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Império Bizantino: Questão Iconoclasta

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Aula 7 - O Império Bizantino dos séculos VIII – XI
Vimos na aula três que o Império Bizantino, após a separação do lado Ocidental, passou por momentos de grande desenvolvimento, recuperando inclusive, sob o governo de Justiniano, áreas conquistadas pelos povos germânicos. A partir do século VIII, no entanto, há um processo de retrocesso. O Império Bizantino não consegue manter suas fronteiras e vinha continuamente sendo assediado pelas novas forças emergentes no período. A dinastia reinante no século VII foi a Heráclida que tentou, com seu último governante, aumentar a tributação da aristocracia local, o que gerou crescente insatisfação. Justiniano II acabou sendo deposto no ano de 711 e institui-se uma nova dinastia: a Isáurica. Foi um período de grandes problemas externos, oriundos de várias frentes como os árabes e os búlgaros.
A Questão Iconoclasta
Não é possível tratarmos da Questão Iconoclasta, ocorrida no Império Bizantino do século VIII, sem entendermos seus antecedentes, conhecermos alguns elementos de História da Arte e, sobretudo, dominarmos o significado do conceito ícone. A palavra ícone tem sua origem no grego eikon, termo que pode ser traduzido grosseiramente por imagem e que adquiriu expressividade na representação religiosa. Em outras palavras, ícone seria a imagem, a projeção que é feita de alguma situação ou de alguém. No que diz respeito à arte religiosa, temos referências de que os primeiros cristãos tinham o costume de adornar as catacumbas onde se reuniam nas fases de perseguição, com símbolos. Um dos símbolos mais utilizados era do peixe, que significava o reconhecimento dos seguidores de Jesus.  
Os Antigos Cristãos Utilizam Símbolos
A palavra peixe em grego significa ICHTHYS, cujas iniciais poderiam ser traduzidas como IESUS CHRISTUS THEOS YIOS SOTER (“Jesus Cristo, filho do Deus Salvador”). Temos ainda relatos da existência de algumas esculturas e estátuas retratando santos, anjos, ainda nos séculos II e III. Em termos de História da Arte, as cores dos ícones possuem significados especiais e não são meras escolhas aleatórias. Toda vez que era empregado o azul, a intenção era mostrar o transcendental, o imanente; o verde, a natureza, a criação de Deus; o branco mantém sua significância, a paz, a harmonia; o vermelho, a cor de maior humanidade, representa a concepção de martírio. Era muito comum também a utilização do dourado para destacar roupas, coroas e bordas.
As Primeiras Basílicas
Devemos destacar também que não houve, desde os primórdios, um consenso sobre a pertinência ou não dessas representações. No caso das primeiras basílicas, o ponto era se deviam decorá-las e como. Segundo o historiador da arte Gombrich: “Num ponto quase todos os primeiros cristãos estavam de acordo: não devia haver estátuas na Casa do Senhor. As estátuas pareciam-se demais com as imagens esculpidas de ídolos pagãos que a Bíblia condenava. Colocar uma figura de Deus, ou de um dos seus santos, no altar parecia estar inteiramente fora de questão. Pois, como iriam os míseros pagãos recém-convertidos à nova fé aprender a distinguir entre suas antigas crenças e a nova mensagem, se vissem tais estátuas nas igrejas? ”.
Em relação às pinturas, houve, inicialmente, uma tolerância maior dada à sua funcionalidade lembrada, sobretudo, pelo papa Gregório Magno no final do século VI. Ele: “(...) lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que muitos membros da Igreja não sabiam ler, nem escrever, e que para ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um livro ilustrado para crianças. Disse ele: A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler.”.
Ideias Monofisistas
Como vimos na aula três, em algumas áreas do Império Bizantino, avolumou-se o número de seguidores das ideias monofisistas. Um de seus principais líderes, Severo de Antioquia, era visceralmente avesso a qualquer representação de Cristo, de Maria ou dos santos e suas ideias foram seguidas por muitos indivíduos. Outro dado curioso sobre o nascimento e desenvolvimento da Iconoclastia, ou seja, movimento contra a criação e adoração de imagens sagradas, é sua localização geográfica. A Iconoclastia foi muito mais intensa em regiões fronteiriças com comunidades islâmicas. Por serem contrários a essa prática, conforme vimos na aula cinco, muitos imperadores bizantinos, em nome de uma boa convivência com os árabes, “fecharam os olhos” para o movimento.   
A Questão Iconoclasta
Como observamos, a questão da Iconoclastia (contrária à criação e adoração de imagens) e da Iconofilia (favorável à criação e adoração de imagens) se arrastava há séculos no Império Bizantino com revezes e vitórias para os dois lados. No século VIII, no entanto, a questão ganhou um novo e expressivo capítulo que passou a ser denominado Questão Iconoclasta. 
