Buscar

AULA 2 REFORMA

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

*
REFORMA PSIQUIÁTRICA
Profa. Vânia Farias
*
REFORMA PSIQUIATRICA
O que é reforma?
*
MOVIMENTO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRO
Hospital Psiquiátrico 
Surgiu antes da psiquiatria se firmar como especialidade médica;
E como surgiu? (modelo capitalista X Revolução industrial);
As pessoas que cuidavam dos doentes eram voluntários “caridade cristã”;
Na 2ª metade do século XVIII – Pinel dá o status científico ao tratamento da loucura;
*
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Nos anos 50, surgem os fármacos e um consequente esvaziamento dos hospícios;
A partir daí os hospitais psiquiátricos passam a se organizar com objetivos definidos: terapêutico; socializador; protetor da sociedade; custodial, porém poucos destes objetivos são cumpridos adequadamente;
Tornou-se um meio para obtenção de licença na previdência social; lugar de repouso; abrigo e asilo; “comércio da loucura”;
*
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Tem função iatrogênica, ao invés de recuperar confirma a doença. Perda da identidade, perda do contato com o mundo exterior, hospital psiquiátrico muitas vezes comparado aos campos de concentração.
*
EXPERIÊNCIAS DE REESTRUTURAÇÃO DO ATENDIMENTO
A implantação dos primeiros serviços que pretendiam substituir o modelo Pineliano, foram inspiradas na experiência psiquiatria democrática italiana, que surgiu com Franco Basaglia;
Na década de 60, inicia a reforma psiquiátrica italiana através de uma reflexão sobre o cuidado asilar, das Comunidades Terapêuticas e da Psiquiatria de Setor (equipes multiprofissionais);
Na década de 70, as internações psiquiátricas duravam, em média, sete meses e a mortalidade dos doentes mentais crônicos institucionalizados era elevada. 
*
REFORMA PSIQUIATRICA
Existia, um discurso ideológico de interesses econômicos por parte de proprietários de hospitais psiquiátricos privados, que defendiam o hospital como o melhor local para tratar a doença mental. Isto porque o internamento psiquiátrico era bastante rentável –verba federal.
Esta condição gerou uma verdadeira crise da assistência psiquiátrica brasileira, caracterizada pela exclusão social, maus-tratos aos pacientes, falta de estrutura dos serviços psiquiátricos e ineficácia dos tratamentos psiquiátricos de moldes manicomiais.
Através das críticas a instituição asilar, Basaglia defendia que a cura do doente estava no retorno à liberdade a qual havia sido privado, fábula “Homem e a Serpente.”
*
EXPERIÊNCIAS DE REESTRUTURAÇÃO DO ATENDIMENTO
Para a Reforma Psiquiátrica Brasileira Basaglia:
- “personificou o pensamento dos trabalhadores da saúde mental, que estavam insatisfeitos com a forma de cuidar das pessoas com transtornos mentais.”
- “o foco de atenção seria direcionado para tudo que se refere ao sujeito na sua existência, não negando o processo de sofrimento ou mal estar existente, mas a aquisição de novos saberes para compreender e intervir no sofrimento psíquico em toda a sua dimensão”.
 Franco Basaglia ()1924-1980) psiquiatra italiano, mentor da Reforma Psiquiátrica Psiquiátrica italiana.
 
*
EXPERIÊNCIAS DE REESTRUTURAÇÃO DO ATENDIMENTO
Utilizou como metodologia a negação da instituição psiquiátrica como lugar de tratamento e cura da loucura, através da voz dos próprios usuários, também a idéia de chamar a sociedade para responsabilizar-se pelos excluídos do convívio social e da criação de espaços comunitários, onde estas pessoas poderiam consolidar uma nova subjetividade (algo construído nas relações sociais).
No modelo de isolamento, o louco era sujeito do erro, uma subjetividade produzida como doença mental, no modelo antimanicomial o sujeito retorna a sua capacidade e estabelece relações contratuais, deixando de ser, um ser alienado e incapaz, a um protagonista desejante e construtor de seus projetos de vida.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Influenciados por Basaglia, militantes no Brasil, baseados na Constituição Federal de 1988, passaram a dizer que “a saúde é direito do cidadão e um dever do Estado”, começando dessa forma a construção de Saúde Mental pela desconstrução dos manicômios. 
