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A Idade Média e a Divisão da História

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Aula 1- Media Tempestas
A Idade Média é um período como outro qualquer e assim deve ser estudado, cuidando de suas especificidades. Cada momento é um momento, são 1000 anos de História, que não devem ser estudados como um grande bloco que ficou no meio.
Divisão da História Tradicional
História Antiga ( +/- 3000 anos a.C. até 476.
Idade Média ( 476 até 1453 – Tomada dos Turcos da cidade de Constantinopla.
Idade Moderna ( 1453 até 1789 – Queda da Bastilha
Idade Contemporânea ( 1789 até os dias atuais.
E aí vem: esta é a divisão da história que nós utilizamos, não é? Será? Qual era nós vivemos hoje: Contemporânea? E se daqui a 20 anos fizerem um congresso de História e se chegue ao consenso de que desde o nascimento do Jobs e do Gates o mundo estaria em uma nova era: a informatizada. O que faz você? Se lamenta, pois sempre imaginou que era contemporâneo e não é mais? Não, você entende que seu tempo, o momento em que você vive é sempre contemporâneo. Assim é olhar o passado, os marcos são inventados, definidos. E por que nós os utilizamos em pleno século XXI? Simples: Eles são didáticos, bons de entender. Agora, quando um modelo vira regra, aí nós temos um problema, e por isso, agora precisamos mergulhar no tempo medieval.
Antigo ( Que existiu outrora.
Médio ( Que está no meio, entre dois.
Moderno ( Dos nossos dias, atual, que está em moda, do tempos mais próximos a nós, novo.
Observe bem, pois não parece uma divisão muito imparcial: o que ficou, o quanto o homem cresceu, evoluiu, mas ficou no passado, o que está no meio? O inominável, o que não vale a pena prestar atenção, e o novo, o recente, o que está na moda. Essa leitura não é acidental. O modelo que adotamos hoje é um modelo de características iluministas, dos pensadores da razão do século XVII e XVIII, daqueles que vinham anunciar o “moderno”, resgatar o que havia de bom na antiguidade e negar todas as praticas do período que os antecedeu. Repare nos nomes: Movimento Iluministas X Idade das Trevas, não é um acidente.
O desafio é justamente fugir deste imbróglio, fugir dessas definições menores, tentar pensar nisso de maneiro um pouco mais complexa e, a partir daí, seguir o passeio que faremos pela historia. Muito antes da “queda”, o Império Romano já passava por profundas transformações. A tentativa de Diocleciano em estabelecer uma tetrarquia em 293 é denominada por muitos autores de processo de fragmentação do Império Romano. Os poderes locais cada vez mais resistiam às práticas de dominação romana e as disputas entre os diversos centros apareciam de maneira cada vez mais intensa. Nesse momento o Império tinha dois grandes centros: Ravena (cidade próxima a Roma) e Constantinopla (atual Istambul na Turquia) e daí vem a ideia de divisão de Ocidente e Oriente – centros de poder Ocidental em Roma e Oriental em Constantinopla. Essa é divisão base para separarmos nossos estudos em Idade Média Ocidental, pois nos concentraremos nas fronteiras do Império Romano do Ocidente.
Nesse período, já se nota um importante processo de ruralização no império, com as cidades perdendo importância, o comercio decaindo e um aumento de relações de poder estabelecidos no campo. Apesar desses traços, a historiografia coloca seu marco na perda da coroa de Romulo Augusto, em 476, tentando criar a figura dos grupos que “invadem” o Império como os causadores do seu fim.
Edward Gibbon foi um historiador importante no século XIX, talvez um dos primeiros a quebrar linhas positivistas até ali presentes e indiscutíveis na forma de fazer história. No entanto, suas concepções bebiam diretamente na noção de buscar os motivos da queda do Império Romano, elegendo culpados que teriam causado este “dolorido” fim. Ele defende, em seus textos, que o poder da igreja contribuiu para queda do Império Romano. Na sua hipótese, a presença do cristianismo fragilizou o posicionamento do imperador e fez esfriar a verve bélica romana, propiciando uma quebra na estrutura cultural que garantia ao imperador romano sua própria noção e identidade. Como resultado teríamos um caos politicas que, não podendo ser contido, facilitaria a entrada de grupos militarmente mais fracos no Império.
Quando se estuda o cristianismo, de fato, notamos que tem uma relação direta com a divisão proposta por Deocleciano, uma vez que além das medidas administrativas, ele buscou também a lógica de criar uma nova identidade para o Império pela religião, mas com um viés voltado para os deuses militares de Roma. Quando uma geração depois, um dos Césares da Tetrarquia, apoiado pelo ocidente, entra em Roma e é aclamado como o novo Imperador, mas nega as festas “pagas” e se dedica a contemplação como um cristão, entendemos que é uma continuidade da política de Deocleciano, mas dialogando com outro grupo, as classes médias romanas, muito cristianizadas, e com os bispos orientais, senhores poderosos naquele momento. Então, discordamos de Gibbon, tal qual Le Goff, Marc Bloch ou Peter Brown, que consideram que o cristianismo não é motivo, mas consequência dos modelos de organização presentes no Império Romano. Marc Bloch tem uma frase muito feliz: “Não é possível que, ainda hoje, pessoas acreditem que a vastidão do Império Romano era representada culturalmente por meia dúzia de propostas filosóficas vindas de algumas ilhotas do espaço de Peloponeso”. Essa ideia de uma cultura greco-romana estabelecida, que dá, a noção deu uma centralidade do Império, não existe. O Império em si tem várias línguas, vários governos e varias formas ao longo de sua historia de criar a ideia de ser romano. Quando o Império no século I buscou o helenismo trouxe, por exemplo, muito mais do que uma influencia grega. Quando encontramos figuras como os judeus, que ganharam importante notoriedade dentro do mundo romano, entende-se que a estrutura romana tende à absorção, e não a negação para privilegiar alguns aspectos. As disputas de poderes podem transformar o outro em inimigo ou modelo (veja o Tácito que passei para fazer como atividade e reparem como o Germano é um modelo para lembrar o que o romano tinha perdido). Não tem sentido entender a Idade Média como um tropeço estranho, uma queda tão vertiginosa do mundo e as trevas se abatendo sobre o Mundo. Ainda que entendamos um Império Romano fragilizado pelas suas crises internos, imaginar que ele é tomado de assalto pela chegada de novos grupos bárbaros que vão acabar com toda a noção é esquemático. Roma não morre, mas é uma sociedade que vem tentando a manifestar a fragmentação que faz parte da sua estrutura a bastante tempo. O marco da chegada a Idade Média é uma escolha didática para explicitar essa transformação.
Na Idade Média nem sempre houve castelos, eles são um fenômeno dos séculos XIII/XI, com o crescimento das cidades. Outra ideia é a de que, na Idade Média, quem fosse contra o cristianismo morria na fogueira. Isso é falso. A Idade Média só teve fogueira no seu período tardio, quando a Igreja se fortaleceu (sim, ao longo da Idade Média ela não foi a única e cruel dominadora). A Igreja, ao longo da Idade Média, estava em formação e passou a ser Católica Apostólica Romana no século XIII, além de só conseguir poderio para escolher seus membros em torno do século XII. A Inquisição em si é um fenômeno gigantesco dos séculos XV e principalmente XVII e XVIII, na modernidade. De fato, a Igreja que se apoiara em Roma com o fim do governo Ocidental vive um duro golpe ao longo da Primeira Idade Média. Por que será que imaginamos uma Igreja tão poderosa na Idade Média? Por conta dos escritos medievais, é um período em que a preocupação com registros de "oficialidade" governamental, muito presente em Roma, perdeu prestígio. A valorização do prestígio militar se impunha ao intelectual em seu modelo mais ruralizado. A Igreja, em especial nos espaços dos mosteiros, não só guardava os documentos, mas principalmente os copiava. O filme O nome da Rosa, que reflete a preocupação da Igreja em controlar o que se lia, já ilustra o período da Baixa Idade Média,após o nascimento de Universidades, período no qual o controle dos escritos se faz fundamental. Na maior parte do período é o episcopado (elite eclesiástica) que tinha o interesse na educação greco-romana e, por conta disso, foi seu guardião e reprodutor. Esse fato nos dá, claro, um tipo de voz principal - o da Igreja - não temos como conhecer as outras vozes por sua manifestação, não houve registro e, por isso o necessário cuidado ao ler os documentos medievais. Os bispos tinham na Idade Média, desde o seu início, um poder singular. Mas, para pensar na questão não podemos deixar de pensar em um aspecto vital: Quem é o bispo? Alguém nasce na Igreja? São sim, de fato, membros das elites locais!
De onde surge a noção de trevas para Idade Média? Foi cunhado pela historiografia inglesa entre o século V e o XII, uma vez que a partir daí tivemos a formação das universidade e o crescimento das cidades. A lógica iluminista inglesa pensava, em especial, na produção intelectual europeia ocidental ao longo desse período. A erudição na Idade Média foi caracterizada de maneira a afirmar que o grande intelectual não é o que inova, mas principalmente pelo domínio dos conhecimentos já produzidos. Mais erudito é aquele que mais conhece, daí teria se afirmado uma ideia de estagnação intelectual, incapacidade de novas produções, posição que precisa ser cuidadosamente relativizada quando estudamos o período com um novo apuro. A pressão iluminista, valorizadora da razão, buscava negar os conhecimentos medievais, descaracterizá-los como algo retrógrado e que deveria ser combatido. Foi a era da razão que cunhou a ideia de que o homem devia buscar o que ficou na Antiguidade, e esquecer aquele período de trevas e estagnação que teria sido vivido. O interessante é que no século XIX a razão entra em crise. Os processos de cidades empobrecidas trazem na literatura o fenômeno do romantismo. Os cavaleiros andantes ganham novas roupagens, seriam os homens de honra e de verdade que se perderam com o mundo moderno. Um autor inglês chega a afirmar: se a Idade Média foi o período das trevas, sem duvida foi o que teve mais bela e mais romântica noite da humanidade. Fadas e princesas ganham formas. No romance brasileiro, o Guarani, o índio Peri tem as características e honra de um cavaleiro medieval idealizado: ele respeita Ceci, luta pelos seus pais, é corajoso, forte, é principalmente fantasioso. Nesse momento se afirmava a Idade Média do mito de formação das nações, lembradas para mostrar passados gloriosos: Franceses buscam Carlos Magno; Alemães, Oto I; Ingleses, Alfredo X e assim por diante. A Idade Média não é das damas e dos cavalheiros, e também não é a Idade das Trevas. Como historiadores, não devemos sequer compreender um corte temporal de mil anos como algo linear que pode ser definido em poucas palavras. O nosso desafio como historiadores é justamente conhecer a Idade Média como um processo longo, cheio de nuances e características específicas em cada um dos seis períodos e espaços.
Media Tempestas significa o próprio tempo daquele período, não pelo sentido do Médio, que é como já vimos, uma leitura posterior, mas é a ideia de que aquelas populações, os períodos em que eles viviam, tinham-se outras noções e outras interpretações de tempo que são muito diversas das utilizadas por nós. Quer ver: Que dia é hoje? Tem certeza? Pense que você está no calendário Gregoriano e vive sobre a ditadura do tempo, a hora, o minuto, às vezes os segundos, são importantes e você marca seus compromissos, comemora com base no tempo. Esse controle de tempo no campo é igual, então, pense em uma sociedade rural. Não há noção de tempo no nosso modelo de calendários e tudo estará diretamente relacionado com a colheita, plantação. O tempo do medievo não é o espaço da Igreja ou do meio, é o período do contemporâneo àquele momento e assim devem ser entendidos e discutidos.
Um dos principais medievalistas brasileiros, Hilário Franco Jr, disse: “A Idade Média para os medievais. Mas, enfim, que conceito tinham da “Idade Média” os próprios medievos? Questão difícil de ser respondida, apesar dos progressos metodológicos das últimas décadas. A resposta, mesmo provisória e incompleta, precisaria ser matizada no tempo e no espaço, e ainda considerar pelo menos duas grandes vertentes, a do clero, elaborada a partir de interpretações teológicas, e a dos leigos, presa a concepções antigas, pré-cristãs. Simplificadamente, essa bipolarização quanto à História partia de duas visões distintas quanto ao tempo. A postura pagã, fortemente enraizada na psicologia coletiva*, aceitava a existência de um tempo cíclico, daquilo que se chamou de “mito* do eterno retorno”. Ou seja, as primeiras sociedades só registravam o tempo biologicamente, sem transformá-lo em História, portanto sem consciência de sua irreversibilidade. Isso porque, para elas, viver no real era viver segundo modelos extra-humanos, arquetípicos. Assim, tanto o tempo sagrado (dos rituais) quanto o profano (do cotidiano) só existiam por reproduzir atos ocorridos na origem dos tempos. Daí a importância da festa de Ano-Novo, que era uma retomada do tempo no seu começo, isto é, uma repetição da cosmogonia, com ritos de expulsão de demônios e de doenças. Tal concepção sofreu sua primeira rejeição com o judaísmo, que vê em Javé não uma divindade criadora de gestos arquetípicos, mas uma personalidade que intervém na História. O cristianismo retornou e desenvolveu essa idéia, enfatizando o caráter linear da História, com seu ponto de partida (Gênese), de inflexão (Natividade) e de chegada (Juízo Final). Portanto, linear mas não ao infinito, pois há um tempo escatológico* — que só Deus conhece — limitando o desenrolar da História, isto é, da passagem humana pela Terra. Contudo, se o cristianismo reinterpretou a História, não pôde deixar de sentir seu peso, inclusive da mentalidade* cíclica, daí a liturgia cristã basear-se na repetição periódica e real de eventos essenciais como Natividade, Paixão e Ressurreição de Jesus: ao participar da reprodução do evento divino, o fiel volta ao tempo em que ele ocorreu. Ou seja, a cristianização das camadas populares não aboliu a teoria cíclica, pelo contrário, influenciou o cristianismo erudito e reforçou certas categorias do pensamento mítico. Em virtude disso, pelo menos até o século XII os medievos não sentiam necessidade de maior precisão no cômputo do tempo, o que expressava e acentuava a falta de um conceito claro sobre sua própria época. De maneira geral, prevalecia o sentimento de viverem em “tempos modernos”, devido à consciência que tinham do passado, dos “tempos antigos”, pré-cristãos. Estava também presente a idéia de que se caminhava para o Fim dos Tempos, não muito distante. Espera difusa, que raramente se concentrou em momentos precisos. Sabemos hoje que os pretendidos “terrores do ano 1000” foram uma criação historiográfica, pois não houve nenhum sentimento especial e generalizado de que o mundo fosse acabar naquele momento. Mas c inegável que a psicologia coletiva* medieval esteve constantemente (ainda que com flutuações de intensidade) preocupada com a proximidade do Apocalipse. Catástrofes naturais ou políticas eram freqüentemente interpretadas como indícios da chegada do Anticristo. Havia uma difundida visão pessimista do presente, porém carregada de esperança no iminente triunfo do Reino de Deus. Nesse sentido, a visão de mundo medieval trazia implícita em si a concepção de um tempus medium, precedendo a Nova Era. Tempo não monolítico, dividido em várias fases. A quantidade e a caracterização delas não eram, contudo, consensuais. A periodização mais comum, ao menos entre o clero, concebia seis fases históricas, de acordo com os dias da Criação. Como no sétimo dia Deus descansou, na sétima fase os homens descansarão no seio de Deus. Assim pensavam muitos, de Santo Agostinho (354-430) e Isidoro de Sevilha (560-636) até Fernão Lopes (1380-1460). Também teve sucesso uma concepção trinitária da História, surgida no século IX com João Escoto Erígena(ca. 830-ca. 880) e que teve seu maior representante no monge cisterciense Joaquim de Fiore (1132-1202). Para este, a Era do Pai ter-se-ia caracterizado pelo temor servil à lei divina, a Era do Filho pela sabedoria, fé e obediência humilde, a do Espírito Santo (que começaria em 1260) pela plenitude do conhecimento, do amor universal e da liberdade espiritual. Qualquer que fosse a divisão temporal adotada, reconhecia-se que o suceder das fases acabaria com a Parusia, quando a História enquanto tal deixaria de existir.
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