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CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Fundamentos de Filosofia Prof. Rui Valese Aula 4 CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 CONVERSA INICIAL Muito bem-vindo a mais esta aula da disciplina de Fundamentos de Filosofia! Nesta aula, nosso principal objetivo é compreender o advento da modernidade e da contemporaneidade, bem como alguns de seus principais problemas. A modernidade é um período histórico que se inicia por volta do século XVII e vai até o século XIX. É importante destacar que essas transformações ocorreram na Europa, porém, não se restringem a ela. Essas mudanças também atingiram outras sociedades e culturas, sofrendo seus impactos. Por exemplo: grande parte da acumulação de capitais que financiaram a Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX dá-se por meio da exploração colonial prática por portugueses, espanhóis e, principalmente, ingleses, seja nas Américas, seja no continente africano. A modernidade é marcada pela mudança de alguns conceitos, como o de ser humano, de conhecimento, de ciência, de cultura, de relação com a natureza. Tais mudanças deixam marcas ainda hoje. Tanto que, para alguns pensadores, ainda não poderíamos falar em contemporaneidade nem em pós- modernidade, pois, a modernidade ainda não teria se cumprido. Já outros afirmam que, alguns dos problemas que tivemos ao longo do século XX, como os regimes nazifascistas, seriam fruto dessa modernidade. A videoaula correspondente a esta seção está no material on-line! CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 CONTEXTUALIZANDO Agora um pequeno desafio! Por que alguns sujeitos históricos que passaram por processos violentos de exclusão, tempos depois, tendem a repetir os mesmos processos em outros sujeitos históricos? Para refletir sobre essa questão, assista ao documentário: https://www.youtube.com/watch?v=GCcV7AtYgwo Não esqueça também de sempre buscar conteúdos externos e consultar outras literaturas acerca do assunto! Agora assista ao vídeo de contextualização do professor Rui no material on-line! PESQUISE Nascimento da Modernidade Durante a Idade Média, na Europa, o ser humano só tinha sentido em sua relação com o divino. Mesmo a relação com outros indivíduos da mesma espécie, dava-se a partir da relação com Deus. Por sermos todos filhos do mesmo Deus, fazíamos parte da mesma família. Portanto, éramos todos irmãos. Da mesma forma, a existência humana só fazia sentido se vivida como uma forma de alcançar a vida eterna. Dessa forma, tudo aquilo que remetesse a esse mundo era considerado feio, pecaminoso, corrompido e corruptível. Por outro lado, tudo que estava relacionado ao mundo espiritual era perfeito, belo, bom. Assim, nosso objetivo, nessa unidade de estudo, é compreender a mentalidade que emerge a partir do renascimento, seus determinantes CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 históricos, bem como, quais as principais características dessa nova mentalidade. Vejamos, primeiramente, os determinantes históricos do aparecimento dessa nova mentalidade. A partir do século XI, alguns cristãos iniciam uma série de viagens até o Oriente Médio, para libertar Jerusalém da dominação dos muçulmanos. Essas viagens, que num primeiro momento tinham caráter religioso e militar, passando depois a ter um caráter mais comercial e militar do que religioso, ficaram conhecidas como cruzadas. Isso porque, os cruzados, aproveitando a viagem de volta à Europa, traziam mercadorias que encontravam na região e não em sua terra natal. Essa atividade comercial demandará outras mudanças. Dentre elas, podemos destacar: Conhecimentos de geografia para estabelecerem as melhores rotas; Conhecimentos do clima e do tempo, bem como das estações do ano para determinarem qual a melhor época do ano para realizarem a viagem; Conhecimentos de administração e contabilidade para gerenciamento dos negócios; Conhecimento de outras culturas e línguas para estabelecer relações comerciais e diplomáticas, etc. Tais demandas provocaram uma mudança de mentalidade com relação ao conhecimento que, antes, era considerado monopólio e privilégio de alguns religiosos – o alto clero – e, agora, tornava-se uma necessidade para a classe que emergia aos poucos – a burguesia. Ao mesmo tempo, os padrões de pesos e medidas precisaram passar por um processo de unificação para facilitar as atividades comerciais. À época do feudalismo, como os feudos eram praticamente autônomos, cada um CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 possuía um sistema de pesos e medidas. O que dificultava ou até impossibilitava as atividades comerciais. Ao mesmo tempo, havia a necessidade da utilização de moedas para as transações comerciais, fazendo surgir as primeiras casas bancárias. O enriquecimento da nova classe social (a burguesia) e sua aliança com alguns monarcas faz surgir as primeiras universidades: Universidade de Paris, em 1150; a de Oxford, em 1167; a de medicina em Saler, Itália, em 1173; Montpellier (França), em 1181; Bolonha (Itália), em 1185; Vicenza (Itália), em 1204; Cambridge (Inglaterra), em 1209; Palência (Espanha), em 1212; Arezzo Itália), em 1215; Salamanca (Espanha), em 1220; Pádua (Itália), em 1222; Nápoles (Itália), em 1224; Vercelli (Itália), em 1228; Toulouse (França), em 1229; Angers (França), em 1229; Valença (Espanha), em 1245; Siena (Itália), em 1246; Placenza (Itália), em 1248; Valladolid (Espanha), em 