Aliados a lideranças e autoridades governamentais, a exemplo de David Capistrano Filho (Sec. de Saúde e mais tarde prefeito de Santos), Roberto Tykanori e uma legião de profissionais intervieram à Casa de Saúde José Anchieta(Casa dos Horrores), denunciando os maus tratos e mortes acontecidas no hospício, com isso a então prefeita da cidade decretou intervenção por 120 dias levando a debate público sobre o significado do manicômio no contexto social, bem como as maneiras de lidar com a loucura. 
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
No ato da intervenção, os militantes proibiram a aplicação de eletrochoques, trancaram as celas-fortes, convocaram familiares de pacientes, reorganizaram enfermarias, fortalecendo os laços entre pacientes e profissionais, saindo do hospital para criar o primeiro serviço substitutivo, os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial).
Os NAPS foram criados a partir de mobilizações com a população social, em sindicatos, centros comunitários, igrejas, onde se apresentava o hospício e discutia a necessidade de manter essas pessoas internadas ou trazê-las ao convívio social.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
À proporção que se desmontava o hospício iam surgindo mais modelos substitutivos, como: Pronto-socorros psiquiátricos, Núcleo de trabalho, as Cooperativas, as Moradias para pacientes sem vínculo familiar e o Núcleo de Artes TAM-TAM, que criou a rádio TAM-TAM, conhecida internacionalmente.
A partir daí concepções políticas, preocupadas com mudanças que trouxessem benefícios à população, nortearam a implementação e elaboração de um conjunto de políticas públicas implicadas em afirmar os direitos dos cidadãos, reforçar o desenvolvimento do território e amenizar as desigualdades sociais, com as diretrizes do SUS.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Com a Constituição Federal em 1988 e a implantação do SUS, assentado com os princípios constitucionais da Universalidade, Equidade e Integralidade exigiu uma mudança na organização dos serviços e no agir dos profissionais.
Na década de 70, em meio à luta pela redemocratização surge o MTSM (Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental),que depois se transformou em movimento social com a participação de usuários de saúde mental e familiares – Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, tendo como cenários: o Centro Psiquiátrico D. Pedro II(RJ), Hosp. Pinel(S.P.), Colônia Juliano Moreira(RJ), Manicômio Judiciário Heitor Carilho (R.J.), de onde partiram as primeiras denúncias.
*
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MTSM FORAM: 
Luta pelos direitos das pessoas portadoras de transtorno mental;
Crítica radical ao chamado “saber psiquiátrico” e ao modelo hospitalocêntrico de assistência à Saúde Mental;
Denúncia das atrocidades e violências que ocorriam nos hospitais psiquiátricos;
Defesa da ruptura com o paradigma manicomial – luta antimanicomial;
Apresentação de novas propostas para a assistência psiquiátrica, principalmente a extinção do hospital psiquiátrico e criação da rede de assistência em Saúde Mental.
*
O aprofundamento das discussões sobre o modelo assistencial em Saúde Mental vigente, e as formas alternativas de tratamento psiquiátricos foram abordadas nas Conferências Nacionais de Saúde Mental (1987,1992 e 2001), com ampla participação de usuários, familiares e profissionais da área de Saúde Mental.
Em 1987, realizou-se, em Brasília, a I Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) com os temas:
a) Economia, sociedade e estado: impactos sobre a saúde e doença mental;
b) Reforma Sanitária e reorganização da assistência à Saúde Mental;
c) Cidadania e doença mental: direitos, deveres e legislação do doente mental.
	Dessa forma a I Conferência Nacional de Saúde Mental foi o marco da “trajetória da desinstitucionalização” e o
fortalecimento do novo modelo de atenção à Saúde Mental, o psicossocial.
*
 
 A década de 80 é marcada por propostas de uma psiquiatria menos repressora, seja, através do processo de desospitalização, ou de um trabalho mais voltado para os interesses e necessidades da comunidade.
