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01 AULA fundamento da filosofia

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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
1 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos de Filosofia 
 
 
 
Prof. Rui Valese 
Aula 1 
 
 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos de Filosofia! 
Nela, estudaremos algumas das principais ideias sobre o surgimento 
da Filosofia e sua relação com o nosso cotidiano. Iniciaremos pelo estudo de 
vários conceitos de Filosofia produzidos por diferentes filósofos. Da mesma 
forma, discutiremos se a Filosofia é um evento grego ou se outros povos 
também foram criadores de pensamento filosófico. Em seguida, trataremos do 
mito e de como a sua superação, para o povo grego, significou a criação de 
uma nova forma de pensar. Finalizaremos tratando das diferentes formas de 
conhecimento e de que maneira a Filosofia está relacionada ao nosso 
cotidiano. 
Está preparado? 
Iniciemos nossos estudos conhecendo o professor Rui Valese e 
entendendo, com a videoaula disponível no material on-line, como ele 
organizou o conteúdo desta disciplina! 
 
 
CONTEXTUALIZANDO 
Qual a utilidade da Filosofia? 
Quase sempre que se inicia uma aula de Filosofia no primeiro dia de 
aula de uma turma de Ensino Médio, alguns alunos costumam fazer essa 
pergunta ao professor. Em alguns cursos de graduação, a pergunta também 
costuma aparecer. Assim, o problema proposto para esse início de aula é “a 
Filosofia tem ou não alguma utilidade?”. 
No final da aula voltamos a conversar sobre isso, certo? Enquanto isso, 
acesse o material on-line para assistir a mais uma videoaula! 
Bons estudos! 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
3 
 
PESQUISE 
 
 
Conceito de Filosofia 
Nosso objetivo, nesta aula, é compreender o conceito de Filosofia, num 
sentido geral para, depois, em diferentes períodos da história da Filosofia, 
compreender o sentido dado por diferentes filósofos e as possíveis 
implicações. 
Inicialmente, vejamos o seu sentido etimológico: 
 
Desta forma, Filosofia significa “amor à sabedoria”. Portanto, o filósofo, 
que é o praticante da Filosofia, é aquele que ama a sabedoria, a busca pelo 
conhecimento. 
O sentido foi pela primeira vez utilizado por Pitágoras que viveu no 
século VI a.C. Segundo Pitágoras, três tipos de pessoas costumavam 
frequentar os jogos olímpicos da antiguidade: 
 Os competidores 
Seus objetivos eram disputar as provas e sagrarem-se campeões. Isso 
porque, quem saía vencedor, era recebido como herói pelos seus 
concidadãos. Algumas provas eram apenas de demonstração. Mas, 
também tinham igual valor. 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
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 Os comerciantes 
Aqueles que iam para comerciar ou fechar acordos comerciais. O objetivo 
desses, nos jogos olímpicos, não era com as competições, mas, como 
outros comerciantes e o público em geral, potenciais compradores de suas 
mercadorias. 
 O público 
Aqueles que iam para incentivar e apoiar os competidores. Também fazia 
parte desse terceiro grupo, os juízes: aqueles que iam julgar os 
competidores e determinar quem era vencedor. 
Para Pitágoras, o público se assemelha aos filósofos, pois não tratam 
o conhecimento como mercadoria, a partir do qual se podem obter vantagens 
(como os mercadores faziam) nem como uma disputa (como faziam os 
competidores). Como o público em geral – e os juízes em particular, que iam 
aos jogos para apreciar e julgar os competidores – o filósofo não vê o 
conhecimento como algo para ser disputado, muito menos comerciado, mas, 
para ser apreciado e julgado. 
Ao longo da História da Filosofia, vários pensadores definiram a 
Filosofia, a partir de como os mesmos desenvolviam seu pensamento 
filosófico. O primeiro que iremos refletir é o de Sócrates (século V a. C.). 
Vamos conhecê-lo? 
 
Sócrates 
Para ele, a função da Filosofia é descobrir a verdade, por meio de um 
método chamado maiêutica, combinada com a ironia. 
O método consistia no seguinte: diante de alguém que afirmasse 
categoricamente a verdade de algo, Sócrates fingia ignorar tal verdade 
(momento da ironia) e passava questionar seu interlocutor. Iniciava-se assim 
o segundo momento (maiêutica), por meio da qual, num encadeamento lógico 
 
 
 
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de perguntas, acabava por colocar seu oponente em situação de admitir que 
suas “verdades” eram frágeis. 
Sócrates acreditava que, de posse da verdade, as pessoas agiriam 
corretamente. 
Os diálogos socráticos foram escritos por seu discípulo Platão, mas 
nem sempre ambos terminavam com alguma solução para o problema inicial 
apresentado. A maiêutica significa “parto de ideias” e o termo foi retirado da 
profissão da mãe de Sócrates, que era parteira. Por essa prática, Sócrates 
incomodava boa parte da população ateniense. Por essa razão, foi acusado 
de corromper os jovens, não acreditar nos deuses e criar uma nova divindade. 
Sua defesa está descrita no diálogo Apologia de Sócrates. Como se 
sabe, Sócrates foi condenado à morte e, apesar dos apelos de alguns de seus 
amigos para que confessasse culpa para escapar da morte, ou mesmo que 
fugisse, preferiu a morte para manter-se coerente com suas ideias. 
 