1250; Sevilha (Espanha), em 1254 (As datas de criação das universidades podem ser divergentes, quando a fonte consultada também é diferente. Isso porque alguns historiadores não levam em conta o início de um curso, somente, mas, quando há vários cursos funcionando simultaneamente. Assim, por exemplo, para alguns historiadores, a Universidade de Bolonha foi fundada em 1150, enquanto a de Paris teria sido fundada apenas em 1214). Com o surgimento das universidades, mesmo que algumas tenham sido fundadas com a participação do clero, o conhecimento passa a ser considerado como laico e, cada vez mais, atende aos interesses da burguesia. Ao mesmo tempo, essa classe social, para adquirir o status que somente a riqueza ainda não lhe proporcionava, passa a financiar artistas, bem como a estudar os clássicos gregos e romanos. Esse movimento dará início ao CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 nascimento do humanismo renascentista, que definitivamente recolocará o ser humano no centro de suas atenções. Durante a Idade Média, a razão humana era compreendida como uma extensão do poder divino. Porém, como o renascimento cultural e o humanismo, a mesma adquire autonomia e torna-se subjetiva, isto é, é o sujeito mesmo que conhece, e não o conhecimento lhe é passado por meio do Espírito Santo, como se defendia no período medievo. O ego cogito cartesiano é a primeira expressão dessa mentalidade. Como também a ideia lockeana de que a mente humana é uma tabula rasa. Com a Reforma Protestante iniciada no século XVI, há uma certa liberdade no pensar, pois, a Inquisição católica não podia alcançar os pensadores protestantes1. Quando se fala de um conhecimento subjetivo, relativo ao sujeito, não significa que o mesmo seja também relativo. Mas que, por meio de um método adequado, o indivíduo pode conhecer as coisas, conhecer o mundo, saber como o mesmo funciona, quaisas leis que explicam os acontecimentos. Por exemplo: por que um objeto qualquer cai? Antes, acreditava-se que nada acontecia que não fosse por vontade de Deus. Assim, se um objeto qualquer caísse, era porque Deus queria. Agora, formula-se uma lei para explicar tal fenômeno: a lei da gravidade. O mundo passa a ser desencantado, desmitologizado. Uma outra forma de desencantar o mundo foram as grandes navegações realizadas por portugueses e espanhóis, com o objetivo de encontrar um novo caminho rumo ao Oriente. Isso se deveu pelo fato de que em 1453, o Império Turco Otomano conquista Constantinopla, bloqueando o comércio entre o Oriente e a Europa. Para continuarem a usar essa rota, os comerciantes tinham que pagar uma espécie de pedágio, o que acabava 1 A Inquisição não foi um fenômeno somente católico. Também as religiões protestantes tiveram seus tribunais de inquisição, seja na Europa, seja na América do Norte. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 encarecendo o custo das mercadorias que seriam vendidas na Europa. Dessa forma, favorece o incentivo à navegação pelas costas do continente africano. Ocorre que, a crença de que a Terra era uma superfície plana, fazia as pessoas acreditarem que o mar acabava num precipício. Ou que o mesmo era habitado por monstros marinhos gigantescos, capazes de engolir uma embarcação da época. Essas crenças eram alimentadas, na medida em que muitas embarcações não retornavam quando adentravam em alto mar, ou mesmo quando, de um naufrágio, sobravam apenas destroços no litoral. Em 1417, D. Henrique, funda em Sagres, uma escola de navegação. Seu principal objetivo era reunir ali, pessoas, cartas de navegação e conhecimentos que se tinha até aquele momento para aperfeiçoar as técnicas de navegação, que eram bastante precárias. A teoria de Copérnico e de Galileu, de que a Terra não era uma superfície plana, mas, esférica e, o aperfeiçoamento das embarcações e das técnicas de navegação permitiram viagens mais seguras. Das grandes navegações surgiram novos problemas. O encontro com povos e culturas ainda desconhecidos dos europeus, provocam-lhes novos desafios. Do ponto de vista religioso, a Igreja Católica via uma nova perspectiva de crescimento na medida em que se propõe a “evangelizar” os gentios. Ao mesmo tempo, ensinava-lhe não somente a fé, mas, também, os valores culturais europeus, como a língua, as vestimentas, as formas de governo, etc. Do ponto de vista comercial, com a descoberta de metais e pedras preciosas em algumas dessas regiões, os governantes e comerciantes viram uma nova forma de acumulação de riquezas. Do ponto de vista metafísico, era a possibilidade que os europeus tinham de impor a esses povos, seu ethos civilizatório. Os mesmos, considerando-se superiores aos demais povos, se colocam a tarefa de elevá-los à condição de civilizados, impondo-lhes seus costumes, suas crenças, sua língua, suas leis, sua lógica dominadora. Assim, a CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Modernidade nasce a partir de profundas transformações econômicas e culturais, que provocam mudanças no âmbito individual, mas, também, no projeto de uma cultura (a europeia) sobre as demais (América, África e Ásia). Quer saber mais? Acesse o material complementar disponibilizado pelo professor Rui. http://www.scielo.br/pdf/ts/v7n1-2/0103-2070-ts-07-02-0045.pdf https://www.youtube.com/watch?v=I6BrqfJaaqM https://www.youtube.com/watch?v=Zz4YxPetGLA Assista também, à videoaula do professor Rui sobre esse assunto no material on-line. Não perca! Nascimento da Burguesia O nascimento