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Prévia do material em texto

FACULDADE BATISTA DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
Por Filipe Costa Machado 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE NO LIVRO DE ECLESIASTES. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 2017 
	
  	
  
FACULDADE BATISTA DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
Filipe Costa Machado 
 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE NO LIVRO DE ECLESIASTES. 
 
 
 
 
Monografia apresentada em 
cumprimento à exigência para 
obtenção do grau de Bacharelado em 
Teologia da Faculdade Batista do 
Rio de Janeiro. 
 
 
 
Orientador: Teresa Cristina dos 
Santos Akil de Oliveira 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 2017 
	
  	
  
FACULDADE BATISTA DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
Por Filipe Costa Machado 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE NO LIVRO DE ECLESIASTES. 
 
 
_________________________________________ 
Professor Orientador de Conteúdo 
Profa. Dra. Teresa Cristina dos Santos Akil de Oliveira 
 
 
_________________________________________ 
Professor Orientador de Forma 
Profa. Dra. Maria Celeste Castro Machado 
 
 
 
Aprovada em ___/___/___ 
 
 
Rio de Janeiro, 2017 
 
	
  	
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MACHADO, Filipe Costa 
 
Considerações sobre a morte no Livro de Eclesiastes/ Filipe 
Costa Machado; Orientadora: Profª. Drª. Teresa Cristina dos 
Santos Akil de Oliveira. 2017. 
 
 
1. Monografia de Teologia – Faculdade 
Batista do Rio de Janeiro, Departamento de 
Teologia, Rio de Janeiro, 2017. 
 
2. Método de Interpretação Bíblica; Antigo 
Testamento; Eclesiastes; Morte; 
Contentamento. 
 	
  
	
  	
  
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esse trabalho é fruto de algum esforço e muita ajuda. Dedico, então, a cada um que de 
alguma forma contribuiu para sua conclusão. 
 
	
  	
  
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, pela vida. 
Aos meus pais, pelo suporte, sustento e orientação. 
À minha orientadora, Profa. Tereza Akil, pelo auxílio. 
À minha igreja, Primeira Igreja Batista de Fortaleza, pela confiança. 
A todos que cooperaram com essa longa caminhada. 
 
 
 
 
	
  	
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Porque a felicidade é o fim do homem e aquele que tem sido completamente feliz tem o 
direito de dizer a si mesmo: Cumpri a lei divina nesta terra.” 
F. Dostoiévski 
	
  	
  
RESUMO 
 
 
O problema da morte acompanha a humanidade desde sua origem, já que morrer é 
um acontecimento inevitável da vida. Não é por acaso que as religiões, em geral, tentam 
de alguma forma solucionar o problema da finitude humana e o Judaísmo, bem como o 
Cristianismo, não é diferente. Por isso, uma análise do problema da morte a partir de um 
livro religioso sempre será relevante e, nessa perspectiva, a pesquisa se propõe a trabalhar 
o tema a partir do livro de Eclesiastes, por seu conteúdo mais filosófico e universal. 
Assim, procura-se entender a morte a partir da visão veterotestamentária para, então, se 
aprofundar no livro sapiencial, procurando as conclusões do seu autor para a questão que 
sempre acompanhará o homem em todos os dias que Deus lhe dá debaixo do sol: o que 
fazer com uma vida que inevitavelmente caminha para seu fim. 
 
 
Palavras-chave: Morte, Eclesiastes, Vaidade, Finitude, Contentamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 	
  
	
  	
  
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10 
2. A MORTE NO ANTIGO TESTAMENTO E ANTIGO ORIENTE MÉDIO ......12 
2.1. A MORTE É UM FATO NORMAL .....................................................................14 
2.2. A MORTE NÃO É ADORADA ............................................................................16 
2.3. A VIDA APÓS A MORTE ...................................................................................18 
2.4. A MORTE NOS TEXTOS DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO .............................19 
3. O LIVRO DE ECLESIASTES .................................................................................22 
3.1. AUTORIA ..............................................................................................................23 
3.2. TEMAS ..................................................................................................................27 
3.3. INFLUÊNCIAS .....................................................................................................31 
3.4. DATAÇÃO E LUGAR DE COMPOSIÇÃO ........................................................33 
3.5. COMPOSIÇÃO E PROBLEMAS REDACIONAIS .............................................34 
3.6. TEOLOGIAS .........................................................................................................36 
4. A MORTE NO LIVRO DE ECLESIASTES ..........................................................41 
4.1. A VAIDADE .........................................................................................................41 
4.2. A MORTE ..............................................................................................................44 
4.3. O CONTENTAMENTO ........................................................................................50 
5. CONCLUSÃO ............................................................................................................55 
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .........................................................................57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10	
  	
  
1. INTRODUÇÃO 
 
O livro de Eclesiastes é um dos mais enigmáticos e aparentemente destoantes de 
todo cânon bíblico. Seus temas são universais, como vida e morte, futilidade e relevância, 
sofrimento e gozo. Como afirma Vílchez Líndez, o Eclesiastes “manifesta de forma 
paradoxal a riqueza inesgotável da revelação de Deus em palavras humanas.”1 Por isso, 
sua análise sempre será expressiva e importante. Nas palavras de R. H. Pfeiffer, “sua 
originalidade de pensamento e sua honestidade mental dificilmente podem pôr-se em 
dúvida; seu livro, em conjunto, não tem paralelo nem entre os judeus nem entre os 
gregos.”2 
Nessa perspectiva, essa pesquisa tem como objetivo estudar a morte no livro de 
Eclesiastes e o impacto que essa tem sobre a teologia do livro, evidenciando a 
originalidade da obra e sua relevância para o homem do séc. XXI. A partir desse estudo, 
procura-se uma resposta ao drama existencial causado pelo fim, ou seja, sabendo que a 
vida chegará inevitavelmente ao seu final, o que fazer com os dias que se tem debaixo do 
sol? 
A morte é o único evento certo na existência de qualquer ser vivo. Sendo assim, 
faz-se necessário um estudo sobre essa e o que sua inevitabilidade gera na vida humana. 
Nessa perspectiva, na condição da morte, o que fazer com os dias vividos? Para tentar 
responder essa pergunta, escolheu-se o livro de Eclesiastes, já que é a obra do cânon 
bíblico que mais se propõe a analisar temas universais e existenciais e afasta-se do lugar 
comum religioso pelo seu elevado espírito crítico. Nas palavras de Vílchez Líndez, a obra 
é “mescla de abertura ao mundo e de conservadorismo, de ceticismo e de fé.”3 
Inicia-se a pesquisa por analisar a morte no Antigo Testamento de forma geral. 
Visando à um panorama do tema, aborda-se a tanatologia dos textos do Pentateuco, 
Históricos, Proféticos e, por fim, dos Poéticos deforma introdutória, a fim de evidenciar 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 VÍLCHEZ LÍNDEZ, José. Eclesiastes ou Qohélet. São Paulo: Paulus, 1999, p. 7. 
2 PFEIFFER, R. H. The Peculiar Skepticism of Ecclesiastes. JBL 53 (1934), p. 109, in: VÍLCHEZ 
LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 31. 
3 KROEBER, R., Der Prediger. Berlim: 1963, p. 6. in: VÍLCHEZ LÍNDEZ. Op. cit. p. 18. 
11	
  	
  
a originalidade da obra do Qohélet4, mostrando como o tema evolui ao longo da história 
de Israel. 
Em seguida, passa-se a um estudo específico do livro de Eclesiastes, com o 
objetivo de entender os temas do livro, suas teologias e influências. É comum se destacar 
a vaidade como um dos temas principais da obra. Entretanto, inicialmente, a prioridade 
será dada à morte. Além disso, analisa-se o temor do senhor, o desfrute da vida e o 
contentamento, como assuntos presentes e entrelaçados com os demais ao longo do livro 
de Eclesiastes. 
Um espaço da pesquisa é destinado à questão da autoria. Está claro para 
pesquisadores que não se pode mais admitir uma autoria salomônica. Entretanto, não se 
sabe quem seria o autor da obra, apenas denominando-o Qohélet, ou seja, “pregador”. É 
feito, então, um estudo das características de Qohélet, suas influências helênicas, egípcias 
e mesopotâmicas e a apresentação do gênero da autobiografia real usada pelo autor. 
Concomitantemente à questão da autoria, trata-se também da datação do livro, 
atualmente considerada como séc. III a.C, próximo do ano 200. Findada a discussão 
sobre o período de produção da obra, analisa-se o lugar de sua composição e os mais 
variados problemas redacionais do livro de Eclesiastes relevantes para a pesquisa. 
Por fim, a pesquisa cumpre seu objetivo principal ao analisar especificamente a 
morte no livro de Eclesiastes e defende que essa é ponto chave para se compreender toda 
a teologia de Qohélet: a morte é a responsável pela vaidade da vida, porque põe fim a 
essa, e, por isso, são constantes os convites à alegria pelo autor, já que tudo o mais seria, 
como afirma, “vaidade de vaidades.” 
Não há nessa pesquisa um trabalho exegético de uma perícope específica, mas 
uma análise geral da obra de Qohélet, já que os temas da vaidade, morte e desfrute estão 
presentes na maioria dos capítulos do livro de Eclesiastes. Nesse ponto, é fundamental o 
trabalho de Larissa Levicheva, tese de doutorado apresentada na London School of 
Theology. Além desse, serão também analisadas obras de autores já muito respeitados 
como Vílchez Líndez, A. Bonora, N. Lohfink, A. Lo, supervisor da tese citada acima, M. 
Fox, J. Crenshaw e G. Von Rad. 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4 Para essa pesquisa, adotar-se-á a expressão “Qohélet” para designar o autor principal do livro de 
Eclesiastes, como é comumente feito na literatura. 
12	
  	