Platão 
Platão (século V/IV a.C.) partilhava das ideias de seu mestre. No Livro 
X, de A República, onde narra o Mito de Er, Platão atribui dois sentidos 
complementares à Filosofia: o primeiro é de servir de antídoto a toda forma de 
mímesis. Para Platão, as artes miméticas impediriam as pessoas de 
chegarem até a verdade, que são conceitos puros que se encontram no 
Mundo das Ideias. 
Por exemplo: um marceneiro, que constrói uma mesa, realiza uma arte 
mimética. Isso porque, por mais que ele consiga construir uma mesa perfeita, 
essa mesa não será o conceito perfeito de mesa que se encontra no Mundo 
das Ideias, será apenas uma representação dela. A Filosofia é que permite 
distinguir a “mesa-representação” da “mesa-conceito”. 
 
 
 
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O segundo sentido está expresso já no final do Mito de Er, quando 
Platão afirma que a Filosofia é a única maneira que o indivíduo tem de saber 
qual seu destino, para cumpri-lo de acordo ou evitar que o destino que talvez 
não seja tão bom assim se cumpra. 
 
Aristóteles 
O terceiro filósofo que abordaremos é Aristóteles (séc. III a.C.). Sua 
concepção está expressa na obra Metafísica. Para o estagirita, filosofar é algo 
próprio dos seres humanos, pois aspiramos ao conhecimento. Essa aspiração 
nasce do espanto, que em grego se diz tó thaumázein. Esse espanto, no 
entanto, não é o mesmo de medo, pavor, mas de admiração: de querer saber 
aquilo que não se sabe. 
Movido por esse espanto original, o ser humano começa a investigar, 
a querer saber o porquê de cada uma das coisas. 
 
Século XIX – Karl Marx 
Como nosso objetivo não é recensear todos os conceitos de Filosofia, 
daremos um salto até o século XIX e conheceremos um dos pensadores que 
mais contribuíram para o pensamento social: Karl Marx. No texto Teses sobre 
Feuerbach (filósofo alemão e seu contemporâneo), escrito em 1845, Marx 
afirma: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; 
a questão, porém, é transformá-lo”. 
Essa frase já foi interpretada por muitos como uma condenação à 
especulação filosófica e um convite ao ativismo. Porém, a crítica de Marx é a 
um determinado tipo de Filosofia que se resume a investigar o mundo das 
ideias e não se compromete com a transformaçãodo real. Marx não fala 
contra o momento especulativo e investigativo. Até porque ele dedicou grande 
parte de sua vida a entender e fazer entender como o sistema capitalista 
 
 
 
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funcionava. Porém, não se contentava em apenas explicar seu 
funcionamento, mas, lutava por sua transformação. Como consequência de 
suas convicções, foi expulso de vários países europeus e foi impedido de 
entrar em outros tantos. 
 
Século XX 
No século XX, tomemos como referência quatro pensadores: Merleau-
Ponty, Adorno, Heller e Dussel. O primeiro deles cunhou a seguinte definição: 
“A verdadeira Filosofia é reaprender a ver o mundo”. 
Merleau-Ponty, de certa forma, retoma o sentido original do tó 
thaumázein, que é espantar-se com aquilo que vê todo dia como se fosse algo 
completamente novo, original. É estranhar-se em relação à vida cotidiana. 
Suspeitar daquilo que se tornou corriqueiro. 
O segundo, Adorno, afirma que “Quem pensa, opõe resistência”. 
Assim, pensar é uma forma de opor resistência a toda e qualquer forma de 
alienação, de ideologia, de enganação. Quem pensa, reage. Quem não 
pensa, aceita as coisas como se fossem inevitáveis. 
Já a filósofa Agnes Heller nos diz que, com a Filosofia, devemos 
aprender a pensar, viver e agir. Destaca ela três dimensões de nossa 
existência, entendendo que as três são complementares: 
 Dimensão epistemológica: aprender a pensar 
 Dimensão ética: aprender a viver 
 Dimensão política: aprender a agir 
É certo que podemos viver apenas uma delas. Porém, afirma ela, a 
recepção total da Filosofia implica nas três dimensões. 
Enrique Dussel, filósofo argentino radicado no México, não chega a 
elaborar um conceito de Filosofia. Porém, ele elabora um sistema filosófico 
 
 
 
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completo, explica a função da mesma: a Filosofia da Libertação. Juntamente 
com outros pensadores latino-americanos, entende que a Filosofia deve 
cumprir um papel de libertação dos excluídos do centro. Não deve ser 
meramente uma reprodução do pensamento de centro, mas deve, a partir de 
sua própria realidade, pensar seus problemas. 
Assim, um filósofo latino-americano que se torne especialista em Marx, 
por exemplo, é chamado de um filósofo inautêntico. Dussel não nega a 
importância do pensamento marxista. Porém, argumenta que precisamos 
pensar a nossa realidade a partir de nossos problemas. 
Como nos propomos a discorrer, neste tema, sobre o conceito de 
“Filosofia”, nada melhor que consultarmos um dicionário, não é mesmo? 
Afinal, lá consta o significado para vários conceitos que possamos vir a 
empregar em nosso dia a dia. Então, que tal consultar um dicionário on-line 
para ver qual é a definição de “Filosofia” que ele apresenta? 
http://www.significados.com.br/Filosofia/ 
Vejamos, no vídeo a seguir, qual o conceito de Filosofia adotado pelo 
Prof. Dr. Marcos Spagnuolo Souza! 
https://www.youtube.com/watch?v=dhb86DtgsEA 
Agora, vamos ver o que o Prof. Rui Valese tem a dizer sobre o assunto 
deste tema? Vamos à videoaula que está no material on-line! 
 
