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Aspectos Sócioantropológicos UNIDADE 3 2 UNIDADE 3 ASPECTOS SÓCIOANTROPOLÓGICOS PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá estudante, estamos iniciando a nossa terceira unidade mais uma vez conto com seu compro- metimento em nossa jornada de estudos em busca de novos conhecimentos! Espero que esteja preparado (a)! Vamos começar! ORIENtAçõES DA DISCIPlINA Caro (a) estudante faça a leitura de seu livro-texto antes de iniciar o estudo deste guia. Assista a vídeo aula ela foi elaborada especialmente para você com o objetivo de facilitar eu aprendizado. Seja um eterno aprendiz desta forma acesse a nossa biblioteca virtual e faça novas pesquisas. Ao final da nossa unidade acesse o ambiente e responda a atividade. Caso tenha alguma dúvida envie uma mensagem para seu tutor ele estar apto para quaisquer esclarecimentos. Dando continuidade à nossa disciplina de Aspectos socioantropológicos, vamos abordar, nesta terceira unidade, o estudo da educação sob a perspectiva das ciências sociais. Especialmente a sociologia compôs um campo de atuação no estudo do fenômeno educacional bastante consolida- do e fundou a sociologia da educação. Analisaremos agora o surgimento e desenvolvimento desse campo de pesquisa, bem como o atual panorama da educação no contexto social. A compreensão do desenvolvimento da sociologia da educação nos revela aspectos fundamentais do amadurecimento da reflexão educacional. Representa o próprio desenvolvimento da forma de pensar a educação nas últimas décadas. Essa compreensão nos indica, além de um método para avaliar os processos educacionais, os fatores essenciais que fazem a educação mudar no contexto social e, assim, nos permite mapear dos caminhos que poderá tomar daqui a diante. DICA Levarei você, aluno (a), a avaliar as relações da educação com a cultura no cená- rio da globalização, novos papéis sociais, novos objetivos e comportamentos com os quais a educação deve dialogar. Questões como consumismo capitalista, a imagem do sucesso (e do fracasso), violência, acúmulo e transferência de papeis sociais, diversidade de gênero e diversidade religiosa são temas sobre a cultura contemporânea que levarão a vida escolar a ter outra dinâmica e aqui iremos lhe dar subsídios reflexivos para analisar tais fatores na educação. 3 Por fim, juntos nós desenvolveremos uma reflexão crítica sobre como as relações sociais no con- texto globalizado tem afetado as realidades educacionais; sobre a interferência de projetos e modelos produzidos pela comunidade internacional para a educação nas diferentes regiões do mundo; e, além disso, apontaremos aspectos positivos e negativos da imposição de tais parâme- tros que são utilizados para nortear a dinâmica escolar. Destacamos que esse guia de estudos faz parte de um sistema que se integra ao livro-texto da dis- ciplina, que contém uma unidade correspondente aos assuntos aqui trabalhados. Lembro também, que vou indicar outros textos da internet e da biblioteca virtual como material complementar, para um maior aproveitamento dessa disciplina e para seu amadurecimento intelectual. Bom estudo! SURGIMENtO DA SOCIOlOGIA DA EDUCAçÃO A sociologia da educação surge com a própria sociologia, pois os processos educacionais sempre foram fundamentais para a compreensão da dinâmica social. Tanto para a transformação como para conservação da vida em sociedade. A sociologia da educação terá principal foco sobre as re- lações sociais que giram ao redor e dentro das instituições escolares, uma vez que nas sociedades modernas todos os processos educacionais influenciam e são influenciados pela vida nas escolas. À medida que novas correntes sociológicas vão surgindo, novos olhares e novos campos de inves- tigação dentro da educação vão sendo apresentados. Buscaremos aqui explorar os contextos que levaram à sociologia ir amadurecendo enquanto área do saber. Em um momento inicial, dos trabalhos de Émile Durkheim até meados da Segunda Guerra Mun- dial, a sociologia foi marcada por fortes contribuições da tradição sociológica da escola do pen- samento sociológico francesa. Os escritos de Durkheim sobre a educação são considerados como o