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Fundamentos de Filosofia Aula 4

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Prévia do material em texto

CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
1 
 
 
 
 
 
Fundamentos de Filosofia 
 
Prof. Rui Valese 
Aula 4 
 
 
 
 
CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
2 
 
CONVERSA INICIAL 
Muito bem-vindo a mais esta aula da disciplina de Fundamentos de 
Filosofia! 
Nesta aula, nosso principal objetivo é compreender o advento da 
modernidade e da contemporaneidade, bem como alguns de seus principais 
problemas. 
A modernidade é um período histórico que se inicia por volta do século 
XVII e vai até o século XIX. É importante destacar que essas transformações 
ocorreram na Europa, porém, não se restringem a ela. Essas mudanças 
também atingiram outras sociedades e culturas, sofrendo seus impactos. Por 
exemplo: grande parte da acumulação de capitais que financiaram a 
Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX dá-se por meio da exploração 
colonial prática por portugueses, espanhóis e, principalmente, ingleses, seja 
nas Américas, seja no continente africano. 
A modernidade é marcada pela mudança de alguns conceitos, como o 
de ser humano, de conhecimento, de ciência, de cultura, de relação com a 
natureza. Tais mudanças deixam marcas ainda hoje. Tanto que, para alguns 
pensadores, ainda não poderíamos falar em contemporaneidade nem em pós-
modernidade, pois, a modernidade ainda não teria se cumprido. Já outros 
afirmam que, alguns dos problemas que tivemos ao longo do século XX, como 
os regimes nazifascistas, seriam fruto dessa modernidade. A videoaula 
correspondente a esta seção está no material on-line! 
 
 
 
 
 
 
CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
3 
CONTEXTUALIZANDO 
Agora um pequeno desafio! 
 
Por que alguns sujeitos históricos que passaram por processos 
violentos de exclusão, tempos depois, tendem a repetir os mesmos 
processos em outros sujeitos históricos? 
 
Para refletir sobre essa questão, assista ao documentário: 
https://www.youtube.com/watch?v=GCcV7AtYgwo 
Não esqueça também de sempre buscar conteúdos externos e 
consultar outras literaturas acerca do assunto! 
Agora assista ao vídeo de contextualização do professor Rui no material 
on-line! 
 
 PESQUISE 
Nascimento da Modernidade 
Durante a Idade Média, na Europa, o ser humano só tinha sentido em 
sua relação com o divino. Mesmo a relação com outros indivíduos da mesma 
espécie, dava-se a partir da relação com Deus. Por sermos todos filhos do 
mesmo Deus, fazíamos parte da mesma família. Portanto, éramos todos 
irmãos. Da mesma forma, a existência humana só fazia sentido se vivida como 
uma forma de alcançar a vida eterna. Dessa forma, tudo aquilo que remetesse 
a esse mundo era considerado feio, pecaminoso, corrompido e corruptível. 
Por outro lado, tudo que estava relacionado ao mundo espiritual era perfeito, 
belo, bom. Assim, nosso objetivo, nessa unidade de estudo, é compreender a 
mentalidade que emerge a partir do renascimento, seus determinantes 
 
 
CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
4 
históricos, bem como, quais as principais características dessa nova 
mentalidade. 
Vejamos, primeiramente, os determinantes históricos do aparecimento 
dessa nova mentalidade. 
A partir do século XI, alguns 
cristãos iniciam uma série de viagens até 
o Oriente Médio, para libertar Jerusalém 
da dominação dos muçulmanos. Essas 
viagens, que num primeiro momento 
tinham caráter religioso e militar, 
passando depois a ter um caráter mais 
comercial e militar do que religioso, 
ficaram conhecidas como cruzadas. 
Isso porque, os cruzados, aproveitando a viagem de volta à Europa, traziam 
mercadorias que encontravam na região e não em sua terra natal. Essa 
atividade comercial demandará outras mudanças. Dentre elas, podemos 
destacar: 
Conhecimentos de geografia para estabelecerem as melhores rotas; 
Conhecimentos do clima e do tempo, bem como das estações do ano para 
determinarem qual a melhor época do ano para realizarem a viagem; 
Conhecimentos de administração e contabilidade para gerenciamento dos 
negócios; Conhecimento de outras culturas e línguas para estabelecer 
relações comerciais e diplomáticas, etc. Tais demandas provocaram uma 
mudança de mentalidade com relação ao conhecimento que, antes, era 
considerado monopólio e privilégio de alguns religiosos – o alto clero – e, 
agora, tornava-se uma necessidade para a classe que emergia aos poucos – 
a burguesia. 
Ao mesmo tempo, os padrões de pesos e medidas precisaram passar 
por um processo de unificação para facilitar as atividades comerciais. À época 
do feudalismo, como os feudos eram praticamente autônomos, cada um 
 