  
2. A MORTE NO ANTIGO TESTAMENTO E ANTIGO 
ORIENTE MÉDIO 
 
A morte é um evento de difícil análise. Seja qual for a abordagem, quer seja 
filosófica, teológica, antropológica ou outra qualquer, é um desafio definir o que é a 
morte ou a vida. Nas palavras de Féret, “qualquer que seja o ponto de vista a partir do 
qual se aborde, e a tradição bíblica não constitui uma exceção, o problema da morte não é 
simples.”5 
Essa dificuldade se dá principalmente porque as análises que foram feitas pelos 
povos primitivos a respeito da morte são feitas a partir de uma perspectiva religiosa, ou 
seja, estão atreladas à fé, à cultura e à formação daquela sociedade e, por isso, são 
distintas entre os mais variados grupos sociais. Martin-Achard cita Addison a respeito do 
assunto, dizendo que “é impossível colocar juntas as diversas crenças que o espetáculo da 
morte desperta ao homem ”6 Em vista dessa dificuldade, essa pesquisa introdutória não 
terá por objetivo esgotar a riqueza do assunto, mas apenas apontar aspectos importantes 
que auxiliem na compreensão do tema a partir do livro de Eclesiastes. 
A complexidade de se juntar as diversas crenças sobre a morte também está 
presente no Antigo Testamento, o que aumenta a dificuldade de se fazer um estudo 
cronológico ou das tradições sobre a tanatologia presente nesses textos. Para Farber, a 
evolução com relação à ideia da morte, primeiramente como o fim completo da existência 
à separação entre o corpo perecível e a alma eterna, resultado principalmente de 
aproximações com a cultura grega e egípcia, não foi linear ou se tornou convenção.7 
Pode-se, portanto, ver textos no Antigo Testamento que corroboram tanto com uma 
visão, fim completo da existência, quanto com outra, fim do corpo e separação desse e a 
alma que se mantém após a morte. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
5 FÉRET, P. Le mystére de la mort et las célebration. 1951, p.16, in: MARTIN-ACHARD, Robert. Da 
morte à Ressurreição segundo o Antigo Testamento. Santo André: Academia Cristã, 2015, p. 33. 
6 ADDISON, J. La vie après la mort dans le croyances de l’humanité, 1936, in: MARTIN-ACHARD. Op. 
cit. p.33. 
7 FARBER, Sonia S. Considerações sobre a morte no Antigo Testamento: Aproximações entre Teologia e 
Tanatologia. In: São Leopoldo: EST, 2012. CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 
1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 
2012, p.1053-1065, p. 1. 
13	
  	
  
Essa evolução do pensamento sobre a morte se dá, para Farber, pela “sede de 
transcendência presente no ser humano.”8 Além disso, pode-se afirmar que a fidelidade 
de Javé não poderia estar limitada a essa existência apenas. Essa necessidade de 
transcendência e crença na fidelidade de Javé que é misericordioso com vivos e mortos 
(Rt 2.20) faz surgir a literatura apocalíptica, que tenta responder ao anseio humano 
próprio daquele período. Daí a noção de ressurreição é mais disseminada, ganha força e 
aparece nos textos do Antigo Testamento, sendo o texto de Isaías 24-27 o mais antigo do 
cânon que fala sobre ressurreição, segundo Carlos Roberti9. Esse tipo de literatura ganha 
força a partir do séc IV aC.10 
O texto de Eclesiastes especificamente, numa perspectiva posterior à maioria dos 
escritos do Antigo Testamento, mas anterior ao apocalipse de Isaías, defende o fim da 
vida que observa debaixo do sol, mas também fala que há uma separação entre corpo e 
alma: o primeiro perece, mas a segunda volta para Deus (Ec 12.7). Qohélet não deixa 
claro o que isso significa ao longo do seu texto, mas afirma que não há recompensa após 
a morte (Ec 9.5), amor, ódio ou sentimentos (Ec 9.6), nem obra, trabalho, projeto ou 
sabedoria (Ec 9.10). 
Uma perspectiva, entretanto, é constante nos textos veterotestamentários. A vida é 
um dom divino e só por Deus se sustenta. Segundo Martin Achard, “não está nas mãos 
dos homens criar nem conservar a vida. Para o Antigo Oriente, como também para o 
Antigo testamento, somente os deuses são imortais e só eles podem fazer viver ou 
morrer.”11 
A vida dos homens e dos animais é uma criação divina, sustentada por Javé, que 
se revela e ensina ao homem como viver. Cabe ao homem a resposta,a obediência ou 
não, aos seus mandamentos. Viver, no imaginário semita veterotestamentário, é, portanto, 
obedecer à Lei. Como afirma Martin Achard: 
 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
8 FARBER. Op. cit. p. 3. 
9 ROBERTI, Carlos. A morte na Bíblia, 1998, in: VASCONCELOS, Gilmar de Souza. Imagens 
metafóricas da transitoriedade da existência no Eclesiastes. Campina Grande. Universidade Estadual da 
Paraíba (Dissertação de Mestrado), 2015, p. 64. 
10 Idem. 
11 MARTIN-ACHARD. Op. cit. p. 28. 
14	
  	
  
A vida do povo escolhido não depende, portanto de ritos mágicos nem de uma 
fusão mística na divindade, mas sim de um diálogo no qual Yahweh toma a 
palavra para revelar, em primeiro lugar, o que Ele é e declara imediatamente o 
que espera do seu povo. Israel demonstra, através de sua resposta se deseja ser 
uma nação santa, ou seja, se aceita ou rejeita a existência que o Deus vivo lhe 
oferece e é justamente por isso que a vida se confunde, para os homens do 
Antigo Testamento, com a obediência aos mandamentos divinos.12 
 
Discutir-se-á, então, adiante algumas características da morte que são importantes 
para o escopo da pesquisa, tais como a sua naturalidade, o fato de ela não ser adorada, o 
que o Antigo Testamento afirma acerca do que vem após o fim da vida e, por fim, o que 
alguns textos do Antigo Oriente Médio falam sobre o tema. 
 
2.1 A MORTE É UM FATO NORMAL 
 
Segundo o livro de Gênesis, capítulo 3, a morte é um fato normal: todo ser criado 
em algum momento perece. Adão é feito da adamah e para ela retornará um dia. Os 
castigos descritos nesse texto como consequência da desobediência humana não trazem o 
fim da vida, mas novas condições para ela: ao homem a terra hostil e o cansaço, à mulher 
o parto e a submissão ao marido. O verso 3.19 do mesmo livro traz a destinação final, 
mas não é parte do castigo: se o homem é pó, ao pó retornará. Apenas a Deus cabe a vida 
perene (Gn 3.22). Nas palavras de Farber: 
 
 
A origem do ser humano o conecta com o a terra e ordena a reflexão para uma 
hermenêutica planetária: homem e terra são realidades cooperantes e que trazem 
em si elementos um do outro. “Pois tu és pó e ao pó tornarás”, sintetiza o texto 
de Gn 3.19b. Se fonte e vértice se encontram por ordem cósmica, ou se esta é a 
consequência da transitoriedade da vida humana, o texto não esclarece, afirma 
apenas que esta é a realidade que acontece a todo ǎdām: tornar-se um com a 
ǎdāmâ.13 
 
Referindo-se ao mesmo texto de Gênesis, Wolff é ainda mais contundente, 
afirmando que: 
 
 
o tempo do ser humano é limitado. É sua oportunidade para a vida entre o 
nascimento e a morte, pois é certo que foi criado como um mortal (Gn 
3.19,22). Em vista da duração da vida, a pergunta por aquilo que é o ser 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
12 MARTIN-ACHARD. Op. cit. p.30. 
13 FARBER. Op. cit. p. 3. 
15	
  	
  
humano encontra a resposta: ele é um ser passageiro, um sopro (Sl 39.5,11; 
49.12,20; 82.7; 89.47s.). O começo do tempo de sua vida é fixado por Javé. 
Mas em relação ao seu fim surgem questões extremamente obscuras.14 
 
Martin-Achard afirma o mesmo que Wolff. Nas suas palavras: 
 
 
O Antigo Testamento nos declara que o homem não é imortal e que nada nele é 
eterno. Não possui nenhuma parte divina que escape da morte. O Antigo 
Testamento rejeita este tipo de crença na imortalidade da alma que a filosofia de 
Platão fez célebre e que, frequentemente, é tomada como um dogma 
fundamental da fé cristã; com efeito, para os israelitas, a alma não é de essência 
superior ao corpo nem pode viver sem ele, não pertence a uma realidade incriada 
e, portanto, imperecível.15 
 