 
Origem da Filosofia 
Há o consenso entre os historiadores da Filosofia de que sua origem é 
grega, pelo menos em seu pensar racional, sistemático e de conjunto. Para 
que eles pudessem desenvolver esse tipo de conhecimento, concorreu a 
contribuição dos vários povos e culturas que entraram em contato com os 
gregos, bem como dos conhecimentos apropriados por filósofos gregos que 
 
 
 
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viajavam por essas regiões, em particular o Egito que, 4.500 anos atrás já 
havia construído as pirâmides – obra de engenharia que até hoje desafia as 
mentes a buscarem uma explicação sobre como foram feitas. 
Há, até mesmo, aqueles que, não conseguindo imaginar e muito menos 
aceitar que aqueles povos já tivessem conhecimento suficiente para tal 
empreendimento, atribuem as construções a extraterrestres. Porém, o pensar 
filosófico não é exclusividade grega. Neste tema, nosso objetivo é 
compreender a origem grega da Filosofia e, ao mesmo tempo, buscar outros 
pensamentos também filosóficos desenvolvidos por outros povos. 
A origem da Filosofia já chegou a ser considerada um milagre 
grego, no sentido de que os gregos, de maneira autóctone e original, 
desenvolveram uma forma de pensar que nenhum outro povo antes havia 
desenvolvido. Além disso, não contaram com a colaboração de nenhuma 
outra cultura! 
 
No entanto, a origem da palavra Filosofia, por exemplo, tem a 
contribuição de uma língua falada no Egito em 2.052 a. C. e que está escrita 
no túmulo de Antef: seba, que significa “o sábio”. De onde se originou “Sebo” 
em copta e “Sophia”, em grego. Assim, o mais coerente e lógico é 
entendermos que a Filosofia é um tipo de conhecimento, até certo ponto, 
criado pelos gregos, mas com a colaboração e participação – ainda que não 
reconhecida – de muitos outros povos e culturas. Vejamos como ela apareceu 
na Grécia Antiga. 
Até o século VII a. C., predominava na Grécia Antiga a explicação 
mitológica para os acontecimentos. Tudo que acontecia era por vontade dos 
deuses que, desde o Olimpo, comandavam tudo: desde os fenômenos 
naturais, até os conflitos e sentimentos humanos. 
Assim, se duas cidades-estados gregas guerreavam entre si, era por 
conta de seus deuses protetores estarem em conflito. A passagem do tempo 
 
 
 
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era vista como uma atividade do deus Cronos, que conduzia o Sol numa 
carruagem, puxada por cavalos belos e fortes, todos os dias. À noite, Cronos 
descansava, como também seus animais para, no dia seguinte, cumprir a 
mesma tarefa. 
Da mesma forma, a Via Láctea era o leite da deusa Hera, derramado 
quando Hércules (que significa “glória de Hera”), filho de Zeus com a mortal 
Alcmena, tentava roubá-lo. Quando Hera descobre que seu leite, que 
garantiria a Hércules a imortalidade, estava sendo roubado, empurra 
violentamente o jarro, derramando-o nos céus e dando origem a um caminho 
de estrelas: a Via Láctea. 
Ainda, acreditavam que as terras desconhecidas eram habitadas por 
seres gigantes, com um olho só na testa, chamados Ciclopes; que as 
tempestades em alto mar eram resultado da ira e da força de Poseidon e 
muitas outras crenças. 
Diante desse mundo mágico e misterioso, é fácil compreender o 
porquê de as explicações míticas terem perdurado tanto tempo! 
No entanto, a partir do século VIII a. C., um conjunto de mudanças 
contribuirá para o aparecimento da Filosofia. Vale lembrar que a Filosofia 
primeiro surgirá nas colônias gregas da atual Ásia Menor (antiga Jônia), no 
sul da Itália, para depois chegarem aos centros urbanos, comerciais e 
políticos gregos. 
Mais adiante, você conhecerá os fatores que contribuíram para o 
surgimento da Filosofia. 
 
Surgimento da Escrita 
As concepções míticas predominam entre os povos e culturas de 
tradição oral. No entanto, com o aparecimento da escrita cuneiforme entre os 
sumérios e com o aparecimento da escrita hieróglifa (que significa “sinais 
 
 
 
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divinos” no Egito Antigo e estava reservada aos sacerdotes, reis, ministros e 
auxiliares) essa tradição oral começa a perder força. Consequentemente, os 
mitos também perderam sua credibilidade. 
Ao mesmo tempo, com a passagem da tradição oral para a escrita, 
primeiramente cuneiforme e hieróglifa e depois alfabética (com os fenícios) 
outro fenômeno ocorrerá: se na tradiçãooral é privilegiada a memória, a 
superstição e a magia, com o aparecimento da escrita inicia-se um processo 
de substituição da palavra por imagens e, por fim, das palavras por conjunto 
de signos que, combinados, formam as palavras. Esse processo ampliará a 
capacidade de abstração daqueles que dominarão a escrita. 
 