da burguesia na Europa, junto com o fim do feudalismo, faz parte de um contexto de mudanças políticas, econômicas, culturais e mesmo filosóficas. Nosso objetivo nesta unidade de estudos é compreender seu nascimento, bem como as condições materiais e imateriais de seu surgimento. Antes de começarmos a refletir sobre o aparecimento da burguesia, faz-se necessário a caracterização de parte da mentalidade medieval, bem como dos sujeitos que atuavam a referida época. Para começar este assunto, vamos ler um material complementar enviado pelo professor Rui ! CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 A SOCIEDADE MEDIEVAL A sociedade medieval se caracteriza pela fragmentação de espaços e de poderes. Depois do fim do Império Romano do Ocidente, as pessoas que moravam nos poucos grandes centros urbanos, migram para o campo. Inclusive por questões de segurança, devido às invasões bárbaras. Porém, como não possuíam terras, acabavam se submetendo à autoridade de algum nobre proprietário de terra (antigo senhor romano rico) e lhe servindo. É assim que nasce a relação social predominante no período medieval: a servidão. O proprietário das terras garantia-lhe um lugar para morar e, em troca, o servo – antigo romano sem posses – lhe servia, trabalhando em suas terras e pagando ao dono da mesma algum tributo por trabalhar nela e retirar parte de seu sustento. Esse servo, além disso, não poderia sair da propriedade sem o consentimento do senhor. Nessa sociedade, outro sujeito importante era o clero. Esse, a partir do momento em que o catolicismo foi elevado à condição de religião oficial do Império Romano, antes de sua queda, possuía tanto o poder espiritual sobre os medievos, quanto, posteriormente, político e econômico. Mesmo com a queda do Império Romano, seu poder não foi abalado. Pelo contrário, até mesmo aumentou, uma vez que não havia um poder central que regulasse a vida das pessoas naquele período. Segundo alguns historiadores, o catolicismo funcionava como uma espécie de “cimento social”, que mantinha essa estrutura com uma certa unidade. Os reis, por outro lado, quando existiam, eram figuras políticas praticamente sem nenhuma expressão. Cumprindo mais um papel decorativo. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 A partir das cruzadas (século XII), inicia-se um processo de renascimento comercial e urbano que fará surgir uma nova classe social – a burguesia – e, ao mesmo tempo, a antiga ordem começará a passar por profundas transformações. Durante o período medieval, toda e qualquer atividade que estimulasse o acúmulo de riquezas ou preocupação com as questões materiais era desencorajado e, até mesmo, considerado como pecado. Assim, pregava-se uma vida de ascese, isto é, de controle e disciplina sobre o corpo e o espírito, como forma de se chegar ao Reino dos Céus. Com o renascimento comercial, muitos camponeses começam a abandonar o campo e migrarem para as cidades que começam a surgir. Muitas dessas migrações, inclusive, acontecem por meio de revoltas. O que, aos poucos, vai indicando à nobreza a necessidade de mudanças na forma de se governar. É dessa forma que o poder, antes descentralizado, vai, aos poucos, centralizando-se nas mãos dos reis. O que fará surgir, mais tarde, os estados nacionais. Essa centralização do poder, também agradava a nova classe emergente – a burguesia – uma vez que, essa centralização vinha acompanhada da unificação de um sistema de pesos, medidas, moeda e leis. E isso, facilitava e muito a atividade comercial. Ao mesmo tempo, a união dos reis com a burguesia será mais forte do que a união com a nobreza, já que, enquanto essa vai perdendo riqueza, aquela vai acumulando a partir de suas atividades econômicas. E os reis necessitavam de capitais, inclusive para constituir seus exércitos e ampliar seuspoderes e seus territórios. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Com o início das grandes navegações, do mercantilismo e da colonização tanto das Américas, quanto da África, o processo de acumulação de capitais por parte da burguesia aumentaria ainda mais. Esses recursos, aliás, seriam fundamentais tanto para o surgimento das manufaturas, quanto da Revolução Industrial. No entanto, como explicar o nascimento dessa classe social – a Burguesia? A partir da atividade comercial, já que, em outras sociedades e tempos, também algumas pessoas realizavam a atividade comercial e, nem por isso, constituíram-se em burgueses? Existe pelo menos duas respostas para esse problema. A primeira delas é oferecida por Werner Sombart. Para esse, tanto o capitalismo emergente, quanto a burguesia surgem devido ao espírito independente dos judeus em relação aos dogmas católicos. De fato, a Igreja Católica condenava tanto a usura, quanto o acúmulo de riquezas. Essa independência lhes permitia trabalharem com operações financeiras e bancarias, tanto emprestando dinheiro aos empreendedores, quanto mantendo sob sua guarda, parte do capital dos comerciantes que os obtinha por meio de sua atividade econômica. Enquanto a Igreja condenava a acumulação de bens materiais, os judeus iam na contramão, propondo a poupança e a multiplicação da riqueza. Da mesma forma, a nobreza medieval era perdulária. Leon Batista Alberti, em sua obra I libri dela famiglia, afirma o seguinte: “Recordai sempre isto, meus filhos, nunca permitais que vossos gastos superem vossos ingressos”. Max Weber, na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, defenderá