. É uma Constituição muito preocupada com os direitos fundamentais dos cidadãos e dos trabalhadores e com a divisão do poder, visto o receio da instauração de uma nova ditadura. Procura também enriquecer o conteúdo da democracia, multiplicando as manifestações de igualdade efetiva, participação, intervenção, socialização, numa visão ampla e não sem alguns ingredientes de utopia.
Quanto ao sistema de governo, se configura como sendo algo próximo ao semipresidencialismo, tendo três órgãos políticos ativos e interdependentes, sendo eles o Presidente da República, a Assembléia da República e o Governo. O presidente é eleito por sufrágio direto, em data diferente da eleição do Parlamento, exerce a função de presidir, mas não de governar, pois o poder dele sob o Parlamento é bastante reduzido, podendo dissolver o anteriormente mencionado ou o Governo somente em casos capitais. A Assembléia da República é unicameral e tem o poder de organização política e de fiscalização e poderes respeitantes a outros órgãos (eletivos, por exemplo). O Governo, que exerce a condução da política geral do país, sendo nomeado pelo Presidente. Sua responsabilidade é criar leis que devem ser votadas pelo Parlamento. 
A Constituição prevê uma democracia descentralizada, dando autonomia para as autarquias locais e descentralizando a administração 
Pública e erigindo as regiões dos Açores e da Ilha da Madeira como autônomas, dotadas de estatutos políticos-administrativos próprios. 
Por fim, o órgão central do sistema é o Tribunal Constitucional, que fazia a fiscalização da constitucionalidade de forma difusa e incidental, conforme previsto na Constituição, que podia desencadear um processo de fiscalização abstrata, se o Tribunal julgar a norma inconstitucional três vezes.
O SISTEMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRO
A história constitucionalbrasileira tem início com a Constituição de 1824, outorgada pelo imperador D. Pedro I dois anos depois da independência. O Estado era unitário,o modo de governo era uma monarquia constitucional, havia separação dos poderes, mas com um advento, o Poder Moderador, que caracterizava o Imperador como chefe de Estado e de Governo (presidencialismo). Existia também uma Assembléia Geral bicameral composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. Um Ato Adicional instituído em 1840 deu autonomia às províncias e extinguiu o Conselho de Estado, que era nomeado pelo Imperador e tinha mandato vitalício, que foi reestabelecido na Lei de Interpretação de 1840, segunda e última revisão constitucional. 
Em 1889, foi proclamada a república no Brasil, após um movimento elitista, república esta federativa (aumentando o poder das antigas províncias, qualificando-as a Estados). Dois anos depois, em 1891, uma nova Constituição foi promulgada, aprovada por um Congresso Constituinte. Houve a exclusão do Poder Moderador, o bicameralismo foi mantido, o chefe de Estado era o Presidente da República, eleito por sufrágio direto de quatro em quatro anos, o poder judicial era executado pelo Supremo Tribunal Federal (existente até hoje), que tinha a incumbência de fiscalizar a constitucionalidade das leis. Logo, a política centralizada do café-com-leite acabou provocando o descontentamento de alguns estados, que iniciaram uma revolução, concluída em outubro de 1930,que teve como seu líder Getúlio Vargas, e tomando o controle do país.
Em 1934 foi promulgada a primeira Constituição desse novo governo, com ampla influência das Constituições Mexicana de 17 e da de Weimar, prevendo formas de intervenção do Estado na economia,a eliminação do cargo de vice-presidente, a criação do mandado de segurança, a consagração da justiça eleitoral e o aumento do poder do Congresso. Entretanto, o próprio Vargas, três anos depois,instaurou o Estado Novo, semelhante ao desenvolvido em Portugal, e outorgou um novo texto, bem menos liberal, que aumentou os poderes do presidente, extinguiu a autonomia dos estados, criou o Conselho da Economia Nacional. 
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, Vargas deixou o poder, o Estado Novo chegou ao fim, e uma nova fase democrática se iniciou no Brasil. Em 1946, mais uma Constituição foi promulgada, recuperando muitos institutos do texto de 1934, e concedendo o direito à greve e a participação da classe trabalhadora nos lucros das empresas. Em 1961, uma crise política provocou um Ato Adicional que instalou um Conselho de Ministros perante à Câmara dos Deputados, tornando o sistema de governo semipresidencialista. 