Criação da Moeda 
O crescimento comercial e marítimo em razão da expansão dos 
domínios gregos, ocorrido entre os séculos VIII e VI a. C. promoverá, também, 
o aparecimento e desenvolvimento de duas tecnologias: a moeda e o 
aperfeiçoamento das embarcações. 
Quando se troca mercadoria por mercadoria, os problemas não são 
tantos. Porém, quando essa troca é numa escala maior, há a necessidade de 
um terceiro elemento mediador desse processo. Assim, se na troca de 
mercadoria por mercadoria, o tamanho, o peso, a utilidade e a necessidade 
de determinada coisa serviam como parâmetros para a troca, com a invenção 
da moeda esses critérios precisam ser simbolizados, significados. 
A moeda tem um valor expresso e, como esse valor, é possível comprar 
determinadas coisas, numa determinada quantidade. Isso, por si só, também 
contribui para ampliar a capacidade de abstração dos sujeitos envolvidos na 
troca comercial. 
Já o aperfeiçoamento das embarcações e das técnicas de navegação 
levará os comerciantes a terras nunca antes visitadas. Esse desenvolvimento 
possibilitará que os navegantes rompam com dois mitos: a de que Poseidon 
 
 
 
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governa os mares e a de que as ilhas desconhecidas sejam habitadas por 
seres gigantes com um olho na testa. Os comerciantes e os navegantes não 
apenas perceberam que é possível navegar em meio à tempestade (o que 
não significa que isso seja fácil) como também perceberam que as ilhas eram 
habitadas por outros seres humanos iguais a eles. 
 
A lei escrita e a vida na pólis 
A partir dos séculos VII e VI a. C., os legisladores Drácon, Sólon e 
Clístenes realizam uma profunda transformação nas formas de se governar. 
Ao invés de manterem a tradição das leis arbitrárias impostas pelos reis ou da 
vontade divina na condução das ações humanas, elaboram um código de leis 
que passou a reger a vida dos cidadãos na pólis. 
Essas leis são o resultado de um processo de discussões e debates 
em praça pública, o que necessita de pessoas que saibam argumentar em 
defesa ou contra alguma proposta. O fundamento da sociedade não é mais 
os costumes herdados das sociedades aristocráticas, mas da vida na pólis, 
da vontade do demos, isto é, da democracia. 
Ainda que essa esteja restrita a um pequeno número de moradores das 
cidades-estados gregas (pois mulheres, escravos, estrangeiros, crianças e 
jovens estavam excluídos desse processo, restando pouco mais de 10% da 
população) o surgimento e consolidação da pólis se deu por meio do debate 
na ágora (praça). 
Assim, o surgimento da Filosofia grega está relacionado a esses três 
acontecimentos históricos, bem como às viagens que alguns pensadores 
gregos fizeram pelas regiões próximas à Grécia. Dentre eles pensadores 
destacamos: Homero, Licurgo de Esparta, Sólon de Atenas, Platão, Pitágoras 
de Samos e Eudoxos matemático, bem como Demócrito de Abdera, Tales de 
Mileto e Oenopides de Chios. 
 
 
 
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Por fim, se podemos afirmar (com algumas reservas) que a Filosofia é 
grega, com certeza ela não é o resultado apenas dos esforços gregos. O fato 
de as ilhas gregas serem um ponto de passagem e encontros de vários povos 
e culturas possibilitou aos gregos o acesso a diferentes perspectivas 
epistemológicas e ocasionou o rompimento da mentalidade mítica que regia 
os costumes e as instituições. 
Quer saber mais? Faça a leitura do texto a seguir: 
http://origem-da-Filosofia.info/ 
 
E agora, vamos à videoaula! Acesse o material on-line! 
 
 
Conceito de Mito 
O nascimento da Filosofia está, invariavelmente, ligado à superação da 
consciência mítica. Esse é o objetivo deste tema: compreender o que é mito, 
qual a sua importância para as sociedades e analisar o nascimento da 
Filosofia a partir da superação da consciência mítica. 
A palavra mito é de origem grega – mythos, que é derivada dos verbos 
mytheyo e mytheo. Ambos têm o significado de contar, narrar, falar, anunciar 
alguma coisa. Assim, mito é uma narrativa pública feita por um determinado 
sujeito que tem autoridade para isso. Na Grécia Antiga, era o poeta-rapsodo 
era quem tinha essa autoridade, porque se acreditava que ele recebia essa 
autoridade dos deuses. 
Aqui temos o primeiro critério para admitir um mito como sendo 
verdade: o argumento de autoridade. 
 
 
 
 
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Da mesma forma, outra característica do mito é o fato dele trabalhar, 
de uma maneira inusitada, com elementos de fantasia e de realidade. Outra 
característica interessante dos mitos, é o fato de diferentes povos, em 
diferentes momentos históricos, construírem mitos que guardam algumas 
semelhanças. 
Vejamos alguns exemplos adiante: 
 
Mitos de criação do ser humano 
Segundo o mito adâmico de criação do ser humano, Deus criou o 
homem do pó da terra, inspirando nele o fôlego, o ar. A palavra Adão vem de 
uma palavra hebraica relacionada a adamá, solo vermelho. 
Na mitologia Yorubá, Oxalá recebe de Olodumaré, criador e senhor do 
Universo, a missão de criar todos os seres para que habitassem a Terra. 
Oxalá experimentou variados tipos de materiais e não ficou contente com os 
resultados. Por fim, pediu a Nanã, a Senhora da Lama e da Terra, que lhe 
cedesse material para sua tarefa. Essa lhe concede a título de empréstimo. É 
assim que Oxalá cria o ser humano do barro e, para cumprir o acordo entre 
Oxalá e Nanã, ao morrer, o ser humano deve voltar à terra. 
Na mitologia tupi-guarani, homem e mulher foram criados por Tupã, a 
partir de estátuas de argila e diferentes elementos da natureza, às quais 
soprou nelas a vida. 
Observe que três culturas distantes geograficamente, compõem mitos 
basicamente iguais para explicar o mesmo fenômeno, a partir de elementos 
que estão presentes na natureza. 
 