marco fundador da sociologia da educação. Essa fase inicial da sociologia da educação foi caracterizada pela ausência de estudos empíricos sobre a realidade escolar, seguindo a tradição intelectualista de Durkheim, em que as pesquisas de campo ainda não haviam sido consolidadas. Os estudos eram feitos sob uma perspectiva fi- losófica e conceitual e em escala macrossocial (grandes amostragens do universo social) o que dificultava a compreensão sobre os fatores essenciais da dinâmica da realidade escolar. Após a Segunda Guerra Mundial, em meados da década de 1950 e 1960, a sociologia da educação vai conquistando terreno e avançando rumo à autonomia como área do saber. A sociedade pós- guerras começa a estabilizar e algumas mudanças no estilo de vida irão impactar na estrutura da educação, como por exemplo, a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a explosão demo- gráfica (aumento populacional) e, por consequência o aumento da população escolar. 4 VEjA O VÍDEO! Sobre esta nova estrutura da sociedade, sugiro que você assista ao filme “Tem- pos Modernos” de Charles Chaplin com duração de 1:13min. Disponível no link. Acredito que você tenha gostado do vídeo indicado agora vamos dar continuidade a nossa jornada de estudos. VamosLá! Os sistemas educacionais tornam-se mais voltados para o engajamento profissional dos cida- dãos, livres da concepção naturalista que entendia que o comportamento e o intelecto estavam associados a dons com os quais as pessoas já nasciam. Em parceria com outras ciências, como a psicologia e as ciências sociais, a educação muda de enfoque passa a investir no desenvolvimento humano, mas visando a integração na dinâmica produtiva da economia, que andava muito bem. Fonte da figura: https://regional7.files.wordpress.com/2012/11/charge-chaplim.jpg Com os avanços tecnológicos, a sociedade passou a necessitar profissionais capazes de operar máquinas e sistemas caros e com procedimentos mais complexos. Percebeu-se que saia mais barato investir na capacitação de profissionais do que perder equipa- mento pelo mau uso de seus operadores. Ou ainda que a padronização da conduta social pudesse permitir um engajamento profissional em todas as áreas. https://www.youtube.com/watch?v=ieJ1_5y7fT8 https://regional7.files.wordpress.com/2012/11/charge-chaplim.jpg 5 GUARDE ESSA IDEIA! Por mais óbvio que essa última ideia possa parecer, o Brasil ainda hoje não possui um padrão cultural de conduta social, são tantas as diferenças e desi- gualdades (tanto sócio econômico, quanto culturais) que a existência de grupos muito distintos não nos permite falar da sociedade brasileira como um grupo homogêneo. As promessas do sistema capitalista levaram a educação a ser vista como um elemento para transformar vidas e sociedades, melhorar e alavancar economicamente os rumos de uma realida- de social, ou melhor, de um país. A possibilidade de ascender socialmente através da educação passa servir de estímulo ao ingresso de crianças e jovens na escola. As contribuições do sociólogo americano Talcott Parsons para a compreensão da função da edu- cação dentro da estrutura social marcaram essa geração de estudos. Esse período foi marcado pela realização de vários estudos patrocinados pelos governos de diversos países que viam na educação um sinônimo de desenvolvimento econômico. VISItE A PáGINA Para melhor compreensão deste autor sugiro a pesquisa sobre “o estruturalismo funcional de Parsons. Segue um link sobre o assunto. Boa leitura! Estudos sociológicos mais críticos que os relatórios começaram a analisar a situação da educação de uma forma diferente. Esse modelo democratizante que dizia apresentar possibilidades de de- senvolvimento e mudança de vida não chegava a proporcionar uma equalização social. A sociologia demonstrou que tanto a pedagogia quanto osistema educacional acabavam reprodu- zindo a mesma estrutura social com as mesmas divisões por classe. Durante as décadas seguintes, as reflexões críticas se atenuaram no que diz respeito ao funcio- namento das instituições educacionais: as práticas que eram utilizadas em seu interior propor- cionariam a formação de que tipo de cidadãos? Seriam conscientes de seu papel transformador