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1 Histórico da Antropologia As origens da antropologia como disciplina moderna estão no século XIX. A ciência surge no contexto das produções do Iluminismo e da Revolução Industrial europeus. É também a época da “partilha” das colônias conquistadas pela Europa, especialmente na África e na Oceania, e a antropologia surge como uma ferramenta para entender a diversidade de culturas. Estudos de Religião, das estruturas de parentesco, e longas incursões de campo junto a povos primitivos, são os universos nos quais gira essa nova ciência em seus primórdios. Não obstante esse registro acadêmico moderno, o procedimento “antropológico” de análise das culturas e da humanidade já estava presente na humanidade muito antes. Cite-se como exemplo o procedimento de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo grego se relacionava. Ou então Bartolomeu de Las Casas e sua descoberta do índio como o Outro, sujeito de direitos, relativizando o jogo europeu civilizado versus índio selvagem no processo da conquista da América. O Evolucionismo foi a primeira escola moderna de antropologia. Empenha-se em mostrar as etapas do desenvolvimento da humanidade. Tem como grande inspiração as teorias evolucionistas de Charles Darwin, associando a civilização ao progresso. Assim como os organismos vivos, também as sociedades estariam sujeitas à evolução intelectual e cultural do mais simples ao mais complexo. H. L. Morgan chegou a formular três estágios de desenvolvimento das culturas: selvageria, barbárie e civilização. Em James Frazer esse evolucionismo pode ser percebido na diferenciação entre magia, religião e ciência – classificação que perdura até hoje na linguagem acadêmica mais desatualizada! Um bom exemplo (equívoco, melhor dizendo) contemporâneo da escola evolucionista são as ideias que defendiam o Apartheid na África do Sul. Outro exemplo é uma espécie de antropologia popular do senso comum que cataloga etnias e povos entre atrasados e evoluídos no Brasil. Já a Escola Estruturalista da antropologia investiga a sociedade em termos de sistema ou estrutura. Essas estruturas sociais podem ser conscientes, materiais, mas também inconscientes, subjetivas. Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, a estrutura social não é imediatamente observável, porque se encontra no substrato da vida real – não exatamente no fato, mas o que está por trás dele. Segundo o antropólogo francês, “para alcançar o real é preciso primeiro repudiar o vivido”. Só assim, analisando as estruturas sociais (do parentesco ou da religião, por exemplo), é que se pode proteger das filosofias e ideologias interpretativas dos fenômenos. A antropologia precisa deixar a estrutura social “falar”. Quanto mais nítida é a estrutura aparente, mais difícil se torna captar a estrutura profunda, por causa dos modelos conscientes deformados que se interpõem entre o observador e o objeto. Na antropologia do século XX, destaque para o norte-americano Clifford Geertz, que inaugurou a escola denominada Antropologia Interpretativa, e pode ser considerado o antropólogo mais influente depois de Strauss. Sua obra de referência é “A interpretação das culturas”, texto que faz espécie de “fotos” antropológicas de 2 sociedades arcaicas e modernas. Geertz busca fazer a leitura da sociedade tomando os eventos como “textos” sociais. A tarefa antropológica seria justamente interpretar esses textos sociais, com estudo/leitura dos eventos cheios de significados – um trabalho de decodificação. O antropólogo tem a tarefa de interpretar situações que viveu para contá-las, em textos, para aquelas que não passaram pelas mesmas experiências. Suicídio e integração social Uma questão de enorme interesse para a Sociologia e para a Antropologia é o suicídio. Inúmeros estudos contemporâneos sobre o suicídio focavam em características individuais. Durkheim estudou as conexões entre os indivíduos e a sociedade. Vimos na aula anterior como as sociedades se mantém a partir da coesão social entre os indivíduos. Ele acreditava poder demonstrar o quanto um ato individual é o resultado do meio social que o cerca. Segundo a definição durkheimiana, suicídio é "todo caso de morte provocado direta ou indiretamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado". O suicídio, portanto, é um ato intencional na qual a vítima age com objetivo de provocar sua própria morte. Aparentemente, o suicídio tem todos os atributos de um ato individual, entretanto, Durkheim demonstra que se trata de um fenômeno social. O autor constrói um esquema de análise com base em dados estatísticos sobre a sociedade francesa (que ele denomina de "taxa social de suicídio") e que mede "a relação entre o número global de mortes voluntárias e a população de qualquer idade e de ambos os sexos". De acordo com Durkheim, os indivíduos têm certo nível de coesão (laços sociais) com os seus grupos, o que ele chama de integração social. Níveis anormalmente baixos ou altos de integração social poderiam resultar num aumento das taxas de suicídio: níveis baixos porque baixa integração social