 
CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
5 
possuía um sistema de pesos e medidas. O 
que dificultava ou até impossibilitava as 
atividades comerciais. Ao mesmo tempo, 
havia a necessidade da utilização de moedas 
para as transações comerciais, fazendo surgir 
as primeiras casas bancárias. 
 O enriquecimento da nova classe 
social (a burguesia) e sua aliança com alguns 
monarcas faz surgir as primeiras 
universidades: 
Universidade de Paris, em 1150; a de Oxford, em 1167; a de medicina em Saler, 
Itália, em 1173; Montpellier (França), em 1181; Bolonha (Itália), em 1185; 
Vicenza (Itália), em 1204; Cambridge (Inglaterra), em 1209; Palência (Espanha), 
em 1212; Arezzo Itália), em 1215; Salamanca (Espanha), em 1220; Pádua 
(Itália), em 1222; Nápoles (Itália), em 1224; Vercelli (Itália), em 1228; Toulouse 
(França), em 1229; Angers (França), em 1229; Valença (Espanha), em 1245; 
Siena (Itália), em 1246; Placenza (Itália), em 1248; Valladolid (Espanha), em 
1250; Sevilha (Espanha), em 1254 (As datas de criação das universidades 
podem ser divergentes, quando a fonte consultada também é diferente. Isso 
porque alguns historiadores não levam em conta o início de um curso, somente, 
mas, quando há vários cursos funcionando simultaneamente. Assim, por 
exemplo, para alguns historiadores, a Universidade de Bolonha foi fundada em 
1150, enquanto a de Paris teria sido fundada apenas em 1214). 
Com o surgimento das universidades, mesmo que algumas tenham 
sido fundadas com a participação do clero, o conhecimento passa a ser 
considerado como laico e, cada vez mais, atende aos interesses da burguesia. 
Ao mesmo tempo, essa classe social, para adquirir o status que somente a 
riqueza ainda não lhe proporcionava, passa a financiar artistas, bem como a 
estudar os clássicos gregos e romanos. Esse movimento dará início ao 
 
 
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6 
nascimento do humanismo renascentista, que definitivamente recolocará o 
ser humano no centro de suas atenções. 
Durante a Idade Média, a razão humana era compreendida como uma 
extensão do poder divino. Porém, como o renascimento cultural e o 
humanismo, a mesma adquire autonomia e torna-se subjetiva, isto é, é o 
sujeito mesmo que conhece, e não o conhecimento lhe é passado por meio 
do Espírito Santo, como se defendia no período medievo. 
O ego cogito cartesiano é a primeira expressão dessa mentalidade. 
Como também a ideia lockeana de que a mente humana é uma tabula rasa. 
Com a Reforma Protestante iniciada no século XVI, há uma certa liberdade no 
pensar, pois, a Inquisição católica não podia alcançar os pensadores 
protestantes1. 
Quando se fala de um conhecimento subjetivo, relativo ao sujeito, não 
significa que o mesmo seja também relativo. Mas que, por meio de um método 
adequado, o indivíduo pode conhecer as coisas, conhecer o mundo, saber 
como o mesmo funciona, quaisas leis que explicam os acontecimentos. Por 
exemplo: por que um objeto qualquer cai? Antes, acreditava-se que nada 
acontecia que não fosse por vontade de Deus. Assim, se um objeto qualquer 
caísse, era porque Deus queria. Agora, formula-se uma lei para explicar tal 
fenômeno: a lei da gravidade. O mundo passa a ser desencantado, 
desmitologizado. 
Uma outra forma de desencantar o mundo foram as grandes 
navegações realizadas por portugueses e espanhóis, com o objetivo de 
encontrar um novo caminho rumo ao Oriente. Isso se deveu pelo fato de que 
em 1453, o Império Turco Otomano conquista Constantinopla, bloqueando o 
comércio entre o Oriente e a Europa. Para continuarem a usar essa rota, os 
comerciantes tinham que pagar uma espécie de pedágio, o que acabava 
 
1 A Inquisição não foi um fenômeno somente católico. Também as religiões protestantes 
tiveram seus tribunais de inquisição, seja na Europa, seja na América do Norte. 
 
 
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7 
encarecendo o custo das mercadorias que seriam vendidas na Europa. Dessa 
forma, favorece o incentivo à navegação pelas costas do continente africano. 
Ocorre que, a crença de que a Terra era uma superfície plana, fazia as 
pessoas acreditarem que o mar acabava num precipício. Ou que o mesmo era 
habitado por monstros marinhos gigantescos, capazes de engolir uma 
embarcação da época. Essas crenças eram alimentadas, na medida em que 
muitas embarcações não retornavam quando adentravam em alto mar, ou 
mesmo quando, de um naufrágio, sobravam apenas destroços no litoral. Em 
1417, D. Henrique, funda em Sagres, uma escola de navegação. Seu principal 
objetivo era reunir ali, pessoas, cartas de navegação e conhecimentos que se 
tinha até aquele momento para aperfeiçoar as técnicas de navegação, que 
eram bastante precárias. A teoria de Copérnico e de Galileu, de que a Terra 
não era uma superfície plana, mas, esférica e, o aperfeiçoamento das 
embarcações e das técnicas de navegação permitiram viagens mais seguras. 
Das grandes navegações surgiram novos problemas. O encontro com 
povos e culturas ainda desconhecidos dos europeus, provocam-lhes novos 
desafios. Do ponto de vista religioso, a Igreja Católica via uma nova 
perspectiva de crescimento na medida em que se propõe a “evangelizar” os 
gentios. Ao mesmo tempo, ensinava-lhe não somente a fé, mas, também, os 
valores culturais europeus, como a língua, as vestimentas, as formas de 
governo, etc. Do ponto de vista comercial, com a descoberta de metais e 
pedras preciosas em algumas dessas regiões, os governantes e comerciantes 
viram uma nova forma de acumulação de riquezas. Do ponto de vista 
metafísico, era a possibilidade que os europeus tinham de impor a esses 
povos, seu ethos civilizatório. Os mesmos, considerando-se superiores aos 
demais povos, se colocam a tarefa 
de elevá-los à condição de 
civilizados, impondo-lhes seus 
costumes, suas crenças, sua 
língua, suas leis, sua lógica 
dominadora. Assim, a 
 
 
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8 
Modernidade nasce a partir de profundas transformações econômicas e 
culturais, que provocam mudanças no âmbito individual, mas, também, no 
projeto de uma cultura (a europeia) sobre as demais (América, África e Ásia). 
Quer saber mais? Acesse o material complementar disponibilizado pelo 
professor Rui. 
http://www.scielo.br/pdf/ts/v7n1-2/0103-2070-ts-07-02-0045.pdf 
https://www.youtube.com/watch?v=I6BrqfJaaqM 
https://www.youtube.com/watch?v=Zz4YxPetGLA 
Assista também, à videoaula do professor Rui sobre esse assunto no 
material on-line. Não perca! 
 