A origem dos males 
 
 
 
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Também esse acontecimento tem mitos narrativos que têm 
semelhanças. 
Mito adâmico 
No mito adâmico, por exemplo, o mal é resultado da desobediência de 
Adão e Eva, que habitavam o jardim do Éden e de lá foram expulsos por Deus, 
sendo obrigados a viver do suor de seus rostos e, especificamente Eva, a 
sofrer com as dores do parto. Da mesma forma, Eva, no mito adâmico é 
culpada pela expulsão do paraíso. 
Mito grego 
Para os gregos, a origem dos males está relacionada ao roubo do fogo 
dos deuses por parte do titã Prometeu que, amigo dos seres humanos, trouxe-
o como presente, por ver que eles passavam frio, comiam comidas cruas e 
frias e tinham enormes dificuldades para trabalhar. Assim, o fogo, além de 
aquecer e cozinhar o alimento, também serviu como tecnologia para 
transformar a natureza e facilitar o trabalho humano. 
No entanto, o gesto provocou a ira dos deuses, que resolveram castigar 
os seres humanos, enviando uma linda mulher com uma caixa recheada de 
males, com a recomendação expressa de não abrir a caixa até chegar à Terra. 
Pandora, a enviada, acaba abrindo a caixa por curiosidade, deixando escapar 
toda sorte de males, desgraças, doenças, pestes, guerras e morte, restando 
apenas a esperança. 
Essas narrativas guardam muitas semelhanças em seu desenrolar enos elementos presentes em cada uma, apesar de serem assíncronas. 
No entanto, o que diferencia a narrativa mítica da reflexão filosófica, 
que é o que nos interessa nesse momento, é como esses elementos estão 
justapostos. Na narrativa mítica, além do argumento de autoridade, que é 
problematizado pela Filosofia, há uma combinação de elementos que, fora de 
contexto, perdem sentido. 
 
 
 
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No mito criado pelos gregos para explicar a passagem de dia para 
noite, segundo o qual Cronos carrega o Sol numa carruagem puxada por 
cavalos, essa narrativa só é aceitável porque se trata de um mito que intenta 
mostrar a interferência de um deus no curso natural dos acontecimentos. Pois 
imaginar que realmente exista uma carruagem e animais que suportem as 
altíssimas temperaturas do Sol e que possam transportá-lo, foge a qualquer 
compreensão racional. 
Já a Filosofia trabalha com uma explicação argumentativa, que 
independe de quem argumenta. Pois, a veracidade do que se argumenta, está 
nos próprios argumentos; se os mesmos são válidos e coerentes. 
A Filosofia, diferente da mitologia, realiza uma reflexão sistemática, 
isto é, os enunciados que produz são precisos e rigorosos. Da mesma forma, 
esses enunciados estão organizados de maneira lógica, fundamentados 
racionalmente e apresentam provas a partir das quais os conceitos e ideias 
surgem. 
Assim, não se trata de um “eu acho” ou “ouvi dizer”, de dóxa (opinião) 
como diziam os gregos, mas, de um “eu penso”, de episteme, conhecimento 
verdadeiro, científico. Como afirma a filósofa brasileira Marilena Chauí: 
“A atividade filosófica é, portanto, uma análise, uma reflexão e uma 
crítica […] para que essas três atividades se realizem, é preciso que a 
Filosofia se defina como busca do fundamento (princípios, causas e 
condições) e do sentido (significação e finalidade) da realidade em 
suas múltiplas formas”. 
Agora, confira este vídeo, dividido em três partes, que complementa 
nosso estudo sobre o mito: 
Mito: o nada que é tudo 
 Parte 1 
https://www.youtube.com/watch?v=ZJ5CJndiwRQ 
 Parte 2 
https://www.youtube.com/watch?v=ocHW6-emGLY 
 
 
 
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 Parte 3 
https://www.youtube.com/watch?v=ej0k084rfLo 
Que tal, agora, assistirmos à videoaula referente a este tema para 
sanarmos quaisquer dúvidas que tenham surgido? Acesse-a no material on-
line! 
Esferas de Conhecimento 
No livro Metafísica, Aristóteles afirma que todo ser humano aspira 
ao conhecimento. Porém, a questão é: como os seres humanos fazem 
para solucionar suas dúvidas com relação ao que são as coisas. 
 
Neste tema buscaremos refletir sobre os diferentes níveis de 
conhecimento elaborado pelo ser humano, para satisfazer sua necessidade 
de compreender e explicar as coisas. 
 