uma tese diferente de Sombart. Segundo ele, o capitalismo é oriundo do espírito do homem moderno, porém, diferente de Sombart que o condiciona apenas aos judeus, Weber afirma que o espírito do homem moderno está CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 intimamente determinado pela ética religiosa oriunda das reformas protestantes. Essa nova ética, à qual Weber chama de um ethos, corresponderia os seguintes valores: vida ascética, com comportamento sóbrio e frugal, além de trabalho constante, evitando usufruir da riqueza acumulada, por meio da restrição voluntária de consumo. Essa ética não condenava nem o trabalho, nem a acumulação de riquezas proveniente dele. Pelo contrário, viam nisso a realização da vontade de Deus. É sob esse espírito que surge e emerge a nova classe social, que possui as seguintes características: a. Valorização do sujeito, do indivíduo, em contrapartida à mentalidade medieval que considerava o ser humano como um “grão de areia num deserto”; b. Ilustração a partir dos valores greco-latinos; c. Valorização do indivíduo por meio, por exemplo, de pinturas e estátuas dos burgueses; d. O ser humano passa, novamente, a ser a medida de todas as coisas; e. Rejeição das interpretações dogmáticas e valorização da razão, por meio do abandono das superstições e crendices típicas do Antigo Regime. Tais valores são típicos e característicos da burguesia nascente e estava, praticamente restrita a ela, pois, o povo sequer sabia da existência de tais valores. Tais valores irão consolidar-se no liberalismo que defende a ideia da liberdade do indivíduo ante às suas escolhas, bem como, da livre concorrência, por exemplo, na realização dos negócios, com a mínima interferência do Estado. A partir do século XVII, a burguesia, não contente apenas com a acumulação de riquezas, passará também a reivindicar a participação no poder político de seus respectivos Estados. Em defesa de um Estado laico e moderno, lutará contra a nobreza e o clero pelo comando do mesmo. Com as CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 revoluções burguesas do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII, assumirá a hegemonia da e na sociedade capitalista, procurando determinar os valores, as crenças, o conhecimento, e a forma como o sistema capitalista deverá estar organizado. Vamos ampliar ainda mais os seus estudos sobre o assunto? Primeiramente, assista ao vídeo sobre o Comércio, a Burguesia e o Renacimento. https://www.youtube.com/watch?v=1JmjIt9dIxI Agora, leia o texto a seguir “Surgimento da Burguesia”, do site Toda Matéria: conteúdos escolares. http://www.todamateria.com.br/burguesia/ Continue a leitura, agora, do artigo “Burgueses e Proletários”. http://www.sntpv.com.br/sindical/burgueseseproletarios.php Antes de continuar, preste atenção ao que o professor Rui tem a dizer sobre esse assunto. Acesse o material on-line. Capital e Trabalho Nosso objetivo nessa unidade de estudos é compreender as relações entre capital e trabalho. Para tanto, vamos, primeiramente, conceituar capital e trabalho e, ao mesmo tempo, apresentar algumas relações possíveis entre ambos. Capital é uma palavra de origem latina – capitalis, que deriva de caput – e é relativo à cabeça; mas, diferente de trabalho, para o nosso estudo, não herdou o significado latino. Em sentido econômico, capital, juntamente com terra e trabalho, é um fator de produção. E, nesse sentido, se refere a um determinado conjunto de bens que possui determinadas características, tais CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 como: ser capaz de produzir outros bens; ser o resultado de ação humana; não findar no processo produtivo. Assim, por exemplo, o conhecimento tanto de um engenheiro, quanto de um operário na construção de uma obra, constitui capital, pois, o mesmo é capaz de produzir um outro bem: no caso, uma casa. Trabalho é uma palavra de origem latina – tripalium – antigo instrumento de tortura da época do Império Romano, onde os escravos eram torturados. Também era um instrumento onde os agricultores batiam o trigo e as espigas de milho para rasgá-las, esfiapá-las e tirar os grãos das mesmas. De tripalium deriva o verbo tripaliare. Assim, num primeiro momento, a palavra trabalho está associada a um instrumento de tortura. Da mesma forma, se tomarmos o conceito trabalho tanto no sentido adâmico, quanto a partir da mitologia grega, também nessas origens, estão relacionadas a ideia de sofrimento. Faça a leitura do texto a seguir para entender, clique no ícone em destaque! No mito adâmico, por exemplo, trabalho é um dos castigos atribuídos a Adão e Eva pela desobediência a Deus: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra”. Na mitologia grega, temos o mito de Pandora, que explica como os males vieram ao mundo e o sentido simbólico do trabalho, quando Prometeu é acorrentado a um rochedo e tem seu fígado comido diariamente por uma águia para, à noite regenerar-se e, no dia seguinte, ser comido novamente. Assim, no imaginário temos o trabalho como algo torturante. Da mesma forma a origem do seu pagamento, salário, que deriva do latim salarium – porção de sal que servia de pagamento aos soldados. Porém, tanto a palavra trabalho quanto o seu sentido vão muito além desses sentidos históricos. Faz-se necessário resgatar tanto o sentido ontológico, quanto o econômico. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Em sentido ontológico, trabalho é uma ação humana, intencional e sobre a natureza ou realidade, dispendendo energia física e intelectual, para extrair dessa mesma realidade ou natureza, aqueles bens materiais (roupas, calçados, ferramentas, moradias, meios de transporte, etc.) e imateriais (costumes, língua, crenças, tradições,arte, etc.) necessários à sua reprodução também material (reprodução da sua condição biológica individual e enquanto espécie) e imaterial (suas crenças, valores, costumes, etc.). Nesse sentido, por meio do trabalho, o ser humano se emancipa em relação à natureza, pois, ao agir intencionalmente sobre ela, não mais depende apenas do que ela produz, mas, passa a transformá-la de acordo com as suas necessidades e interesses. Da mesma forma, por meio do trabalho, o ser humano vai se constituindo enquanto ser. Sua produção e reprodução material e imaterial vão muito além do seu existir individual. Derivado desse sentido ontológico, uma outra subdivisão do conceito de trabalho são suas dimensões materiais e imateriais. No primeiro sentido – o material – trabalho é o tipo de ação onde a energia física – desgaste de músculos e nervos – é muito maior do que o dispêndio de energia mental – conhecimento, intelecto, animus. Nesse caso, por exemplo, o trabalho de um pedreiro, de uma faxineira, de um mecânico, de garis, dentre outras. Nessa e em outras profissões assemelhadas, dispende-se mais energia física do que mental. O que não significa que não se utilize energia mental. Até porque, sempre que realizamos qualquer atividade, para a realizarmos, precisamos e, inexoravelmente, pensamos. Já o trabalho imaterial é aquele onde a energia mental é mais utilizada do que a física. É o caso de profissões como as de engenharia, medicina, docência, escritor, administração, artística (com algumas exceções), direito, dentre outras. Nessas, a energia mental – conhecimento, intelecto, animus – são mais utilizadas do que a energia física. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Da mesma forma, esse segundo tipo de trabalho – o imaterial – também se subdivide em outros dois: o que é consumido no exato momento de sua produção e o que possui uma distância temporal entre a sua produção e o seu consumo. No primeiro caso, por exemplo, temos o trabalho do docente. Sua aula é consumida no exato momento de sua produção. Há exceções quando essa aula se refere ao ensino à distância, que é esse caso. Da mesma forma é o caso de um artista – músico, ator – que, tem sua arte consumida enquanto o espetáculo acontece. No segundo caso, por exemplo, temos o caso do escritor – de literatura, poesia, ciência – cuja sua obra é consumida mantendo uma distância temporal entre a sua produção e seu consumo. Porém, trabalho, não possui apenas esse sentido ontológico. Um outro sentido para a palavra é o atribuído por Marx nas relações capitalistas: trabalho abstrato. Trabalho abstrato é a ação realizada pelo trabalhador assalariado na produção de mercadorias, em troca de uma remuneração, o salário, que é pago, no capitalismo, por meio de um determinado tipo de mercadoria: o dinheiro. Essa forma de trabalho, onde se troca força de trabalho por algum tipo de remuneração, substituiu a partilha que era praticada nas comunidades primitivas e ainda o é em determinadas comunidades não integradas ao sistema capitalista. No capitalismo, é por meio da exploração do trabalho de um terceiro, que se extrai, subtrai a riqueza de quem o produziu, transferindo-a ao dono do capital. A riqueza ou valor de uma mercadoria qualquer é o resultado dos materiais, do tempo, da força de trabalho, das técnicas e tecnologias, dentre outros elementos, necessárias à sua produção. Quer um exemplo? CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Ao remunerar o trabalhador, o capitalista não o faz a partir e na mesma proporção da riqueza que o mesmo ajudou a produzir. É por meio da extração da mais-valia, que é a diferença entre a riqueza produzida pelo trabalhador e sua remuneração, que o capitalista gera e acumula lucros. Existem ainda, segundo Marx, duas outras formas de extração de mais-valia, que ampliam seu lucro: a mais-valia absoluta e mais-valia relativa. No primeiro caso, há um aumento da jornada de trabalho sem o respectivo aumento de salário. No segundo caso, tem-se o aumento da produtividade por meio da utilização e/ou ampliação de novas técnicas e tecnologias no processo produtivo. Veja também, o vídeo “Tempo, Trabalho e Subjetividade - Crises da Atualidade”. https://www.youtube.com/watch?v=Kg9MMI32auY Por fim, se num sentido ontológico, o trabalho humano é uma atividade dignificante e emancipadora de suas determinações históricas e naturais, quando realizado num sistema de partilha, o mesmo passa a ser degradante. Na sociedade capitalista, principalmente, é por meio do trabalho que se extrai mais-valia, seja absoluta, seja relativa e que, por meio do acúmulo de lucros nas mãos de quem detém os meios de produção, entre eles o capital, a riqueza produzida pelo mesmo vai se concentrado cada vez mais, aumentado as desigualdades econômicas e sociais dessa mesma sociedade, caso não se criem mecanismos de distribuição de rendas, seja na forma direta, seja na forma indireta ou com medidas compensatórias. Sugestão de Leitura Artigo “Capital vs Trabalho” de AugustoM. http://wwweditorial.blogspot.com.br/2005/11/capital-vs-trabalho.html CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 O professor Rui nos explica um pouco mais sobre este assunto tão rico, confira no