 Desinstitucionalização: termo criado nos anos 60, nos EUA, para designar processos de alta administrativas e reinserção de pacientes psiquiátricos na comunidade, porém, assume caráter de desospitalização, tentando substituir o hospital psiquiátrico por uma rede de serviços comunitários substitutivos, enfatizando a prevenção e a reabilitação, possibilitando o surgimento de outras formas de relação cotidiana com a loucura, que facilitem a inter-relação. 
*
[...] a desinstitucionalização é, sobretudo um trabalho terapêutico, voltado para a reconstituição das pessoas, enquanto pessoas que sofrem, como sujeitos. Talvez não se "resolva" por hora, não se "cure" agora, mas, no entanto seguramente "se cuida". Depois de ter descartado a "solução-cura" se descobriu que cuidar significa ocupar-se, aqui e agora, de fazer com que se transformem os modos de viver e sentir o sofrimento do “paciente” e que, ao mesmo tempo, se transforme sua vida concreta e cotidiana, que alimenta este sofrimento (Rotelli, 1990:33). 
*
Ainda em 1987, aconteceu em Bauru, São Paulo, o II Congresso Nacional de Trabalhadores de Saúde Mental, sob o tema “Por uma sociedade sem manicômios”, o qual apontava para a necessidade de discutir o fenômeno da doença mental para além dos limites assistenciais. Neste Congresso, decidiu-se que a data 18 de maio passaria a ser comemorada anualmente como “Dia Nacional de Luta Antimanicomial”, com realização de intensas atividades políticas, culturais e científicas no Brasil. Desde então, o MTSM passou a ser chamado de movimento antimanicomial (AMARANTE, 2011).
*
18/05/1987 – LUTA ANTIMANICOMIAL
*
Desconstrução – uma outra perspectiva da desinstitucionalização que também influencia o processo brasileiro de reforma – movimento de dentro para fora, rompendo paradigmas secularmente reforçados - superar o aparato manicomial com toda sua trama de saberes e práticas em torno do objeto doença mental. 
Valorização do Doente e não da Doença!
Década de 80 – Instituições privadas eram remuneradas pelo Setor Público nas internações psiquiátricas – setor conveniado ou contratado - INPS - INAMPS - SUS. 
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
A partir daí, alguns estados fomentaram a aprovação de leis estaduais que garantissem o respeito ao direito dos doentes mentais e paralelamente, o movimento social escreveu um esboço de lei que regulamentasse a mudança do modelo manicomial para o substitutivo.
Projeto de Lei Paulo Delgado(1989), aprovada em 2001 – Lei 10.216: garante os direitos das pessoas com transtornos mentais e prioriza formas de tratamento pelos meios menos invasivos possíveis, objetivando a reinserção social. A partir daí o Governo Federal passou a financiar os novos serviços substitutivos, através de portarias ministeriais.
*
1987 - I Conferência Nacional de Saúde Mental e o Segundo Encontro Nacional dos Trabalhadores de Saúde Mental. A conferência representou o fim da trajetória sanitarista e o início da chamada DESISTITUCIONALIZAÇÃO – “POR UMA SOCIEDADE SEM MANICÔMIOS”
1988 – Intervenção no Centro Psiquiátrico Pedro II e Colônia Juliano Moreira, com a influência do exército e polícia federal. Os interventores são porta-vozes do setor privado e as lideranças das unidades são afastadas, o episódio ganha repercussão nacional.
1989 – Projeto de Lei 3.657 do deputado federal Paulo Delgado que propõe a extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos públicos no Brasil, controlando a expansão e a contratação dos hospitais que prestam serviço ao estado. (aprovado na Câmara mais vetado no Senado).
*
Portaria 189/91 Ministério da Saúde – Instituía rol de procedimentos e dispositivos de atenção em saúde mental custeados por verba pública. 
Portaria 224/92 Ministério da Saúde – Divide o atendimento em Saúde Mental em dois grandes grupos de atendimento: 
- Hospitalar – internação e semi-internação 
Ambulatorial – Atendimento ambulatorial, CAPS / NAPS. 
II Conferência Nacional de Saúde Mental - final de 1992, em Brasília com tema: Marcos conceituais a atenção integral e a cidadania: resultando na apresentação de um projeto de lei no Senado, propondo a “extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais, bem como a regulamentação da internação psiquiátrica involuntária”. Proibia também a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos. 