da sociedade ou meros operadores obedientes das determinações e regras sociais impostas pelo Estado? A educação como uma instituição que proporciona aos seres humanos a oportunidade de conquis- tar a autonomia sobre o pensamento crítico ainda era embrionária na prática educacional. A virada da década de 1960 para 1970 foi agitada política, cultural e socialmente. Movimentos questionando e reivindicando mudanças os processos democráticos em várias partes do mundo se voltaram também para a educação. A sociologia da educação volta-se, nessa fase, para pensar e analisar as desigualdades escolares existentes. https://revistaparametro.wordpress.com/2011/04/16/talcott-parsons-e-a-configuracao-do-estrutural-funcionalismo/ 6 Fonte da figura: http://sereduc.com/Z7bzVE O pensador que marca essa fase da sociologia da educação é Pierre Bourdieu, com a teoria da reprodução. De acordo com o sociólogo, os sistemas educacionais contribuem para a produção, reprodução e legitimação das desigualdades já presentes na sociedade. A proposta crítica de Bourdieu muda um pouco a forma como a sociologia vinha estudando as ins- tituições educacionais: a escola, como a responsável pela transmissão dos conhecimentos e ha- bilidades necessárias à integração social, será vista agindo em prol da manutenção da estrutura social – as hierarquias sociais tornam-se hierarquias escolares e as desigualdades permanecem (mais adiante voltaremos a falar da reprodução cultural). Fonte da figura: http://sereduc.com/NEW5z8 http://sereduc.com/Z7bzVE http://sereduc.com/NEW5z8 7 Por fim a sociologia da educação, após a década de 1980, abandona em parte as análises macros- sociais e se volta para o cotidiano escolar. Vai olhar as questões vividas pela educação dentro das escolas de perto, temas ligados ao currículo, a cultura escolar e as relações interpessoais em sala de aula. Os sujeitos da educação passam a existir como pessoas de verdade e não mais abstrações de uma visão generalizada pela análise macrossociológica. IMPORtANtE O fracasso escolar e os problemas de aprendizagem passaram a não ser mais considerados responsabilidade exclusiva de projetos, planos governamentais e dinâmicas de todo o sistema educacional. Os dramas, dilemas e conflitos vividos no contexto escolar trazem à tona outro tipo de análise, a escola não se confi- gura apenas como uma mera reprodutora da estrutura social, mas é palco para práticas que também produz cultura. A escola não é uma instituição que fica à deriva dos demais processos sociais. PAlAVRAS DO PROfESSOR Sobre este contexto, gostaria de refletir com você, esta nova concepção de escola a partir da charge a seguir: Fonte da figura: http://deborahmara-fs.blogspot.com.br/2011/08/educacao-e-sociedade.html http://deborahmara-fs.blogspot.com.br/2011/08/educacao-e-sociedade.html 8 Será mesmo que está “nova” concepção de escola uma realidade? Pelo que presenciamos em nossa realidade educacional, me parece que não... ainda é comum per- cebemos que a sociedade coloca a responsabilidade de todos os aspectos envolvidos na educação da sociedade, na escola. Embora saibamos que a fase escolar tem grande contribuição na formação cidadã, a sociedade moderna ainda mantém o imaginário de que a escola mantém o status de única promotora do desenvolvimento e da socialização de todas as pessoas. Restringindo-a, desta forma, toda a responsabilidade por processos como: delinquência, intole- rância, comportamentos racistas, consumo de drogas, desemprego, gravidez precoce, violência doméstica, etc. Seja qual for o tema de debate, as carências e insatisfações relativas ao processo formativo das pessoas de ordem intelectual, social ou cultural são atribuídas, por ação ou por omissão, ao sistema educativo. E os profissionais que trabalham nele, em especial os professores, são apontados como principais responsáveis. PAlAVRAS DO PROfESSOR Pois bem, caro (a) aluno (a), para adentrar no universo cotidiano da educação desbravar estas e outras relações interpessoais; é que temos a contribuição da sociologia da educação. E para entender realmente os conflitos presentes no contexto escolar e a associação dos proces- sos educacionais com outros aspectos da vida