material on-line! Ideologia Na canção Ideologia, de Cazuza e Frejat, o refrão repete insistentemente: “Ideologia, eu quero uma para viver! ”. O que é ideologia? Qual a sua função ou necessidade na existência humana? Será ela realmente necessária? Nosso objetivo agora, é refletir sobre esse conceito, buscando compreender seus significados, bem como sua importância na organização das sociedades. Entendeu? Agora assista ao vídeo a seguir para esclarecer melhor: https://www.youtube.com/watch?v=Xxi_DFBOXss A palavra ideologia aparece pela primeira vez no século XIX, por intermédio do filósofo e político francês Destutt de Tracy. Para ele, ideologia seria a ciência que estuda as ideias: ideo + logia. Seu objetivo, influenciado pelo positivismo nas ciências característico do século XIX, era compreender como as ideias se formavam no interior de uma determinada sociedade, utilizando para isso, de um método que se assemelhasse às ciências da natureza. No mesmo século, outros pensadores irão incorporar o conceito em suas obras, tais como: Durkheim, Weber, Mannheim, Marx e Engels. No entanto, cada um incorporará num sentido diferente. Enquanto nos primeiros, preserva-se, de certa forma, o sentido original, em Marx e Engels, ideologia passa a significar o mascaramento da realidade, como veremos a seguir. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Para compreender o sentido que ideologia tem para Marx, faz-se necessário relacioná-lo com outro conceito também fundamental para compreender a sociedade capitalista: o de alienação. Para Marx, quando o operário produz tudo aquilo que produz, deixa nessas mercadorias, parte de sua existência, não somente em sentido temporal, mas, até mesmo, ontológico. No entanto, o produto de seu trabalho não lhe pertence. É afastado dele. Assim uma pergunta se nos aparece: como essa condição surge e permanece? É aí que entra a ideologia, em seu sentido negativo, como um instrumento de dominação de uma classe sobre outra. Essa condição é característica de uma sociedade dividida em classes, ao mesmo tempo em que separa o trabalho manual do trabalho intelectual. Assim, para se manterem nessa sociedade, os trabalhadores “abrem” mão de sua autonomia,sujeitando-se a todo e qualquer tipo de exploração que caracteriza esse sistema produtivo. No entanto, a dúvida permanece: por que o trabalhador se sujeita a essa condição e não reage? Para Marx, o que impede o operário de reagir são os processos ideológicos aos quais o mesmo está submetido, que o impedem de tomar consciência de suas condições históricas e materiais. Da mesma forma, para Marx, a ideologia mantém essa coesão social, não necessitando fazer uso de violência física para manter tal condição. Essa só entra em ação quando o recurso ideológico e a alienação deixam de cumprir os seus papéis de submissão. A primeira vez que Marx e Engels fazem uso do conceito de ideologia foi na obra Ideologia alemã. Nela os autores criticam o equívoco que, segundo eles, incorriam tanto Hegel, quanto os filósofos hegelianos: partir das ideias para explicar a realidade, quando o correto seria, partir da realidade para explicar as ideias. Isto é, para Marx e Engels, os filósofos idealistas alemães viam o mundo de cabeça para baixo. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Segundo Aranha: “Ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o indivíduo é levado a pensar sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder”. Assim, essas representações, quando distorcem a realidade, camuflando os conflitos nela existentes, funcionam como instrumento de coesão social. Dessa forma, a ideologia não somente camufla a realidade, como também ensina os indivíduos que a constituem a pensar e agir de determinada maneira. Fazendo-os agir assim, adapta-os a essa mesma sociedade, ao mesmo tempo em que impede que os mesmos vejam as diferenças sociais e passem a acreditar que a mesma é uma e harmônica; da mesma forma que, as possíveis desigualdades ou são naturais, ou são “vontade de Deus”. Assim, mantém-se a dominação de uma classe social sobre outra. Porém, vale lembrar que a ideologia não é uma mentira inventada pela classe dominante para manter a classe dominada nessas condições. A ideologia possui ainda outras características: a. Naturalização – as condições históricas e sociais são vistas e aceitas como sendo naturais; b. Universalização – os valores e crenças da classe dominante são tidos como universais e necessários; c. Abstração e aparecer social – distância entre o que a abstração diz da realidade e a realidade mesma; d. Lacuna – a universalização e a abstração ocultam a forma como a sociedade concretamente está organizada; e. Inversão – a ideologia toma a causa pelo efeito e vice-versa. As desigualdades sociais são vistas como resultantes das diferenças naturais existentes entre as pessoas de uma determinada sociedade. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Agora, revise o conceito de Ideologia Alemã com o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=ZjAqULphLkA Além de Marx e Engels, outros filósofos críticos elaboraram explicações para o conceito de ideologia. Lênin, por exemplo, compreende a ideologia em seu sentido positivo. Para ele, a ideologia, para os operários, são as ideias que os mesmos elaboram em contraposição à ideologia elaborada pelas classes dominantes. Lukács a entende em sentido análogo. Para ele, a ideologia orienta os indivíduos na vida prática, fazendo com que os mesmos possam resolver problemas concretos de seu cotidiano viver em sociedade. Para ele, a ideologia em si não dissimula a luta de classes. Apenas quando os conflitos sociais aparecem é que a mesma passa, também, a cumprir esse papel. Da mesma forma, para o filósofo italiano Gramsci, a ideologia funciona como uma espécie de cimento para manter a estrutura social. Por meio dela, a classe que se tornará dominante, obterá a hegemonia por meio do consenso de suas ideias. Nessa mesma sociedade, segundo ele, cumpre papel fundamental os intelectuais orgânicos, que serão os responsáveis por contrapor a ideologia dominante, fazendo com que os operários tomem “consciência de sua missão histórica”. Sugestão de Leitura O que é ideologia de Marilena Chauí. Não deixe de conferir! https://drive.google.com/file/d/0B9KQSm2-3ng6YjRUazRaMmltdjA/view?pli=1 Assista, ainda, à videoaula do professor Rui, com outras considerações a respeito desse tema. Acesse o material on-line! CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Alienação Chegamos à última unidade temática dessa rota de aprendizagem: a alienação. Nosso objetivo é compreender como a mesma surge, bem como, suas consequências na organização da vida em sociedade. Comecemos por sua etimologia. A palavra alienação deriva do latim alienare, que significa “afastar”. E, alienare deriva de alius, alienus, que significam “outro”. Podemos entender o conceito de alienação em vários sentidos: a) Jurídico – quando um bem que me pertence está alienado a outro; por exemplo, um carro financiado que está alienado a uma financeira; b) Psiquiátrico – quando um indivíduo é ou está alheio a si mesmo; c) Político – quando o cidadão transfere para seus representantes o poder de decidir sobre sua vida e da sociedade da qual faz parte; d) Linguagem filosófica – o indivíduo passa a viver a partir do que outros determinam como modo de vida e não como uma decisão própria. Hegel foi o primeiro filósofo a utilizar o conceito. Para ele, por meio da alienação, o indivíduo coloca, nos objetos criados por ele, suas potencialidades. O segundo filósofo que faz uso do sentido de alienação que nos interessa, foi Feuerbach. Segundo ele, o processo de alienação ocorre da seguinte forma: diante do mundo e da existência das coisas, o ser humano busca uma explicação para os mesmos. Nessa tentativa de explicação, apela para a existência de uma força exterior e superior a si mesmo, que seria a responsável por tais fenômenos. Assim, características humanas, tais como inteligência, beleza, justiça, vontade livre, bondade, dentre outras, são superlativadas e, a esse ser, atribui ainda as qualidades de ser onisciente e onipresente. Ocorre que, com o passar do tempo, os seres humanos esquecem que tal ser (ou seres) é uma criação humana. E, a partir daí ele faz CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 um processo inverso: passa a acreditar que, pelo mesmo poder tudo, saber tudo, fazer tudo, crê-se como obra do mesmo. Em contrapartida, passa a acreditar que é necessário adorá-lo, celebrar cultos em seu nome, bem como lhe ter temor. Dessa forma, o ser humano não mais reconhece que esse ser é uma criação sua, mas, ao contrário, ele é que é criação desse Ser. Qual será a análise de Marx a alienação? Diferentemente de Feuerbach e de Hegel, Marx analisará a alienação não somente como um processo teórico, mas, e principalmente, prático. Primeiramente, ele começa afirmando que a alienação ocorre em dois momentos: o da objetivação – quando o ser humano se exterioriza e se objetiva nos objetos e coisas que cria; e a alienação propriamente dita – quando o ser humano, deixando de identificar que as coisas que faz são de sua autoria, transfere a elas suas potencialidades. Tais criações não lhe pertencem mais, mas, pertence àqueles que pagaram pelo seu serviço. Para Marx, o processo de alienação do indivíduo dá-se, no processo de produção das mercadorias, quando o mesmo vende sua força de trabalho ao capitalista. A partir daí tudo o que é criação sua, até mesmo seu tempo de existência e os conhecimentos que possui, nãomais lhe pertencem. Esse processo acontece por meio de outros dois acontecimentos. CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Fetichismo da mercadoria – as mercadorias produzidas pelo trabalhador que, num primeiro momento são seres, coisas inanimadas, num segundo momento passam a adquirir vida própria, uma vez que seu valor de troca é superior ao seu valor de uso. Por conseguinte, as mesmas passam a determinar as relações humanas. Isto é, não se trata mais da relação produtiva entre um cozinheiro e um sapateiro, mas, entre uma refeição e um par de sapatos. Reificação – processo de inversão de valores: as coisas são “humanizadas” e, os seres humanos são coisificados, isto é, transformado em mercadoria. Esse processo de alienação na produção, podemos compreendê-lo, ainda, numa rápida digressão histórica. Até à época das corporações de ofício, o mestre artesão dominava todo o processo de produção de uma determinada mercadoria, desde a produção e preparação da matéria-prima necessária à sua atividade laboral, até, muitas vezes, a comercialização do produto final. Ao mesmo tempo, era dono do seu tempo de trabalho, bem como das ferramentas e do local onde o mesmo exercia seu ofício. A partir do surgimento das manufaturas, parte desse processo produtivo passa a ser executado por máquinas e, aos poucos, o mestre artesão passa a ser despossuído, isto é, perde o controle parcial de parte do que é produzido. Quando surgem as indústrias e fábricas, o processo de perda se efetiva por completo. Uma vez que não pertencem ao operário nem o resultado e nem seu tempo de trabalho; também não lhe pertencem as ferramentas, o local de trabalho e os conhecimentos necessários à produção daquilo que o mesmo faz. Resta-lhe apenas a força de trabalho, que a vende em troca de uma remuneração, que não condiz com o que produz, uma vez que produz muito mais valor do que o que recebe. O processo de alienação ocorre, ainda, em outras dimensões da existência humana. Podemos encontrá-la, também, no consumo e no lazer, por exemplo. No primeiro caso, entre o desejo e a necessidade, passamos a CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 consumir muito mais para satisfazer nossos desejos, do que pelas necessidades reais que temos. Outro problema, denunciado pelos filósofos da Teoria Crítica, são os desejos e necessidades criados pela indústria cultural, a partir de estratégias de marketing e mesmo de organização do próprio processo produtivo, onde as mercadorias são planejadas para tornarem-se obsoletas rapidamente. Ao mesmo tempo, essa obsolescência também passa a ser transferida para as relações humanas, seja no âmbito da interpessoalidade, seja no âmbito das relações econômicas quando, por exemplo, um trabalhador é dispensado do processo produtivo com o argumento de que o mesmo “não atende aos interesses e expectativas da empresa”. O vídeo a seguir, faz um resgate do que vimos até o momento. Confira! https://www.youtube.com/watch?v=ED0BeVbXn5U Outra forma de alienação ocorre também no lazer. Desde o início da Revolução Industrial, os trabalhadores lutam pela redução da jornada de trabalho, buscando ampliar tanto se tempo liberado do trabalho, quanto seu tempo livre. O primeiro seria para ocupar com atividades que estão relacionadas ao próprio trabalho, mas, também outras atividades sociais, tais como: transporte de casa até o trabalho e vice-versa; convívio familiar, social, político, religioso, etc., dentre outros. Já o tempo livre seria o que sobra após ter realizado todas essas atividades. Seria o tempo do descanso, para renovar sua capacidade produtiva, mas, também, do tempo do ócio, onde realizaria atividades artísticas, culturais, esportivas, literárias, etc. O problema é que, como denunciam Adorno e Horkheimer, também esse tempo passa a ser produzido e direcionado pelo processo produtivo. Até mesmo essas atividades não são o resultado das escolhas livres do indivíduo, mas, são produzidas e dirigidas para mantê-lo preso ao próprio sistema produtivo. O tempo livre, que seria um tempo do indivíduo dedicado tão somente a ele mesmo, passa a ser visto como uma nova fonte de lucro. Somente por CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 meio de um processo de estranhamento, de tó thaumázein, é que poderíamos romper com essa lógica de alienação total. A seguir, faça a leitura dos textos: Alienação e Alienação em Marx. http://www.estudantedefilosofia.com.br/conceitos/alienacao.php http://cafecomsociologia.com/2016/01/alienacao-em-marx.html Na videoaula a seguir, o professor Rui explica as peculiaridades deste tema. Confira! TROCANDO IDEIAS Como fazer frente às estratégias de marketing da indústria cultural que, diuturnamente, incentivam o consumismo, seja do ponto de vista institucional, seja do ponto de vista de estratégias de resistência ao consumo alienado? Comente sobre essa questão no fórum da nossa aula, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Aproveite para trocar experiências e aprender com seus colegas! SÍNTESE Estamos no fim desta aula, vamos recordar o que estudamos hoje? Iniciamos essa rota de aprendizagem procurando compreender a emergência histórica e social do mundo burguês. Vimos que o mesmo começa a ser gestado ainda no interior da sociedade medieval, a partir das transformações políticas e econômicas ocorridas a partir, principalmente, do século XII, com as Cruzadas e o renascimento comercial e urbano. Em seguida, alinhada com essa emergência, vimos também o nascimento da classe social dominante e representativa dessa nova mentalidade, a burguesia, bem como as CCDD - Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 principais ideias que a mesma passa a defender, para contrapor o Antigo Regime. Como consequência dessas mudanças, buscamos compreender o nascimento da relação capital x trabalho sob as crenças e valores da sociedade emergente e como, sob novas condições, o capital vai se apropriando das riquezas produzidas pelo trabalho, para continuar o seu processo de acumulação. Da mesma forma, diferenciamos os tipos de trabalho, tanto no sentido ontológico, como no sentido prático das relações capitalistas de produção. Por fim, buscamos compreender dois mecanismos pelos quais a sociedade capitalista busca manter e reproduzir as relações econômicas e sociais que caracterizam esse modelo de sociedade: a ideologia e a alienação. Não deixe de assistir, no material on-line à videoaula com o professor Rui, que apresenta os principais pontos desta aula. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013. DUSSEL, Enrique D. Des descubrimiento al desencubrimiento. Revista Reflexão. Ano XI. Nº 34. Campinas: Editora PUCCAMP. Jan/abril 1986. p. 5- 15. OS PENSADORES. Benjamin, Horkheimer, Adorno e Habermas. São Paulo: Editora Victor Civita, 1975.
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