*
Projeto de Lei original do Deputado Paulo Delgado – após 12 anos – aprovada - Lei Federal da Reforma Psiquiátrica – Lei nº 10.216 de 06/04/2001- implantação de serviços substitutivos ao modelo tradicional: 
- Leitos psiquiátricos em hospitais gerais; 
- Serviços de atenção diária, de base comunitária; 
- Emergências psiquiátricas em pronto-socorros gerais; 
- Unidades de atenção intensiva em saúde mental em regime de hospital-dia; 
- Pensões protegidas; 
- Centros de convivência. 
 Redução de leitos de hospitais psiquiátricos em todo o País, abertura de leitos de psiquiatria nos hospitais gerais e o crescimento dos recursos comunitários alternativos voltados para a reinserção social. Melhoria na qualidade assistencial pelos decretos e normas ministeriais proporcionados pela Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde (Portaria Ministerial 224/1992 - 251/2002). 
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
A início o modelo substitutivo do antigo hospícios, os NAPS, que eram unidades de saúde que funcionavam 24hs ao dia, com a finalidade de substituir os hospitais psiquiátricos.
Com a publicação da Portaria nº 189/2004, o Ministério da Saúde passou a financiar novos serviços dessa natureza redirecionando a atenção em saúde mental. Foram implementados projetos e ações que resultaram no surgimento de novos equipamentos de saúde mental em todo o país, denominados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
O primeiro CAPS implantado no Brasil, em 1986, foi o CAPS Professor Luíz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS Itapeva, na cidade de São Paulo, com o objetivo de evitar internações, acolher egressos de hospitais psiquiátricos dentro de uma nova filosofia.
Este novo modelo tem como diretrizes o cuidado em liberdade, o acolhimento com vínculo, compreensão e significação das necessidades de saúde dos usuários e responsabilização para garantir maior resolutividade nas intervenções. Ampliando dessa forma ganho de autonomia dos sujeitos.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
A partir daí o usuário passa a fazer escolhas no campo relacional de sua vida, cabendo aos profissionais de saúde desses serviços substitutivos “emprestar” o poder contratual nas suas relações com a família, escola, nas ruas, a fim de atender às necessidades dos usuários e a garantia de sua cidadania, contrário ao que acontecia na vivência hospitalar, onde a ausência de poder.
O movimento da reforma psiquiátrica teve como um de seus pilares o resgate do exercício da cidadania do usuário e a superação de um modelo que gerou exclusão.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Novas modalidades de cuidado começaram a ser pensadas em todo o mundo, por exemplo a criação de oficinas terapêuticas, que funcionaram inclusive dentro dos hospitais, porém não foram suficientes por estarem acontecendo dentro de um modelo de tratamento limitado aos seus próprios muros, surgindo serviços substitutivos como os CAPS e os Serviços Residenciais Terapêuticos.
CAPS(Centro de Atenção Psicossocial) serviço de base comunitária, aberto, que tem como finalidade oferecer um cuidado à pessoa com transtorno mental e/ou faz uso abusivo ou tem dependência de substâncias psicoativas sem que a mesma não seja privada do convívio com seus
familiares e com a comunidade a qual pertence.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) são casas inseridas na comunidade, destinadas a abrigar as pessoas com transtornos mentais, egressas de internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social de laços familiares.
*
*
Novas portarias:
1) Portaria 2488/11 - Aprova a Política de Atenção Básica
2) Portaria 3088/11 - Institui a rede de atenção psicossocial 
3)  Portaria 3089/11 - Recursos financeiros fixos para os CAPS
4) Portaria 3090/11 – Altera a portaria 106/GM/MS de 2000, abordando a implantação e custeio dos Serviços de Residência Terapêutico
 5) Portaria 3099/11 - Recursos financeiros incorporados ao teto financeiro anual
6) Portaria 121/12 - Institui a unidade de acolhimento para usuário de álcool e drogas
7) Portaria 122/12 -  Define as diretrizes e funcionamento das equipes de consultório na rua
8) Portaria 615/13 – Dispõe sobre o incentivo financeiro de investimento para a construção de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) E Unidades de Acolhimento, em conformidade com a Rede de Atenção Psicossocial. 