Senso comum 
Nós chamamos o nível de conhecimento mais básico do ser humano 
de senso comum. Como afirmam os gregos: é o nível da doxa; do “eu acho”. 
Trata-se de um conhecimento que é produzido por meio das experiências e 
vivências do cotidiano e que vai se acumulando de geração a geração, até se 
cristalizarem como saberes transmitidos quase sempre pelos mais velhos. 
Não se trata de saberes produzidos por especulações ou investigações, mas, 
sim, de conhecimentos produzidos por meio da memória e da associação. 
 Memória: 
Se caracteriza pelo acúmulo de experiências realizadas a partir de hábitos 
estabelecidos. Por exemplo: a mãe ou avó que receita chá de camomila 
para acalmar o bebê ou chá de erva doce, se ele estiver com cólicas. A 
memória está dividida em cinco elementos: 
 
 
 
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 Fixação das lembranças 
 Conservação 
 Recuperação 
 Reconhecimento 
 Localização 
 Associação: 
 A associação de ideias permite inferir certos conhecimentos a partir de 
experiências que se repetem. Se moro em ambiente próximo ou na 
natureza, num sítio, por exemplo, observo que as folhas das árvores, 
numa determinada épica do ano, costumam cair. É a chegada do outono. 
Assim, associo a queda das folhas das árvores à estação do ano. 
Se é verdade que alguns conhecimentos produzidos e reproduzidos 
pelo senso comum são carregados de preconceitos, superstições e crendices, 
por outro lado, foi o conhecimento produzido pelo senso comum que permitiu 
à humanidade viver e sobreviver por milhares de anos. Assim, não podemos 
tratar o conhecimento do senso comum simplesmente como infantil: devemos 
contextualizá-lo! 
Dois exemplos de preconceitos produzidos pelo senso comum: 
 A mulher é intelectualmente inferior ao homem. 
 A raça branca é superior às outras raças (um preconceito 
que tomou tão grandes proporções que, durante os séculos 
XVIII e XIX, foram produzidos discursos “científicos” para 
defender tal teoria). 
 
Conhecimento teológico 
A sabedoria popular também é produtora de crenças que ultrapassam 
as religiões institucionalizadas. Um mesmo fiel pode frequentar diferentes 
manifestações religiosas, num sincretismo religioso no qual ele não vê 
contradição nenhuma. 
 
 
 
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Preconceituosamente, acreditava-se que as crenças eram 
manifestações das pessoas que se situavam nas classes sociais mais 
baixas e com menor grau de acesso aos saberes formalmente 
constituídos. No entanto, as simpatias, rezas, feitiços etc. fazem parte de 
todas as classes sociais. Essas crenças costumam brotar a religiosidade 
popular. 
 
A lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bom Fim, o Sírio de 
Nazaré, as procissões de Nossa Senhora dos Navegantes, as festas do 
Divino, dentre outras, são exemplos de festas populares com caráter religioso. 
Dessas manifestações religiosas, costumam surgir conhecimentos e práticas 
que, na ausência de outros esquemas de conhecimento, dão conta de 
satisfazer certas necessidades das pessoas. 
É o caso, por exemplo, das benzedeiras e benzedores, que além 
das rezas e bênçãos que costumam fazer, também são bons 
conselheiros para os mais diferentes assuntos e problemas – desde 
problemas de relacionamento familiar até situações de crises 
existenciais. 
Outra característica das crenças populares é a mistura do 
sagrado com o profano. 
 
A partir do momento em que as crenças religiosas se institucionalizam, 
fazendo surgir as religiões, surge também, por vezes, uma teologia, que seria, 
por assim dizer, a justificativa teórica para essas crenças. 
O fundamento da teologia, assim como do senso comum, é a crença. 
Nesta última, porém, existe um discurso que justifica e legitima as mesmas, 
diferentemente do senso comum, em que a crença é obtida a partir da 
reprodução de uma geração a outra. 
 
 
 
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Algumas religiões também costumam ter livros que são considerados 
sagrados e nos quais estão inscritos seu código moral, que os fiéis deverão 
observar não apenas nos momentos de práticas religiosas, mas também no 
seu dia a dia. 
É o caso, por exemplo, de religiões que proíbem que se trabalhe em 
determinados dias da semana, que se consuma determinados tipos de 
alimento, que se use determinados tipos de roupa ou corte de cabelo e assim 
por diante. Esse tipo de conhecimento não é resultado de nenhuma 
investigação científica, mas é, por vezes, fruto da especulação de alguns 
especialistas. Assim, as verdades pregadas devem ser fruto do acordo com 
as escrituras (quando houverem) e do esforço intelectual de certaspessoas 
autorizadas a realizar a exegese das escrituras ou reproduzir verdades que 
deverão ser seguidas pelos fiéis praticantes daquela religião. 
 
Saber científico 
Já o saber científico, nosso terceiro nível de conhecimento, tem que 
atender dois pré-requisitos: 
 Delimitar e caracterizar o assunto de que vai tratar. 
 Ter um método próprio de investigação. 
Da mesma forma, as verdades científicas não estão baseadas nem na 
crença, nem em argumento de autoridade, como é característico dos 
conhecimentos produzidos pelo senso comum e pelo teológico. Para a 
ciência, ao se afirmar alguma coisa, é preciso apresentar provas que 
sustentem tal afirmação. Tais provas precisam ser submetidas ao rigor de 
reprodução e verificação, para saber se resistem aos procedimentos. 
Assim, não basta um cientista afirmar algo para se torne uma verdade 
– é necessário que outros cientistas realizem os mesmos procedimentos e 
cheguem às mesmas conclusões. Caso contrário, a “verdade” será rejeitada 
pela comunidade científica. 
 
 
 
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O problema do conhecimento científico ocorre quando ele passa a ser 
utilizado para justificar e legitimar ideologias, como ocorreu nos séculos XVII, 
XVIII e XIX, quando serviu para propagar a “superioridade” racial branca e 
europeia sobre os demais povos que estavam sendo colonizados. O mesmo 
fenômeno se observa quando a ciência se torna um novo mito, colocando-se 
acima de quaisquer questionamentos e críticas. 
 
Saber filosófico 
Já o conhecimento filosófico é um discurso racional e lógico, que 
defende uma tese a partir de argumentos sistemática e logicamente 
organizados, que devem ser coerentes. 
O conhecimento filosófico trabalha com conceitos. A partir de 
determinados conceitos procuramos explicar o que são as coisas. 
Diferentemente do discurso científico, em que é necessário haver 
concordância para uma verdade científica se estabeleça – o que, às 
vezes, não é possível – com o discurso filosófico isso não é uma 
premissa. 
 
A coerência e a lógica de um determinado raciocínio filosófico devem 
ser procuradas dentro do próprio raciocínio. Não devemos avaliar uma 
reflexão filosófica que se fundamenta no empirismo, a partir de critérios 
idealistas! 
É claro que os filósofos desenvolvem suas reflexões a partir das 
reflexões de seus antecessores, o que lhes permitirá incorporar ou buscar sua 
superação, conservando algumas ideias. É o caso, por exemplo, de 
Aristóteles, que busca superar Platão, seu mestre, mas conserva algumas 
características de seu mestre. 
 
 
 
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O objetivo da Filosofia não é encontrar uma solução final para os 
problemas. É, antes de tudo, uma ferramenta para poder inquirir e 
compreender o real. 
Agora, para finaliza este tema, assista ao vídeo sobre tipos de 
conhecimento... 
https://www.youtube.com/watch?v=A3IaCmw20jk 
... e assista à videoaula do professor Rui Valese no material on-line! 
 
 
Filosofia e Conhecimento 
No Caderno 11 de Memórias do Cárcere, escreve Gramsci: 
“É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a Filosofia é 
algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma 
determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos 
profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar 
preliminarmente que todos os homens são ‘filósofos’, definindo os 
limites e as características desta ‘Filosofia espontânea’, peculiar a ‘todo 
o mundo’, isto é, da Filosofia que está contida”. 
 
Nosso objetivo nessa unidade é refletir sobre a relação entre Filosofia 
e cotidiano e, assim, argumentar em defesa de que a Filosofia não é privilégio 
de especialistas, pois o cidadão comum também tem atitudes filosóficas. 
Todos nós em algum, ou alguns momentos da vida, levantamos 
questionamentos que são filosóficos: 
 
 
 
 
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Essas e muitas outras perguntas costumamos fazer e, podemos dizer, 
nos acompanham durante muito tempo em nossa vida. Algumas das 
respostas para essas perguntas as encontramos nas religiões. Outras, na 
biologia. Pode ser que nos contentemos, até mesmo, com aquelas repostas 
dadas pelo senso comum. Porém, conforme formos vivendo, muito 
provavelmente queiramos respostas mais complexas ou completas. 
Quando não nos conformamos com as respostas que recebemos, 
segundo Marilena Chauí, desenvolvemos a atitude filosófica, que consiste 
na “decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os 
fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência 
cotidiana; jamais aceitá-las sem antes havê-los investigado e compreendido”. 
Ou seja, passamos a desenvolver uma atitude crítica diante da vida e 
das coisas. Essa atitude crítica se desenvolve em dois movimentos. Num 
primeiro movimento, essa crítica é negativa, no sentido de negar o que o 
senso comum admite passivamente como verdade, rejeitando os pré-
conceitos, os pré-juízos, o preestabelecido. 
Essa atitude negativa foi expressa por Descartes na primeira regra do 
seu método: não aceitar nada como evidente sem antes verificar se assim 
o é. Porém, esse momento negativo não é suficiente: se não o superarmos, o 
mais provável é que fiquemos num ceticismo estéril! 
Precisamos realizar um processo de superação desse momento 
negativo e chegar ao momento positivo, que é quando começamos a nos 
interrogar sobre as coisas e os sentidos das mesmas. Isto é, se negamos 
as respostas que nos foram dadas até então, precisamos encontrar 
outras respostas que sejam satisfatórias, consistentes. 
 
Precisamos adotar uma atitude de espanto diante da vida. Como diziam 
os gregos, “tó thaumázein”: espanto, admiração. Porém, não o espanto do 
medo, nem a admiração no sentido de veneração ou, até mesmo, de 
 
 
 
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adoração: espantar-se e admirar-se para buscar compreender as coisas. Pois, 
como afirma Sócrates: “O que você não sabe por conta própria, simplesmente 
não sabe”. E é contra essa atitude conformista, preguiçosa e covarde, como 
afirma Kant, que devemos nos voltar. 
“A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande 
parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de 
uma direção estranha, continuem, no entanto de bom grado menores 
durante toda a vida”. 
 
Se aqueles que controlam a sociedade pelos mais variados meios 
querem nos manter na mediocridade (porque é do interesse deles que não 
reajamos) também nossa condição é, em parte, explicada pela covardia e 
preguiça em fazer uso do próprio intelecto para saber como as coisas são. 
Como afirma o próprio Kant: “É tão cômodo ser menor”, afinal, não precisamos 
nem pensar, nem correr riscos. 
Assim, o momento positivo começa quando começamos a indagar 
por que as coisas são como são. 
É claro que podemos, também, participar do pessimismo do filósofo 
espanhol Gregório Marañón y Posadillo, que afirma que: “A Filosofia é uma 
coisa com a qual e sem a qual o mundo continua tal e qual”. 
No entanto, se assim o fosse, por que alguns filósofos sofreram 
perseguições ou até mesmo pagaram com a própria vida por conta do seu 
exercício de filosofar? Anaxágoras foi o primeiro caso de perseguição; 
Sócrates foi condenado a matar-se ingerindo cicuta; Platão chegou a ser 
vendido como escravo; Aristóteles foge de Atenas para não ter o mesmo 
destino de Sócrates; Giordano Bruno, na Idade Média, não tem a mesma 
sorte: morre na fogueira condenadopela Inquisição Católica; Marx é obrigado 
a mudar constantemente de país pelos seus posicionamentos e 
envolvimentos políticos e sindicais; Enrique Dussel, perseguido pelos militares 
argentinos que, em 1973, colocaram uma bomba em sua casa, apenas para 
citar alguns casos. 
 
 
 
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Como você pode observar, não são apenas os fanáticos que 
perseguiam os filósofos, mas, também, aos homens de letras, exatamente por 
compreenderem o alcance dessa ciência. 
Voltaire dizia: 
“Os filósofos sempre foram perseguidos por fanáticos. Será possível, 
no entanto, que os homens de letras se imiscuam também e eles 
próprios aticem contra os seus confrades as armas com que todos são 
trespassados, uns após outros?” 
 
Mas afinal, para que Filosofia? 
Essa questão normalmente vem imbuída de uma outra não declarada, 
mas implícita: qual a utilidade da Filosofia? Essa pergunta, claro, faz sentido 
numa sociedade utilitário pragmatista, na qual as coisas somente têm valor 
pela sua utilidade prática e imediata – o que não ocorre com a Filosofia, pois 
ela mais tem mais perguntas a fazer do que respostas a dar. 
Respostas como “a arte de viver”, conhecimento do real, conhecimento 
da nossa capacidade de conhecer são insuficientes para responder por sua 
utilidade. A resposta, talvez a encontremos em Agnes Heller, na obra Filosofia 
Radical. Nessa obra, Heller argumenta que a função da Filosofia é nos fazer 
pensar, fazer viver e fazer agir. E isso o especialista precisa tanto quanto o 
cidadão comum. 
Vamos a mais uma videoaula? Acesse o material on-line! 
 
 
TROCANDO IDEIAS 
Durante a Ditadura Militar no Brasil, de 1964 a 1985, várias foram as 
medidas adotadas para impedir a formação de um pensamento crítico dos 
brasileiros: desde a censura de jornais, revistas, televisões, rádios, tetro, 
cinema, até reformas educacionais que visavam um currículo mais técnico. 
 
 
 
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Dentre as medidas adotadas na área da educação, uma delas foi a 
retirada de disciplinas como Filosofia e Sociologia do currículo de Ensino 
Médio, a união de História e Geografia em Estudos Sociais e a inserção de 
disciplinas como Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação 
Moral e Cívica. 
Diante desse quadro, pergunta-se: por que as ditaduras têm medo da 
Filosofia? 
 
 
NA PRÁTICA 
A alegoria da caverna, de Platão, serve para compreendermos o que 
significa ficar preso aos costumes e às tradições. Para compreendê-la mais 
facilmente, uma estratégia é relacioná-la pelo menos com dois filmes: Matrix 
(1999) e Show de Truman (1998). 
Nesse caso, ficar preso às tradições equivale a permanecer no interior 
da caverna e não querer romper com o comodismo. É não perceber que, 
diariamente, podemos estar sendo manipulados. E isso é facilmente 
compreendido a partir dos dois filmes. 
Você pode obter mais informações sobre o filme “Matrix” a seguir: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-19776/ 
O mesmo vale se você quiser saber mais sobre o filme “O Show de 
Truman”: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-18671/ 
 
 
 
 
 
 
 
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SÍNTESE 
Nosso estudo começou buscando compreender e conhecer o conceito 
de Filosofia. Vimos que não há apenas um conceito de Filosofia, mas, sim, 
vários conceitos. Dessa forma, o mais correto é falarmos de Filosofias (até 
porque, cada filósofo, de acordo com os seus princípios, acaba criando um 
conceito de Filosofia, vimos alguns deles e suas implicações). 
Em seguida, buscamos compreender a origem da Filosofia. Fazendo o 
percurso dos principais acontecimentos que levaram ao surgimento da 
Filosofia grega e nos dando conta de que a Grécia não é o único lugar do 
mundo que desenvolveu um pensamento racional. 
Para compreender a origem da Filosofia, foi necessário compreender o 
conceito de Mito e de que maneira do Mito passou-se à reflexão filosófica. Os 
mitos são narrativas que ultrapassam o tempo e o espaço. Interessante 
observar que, para as mesmas dúvidas, povos diferentes encontraram mitos 
muito parecidos. 
Em seguida, para situar a importância da reflexão filosófica, refletimos 
sobre os diferentes níveis de conhecimento, apontando suas possibilidades e 
limites. E, por fim, procuramos refletir sobre as possíveis relações entre 
Filosofia e cotidiano e como a reflexão filosófica nos possibilita compreender 
e intervir sobre o real. 
Vamos recapitular esse conteúdo? Acesse o material on-line! 
 
 
Referências 
ARANHA, M. L. A. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Editora 
Moderna, 2000. 
BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Editora Cortez, 1979. 
 
 
 
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CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999. 
CUNHA, J. A. Filosofia: iniciação à investigação filosófica. São Paulo: 
ATUAL, 1992. 
NIELSEN NETO, H. Filosofia básica. São Paulo: Atual, 1986. 
PRADO JR., C. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1998. 
REALE, G. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003.

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