Ainda na Torá, no livro do Êxodo, as promessas e bênçãos de Javé são destinadas 
ao povo, caso esse seja fiel, durante o número dos seus dias (Ex 23.26). Javé não lhes 
designa uma eternidade de recompensas e alegrias, como na visão neotestamentária, mas 
bênçãos apenas nos dias de suas vidas. 
Além disso, a morte não é necessariamente algo ruim. É possível ter uma boa 
morte, ou seja, aquela que acontece na velhice do homem, ou que se dá após a 
concretização dos seus desejos. Assim se sucede com Abraão (Gn 15.15). Jacó, no fim 
dos seus dias, afirma que está pronto para morrer, pois viu seu filho José ainda vivo (Gn 
46.30). 
O mesmo ocorre na Obra Historiográfica Deuteronomista. Josué e Davi começam 
seus discursos de despedida com a mesma expressão: “vou pelo caminho de toda terra” 
(Js 23.14, IRs 2.2). Para a escola deuteronomista, a morte é natural, destino de todos os 
homens. Assim fala a mulher sábia ao Rei Davi (II Sm 14.14); semelhantemente, 
Levicheva entende o pedido do Rei Ezequias no livro de IIReis 20.10, a sombra que volta 
e simboliza o favor de Javé, como uma metáfora para a falta de controle do homem sobre 
sua própria vida. A sombra sempre vai para frente e o mesmo se dá com cada indivíduo, 
que sempre envelhece, vindo a morrer em seguida.16 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
14 WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Hagnos, 2007, p. 161. 
15 MARTIN-ACHARD. Op. cit. p.34. 
16 LEVICHEVA, Larisa I. Contentment in the Book of Ecclesiastes: Interplay of the Themes of Death, the 
Role of God and Contentment in Qohelet’s Teaching. Londres: Middlesex University London (Tese de 
Doutorado), 2014, P. 59. 
16	
  	
  
Na literatura sapiencial, em geral, observa-se a mesma idéia. Para o salmista, não 
haverá vida se não houver o fôlego de Javé (Sl 104.29, 146.4); a vida do homem é apenas 
sombra, como nada (Sl 39.5-6); ele é como os animais que perecem (Sl 49.12, 20), como 
reis que caem (Sl 82.7), cujos dias são breves e efêmeros (Sl 89.47); como um sopro ou a 
sombra que passa (Sl 144.4) e que certamente verá a morte e o Seol (Sl 89.48). No caso 
do Salmo 144, é dito que a vida do homem é hebel, mesma palavra usada na célebre frase 
de Eclesiastes “vaidade de vaidades”. A metáfora da vida que é hebel, sopro ou vaidade, 
será posteriormente explicada. Por ora, para o salmista, a vida é passageira. 
Segundo essa mesma perspectiva, Jó afirma que a vida do homem está na mão de 
Javé (Jó 12.10) e depende do Seu fôlego que, caso seja retirado da criatura, sua carne 
expiaria e ele voltaria ao pó (Jó 34.14-15). A mesma metáfora da sombra usada nos 
Salmos está presente em Jó e reafirma a brevidade da vida (Jó 8.9); nesse livro, 
entretanto, tem-se novas comparações, isto é, os dias são mais velozes que um corredor 
ou uma águia que se lança sobre sua presa (Jó 9.25-26). Finalmente, para Jó, todos irão à 
morte, casa de ajuntamento determinada para todos viventes (Jó 30.23). 
A visão de Eclesiastes será mais extensamente trabalhada em capítulos 
posteriores. Contudo, pode-se afirmar que Qohélet é ambíguo em relação ao tema: ora 
traz aspectos positivos da finitude humana, ora negativos. Mas o livro todo deixa claro 
que a morte não pode ser evitada (Ec 2.16, 3. 1-8, 3.19, 4.2, 5.15-17, 7.1-2, 9.1-6, 9.10, 
12.1-7). 
 
2.2 A MORTE NÃO É ADORADA 
 
Além de ser um fato normal, a morte é vista negativamentepelos legisladores de 
Levítico, Números e Deuteronômio. O livro de Levítico, em Lv 19.31, explicita que a 
consulta aos mortos é proibida e Isaías e Samuel retomam essa temática. Àqueles que 
deliberadamente quebram essa Lei, sobra a punição de Javé: será extirpado do meio do 
seu povo e morto (Lv 20.6, 27). Na releitura da Lei pelo deuteronomista, afirma-se que 
aqueles que consultam os mortos são abomináveis ao Senhor (Dt 18.11-12). Já o livro de 
Números, em Nm 19.11, diz que o toque ao morto torna aquele que o tocou impuro. 
17	
  	
  
Além disso, a morte não é encarada como santa e o morto não é venerado. 
Pouquíssimas são as descrições dos túmulos de personagens como Moisés e Davi. Sobre 
o primeiro, ninguém conheceu seu sepulcro (Dt 34.6); já o segundo, só se sabe que foi 
sepultado na “cidade de Davi” (I Rs 2.10). Resume Wolff, “de modo nenhum os mortos 
são exaltados com uma auréola de glória, nem sequer os maiores e mais piedosos de 
Israel.”17 Isso acontece, porque a morte torna impuro, conforme afirma o texto de Dt 
26.14, em que “uma parte da prestação do dízimo foi posta como alimento de um morto 
em um sepulcro; isso seria uma transgressão perante Javé, do mesmo modo como se uma 
parte tivesse sido comida no tempo de luto.”18 
O livro de Isaías, em Is 14, descreve ironicamente e de forma poética o que 
acontece com aqueles que se julgam grandes em vida, mas obviamente não escapam da 
sua própria finitude. Sobre o rei da Babilônia, é dito que vai adoecer e ser como os 
mortos, será coberto de bichos (14.11), que planejava subir ao céu, contudo foi ao mais 
profundo do abismo (14.15). Ainda no mesmo livro, nos versos 65.1-4, também se mostra 
a repudia de Javé ao contato com os mortos, na medida em que compara a rebeldia a Javé 
a práticas como “habitar entre as sepulturas”. Em momento algum a morte é gloriosa ou 
valorizada. 
Houve ainda em Israel influências egípcias para que se desse ouvidos aos mortos 
e valorizasse práticas necromantes.19 Entretanto, há críticas por parte dos profetas e do 
autor das Crônicas a respeito. O texto de Isaías afirma que muito melhor é consultar o 
próprio Deus já que está vivo e, por isso, acima dos mortos (Is 8.19). O profeta também 
critica o pacto com o Egito, comparando-o com a própria morte (Is 28.15). Para ele, 
Israel não precisava de pactos com a nação egípcia já que Javé supriria suas necessidades. 
Uma empreitada de consulta aos mortos é descrita no livro de I Samuel 28. A 
façanha de Saul e a necromante se mostra ao final absurda, exibindo ainda mais 
claramente o declínio do rei. Por mais que o contato com Samuel seja realizado, a 
resposta é negativa para Saul: sua vida e a de seus filhos terminariam (ISm 28.19). Na 
perspectiva do cronista, o rei foi infiel para com o Senhor e por isso morreu (ICr 10,13). 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
17 WOLFF. Op. cit. p. 156. 
18 Ibidem. p. 165. 
19 Ibidem. p. 168. 
18	
  	
  
Essa visão negativa ou universal a respeito da morte em Israel trouxe, segundo G. 
von Rad, “uma desmitificação e dessacralização radicais da morte”20. Não há, portanto, 
uma veneração ou divinização da morte ou dos mortos, tampouco há glória para aqueles 
que tem contato com o que não está mais vivo. Ao contrário, o texto veterotestamentário 
deixa explícito que a adoração deve ser dada somente a Javé, que muitas vezes é 
apresentado como o Deus vivo (Js 3.10, IIRs 19.4 e Os 1.10) ou aquele que dá e conserva 
a vida (Dt 30.16, Sl 64.1; 103; 104.29; 133.3). 
 
2.3 A VIDA APÓS A MORTE 
 
A noção de vida após a morte, na visão veterotestamentária, é diferente daquela 
entendida pelos cristãos contemporâneos. O conceito de mundo dos mortos e 
ressurreição, bem como de arrebatamento, vai evoluindo ao longo dos livros até se chegar 
no panorama observado no Novo Testamento. 
Inicialmente, a literatura sapiencial é a que trabalha melhor o tema. Para o 
salmista, por exemplo, o estar morto é ser esquecido por Javé (Sl 88.5). O salmo atesta a 
angústia da morte numa série de perguntas retóricas, cujas respostas são negativas, em 
que questiona se há milagres, louvor ou maravilhas entre os mortos. O mesmo diz o Sl 
115.7, “os mortos não louvam ao Senhor”. 
No primeiro capítulo do livro de Jó é dito que, se não se nasce com nada, também 
não se leva nada dessa vida (Jó 1.21). Posteriormente Jó afirma que “deitarei no pó, [...] e 
não existirei mais” (Jó 7.21). Para Qohélet, não há possibilidade de trabalho ou 
conhecimento no mundo dos mortos, portanto se deve aproveitar o tempo de vida para 
qualquer obra ou projeto. 
A oração de Ezequias, que se encontra no livro de Isaías 38.18, corrobora essa 
visão: diferente do vivente, os mortos não louvam, glorificam ou esperam. Davi, ao ver 
morta sua criança, questiona-se retoricamente “poderei eu fazê-la voltar? Eu irei para ela, 
porém ela não voltará para mim” (IISm 12.23). 
Diante, então, dessa realidade iminente da morte, resta ao homem apenas o 
clamor a Javé, fonte da vida (Sl 36.9), já que é Ele quem comanda o mundo dos mortos. 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
20 G. von Rad. Theologie des Alten Testaments, v. I, p. 289, in: WOLFF. Op. cit. p. 170. 
19	
  	