Nascimento da Burguesia 
 
O nascimento da burguesia na Europa, junto com o fim do feudalismo, 
faz parte de um contexto de mudanças políticas, econômicas, culturais e 
mesmo filosóficas. Nosso objetivo nesta unidade de estudos é compreender 
seu nascimento, bem como as condições materiais e imateriais de seu 
surgimento. 
Antes de começarmos a refletir sobre o aparecimento da burguesia, 
faz-se necessário a caracterização de parte da mentalidade medieval, bem 
como dos sujeitos que atuavam a referida época. 
Para começar este assunto, vamos ler um material complementar 
enviado pelo professor Rui ! 
 
 
 
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9 
A SOCIEDADE MEDIEVAL 
 
A sociedade medieval se caracteriza pela fragmentação de espaços e 
de poderes. Depois do fim do Império Romano do Ocidente, as pessoas que 
moravam nos poucos grandes centros urbanos, migram para o campo. 
Inclusive por questões de segurança, devido às invasões bárbaras. Porém, 
como não possuíam terras, acabavam se submetendo à autoridade de algum 
nobre proprietário de terra (antigo senhor romano rico) e lhe servindo. É assim 
que nasce a relação social 
predominante no período medieval: a 
servidão. O proprietário das terras 
garantia-lhe um lugar para morar e, em 
troca, o servo – antigo romano sem 
posses – lhe servia, trabalhando em 
suas terras e pagando ao dono da 
mesma algum tributo por trabalhar nela e retirar parte de seu sustento. Esse 
servo, além disso, não poderia sair da propriedade sem o consentimento do 
senhor. 
Nessa sociedade, outro sujeito importante era o clero. Esse, a partir do 
momento em que o catolicismo foi elevado à condição de religião oficial do 
Império Romano, antes de sua queda, possuía tanto o poder espiritual sobre 
os medievos, quanto, posteriormente, político e econômico. Mesmo com a 
queda do Império Romano, seu poder não foi abalado. Pelo contrário, até 
mesmo aumentou, uma vez que não havia um poder central que regulasse a 
vida das pessoas naquele período. Segundo alguns historiadores, o 
catolicismo funcionava como uma espécie de “cimento social”, que mantinha 
essa estrutura com uma certa unidade. Os reis, por outro lado, quando 
existiam, eram figuras políticas praticamente sem nenhuma expressão. 
Cumprindo mais um papel decorativo. 
 
 
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A partir das cruzadas (século XII), inicia-se um processo de 
renascimento comercial e urbano que fará surgir uma nova classe social – a 
burguesia – e, ao mesmo tempo, a antiga ordem começará a passar por 
profundas transformações. Durante o período medieval, toda e qualquer 
atividade que estimulasse o acúmulo de riquezas ou preocupação com as 
questões materiais era desencorajado e, até mesmo, considerado como 
pecado. Assim, pregava-se uma vida de ascese, isto é, de controle e disciplina 
sobre o corpo e o espírito, como forma de se chegar ao Reino dos Céus. 
Com o renascimento comercial, muitos 
camponeses começam a abandonar o 
campo e migrarem para as cidades que 
começam a surgir. Muitas dessas 
migrações, inclusive, acontecem por 
meio de revoltas. O que, aos poucos, vai 
indicando à nobreza a necessidade de 
mudanças na forma de se governar. 
É dessa forma que o poder, antes descentralizado, vai, aos poucos, 
centralizando-se nas mãos dos reis. O que fará surgir, mais tarde, os estados 
nacionais. Essa centralização do poder, também agradava a nova classe 
emergente – a burguesia – uma vez que, essa centralização vinha 
acompanhada da unificação de um sistema de pesos, medidas, moeda e leis. 
E isso, facilitava e muito a atividade comercial. Ao mesmo tempo, a união dos 
reis com a burguesia será mais forte do que a união com a nobreza, já que, 
enquanto essa vai perdendo riqueza, aquela vai acumulando a partir de suas 
atividades econômicas. E os reis necessitavam de capitais, inclusive para 
constituir seus exércitos e ampliar seuspoderes e seus territórios. 
 
 
 
 
 
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11 
Com o início das grandes navegações, do mercantilismo e da 
colonização tanto das Américas, quanto da África, o processo de acumulação 
de capitais por parte da burguesia aumentaria ainda mais. Esses recursos, 
aliás, seriam fundamentais tanto para o surgimento das manufaturas, quanto 
da Revolução Industrial. 
No entanto, como explicar o nascimento dessa classe social – a 
Burguesia? 
A partir da atividade comercial, já que, em outras sociedades e 
tempos, também algumas pessoas realizavam a atividade comercial e, 
nem por isso, constituíram-se em burgueses? Existe pelo menos duas 
respostas para esse problema. A primeira delas é oferecida por Werner 
Sombart. Para esse, tanto o capitalismo emergente, quanto a burguesia 
surgem devido ao espírito independente dos judeus em relação aos dogmas 
católicos. De fato, a Igreja Católica condenava tanto a usura, quanto o 
acúmulo de riquezas. Essa independência lhes permitia trabalharem com 
operações financeiras e bancarias, tanto emprestando dinheiro aos 
empreendedores, quanto mantendo sob sua guarda, parte do capital dos 
comerciantes que os obtinha por meio de sua atividade econômica. Enquanto 
a Igreja condenava a acumulação de bens materiais, os judeus iam na 
contramão, propondo a poupança e a multiplicação da riqueza. Da mesma 
forma, a nobreza medieval era perdulária. Leon Batista Alberti, em sua obra I 
libri dela famiglia, afirma o seguinte: “Recordai sempre isto, meus filhos, nunca 
permitais que vossos gastos superem vossos ingressos”. 
 Max Weber, na obra “A ética protestante e 
o espírito do capitalismo”, defenderá uma 
tese diferente de Sombart. Segundo ele, o 
capitalismo é oriundo do espírito do homem 
moderno, porém, diferente de Sombart que o 
condiciona apenas aos judeus, Weber afirma 
que o espírito do homem moderno está 
 