*
 A Reforma Psiquiátrica é um processo dinâmico de reflexões e transformações que unifica, integra e vincula diferentes níveis assistenciais, políticos, sociais, econômicos, culturais e conceituais, num movimento que visa desmistificar o estigma da doença mental, assegurando o direito da cidadania, como sua meta maior. Para isso, é necessária aceitação do modo de ser do outro no mundo, transformação de práticas e saberes, construção e resgate da autonomia, com reestruturação e humanização da assistência psiquiátrica, criando novas formas de cuidar, escutar e acolher, reinvidica a cidadania do “louco”. 
 A Reforma insiste num argumento originário: os "direitos" do doente mental, sua "cidadania". Por trazer à cena, como sujeitos (cidadãos), aqueles que são seus clientes. (Delgado, 1992).
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA ou Política de Desistitucionalização, que prescreve a extinção dos hospitais psiquiátricos, e sua substituição por outras modalidades e práticas assistenciais, e que “implica não apenas num processo de desospitalização, mas de invenção de práticas assistenciais territoriais; um processo prático de desconstrução dos conceitos e das práticas psiquiátricas”. 
(AMARANTE, 1994, p. 81). 
Trata-se, na verdade, de dar ao doente o direito a um cuidado real, concreto, “não de ser excluído, mas de receber ajuda no seu sofrimento, na sua positividade e na sua possibilidade de ser sujeito 
(...) de não ser despossuído de seus direitos não apenas sociais, civis e políticos, mas de ser uma 
pessoa, de ter seus desejos e projetos” (AMARANTE, 1996). 
*
A cidadania plena do doente mental está “enunciada com o propósito de que seu tratamento não seja seu passaporte para a exclusão social” (LANCETTI, 1987). 
O Governo brasileiro tem como objetivo: Reduzir progressivamente os leitos psiquiátricos; Qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar - Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG); Incluir as ações da saúde mental na atenção básica; Implementar uma política de atenção integral a usuários de álcool e outras droga; Implantar o programa "De Volta Para Casa“ Ministério da Saúde (LEI Nº 10.708, de 31 de Julho de 2003); Manter um programa permanente de formação de recursos humanos para reforma psiquiátrica; Promover direitos de usuários e familiares incentivando a participação no cuidado; Garantir tratamento digno e de qualidade ao louco infrator (superando o modelo de assistência centrado no Manicômio Judiciário) e Avaliar continuamente todos os hospitais psiquiátricos por meio do Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares - PNASH/ Psiquiatria. 
*
PROGRAMA DE VOTA PARA CASA
Tem por objetivo garantir a assistência, o acompanhamento e a integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de transtornos mentais, com história de longa internação psiquiátrica.
 É parte integrante deste Programa o auxílio-reabilitação, no valor de R$ 240,00, pago ao próprio beneficiário durante um ano, podendo ser renovado, caso necessário.
*
PROGRAMA DE VOTA PARA CASA
Pode ser beneficiária do Programa: qualquer pessoa com transtorno mental que tenha passado 2 ou + anos internada, ininterruptamente, em instituições psiquiátricas e também aquela que mora em residência terapêutica ou que tenha vivido em hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico ( manicômio judiciários) pelo mesmo período.
*
CENÁRIO ATUAL:
 
Tendência de reversão do modelo hospitalar para uma ampliação significativa da rede extra-hospitalar, de base comunitária; 
Entendimento das questões de álcool e outras drogas como problema de saúde pública e como prioridade no atual governo; 
Ratificação das diretrizes do SUS pela Lei Federal 10.216/01 e IV Conferência Nacional de Saúde Mental realizada em (2010). 
- Inclusão da Saúde Mental no atendimento da ESF
*
DESAFIOS: 
Fortalecer políticas de saúde voltadas para grupos de pessoas com transtornos mentais de alta prevalência e baixa cobertura assistencial; 
Consolidar e ampliar uma rede de atenção de base comunitária e territorial, promotora da reintegração social e da cidadania; 
Implementar uma política de saúde mental eficaz no atendimento às pessoas que sofrem com a crise social, a violência e desemprego; 
- Aumentar recursos do orçamento anual do SUS para a Saúde Mental. 