  
O salmista, depois da crise evidenciada pelas perguntas retóricas em Sl 88, clama a Javé 
(Sl 88.13). O mesmo faz Ezequias diante da notícia de sua morte (II Rs 20) e Davi, ao 
saber que seu filho fora ferido pelo Senhor (IISm 12.15). Por fim, no livro de Rute, é dito 
que Javé tem misericórdia pelos vivos e mortos (Rt 2.20). 
O controle sobre o mundo dos mortos é tal que, segundo a visão de Amós, mesmo 
que alguém vá ao mundo dos mortos para fugir de Javé, sua mão o tiraria de lá (Am 9.2). 
Nessa mesma perspectiva, o salmista afirma que, ainda que vá ao mundo dos mortos, lá 
Javé estaria (Sl 139.8). Já o livro de I Samuel afirma que é Ele quem “tira a vida e a dá; 
faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (ISm 2.6). 
Sendo assim, é possível àquele que é fiel a Javé a superação da morte. Isso não se 
dá necessariamente como uma esperança numa vida após o óbito, como descrita em 
alguns livros do Novo Testamento, mas “na certeza tranquila de que a comunidade com 
Javé, por causa da sua fidelidade, não pode ser suprimida pela morte.”21 
Diante disso, aparece uma terceira possibilidade de existência diferente dessa vida 
e da realidade do mundo dos mortos: uma ligação de vida a que Wolff chama 
arrebatamento.22 As tradições de Enoque e Elias corroboram essa perspectiva (Gn 5.24, II 
Rs 2.3). Já para o salmista, é a única possibilidade de redenção, ou seja, de vencer o 
poder do mundo dos mortos (Sl 49.15) e de ir para a glória de Javé (Sl 73.24). 
No mesmo ponto de vista, escreve o autor de Isaías que Javé “aniquilará a morte” 
(Is 25.8) e ressuscitará os mortos (Is 26.19), ambas promessas para Israel. Numa 
perspectiva mais tardia, Daniel abre a ressurreição a todos, uns para glória e outros para 
ignomínia (Dn 12.2). 
O livro de Jó também contribui para uma mudança no pensamento acerca da 
morte. Se em alguns capítulos, tem-se o fim completo da existência, por outro lado, 
outros textos nesse livro defendem ainda uma vida diferente daquela experimentada. É o 
caso, por exemplo de Jó 19.25-27, em que o autor defende uma esperança numa realidadeque viria após a morte, em que se pode ver Deus. Tem-se, portanto, na mesmoa obra, as 
duas opiniões conflitantes que estão presentes no texto veterotestamentário: o fim 
completo da vida e a passagem a uma outra realidade. 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
21 WOLFF. Op. cit. 175. 
22 Idem. 
20	
  	
  
2.4 A MORTE NOS TEXTOS DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO 
 
A preocupação com a transitoriedade da vida não é traço característico apenas do 
Antigo Testamento, nem é particular do pensamento hebraico. Alguns textos do Antigo 
Oriente Médio também trazem essa questão, muitas vezes usando termos semelhantes 
para discorrer sobre a brevidade da existência humana.23 
Um texto sapiencial acádio, “I Will Praise the Lord of Wisdom”, diz: “Onde os 
homens aprenderam os caminhos de um deus? Aquele que estava vivo ontem está morto 
hoje.”24 Já um outro da Mesopotâmia, “Counsels of a Pessimist”, traz “O quer que o 
homem faça não perdura para sempre, a humanidade e suas conquistas da mesma forma 
terão seu fim.”25 
Já a obra babilônica Epopeia de Gilgamesh traz seu herói comparando as 
conquistas humanas ao vento: “apenas os reis [vivem] eternamente debaixo do sol. Já em 
relação à humanidade, seus dias estão numerados; o que quer que conquistem não passa 
de vento.”26 Em outro trecho, o mesmo personagem, após a morte de um amigo, afirma 
que o falecido “foi para o destino de toda a humanidade.”27 Por fim, diante do próprio 
fim, percebe que só aos deuses é destinada a eternidade. 
Houve também no Egito o desenvolvimento de uma literatura de sabedoria que 
muito se questionou sobra a morte. Como afirma Wollf, “No Egito, muitas vezes, 
ocorrem eufemismos: ‘Vivo vai para o descanso’ – ‘o belo destino se realizou’ – ‘Ele 
entra em seu horizonte, afasta-se rumo ao céu, une-se ao sol, e seu corpo de deus mistura-
se com seu genitor’.”28 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
23 LEVICHEVA. Op. cit. p. 59. 
24 “Where have humans learned the way of a god? He who was alive yesterday is dead today.” Ludlul Bēl 
Nēmeqi, ‘I Will Praise the Lord of Wisdom,’” traduzido por Robert D. Biggs (ANE, 368), in: 
LEVICHEVA. Op. cit. p. 60. Tradução do autor da pesquisa. 
25 “Whatever man do does not last for ever, mankind and their achievements alike come to an end.” 
Counsels of a Pessimist, (Lambert, Babylonian Wisdom Literature, 109), in: Levicheva. Op. cit. p. 60. 
Tradução do autor da pesquisa. 
26 “Only the gods [live] forever under the sun. As for mankind, numbered are their days; whatever they 
achieve is but wind!” “The Epic of Gilgamesh,” traduzido por E.A. Speiser (ANE, 50), in: LEVICHEVA. 
Op. cit. p. 60. Tradução do autor da pesquisa. 27	
  “has now gone to the fate of mankind.” “The Epic of Gilgamesh,” traduzido por E.A. Speiser (ANE, 50), 
in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 75. Tradução do autor da pesquisa.	
  
28 WOLFF. Op. cit. 167. 
21	
  	
  
A obra egípcia “The Man Who Was Tired of Life” apresenta um homem que 
dialoga com sua alma a respeito do suicídio. Num determinado trecho afirma que “a vida 
é um estado transitório e até mesmo árvores caem”29 Outra obra, “The Song from the 
Tomb of King Intef”, fala sobre as gerações que se passam: “a morte é um destino bom. 
Uma geração passa e outra fica desde o tempo dos ancestrais”30 Por fim, no “Egiptian 
Royal Instructions”, tem-se um relato da transitoriedade da condição humana no texto 
“The Instructions of Amen-em-Opet”, em que se diz: “O homem é barro e palha e deus é 
seu construtor. Ele está demolindo e construindo todo dia.”31 
Percebe-se, portanto, que a noção de morte no Antigo Testamento é influenciada 
por textos dos outros povos que habitavam o Antigo Oriente Médio. Dentro desse 
contexto que se tem a escrita do livro de Eclesiastes que vai tratar diversos temas, como a 
vaidade, a morte e a vida, numa perspectiva hebraica, mas profundamente influenciado 
por textos egípcios, gregos e mesopotâmicos. Passa-se, assim, na pesquisa, a uma melhor 
análise da obra de Qohélet. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
29 “Life is a transitory state, and even trees fall” R. O. Faulkner, “The Man Who Was Tired of Life,” JEA 
42 (1956): 21-40 (27), in: Levicheva.Op. cit. p. 60. Tradução do autor da pesquisa. 
30 “Death is a kindly fate. A generation passes, another stays, since the time of the ancestors.” 38 “The 
Song from the Tomb of King Intef,” (AEL 1:194), in: Levicheva. Op. cit. p.61. Tradução do autor da 
pesquisa. 
31 “For man is clay and straw, and the god is his builder. He is tearing down and building up every day.” 
“The Instruction of Amen-em-Opet,” (ANE, 351), in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 61. Tradução do autor da 
pesquisa. 
22	
  	
  
3. O LIVRO DE ECLESIASTES 
 
O texto de Eclesiastes é rico e enigmático e, por isso, foi explorado de diversas 
formas por teólogos ao longo dos anos. Inicialmente, como era comum nos primeiros 
anos da igreja, espiritualizava-se a mensagem, interpretando-a de forma alegórica. 
Segundo Levicheva, São Jerônimo, no séc IV e V, defende, a partir do texto de 
Eclesiastes, uma vida ascética, monástica e devotada a Deus. São Bonavetura, na Idade 
Média, faz distinção entre a vaidade do mundo e a vaidade do pecado, em oposição à 
obediência a Deus que seria o foco do livro de Qohélet. Já Tomás de Kempis afirma que 
a crítica à fugacidade da vida e do mundo é um convite para desejar o mundo porvir.32 
Por outro lado, Bartholomew vê três tipos de interpretações principais ao longo da 
História. A primeira, ligada a São Jerônimo, neoplatônica e cristológica, como afirma 
Levicheva, dura quase mil anos. A segunda vem com Lutero, Melâncton e Brenz, no séc. 
XVI, a partir de uma interpretação mais literal do texto, afirmando o oposto da primeira. 
Por último, vem aquela do período pós-Iluminista com os questionamentos histórico-
críticos.33 
Nos últimos anos, entretanto, essas interpretações do livro de Eclesiastes têm 
perdido espaço para uma outra mais literal e existencial. De um lado, uma opinião mais 
ortodoxa diz que o livro defende o desfrute da vida diante de todos os seus mistérios e de 
Deus. Em oposição, há aqueles que afirmam a absurdidade da vida já que ela é breve, não 
há recompensas para a virtude e Deus se coloca distante, abandonando o homem ao seu 
próprio destino.34 
Apesar da conformidade no método de interpretação, ainda há divergência quanto 
ao tema principal do livro de Eclesiastes. Não se tem um que se destaque e seja unânime 
entre estudiosos, mas existe um conjunto de assuntos que formam o pensamento e a obra 
de Qohélet. Ressalta Levicheva: o temor do Senhor, o desfrute da vida, o contentamento, 
a vaidade da vida e a morte.35 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
32 LEVICHEVA. Op. cit. p.2. 
33 BARTHOLOMEW, Craig. Ecclesiastes. Grand Rapids: Baker Academic, 2014, p.21. 
34 LEVICHEVA. Op. cit. p.3. 
35 Ibidem. p.4. 
23	
  	
  
3.1 AUTORIA 
 
 O livro de Eclesiastes é escrito em 1ª pessoa à exceção de três momentos, 1.1-2, 
7.27 e 12.9-14. Ele possui, no início da obra, o estilo da autobiografia real ou testamento 
régio36, base de seus discursos, fundamentando-os e dando credibilidade37. A autoria 
ainda causa divergências entre os estudiosos. Se essa deveria ser clara devido ao primeiro 
verso do livro, Ec 1.1, em que é dito claramente que o autor seria um filho de Davi e rei 
em Jerusalém, apontando para Salomão, questiona-se, entretanto, porque o texto teria 
uma segunda apresentação no verso doze do mesmo capítulo, como “o pregador, rei em 
Jerusalém”, e porque no primeiro do verso do livro de Provérbios há o nome do autor e 
em Eclesiastes, não. 
 A palavra hebraica que se traduz por pregador é “ ֹ ק ֶ֣הֶלת” – qohelet, expressão 
comumente usada na literatura para referenciar o autor do texto de Eclesiastes. Já a 
Septuaginta traduz a expressão por “Еκκλησιαστής” – ecclesiastes, uma interpretação que 
significa “cidadão” ou “membro da assembleia dos cidadãos”. Trata-se, então, de uma 
profissão ou cargo social e não de um nome próprio.38 
Tradicionalmente, o livro é atribuído a Salomão, filho de Davi. Fundamenta-se 
essa afirmação com os versículos 1.1 e 1.12 do livro de Eclesiastes, já que a forma mais 
crítica de leitura do texto é uma consideração moderna. Segundo Vílchez Líndez, “pode-
se afirmar que até o século XVII mantém-se pacificamente essa tradição, continuando 
também depois, ainda que não pacificamente, mas no seio de contínuas controvérsias.”39 
Entretanto, a partir da modernidade, percebeu-se que a linguagem é um fator que 
aponta para uma autoria não salomônica. A língua hebraica mostra uma evolução natural 
ao longo do tempo e o linguajar usado no livro de Eclesiastes é mais evoluído e tardio.40 
Vílchez Líndez chega a afirmar, sobre a dúvida quando à autoria salomônica, que “os 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
36 Levicheva chama de “autobiografia real”, enquanto Vílchez Líndez prefere o termo de Von Rad: 
“testamento régio”. Esse estilo é um “gênero cortesão-sapiencial que tem sua origem no antigo Egito.” 
RAD, G. von, Teologia delAntiguo Testamento I, Salamanca: 1972, p. 550, in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 
1999. Op. cit. p. 52. 
37 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 43. 
38 LEVICHEVA. Op. cit. p. 26. 
39 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 12. 
40 LEVICHEVA. Op. cit. p. 27. 
24	
  	
  
estudiosos linguísticos [...] acabaram de eliminar toda dúvida razoável.” 41 Barton, 
admitindo a autoria não salomônica, sustenta que “o fato de Salomão não ser o autor, mas 
ser introduzido como uma figura literária, tornou-se um axioma da interpretação do livro 
atualmente, de tal forma que não se precisa de argumentos para se negar a autoria.”42 
Desqualificando Salomão, filho de Davi, como autor, abre-se espaço para uma 
investigação sobre o autor, Qohélet, a partir da sua obra. Por mais que uma reconstrução 
histórica beire a impossibilidade, é possível, entretanto, apresentar características 
importantes para uma melhor análise do livro de Eclesiastes. 
De início, pode-se tomar o epílogo como verídico e escrito por um discípulo de 
Qohélet a seu respeito.43 Tem-se, assim, como ponto de partida que “além de ser sábio, o 
pregador também ensinou ao povo o conhecimento, meditando, e estudando, e pondo em 
ordem muitos provérbios; procurou o pregador achar palavras agradáveis, e escreveu com 
acerto discursos plenos de verdade.” (Ec 12.9-10) 
Qohélet é judeu, não se sabe, entretanto, se de Jerusalém, da Palestina do Norte ou 
Fenícia. O mais adequado parece ser Jerusalém.44 Além disso, como era comum aos 
produtores de literatura filosófica da Antiguidade, Qohélet seria oriundo de uma família 
de posses, “mais ainda, pertencente à classe alta ou aristocrática.”45 É bem provável que 
fosse casado, já que seu texto mesmo recomenda tal união. Lohfink defende que Qohélet 
seria um estereótipo de filósofo ambulante, à moda grega, que oferecia seus ensinamentos 
por dinheiro.46 Por fim, o autor de Eclesiastes tem uma posição firme e decidida ao se 
confrontar com a realidade que o cerca.47 
O pregador tem como pressuposto em todas as suas análises a existência de Deus 
e mantém sua fé em Deus, Criador e Senhor do mundo. Não se questiona a respeito do 
“problema” de Deus, traço de alguém que foi educado num ambiente religioso e se insere 
num contexto culturalmente favorável à fé. Além disso, faz distinção clara entre o que é 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
41 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 14. 
42 BARTON, G. A. Critical and Exegetical Commentary on the Book of Ecclesiastes. New York: Charles 
Scribner’s Sons, 1908, p. 58, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 28. Tradução do autor da pesquisa. 
43 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 15. 
44 Idem. 
45 Idem. 
46 LOHFINK, N. Kohelet. Stuttgart: 1980, p. 12. in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, 1999. Op. cit. p.17. 
47 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 19. 
25	
  	
  
Deus e o que é criação, vindo daí uma importante divisão no desenvolvimento das suas 
reflexões: o Criador não se pode perscrutar, fica além da realidade; já todo o resto, que 
está debaixo do sol, pode e deve ser investigado.48 
A investigação é realizada no livro de Eclesiastes a partir do próprio autor. Nas 
palavras de Bartholomew, “a epistemologia de Qohélet é baseada na observação, 
experiência e razão apenas.”49 A obra é repleta de suas conclusões, fruto de suas 
observações da realidade a respeito da atividade humana: “o ir e vir, o afazamar-se da 
gente, o mundo dos negócios com suas perdas e ganhos, a vida dos concidadãos, ou seja, 
a ordem social ou, antes, a desordem.”50 
Causa escândalo porque é crítico em suas observações e extremamente sincero em 
suas conclusões: percebe que o bem não acontece somente aos obedientes e fiéis a Deus, 
tampouco o mal está apenas na vida dos ímpios. Nas suas palavras, “há justos a quem 
sucede segundo as obras dos ímpios e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos 
justos” (Ec 8.14). Esse é um traço importante do livro. Vílchez Líndez resume: 
 
 
Pode-se afirmar que a constatação repetida dessa contradição é o 
principal fundamento que tem Qohélet de sua visão crítica da realidade 
e, conseqüentemente, da crítica implacável que faz ao que se ensinou 
tradicionalmente; para ele não existem tabus de qualquer espécie. Se 
Qohélet foi capaz de confrontar-se com o ensino tradicional em coisas 
tão graves como na negação de qualquer retribuição, na 
impossibilidade de conhecer os sentimentos de Deus para com o 
homem, já podemos imaginar que não existe nada, por muito certo que 
pareça, que não negue ou ponha em dúvida Qohélet. Por isso repetirá 
uma e outra vez: “Tudo é vaidade”, porque nada tem consistência, tudo 
desvanece como a fumaça e o vento. 51 
 
Assim, Qohélet é um autor que não receia proferir afirmações revolucionárias e 
mostra espírito crítico, de tal forma que rompe com a ordem religiosa vigente. Suas 
conclusões são inovadoras e realistas, por isso, dignas de análise. Nas palavras de48 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 19. 
49 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 87. 
50 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 20. 
51 Ibidem. p. 21. 
26	
  	
  
Bonora, “Qohélet é mestre em desmascarar e desnudar, em pôr a descoberto e fazer vir à 
luz tudo o que tentam os homens esconder, embelezar e mascarar.”52 
Apesar disso, algumas críticas são possíveis, tais como as contradições entre 
diferentes observações no livro. Por exemplo, a visão positiva que se tem da morte no 
trecho Ec 7.2-4 e negativa, presente em Ec 9.4-5. Em relação ao trabalho, ora é visto 
positivamente (Ec 5.19), ora negativamente (Ec 2.18-23). Já sobre a sabedoria, ao mesmo 
tempo, buscá-la é vaidade (Ec 1.17-18), mas ela é excelente (Ec 2.13-14). Quanto à 
retribuição, afirma que tudo sucede ao ímpio e justo (Ec 8.14), mas em outros versos 
afirma que o bem acontece aos tementes, tendo o ímpio seus dias reduzidos (8.12-13). 
Essas contradições não necessariamente apontam para múltiplas autorias. 53 
Segundo Vílchez Líndez, são fruto da observação de um mundo contraditório. Seu 
pensamento é lógico, mas não no sentido contemporâneo. 
 
 
O modo de pensar de Qohélet é típico do âmbito semita, que, com 
certeza, também é lógico; mas à sua maneira: mais compreensivo, mais 
vital, com mais alusões, menos definido. Qohélet enfrenta a realidade e 
quer refletir sobre ela tal como a vê. A vida está cheia de contradições; 
o sábio não deve fechar os olhos ao que o rodeia e menos Qohélet que 
observa tudo. Ele deixou gravado em seu livro o que viveu, se bem que 
fragmentariamente.54 
 
Além dessa crítica que se faz a Qohélet, pode-se dizer que é pessimista e cético. 
Em relação à ambas afirmações, explicar-se-á considerando as influências sobre o autor. 
Qohélet, mesmo sendo judeu, escreve influenciado por ideias gregas, egípcias e 
mesopotâmicas o que traz o tom cético e pessimista original de sua obra. Essa é a 
principal diferença do livro de Eclesiastes e a sabedoria tradicional de Israel, otimista, o 
que aponta também para uma escrita tardia da obra.55 
Entretanto, afirmar que Qohélet é apenas pessimista é negar parte da sua obra em 
que convida seus leitores ao desfrute e ao contentamento, partes importantes como será 
apresentado nessa pesquisa. Dessa forma, alguns autores como Vílchez Líndez, N. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
52 BONORA, A. Qohelet: La gioia e la fatica di vivere. Brescia: 1987, p. 150, in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, 
Paulus, 1999. Op. cit. p. 31. 
53 CRENSHAW, 1987. Op. cit. p. 21. 
54 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 29. 
55 Ibidem. p.27. 
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Lohfink e A. Bonora preferem outros termos, como “otimismo relativo”56, “melancolia 
suave”57 e “sabedoria”58, respectivamente. 
 