social, naturalmente, ela dialoga cada vez mais com outras áreas do conhecimento, psicologia, pedagogia, economia, ciências políticas e direito. É através desse diálogo que a sociologia penetrará no complexo processo de trânsito da influência de valores culturais provenientes dos diversos subsistemas sociais (economia, política, religião, família, direito, etc.). Por exemplo, os valores culturais produzidos na política afetam a educação. Muitas das ideias geradas pelas relações sociais nas religiões também serão trazidas para o universo escolar, o mesmo irá ocorrer com todos os sistemas sociais. Consequentemente a recíproca também será verdadeira, a educação produzirá valores que se farão presente de forma ativa em todos os outros subsistemas sociais. É com essa perspectiva sociológica que iremos trabalhar nossa disciplina daqui em diante. Al- ternando entre a análise micro e macrossocial, buscando amparo, ora em teorias sociológicas e ora em abordagens antropológicas. Porque para compreensão do fenômeno educacional se faz necessária uma abordagem transdisciplinar. 9 Escola e Cultura: papeis sociais e reprodução cultural É comum entre estudantes adolescentes a escolha por profissões que demandam pouco ou ne- nhum esforço intelectual, como atletas e artistas. Por que essa escolha é tão comum? E mesmo os que cogitam uma carreira profissional envolvendo os estudos, se limitam a escolha de profissões correspondentes à suas condições sociais. Como as ciências sociais podem explicar tais questões? Antes de indicar para possíveis respostas a tais questões, precisamos esclarecer que em tempos de globalização, as formas de pensar, entender e agir no mundo tem mudado. Vivemos um contex- to de constantes mudanças e, diante dessas transformações, o que temos percebido é a presença de novos valores coexistindo com os antigos. E mais, diante da velocidade e imprecisão das mudanças, alguns movimentos tiveram uma reação exatamente contrária, surgem grupos ultraconservadores. Esse panorama tem gerado, é claro, a necessidade da escola se adaptar e trabalhar com os con- flitos que irão surgir com essa nova realidade. Não mudaram apenas os papeis dos sujeitos, mas também das instituições sociais. Fonte da figura: http://sereduc.com/MDcWjG Prezado (a) aluno (a) para penetrar na complexa trama que envolve as dinâmicas sociais no con- texto educacional procuraremos olhar de perto o ambiente escolar. A escola é onde se aprende as “regras do jogo”, como são os comportamentos que devem ser colocados em prática na vida social, é na escola que se ampliam as noções de relações interpessoais e é no contexto escolar que são interiorizados saberes e informações que provavelmente serão úteis a todos os cidadãos integrados produtivamente na vida em sociedade. http://sereduc.com/MDcWjG 10 Essas são as razões que devem levar jovens e crianças participarem da educação nas escolas. Mas, voltando à questão inicial, por que é comum os estudantes não verem sentido nos conteúdos ensinados, não adotando as condutas passadas pelos profissionais da educação como modelos para seus comportamentos sociais? Por que a evasão ainda escolar ainda é uma realidade no Brasil? Por que o sucesso de programas educacionais formais ainda é limitado em muitos contex- tos sociais? Ou ainda, por que muitos educadores não indicam a formaçãocomo profissionais da educação para seus filhos? Para responder a essas questões precisamos imaginar o cenário da educação brasileira. Apesar da grande diferença existente entre as instituições de educação pública e privada, alguns aspec- tos são comuns às duas realidades escolares. A princípio temos a propagação valores e ideais de um estilo de vida consumista pela mídia, representados especialmente por profissões bem remu- neradas e que, aparentemente, não exigiram muita dedicação na vida escolar para se alcançar, como por exemplo, atletas e artistas (jogadores de futebol, profissionais da indústria musical e audiovisual). A sociedade do espetáculo vangloria um retorno financeiro sem esforço intelectual e admira altos padrões de conforto. Ou seja, “vida boa” é aquela em que se ganha muito dinheiro sem precisar gastar energia mental pensando em soluções