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LÉLIA GONZÁLEZ trabalhos turma 2017.1 (1)

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LÉLIA GONZÁLEZ: UM LEGADO PARA O FEMINISMO E O MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO
Alex
Alisson
AmiltonPinheiroMelo
Gabriel Dias 
Ildimilia Vieira Gama
Joanderson Felipe da Silva Lima 
Liliane Rodrigues de Azevedo
Nayane Raquel de Oliveira Silva
Sebastião Fábio Azevedo do Santos
Resumo: O presente artigo tem a finalidade de realizar um breve histórico sobre o início do feminismo no Brasil e suas conquistas, trazendo a mudança para a realidade das mulheres de diferentes épocas, relatando sobre a resistência do movimento negro contra o racismo e o mito da democracia racial. Uma dessas mudanças é a participação ativa da professora, intelectual, feminista, antropóloga e militante Lélia González. Tentaremos divulgar sua importante trajetória nessa luta e seu legado para os dias atuais. Somado a essas questões, o artigo trará como foco principal a ligação das disciplinas ministradas no curso da turma 2017 da Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Maranhão com a participação do feminismo de Lélia González. 
Palavras-chave: Feminismo; mulher negra; resistência; movimento 
Breve histórico do início do Feminismo no Brasil
Feminismo, no dicionário: ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres; na sua etimologia: Feminino: é a distinção natural, biológica e, no caso, de nós seres humanos, uma mulher (do latim muliere) é um ser humano adulto do sexo feminino. -ismo: de origem grega que exprime a ideia de fenômeno; geralmente está relacionada a uma atitude, a uma participação ativa. E para as mulheres, o que representa esta palavra e seu significado?
Os arquivos e a cultura material deixados pela História afirmam que o feminismo no Brasil surgiu no século XIX, sendo manifestações que desafiaram tal século, uma vez que a mulher era vista de maneira única, SERVIR, seja, para o lar com seus cuidados, para o homem como objeto e para a sociedade como aquela que sempre deveria “andar nos trilhos” e não tinha o direito de sua voz serouvida ou seus desejos serem respeitados. Na Constituição Republicana de 1821 havia uma medida que dava direito de voto para as mulheres, mas, em seguida, foi abolida pelo fato de acharem que a política era uma atividade desonrosa para as mulheres.
O primeiro passo dado para que o rumo da história fosse outro, foi a da mineira e feminista Mietta Santiago, escritora e advogada onde notou que a proibição ao voto feminino contrariava o Artigo 70 da Constituição da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, então em vigor. Dessa forma,Mietta Santiago deu seguimento ao processo e assim lhe permitiu que votasse em si mesma para um mandato de deputada federal. Apesar de não se eleger, foi uma grande conquista e o pontapé inicial para todas as mulheres. Foi a partir desse fato que o Partido Republicano do Rio Grande do Nortepôde candidatar Luiza Alzira Soriano Teixeira, sendo então, o registro da 1ª mulher eleita no Brasil.
História e legado de Lélia González
Lélia de Almeida nasceu em Belo Horizonte – MG. Filha de operário negro e doméstica indígena, Lélia foi a penúltima de dezoito irmãos. Quando ainda era criança, sua família se mudou para o Rio de Janeiro. Seria ali o começo de uma grande história. Já adulta, formou-se primeiramente em Ciências e Letras, nesse períodoo discurso pedagógico brasileiro e o sistema embranquecido fez com que ela negasse suas raízes e ancestralidade; em seguida formou-se em História e Filosofia. Ao cursar História, percebeu as contradiçõessociais e raciais e que suas verdadeiras raízes eram diferentes e traziam realidades desastrosas e foi então que sua vida e militância no feminismo iniciariam. Casou-se com o espanhol Luis Carlos, e foi aqui que Lélia teve a certeza para que veio. Enquanto namoravam, a família do seu namorado não fez pressão nenhuma, mas, foi a partir do casamento que as coisas começariam a mudar. Não aceitavam a ideia de ter como membro da família uma negra, devido a toda essa discriminação e situação em que ela e seu marido viviam, ele não suportou e veio a suicidar-se. A partir desse triste episódio, Lélia passou a usar o sobrenome González do seu marido como uma forma de homenagem e luta contra a discriminação ao negro e em especial à mulher negra.