Já estudamos, no Império Bizantino, que o governante gozava de um poder bastante extenso, o Cesaropapismo. Na prática, o governante assumia o poder temporal e religioso ingerindo, inclusive, questões doutrinárias. No ano de 730, o imperador Leão III estabeleceu que não deveria ocorrer nas terras do Império qualquer tipo de adoração às imagens icônicas. Seguiu-se uma verdadeira caça aos iconófilos e seus símbolos, com a destruição de grande quantidade de ícones, pinturas, enfeites, sendo uma lamentável perda cultural. O imperador seguinte, Constantino V, após o Concílio de Hieria do ano de 754, oficializou a Iconoclastia. Todos os que se mantinham idolatrando as imagens foram perseguidos e punidos, particularmente os religiosos.
A opção da Igreja pela Iconoclastia
Essa opção pela Iconoclastia foi totalmente unilateral, ou seja, os bispos ocidentais não participaram do Concílio e nem concordavam com a decisão. Mais uma vez a Igreja Ocidental e a Oriental discordavam sobre questões dogmáticas. Foi o ensejo para um pequeno Cisma, só amainado 23 anos depois quando a Imperatriz Irene aprovou o dogma da Iconofilia. É necessário salientar que outros Concílios e Imperadores posteriores voltaram atrás nessa decisão, afastando cada vez mais os lados ocidental e oriental da Igreja, a ponto de culminar no rompimento final, como veremos à frente.
As “outras” causas da Questão Iconoclasta: “Muitos estudiosos entendem que a questão da adoração ou não de imagens transcendiam em muito a problemas meramente dogmáticos. Um dos motivos seria a preocupação com a grande ingerência da Igreja dentro do Império. Ela adquirira grandes propriedades. O número de mosteiros se ampliara, logo sua influência junto ao povo também. Além disso, a riqueza e a influência que os mosteiros amealharam eram cobiçadas pelos imperadores. Como grande parte desse patrimônio era oriunda da confecção e venda dos ícones, uma maneira de enfraquecê-la era proibir sua fabricação e circulação comercial, além de confiscar propriedades dos iconófilos. Outra teoria defendida refere-se a questões de ordem administrativa. Em algumas áreas do Império Bizantino, ou ainda em seus limites, existiam comunidades seguidoras do Islamismo e do Judaísmo, opostas à prática da adoração de imagens. Abolir tal dogma seria um caminho plausível para a convivência e até mesmo dominação desses povos. De qualquer forma, muito dessa tradição se perdeu, ganhando novo fôlego apenas no século XII quando o emprego de materiais mais sofisticados se tornou regra. É dessa época e de períodos póstumos a maior parte dos elementos de que dispomos.  
O Cisma do Oriente
Surge a Igreja Católica Ortodoxa ( O ano de 1054 foi marcante para a história da Igreja Católica. Esse foi o momento do rompimento definitivo entre o lado oriental e o lado ocidental. Surgiram a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa.
A Divergência entre os Dois Lados da Igreja ( Essa data, na verdade, foi apenas o marco para um distanciamento gestado há séculos. Como vimos, em diversas situações, os dois lados da Igreja divergiram e chegaram a apartar-se, mas sempre recuando na separação. A importância desse período,no entanto, encontra-se no fato da volta, ainda que tentada jamais ter ocorrido como outrora.
A Divergência entre as Práticas Religiosos ( Desde a separação do Império Romano, no século IV, os dois lados começam a ganhar contornos muito particulares que, obviamente, se refletiram em sua prática religiosa. O lado oriental foi muito influenciado pela tradição helenística, enquanto o Ocidente, recebeu uma multiplicidade de elementos.
Embora a Igreja Oriental guardasse respeito à autoridade de Roma como centro religioso, a política de seus imperadores acabava sendo paradoxal. Como harmonizar o respeito a Roma e o Cesaropapismo, ou seja, um imperador que ingeria na dogmática? Outro ponto de divergência foi a citada Questão Iconoclasta que jamais fora digerida na porção ocidental.
A Questão Dogmática Emerge
Em 1043, uma nova questão dogmática emerge: dessa vez, sobre a natureza teológica do divino Espírito Santo. O patriarca da capital do Império Bizantino, Miguel Cerulário, bem como todos os membros da Igreja Bizantina, foi excomungado e, em retaliação, o patriarca excomungou o papa Leão IX e os membros do Ocidente. Algumas infrutíferas tentativas de reunificação persistem até os dias atuais. Só para se ter uma ideia, a revogação das mútuas excomunhões só ocorreu a partir da iniciativa do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras I, no ano de 1966.
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