para problemas de natureza profissional. Essa é a imagem transmitida pelos meios de comunicação, revistas, filmes e novelas de televisão mostram exemplos caricaturados pessoas que aproveitam a vida enquanto que a maioria das pes- soas na vida “real” sofre trabalhando (em trabalhos que conseguiram através do estudo!). É contraditório ver a exaltação do consumo de produtos de beleza, automóveis, roupas e eventos sociais quando apenas uma pequena parcela da população tem condições reais de usufruir de tal padrão de vida. 11 Fonte da figura: http://sereduc.com/v3dxSW Principalmente se, mesmo dedicando muitas horas ao estudo, os níveis de dificuldade para a as- censão social através dessa via, são completamente desanimadores. GUARDE ESSA IDEIA! A resposta para todas essas questões está contida nos valores culturais da sociedade brasileira. Quando os valores culturais mudam, os motivos que dão sentido aos comportamentos sociais e os objetivos das pessoas também alteram. O fato de as mulheres não mais serem criadas para a vida de donas de casa, muda toda a estrutura da sociedade. E quando as crianças nascem em famílias que homens e mulheres trabalham, tal situação deixa uma demanda importante para a educação: quem será responsável pela transmissão dos valores essenciais para a formação humana, escola ou a mídia (televisão, internet, etc.)? Diante desse cenário social, a escola tem aglutinado responsabilidades, a mudança nos papéis sociais dos pais diante da educação tem gerado outros problemas. Nas escolas públicas o fracas- so na aprendizagem é atravessado por cenas de violência entre os estudantes e dos estudantes com os professores. http://sereduc.com/v3dxSW 12 Na rede privada de ensino, o pagamento das mensalidades é confundido com bons resultados, se o estudante está em uma escola boa, ele deve ter um bom desempenho, independentemente de qualquer outro fator. Paralelo às questões surgidas com os papeis sociais tradicionais, surgem ainda outros debates, a era da diversidade trouxe à tona situações de conflitos culturais inusitados. Movimentos reli- giosos ultraconservadores fazendo apologia a valores morais tradicionais que condenam a diver- sidade de gênero. Esse assunto tem crescido no contexto educacional, qual a orientação a educação deve dar para a questão? Até que ponto um esclarecimento diplomático indica aceitação? Estudos começam a posicionar a escola como ferramenta para transformar essa realidade de con- flitos, hoje se fala muito em gestão educacional democrática ou participativa (em um diálogo claro com ramos atuais da administração). A tendência indica para a utilização do ambiente escolar para a construção de vivências para sanar os problemas da comunidade em que está inserida com a participação de toda a comunidade (professores, pais, estudantes e parceiros). A construção da escola como um ambiente que dialogue com outros órgãos e instituições sociais começa a se desenhar como uma tendência para fortalecer o novo papel que a escola passar ter nesse novo contexto sócio cultural. Ao mesmo tempo, percebe-se que outras instituições também passam a ter seus papeis sociais mudados, por exemplo, a polícia, diante da presença da violência nas escolas, tem se empenhado na realização de palestras e ações educativas (falaremos mais sobre a forma como a escola tem sido palco para a resolução de conflitos e problemas sociais na próxima unidade). Educação e sociedade: as relações entre o contexto social o contexto educacional. PAlAVRAS DO PROfESSOR Meu caro (a) aluno (a) vivemos atualmente numa sociedade global. A atuação de organizações como a UNESCO (Organização das Nações Unidade para Ciência, Cultura e Educação) tem levado à construção de modelos cada vez mais uniformes de sistemas educacionais. Currículos, práticas e propostas semelhantes têm sido aplicados em diferentes regiões do mundo e como consequência disso, se tem visto uma uniformização de valores culturais fundamentados na ciência. Existem alguns documentos internacionais que definem os rumos da educação mundial, são eles: a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Declaração Universal dos Direitos do Homem) (1948) , a Declaração de Jomtien (1990) , a Declaração de Salamanca (1994) e o Relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (1999) . São textos que apresentam tendências para a educação que devem servir de base e fundamento para programas nacionais de educação. 