 
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intimamente determinado pela ética religiosa oriunda das reformas 
protestantes. Essa nova ética, à qual Weber chama de um ethos, 
corresponderia os seguintes valores: vida ascética, com comportamento 
sóbrio e frugal, além de trabalho constante, evitando usufruir da riqueza 
acumulada, por meio da restrição voluntária de consumo. Essa ética não 
condenava nem o trabalho, nem a acumulação de riquezas proveniente dele. 
Pelo contrário, viam nisso a realização da vontade de Deus. É sob esse 
espírito que surge e emerge a nova classe social, que possui as seguintes 
características: 
a. Valorização do sujeito, do indivíduo, em contrapartida à mentalidade 
medieval que considerava o ser humano como um “grão de areia num 
deserto”; 
b. Ilustração a partir dos valores greco-latinos; 
c. Valorização do indivíduo por meio, por exemplo, de pinturas e estátuas 
dos burgueses; 
d. O ser humano passa, novamente, a ser a medida de todas as coisas; 
e. Rejeição das interpretações dogmáticas e valorização da razão, por meio 
do abandono das superstições e crendices típicas do Antigo Regime. 
Tais valores são típicos e característicos da burguesia nascente e 
estava, praticamente restrita a ela, pois, o povo sequer sabia da existência de 
tais valores. Tais valores irão consolidar-se no liberalismo que defende a ideia 
da liberdade do indivíduo ante às suas escolhas, bem como, da livre 
concorrência, por exemplo, na realização dos negócios, com a mínima 
interferência do Estado. 
A partir do século XVII, a burguesia, não contente apenas com a 
acumulação de riquezas, passará também a reivindicar a participação no 
poder político de seus respectivos Estados. Em defesa de um Estado laico e 
moderno, lutará contra a nobreza e o clero pelo comando do mesmo. Com as 
 
 
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13 
revoluções burguesas do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII, 
assumirá a hegemonia da e na sociedade capitalista, procurando determinar 
os valores, as crenças, o conhecimento, e a forma como o sistema capitalista 
deverá estar organizado. 
Vamos ampliar ainda mais os seus estudos sobre o assunto? 
Primeiramente, assista ao vídeo sobre o Comércio, a Burguesia e o 
Renacimento. 
https://www.youtube.com/watch?v=1JmjIt9dIxI 
Agora, leia o texto a seguir “Surgimento da Burguesia”, do site Toda 
Matéria: conteúdos escolares. 
http://www.todamateria.com.br/burguesia/ 
Continue a leitura, agora, do artigo “Burgueses e Proletários”. 
http://www.sntpv.com.br/sindical/burgueseseproletarios.php 
Antes de continuar, preste atenção ao que o professor Rui tem a dizer 
sobre esse assunto. Acesse o material on-line. 
 
Capital e Trabalho 
Nosso objetivo nessa unidade de estudos é compreender as relações 
entre capital e trabalho. Para tanto, vamos, primeiramente, conceituar capital 
e trabalho e, ao mesmo tempo, apresentar algumas relações possíveis entre 
ambos. 
Capital é uma palavra de origem latina – capitalis, que deriva de caput 
– e é relativo à cabeça; mas, diferente de trabalho, para o nosso estudo, não 
herdou o significado latino. Em sentido econômico, capital, juntamente com 
terra e trabalho, é um fator de produção. E, nesse sentido, se refere a um 
determinado conjunto de bens que possui determinadas características, tais 
 
 
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14 
como: ser capaz de produzir outros bens; ser o resultado de ação humana; 
não findar no processo produtivo. Assim, por exemplo, o conhecimento tanto 
de um engenheiro, quanto de um operário na construção de uma obra, 
constitui capital, pois, o mesmo é capaz de produzir um outro bem: no caso, 
uma casa. 
Trabalho é uma palavra de origem latina – tripalium – antigo 
instrumento de tortura da época do Império Romano, onde os escravos eram 
torturados. Também era um instrumento onde os agricultores batiam o trigo e 
as espigas de milho para rasgá-las, esfiapá-las e tirar os grãos das mesmas. 
De tripalium deriva o verbo tripaliare. Assim, 
num primeiro momento, a palavra trabalho 
está associada a um instrumento de tortura. 
Da mesma forma, se tomarmos o conceito 
trabalho tanto no sentido adâmico, quanto a 
partir da mitologia grega, também nessas 
origens, estão relacionadas a ideia de 
sofrimento. Faça a leitura do texto a seguir 
para entender, clique no ícone em destaque! 
No mito adâmico, por exemplo, trabalho é um dos castigos atribuídos 
a Adão e Eva pela desobediência a Deus: “No suor do teu rosto comerás o 
teu pão, até que te tornes à terra”. Na mitologia grega, temos o mito de 
Pandora, que explica como os males vieram ao mundo e o sentido simbólico 
do trabalho, quando Prometeu é acorrentado a um rochedo e tem seu fígado 
comido diariamente por uma águia para, à noite regenerar-se e, no dia 
seguinte, ser comido novamente. Assim, no imaginário temos o trabalho como 
algo torturante. Da mesma forma a origem do seu pagamento, salário, que 
deriva do latim salarium – porção de sal que servia de pagamento aos 
soldados. Porém, tanto a palavra trabalho quanto o seu sentido vão muito 
além desses sentidos históricos. Faz-se necessário resgatar tanto o sentido 
ontológico, quanto o econômico. 
 