3.2 TEMAS 
 
As leituras menos literais do texto de Eclesiastes foram as principais responsáveis 
pela entrada desse livro no cânon por ver na argumentação do autor uma valorização da 
vida temente a Deus em oposição à vida vã longe da divindade. Dessa forma, “o temor do 
Senhor constitui verdadeira felicidade em contraste com a riqueza, pois apenas em justiça 
essa vida pode ser verdadeiramente desfrutada.”59 São Jerônimo, como Orígenes na 
Patrística, liga o texto a Salomão e, por fim, a Cristo.60 
Shields afirma que o temor do Senhor é o tema principal do texto de Eclesiastes, e 
o epilogo o ápice da obra. Além disso, ressalta que essa parte se diferencia do restante, 
por apresentar um Deus que se revela por meio de suas Leis, diferente da divindade 
apresentada em outras partes da obra, isto é, mais distante e não relacional.61 
Bartholomew, na tentativa de responder a aparentes contradições na obra do 
Qohélet, sugere que a conciliação da antiga sabedoria judaica com o raciocínio grego 
gera afirmações aparentemente contraditórias e deixa lacunas ao longo da obra para que o 
leitor as preencha.62 O epílogo é, então, a parte considerada mais importante ao fornecer 
solução para preencher as lacunas: o temor do Senhor. O temor, por sua vez, é a chave 
para se manter uma perspectiva positiva a respeito da vida junto com seu desfrute. 
 
3.2.1 DESFRUTE 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
56 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 29. 
57 LOHFINK, N. Valores actuates del Antiguo Testamento. Florida: 1966, p. 39, in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, 
Paulus, 1999. Op. cit. p. 29. 
58 BONORA, 1987. Op. cit. p. 129, in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 29. 
59 THAUMATURGUS, Gregory. A Metaphrase of the Book of Ecclesiastes. Ante-Nicene Fathers. Vol. 6 of 
Ante-Nicene Fathers. 10 vols. Christian Classics Ethereal Library. Edited by Philip Schaff. Grand Rapids: 
Eerdmans, 1972, p 19-20, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 11. 
60 LEVICHEVA. Op. cit. p. 11. 
61 SHIELDS, Martin A. The End of Wisdom: A Reappraisal of the Historical and Canonical Function of 
Ecclesiastes. Winona Lake: Eisenbrauns, 2006, p. 95-100, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 12. 
62 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 58. 
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Aproveitar os bons momentos da vida é um conselho constante no livro de 
Eclesiastes. São, ao todo, sete recomendações à alegria ao longo da obra do Qohélet que 
marcam sua mensagem (Ec 2.24–26, 3.10–15, 3.22b, 5.18–20, 8.14–15, 9.7–10 e 11.7–
12.1). Tais recomendações são vistas como importantes diante de uma vida cheia de 
contradições, mas não se deve extrapolar essa ideia, atribuindo ao desfrute a possibilidade 
de se transcender as incongruências da existência. Comer, beber e se alegrar não 
resolvem os problemas levantados por Qohélet ao longo do seu texto. 
Lohfink afirma que, segundo o Qohélet, a alegria é o supremo bem que Deus deu 
para a humanidade.63 Dessa forma, quando as pessoas têm momentos de felicidade, elas 
sobrepujam o medo da morte. O livro de Eclesiastes, é, então, uma apologia à felicidade, 
possível devido à revelação e às benções de Deus. 
Nessa perspectiva, a alegria e o temor do Senhor andariam lado a lado. Qohélet 
entende a realidade de forma polarizada, Deus no céu com controle de sua criação e o 
homem na terra. No relacionamento entre ambos, resta a esse apenas o temor daquele, ou 
seja, um entendimento do seu papel nesse contato e a compreensão de que do Criador 
procedem os dias bons e os dias maus. Sendo assim, o desfrute da vida não é hedonista, 
mas um reconhecimento de que os momentos de alegria devem ser aproveitados e os 
momentos de tragédia devem ser considerados, tudo diante de Deus.64 
 
3.2.2 CONTENTAMENTO 
 
O contentamento é um tema ainda mais importante do livro de Eclesiastes que o 
desfrute, já que não se desfruta dos dias maus, antes se contenta com essa realidade, 
confiando na providência divina e que tudo passará, pois, como diz o livro de Eclesiastes, 
“[há] tempo de chorar e tempo de rir” (Ec 3.4). 
Apesar da palavra “contentamento” não estar no texto de Eclesiastes, Qohélet 
traz, no hebraico, “ ִיְּתרוֹ֙ן”, traduzido como proveito ou vantagem, (Ec 3.9, 5.16, 6.8 e 6.11) 
em conjunto com “ ְל ִ֖ק ֶח”, proveito, porção ou quinhão (Ec 2.10, 2.21, 3.22, 5.18-19, 9.6, 
9.9). Os dois conceitos mostram que o verdadeiro desfrute na vida só virá com a63 LOHFINK, Norbert. Qoheleth. A Continental Commentary. Translated by Sean McEvenue. Minneapolis: 
Fortress Press, 2003, p. 84-85, in: LEVICHEVA. Op. cit. p.21. 
64 LEVICHEVA. Op. cit. p. 22. 
29	
  	
  
aceitação do que é concedido por Deus, para conduzir ao contentamento. Além dessas 
palavras, usa outras como “comer”, “beber”, “fartar-se”, para mostrar que esse 
contentamento se beneficia dos pequenos prazeres proporcionados na existência.65 
O contentamento se deve principalmente à fé que Qohélet tem em um Deus que 
julgará com bondade e justiça, o que é comum para um sábio hebreu.66 Por mais que a 
vida seja cheia de contradições e problemas, tais como a vaidade e a morte, futuramente 
discutidas nesse trabalho, há ainda a alegria dos dias bons e o contentamento com o fim 
dos dias maus, seja pela morte e posterior julgamento de um Deus justo, seja pelo passar 
do tempo. 
 
3.2.3 VAIDADE 
 
Possivelmente o tema mais comum do livro de Eclesiastes seja a vaidade. A 
palavra “ ֶ֖הֶבל” – hebel, comumente traduzida por “vaidade”, está presente em onze dos 
doze capítulos do livro de Eclesiastes, sendo determinante para os temas principais do 
livro. Além disso, a mesma palavra também pode ser traduzida por “vapor”, reforçando a 
ideia de efemeridade da existência. 
Lee sugere que “ ֶ֖הֶבל” é uma palavra temática que mantem a coesão da obra do 
Qohélet, entrelaçando seus temas. Trata-se de algo incompreensível, incluindo tanto o 
que há de bom como o que há de ruim na vida.67 Diferente de Lee, Murphy vê na vaidade 
apenas algo de negativo, aquilo que gera a absurdidade e inutilidade da vida e do 
mundo.68 
A vaidade é a geradora da crise exposta por Qohélet. Se tudo é vaidade, não há 
nada de útil e a vida é vã. Entretanto, todas as considerações sobre a futilidade da 
existência acompanham uma exortação à alegria. São elas: Ec 2.14–22 e Ec 2.24–26; Ec 
3.1–11 e Ec 3.12–13; Ec 3.18–21 e Ec 3.22; Ec 5.13–17e Ec 5.18–20; Ec 8.10–14 e Ec 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
65 LEVICHEVA. Op. cit. p. 46. 
66 Ibidem. p. 24. 
67 LEE, Eunny P. The Vitality of Enjoyment in Qoheleth’s Theological Rhetoric. Beihefter zur Zeitschrift 
für die alttestamentliche Wissenschaft 353. Berlin: Walter de Gruyter, 2005, p. 80, in: LEVICHEVA, Op. 
cit. p. 23. 
68 MURPHY, Roland E. Ecclesiastes. Word Biblical Commentary 23A. Dallas: Word, 1992, in: 
LEVICHEVA. Op. cit. p. 17. 
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8.15; Ec 9.1–6 e Ec 9.7–10; Ec 11.7–8 e Ec 11.9–10. Nessa perspectiva, argumenta 
Levicheva, não é a vaidade o tema principal do livro, mas o contentamento.69 As opiniões 
entre os teólogos, como já foram mencionadas, variam quanto ao tema principal. Mesmo 
que a vaidade não se sobressaia dessa forma, ainda assim é um tópico central que 
percorre o livro e influencia as demais observações de Qohélet acerca da existência. 
 