Lélia González “bateu de frente” com a discriminação e quebrou paradigmas, onde diziam que no Brasil não existia racismo, uma vez em que as mulheres no período da escravidão ou em épocas seguintes e até atuais foram vítimas e traduziram isso como uma parte da miscigenação brasileira. Lélia foi fundadora do Movimento Negro Unificado – MNU; do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras do Rio de Janeiro – IPCN-RJ; do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras; do Olodum (Salvador). Participou da 1ª composição do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres – CNDM (1985-1989), no governo do presidente José Sarney. Também se dedicou como escritora, produzindo dois livros: “Festas Populares no Brasil” e “Lugar de Negro”, além de outros escritos e palestras atuando contra o racismo e outras formas de discriminação. Teve também importância nas universidades onde lecionou até seu falecimento aos 59 anos, em 1994,contribuindo assim para a formação acadêmica de muitos que conviveram com ela e futuros estudantes.
 A partir deste ponto, o artigo irá fazer a ligação do legado que Lélia deixou para o feminismo brasileiro com as disciplinas que foram ministradas na turma de 2017 do curso de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros da Universidade Federal do Maranhão.
 2. O lugar da mulher negra: da colônia a sociedade moderna
 O negro era visto como um objeto, que não tinha sentimentos, sonhos, desejos. Colocados a força nas situações mais humilhantes, nas tarefas mais cansativas e degradantes, tinham a sua fé esmagada em todo o período colonial do Brasil e em grande parte de sua independência, mesmo depois da abolição ter sido finalmente ratificada. Classificados desde o primeiro instante que foram tirados de forma brutal de sua terra, eram tidos de acordo com Freitas (1977) como produtivos (trabalhavam diretamente para a sustentação da economia) e os não produtivos (dirigidos à prestação de serviço) onde é fácil de compreender esse pensamento, onde o lucro a custas dos escravizados era primordial para a manutenção dos prazeres da elite branca.
 Mas se formos mais a fundo deixando de lado aquela visão superficial sobre a população negra escravizada, tirando o véu que nos foi colocado desde os primeiros anos na escola, podemos fazer uma pergunta sem medo da resposta: E a mulher negra, qual seu papel enquanto escravizada? Antes de mergulharmos nesse assunto, devemos levar em conta que nossa historiografia por muitas décadas sofreu uma grande influência marxista. Uma visão cristalizada que nunca observou os sujeitos menores, sempre olhando os acontecimentos históricos “de cima para baixo” e nunca o contrario, muito menos era levado em consideração nessas analises os escravos que nem eram considerados seres humanos. Porém com maiores estudos e novas pesquisas sugiram uma historiografia mais complexa e critica analisando de maneira mais detalhista e dinâmica percebeu-se a necessidade de expor todas as visões existentes que inclusive contribuí-o para a formação critica na década de 1970 e 1980 de Lélia Gonzalez que questionou e refletiu sobre o que hoje conhecemos como FEMINISMO NEGRO, ela que é chamada por muitos como uma mulher à frente o seu tempo, foi capaz de ver que dentro do próprio movimento que defende a igualdade entre gêneros, as dificuldades eram colocadas de maneira muito similar, como se a mulher negra tivesse as mesmas condições de uma branca. Depois de décadas de a escravidão ter sido abolida de nosso país, não tínhamos a sensibilidade em vê o quanto a
mulher negra em especifico, sofreu e ainda sofre com as grandes mazelas sociais, culturais e educacionais mesmo atualmente tendo atualmente todos os diretos básicos a vidagarantida por lei, vivendo em sua maioria em regiões pobres, expostas a todos os tipos de violência, ainda sendo responsáveis em cuidar do seu lá, que inúmeras vezes não tem nenhuma condição de abriga-la de forma digna, o que deixa claro que as mulheres afro-descendentes são maiores vítimas desse nosso passado perturbador.
 Mas para entendermos as questões atuais, de como chegamos a essa realidade precisamos analisar de perto a nossa historiografia, não da visão dos grandes “personagens“, como mencionado anteriormente, uma visão fortemente influenciada principalmente por Caio Prado que em suas analises e teorias dominou durante décadas a maneira de estuda a historia do nosso país, mas do ponto de vista de quem mais sofreu, os personagens a que muitos consideram menores ou sem importância, sendo que foram estes que realmente acabaram moldando a nossa história.
 Na colônia, cabiam as mulheres escravizadas dois tipos de obrigações que muitas vezes constatamos serem retratas em novelas, series, filmes. A trabalhadora de eito e as mucamas, esta última talvez fosse umas das mais dolorosas, pois eram responsáveis diretamente em cuidar dos seus senhores, era delas o papel de zelar pela casa grande: lavar, passar, cozinhar, fiar, tecer etc. Era das mãos delas, que eram preparados à comida para aqueles que comandavam a sua vida, muitas vezes estes mesmos que castigavam os seus filhos, irmãos, amigos, e o que podia esta mulher fazer? Sendo que muitas vezes as mucamas mais atraentes ainda eram obrigadas a força a satisfazer os desejos sexuais do seu dono, ou acabavam sendo “responsáveis” pela iniciação sexual dos filhos dos seus donos, ainda tendo que conviver com o rancor de suas senhoras por ter tido algum contato com seu esposo, Porem não podemos imaginar que essa “mãe preta” era acomodada com essa situação, como inúmeras vezes são retratadas, Como se fosse possível conviver com todas as formas de dor e humilhação, infelizmente muita chegavam a tirar sua própria vida, principalmente quando estavam grávidas, pois não queriam que seus filhos passassem pelas péssimas condições em que viviam incapazes darem um mínimo de conforto possível
2.1Lélia Gonzalez:resistência contra o racismo 
 No século XVI, os negros foram trazidos do continente africano para serem escravizados pelo português no território brasileiro. Ao longo do tempo, o Brasil foi se modernizando, e o racismo institucional foi se criando. O negro não era reconhecido como ser humano. A história africana foi abafada pelos europeus, pois se acreditava que os negros eram um povo inferior.
 Com a oficialização do fim do período da escravidão, o Brasil iniciou uma nova fase que estabelecia padrões brancos, ou seja, mesmo os negros conquistando sua liberdade no parâmetro jurídico, no social, contudo, viviam em uma falsa liberdade, pois a abolição foi declarada sem a devida preocupação de como seria a sobrevivência destes. Eram homens livres, porém desempregados e sem propriedade, mesmo depois de anos de serviços prestados.
 Aproveitando o fluxo de imigrações, no período pós-escravidão, a elite republicana introduziu no seio da sociedade brasileira um novo processo que ficou conhecido como branqueamento da população, que tinha como objetivo arrancar toda marca que os negros deixaram no país. Essa tese foi sustentada com os argumentos de que trazia avanço para o Brasil. 
 Com a adesão a essa política, a população brasileira, foi crescendo negando suas raízes africanas, foi implantado que tudo que se remete ao indivíduo negro é negativo, não possui valor ou não merece prestígio pela sociedade. A cultura negra foi ocultada por diversas formas, criou-se um aparelho ideológico, que marginalizava as diversas expressões culturais, tal como aconteceu com a proibição das rodas de capoeira, a liberdade de professar sua fé etc.
 Em 1890 a capoeira foi colocada fora da lei pelo Código Penal da República, que dizia.
Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, promovendo tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal: Pena: De prisão cellular de dous meses a seis mezes. (BARBIERI, 1993, p.118).
 Com diversas imposições eurocêntricas, às afro-descendência, foram negativizando a origem dos negros, assim como à sua aparência, tal como: cor, cabelos, roupas, em razão de que seus estereótipos eram sempre associados em rótulos pejorativos. A discriminação e a negação era mais alarmantes no gênero feminino, pois além da discriminação feita pelos brancos, os homens negros, estimulados pelo espírito patriarcal, discriminavam também. A mulher negra foi por muito tempo estigmatizada como objeto sexual e prestadora de serviços domésticos.
 Lélia Gonzalez nasceu nessa sociedade em que os valores da cultura ocidental branca são os considerados únicos verdadeiros e universais, entretanto ela se recusou a viver essa denegação imposta aos negros. Sua vida foi marcada pela militância contra a discriminação racial e de gênero, o seu posicionamento foi de suma importância para o movimento negro e feminista do Brasil. 
 Gonzalez estimulava a população negra a denunciar o mito da democracia racial, por meio da afirmação da identidade cultural, ou seja, da aceitação das suas origens; orientava os negros a se organizarem e terem voz ativa na sociedade,reivindicarem acesso a uma boa educação, a ocuparem bons cargos, a receberem um salário que supra todas as suas necessidades e as de suas famílias; os homens e mulheres deveriam reconhecer o seu valor e lutarem para que seja alcançado a igualdade racial em todas os âmbitos da sociedade. Que o silêncio fosse rompido, que a voz fosse usada como um instrumento de denúncia, sobretudo nos locais em que exista o racismo velado ou institucionalizado. 
[...]Não podemos mais calar. A discriminação racial é um juízo marcante na sociedade brasileira, que barra o desenvolvimento da comunidade afro-Brasileira, destrói alma do homem negro e sua capacidade de realização como ser humano. (GONZALEZ,1982, p. 43).
O racismo velado ainda é uma das maiores barreiras, pois impossibilita a abertura de debates sobre o tema, ou seja, inviabiliza sua extinção, por não ter culpados. Muitos foram e são os argumentos usados na tentativa de ocultar fatos, tal como essas expressões que está sendo difundida, a saber: que o preconceito e o racismo estão na cabeça de quem os vê; que e o racismo é uma invenção do próprio negro. Pensamentos como esses ajudam no processo de esquecimento da história dos afro-descendentes, que durante anos tiveram a sua humanidade negada pelo homem branco. A negação da humanidade do negro foi justificativa para os anos de escravidão.
 Da notoriedade aos fatos é mecanismo de resistência. O negro não pode se calar nunca, pois ainda vivemos sobre as repercussões do período da escravidão. Ainda é muito comum na sociedade, de modo especial no âmbito escolar, o menosprezo pelo negro e sua história. Um dos ensinamentos que a Lélia Gonzalez nos deixou foi à resistência, a militância, que não deve se limitar apenas em passeata e cartazes, deve se fazer resistência com a própria vida, ultrapassar os limites que o sistema social impõe. É preciso dominar o campo acadêmico, a política, é preciso trabalhar para se alcançar a liberdade real. Fazer memória à nossa origem é uma forma de resistência.
Destacamos que se toda experiência social produz conhecimento uma das funções do tempo de escola será educar a sensibilidade dos(das) educadores(as) e dos(das) educando ao longo do percurso de formação para captar e conhecer a rica pluralidade de experiências sociais que tornam dinâmica e tensa a sociedade. Mostrar as relações sociais, políticas, culturais em que essa riqueza de experiência vão conformando nossa historia[...].(ARROYO.2013. p.124)
 Noatual cenário Brasileiro, a educação escolar tornou-se uma função de grande relevância para melhorar a situação social econômica especialmente, o acesso da comunidade negra no campo educacional , em 2008 foi aprovado o plano nacional das diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnicas raciais e para o ensino de historia e cultura afro-Brasileira e africana. A lei 10.639/03, foi alterada pela lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana e indígena em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio.Com o novo direcionamento curricular, é notório que a comunidade escolar está percebendo que não se pode mas aceitar que somente algumas culturas sejam contempladas nos currículos.
 É importante compreender que lei 10.639/03 representa uma importante alteração na lei de diretrizes nacionais, pois já não se pode falar em uma lei especifica, mas sim de uma legislação que rege toda a educação nacional, por isso o seu cumprimento é obrigatório,ela se insere em um processo de luta pela superação do racismo na sociedade brasileira e tem como protagonista o movimento negro e os demais grupos e organizações participes da luta anti racista.Práticas de ações afirmativas na educação básica brasileira entra como uma forma de correção da desigualdade histórica que incidem sobre a população negra em nosso pais. A execução dessa lei propicia um imaginário pedagógico, romper com o silenciamento sobre a realidade africana e afro-brasileira nos currículos e práticas escolares e afirmar a história, a memória e a identidade de crianças e adolescentes negros. “Na educação, a teoria é uma dimensão indispensável da prática (Carr,1996,p.68)
O currículo prescrito, quanto a seus conteúdos e a seus códigos, em suas diferentes especialidades, expressa o conteúdo base da ordenação do sistema, estabelecendo a seqüência do progresso pela escolaridade e pelas especialidades que o compõem (Sacristán, 2000, p.113).
 As teorias do curriculum costumam ressaltar concepções políticas e técnicas que, historicamente, têm sido ordenadas para administrá-lo, expressando fórmulas para sua elaboração e desenvolvimento. Segundo Sacristán (1995), estas teorias desempenham funções fundamentais para a seleção de temas e perspectivas, e dos formatos a serem consumidos pelos professores; ressaltam certas funções dos profissionais da educação e dão racionalidade às práticas escolares.
 Destacando a resistência de Gonzalez e de outros lideres do movimento negro em fazer memória a origem dos afro-descendentes, verificamos que o cumprimento da lei 11.645/08 ainda encontra dificuldades em seu processo de execução. Essa lentidão na execução nos faz analisar o papel do currículo e sua didática, como instrumento de domínio. 
Na escola pública estão alguns dos exemplos mais emblemáticos deste racismo institucional: as enormes dificuldades de implementação da lei 11645/08 – que modificou a lei 10639/03 –, que determina o ensino da história da África no ensino fundamental, e o debate sobre as cotas nas universidades públicas brasileiras. “Por que tanta má vontade em implementar a lei 10639? Porque esta lei nos humaniza. Eles nos coisificaram e nos transformaram em mercadoria e máquina de trabalho. E a lei muda tudo isso, nos tira do submundo da história, e nossa história nos humaniza”, afirma Olivia Santana, vereadora de Salvador pelo PCdoB e militante da União de Negros pela Igualdade na Bahia.(SANTANA,2017, Fórum Social Mundial Temático da Bahia)
3.A ESCOLA COMO UM ÂMBITO DE REFERÊNCIA, MAS NÃO O ÚNICO
É importante notar que toda educação formal precisa colocar o educando em contato direto com a esfera ‘’não cotidiana’’ isto é, com habilidades e conhecimentos que não podem ser adquiridos natural e espontaneamente pelo aprendiz.
 Dispensar a ação educativa é fundamentado nessa esfera, porém é um recurso no qual a educação informal levada a cabo pela família, poderia contar oque foi feito, historicamente falando, na época em que os saberes necessários à vida adulta emanavam diretamente das relações sociais das crianças com os mais velhos. Atualmente, dada a complexidade do cenário social, profissional e ideológico, a pedagogia estaria fora do seu tempo ao insistir na possibilidade de educar crianças e jovens partindo apenas da espontaneidade de seus espíritos, pois a esfera não cotidiana não emerge naturalmente da vivência cotidiana.
 Porém, seja qual for a conexão entre fazer e aprender, qualquer que seja a validez da fórmula pragmática, sua aplicação à educação, ou seja, o modo de aprendizagem da educação tende a tomar absoluto o mundo da infância, exatamente da maneira como observamos, no caso do primeiro pressuposto básico, também sendo o pretexto de respeitar a independência da criança, ela é excluída do mundo dos adultos e mantida artificialmente no seu próprio mundo, essa retenção é artificial, porque extingue o relacionamento natural, entre adultos e crianças, no qual outras coisas consistem do ensino à aprendizagem, tanto é que oculta o tempo e o fato de que a criança é um ser humano em desenvolvimento, de que a infância é uma etapa temporária numa preparação para a condição adulta.
 Paulo Freire afirmava que o educador ensina o educando, porém é uma diversidade de educação, pois são trocas de conhecimentos vividos e compartilhados, onde ambos tendema aprender um com o outro, a importância de todos dentro da educação baseia-se em todos os profissionais que vivem direto e indiretamente com os educandos, os auxiliares de limpeza ao professor, também devem ser capacitados, uma vez que todos estão ligados ao processo educativo em uma escola.
 Lélia Gonzalez foieducadora, ativista e intelectual de destaque, porém seu pensamento contribuiu para a formação de uma consciência crítica em relação aos preceitos que mantêm mulheres negras em desvantagem na sociedade. Historiadora, antropóloga, filosofa, visto que ela é autora de diversos livrose artigos, além de militante em movimentos sociais pela igualdade racial. Foi, ainda, uma das fundadoras doMovimento Negro Unificado (MNU), principal canal de ressurgimento da luta pela igualdade racial nos anos 1970.
 A partir da experiência pessoal, buscou nos estudos da Psicanálise e na Umbanda as reflexões sobre o impacto e a discriminação, trazendo-as para as condições de vida da população negra no Brasil, principalmente as mulheres. A antropologia inspirou a formação de uma consciência crítica, sua intensa militância desconstruiu o mito da democracia racial, propôs modelos de identidade nacional e provocou a visibilidade positiva da mulher negra, entretanto, o movimento social problematizou a discriminação sofrida pelas mulheres, em razão do machismo.
Tendo em vista que no âmbito dos movimentos feministas, apontou para a discriminação sofrida pelas mulheres devido a cor da pele[FRASE CONFUSA, FAVOR ARRUMÁ-LA]. Lélia ressaltava o problema racial que devem ser discutidos, dentro e fora das salas de aulas, mostrando o semblante e a bandeira de luta, pois não adiantaria ficar calado em sala e fora dela levantar bandeira.
4. A ligua(gem) como processo de desconstrução: aspectos políticos, econômicos e sociais.
A linguagem no Brasil, torna-se mais uma forma de exclusão de classes, mais uma maneira de deixar visível a hierarquização racial e a estigmatizaram a partir do ponto em que é colocada uma forma “correta” e privilegiada a uma classe social por e para uma minoritária e privilegiada classe social, elitista, branca e heteronormativaem que visa e conserva apenas influências européias, como por exemplo, o português de Portugal, por anos sendo imposta aos colonizados ,até por entenderem que “enriquece” ou é mais “culto” e correto o uso destas linguagens. A partir desta valorização da cultura branca surge o preconceito e a desvalorização da língua afro-brasileira, da linguagem do nordestino, da própria mulher, assim como a negação das influênciasculturais de origem africanas e indígenas em nosso país, que se constitui da miscigenação de várias etnias.
Talvez exista uma contradição de base entre ideologia democrática e a ideologia que é implícita na existência de uma norma linguística. Se segundo os princípios democráticos nenhuma discriminação dos indivíduos tem razão de ser, com base em critérios de raça, religião, credo político. A única brecha deixada aberta para a discriminação é aquela que se baseia nos critérios da linguagem e da educação. (GNERRE, Maurizzio, 1985 p.25)
Lélia escolheu romper com o vocabulário formal, tendo assim oportunidades de diálogos com diferentes extratos sociais e movimentos de rua da periferia. González participou ativamente de movimentos, militando pela criação de creches nas zonas periféricas do Rio de Janeiro, reconhecia na militância, mais uma forma de diálogo entre os seus.
Nos anos 70 e 80, Lélia produziu livros como: Festas populares no Brasil. Rio de Janeiro,1987, e Lugar de negro(com Carlos Hasenbalg). Rio de Janeiro, 1982, e ensaios e artigos como: ------------------------------------------------------//Mulher ngra, essa quilombola.” Folha de S.Paulo, Folhetim. Domingo 22 de novembro de 1981. 
“A mulher negra na sociedade brasileira.” In: LUZ, Madel, T., org. O lugar da mulher; estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro, Graal, 1982. 146p. p. 87-106. (Coleção Tendências, 1.). 
“Racismo e sexismo na cultura brasileira.” In: SILVA, Luiz Antônio Machado et alii. Movimentos sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos. Brasília, ANPOCS, 1983. 303p. p. 223-44. (Ciências Sociais Hoje, 2.)//-------------------------------------------------------------------------. Ministrou palestras, e em todas as vias de comunicação, fazia questão de utilizar uma linguagem informal, com algumas gírias, trazia consigo uma maneira descontraída de dialogar, nas diversas entrevistas, rodas de conversas… em que fora requisitada para palestras. A partir dessa sua atitude, fazia com que o “Pretuguês”, expressão que utilizou para se contrapor as costumeiras falas elitizadas, mas do que isso para que estes(as) indivíduos pudessem não fazer, ao menos sentir-se parte do processo em alusão ao nosso português afro-brasileiro, para que assim fosse respeitado e divulgado a aqueles que por não deterem uma educação privilegiada pudessem ter acesso as suas obras, criando uma nova forma humana de linguagem.
GONZALES, LÉLIA. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, pg. 237. É engraçado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Framengo. Chamam a gente de ignorante dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram que a presença desse r no lugar do l, nada mais é que a marca linguística de um idioma africano, no qual o l inexiste. Afinal, quem que é o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala dita brasileira, que corta os erres dos 
infinitivos verbais, que condensa você em cê, o está em tá e por aí afora. Não sacam que tão falando pretuguês. 
5. O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
 Para entendermos a questão racial na América Latina, Lélia Gonzalez nos mostra que devemos olhar para o começo da colonização nas Américas. Principalmente a América Latina, em países que tiveram em sua história como principais colonizadores, os países ibéricos, ou seja, Espanha e Portugal.
 A formação histórica de ambos se fez a partir de intensas lutas pela reconquista de seus territórios contra os mouros, tendo em vista todo este contexto histórico, espanhóis e portugueses adquiriram de certa forma experiência em relação as questões raciais, mas que fique claro, nessa época o termo “raça” não era levado como um conceito de cor da pele, e sim às civilizações que se consideravam superiores em relação aos outros, os civilizados sobre os bárbaros.
 As sociedades ibéricas se estruturaram de maneira altamente hierarquizada, com muitas castas sociais diferenciadas e complementarias. A força da hierarquia era tal que se explicitava até nas formas nominais de tratamento, transformados pelo rei de Portugal e Espanha em 1597. Desnecessário dizer que neste tipo de estrutura, onde tudo e todos têm o seu lugar determinado, não há espaço para a igualdade, principalmente para grupos étnicos diferentes como mouros e judeus, sujeito a um violento controle social e político. (Roberto Da Matta).
 Dessa forma, as colônias absorveram um sistema hierárquico contribuindo assim para a segregação das raças, já que desse modo, uma sociedade hierárquica garante a superioridade branca como uma classe dominante.
 Esse tipo de segregação tem um poder muito grande sobre a sociedade, o caráter físico, a questão da agressão é só um deles, mas o que de fato mais impacta sobre um grupo é a dominação ideológica.
O racismo latino-americano é suficientemente sofisticado para manter negros e indígenas na condição de segmentos subordinados no interior das classes mais exploradas, graças a sua forma ideológica, mas eficaz: a ideologia do branqueamento. (Lélia Gonzalez. p15.).
Para elencar aqui, a mídia é um propagador voraz desse segmento, certo que hoje as coisas não são como antes, mas ainda há muito que se conquistar, o negro como um agente da história, e não como um objeto como os marxistas propuseram, e nem tão pouco um sujeito histórico mais recentemente com os neomarxistas.
Ao longo dos séculos, o conhecimento produzido apareceu como neutro, quando sabemos que isso era e é falso. A neutralidade assim como a imparcialidade, e a autoridade são construções ideológicas. (Dos Santos, 2010, p18).
 Uma questão muito forte também que a mídia perpetua é essa perspectiva eurocêntrica da família ideal, muito disseminada nas novelas, onde as famílias brancas ricas são o núcleo principal e as famílias negras são o núcleo pobre. “No Brasil não existe racismo porque os negros reconhecem o seu lugar”. (Millor Fernandes). Gonzalez em um de seus trabalhos derruba um mito de dominação ideológica: o mito da democracia racial.
 Mas o que seria essa democracia racial, essa perspectiva desenvolvida na década de cinquenta pelo antropólogo norte americano Charles Wagley que teve como alicerce a obra de Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala (1933), um ensaísta, que pega como base o engenho de sua família para explicar o Brasil colônia, o fato do senhor se deitar com a escrava não haveria racismo por parte do homem branco, ali estaria estabelecido uma convivência harmoniosa, partindo-se desse pressuposto Wagley desenvolve um estudo comparando as relações étnico-raciais ocorridas no Brasil e Estados Unidos, afirmando que no Brasil havia uma democracia racial e nos Estados Unidos uma hierarquia racial hegemônica das classes.
 Diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos, não houve processo de integração social dos negros libertos. Após a libertação dos escravos surgiram órgãos de governo, destinados a promover a integração dos ex-escravos, universidade de negros, ou seja, o processo foi muito diferente do que aconteceu no Brasil foi muito diferente do que aconteceu no Brasil. (Marta Avancini, 2015.pag?).
6. Conclusões Provisórias 
 O desenvolvimento do presente artigo, possibilitou uma análise sobre o movimento negro e sua resistência ao longo do tempo, fazendo referência da biografia da professora, intelectual, feminista, antropóloga e militante Lélia González.Tratamos de sua trajetória e seu legado na sociedade brasileiro, como militante do movimento negro em especial o movimento feminista. Somado a essas questões, o artigo, trouxe como foco principal a ligação das disciplinas ministradas no curso da turma 2017.1 de Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros da Universidade Federal do Maranhão.
 O trabalho realizado sobre Lélia González: Um Legado para feminismo e o movimento negro, foi de suma importância para os discente da licenciatura em Estudos Africanos e Afro -brasileiros, pois permitiu conhecermos a importância do movimento negro e feminista no cenário brasileiro. Nos levando a compreendera necessidade da resistência contra o racismo.
Referências Bibliográficas – 
Caderno de Formação Política do Círculo Palmarino n.1. (2011 p.12 à 17)
AVANCINI, MARTA. REVISTA PRÉ- UNIVESP. (2015)
GONZALEZ, Lélia, Lugar de Negro n03, rio de janeiro; Marco zero limitado,1982
GONZALES, LÉLIA. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, pg. 237
ZARUR, George de Cerqueira Leite, 1991- A contribuição de Charles Wagley para a antropologia brasileira e para idéia de Brasil.
DOS SANTOS, Gislene Aparecida, 2010- Filosofia, Diversidade e a questão do negro: Argumentos criados no seio da filosofia podem nos auxiliar a entender a questão racial contemporânea? (p.18)
ARROYO,MIGUEL.Currículo:território em disputa.5.ed.Petrópolis,Rio de Janeiro:Vozes.p.124
SACRISTÁN,J.Gimeno;PÉREZ GÓMEZ, A.I.Compreender e Transformar o Ensino.4.ed. Porto Alegre:Artmed,200,Pag

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