 
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 Em sentido ontológico, trabalho é uma ação humana, intencional e 
sobre a natureza ou realidade, dispendendo energia física e intelectual, para 
extrair dessa mesma realidade ou natureza, aqueles bens materiais (roupas, 
calçados, ferramentas, moradias, meios de transporte, etc.) e imateriais 
(costumes, língua, crenças, tradições,arte, etc.) necessários à sua 
reprodução também material (reprodução da sua condição biológica individual 
e enquanto espécie) e imaterial (suas crenças, valores, costumes, etc.). 
Nesse sentido, por meio do trabalho, o ser humano se emancipa em relação 
à natureza, pois, ao agir intencionalmente sobre ela, não mais depende 
apenas do que ela produz, mas, passa a transformá-la de acordo com as suas 
necessidades e interesses. Da mesma forma, por meio do trabalho, o ser 
humano vai se constituindo enquanto ser. Sua produção e reprodução 
material e imaterial vão muito além 
do seu existir individual. 
Derivado desse sentido ontológico, 
uma outra subdivisão do conceito de 
trabalho são suas dimensões 
materiais e imateriais. No primeiro 
sentido – o material – trabalho é o 
tipo de ação onde a energia física – desgaste de músculos e nervos – é muito 
maior do que o dispêndio de energia mental – conhecimento, intelecto, 
animus. Nesse caso, por exemplo, o trabalho de um pedreiro, de uma 
faxineira, de um mecânico, de garis, dentre outras. Nessa e em outras 
profissões assemelhadas, dispende-se mais energia física do que mental. O 
que não significa que não se utilize energia mental. Até porque, sempre que 
realizamos qualquer atividade, para a realizarmos, precisamos e, 
inexoravelmente, pensamos. Já o trabalho imaterial é aquele onde a energia 
mental é mais utilizada do que a física. É o caso de profissões como as de 
engenharia, medicina, docência, escritor, administração, artística (com 
algumas exceções), direito, dentre outras. Nessas, a energia mental – 
conhecimento, intelecto, animus – são mais utilizadas do que a energia física. 
 
 
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16 
Da mesma forma, esse segundo tipo de trabalho – o imaterial – também 
se subdivide em outros dois: o que é consumido no exato momento de sua 
produção e o que possui uma distância temporal entre a sua produção e o seu 
consumo. No primeiro caso, por exemplo, temos o trabalho do docente. Sua 
aula é consumida no exato momento de sua produção. Há exceções quando 
essa aula se refere ao ensino à distância, que é esse caso. Da mesma forma 
é o caso de um artista – músico, ator – que, tem sua arte consumida enquanto 
o espetáculo acontece. No segundo caso, por exemplo, temos o caso do 
escritor – de literatura, poesia, ciência – cuja sua obra é consumida mantendo 
uma distância temporal entre a sua produção e seu consumo. 
Porém, trabalho, não 
possui apenas esse sentido 
ontológico. Um outro sentido 
para a palavra é o atribuído por 
Marx nas relações capitalistas: 
trabalho abstrato. Trabalho 
abstrato é a ação realizada pelo 
trabalhador assalariado na produção de mercadorias, em troca de uma 
remuneração, o salário, que é pago, no capitalismo, por meio de um 
determinado tipo de mercadoria: o dinheiro. Essa forma de trabalho, onde se 
troca força de trabalho por algum tipo de remuneração, substituiu a partilha 
que era praticada nas comunidades primitivas e ainda o é em determinadas 
comunidades não integradas ao sistema capitalista. No capitalismo, é por 
meio da exploração do trabalho de um terceiro, que se extrai, subtrai a riqueza 
de quem o produziu, transferindo-a ao dono do capital. 
A riqueza ou valor de uma mercadoria qualquer é o resultado dos 
materiais, do tempo, da força de trabalho, das técnicas e tecnologias, dentre 
outros elementos, necessárias à sua produção. 
Quer um exemplo? 
 
 
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Ao remunerar o trabalhador, o capitalista não o faz a partir e na mesma 
proporção da riqueza que o mesmo ajudou a produzir. É por meio da extração 
da mais-valia, que é a diferença entre a riqueza produzida pelo trabalhador e 
sua remuneração, que o capitalista gera e acumula lucros. Existem ainda, 
segundo Marx, duas outras formas de extração de mais-valia, que ampliam 
seu lucro: a mais-valia absoluta e mais-valia relativa. No primeiro caso, há um 
aumento da jornada de trabalho sem o respectivo aumento de salário. No 
segundo caso, tem-se o aumento da produtividade por meio da utilização e/ou 
ampliação de novas técnicas e tecnologias no processo produtivo. 
Veja também, o vídeo “Tempo, Trabalho e Subjetividade - Crises da 
Atualidade”. 
https://www.youtube.com/watch?v=Kg9MMI32auY 
Por fim, se num sentido ontológico, o trabalho humano é uma atividade 
dignificante e emancipadora de suas determinações históricas e naturais, 
quando realizado num sistema de partilha, o mesmo passa a ser degradante. 
Na sociedade capitalista, principalmente, é por meio do trabalho que se extrai 
mais-valia, seja absoluta, seja relativa e que, por meio do acúmulo de lucros 
nas mãos de quem detém os meios de produção, entre eles o capital, a 
riqueza produzida pelo mesmo vai se concentrado cada vez mais, aumentado 
as desigualdades econômicas e sociais dessa mesma sociedade, caso não 
se criem mecanismos de distribuição de rendas, seja na forma direta, seja na 
forma indireta ou com medidas compensatórias. 
 
 Sugestão de Leitura 
Artigo “Capital vs Trabalho” de AugustoM. 
http://wwweditorial.blogspot.com.br/2005/11/capital-vs-trabalho.html 
 
 
 
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 O professor Rui nos explica um pouco mais sobre este assunto tão 
rico, confira no material on-line! 
Ideologia 
Na canção Ideologia, de Cazuza e Frejat, o refrão repete 
insistentemente: “Ideologia, eu quero uma para viver! ”. O que é ideologia? 
Qual a sua função ou necessidade na existência humana? Será ela realmente 
necessária? Nosso objetivo agora, é refletir sobre esse conceito, buscando 
compreender seus significados, bem como sua importância na organização 
das sociedades. 
Entendeu? Agora assista ao vídeo a seguir para esclarecer melhor: 
https://www.youtube.com/watch?v=Xxi_DFBOXss 
 A palavra ideologia aparece pela primeira vez no século XIX, por 
intermédio do filósofo e político francês Destutt de Tracy. Para ele, ideologia 
seria a ciência que estuda as ideias: ideo + logia. Seu objetivo, influenciado 
pelo positivismo nas ciências característico do século XIX, era compreender 
como as ideias se formavam no interior de uma determinada sociedade, 
utilizando para isso, de um método que se assemelhasse às ciências da 
natureza. No mesmo século, outros pensadores irão incorporar o conceito em 
suas obras, tais como: Durkheim, Weber, 
Mannheim, Marx e Engels. No entanto, 
cada um incorporará num sentido diferente. 
Enquanto nos primeiros, preserva-se, de 
certa forma, o sentido original, em Marx e 
Engels, ideologia passa a significar o 
mascaramento da realidade, como 
veremos a seguir. 
 
 
 
 
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Para compreender o sentido que ideologia tem para Marx, faz-se 
necessário relacioná-lo com outro conceito também fundamental para 
compreender a sociedade capitalista: o de alienação. Para Marx, quando o 
operário produz tudo aquilo que produz, deixa nessas mercadorias, parte de 
sua existência, não somente em sentido temporal, mas, até mesmo, 
ontológico. No entanto, o produto de seu trabalho não lhe pertence. É afastado 
dele. Assim uma pergunta se nos aparece: como essa condição surge e 
permanece? É aí que entra a ideologia, em seu sentido negativo, como um 
instrumento de dominação de uma classe sobre outra. Essa condição é 
característica de uma sociedade dividida em classes, ao mesmo tempo em 
que separa o trabalho manual do trabalho intelectual. Assim, para se 
manterem nessa sociedade, os trabalhadores “abrem” mão de sua autonomia,sujeitando-se a todo e qualquer tipo de exploração que caracteriza esse 
sistema produtivo. No entanto, a dúvida permanece: por que o trabalhador se 
sujeita a essa condição e não reage? 
Para Marx, o que impede o operário de reagir são os processos 
ideológicos aos quais o mesmo está submetido, que o impedem de tomar 
consciência de suas condições históricas e materiais. Da mesma forma, para 
Marx, a ideologia mantém essa coesão social, não necessitando fazer uso de 
violência física para manter tal condição. Essa só entra em ação quando o 
recurso ideológico e a alienação deixam de cumprir os seus papéis de 
submissão. 
A primeira vez que Marx e Engels fazem uso do conceito de ideologia 
foi na obra Ideologia alemã. Nela os autores criticam o equívoco que, segundo 
eles, incorriam tanto Hegel, quanto os filósofos hegelianos: partir das ideias 
para explicar a realidade, quando o correto seria, partir da realidade para 
explicar as ideias. Isto é, para Marx e Engels, os filósofos idealistas alemães 
viam o mundo de cabeça para baixo. 
 
 
 
 
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Segundo Aranha: “Ideologia é o conjunto de 
representações e ideias, bem como de normas 
de conduta, por meio das quais o indivíduo é 
levado a pensar sentir e agir da maneira que 
convém à classe que detém o poder”. Assim, 
essas representações, quando distorcem a 
realidade, camuflando os conflitos nela 
existentes, funcionam como instrumento de 
coesão social. Dessa forma, a ideologia não somente camufla a realidade, 
como também ensina os indivíduos que a constituem a pensar e agir de 
determinada maneira. Fazendo-os agir assim, adapta-os a essa mesma 
sociedade, ao mesmo tempo em que impede que os mesmos vejam as 
diferenças sociais e passem a acreditar que a mesma é uma e harmônica; da 
mesma forma que, as possíveis desigualdades ou são naturais, ou são 
“vontade de Deus”. Assim, mantém-se a dominação de uma classe social 
sobre outra. 
Porém, vale lembrar que a ideologia não é uma mentira inventada pela 
classe dominante para manter a classe dominada nessas condições. A 
ideologia possui ainda outras características: 
a. Naturalização – as condições históricas e sociais são vistas e 
aceitas como sendo naturais; 
b. Universalização – os valores e crenças da classe dominante são 
tidos como universais e necessários; 
c. Abstração e aparecer social – distância entre o que a abstração diz 
da realidade e a realidade mesma; 
d. Lacuna – a universalização e a abstração ocultam a forma como a 
sociedade concretamente está organizada; 
e. Inversão – a ideologia toma a causa pelo efeito e vice-versa. As 
desigualdades sociais são vistas como resultantes das diferenças naturais 
existentes entre as pessoas de uma determinada sociedade. 
 
 
 
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Agora, revise o conceito de Ideologia Alemã com o vídeo a seguir: 
https://www.youtube.com/watch?v=ZjAqULphLkA 
 Além de Marx e Engels, outros filósofos críticos elaboraram explicações 
para o conceito de ideologia. Lênin, por exemplo, compreende a ideologia em 
seu sentido positivo. Para ele, a ideologia, para os operários, são as ideias 
que os mesmos elaboram em contraposição à ideologia elaborada pelas 
classes dominantes. Lukács a entende em sentido análogo. Para ele, a 
ideologia orienta os indivíduos na vida prática, fazendo com que os mesmos 
possam resolver problemas concretos de seu cotidiano viver em sociedade. 
Para ele, a ideologia em si não dissimula a luta de classes. Apenas quando 
os conflitos sociais aparecem é que a mesma passa, também, a cumprir esse 
papel. 
Da mesma forma, para o filósofo italiano Gramsci, a ideologia funciona 
como uma espécie de cimento para manter a estrutura social. Por meio dela, 
a classe que se tornará dominante, obterá a 
hegemonia por meio do consenso de suas ideias. 
Nessa mesma sociedade, segundo ele, cumpre 
papel fundamental os intelectuais orgânicos, que 
serão os responsáveis por contrapor a ideologia 
dominante, fazendo com que os operários tomem 
“consciência de sua missão histórica”. 
 
 Sugestão de Leitura 
O que é ideologia de Marilena Chauí. Não deixe de conferir! 
https://drive.google.com/file/d/0B9KQSm2-3ng6YjRUazRaMmltdjA/view?pli=1 
Assista, ainda, à videoaula do professor Rui, com outras considerações 
a respeito desse tema. Acesse o material on-line! 
 
 
 
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Alienação 
Chegamos à última unidade temática dessa rota de aprendizagem: a 
alienação. Nosso objetivo é compreender como a mesma surge, bem como, 
suas consequências na organização da vida em sociedade. Comecemos por 
sua etimologia. A palavra alienação deriva do latim alienare, que significa 
“afastar”. E, alienare deriva de alius, alienus, que significam “outro”. Podemos 
entender o conceito de alienação em vários sentidos: 
a) Jurídico – quando um bem que me pertence está alienado a outro; por 
exemplo, um carro financiado que está alienado a uma financeira; 
b) Psiquiátrico – quando um indivíduo é ou está alheio a si mesmo; 
c) Político – quando o cidadão transfere para seus representantes o poder 
de decidir sobre sua vida e da sociedade da qual faz parte; 
d) Linguagem filosófica – o indivíduo passa a viver a partir do que outros 
determinam como modo de vida e não como uma decisão própria. 
 
Hegel foi o primeiro filósofo a utilizar o conceito. Para ele, por meio da 
alienação, o indivíduo coloca, nos objetos criados por ele, suas 
potencialidades. O segundo filósofo que faz uso do sentido de alienação que 
nos interessa, foi Feuerbach. Segundo ele, o processo de alienação ocorre da 
seguinte forma: diante do mundo e da existência das coisas, o ser humano 
busca uma explicação para os mesmos. Nessa tentativa de explicação, apela 
para a existência de uma força exterior e superior a si mesmo, que seria a 
responsável por tais fenômenos. Assim, características humanas, tais como 
inteligência, beleza, justiça, vontade livre, bondade, dentre outras, são 
superlativadas e, a esse ser, atribui ainda as qualidades de ser onisciente e 
onipresente. Ocorre que, com o passar do tempo, os seres humanos 
esquecem que tal ser (ou seres) é uma criação humana. E, a partir daí ele faz 
 
 
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um processo inverso: passa a acreditar que, pelo mesmo poder tudo, saber 
tudo, fazer tudo, crê-se como obra do mesmo. 
Em contrapartida, passa a acreditar que é necessário adorá-lo, celebrar cultos 
em seu nome, bem como lhe ter temor. Dessa forma, o ser humano não mais 
reconhece que esse ser é uma criação sua, mas, ao contrário, ele é que é 
criação desse Ser. 
 
Qual será a análise de Marx a alienação? 
Diferentemente de Feuerbach e de Hegel, Marx analisará a alienação 
não somente como um processo teórico, mas, e principalmente, prático. 
Primeiramente, ele começa afirmando que a alienação ocorre em dois 
momentos: o da objetivação – quando o ser humano se exterioriza e se 
objetiva nos objetos e coisas que cria; e a alienação propriamente dita – 
quando o ser humano, deixando de identificar que as coisas que faz são de 
sua autoria, transfere a elas suas potencialidades. Tais criações não lhe 
pertencem mais, mas, pertence àqueles que pagaram pelo seu serviço. Para 
Marx, o processo de alienação do indivíduo dá-se, no processo de produção 
das mercadorias, quando o mesmo vende sua força de trabalho ao capitalista. 
A partir daí tudo o que é criação sua, até mesmo seu tempo de existência e 
os conhecimentos que possui, nãomais lhe pertencem. Esse processo 
acontece por meio de outros dois acontecimentos. 
 
 
 
 
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 Fetichismo da mercadoria – as mercadorias produzidas pelo 
trabalhador que, num primeiro momento são seres, coisas inanimadas, 
num segundo momento passam a adquirir vida própria, uma vez que seu 
valor de troca é superior ao seu valor de uso. Por conseguinte, as mesmas 
passam a determinar as relações humanas. Isto é, não se trata mais da 
relação produtiva entre um cozinheiro e um sapateiro, mas, entre uma 
refeição e um par de sapatos. 
 
 Reificação – processo de inversão de valores: as coisas são 
“humanizadas” e, os seres humanos são coisificados, isto é, transformado 
em mercadoria. 
Esse processo de alienação na produção, podemos compreendê-lo, 
ainda, numa rápida digressão histórica. Até à época das corporações de 
ofício, o mestre artesão dominava todo o processo de produção de uma 
determinada mercadoria, desde a produção e preparação da matéria-prima 
necessária à sua atividade laboral, até, muitas vezes, a comercialização do 
produto final. Ao mesmo tempo, era dono do seu tempo de trabalho, bem 
como das ferramentas e do local onde o mesmo exercia seu ofício. A partir do 
surgimento das manufaturas, parte desse processo produtivo passa a ser 
executado por máquinas e, aos poucos, o mestre artesão passa a ser 
despossuído, isto é, perde o controle parcial de parte do que é produzido. 
Quando surgem as indústrias e fábricas, o processo de perda se efetiva por 
completo. Uma vez que não pertencem ao operário nem o resultado e nem 
seu tempo de trabalho; também não lhe pertencem as ferramentas, o local de 
trabalho e os conhecimentos necessários à produção daquilo que o mesmo 
faz. Resta-lhe apenas a força de trabalho, que a vende em troca de uma 
remuneração, que não condiz com o que produz, uma vez que produz muito 
mais valor do que o que recebe. 
O processo de alienação ocorre, ainda, em outras dimensões da 
existência humana. Podemos encontrá-la, também, no consumo e no lazer, 
por exemplo. No primeiro caso, entre o desejo e a necessidade, passamos a 
 
 
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consumir muito mais para satisfazer nossos desejos, do que pelas 
necessidades reais que temos. Outro problema, denunciado pelos filósofos da 
Teoria Crítica, são os desejos e necessidades criados pela indústria cultural, 
a partir de estratégias de marketing e mesmo de organização do próprio 
processo produtivo, onde as mercadorias são planejadas para tornarem-se 
obsoletas rapidamente. Ao mesmo tempo, essa obsolescência também passa 
a ser transferida para as relações humanas, seja no âmbito da 
interpessoalidade, seja no âmbito das relações econômicas quando, por 
exemplo, um trabalhador é dispensado do processo produtivo com o 
argumento de que o mesmo “não atende aos interesses e expectativas da 
empresa”. O vídeo a seguir, faz um resgate do que vimos até o momento. 
Confira! 
https://www.youtube.com/watch?v=ED0BeVbXn5U 
Outra forma de alienação ocorre também no lazer. Desde o início da 
Revolução Industrial, os trabalhadores lutam pela redução da jornada de 
trabalho, buscando ampliar tanto se tempo liberado do trabalho, quanto seu 
tempo livre. O primeiro seria para ocupar com atividades que estão 
relacionadas ao próprio trabalho, mas, também outras atividades sociais, tais 
como: transporte de casa até o trabalho e vice-versa; convívio familiar, social, 
político, religioso, etc., dentre outros. Já o tempo livre seria o que sobra após 
ter realizado todas essas atividades. Seria o tempo do descanso, para renovar 
sua capacidade produtiva, mas, também, do tempo do ócio, onde realizaria 
atividades artísticas, culturais, esportivas, literárias, etc. O problema é que, 
como denunciam Adorno e Horkheimer, também esse tempo passa a ser 
produzido e direcionado pelo processo produtivo. Até mesmo essas atividades 
não são o resultado das escolhas livres do indivíduo, mas, são produzidas e 
dirigidas para mantê-lo preso ao próprio sistema produtivo. 
O tempo livre, que seria um tempo do indivíduo dedicado tão somente 
a ele mesmo, passa a ser visto como uma nova fonte de lucro. Somente por 
 
 
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meio de um processo de estranhamento, de tó thaumázein, é que poderíamos 
romper com essa lógica de alienação total. 
A seguir, faça a leitura dos textos: Alienação e Alienação em Marx. 
http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/alienacao.php 
http://cafecomsociologia.com/2016/01/alienacao-em-marx.html 
Na videoaula a seguir, o professor Rui explica as peculiaridades deste 
tema. Confira! 
 
TROCANDO IDEIAS 
Como fazer frente às estratégias de marketing da indústria cultural que, 
diuturnamente, incentivam o consumismo, seja do ponto de vista institucional, 
seja do ponto de vista de estratégias de resistência ao consumo alienado? 
Comente sobre essa questão no fórum da nossa aula, disponível no 
Ambiente Virtual de Aprendizagem. Aproveite para trocar experiências e 
aprender com seus colegas! 
 
SÍNTESE 
Estamos no fim desta aula, vamos recordar o que estudamos hoje? 
 Iniciamos essa rota de aprendizagem procurando compreender a 
emergência histórica e social do mundo burguês. Vimos que o mesmo começa 
a ser gestado ainda no interior da sociedade medieval, a partir das 
transformações políticas e econômicas ocorridas a partir, principalmente, do 
século XII, com as Cruzadas e o renascimento comercial e urbano. Em seguida, 
alinhada com essa emergência, vimos também o nascimento da classe social 
dominante e representativa dessa nova mentalidade, a burguesia, bem como as 
 
 
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principais ideias que a mesma passa a defender, para contrapor o Antigo 
Regime. 
Como consequência dessas mudanças, buscamos compreender o 
nascimento da relação capital x trabalho sob as crenças e valores da sociedade 
emergente e como, sob novas condições, o capital vai se apropriando das 
riquezas produzidas pelo trabalho, para continuar o seu processo de 
acumulação. Da mesma forma, diferenciamos os tipos de trabalho, tanto no 
sentido ontológico, como no sentido prático das relações capitalistas de 
produção. 
Por fim, buscamos compreender dois mecanismos pelos quais a 
sociedade capitalista busca manter e reproduzir as relações econômicas e 
sociais que caracterizam esse modelo de sociedade: a ideologia e a alienação. 
Não deixe de assistir, no material on-line à videoaula com o professor 
Rui, que apresenta os principais pontos desta aula. 
 
REFERÊNCIAS 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. 
 
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. 
 
COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013. 
 
DUSSEL, Enrique D. Des descubrimiento al desencubrimiento. Revista 
Reflexão. Ano XI. Nº 34. Campinas: Editora PUCCAMP. Jan/abril 1986. p. 5-
15. 
 
OS PENSADORES. Benjamin, Horkheimer, Adorno e Habermas. São Paulo: 
Editora Victor Civita, 1975.

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