3.2.4 MORTE 
 
As afirmações acerca da certeza da morte geram no texto de Eclesiastes a imagem 
da vida que inevitavelmente avança para seu fim. Nesse ponto há consenso. Entretanto, 
falta concordância quanto à consequência desse fato atestado pelo Qohélet. Crenshaw 
alega que a morte anula o sentido da vida e rouba dela suas conquistas e fama.70 
Shields vai além, ao afirmar que a vida se torna absurda e dolorosa ao considerar 
a morte e a negligência divina em relação à injustiça.71 Por outro lado, ambos autores 
deixam passar a forte ênfase do livro no desfrute da vida, da comida, da bebida e do 
salário. Os pensamentos sobre morte sempre são acompanhados de exortações à alegria, 
como já foi apresentado anteriormente. 
 Murphy afirma que o livro de Eclesiastes analisa a morte diferentemente do 
restante do Antigo Testamento. Para o autor, Qohélet defende apenas que não há 
memória dos mortos (Ec 1.11), a morte é preferível à vida (Ec 4.2) e nela todos são 
nivelados, sábios e tolos (Ec 2:16). Não há ênfase nas retribuições divinas, mas apenas 
num julgamento, sendo esse assunto somente tangenciado por Qohélet. 72 
O discurso aberto de Eclesiastes sobre a morte não procura solucionar o problema 
do fim da vida, mas conduzir seu leitor a aceitar essa realidade para dela tirar lições 
enquanto vivo, tornando-se sábio, ou, como afirma seu texto, “melhor é ir à casa onde há 
luto [...], porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu 
coração.” (Ec 7.2). 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
69 LEVICHEVA. Op. cit. p. 19. 
70 CRENSHAW, James L. Ecclesiastes: A Commentary. The Old Testament Library. Philadelphia: 
Westminster Press, 1987, p. 25, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 5. 
71 SHIELDS, The End of Wisdom: A Reappraisal of the Historical and Canonical Function of the 
Ecclesiastes. Winona Lake: Eisenbrauns, 2006, p. 202-203. in: LEVICHEVA, Op. cit. p. 5. 
72 MURPHY. Op. cit. p. 67-68, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 6. 
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 Fredericks aponta que o fim é “uma consideração necessária na contemplação da 
vida. Essa não pode ser entendida à parte de um pensamento sóbrio sobre a morte. 
Aquele que leva a sério a vida vai frequentemente refletir sobre a certeza do fim.”73 O 
autor afirma que o sábio é aquele que sabe lidar com a morte e ainda assim aproveita os 
simples prazeres da vida, ou seja, reconhece a transitoriedade da vida e, em meio a ela, 
acha satisfação. Nessa perspectiva, só resta ao homem a aceitação da morte e o 
contentamento nos pequenos prazeres que a existência proporciona. Ao sábio é atribuída 
uma completa aceitação do fim, o que o leva a abraçar cada oportunidade de 
contentamento na vida que ainda resta.74 Os temas principais como vaidade, morte e 
contentamento serão mais minuciosamente analisados adiante na pesquisa. 
 
3.3 INFLUÊNCIAS 
 
O livro de Eclesiastes é um livro de sabedoria, ou seja, está aberto às mais 
variadas influências. Por isso, é difícil definir apenas uma vertente específica de 
pensamento que deixe sua marca em Qohélet, mas pode-se ver uma compilação de 
diferentes características das mais variadas culturas, entre elas, grega, egípcia e 
mesopotâmica75, sem, contudo, deixar sua identidade judaica. 
Há consenso entre estudiosos em relação ao uso da “persona real”, comum de 
autobiografias reais, a fim de legitimar o discurso, entretanto não o há em relação às 
influências sobre Qohélet. Algumas possiblidades de influência são a filosofia helênica 
ou a literatura de sabedoria do Oriente Próximo. Elas não só apontam para uma autoria 
não salomônica, mas explicam o conteúdo em muitos aspectos originais do livro de 
Eclesiastes em relação ao restante do Antigo Testamento. Sua visão de mundo pessimista 
difere da visão otimista comum dos textos sapienciais e se distancia por não mostrar um 
relacionamento com Deus, aspecto comum nos textos dos santos do Antigo Testamento. 
A influência helênica é defendida por aqueles que veem uma descontinuidade na 
teologia e no estilo literário de Eclesiastes com o restante do Antigo Testamento. Ranston 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
73 FREDERICKS, Daniel C. Coping with Transience: Ecclesiastes on Brevity of Life. TheBiblical Seminar 
18. Sheffield: JSOT Press, 1993, p. 33-34, in: LEVICHEVA. Op. cit. p. 9. Tradução do autor da pesquisa. 
74 LEVICHEVA. Op. cit. p. 10. 
75 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 38. 
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afirma que Qohélet é um “pensador isolado” sem o “espírito hebreu nativo”.76 Crenshaw 
defende uma similaridade dos ensinos de Qohélet com filósofos helênicos populares77 os 
quais, desde o tempo de Homero, “exibem uma luta individualista por sabedoria e um 
significado para a vida a qual é marcada por desapontamentos e desilusões.”78 O mesmo 
faz Fox, afirmando que o foco em experiências individuais é a principal semelhança.79 Já 
Alter e Kernode defendem uma influência do helenismo do séc. III a.C. pela crença na 
imortalidade da alma (Ec 3.21) e semelhanças com formas literárias gregas.80 
Entretanto, há diferenças em relação a textos helênicos. A principal delas está no 
gênero do texto de Eclesiastes. A autobiografia real não era comum nos escritos gregos, 
mas naqueles do Oriente Próximo. Outra aproximação de Qohélet com o Oriente 
Próximo está nos temas desenvolvidos e não seria a primeira vez que um texto 
veterotestamentário se aproximaria de outros daquela região, sendo os exemplos mais 
claros os livros de Jó e Provérbios. 
Outra importante influência no caso da obra de Qohélet é a egípcia. Isso fica claro 
com a “persona real”, referências diretas à obra de Salomão para criar no leitor de 
Eclesiastes confiança e respeito ao livro, legitimando suas conclusões, prática comum de 
textos egípcios. Temas como injustiças e morte eram comuns.81 Outra característica 
comum é o uso da 1ª pessoa no discurso e o diálogo com o leitor, chamando-o de 
“jovem” ou “meu filho”, o que acontece nos versos Ec 1.9 e Ec 12.12.82 Nas palavras de 
Crenshaw, “o Testamento egípcio real (instruções em nome do faraó) jaz por trás da 
seção na qual Qohélet relata suas conclusões a que chegou por meio de cuidadosa 
experimentação (1.12-2.26)”83 
 
3.4 DATAÇÃO E LUGAR DE COMPOSIÇÃO 
 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
76 RANSTON, H. Ecclesiastes and the Early Greek Wisdom Literature. London: Epworth, 1925, p. 11-12, 
in: LEVICHEVA. Op. cit. p.29. 
77 CRENSHAW, James L. Urgent Advice and Probing Questions: Collected Writings on Old Testament 
Wisdom. Macon: Mercer University Press, 1996, p. 23. 
78 LEVICHEVA. Op. cit. p. 29. Tradução do autor da pesquisa. 
79 FOX. Op. cit. p. 16. 
80 ALTER, Robert. & KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia. São Paulo: Unesp, 1997, p. 299. 
81 VÍLCHEZ LÍNDEZ, José. Sabedoria e sábios em Israel. São Paulo: Loyola, 1999, p. 19. 
82 LEVICHEVA. Op. cit. p. 33. 
83 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p. 21. 
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A datação do livro de Eclesiastes é feita de acordo com o que se defende em 
relação à autoria. Desconsiderando a autoria salomônica, passa-se a uma análise de 
características da obra que apontem para um período, já que uma data específica não é 
possível, tais como a língua e expressões usadas, as influências sobre o texto ou a 
teologia que defende. 
O hebraico de Qohélet está próximo daquele usado na Mishná84, finalizada em 
“meados do ano 219 d.C.”85, portanto mais tardio. Não há consenso entre estudiosos se 
ambos seriam contemporâneos ou se o livro de Eclesiastes seria anterior, uma etapa 
intermediária entre o hebraico clássico e o da Mishná, mas sem dúvida estaria mais 
próximo do segundo que do primeiro.86 De modo semelhante, Antonio Bonora afirma que 
Qohélet não escreve em hebraico clássico, já que os aspectos gramaticais são mais 
parecidos com a linguagem rabínica da Mishná87. 
Vílchez Líndez explica que, na época pós-exílica, a partir do séc VI a.C., houve 
uma influência de povos que estavam próximos da Judéia sobre a língua, costumes e 
cultura do povo de Israel que não foi levado ao Exílio88. Como diz o livro de Neemias, 
“vi também naqueles dias judeus que tinham casado com mulheres asdoditas, amonitas e 
moabitas e seus filhos falavam no meio asdodita e não podiam falar judaico, senão 
segundo a língua de seu povo.” (Ne 13.23-24). 
Portanto os que foram ao Exílio falavam um hebraico mais puro que aqueles que 
ficaram na Judéia, o que trouxe uma separação do hebraico falado e daquele que seria 
usado na escrita dos livros pós-exílicos. Assim, conclui Vilchez Líndez que “em Qohélet 
temos, pois, esplêndido exemplo do hebraico popular falado em fins do século III e 
começos do século II a.C.”89 Dessa forma, a escrita do livro teria se dado ao final do 
terceiro século e início do segundo.90 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
84 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 46. 
85 FRIZZO, Antonio C. Deuteronômio e Mishná: tradições que se unem na defesa dos pobres. Atualidade 
Teológica, Rio de Janeiro, p. 423. 
86 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 62. 
87 BONORA, Antonio. Guía espiritual da del Antiguo Testamento: El libro de Qohélet. Barcelona: 
Editorial Herder, 1994, p. 14. 
88 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 68. 
89 Ibidem. p. 69. 
90 LEVICHEVA. Op. cit. p. 30. 
34	
  	
  
Em relação ao lugar de composição, Vílchez Líndez defende a Palestina, mais 
especificamente, Jerusalém.91 Alguns autores defenderam um lugar fora da Palestina, 
entretanto, sem sucesso. São eles C. H. Gordon, que defende a Babilônia e M. Dahood, a 
fenícia. A proposta de escrita do livro de Eclesiastes no Egito tem alguns adeptos, mas a 
maioria dos autores prefere a Palestina.92 Conclui R. Gordis que “todos os indícios 
demonstram que Qohélet foi escrito por um sábio judeu, que viveu em Jerusalém.”93 
 
3.5 COMPOSIÇÃO E PROBLEMAS REDACIONAIS 
 
 Não há dúvida de que o livro de Eclesiastes é uma obra complexa. Tanto a nível 
de conteúdo quanto a nível de composição. O gênero da obra também causa divergências. 
Nas palavras de Crenshaw, “Qohélet buscou seriamente combinar verdade e arte literária. 
Se o resultado confundiu seus contemporâneos, tanto mais em dúvida devem estar os 
intérpretes modernos. Há dificuldade para se determinar com precisão a forma do livro, 
se uma coleção de sentenças, um tratado ou até mesmo um diário.”94 Como já foi 
apresentado, o texto do livro de Eclesiastes exibe um hebraico mais desenvolvido, o que 
aponta para uma escrita mais tardia, e mais de um autor: Qohélet e o epilogista, no 
mínimo.95 
A tradição, entretanto, considerou o livro de Eclesiastes como obra de um autor 
só. Mesmo não havendo unanimidade em relação a Salomão como autor, havia em 
relação ao número de escritores: um só. Apenas em 1898, D.C. Siegfried questionou essa 
teoria usando métodos modernos de análises de textos, como a crítica das fontes (inserir 
nota de rodapé explicativa?), e analisando as contradições do livro, afirma que ao todo 
seriam nove escritores: cinco autores, dois redatores e dois epilogistas.96 Outras teorias 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
91 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 73. 
92 Idem. 
93 GORDIS, R. Qohelet and Qumran - A Study of Style. Bib 41, 1960, p. 410, in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, 
Paulus, 1999. Op. cit. p. 74. 
94 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p.21. Tradução do autor dapesquisa. 
95 BARTHOLOMEW. Op. cit. p. 40 
96 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 41. 
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apontam para três autores, como a de G. A. Barton, no séc. XX: Qohélet, um editor-sábio 
e um autor piedoso.97 
Apesar dos esforços de diversos estudiosos em defender uma autoria plural, essa 
teoria foi perdendo força até ser deixada de lado a partir da década de 20. Mais 
recentemente, tem-se defendido uma posição que aponta para uma unidade fundamental. 
Abandona-se os extremos de, num lado, diversos autores e, no outro, apenas um 
responsável pela totalidade do texto. 
A unidade fundamental é defendida por Vílchez Líndez e Crenshaw. Entretanto, 
Crenshaw afirma que algumas adições foram necessárias devido ao impacto da 
mensagem de Qohélet sobre a retribuição divina. O principal exemplo está no epílogo (Ec 
12. 9-14), em que o epilogista tenta resumir os ensinos da obra, mas deixa escapar a 
mensagem realista e até mesmo um pouco cínica do autor.98 O epilogista se esforça para 
adicionar sutilmente uma ideia de retribuição divina nos versos 13 e 14 do último 
capítulo, que não está presente no restante do livro, a fim de substituir o ensinamento de 
Qohélet. 
Por outro lado, Vílchez Líndez defende três divisões: título (Ec 1.1), corpo (Ec 
1.2-12.8) e epílogo (Ec 12.9-14) e sustenta, no mínimo, dois autores. Ainda segundo o 
autor, exegetas modernos preferem não se multiplicar o número de contribuintes à obra 
desnecessariamente. Para isso, explica-se as contradições presentes no livro de 
Eclesiastes com o “método das citações implícitas, que umas vezes [as] aceita e outras 
[as] rejeita.”99 Há também a posição de Alter e Kermode que sustentam três autores.100 
Mesmo com problemas redacionais, Crenshaw defende uma unidade temática no 
livro de Eclesiastes. Para o autor americano, a vaidade mantém a unidade, ao designar o 
vazio e a fugacidade em tudo.101 É essa a conclusão a que chega o sábio com suas 
observações e que toca todas as demais análises: a vaidade influencia o olhar sobre o 
trabalho, sobre a sabedoria, sobre a família, poder e os demais assuntos da obra. Outro 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
97 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 41. 
98 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p.22. 
99 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 44. 
100 ALTER & KERMODE. Op. cit. 300. 
101 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p.23. 
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tema que unifica o livro é o limite do conhecimento humano102. Como já foi explicitado, 
Qohélet separa tudo aquilo que está debaixo do sol e o criador que está acima. Cabe ao 
homem analisar o primeiro e não o segundo. São comuns as afirmações no livro de 
Eclesiastes que limitam ou rebaixam o conhecimento humano (Ec 1.13, 1.17-18, 2.15, 
2.21, 3.11, 6.8 e 9.15). 
Por fim, Crenshaw afirma que mais um tema mantém a unidade do livro: a morte. 
Segundo o autor, todo o livro está sob uma atmosfera de luto. Nas suas palavras, “esse 
humor opressivo surgiu da consciência de que a morte cancela todos os supostos ganhos 
debaixo do céu.”103 Essa crise será mais detalhadamente explicitada adiante na pesquisa. 
 
3.6 TEOLOGIAS 
 
 A teologia de Qohélet é fruto de suas observações. A partir de suas análises, como 
sábio, apresenta conclusões a respeito da vida, do poder, das riquezas, do status social, 
dos filhos, de Deus. Todos esses aspectos da vida humana são observados sob uma ótica 
aparentemente negativa em relação à existência, extremamente realista e crítica. O livro 
de Eclesiastes é, então, de extrema relevância pela contemporaneidade de sua mensagem, 
até mesmo para aqueles que não concordam com a fé cristã. 
Mesmo que o homem do presente momento não se identifique com a mensagem 
metafísica e sobrenatural bíblica, pode achar em Qohélet um mestre a ser seguido. Nas 
palavras de Lohfink: 
 
 
Para muitos modernos agnósticos constitui [Qohélet] a última ponte para a 
Bíblia; para muitos cristãos de hoje, constitui a infame e querida porta traseira, 
através da qual podem deixar entrar em sua consciência sentimentos cético-
melancólicos que não poderiam entrar pela porta principal, em cujo rótulo 
lemos: prêmio à virtude e fé no além.104 
 
 Mesmo tendo sido sua escrita realizada há vários séculos, o livro de Eclesiastes 
apresenta questionamentos próprios do tempo presente. É discutível se as respostas ainda 
são válidas, mas isso não diminui a preciosidade da obra. Além disso, Qohélet apresenta 	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
102 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p.23. 
103 CRENSHAW, 1996. Op. cit. p.23. Tradução do autor da pesquisa. 
104 LOHFINK, 1980. Op. cit. p. 5. in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 38. 
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um espírito crítico que assemelha-se ao que seria o método moderno de produção de 
conhecimento. Bernhard Lang afirma: 
 
 
Qohélet é o antídoto de todas as teorias que evadem da vida. Ele é o antípoda 
de uma teologia sem propriedades, dogmaticamente correta, sem sujeito; é o 
advogado da empiria, do “eu o vi”; é crítico impiedoso e grande realista, 
alguém que não dissimula o reverso das coisas, mas chama- as por seu nome. 
Ele descreve a infelicidade humana, o desamparo, o ser-para-a-morte e o ser 
lançado no mundo, antecipando-se a uma filosofia e literatura posteriores tão 
acertadamente, que nos reconhecemos a nós e nosso tempo em Qohélet105 
 
Qohélet, a partir de suas observações, dispõe-se a procurar em cada aspecto da 
vida, citados acima, um sentido, apesar de não achar um que seja satisfatório. Depara-se 
com uma vida complexa e cheia de contradições, cuja característica mais sobressalente é 
a efemeridade que tira a validade das conquistas e vitórias humanas. Por isso, afirma 
Vílchez Líndez, “Impõe-se, portanto, o espírito absolutamente crítico de Qohélet. Tudo, 
absolutamente tudo o que o homem tem a seu alcance, tudo o que está e sucede sob o sol 
é vazio, fumaça, vaidade, e andar atrás disso é ir à caça do vento.”106 
 Nessa mesma perspectiva, Crenshaw afirma que “talvez a palavra mais apropriada 
para caracterizar o pensamento de Qohélet seja ‘crise’.”107 O objetivo dessa pesquisa é 
demonstrar que a crise gerada pela vaidade tem como causa primeira a morte, já que é 
essa que coloca em xeque todos os demais aspectos da vida. O poder, as riquezas, o status 
social, os filhos, tudo está debaixo da sombra da morte. Isso será mais detalhadamente 
explicado no capítulo seguinte. 
Qohélet falha na sua busca por um sentido para a vida porque, como percebe ao 
longo da sua análise e registra em sua obra, o homem é incapaz de compreender os 
desígnios de Deus que regem a vida humana108, em outras palavras, não sabe como viver 
diante da perspectiva do fim da própria existência, apenas conhecido pelo Criador. Como 
afirma, “então contemplei toda a obra de Deus, e vi que o homem não pode compreender 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
105 LANG, B. Ist der Mensch hilflos? Zum Buch Kohelet. Zurich, 1979, p. 122. in: VÍLCHEZ LÍNDEZ, 
Paulus, 1999. Op. cit. p. 35. 
106 VÍLCHEZ LÍNDEZ, Paulus, 1999. Op. cit. p. 22. 
107 CRENSHAW, 1996. Op cit. p. 24.

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