*
*
Romildo, agente comunitário de saúde, continua trabalhando no bairro Prainha. Depois de escutar aquela conversa de dona Rita e dona Maria, passou a se interessar pela Residência Terapêutica do bairro, e resolveu visitá-la com mais assiduidade.
Uma semana depois de ouvir aquele diálogo, Romildo encontrou os moradores em casa e entrou para conhecê-los.
Alberto, 35 anos, abriu a porta da casa e mostrou as dependências do imóvel. Gertrudes, 40 anos, logo se aproximou e muito curiosamente perguntou quem era Romildo e o que fazia em sua casa. O agente apresentou-se e pediu para conhecer os demais moradores.
- Aqui é João, essa é Virgínia, a outra Adelaide e, esse, Gilmar. Informou Gertrudes a Romildo,que ficou impressionado ao ouvir as histórias de vida dos moradores daquela casa.
*
Eu morava lá no Caio, disse Alberto referindo-se aos quinze anos em que esteve internado no hospital psiquiátrico da capital, Caio Chagas. Aí me trouxeram pra cá. Agora tenho minhas roupas, meu armário e faço as coisas na hora que quero. Só tenho que conhecer melhor o dinheiro, para não ser enganado no troco quando vou fazer minhas comprinhas.
- Eu tomava choque e ficava amarrada. Gritou Adelaide, agitada, andando de um lado para o outro.
- Pá, pá, pá. Emitia Gilmar o tempo inteiro.
Curioso, Romildo observou Virgínia no quarto diante de sua cama, onde estavam espalhadas todas as suas roupas, dentre as quais ela escolheria uma para ir ao CAPS.
Dona Cleide, a cuidadora, apresenta-se a Romildo: Eu sou Cleide. Trabalho aqui desde quando Virgínia chegou. Como você pode perceber ela não consegue escolher as coisas que quer, ficando sempre em dúvida, recorrendo aos outros na hora de tomar suas decisões. Ela foi a primeira a se mudar para cá. Depois os outros foram chegando. Foi o pessoal do CAPS que trouxe.
*
João entrou na conversa, queixando-se de uma dor de dente. Romildo, prontamente, avisa que agendará com o dentista do posto o mais rápido possível.
Em seguida, despediu-se dos moradores e dona Cleide o acompanhou até a porta.
Na visita da semana seguinte, Romildo não encontrou os moradores em casa, pois dois deles haviam ido ao supermercado com dona Cleide fazer as compras do mês e outros quatro estavam num passeio na praia com o CAPS no qual estão inseridos.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA EM SERGIPE
No cenário
de Luta Antimanicomial, com o surgimento de projetos de leis e portarias que regulamentassem a assistência em saúde mental no País, começou-se a cogitar a necessidade de um movimento semelhante no Estado de Sergipe, através da desospitalização dos pacientes da Clínica Adauto Botelho, considerando sua estrutura física de caráter asilar que ia de encontro com a portaria da Secretaria Nacional de Assistência à Saúde de nº. 224, de 29 de janeiro de 1992.
*
REFORMA PSIQUIÁTRICA EM SERGIPE
Entre as décadas de 80 e 90, a Secretaria de Estado da Saúde realizou um processo de humanização, desospitalizando 86 pacientes, da Clínica Adauto Botelho, e no mesmo prédio começou a funcionar, com 06 leitos, o Serviço de Emergência Psiquiátrica (SEP) para assistência de todo o estado
RÁDIO BIRUTA COM O PROGRAMA PAPO CABEÇA.
*
ARACAJU/SERGIPE NO PANORAMA DA REFORMA
Ao final de 1999, a Coordenação de Saúde Mental de Sergipe apresentou um relatório descrevendo um panorama situacional de toda a rede de assistência em saúde mental. A partir deste foram traçadas algumas estratégias de ação para serem iniciadas em 2000, tais como: estímulo à implantação de Unidades de Saúde Mental em vários municípios do Estado; supervisão dos Serviços de Saúde Mental; assistência farmacêutica com distribuição de “kits” de medicação; implantação de Residências Terapêuticas e CAPS; treinamento em Saúde Mental para profissionais de PSF e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).
