Buscar

O modo-de-produção asiático

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

O modo-de-produção
asiático
por Gustavo Sartin*
* Mestre em História e Espaços pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
O “crescente fértil”
Modo-de-produçãoasiático (1)
O que seria?
Regime deeconomia estatizadaque teria predominado no Egito, na Mesopotâmia, na Índia, na China e no Peru e em todas as sociedades arcaicas que enfrentaram a “a necessidade de controlar coletivamente as forças naturais”.
Modo-de-produçãoasiático (2)
A necessidade de controlar o regime das águas nas regiões devastadas por enchentes teria levado os aldeões a demandar aintervenção de um Estado despóticoe a se submeter a seu aparato burocrático.
O controle da velocidade das águas teria sido uma das bases materiais da dominação do Estado sobre as aldeias camponesas.
Modo-de-produçãoasiático (3)
Apequenezdessas aldeias e a falta de comunicação entre elas as teria impedido de empreender por conta própria os trabalhos de irrigação em conjunto que teriam demandado uma quantidade enorme de trabalhadores por várias gerações.
Apenas acoerçãoteria podido romper o isolamento das aldeias e apenas o Estado, fundado sobre acorveia, estaria em condições de dar uma resposta eficaz ao enorme desafio natural.
Assim, sob omodo-de-produçãoasiático,o Estado seria o proprietário supremo da terra.A soberania política nada mais seria do que a propriedade fundiária concentrada em escala nacional. Por essa razãonão se encontraria ali a propriedade privada do solo.
Modo-de-produçãoasiático (4)
A ausência de propriedade privada do solo não significaria, porém, a ausência de exploração do trabalho – pelo contrário. Em oposição à forma velada de apropriação da mais-valia nomodo-de-produçãocapitalista, as relações de exploração e de apropriação da mais-valia nessemodo-de-produçãoseriam simples e transparentes, fundadas sobre asrelações diretas de dominação e escravidão, nas quais o Estado seria o principal explorador das massas, o principal retentor dos excedentes produzidos.
Modo-de-produçãoasiático (5)
“Estado” e “propriedade estatal” são, porém, abstrações. É preciso compreender quem são as classes que dominam tais regimes fundiários através da propriedade estatal dosmeios-de-produçãoe de mobilização daforça-de-trabalho. Nessemodo-de-produçãoa direção da produção se confundiria com a própria administração do Estadoe a maior parte da produção seria aquela do próprio Estado. A situação dos grupos sociais na produção se confunde com sua situação na administração estatal.
Modo-de-produçãoasiático (6)
Além da população “escravizada” pelo Estado, a classe dominante e a burocracia a seu serviço se dividiriam em escalões ou níveis.
Marx, porém, não desenvolveu a “dialética” do fortalecimento do Estado e de sua transformação no detentor primário do excedente. Para ele, a estatização da economia corresponderia aum estágio extremamente primitivodo desenvolvimento social. O apogeu do “despotismo oriental” e do “modo-de-produçãoasiático” teria se dadoantesda criação das cidades, portanto antes do surgimento da oposição fundamental entre cidade e campo.
Despotismo oriental
O “despotismo oriental” seriaa superestruturapolítica erigida sobre omodo-de-produçãoasiático.
Originalmente um conceito marxista, a noção de “despotismo oriental” foi explorada e desenvolvida pelo alemão Karl AugustWittfogelem “Oriental Despotism: A Comparative Study of TotalPower” (1957).
Termos relacionados: despotismo hidráulico, civilização hidráulica.
Uma interpretação atual da economia egípcia (1)
O Egito possuía um grande território, com pequenas aldeias, centros regionais em torno dos templos e umas poucas grandes cidades.
A maior parte das comunidades devia ficar relativamenteisoladaboa parte do ano, com a presença do Estado se fazendo sentir nos períodos de colheita e semeadura.
As decisões acerca da agricultura deviam sernecessariamente locais, com a administração da terra baseada nas comunidades de camponeses.
Uma interpretação atual da economia egípcia (2)
Os campos eram arados e semeados durante um curto período após a drenagem das águas, quando o solo estava em condições ótimas – um período de trabalho intensivo no outono.
Durante o Novo Reino terrenos entre 8.000 e 27.000 m2teriam comuns.
Os camponeses pagavam ao faraó umaluguelpor essas terras. Os pagamentos eram feitos em produtos e teriam consistido em cerca de metade da produção.
O quadro geral é deagricultura familiar, com a produção sendo suficiente para o pagamento do aluguel e mais a subsistência.
Uma interpretação atual da economia egípcia (3)
Os preços teriam sido sempre relativos aos metais preciosos, masnão havia cunhagem de moedase mesmo pouco desses metais trocava de mãos.
O transporte em larga-escala sempre ocorria através do Nilo, a despeito da existência de algum transporte terrestre.
Não parece ter existido um mercado de grãos. O principal produto não teria sido comercializado.
Uma interpretação atual da economia egípcia (4)
O salário dos trabalhadoresnão-agrícolas, diante da inexistência de mercado de grãos, incluía necessariamente alimentos.
Os pagamentos eram calculados em grãos. Um salário típico seria o equivalente a três vezes a quantidade de grãos que se esperaria que o trabalhador consumisse. Ainda assim, o pagamento não seria necessariamente feito (apenas) em grãos, mas também em vegetais, peixes e roupas.
A natureza das tributações épouco compreendidae sequer é possível diferenciar a corveia de outras formas de tributação.
GRATIAS VOBIS AGO.
BIBLIOGRAFIA
ALFARANO, Alexandria. Oriental Despotism and the Asiatic Mode of Production: A Modern-Day Critique. In: Ohio States University Libraries. Undergraduate Research Prize. 2010.
EYRE. Christopher. The Economy: Pharaonic. In: LLOYD, Alan B. (ed.). A Companion to Ancient Egypt: volume I. Malden, Oxford, Chichester: Blackwell, 2010.
PAPAIOANNOU, Kostas. Marx et les marxistes. Paris: Flammarion, 1972.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais