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Aula 03 Direito Penal p/ AGEPEN-CE (Agente Penitenciário) - Com videoaulas Professor: Renan Araujo Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo AULA 03: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA. SUMçRIO 1 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ........................................................................... 3 1.1 Dos crimes contra a vida ................................................................................ 3 1.1.1 Homicdio ...................................................................................................... 3 1.1.1.1 Homicdio simples .................................................................................... 5 1.1.1.2 Homicdio privilegiado (¤1¡) ...................................................................... 6 1.1.1.3 Homicdio qualificado ............................................................................... 7 1.1.1.4 Homicdio culposo .................................................................................. 10 1.1.1.5 Homicdio majorado ............................................................................... 11 1.1.1.6 Perdo Judicial ...................................................................................... 11 1.1.2 Instigao ou auxlio ao suicdio ..................................................................... 12 1.1.3 Infanticdio .................................................................................................. 14 1.1.4 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento ............................... 14 1.1.5 Aborto praticado por terceiro sem o consentimento da gestante ......................... 15 1.1.6 Aborto praticado com o consentimento da gestante .......................................... 15 1.1.7 Ao Penal .................................................................................................. 17 1.2 Das leses corporais .................................................................................... 17 1.3 Da periclitao da vida e sade .................................................................... 21 1.3.1 Perigo de Contgio venreo ........................................................................... 22 1.3.2 Perigo de contgio de molstia grave .............................................................. 23 1.3.3 Perigo para a vida ou sade de outrem ........................................................... 24 1.3.4 Abandono de incapaz .................................................................................... 24 1.3.5 Exposio ou abandono de recm-nascido ....................................................... 25 1.3.6 Omisso de socorro ...................................................................................... 26 1.3.7 Maus-tratos ................................................................................................. 29 1.3.8 Ao penal .................................................................................................. 30 1.4 Da rixa ......................................................................................................... 30 1.5 Crimes contra a honra .................................................................................. 32 1.5.1 Calnia ....................................................................................................... 32 1.5.2 Difamao .................................................................................................. 35 1.5.3 Injria ........................................................................................................ 36 1.5.4 Disposies comuns ..................................................................................... 38 1.6 Dos crimes contra a liberdade individual ...................................................... 39 1.6.1 Constrangimento ilegal ................................................................................. 39 1.6.2 Ameaa ...................................................................................................... 40 1.6.3 Sequestro e crcere privado .......................................................................... 41 1.6.4 Reduo condio anloga de escravo ....................................................... 42 1.6.5 Trfico de pessoas ....................................................................................... 43 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.6.6 Dos crimes contra a inviolabilidade do domiclio, da correspondncia e dos segredos 46 2 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ............................................................... 53 3 SòMULAS PERTINENTES ..................................................................................... 65 3.1 Smulas do STF ............................................................................................ 65 3.2 Smulas do STJ ............................................................................................ 65 4 RESUMO .............................................................................................................. 65 5 EXERCêCIOS PARA PRATICAR ............................................................................. 71 6 EXERCêCIOS COMENTADOS ................................................................................. 90 7 GABARITO ........................................................................................................ 121 Ol, meus amigos! Devorando os papiros? Hoje vamos estudar os crimes contra a pessoa, que representam o Ttulo I da Parte Especial do CP, e compreendem os arts. 121 a 154-B do CP. Nossa aula j inclui a recente alterao promovida pela Lei 13.344/16, que incluiu o art. 149-A ao CP, tipificando o crime de Òtrfico de pessoasÓ. Bons estudos! Prof. Renan Araujo 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1! DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Os crimes contra a pessoa esto previstos no Ttulo I da Parte Especial do CP e podem ser divididos em seis grandes grupos: ü! Crimes contra a vida; ü! Leses corporais; ü! Periclitao da vida e sade; ü! Da Rixa; ü! Crimes contra a honra; ü! Crimes contra a Liberdade Individual Vamos estudar cada um destes subgrupos de crimes contra a pessoa isoladamente. 1.1!Dos crimes contra a vida Os crimes contra a vida so aqueles nos quais o bem jurdico tutelado a vida humana. A vida o bem jurdico mais importante do ser humano. No toa que os crimes contra a vida so os primeiros crimes da parte especial do CP. A vida humana, para efeitos penais, pode ser tanto a vida intrauterina quanto a vida extrauterina, de forma que no s a vida de quem j nasceu tutelada, mas tambm ser tutelada a vida daqueles que ainda esto no ventre materno (nascituros). Os arts. 121 a 123 cuidam da tutela da vida EXTRAUTERINA (De quem j nasceu), enquanto os crimes dos arts. 124/127 tratam da tutela da vida INTRAUTERINA (Dos nascituros).1 Vamos comear ento! 1.1.1!Homicdio O art. 121 do CP diz: Homicdio simples Art. 121. Matar alguem: Pena - recluso, de seis a vinte anos. Caso de diminuio de pena ¤ 1¼ Se oagente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero. Homicdio qualificado ¤ 2¡ Se o homicdio cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; 1 PRADO, Luis Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 2. 5¼ edio. Ed. Revista dos Tribunais. So Paulo, 2006, p. 58 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime: Feminicdio (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razes da condio de sexo feminino: (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) VII Ð contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituio Federal, integrantes do sistema prisional e da Fora Nacional de Segurana Pblica, no exerccio da funo ou em decorrncia dela, ou contra seu cnjuge, companheiro ou parente consanguneo at terceiro grau, em razo dessa condio: (Includo pela Lei n¼ 13.142, de 2015) Pena - recluso, de doze a trinta anos. ¤ 2o-A Considera-se que h razes de condio de sexo feminino quando o crime envolve: (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) I - violncia domstica e familiar; (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) II - menosprezo ou discriminao condio de mulher. (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) Homicdio culposo ¤ 3¼ Se o homicdio culposo: (Vide Lei n¼ 4.611, de 1965) Pena - deteno, de um a trs anos. Aumento de pena ¤ 4o No homicdio culposo, a pena aumentada de 1/3 (um tero), se o crime resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima, no procura diminuir as conseqncias do seu ato, ou foge para evitar priso em flagrante. Sendo doloso o homicdio, a pena aumentada de 1/3 (um tero) se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redao dada pela Lei n¼ 10.741, de 2003) ¤ 5¼ - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria. (Includo pela Lei n¼ 6.416, de 24.5.1977) ¤ 6¼ A pena aumentada de 1/3 (um tero) at a metade se o crime for praticado por milcia privada, sob o pretexto de prestao de servio de segurana, ou por grupo de extermnio. (Includo pela Lei n¼ 12.720, de 2012) ¤ 7o A pena do feminicdio aumentada de 1/3 (um tero) at a metade se o crime for praticado: (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) I - durante a gestao ou nos 3 (trs) meses posteriores ao parto; (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficincia; (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) III - na presena de descendente ou de ascendente da vtima. (Includo pela Lei n¼ 13.104, de 2015) O bem jurdico tutelado, como disse, a vida humana. O Homicdio, entretanto, pode ocorrer nas seguintes modalidades: 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo a) Homicdio Simples; b) Homicdio privilegiado (¤1¡); c) Homicdio qualificado (¤2¡); d) Homicdio culposo (¤3¡); e) Homicdio culposo majorado (¤4¡, primeira parte); f) Homicdio doloso majorado (¤4¡, segunda parte e ¤¤ 6¼ e 7¼); 1.1.1.1! Homicdio simples aquele previsto no caput do art. 121 (Òmatar algumÓ). O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa fsica, bem como qualquer pessoa fsica pode ser sujeito passivo do delito. Entretanto, se o sujeito passivo for o Presidente da Repblica, do Senado Federal, da Cmara dos Deputados ou do STF, e o ato possuir cunho poltico, estaremos diante de um crime previsto na Lei de Segurana Nacional (art. 29 da Lei 7.710/89).2 O tipo objetivo (conduta descrita como incriminada) TIRAR A VIDA DE ALGUM. Mas para isso, precisamos saber quando se inicia a vida humana. A vida humana se inicia com o incio do parto. Para a maioria da Doutrina, o incio do parto (que gera incio da vida) se d com o incio do processo de parto, no qual o feto passa a ter contato com a vida extrauterina3. No h necessidade de que o feto seja vivel4, bastando que fique provado que nasceu com vida, basta isso! Assim, se for tirada a vida de algum que ainda no nasceu (ainda no h vida extrauterina, no h homicdio, podendo haver aborto). Semelhantemente, se o fato for praticado por quem j no tem mais vida (cadver), estaremos diante de UM CRIME IMPOSSêVEL (Por absoluta impropriedade do objeto). O homicdio pode ser praticado de forma livre (disparo de arma de fogo, facada, pancadas, etc.), podendo ser praticado de forma comissiva (ao) ou omissiva (omisso). Como assim? Isso mesmo, pode ser que algum responda por homicdio sem ter agido, mas tendo se omitido.5 EXEMPLO: Me que, mesmo sabendo que o padrasto ir matar seu filho, nada faz para impedi-lo, ainda que pudesse agir para evitar o crime sem prejuzo de sua integridade fsica. Neste caso, se o padrasto vem a praticar o homicdio, e ficar provado que a me sabia e nada fez para impedir, ela responder por HOMICêDIO DOLOSO (mesmo sem ter praticado qualquer ato!), na qualidade de crime omissivo IMPRîPRIO (recomendo a leitura do art. 13, ¤2¼ do CP). 2 Caso a inteno seja destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, tnico, racial ou religioso, teremos o delito de homicdio genocida, previsto no art. 1¼, a, da Lei 2.889/56. 3 Por incio do parto entenda-se o incio da operao, no caso de cesariana, ou o incio das contraes expulsivas, no caso de parto normal. PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 58 4 Feto vivel pode ser entendido como aquele que no possui quaisquer doenas congnitas capazes de impossibilitar a continuidade da vida extrauterina, como os anencfalos, por exemplo. 5 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 60/61 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo CUIDADO! O homicdio pode ser praticado, ainda, por meios psicolgicos, no sendo obrigatrio o uso de meios materiais.6 O elemento subjetivo o dolo, no se exigindo qualquer finalidade especfica de agir (dolo especfico). Pode ser dolo direto ou dolo indireto (eventual ou alternativo). O crime se consuma quando a vtima vem a falecer, sendo, portanto, um crime material. Como o delito pode ser fracionado em vrios atos (crime plurissubsistente), existe a possibilidade de tentativa, desde que, iniciada a execuo, o crime no se consume por circunstncias alheias vontade do agente. O homicdio simples, ainda quando praticado por apenas uma pessoa, MAS EM ATIVIDADE TêPICA DE GRUPO DE EXTERMêNIO (CHACINA, POREXEMPLO), CRIME HEDIDONDO (art. 1¼, I da Lei 8.072/90). 1.1.1.2! Homicdio privilegiado (¤1¡) O Homicdio privilegiado possui as mesmas caractersticas do homicdio simples, com a peculiaridade de que a motivao do crime, neste caso, NOBRE. Ou seja, o crime praticado em circunstncias nas quais a Lei entende que a conduta do agente NÌO TÌO GRAVE. Pode ocorrer em trs situaes7: ¥! Motivo de relevante valor social Ð Por exemplo, matar o estuprador do bairro. ¥! Motivo de relevante valor MORAL Ð Por exemplo, matar por compaixo (eutansia)8. ¥! Sob o domnio de violenta emoo, LOGO APîS injusta provocao da vtima Ð Agente pratica o crime movido por um sentimento de violenta raiva, imediatamente aps a criao desse sentimento pela prpria vtima9. Ex.: Imagine que o marido mate a prpria esposa aps ela o ter xingado, afirmando que ele era um frouxo e fracassado, e que ela j teria dormido com toda a vizinhana. Nesse caso, se o marido agir de supeto, dando-lhe um tiro, por exemplo, Hç CRIME DE HOMICêDIO, mas em razo da provocao da vtima (injusta) que criou a violenta emoo no infrator, o crime privilegiado. 6 EXEMPLO: Imagine que a filha, desejosa de ver sua me morta, a fim de herdar seu patrimnio, e sabendo que a me possui problemas cardacos, simula uma situao de sequestro de seu irmo caula. A me, ao receber a ligao, tem um infarto do miocrdio, fulminante, vindo a bito. Nesse caso, a conduta dolosa e planejada da filha pode ser considerada homicdio, pois o meio foi hbil para alcanar o resultado pretendido. 7 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 61 8 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 61/62 9 CUNHA, Rogrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edio. Ed. Juspodivm. Salvador, 2015, p. 51/52 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Mas quais as consequncias do crime privilegiado? A pena, nesse caso, diminuda de 1/6 a 1/3. CUIDADO! Se o crime for praticado em concurso de pessoas, a circunstncia pessoal (violenta emoo) no se comunica entre os agentes, respondendo por homicdio simples aquele que no estava sob violenta emoo.10 1.1.1.3! Homicdio qualificado O homicdio qualificado aquele para o qual se prev uma pena mais grave (12 a 30 anos), em razo da maior reprovabilidade da conduta do agente. O homicdio ser qualificado quando for praticado: ¥! Mediante paga ou promessa de recompensa ou OUTRO MOTIVO TORPE Ð Aqui se pune mais severamente o homicdio praticado por motivo torpe, que aquela motivao repugnante, abjeta11, dando-se, como exemplo, a realizao do crime mediante paga ou promessa de recompensa. Trata-se do mercenrio. Na modalidade de ÒpagaÓ, o pagamento acontece antes. Na modalidade Òpromessa de recompensaÓ, o pagamento dever ocorrer depois do crime, mas a sua efetiva concretizao (do pagamento) IRRELEVANTE. Aqui h o chamado concurso necessrio, pois imprescindvel que pelo menos duas pessoas participem (quem paga ou promete e quem executa). Havia divergncia a respeito da comunicabilidade da qualificadora para o mandante. O STJ, no informativo 575, decidiu que se trata de circunstncia de carter pessoal. Assim, o homicdio, para o mandante, no ser necessariamente qualificado (a menos que o mandante esteja agindo por motivo torpe, ftil, etc.)12. A Doutrina diverge sobre a natureza da ÒrecompensaÓ, mas prevalece o entendimento de que deva ter natureza econmica13, embora a recompensa de outra natureza tambm possa ser enquadrada como Òoutro motivo torpeÓ (H interpretao ANALîGICA aqui). A ÒvinganaÓ pode ou no ser considerada motivo torpe, isso depende do caso concreto (posio dos Tribunais). ¥! Por motivo ftil Ð Aqui temos o motivo banal, aquele no qual o agente retira a vida de algum por um motivo bobo, ridculo, ou seja, h uma desproporo gigante entre o motivo do crime e o bem lesado 10 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 63. PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 52 11 Um outro exemplo a GANåNCIA. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 67 12 ÒO reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do ¤ 2¼ do art. 121) em relao ao executor do crime de homicdio mercenrio no qualifica automaticamente o delito em relao ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o bito alheio seja torpe.Ó (REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015, DJe 2/2/2016) Na Doutrina existe DIVERGæNCIA, havendo, inclusive, certa predominncia da tese CONTRçRIA, no sentido de que somente o executor responderia pela forma qualificada. 13 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 54 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo (vida). MOTIVO INJUSTO DIFERENTE DE MOTIVO FòTIL. O motivo injusto inerente ao homicdio (se fosse justo, no seria crime). A Doutrina majoritria entende que o crime praticado ÒSEM MOTIVO ALGUMÓ (ausncia de motivo) tambm qualificado. O STJ, entretanto, vem firmando entendimento no sentido contrrio, ou seja, de que seria homicdio simples14. ¥! Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum Ð Aqui temos mais uma hiptese de INTERPRETAÌO ANALîGICA, pois o legislador d uma srie de exemplos e no final abre a possibilidade para que outras condutas semelhantes sejam punidas da mesma forma. Temos aqui, no uma qualificadora decorrente dos MOTIVOS DO CRIME, mas uma qualificadora decorrente dos MEIOS UTILIZADOS para a prtica do delito. A Doutrina entende que a qualificadora do Òemprego de venenoÓ s incide se a vtima NÌO SABE que est ingerindo veneno15; Se souber, o crime poder ser qualificado pelo meio cruel. CUIDADO! MUITO CUIDADO! MAS MUITO CUIDADO MESMO! A utilizao de tortura como MEIO para se praticar o homicdio, qualifica o crime. Entretanto, se o agente pretende TORTURAR (esse o objetivo), mas se excede (culposamente) e acaba matando a vtima, NÌO Hç HOMICêDIO QUALIFICADO PELA TORTURA, mas TORTURA QUALIFICADA PELO RESULTADO MORTE (art. 1¡, ¤3¡ da Lei 9.455/97). ¥! Ë traio, de emboscada, ou qualquer outro meio que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido Ð Nesse caso, o crime qualificado em razo, tambm, DO MEIO UTILIZADO, pois ele dificulta a defesa da vtima. CUIDADO! A idade da vtima (idoso ou criana, por exemplo), no MEIO PROCURADO PELO AGENTE, logo, no qualifica o crime, embora, no caso concreto, torne mais difcil a defesa, em alguns casos. ¥! Para assegurar a execuo, ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime Ð Aqui h o que chamamos de conexo instrumental, ou seja, o agente pratica o homicdio para assegurar alguma vantagem referente a outro crime, que pode consistir na execuo do outro crime, na ocultao do outro crime, na impunidade do outro crime ou na vantagem do outro crime. A conexo instrumental pode ser TELEOLîGICA (assegurar a execuo FUTURA de outro crime) OU CONSEQUENCIAL (assegurar a ocultao, a impunidade ou a vantagem do outro crime, que Jç OCORREU). O Òoutro crimeÓ NÌO PRECISA SER PRATICADO OU 14 (AgRg no REsp 1289181/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/10/2013, DJe 29/10/2013)Ó 15 PRADO, Luis Regis. Op.Cit., p. 69 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo TER SIDO PRATICADO PELO AGENTE, pode ter sido praticado por outra pessoa. ¥! FEMINICêDIO Ð Aqui teremos um homicdio qualificado em razo de ter sido praticado contra mulher, em situao denominada de Òviolncia de gneroÓ. No basta, assim, que a vtima seja mulher, deve ficar caracterizada a violncia de gnero. Mas como se caracteriza a violncia de gnero? O ¤2¼-A do art. 121, tambm includo pela Lei 13.104/2015, estabelece que ser considerada violncia de gnero quando o crime envolver violncia domstica e familiar ou menosprezo ou discriminao condio de mulher. ¥! CONTRA AGENTES DE SEGURANA E DAS FORAS ARMADAS Ð O homicdio tambm ser considerado ÒqualificadoÓ quando for praticado contra integrantes das Foras Armadas (Marinha, Exrcito e Aeronutica), das foras de segurana pblica (Polcias federal, rodoviria federal, ferroviria federal, civil, militar e corpo de bombeiros militar), dos agentes do sistema prisional (agentes penitencirios) e integrantes da Fora Nacional de Segurana. Contudo, no basta que o homicdio seja praticado contra alguma destas pessoas para que seja qualificado, necessrio que o crime tenha sido praticado em razo da funo exercida pelo agente. Se o crime no tem qualquer relao com a funo pblica exercida, no se aplica esta qualificadora! Alm dos prprios agentes, o inciso VII relaciona tambm os parentes destes funcionrios pblicos (cnjuge, companheiro ou parente consanguneo at terceiro grau). Assim, o homicdio praticado contra qualquer destas pessoas, desde que guarde relao com a funo pblica do agente, ser considerado qualificado. 16 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 58 ü! E se houver mais de uma circunstncia qualificadora (meio cruel motivo torpe, por exemplo)? Nesse caso, no existe crime DUPLA OU TRIPLAMENTE QUALIFICADO. O crime apenas qualificado. Se houver mais de uma qualificadora, uma delas qualifica o crime, e a outra (ou outras) considerada como agravante genrica (se houver previso) ou circunstncia judicial desfavorvel16 (art. 59 do CP), caso no seja prevista como agravante. POSIÌO ADOTADA PELO STF. ü! E se o crime for, ao mesmo tempo, privilegiado e qualificado (praticado por relevante valor moral e mediante emprego de veneno, por exemplo)? Nesse caso, temos o chamado homicdio 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.1.1.4! Homicdio culposo O homicdio culposo ocorre no quando o agente quer a morte, mas quando o agente pratica uma conduta direcionada a outro fim (que pode ou no ser lcito), mas por inobservncia de um dever de cuidado (negligncia, imprudncia ou impercia), acaba por causar a morte da pessoa. A imprudncia a precipitao, o ato praticado com afobao, tpico dos AFOITOS. A negligncia, por sua vez, a imprudncia na forma omissiva, ou seja, a ausncia de precauo. O agente deixa de fazer alguma coisa que deveria para evitar o ocorrido. Na impercia, por sua vez, o agente comete o crime por no possuir aptido tcnica para realizar o ato. EXEMPLOS: Imagine que numa mesa de cirurgia, um MDICO- CIRURGIÌO esquea uma pina na barriga do paciente, que vem a falecer em razo disso. Nesse caso, no houve impercia, pois o MDICO APTO PARA REALIZAR A CIRURGIA, tendo havido negligncia (o camarada no tomou os cuidados devidos antes de dar os pontos na cirurgia). Houve, portanto, negligncia. Imaginem, agora, que no mesmo exemplo, o mdico que realizou a conduta foi um CLêNICO GERAL, que no sabia fazer uma cirurgia, e tenha feito algo errado no procedimento. Aqui sim teramos impercia. CUIDADO! No existe compensao de culpas! Assim, se a vtima tambm contribuiu para o resultado, o agente responde mesmo assim, mas essa circunstncia (culpa da vtima) ser considerada em favor do ru na fixao da pena.18 EXEMPLO: Imagine que Rodrigo esteja dirigindo sua Ferrari a 300 km/h na Av. Paulista, de madrugada, acreditando que no vai atropelar ningum, porque muito Òbom de rodaÓ (Imprudncia). Eis que, de repente, Nathalia atravessa a rua com o sinal fechado para ela (imprudncia), vindo a ser atropelada por Rodrigo, falecendo. Nesse caso, Rodrigo responder por homicdio culposo, sim, mas o fato de Nathalia ter agido com culpa tambm, ser considerado 17 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 65 18 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 63 qualificado-privilegiado. Mas, CUIDADO! Isso s ser possvel se a qualificadora for objetiva (relativa ao meio utilizado), pois a circunstncia privilegiadora sempre subjetiva (relativa aos motivos do crime). Assim, um crime nunca poder ser praticado por motivo torpe e por motivo de relevante valo moral ou social, so coisas colidentes17! O STF e o STJ entendem assim! ü! E sendo o crime qualificado-privilegiado, ser ele hediondo? NÌO! Pois sendo o motivo deste crime, um motivo nobre, embora a execuo no o seja, o motivo prepondera sobre o meio utilizado, por analogia ao art. 67 do CP. POSIÌO MAJORITçRIA. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo favoravelmente a Rodrigo quando da fixao da pena base (Òcomportamento da vtimaÓ, art. 59 do CP). CUIDADO! Apenas para fins de registro, o homicdio culposo na direo de veculo automotor, desde o advento da Lei 9.503/97, crime previsto no art. 302 da referida lei (Cdigo de Trnsito Brasileiro). 1.1.1.5! Homicdio majorado O homicdio pode ser majorado (ter a pena aumentada) no caso de ter sido cometido em algumas circunstncias. So elas: No homicdio culposo (aumento de 1/3): ü! Resulta de inobservncia de regra tcnica ou profisso, arte ou ofcio ü! Se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima ü! No procura diminuir as consequncias de seu ato ü! Foge para evitar priso em flagrante No homicdio doloso: ü! Se o crime for cometido contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos (aumento de 1/3) ü! Se o crime for praticado por milcia privada, sob o pretexto de prestao de servio de segurana, ou por grupo de extermnio (aumento de 1/3 at a metade) ü! Se o crime, no caso de FEMINICêDIO, for praticado: a) durante a gestao ou nos 3 (trs) meses posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficincia; c) na presena de descendente ou de ascendente da vtima (aumento de 1/3 at a metade). 1.1.1.6! Perdo Judicial Em determinados crimes o Estado confere o perdo ao infrator (No confundir perdo judicial com perdo do ofendido), por entender que a aplicao da pena no necessria. o chamado Òperdo judicialÓ. o que ocorre, por exemplo, no caso de homicdio culposo no qual o infrator tenha perdido algum querido (Lembram-se do caso Herbert Viana?). Essa hiptese est prevista no art. 121, ¤ 5¡ do CP: ¤ 5¼ - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria. (Includo pela Lei n¼ 6.416, de 24.5.1977) Ento,nesse caso, ocorrendo o perdo judicial, tambm estar extinta a punibilidade. Alm disso, o art. 120 do CP diz que se houver o perdo judicial, esta sentena que concede o perdo judicial no considerada para fins de reincidncia. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo O perdo judicial, diferentemente do perdo do ofendido, no precisa ser aceito pelo infrator para produzir seus efeitos. A sentena que concede o perdo judicial declaratria da extino da punibilidade, no subsistindo qualquer efeito condenatrio (Conforme smula n¡ 18 do STJ). 1.1.2!Instigao ou auxlio ao suicdio Este crime est previsto no art. 122 do CP. Vejamos: Art. 122 - Induzir ou instigar algum a suicidar-se ou prestar-lhe auxlio para que o faa: Pena - recluso, de dois a seis anos, se o suicdio se consuma; ou recluso, de um a trs anos, se da tentativa de suicdio resulta leso corporal de natureza grave. Pargrafo nico - A pena duplicada: Aumento de pena I - se o crime praticado por motivo egostico; II - se a vtima menor ou tem diminuda, por qualquer causa, a capacidade de resistncia. O suicdio a eliminao direta e voluntria da prpria vida. O suicdio no crime (ou sua tentativa), mas a conduta do terceiro que auxilia outra pessoa a se matar (material ou moralmente) crime. Aqui, a participao no suicdio no uma conduta acessria (porque o suicdio no crime!), mas conduta principal, ou seja, o prprio ncleo do tipo penal. Assim, quem auxilia outra pessoa a se matar no partcipe deste crime, mas AUTOR. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, e admitido o concurso de pessoas (duas ou mais pessoas se reunirem para auxiliarem outra a se suicidar). No entanto, somente a PESSOA QUE POSSUA ALGUM DISCERNIMENTO pode ser sujeito passivo do crime19, eis que se a pessoa (suicida) no tiver qualquer discernimento, estaremos diante de um homicdio, tendo o agente se valido da ausncia de autocontrole da vtima para induzi-la a se matar (sem que esta quisesse esse resultado). EXEMPLO: Imagine que A, desejando a morte de B (um doente mental, completamente alienado), o induz a se jogar do 20¡ andar de um prdio. B, maluco (coitado!), se joga, achando que o ÒsupermanÓ. Nesse caso, no houve instigao ou induzimento ao suicdio, mas HOMICêDIO, pois A se valeu da ausncia de discernimento de B para mat-lo. O crime pode ser praticado de 03 formas: ü! Induzimento Ð O agente faz nascer na vtima a ideia de se matar 19 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 81/82 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo ü! Instigao Ð O agente refora a ideia j existente na cabea da vtima, que est pensando em se matar ü! Auxlio Ð O agente presta algum tipo de auxlio material vtima (empresta uma arma de fogo, por exemplo) O elemento subjetivo exigido o dolo, no sendo admitido na forma culposa. possvel a prtica do crime mediante dolo eventual. Imagine o pai que coloca a filha, jovem grvida, para fora de casa, sabendo que a filha descontrolada e havia ameaado se matar, no se importando com o resultado (no pacfico na Doutrina). A consumao bastante discutida na Doutrina, mas vem se fixando o seguinte entendimento: ü! A vtima morre Ð Crime consumado (pena de 02 a 06 anos de recluso) ü! Vtima no morre, mas sofre leses graves Ð Crime consumado (pena de 01 a 03 anos) ü! Vtima no morre nem sofre leses graves Ð INDIFERENTE PENAL Assim, para esta Doutrina, o crime se consumaria com a ocorrncia do evento morte ou das leses corporais graves (crime material), ou ser um indiferente penal (quando, no obstante a conduta do agente, o suicida no sofre ao menos leses graves). Trata-se de entendimento da Doutrina moderna.20 Outra parte da Doutrina entende que o crime FORMAL, se consumando no momento em que o infrator pratica a conduta, sendo a ocorrncia da morte ou de leses graves, MERA CONDIÌO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE. Trata- se do entendimento da Doutrina clssica.21 Outra parcela doutrinria entende que o crime se consuma com a ocorrncia da morte. No caso de leses graves teramos apenas tentativa punvel (pena mais branda) e no caso de no ocorrer qualquer destes resultados teramos tentativa impunvel. bem dividido na Doutrina, mas eu ficaria com a primeira. O crime pode aparecer, ainda, na forma majorada (Pena duplicada), quando praticado nas seguintes hipteses: ü! Por motivo egostico ü! Se a vtima menor ou tem diminuda a capacidade de resistncia (Se a vtima no tem nenhum discernimento, homicdio, lembram- se?) 20 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 73/74 21 Nesse sentido, dentre outros, LUIZ REGIS PRADO. PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 86/87 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.1.3!Infanticdio O infanticdio o crime mediante o qual a me, sob influncia do estado puerperal, mata o prprio filho recm-nascido, durante ou logo aps o parto: Art. 123 - Matar, sob a influncia do estado puerperal, o prprio filho, durante o parto ou logo aps: Pena - deteno, de dois a seis anos. O objeto jurdico tutelado aqui tambm a vida humana. Trata-se, na verdade, de uma Òespcie de homicdioÓ que recebe punio mais branda em razo da comprovao cientfica acerca dos transtornos que o estado puerperal pode causar na me. O sujeito ativo, aqui, somente pode ser a me da vtima, e ainda, desde que esteja sob influncia do estado puerperal (CRIME PRîPRIO). O sujeito passivo o ser humano, recm-nascido, logo aps o parto ou durante ele. CUIDADO! Embora seja crime prprio, plenamente admissvel o concurso de agentes, que respondero por infanticdio (desde que conheam a condio do agente, de me da vtima), nos termos do art. 30 do CP. necessrio que a gestante pratique o fato SOB INFLUæNCIA DO ESTADO PUERPERAL, e que esse estado emocional seja a causa do fato. Mas at quando vai o estado puerperal? No h certeza mdica, devendo ser objeto de percia no caso concreto. O crime s admitido na forma dolosa (dolo direto e dolo eventual), no sendo admitido na forma culposa. A pergunta que fica : E se a me, durante o estado puerperal, culposamente mata o prprio filho? Nesse caso, temos simplesmente um homicdio culposo22. E se a me, por equvoco, acaba por matar filho de outra pessoa (confunde com seu prprio filho)? Nesse caso, responde normalmente por infanticdio, como se tivesse praticado o delito efetivamente contra seu filho, por se tratar de erro sobre a pessoa (nos termos do art. 20, ¤3¼ do CP).23 O crime se consuma com a morte da criana e a tentativa plenamente possvel. 1.1.4!Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Est previsto no art. 124 do CP. Vejamos: Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - deteno, de um a trs anos. 22 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 101 23 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 101 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br15 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Nesse caso, o sujeito ativo s pode ser a me (gestante). No caso de estarmos diante da segunda hiptese (permitir que outra pessoa pratique o aborto em si), o crime praticado somente pela me, respondendo o terceiro pelo crime do art. 126 (Exceo teoria monista, que a teoria segundo a qual os comparsas devem responder pelo mesmo crime). Assim, este crime um crime DE MÌO PRîPRIA. O sujeito passivo o feto (nascituro). Como se v, pode ser praticado de duas formas distintas: ü! Gestante pratica o aborto em si prpria ü! Gestante permite que outra pessoa pratique o aborto nela. O crime s punido na forma dolosa. Se o aborto culposo, a gestante no comete crime (Ex.: Gestante pratica esportes radicais, vindo a se acidentar e causar a morte do filho). O crime se consuma com a morte do feto, claro. A tentativa plenamente possvel. 1.1.5!Aborto praticado por terceiro sem o consentimento da gestante Nesse crime o terceiro pratica o aborto na gestante, sem que esta concorde com a conduta. Vejamos o que diz o art. 125: Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - recluso, de trs a dez anos. A conduta aqui bem simples, no havendo muitas observaes a se fazer. No necessrio que se trate de um mdico, podendo ser praticado por qualquer pessoa (CRIME COMUM). O sujeito passivo, aqui, como em todos os outros delitos de aborto, o feto. Entretanto, nesse crime especfico tambm ser vtima (sujeito passivo) a gestante. Embora o crime ocorra quando no houver o consentimento da gestante, tambm ocorrer o crime quando o consentimento for prestado por quem no possua condies de prest-lo (menor de 14 anos, ou alienada mental), ou se o consentimento obtido mediante fraude por parte do agente (infrator). O crime se consuma com a morte do feto, sendo plenamente possvel a tentativa. Se o agente pretende matar a me, sabendo que est grvida, e ambos os resultados ocorrem, responder por ambos os crimes (homicdio e aborto) em concurso. 1.1.6!Aborto praticado com o consentimento da gestante Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - recluso, de um a quatro anos. Pargrafo nico. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante no maior de quatorze anos, ou alienada ou debil mental, ou se o consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Aqui, embora o aborto seja praticado por terceiro, h o consentimento da gestante. Trata-se da figura do camarada que praticou o aborto na gestante, com a concordncia ou a pedido desta. A gestante responde pelo crime do art. 124 e o terceiro responde por este delito. Como disse a vocs, o consentimento s vlido (de forma a caracterizar ESTE crime) quando a gestante tem condies de manifestar vontade. Quando a gestante no tiver condies de manifestar a prpria vontade, ou o faz em razo de ter sido enganada pela fraude do agente, o crime cometido (pelo agente, no pela gestante) o do art. 125, conforme podemos extrair da redao do art. 125 c/c art. 126, ¤ nico do CP. O sujeito ativo aqui pode ser qualquer pessoa, COM EXCEÌO DA PRîPRIA GESTANTE! O sujeito passivo apenas o feto. O elemento subjetivo aqui, como nos demais casos de aborto, SOMENTE O DOLO. O crime se consuma com a morte do feto, podendo ocorrer a modalidade tentada, quando, embora praticada a conduta, o feto no falece, sobrevivendo.24 ü! Se no aborto provocado por terceiro (arts. 125 e 126), em decorrncia dos meios utilizados pelo terceiro, ou em decorrncia do aborto em si, a gestante sofre leso corporal grave, as penas so aumentadas de 1/3; se sobrevm a morte da gestante as penas so duplicadas. Vejamos: Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores so aumentadas de um tero, se, em conseqncia do aborto ou dos meios empregados para provoc-lo, a gestante sofre leso corporal de natureza grave; e so duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevm a morte. ü! O aborto PRATICADO POR MDICO, quando for a nica forma de salvar a VIDA da gestante, ou QUANDO A GESTAÌO FOR DECORRENTE DE ESTUPRO (e houver prvia autorizao da gestante), NÌO CRIME25: Art. 128 - No se pune o aborto praticado por mdico: Aborto necessrio I - se no h outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 24 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 115/116 25 Atualmente o STF entende que o aborto de fetos anencfalos (ou anenceflicos, ou seja, sem crebro ou com m-formao cerebral) no crime, estando criada, jurisprudencialmente, mais uma exceo. Ver: ADPF 54 / DF (STF) 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo ü! No se exige que haja sentena reconhecendo o estupro; basta que haja, ao menos, boletim de ocorrncia registrado na Delegacia.26 1.1.7!Ao Penal TODOS os crimes contra VIDA so de ao PENAL PòBLICA INCONDICIONADA. 1.2!Das leses corporais As leses corporais podem ser definidas como quaisquer danos provocados no sistema de funcionalidade normal do corpo humano. O crime de leses corporais est previsto no art. 129 do CP, e possui diversas variantes, que esto previstas nos seus ¤¤: Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a sade de outrem: Pena - deteno, de trs meses a um ano. Leso corporal de natureza grave ¤ 1¼ Se resulta: I - Incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou funo; IV - acelerao de parto: Pena - recluso, de um a cinco anos. ¤ 2¡ Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III - perda ou inutilizao do membro, sentido ou funo; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - recluso, de dois a oito anos. Leso corporal seguida de morte ¤ 3¡ Se resulta morte e as circunstncias evidenciam que o agente no qus o resultado, nem assumiu o risco de produz-lo: Pena - recluso, de quatro a doze anos. Diminuio de pena ¤ 4¡ Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero. Substituio da pena 26 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 123. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo ¤ 5¡ O juiz, no sendo graves as leses, pode ainda substituir a pena de deteno pela de multa, de duzentos mil ris a dois contos de ris: I - se ocorre qualquer das hipteses do pargrafo anterior; II - se as leses so recprocas. Leso corporal culposa ¤ 6¡ Se a leso culposa: (Vide Lei n¼ 4.611, de 1965) Pena - deteno, de dois meses a um ano.Aumento de pena ¤ 7¡ No caso de leso culposa, aumenta-se a pena de um tero, se ocorre qualquer das hipteses do art. 121, ¤ 4¡. ¤ 7¼ - Aumenta-se a pena de um tero, se ocorrer qualquer das hipteses do art. 121, ¤ 4¼. (Redao dada pela Lei n¼ 8.069, de 1990) ¤ 8¼ - Aplica-se leso culposa o disposto no ¤ 5¼ do art. 121.(Redao dada pela Lei n¼ 8.069, de 1990) Violncia Domstica (Includo pela Lei n¼ 10.886, de 2004) ¤ 9o Se a leso for praticada contra ascendente, descendente, irmo, cnjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relaes domsticas, de coabitao ou de hospitalidade: (Redao dada pela Lei n¼ 11.340, de 2006) Pena - deteno, de 3 (trs) meses a 3 (trs) anos. (Redao dada pela Lei n¼ 11.340, de 2006) ¤ 10. Nos casos previstos nos ¤¤ 1o a 3o deste artigo, se as circunstncias so as indicadas no ¤ 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um tero). (Includo pela Lei n¼ 10.886, de 2004) ¤ 11. Na hiptese do ¤ 9o deste artigo, a pena ser aumentada de um tero se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficincia. (Includo pela Lei n¼ 11.340, de 2006) ¤ 12. Se a leso for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituio Federal, integrantes do sistema prisional e da Fora Nacional de Segurana Pblica, no exerccio da funo ou em decorrncia dela, ou contra seu cnjuge, companheiro ou parente consanguneo at terceiro grau, em razo dessa condio, a pena aumentada de um a dois teros. (Includo pela Lei n¼ 13.142, de 2015) A leso corporal um crime que pode ser praticado por qualquer sujeito ativo, tambm podendo ser qualquer pessoa o sujeito passivo. Em alguns casos, no entanto, somente pode ser sujeito passivo a mulher grvida (art. 129, ¤¤1¡, IV e 2¡, V). Trata-se de crime que pode ser praticado de diversas maneiras, pancadas, perfuraes, cortes, etc. O bem jurdico tutelado a incolumidade fsica da pessoa (integridade fsica). A autoleso no crime (causar leses corporais em si mesmo), por ausncia de lesividade a bem jurdico de terceiro. A leso corporal pode ser classificada como: ü! Simples (caput) ü! Qualificada (¤¤ 1¡, 2¡ e 3¡) ü! Privilegiada (¤¤ 4¡ e 5¡) ü! Culposa (¤ 6¡) 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo A leso corporal simples a prevista no art. 