resulta numa sociedade desorganizada, levando os indivíduos a se voltar para o suicídio como uma última alternativa; níveis altos porque as pessoas preferem destruir a si próprias do que viver sob grande controle da sociedade. Taxas de suicídio Durkheim concluiu que: taxas de suicídio são maiores entre os solteiros, viúvos e divorciados do que entre os casados; na maioria das vezes, o indivíduo portador da "ideia do suicídio" quase sempre não sobrevive. São maiores entre pessoas que não tem filhos; são maiores entre protestantes do que entre católicos e judeus. As razões para estas diferenças entre as taxas de suicídio incluem: mais importante, a interpretação da morte. Devido a pequenas diferenças entre protestantes e católicos — especificamente porque o suicídio é um pecado mortal entre os católicos e protestantes ;, um suicida numa comunidade católica (mesmo esclarecendo os motivos numa nota de suicídio) é visto primariamente como um pecador; comunidades católicas tendem a ser um pouco mais integradas que as protestantes, com laços familiares mais próximos. Quebéc, no Canadá, é um dramático paradoxo a esta afirmação: a taxa de suicídio per capita entre os oficialmente católicos é alarmante, principalmente entre os jovens, e é atribuída à rápida decadência da prática religiosa comunitária. De forma similar, pessoas casadas e/ou com filhos são menos propensas a cometer suicídio. Elas simplesmente têm mais motivos para viver. 3 Sem dúvida alguma quando Durkheim constatou números de fato de suicídio entre católicos e protestantes se baseou nas estatísticas da época, o que hoje foge completamente da realidade e entra no contraditório tanto pelos percentuais, como por novas estatísticas; o que nos faz refletir um pouco acerca do seu conceito. Durkheim desenvolveu o conceito de anomia ao explorar as diferentes taxas de suicídio entre protestantes e católicos, explicando que o forte controle social entre os católicos resulta em menores índices de suicídio, ao menos para a época em que desenvolveu suas pesquisas. De acordo com Durkheim, o meio social católico tem níveis de integração sociais normais, enquanto o meio protestante tem níveis baixos. Durkheim então definiu o suicídio como o ato de muitas relações sociais e concluiu que o suicídio pode ser causado por vínculos sociais fracos. Durkheim acreditava que o vínculo social era composto de dois fatores: a integração social (ligação a outros indivíduos dentro da sociedade) e a regulação social (ligação com as normas da sociedade). Ele acreditava também que taxas de suicídio podem aumentar em extremos de ambos os fatores. Tipos de suicídio:Suicídio egoísta - O egoísmo é um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na sociedade são fracos. Uma vez que o indivíduo está fracamente ligado à sociedade, terminar sua vida terá pouco impacto no resto da sociedade. Em outras palavras, existem poucos laços sociais para impedir que o indivíduo se mate. Esta foi a causa vista por Durkheim entre divorciados. Em outras palavras, o indivíduo se mata para parar de sofrer, como por exemplo o fim de um relacionamento com outro indivíduo. Suicídio altruísta - O altruísmo quando outro individuo vê outra pessoa morrendo. Isto pode ocorrer de duas formas diferentes: onde indivíduos se veem sem importância ou oprimidos pela sociedade e preferem cometer suicídio. Ele viu isto acontecer em sociedades "primitivas" ou "antigas", mas também em regimentos militares muito tradicionais, como guardas imperiais ou de elite, na sociedade contemporânea; e também onde indivíduos veem o mundo social sem importância e sacrificariam a si próprios por um grande ideal. Durkheim viu isto acontecer em religiões orientais, como o Sati no Hinduísmo. Alguns sociólogos contemporâneos têm usado esta análise para explicar os kamikazes e os homens- bomba. Suicídio anômico - A anomia é um estado onde existe uma fraca regulação social entre as normas da sociedade e o indivíduo, mais frequentemente trazidas por mudanças dramáticas nas circunstâncias econômicas e/ou sociais. Este tipo de suicídio acontece quando as normas sociais e leis que governam a sociedade não correspondem com os objetivos de vida do indivíduo. Uma vez que o indivíduo não se identifica com as normas da sociedade, o suicídio passa a ser uma alternativa de escapar. Durkheim viu esta explicação para os suicidas protestantes. Algumas fontes ainda relacionam o suicídio fatalista a Durkheim, porém em sua obra "O Suicídio", de 1897, ele cita apenas três. Mas também é quando uma pessoa é abandonada diante da sociedade sem a mínima condição de sobreviver. 4 Referências: ARON, Raymond – As etapas do pensamento Sociológico. 6ª ed. São Paulo: MARTINS FONTES, 2002. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo, Brasiliense, 1984. RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da educação. 5ª. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2007. COSTA, Maria Cristina C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005. http://www.cafecomsociologia.com/2010/12/durkheim.html
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