Porém, em 1964, um golpe militar depôs o então presidente João Goulart, e uma ditadura se iniciou em nosso país. A Constituição de 46 ficou submetida à quatro Atos Institucionais, que somados a Atos Complementares acabaram formando mais um texto constitucional, publicado em 1967. Logo, mais Atos Institucionais foram impostos pelos militares (destaca-se o AI-5, que restringiu diversos direitos individuais), e outros Atos Complementares, uma outra Constituição foi escrita, em 1969. Características do período foram o aumento dos poderes da União o reforço do Poder Executivo, a supressão dos direitos individuais, as eleições indiretas para Presidente, entre outras. 
Por fim, após um longo processo de transição, em 1985 o Brasil teve seu retorno à democracia, tendo sido promulgada em 1988 a Constituição que vige até hoje.
A Constituição brasileira de 1988 teve muitos elementos provindos do texto português, como por exemplo a extensão das matérias com relevância constitucional, o cuidado posto na garantia dos direitos de liberdade, a promessa de numerosos direitos sociais, a descentralização e a abundância das normas programáticas. Outros elementos que também se originaram do texto luso foram a definição do regime como Estado Democrático de Direito, o estímulo ao cooperativismo, o alargamento dos limites materiais da revisão constitucional e a fiscalização da inconstitucionalidade por omissão. O sistema de governo é presidencialista, com um Congresso bicameral, Ministros de Estado nomeados pelo próprio Presidente, eleições diretas, Supremo Tribunal Federal também nomeado pelo Chefe de Estado.
Duas avaliações futuras foram previstas: um plebiscito para definir o modo de governo entre monarquia e república, tendo sido escolhida a segunda opção, e uma revisão constitucional para 1994, que não foi feita. É muito importante dizer que ainda há debate constitucional no Brasil.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS DOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
As primeiras Constituições que surgiram nesses países foram as de 1973 e de 1984 na Guiné-Bissau, as Constituições de 1975, em São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola e as Constituições de 1975 e de 1980, em Cabo Verde. Alguns elementos em comum nesses textos foram a concepção monista do poder e institucionalização de partido único, a abundância de fórmulas ideológico-proclamatórias e de apelo às massas populares, o empenho na construção do Estado, dentre outras semelhanças. Angola teve um regime de orientação comunista, em Moçambique vigora um regime de democracia popular, em Cabo Verde e na Guiné-Bissau vigora um regime de democracia nacional revolucionária, e em São Tomé e Príncipe, o Movimento de Libertação do país, representado como vanguarda revolucionária, sendo a força política dirigente da Nação.
Outras duas características que podemos notar nesses países é que eles conquistaram a sua independência na base da luta armada, e que nenhum desses países teve influência do sistema português, até porque, no período da independência dos mesmos, vigorava em Portugal a ditadura militar. 
Porém, esses mesmos cinco países, pela insuficiência que os regimes anteriormente vigentes começaram a mostrar, dos anos 90 em diante, começaram o seu processo de democratização, embora que isso tenha se dado de diversas formas. Em 1990, novas Constituições foram publicadas em São Tomé e Príncipe e Moçambique, e em 1992, em Cabo Verde e Angola. A Guiné-Bissau, embora não tenha publicado um novo texto, fez profundas revisões no mesmo, procedida pelos próprios órgãos do poder, da mesma forma que ocorreu em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Em Angola e Moçambique, isso se deu com processos de transição que se ligavam com processos de paz (especialmente em Angola que passou por uma longa e sangrenta Guerra Civil). Como elementos em comum desses novos textos, podemos destacar o reforço dos direitos fundamentais, de forma larga e precisa, de modo relativo, a previsão de mecanismos de economia de mercado, a inserção de regras básicas de democracia representativa, o reconhecimento dos partidos políticos, e a preocupação com a garantia da constitucionalidade e da legalidade. De certa forma, essas Constituições receberam algum tipo da Constituição portuguesa de 1976.

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