129, caput, e ocorrer sempre que no resultar em leses de natureza mais grave ou morte. A leso qualificada pode se dar pela ocorrncia de resultado grave (leses graves) ou em decorrncia do resultado morte (Leso corporal seguida de morte). As seguintes situaes so consideradas como leses graves para fins penais: LESÍES CORPORAIS GRAVES RESULTADO PENA LESÍES GRAVES (Doutrina) §! Incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias §! Perigo de vida §! Debilidade permanente de membro, sentido ou funo §! Acelerao de parto PENA Ð 01 a 05 anos de recluso LESÍES GRAVêSSIMAS (Doutrina) §! Incapacidade permanente para o trabalho §! Enfermidade incurvel §! Perda ou inutilizao do membro, sentido ou funo §! Deformidade permanente §! Aborto PENA Ð 02 a 08 anos de recluso O CP trata ambas como leses graves, mas em razo da pena diferenciada para cada uma delas, a Doutrina chama as primeiras de LESÍES GRAVES e as segundas de LESÍES GRAVêSSIMAS.27 A leso corporal seguida de morte um crime qualificado pelo resultado, mais especificamente, um crime PRETERDOLOSO (dolo na conduta inicial e culpa na ocorrncia do resultado) pois o agente comea praticando dolosamente um crime (leso corporal) e acaba por cometer, culposamente, outro crime mais grave (homicdio). Nesse caso, temos a leso corporal seguida de morte, prevista no ¤3¡ do art. 129, qual se prev pena de 04 A 12 ANOS. H, ainda, a figura da leso corporal privilegiada, que ocorre em duas situaes: ü! Agente comete o crime movido por relevante valor moral ou social, ou movido por violenta emoo, logo em seguida 27 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 146/149 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo injusta provocao da vtima Ð A pena diminuda de 1/6 a 1/3 (aplicam-se as mesmas consideraes acerca do homicdio privilegiado). ü! No sendo graves as leses: a) Ocorrer a situao anterior; ou b) se tratar de leses recprocas entre infrator e ofendido Ð O JUIZ PODE SUBSITTUIR A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENA DE MULTA. A leso corporal na modalidade culposa est prevista no ¤6¡ do art. 129, e praticada quando h violao a um dever objetivo de cuidado (negligncia, imprudncia ou impercia). Lembrando que o crime de leses corporais culposas em direo de veculo automotor crime especial, previsto no CTB, logo, no se aplica o CP nesse caso. possvel, ainda, que havendo leso corporal culposa, o Juiz conceda o perdo judicial ao infrator, conforme tambm ocorre no homicdio culposo, quando as consequncias do crime atingirem o infrator de tal forma que a pena se torne desnecessria. Finalizando o crime de leses corporais, o CP trata da VIOLæNCIA DOMSTICA. A violncia domstica aquela praticada em face de ascendente, descendente, irmo, cnjuge, companheiro, pessoa com quem conviva, OU TENHA CONVIVIDO, ou, ainda, quando o agente se prevalece de relaes domsticas de convivncia ou hospitalidade. Em casos como este, a pena de 03 meses a 03 anos. Alm disso: ¥! SE O CRIME FOR QUALIFICADO (LESÍES GRAVES, GRAVêSSIMAS OU MORTE) Ð A PENA AUMENTADA DE 1/3. ¥! SE A VêTIMA DE VIOLæNCIA DOMSTICA, NO CASO DO ¤9¡, PORTADORA DE DEFICIæNCIA (FêSICA OU MENTAL) Ð A PENA AUMENTADA DE 1/3. ü! Em caso de violncia domstica, s se aplicam as disposies especficas se a leso for dolosa. Se a leso for culposa, a regra a mesma das leses comuns (no domsticas). ü! No crime de violncia domstica, possvel o enquadramento, por exemplo, da Bab, que se prevalece da convivncia com a criana para agredi-la. ü! Nos crimes de leso corporal, a AÌO PENAL PòBLICA INCONDICIONADA. No entanto, em caso de LESÌO LEVE OU 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo LESÌO CORPORAL CULPOSA, A AÌO SERç PòBLICA CONDICIONADA Ë REPRESENTAÌO (art. 88 da Lei 9.099/95). ü! CUIDADO! Se a leso praticada com violncia domstica MULHER, EM QUALQUER CASO, A AÌO PòBLICA INCONDICIONADA (Posicionamento do STF)28. ü! CUIDADO: A Lei 12.720/12 alterou a redao do ¤7¼ do art. 129 do CP, de forma a estabelecer uma causa de aumento de pena (em 1/3) no caso de o crime de leso corporal, em sendo culposa, resultar de inobservncia de regra tcnica da profisso ou no caso de o agente no prestar socorro ou fugir. Incidir a mesma causa de aumento de pena no caso de, em sendo leso dolosa, o crime for praticado: a) Contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos; b) Por milcia privada ou grupo de extermnio. ¥! CUIDADO MASTER! A Lei 13.142/15 incluiu o ¤12 no art. 129 do CP, trazendo uma NOVA CAUSA DE AUMENTO DE PENA. A pena ser aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime de leses corporais for praticadocontra integrantes das Foras Armadas (Marinha, Exrcito e Aeronutica), das foras de segurana pblica (Polcias federal, rodoviria federal, ferroviria federal, civil, militar e corpo de bombeiros militar), dos agentes do sistema prisional (agentes penitencirios) e integrantes da Fora Nacional de Segurana. Contudo, no basta que o crime seja praticado contra alguma destas pessoas para a causa de aumento de pena seja aplicada, necessrio que o crime tenha sido praticado em razo da funo exercida pelo agente. Se o crime no tem qualquer relao com a funo pblica exercida, no se aplica esta causa de aumento de pena! Alm dos prprios agentes, o ¤12 relaciona tambm os parentes destes funcionrios pblicos (cnjuge, companheiro ou parente consanguneo at terceiro grau). Assim, o crime de leses corporais praticado contra qualquer destas pessoas, desde que guarde relao com a funo pblica do agente, ser majorado (haver aplicao da causa de aumento de pena).29 1.3!Da periclitao da vida e sade Aqui o CP cuida de crimes de ÒperigoÓ, ou seja, atos praticados pelo agente que, embora no causando danos, expem a perigo de dano outra ou outras pessoas. Temos aqui, portanto, crimes FORMAIS, pois a ocorrncia do dano irrelevante para a consumao destes delitos. 28 O STF passou a adotar este entendimento no julgamento da ADI - 4424. 29 Tal conduta passou a ser considerada, ainda, crime hediondo, nos termos do art. 1¼, I-A da Lei 8.072/90, includo pela Lei 13.142/15. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Alguns Doutrinadores entendem que h, nos crimes deste captulo, crimes de perigo concreto (em que se exige demonstrao de quem sofreu a exposio real de perigo de dano) e crimes de perigo abstrato (nos quais a lei presume que a conduta exponha a perigo de dano, no sendo necessrio provar que algum foi exposto a este risco). O debate existe, pois parte da Doutrina entende que os crimes de perigo abstrato no foram recepcionados pela Constituio, pois, pelo PRINCêPIO DA LESIVIDADE, uma conduta s pode ser penalmente tutelada se causar dano ou pelo menos perigo concreto de dano a algum. Vamos analisar cada um dos delitos: 1.3.1!Perigo de Contgio venreo Art. 130 - Expor algum, por meio de relaes sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contgio de molstia venrea, de que sabe ou deve saber que est contaminado: Pena - deteno, de trs meses a um ano, ou multa. ¤ 1¼ - Se inteno do agente transmitir a molstia: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. ¤ 2¼ - Somente se procede mediante representao. Nesse crime, tutela-se a sade da pessoa (alguns Doutrinadores entendem que se tutela tambm a vida). Sujeito ativo e passivo podem ser qualquer pessoa. Parte da Doutrina entende que o crime prprio, pois exige do sujeito ativo uma condio especial (estar contaminado com molstia grave que possa ser transmitida sexualmente). O tipo objetivo (conduta) a prtica de relao sexual ou ato libidinoso, por pessoa portadora de molstia venrea com outra pessoa, expondo-a a risco de se contaminar. 30 O CP no diz o que molstia venrea (NORMA PENAL EM BRANCO), devendo a norma ser complementada, o que ocorre mediante portaria do Ministrio da Sade. IRRELEVANTE SE A OUTRA PESSOA CONCORDA! A Doutrina entende que ela no pode dispor de sua sade, sendo, portanto, irrelevante a anuncia da vtima (CONTROVERTIDO ISTO). A efetiva contaminao irrelevante para a consumao do delito, que se d com a mera ocorrncia da relao, que o ato que gera a exposio a perigo. A tentativa possvel, pois o crime plurissubsistente. O elemento subjetivo exigido o dolo (direto ou eventual). No se exige o dolo de QUERER CONTAMINAR (dolo especfico), mas apenas o dolo de querer 30 A transmisso do vrus da AIDS no caracteriza este delito. Segundo a doutrina majoritria, tal conduta poder caracterizar perigo de contgio de molstia grave, leso corporal grave ou homicdio, a depender do dolo do agente e do resultado obtido (h FORTE divergncia doutrinria). CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 122 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo MANTER RELAÍES SEXUAIS, pouco importando se o agente quer ou no contaminar o parceiro. No se admite na forma culposa. Embora no se exija um dolo especfico do agente, caso o infrator possua inteno de efetivamente contaminar a vtima, incidir a qualificadora do ¤1¡ (pena mais grave). A ao penal neste crime PòBLICA CONDICIONADA Ë REPRESENTAÌO. 1.3.2!Perigo de contgio de molstia grave Nos termos do art. 132 do CP: Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem molstia grave de que est contaminado, ato capaz de produzir o contgio: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. O bem jurdico tutelado aqui tambm a sade da pessoa, entendendo alguns autores que a vida tambm tutelada nesse tipo penal. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que contaminada com molstia grave (crime PRîPRIO). Essa a posio predominante. Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa QUE NÌO ESTEJA CONTAMINADA PELA MESMA MOLSTIA. O elemento subjetivo aqui exigido o dolo, mas exige-se, ainda, o chamado ELEMENTO SUBJETIVO ESPECêFICO (OU DOLO ESPECêFICO OU ESPECIAL FIM DE AGIR), que consiste numa vontade alm da mera vontade de praticar o ato que expe a perigo. Aqui o CP exige que o agente QUEIRA TRANSMITIR A DOENA. Havendo necessidade de que o AGENTE QUEIRA O RESULTADO, NÌO CABE DOLO EVENTUAL, tampouco CULPA. No se exige que o agente se utilize da relao sexual para transmitir a molstia grave, podendo ser QUALQUER MEIO APTO PARA TRANSMITIR A DOENA. O crime se consuma com a mera realizao do ato (crime formal), no se exigindo que o resultado ocorra (contaminao). A tentativa admissvel. Se o resultado ocorrer, duas situaes podem se mostrar: ü! A doena que contaminou a vtima causou leso leve Ð Nesse caso, fica absorvida pelo crime de perigo de contgio de molstia grave. ü! A doena que contaminou a vtima causou leses graves ou a morte Ð O agente responde por estes crimes (leses corporais graves ou morte). A ao penal aqui PòBLICA INCONDICIONADA. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.3.3!Perigo para a vida ou sade de outrem Art. 132 - Expor a vida ou a sade de outrem a perigo direto e iminente: Pena - deteno, de trs meses a um ano, se o fato no constitui crime mais grave. Pargrafo nico. A pena aumentada de um sexto a um tero se a exposio da vida ou da sade de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestao de servios em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. ( Includo pela Lei n¼ 9.777, de 29.12.1998) Trata-se da conduta da pessoa que, mediante qualquer ao ou omisso, expe a perigo a vida ou a sade de outra pessoa. Pode ser na forma omissiva, como disse, quando o infrator deixa de fazer algo para evitar a exposio de perigo (Patro que deixa de fornecer equipamentos de segurana, por exemplo). Os sujeitos,ativo e passivo, podem ser quaisquer pessoas. O elemento subjetivo exigido o dolo, mas no o dolo de causar dano, e sim o dolo de expor a perigo (inteno meramente de praticar o ato que gera o perigo). No se admite na forma culposa. Se o agente pratica o ato como meio para obter um resultado mais grave (tentativa de homicdio, por exemplo), responde pelo crime mais grave (Trata- se, aqui, de um crime subsidirio, conforme podemos ver da redao do art., que fala Òse o fato no constitui crime mais graveÓ). O crime se consuma com a mera exposio da vtima ao RISCO DE DANO (perigo). Caso o resultado ocorra, duas hipteses podem ocorrer: Ø! O resultado gera um delito mais grave Ð Responde pelo delito mais grave Ø! O resultado menos grave do que o crime de exposio a perigo Ð Responde pelo crime de exposio a perigo Na forma comissiva (mediante uma ao), o crime plurissubsistente (pode ser fracionado em vrios atos), admitindo, portanto, a tentativa. O crime possui, ainda, uma causa de aumento de pena, prevista no ¤ nico, que incidir sempre que o crime ocorrer em decorrncia de transporte irregular de pessoas para prestao de servios em estabelecimentos. EXEMPLO: Transporte de Òboias-friasÓ na caamba do caminho, sem qualquer proteo. 1.3.4!Abandono de incapaz Art. 133 - Abandonar pessoa que est sob seu cuidado, guarda, vigilncia ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - deteno, de seis meses a trs anos. ¤ 1¼ - Se do abandono resulta leso corporal de natureza grave: Pena - recluso, de um a cinco anos. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo ¤ 2¼ - Se resulta a morte: Pena - recluso, de quatro a doze anos. Aumento de pena ¤ 3¼ - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um tero: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente ascendente ou descendente, cnjuge, irmo, tutor ou curador da vtima. III - se a vtima maior de 60 (sessenta) anos (Includo pela Lei n¼ 10.741, de 2003) A conduta punida aqui a de deixar ao relento pessoa incapaz que esteja sob a guarda do agente, de forma a proteger a vida e a integridade daquele que no tem meio de se proteger. O crime PRîPRIO, pois se exige que o sujeito ativo tenha uma qualidade especial: Ter o dever de guarda e vigilncia da pessoa abandonada. A condio de ÒincapazÓ no a mesma que se tem no direito civil. Incapaz, para os fins deste delito qualquer pessoa que no tenha condies de se proteger sozinha, seja ela incapaz civilmente ou no.31 O elemento subjetivo o dolo, consistente na inteno de abandonar o incapaz, causando perigo a ele, ainda que no se pretenda que com ele acontea qualquer coisa. No se admite na forma culposa. Caso o agente tenha dolo de produzir algum dano (abandonou o incapaz para que lhe ocorresse algo de ruim, como a morte), responder pelo crime na modalidade tentada (caso o resultado no ocorra) ou consumada, caso o resultado ocorra. A consumao do delito se d com o mero ato de abandonar o incapaz, sendo indiferente, para a consumao do delito, a ocorrncia de algum dano.32 No entanto, caso ocorram leses graves, ou morte, as penas sero diferentes, conforme previso dos ¤¤ 1¡ e 2¡ do CP (Formas qualificadas pelo resultado). Poder, ainda, haver uma causa de aumento de pena (de 1/3), caso: ü! O abandono ocorra em local ermo (deserto) ü! O agente for ascendente (pai, me), descendente (filho, neto), irmo, cnjuge, tutor ou curador da vtima ü! Se a vtima possuir mais de 60 anos 1.3.5!Exposio ou abandono de recm-nascido Art. 134 - Expor ou abandonar recm-nascido, para ocultar desonra prpria: 31 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 187. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 132 32 Sustenta-se que necessrio que a vtima seja exposta, ao menos, a uma situao de risco CONCRETO (crime de perigo concreto). PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 190 e CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 133. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Pena - deteno, de seis meses a dois anos. ¤ 1¼ - Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Pena - deteno, de um a trs anos. ¤ 2¼ - Se resulta a morte: Pena - deteno, de dois a seis anos. A Doutrina no unnime, mas a maioria entende que, neste caso, o sujeito ativo s pode ser a me ou pai do recm-nascido, sendo, portanto, crime prprio.33 A conduta pode ser comissiva (ao) ou omissiva (omisso), na medida em que o agente pode expor o recm-nascido a perigo (ao) ou abandon-lo (ao ou omisso). O elemento subjetivo o dolo, consistente na vontade de expor o recm- nascido a perigo, com a finalidade de ocultar a prpria desonra. Assim, alm do dolo, exige-se o especial fim de agir, consistente na inteno de ocultar a prpria desonra. Caso no haja essa inteno, o agente responde pelo crime de abandono de incapaz (art. 133). No se pune na modalidade culposa. A consumao se d com a mera colocao do recm-nascido na situao de perigo concreto, e pode haver tentativa, quando a conduta for comissiva, na medida em que, POR EXEMPLO, pode a me ser surpreendida quando deixava a criana na lata do lixo. 1.3.6!Omisso de socorro Nos termos do art. 135 do CP: Art. 135 - Deixar de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, criana abandonada ou extraviada, ou pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou no pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pblica: Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa. Pargrafo nico - A pena aumentada de metade, se da omisso resulta leso corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Aqui o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (CRIME COMUM), podendo ser qualquer pessoa, tambm, o sujeito passivo, desde que se enquadre numa das situaes previstas no tipo penal. No h necessidade de que haja nenhum vnculo especfico entre os sujeitos. A conduta somente pode ser praticada na forma omissiva (Crime omissivo puro). Com relao ao CONCURSO DE AGENTES, a Doutrina se divide: 33 H quem sustente que somente a me pode ser o sujeito ativo (Cezar Roberto Bitencourt), j que se fala em Òesconder desonra prpriaÓ. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 135. No mesmo sentido, Luiz Regis Prazo. PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 197 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1 Ð Parte entende que NÌO Hç POSSIBILIDADE DE COAUTORIA OU PARTICIPAÌO (Concurso de agentes), pois TODAS AS PESSOAS PRATICAM O NòCLEO DO TIPO, DE MANEIRA AUTïNOMA. 2 Ð Outra parte da Doutrina entende que possvel tanto a coautoria quanto a participao, quando, por exemplo, duas pessoas combinam de no socorrer a vtima, de forma que poderia haver concurso de pessoas, na modalidade de coautoria, mas minoritrio. 3 Ð A Doutrina ligeiramente majoritria entende que possvel PARTICIPAÌO, mas NÌO COAUTORIA. A Doutrina exige, ainda, que o sujeito ativo esteja PRESENTE na situao de perigo, ou seja, que esteja presenciando a situaoem que a vtima se encontra e deixe de prestar socorro, QUANDO PODIA FAZER ISTO SEM CRIAR RISCO PARA SI. Assim, se o agente apenas sabe que outra pessoa est em risco, mas no se move at o lugar para salv-la, no h crime de omisso de socorro (S egosmo mesmo, rs.). Alm disso, aquele que causou a situao de perigo de dano, NÌO RESPONDE PELO CRIME, pois seria um absurdo punir algum por criar uma situao e por no socorrer a vtima. EXEMPLO: Imagine que A esfaqueie B, com vontade de matar, e o veja agonizando, mas nada faa para salv-lo. Nesse caso, A responder apenas pelo homicdio (consumado ou tentado), mas no pela omisso de socorro. O agente pode praticar a conduta de duas formas: ü! Deixando de prestar o socorro imediato pessoa ü! Caso no possa faz-lo, deixando de comunicar autoridade pblica para que proceda ao socorro da pessoa O AGENTE NÌO PODE ESCOLHER! Se ele tem condies de prestar o socorro, deve prest-lo, no podendo escolher por chamar o socorro da autoridade pblica.34 O elemento subjetivo o dolo (que pode ser direto ou eventual), no se admitindo na forma culposa. O crime se consuma quando o agente efetivamente se omite na prestao do socorro e, sendo um crime omissivo prprio, no admite tentativa. A Doutrina entende que no caso de Òcriana abandonada ou extraviadaÓ, o perigo presumido (perigo concreto), devendo ser provada, nos demais casos, a efetiva exposio, da pessoa no socorrida, a perigo. 34 PRADO, Luis Regis. Op. Cit., p. 207/208 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo O ¤ nico traz uma causa de aumento de pena, que estabelece o aumento da pena em METADE, caso ocorra leses graves na pessoa que no foi socorrida, ou, no caso de sobrevir a morte da pessoa no socorrida, a pena ser TRIPLICADA. A Doutrina exige que se comprove que o socorro (no prestado pelo agente) tivesse o condo de evitar estes resultados para que se apliquem as causas de aumento de pena. A omisso de socorro nos acidentes de trnsito (caso o agente esteja envolvido no acidente) regulada pelo CTB. Caso o agente no tenha se envolvido no acidente, tendo apenas presenciado pessoa que necessitava de ajuda por ter se envolvido em acidente de trnsito, responde pelo art. 135 do CP. EXEMPLO: Jos se envolve num acidente de trnsito com Juliana. Juliana fica em situao crtica, mas Jos, que saiu bem, se omite no socorro. Marcelo, que passava pelo local, tambm se omite. Nesse caso, Jos responde pelo delito previsto no CTB e Marcelo pelo delito do art. 135 do CP. A omisso de socorro pessoa idosa crime especfico previsto no Estatuto do Idoso. A Lei 12.653/12 trouxe uma modalidade ÒespecialÓ de omisso de socorro, que a de condicionamento para atendimento mdico-hospitalar emergencial, novo tipo penal previsto no art. 135-A do CP: Condicionamento de atendimento mdico-hospitalar emergencial (Includo pela Lei n¼ 12.653, de 2012). Art. 135-A. Exigir cheque-cauo, nota promissria ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prvio de formulrios administrativos, como condio para o atendimento mdico-hospitalar emergencial: (Includo pela Lei n¼ 12.653, de 2012). Pena - deteno, de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, e multa. (Includo pela Lei n¼ 12.653, de 2012). Pargrafo nico. A pena aumentada at o dobro se da negativa de atendimento resulta leso corporal de natureza grave, e at o triplo se resulta a morte. (Includo pela Lei n¼ 12.653, de 2012). Ainda no h forte Doutrina sobre o tema, mas entende-se que o sujeito ativo, no caso, seria o responsvel pelo estabelecimento. de se ressaltar que a conduta somente ser tpica no caso de se tratar de atendimento EMERGENCIAL. A exigncia no precisa ser, necessariamente, de garantia financeira, pode se tratar de exigncia de preenchimento de formulrios administrativos, de forma que se verifica que o tipo penal pretende abarcar uma gama elevada de condutas. Percebam que o ¤ nico traz causa especial de aumento de pena, elevando- se a pena aplicada at o DOBRO no caso de LESÌO GRAVE e at o TRIPLO, no caso de MORTE. 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.3.7!Maus-tratos Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a sade de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilncia, para fim de educao, ensino, tratamento ou custdia, quer privando-a de alimentao ou cuidados indispensveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correo ou disciplina: Pena - deteno, de dois meses a um ano, ou multa. ¤ 1¼ - Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Pena - recluso, de um a quatro anos. ¤ 2¼ - Se resulta a morte: Pena - recluso, de quatro a doze anos. ¤ 3¼ - Aumenta-se a pena de um tero, se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Includo pela Lei n¼ 8.069, de 1990) O crime de maus-tratos um crime PRîPRIO (s pode ser praticado por quem detenha a guarda ou vigilncia da vtima). Tutela-se, aqui, a sade e a vida da pessoa sob guarda ou vigilncia de outrem. O elemento subjetivo exigido o dolo, devendo haver A FINALIDADE ESPECIAL DE AGIR (Dolo especfico), consistente NA INTENÌO DE EDUCAR, ENSINAR, TRATA OU CUSTODIAR. No se admite, obviamente, na forma culposa. O tipo objetivo (conduta incriminada) PLURINUCLEAR, ou seja, o crime pode ser praticado de diversas maneiras diferentes: ü! Privar de alimentao ü! Privar de cuidados indispensveis ü! Sujeitar a trabalho excessivo ou inadequado ü! Abusar dos meios de correo ou disciplina Assim, se o agente, mediante alguma destas condutas, expe a perigo de leso ( sade ou vida) pessoa sob sua guarda, e o faz, COM A INTENÌO especfica prevista no tipo penal, comete o crime em tela. CUIDADO! Este crime no se confunde com o crime de tortura! No crime de tortura necessrio que a vtima seja submetida a intenso sofrimento (fsico ou mental) e a inteno do agente dever ser a de torturar, ou seja causar sofrimento excessivo com a finalidade especfica de obter alguma declarao da vtima, para simplesmente demonstrar poder, etc. Ou seja, SÌO CRIMES BEM DIFERENTES! 47991593487 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 12 DIREITO PENAL P/ AGEPEN-CE (2017) Ð AGENTE PENITENCIçRIO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo O momento da consumao varia conforme cada uma das modalidades de conduta possveis. Se a conduta for comissiva (praticar alguma leso), o crime se consuma com efetiva ocorrncia da leso, podendo haver tentativa, em razo de ser o crime plurissubsistente, ou seja, possvel que o agente venha a ser impedido de consumar o delito no momento em que estava prestes a pratic-lo. Em se tratando de conduta omissiva, no h possibilidade de tentativa (deixar de alimentar, deixar de prestar cuidados bsicos, etc.). A Doutrina majoritria exige, ainda, que no caso de Òdeixar de alimentarÓ a conduta seja HABITUAL, ou seja, deve ocorrer frequentemente, no configurando o crime o castigo de Òdeixar sem jantarÓ, por exemplo. Os ¤¤ 1¡ e 2¡ trazem hipteses nas quais a conduta do agente acaba por causar leses graves ou morte. No primeiro caso (leses graves), a pena ser de 1 a 4 anos. No segundo
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