*
A partir dai, a Gerência de Saúde Mental Municipal implantou ações voltadas para a atenção básica com a realização de capacitações e cursos como o de Terapia Comunitária (Discussão de uma situação-problema). 
Adotou o modelo de atenção com foco na articulação entre usuários, familiares, comunidade e trabalhadores para a produção de saúde e inclusão social das pessoas com sofrimento e transtornos mentais, como também implantou um Colegiado Gestor para traçar a Política de Saúde Mental, com objetivo de proporcionar mudanças na estrutura e na organização dos serviços
*
O principal marco da transformação na atenção e no cuidado aos usuários de saúde mental foi a inauguração do primeiro CAPS II David Capistrano Filho,, adotando um modelo de atenção que leva em consideração a importância do vínculo e responsabilização do cuidado.
No ano de 2000, o Centro Psiquiátrico Dr. Garcia Moreno, situado no município de Nossa Senhora do Socorro, iniciou um processo de alta, com oito usuários que foram encaminhados para a primeira Residência Terapêutica implantada no Estado, e, gerenciada pela Organização Não Governamental – ONG Luz do Sol.
*
Em 2001 iniciou-se um projeto inovador em Sergipe chamado Equipes Itinerantes de Saúde Mental, no qual psiquiatras eram contratados para atender casos conjuntamente com as equipes de saúde da família do município.
A partir de 2002, já com a gestão plena (o município detem o controle dos serviços de seu sistema de saúde), optou por construir, uma rede de serviços de saúde mental, embasada nas experiências dos municípios de Campinas e Santos e da reforma psiquiátrica italiana, implantando equipamentos substitutivos tipo CAPS e ambulatórios inseridos no Programa de Saúde da Família - PSF. 
*
Ainda em 2002, foram implantados um CAPS para usuários de substâncias psicoativas (CAPS AD) e o primeiro CAPS III. Este foi propositadamente colocado dentro do espaço físico do Serviço de Emergência Psiquiátrica “Adauto Botelho” (SEP) com o objetivo de dar suporte à implementação da Reforma Psiquiátrica na cidade de Aracaju. 
O prédio do SEP estava em péssimo estado de conservação e não conseguiu abrigar por muito tempo os trabalhos de reabilitação psicossocial. No entanto estrutura que foi interditada menos de 01 (um) ano após a implantação do serviço.
Os leitos da urgência se somaram aos leitos de acolhimento noturno do CAPS III, acolhendo os usuários com descompensação de sua doença tanto de Aracaju quanto de outros municípios. 
*
No ano seguinte, o CAPS David Capistrano Filho passou também a funcionar 24h com leitos de acolhimento noturno. 
Paralelamente foram fechados 80 (oitenta) leitos psiquiátricos nas clínicas particulares conveniadas com o SUS, traçadas e intensificadas ações de saúde mental no PSF, criação de ambulatórios regionalizados denominados de Referência Ambulatorial em Saúde Mental.
A mudança no modelo assistencial e a ampliação da rede, para além dos CAPS III e AD e a implantação do CAPS infantil, provocou nos trabalhadores a necessidade de comunicação e interação, para tratar de diversas questões que diziam respeito a um mesmo usuário, sendo realizadas várias oficinas com os trabalhadores de CAPS, ambulatórios e atenção básica a fim de compartilhar saberes.
*
Foi fundado o CAPS Arthur Bispo do Rosário, serviço de natureza filantrópica, administrado pela ONG Luz do Sol, incentivado pelo Estado, sendo cadastrado como CAPS I, em novembro de 2002.
 No município de Nossa Senhora da Glória, foi implantada pela ONG acima citada, o Projeto Luz do Sol, que, inicialmente, atendia a usuários com transtornos mentais, deficiência física, sensorial e mental. Este foi cadastrado como CAPS no mês de outubro de 2002.
Posteriormente, foram implantados também outros serviços na capital e no interior do Estado.
*
No ano de 2002, o Ministério da Saúde lançou um Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares - PNASH (Portaria MS nº 251/202), que tinha como objetivo avaliar regularmente a qualidade dos serviços prestados pelas instituições hospitalares e previa a pontuação mínima para a manutenção do funcionamento. Todos os serviços de internação passaram por essa avaliação, recebendo recomendações para as adequações necessárias à melhoria da assistência.
 Em 2004, após a realização do PNASH, o Centro Psiquiátrico Dr. Garcia Moreno sofreu uma mudança radical que culminou com seu fechamento em 2006.
*
Entre os anos de 2005 e 2006, os 89 pacientes que continuavam em situação de confinamento no Centro Psiquiátrico Dr. Garcia Moreno foram gradativamente desinternados, retornando às suas famílias de origem ou encaminhados a Residências Terapêuticas, totalizando ao final do processo um número de 18 Serviços Residenciais Terapêuticos implantados no Estado de Sergipe, encerrando o processo de fechamento daquele Centro Psiquiátrico.
*
O processo de desinstitucionalização da loucura no estado de SERGIPE passou por avanços tendo suas ações voltadas em saúde mental baseadas no Cuidado em Liberdade em serviços substitutivos de base comunitária, desconstruindo o paradigma: doença – internação – isolamento – institucionalização.
*
 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
São serviços de saúde abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos, persistentes e/ou que fazem uso nocivo de álcool, crack e outras drogas.
Sergipe dispõe de 25 municípios com CAPS implantado;
Apresenta 50 municípios sem CAPS, sendo 42 deles com população insuficiente para justificar a implantação do serviço e 08 deles com população disponível para sua implantação.
 
*
CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Atualmente Sergipe é o 2º do ranking em cobertura de CAPS/100.000 habitantes no país;
Os CAPS devem garantir atendimento às necessidades de saúde de qualquer usuário (criança, adolescente e adulto) enquanto serviço que funciona como porta-aberta na rede;
*
Função dos CAPS
Evitar internações e/ou reinternações em hospitais psiquiátricos, regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica, segundo Portaria GM336/2002
*
*
Representa o conjunto de ações em saúde, desempenhadas pelas equipes de Saúde da Família, na garantia da assistência à saúde e qualidade de vida da população. 
Primeiro contato do usuário na rede, caracterizando-se, principalmente, pela continuidade e integralidade
da atenção, pela coordenação da assistência dentro do próprio sistema e atenção centrada na família.
 ATENÇÃO BÁSICA
*
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA
 Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, cerca de 3% da população (5 milhões de pessoas) necessita de cuidados contínuos (transtornos mentais severos e persistentes) e mais 9% precisam de atendimento eventual em casos de transtornos mentais leves, totalizando 12% da população geral do país que apresentam necessidade de cuidados em saúde mental. 
*
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)
O NASF têm o objetivo de apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e ampliar a abrangência, a resolutividade e a ampliação das ações da APS(Atenção Psicossocial) no Brasil. 
São constituídos por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, atuando em parceria com os profissionais das Equipes Saúde da Família (ESF).
 
 Portaria GM nº 154/ 2008 
BRASIL, 2009
*
Leitos de desintoxicação em Hospitais Gerais 
 A atenção hospitalar aos usuários de saúde mental deverá ser realizada pelos hospitais locais, regionais em conjunto com as equipes de CAPS e do Programa de Saúde da Família.
 A Política Nacional de Saúde Mental tem como diretriz o atendimento hospitalar em enfermarias psiquiátricas de hospitais gerais com redução gradativa de internações em clínicas psiquiátricas, principalmente de usuários de álcool e outras drogas.
*
Urgência e Emergência - SAMU
Os serviços de Urgência e Emergência têm a missão de atender aos usuários e de regular o fluxo no sistema de saúde de acordo com o acolhimento e a estratificação de riscos, a fim de garantir o acesso com responsabilização e resolutividade. 
Ao SAMU cabe a remoção dos usuários com transtornos mentais e/ou que fazem uso de álcool, crack e outras drogas para serviços de urgência e/ou hospitais
*
		
 “Emocionalmente, enquanto não atravessamos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes é necessário ser um.”
 (Fernando Pessoa )
*

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais