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Renascimento Urbano e as Cruzadas na Idade Média

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Aula 7 - Renascimento Urbano
Nesta aula, chegaremos ao que Jaques Le Goff chama de bela Idade Média, uma Idade Média que inicia um longo e contínuo processo de reformas urbanas. É a Idade Média dos castelos, das cortes, dos cavaleiros.  A Idade Média do Imaginário. Devemos ter um pouco de cuidado nesta análise, seu processo tem muitos aspectos que se misturam e as visões apaixonadas, como sempre, devem ficar um pouco de lado. Esta Idade Média é a mesma que vai dialogar com os exércitos profissionais, com as disputas políticas entre senhores, com a Reconquista Ibérica, a organização dos normandos e as pressões da Igreja para se solidificar.
Vamos trabalhar nesta aula estes elementos tentando marcar como estes aspectos que falamos há pouco influenciam-se mutuamente, criando um novo espaço. Le Goff chama os séculos XI e XII como os séculos do Renascimento Urbano, mas a transição entre estes séculos é marcada por um movimento que ficou bastante famoso: as Cruzadas. A tomada de Jerusalém durante a Primeira Cruzada em 1099, de um manuscrito medieval.
Cruzadas
Quando começamos a estudar as cruzadas ouvimos que é um movimento em que os cristãos vão lutar para recuperar a Terra Santa.  É constituído um exército de cruzados que vão lutar para conseguir expulsar os infiéis. O argumento cristão afirma que: Aleixo Comeno envia uma carta para Urbano II, dizendo que estava em apuros, em uma situação bastante complicada com os turcos que estavam avançando, tomando territórios, ocupando o braço de São Jorge (atual espaço da Turquia Ocidental ou Anatólia, e, no momento em que faziam isso ele precisava, urgentemente, de mercenários para que fosse possível manter o domínio e o poder.
Apesar do Cisma em 1054, na disputa pelo direito de quem seria a verdadeira cede da Igreja, o Oriente rompe com o Ocidente, criando o chamado Grande Cisma do Oriente dividindo a Igreja cristã em Oriental e Ocidental, uma com sede em Constantinopla e outra em Roma. Apesar deste Cisma, o Cristianismo não perdia a sua linha de reconhecimento, quando necessário.  A tensão continua mas tudo é um momento, e aí, deixa-se o Cisma de lado, eles são cristãos os outros não.  Isso não é dizer que eles se unem, Aleixo está pedindo exército, pessoas que lutem. Observem o quanto isto é irreal: pelo que vimos, vocês conseguem ver um grande exército?  Conseguem imaginar um sentimento religioso como o central da Europa, um comando capaz de organizar este movimento?  Mais ainda o papa em uma cidade do sul da França participa de um concílio e os reis vão parar de lutar entre si, para andar às vezes meses, para chegar em um lugar inóspito largando tudo?  
Urbano II transforma esse discurso em um discurso de salvar a cristandade no momento em que Urbano II convoca as cruzadas em um concílio no sul da França. Havia poucas pessoas ouvindo o concílio, o que não cria movimento nenhum.  Por mais que se seja nobre, não quer dizer que o poder é automático, segue-se as regras e as formas do momento. Se segue-se as regras e as formas locais, precisamos entender por que a igreja, posteriormente, vai valorizar o discurso de Urbano II, vai justificar que o discurso de Urbano II é o grande significado.  Não é o discurso de Urbano que vai garantir o início das cruzadas. Ser cristão não justifica entrar em uma guerra contra o infiel.  Qual o sentido de se estabelecer esse processo de uma forma intensa? Terra.  Isso não tem tanto a ver com religião.  É claro que a religião pesa, influi, claro que religião é um argumento poderoso.
Quando Urbano II utiliza o termo bíblico para afirmar que "desta terra brota leite e mel" é claro que ninguém pensava nisso literalmente, mas sim é o indicativo de uma terra que é fértil, oferece riquezas. Lembremos que Urbano II não era só um clérigo, para ser Papa ele era um senhor, alguém com família de representação social e que garantiu seu poder também dentro da instituição religiosa. Ele já tinha, antes do concílio de Clermont, se associado a grupos normandos, novos defensores da Igreja na Península Itálica. Vocês podem pensar fé?  E eu respondo: Marketing.  Boa parte da história das cruzadas é construída depois de conquistas, de organizações cristãs e dão este tom fatalista.  O que temos de fato é: o contexto conturbado europeu suscita uma série de combates, disputas constantes pela terra, além de um número enorme de cavaleiros sem terra, buscando se fortalecer, se organizar.
A Igreja vive um momento conturbado, seu principal apoio era a monarquia germânica, que após os episódios relacionados às disputas de Henrique IV da Germânia, que chega a ser excomungado por Gregório VII, tem sua posição estremecida pelo projeto que vinha se desenrolando de que a Igreja tivesse seus cargos afastados das disputas políticas locais. Duas questões:
A Igreja busca controlar os seus cargos, denuncia a venda de cargos eclesiásticos e sua utilização política por reis e senhores feudais, a tentativa é de organização institucional, negando esta interferência política.  Este projeto terá uma série de idas e vindas sendo finalizado somente após a Questão das Investiduras e os concílios lateranenses, que falarei um pouco mais à frente.
A excomunhão não é um processo somente religioso, ela interfere no jogo político, uma vez que a retirada da comunidade abre a possibilidade da contestação do direito de fidelidade.
Fora isso as guerras constantes deixavam muitas vezes clérigos em condições opostas e a tentativa que aparece quando Urbano II conclama as cruzadas é oferecer uma opção: vocês podem conseguir terras, enriquecer, e além disso terem seus pecados perdoados, uma oportunidade e tanto.
Os primeiros grupos que se direcionam são peregrinos e maltrapilhos, seguidos de mercenários normandos que haviam recentemente vencido lombardos e territórios islâmicos na Sicília.  São as vitórias que criam um fluxo contínuo, é o enriquecimento que leva ao interesse nobres e reis.  As cruzadas inegavelmente transformam o quadro social e econômico europeu.
A justificativa reside sobre a noção de guerra justa, de que o inimigo está sendo vencido pelo apoio de Deus e, melhor, seus homens estão enriquecendo, já que os primeiros cinquenta anos de cruzadas permitem o estabelecimento de espaços cristãos no Oriente. Com isso, há o enriquecimento de muitos senhores e seu maior efeito é, sem dúvida, que o domínio de territórios no mediterrâneo oriental insere a Europa no rico comércio islâmico.
Nestes cinquenta anos e pelos próximos séculos o comércio passaria por uma enorme transformação, pois as cidades crescem a reboque deste movimento, novas rotas são estabelecidas, ouro e prata presentes na rota saariana aumentam sua chegada na Europa. Os mílites, cavaleiros, passam a ter duas formas de enriquecer: nas guerras com o botim e as terras e nos torneios que alegravam as cidades.  Senhores cobravam pedágio e a tecnologia desenvolvida nos mosteiros e o clima favorável permitem no século XII e XIII um incremento da produção, temos mais alimentos.
Os castelos crescem, as muralhas se espalham e a Igreja reforça o seu poder, seja pelas suas ordens militares, como os templários, seja pelas doações e pelas terras que obtêm no Oriente.
Cidades Reformadas
Cidades crescendo e o processo é contínuo, mais comércio, mais pessoas interessadas, mais trocas, mais a educação é valorizada, mais artesãos têm trabalhos, mais sofisticados ficam os alimentos, neste contexto crescem os romances de cavalaria, as odes aos grandes cavaleiros. Vamos ver um trecho de Excalibur (as crônicas do círculo arturiano crescem neste momento.)
Reparem que o comércio de relíquias cresce, brinca-se que se juntarem todos os pedaços da cruz de Cristo que foram vendidos ao longo dos séculos devemos ter pelo menos uma dezena de cruzes.  Da mesma forma o graal fora buscado, a cruz e outros mais. A peregrinação para Jerusalém e espaços de santos se torna parte integrante da mobilidade europeia, aliás o caminho de São Tiago de Compostela surge nesta época. Nenhuma transformação, no entanto,vem incólume, ela é viva, é densa, traz transformações as mais diversas. E as cidades que são o lugar que demonstram o crescimento são sem dúvida o maior temor da Igreja.
Os monges, pouco afeitos a espaços de concentração humana negam a cidade, insistem que aquele é o lugar do pecado, da dor, o espaço em que o homem se perde.  Afinal a cidade é o espaço dos jogos, das tabernas, das danças, das prostitutas, dos judeus, dos mendigos, dos leprosos...  A cidade é o espaço mais sujo, mas também o mais rico. O filme Coração de cavaleiro faz uma analogia muito interessante com os estádios de futebol. Vale a pena para nós pensarmos a respeito. A cidade é, aliás, o lugar em que os debates crescem, novas ideias surgem, inclusive a cidade é sem dúvida o lugar da heresia.
Falbel - Heresias Medievais 
Os valdenses Origem e caráter da heresia. A riqueza e o poder da Igreja eram frequentemente fonte de graves males, e os hereges da época extraíam disso argumentos para suas principais acusações contra ela. 
Cátaros - Os albigenses ou cátaros 
A heresia albigense foi a que reuniu maior número de adeptos na Baixa Idade Média e a que teve maior repercussão naquela época. Os cátaros distinguiam-se das seitas desse período pelo caráter dualista de sua doutrina.
Os últimos exemplos nos dão uma ideia do estado de espírito das cidades medievais e dos desafios enfrentados pela Igreja.  Neste movimento, as ordens mendicantes foram sem dúvida grandes transformações no momento medieval. Se de um lado as cidades representavam a concentração dos ouvintes da Igreja, seu clero malformado, fragilizado nos espaços seculares não demonstravam força para combater os pensadores heréticos.  A contestação subia de maneira contínua e é neste momento que importantes movimentos passam a fazer parte do cotidiano. 
Dominicanos
Os primeiros discursos da Igreja sobre o crescimento das cidades nos séculos XII e XIII afirmam que a cidade é o lugar que o bom cristão deve fugir, que os novos palácios são covis de cobras, gente querendo afastar o homem da cristandade. Caros, a cidade é o local da discussão, em que preceitos religiosos podem ser relidos como vimos há pouco, o poderio que a Igreja foi construindo de maneira lenta e constante ganha uma possibilidade real de ser contestado. Uma Igreja que tenta se descolar de poderes seculares. Uma Igreja contestada nos meios urbanos, mas uma Igreja que tem uma tradição enraizada, mesmo em práticas confusas, mas que dão reconhecimento. Senhores que direcionam sempre parte de seus filhos para Igreja para participar daquele poder. Igreja que ao mesmo tempo é a principal conselheira de senhores e reis.  Assumem posições de fisco e de juízes em diversas cidades e feudos.
Vemos neste momento ser construída de maneira cada vez mais intensa a noção de uma Ecclesia Universalis, os discursos que queriam fundar uma nova Roma, reestruturar o herdeiro do Império, se tornam cada vez mais: Nós, Igreja, somos Deus vivo, somos os descendentes de Cristo na Terra.  Reforçam os discursos de que Roma é a maior de todas as sedes episcopais, rompendo assim com o Oriente. As reformas chamadas Gregorianas desejam que a Igreja tenha o controle sobre seus cargos. Quem indicava os principais cargos das Igrejas eram reis e senhores. Os reformadores organizados em uma nova Ordem Cistersienses e ordens que buscavam reestruturar a origem da igreja Clunyassenses concordavam em um termo, o papado deveria ser o centro do poder. No seu entorno é constituído um colégio de cardeais, que deveriam ajudar a organizar a Igreja, bispos em cada sede passavam a obedecer a um bispo local, que se dirigia ao colégio de cardeais. Era a institucionalização e o poder temporal. Os reis não aceitam em um primeiro momento.   Os conflitos são muitos, ameaça a execução de dívidas da Igreja, tomadas de palácios episcopais, desterro de bispos e do próprio Papa. 
Na construção deste processo as cidades permaneciam sendo um enorme desafio e o primeiro grupo a levar as práticas reformistas e disputar as posições com as linhas sociais heréticas e discursivas são os Dominicanos, os chamados frades pregadores. Com as suas pregações em praça pública, vidas de santos passaram a fazer parte do cotidiano eclesiástico, dando reconhecimento a estes clérigos que não trataram a cidade como inimigo, mas sim como foco de sua luta contra o mal.  Quer dizer, a cidade é o espaço da luta do homem contra a perdição. Seus clérigos deveriam se recolher fora da cidade retornando aos mosteiros após a pregação. 
Franciscanos
A ordem Franciscana é sem dúvida uma ordem diferente.  Se pensarmos em sua prática, com iletrados, mendicantes, cuidando de marginais, pouco notamos uma relação direta com a Igreja do Período.  Tanto que o próprio Francisco de Assis foi acusado em sua cidade de origem de ser herético, antes de ser aceito por Inocêncio III. O movimento Franciscano nasce dentro do Centro Urbano, na Itália, em meio às cidades comerciais.  Pregava o amor e a caridade, e principalmente a necessidade de imitar a Jesus em sua pregação.  Foi aceito pela Igreja em um momento conturbado em que cresciam os movimentos heréticos, e inclusive foi considerada uma surpresa sua aceitação pela Igreja.  A justificativa de que o padre sonhara que um homem sujo e maltrapilho viria e reformaria a Igreja tem menos sentido do que lembrar que a pregação franciscana adentrava em um dos maiores problemas da Igreja: sua inserção nas cidades. A ordem dos frades menores, assim como sua correspondente feminina fundada por Clara de Assis, tinha na caridade e atuação junto aos marginais dar ressignificação à missão evangelizadora presente nas cidades medievais.
Os concílios de Latrão são uma consequência destas disputas, são a tentativa de reordenar este conjunto de práticas.  Vale lembrar que a convocação dos dois primeiros tem uma ligação imediata com a necessidade de legitimar o próprio papa, mostrando que estamos longe de um idealizado contexto religioso.  A Igreja no seu cerne representa todas as disputas que encontramos nos demais espaços europeus.
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