13 Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a comunidade internacional fala claramente que todos os seres humanos têm direito à educação gratuita e que a educação elementar deve ser obrigatória. Na Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, ocorrida em Jomtien, se de- limitam como metas (dentre outras) a universalização do acesso à educação e a promoção da equidade. Em Salamanca, se entende que a educação de estudantes com necessidades educativas especiais deve ser trabalhada no contexto da rede de ensino regular. VISItE A PáGINA Acesso as seguintes páginas: Link 1, Link 2, Link 3. Além dos documentos acima citados, temos também os que debatem questões ligadas ao meio ambiente que apesar de não estarem ligadas diretamente a assuntos pedagógicos, tratam de objetivos que só podem ser alcançados através de uma conscientização da população mundial através da educação. Todas essas questões são integradas à nossa realidade educacional através das formalidades dos mecanismos de controle da educação contemporânea e contribuem para a criação de um modelo de atuação das instituições escolares atual. Dessa questão, derivam outras muito importantes para o estudo da educação uma delas diz res- peito às desigualdades proporcionadas por essa imposição de modelo educacional e a outra está associada às consequências dessa desigualdade. Histórica e culturalmente a educação é conse- quência do desenvolvimento social de uma comunidade, ela representa, em linhas gerais, a inte- riorização de uma série de conteúdos necessários para viver em uma realidade social específica. Mas a massificação de ações sociais globalizadas não tem estado em sintonia com as transfor- mações culturais. IMPORtANtE A construção de um modelo global, antenada com demandas comuns a pessoas de todo o planeta é fundamental atualmente, mas a imposição desses padrões tem gerado mais desigualdades sociais. É necessária a imposição de um currí- culo com conteúdo que não dizem nada para pessoas que nasceram e cresceram em uma região afastada, em uma zona rural do interior do país, cuja principal atividade é o trabalho na agricultura, atividades extrativistas e de comércios locais? Ou mesmo, sem ir tão longe, nas margens dos centros urbanos, comuni- dades desenvolvidas espontaneamente, sem planejamento e, muitas vezes, sem saneamento básico (popularmente chamadas de favelas). A imposição de tais currículos irá representar a manutenção de um sistema de exclusões que apresenta claramente o universo ao qual devem estar sujeitos. Os conhecimentos científicos são os únicos aceitos, as condutas formais são as adequadas,nada que estiver fora desse padrão http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf http://www.pitangui.uepg.br/nep/documentos/Declaracao%20-%20jomtien%20-%20tailandia.pdf http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf 14 é reconhecido socialmente. Funciona como uma máquina que produz exclusão social de várias formas; produz padrões de pensamento, de conhecimento, de estética, de higiene, de saúde, em linhas gerais, de conduta social. Os estudantes, filhos de classes sociais que também tiveram estudos, conseguem ver naturalida- de em muitas das situações do convívio escolar. Para esses que veem nos conteúdos e nos demais padrões escolares como comuns ao seu universo de valores, o sucesso na trajetória de estudante será mais provável. A transição de uma fase para outra do sistema educacional será encarada sem grandes traumas ou choques na estrutura de sentido e no convívio social. Ampliando nosso olhar para o cenário maior, veremos os sistemas governamentais dependendo de bons resultados na educação para mecanismos de avaliação nacionais e internacionais. Os resultados na educação indicam, além do desenvolvimento de uma sociedade mais sintonizada com as demandas do sistema sócio cultural que vivemos; estar de acordo com as determinações da política internacional. Organismos internacionais como ONU (Organização das Nações Unidas), Banco Mundial e outras instituições que financiam sistemas educacionais do mundo todo para garantir a padronização de um modelo comum são figuras controversas. Os empreendimentos dessas instituições têm gerado, ao longo das últimas décadas, um aumento nas desigualdades sócio econômicas. A princípio, podemos imaginar que essa afirmação está errada, uma vez que as pessoas têm vivido em melhores condições quando comparado com a realidade social de 50 anos atrás, e os índices de pobreza estão realmente diferentes. Mas a verdade é que os ricos estão muito mais ricos; com isso o que indica que as pessoas poderiam estar vivendo muito melhor se houvesse uma divisão mais justa da produção e dos lucros com as atividades econômicas. Fonte da figura: https://onu2008.files.wordpress.com/2008/04/imagem12.png https://onu2008.files.wordpress.com/2008/04/imagem12.png 15 Fonte da figura: http://www.primeiralinha.org/imagens/pobreza3.gif Esse modelo de educação que vivemos gera dependências sobre o consumo dos bens produzidos em escala industrial. As verdades que constroem a estrutura de sentido dos sujeitos sociais são fundamentadas a partir de verdades científicas, logo alimento, saúde e beleza são produzidos cientificamente. Apenas aqueles que conhecem a ciência podem legitimar o consumo dos produ- tos manipulados por métodos precisos e com garantia de qualidade. Integrados na escala consumista, a lógica da produção industrial produz também riscos sociais. O sociólogo alemão Ulrich Beck vai desenvolver uma teoria que aborda justamente as consequên- cias dos esforços empenhados em garantir um estilo de vida consumista. De acordo com o autor, junto com o desenvolvimento, científico e técnico, dos confortos para a humanidade, foram produzidos também uma série de riscos ecológicos, químicos, nucleares, ge- néticos, econômicos e psicológicos que afetam a conduta humana. Pode ser associado a esse desenvolvimento social, o esgotamento de recursos naturais como a água, a propagação de vírus criados em laboratórios (como a AIDS e Ebola), crises no mercado fi- nanceiro internacional e a cada vez mais presente depressão entre homens e mulheres frustrados com a vida moderna. http://www.primeiralinha.org/imagens/pobreza3.gif 16 Fonte da figura: http://sereduc.com/qs2DKE Meu caro (a) aluno (a), a essa altura de nossas reflexões, você poderá estar pensando que a avaliação sociológica olha apenas os pontos negativos da influência desse padrão internacional. No entanto, sem os parâmetros internacionais para a educação, a educação continuaria a repro- duzir realidades distantes em sentido e os conflitos culturais continuariam existindo. Os padrões educacionais produzidos pela comunidade internacional também são úteis para a construção da valorização de uma cultura da paz com respeito às diferenças e a inclusão social. A SOCIOlOGIA EDUCACIONAl BRASIlEIRA A história da educação no Brasil é marcada por lutas políticas que perduram até os dias atuais. No entanto, podemos considerar como marco desta história, o Manifesto dos Pioneiros Pela Educação Nova. O Manifesto trouxe de forma pública, a defesa da escola para todos (significando igualdade de oportunidades), laica (livre de doutrinas), gratuita (sob a total responsabilidade do Estado), obrigatória (até 18 anos) e para ambos os sexos. lEItURA COMPlEMENtAR Para saber mais sobre o manifesto acesse o link para leitura. http://sereduc.com/qs2DKE http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/22e/doc1_22e.pdf 17 Apesar da forte repercussão, este movimento só se efetivou em 1945, com o fim do Estado Novo (de 1937 a 1945) que em seu comando, regulamentou um sistema de ensino centralista, burocra- tizado, dualista (diferenciando fortemente o ensino secundário do profissional) e corporativista (criando no ensino profissional o ensino industrial, agrícola e comercial, além do curso normal para formação de professores). O retorno dos Pioneiros culminou na elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961. E o principal conflito vivido nesta época era entre Pioneiros e Católicos; onde os Pioneiros defendiam a criação da escola pública e os Católicos a permanência da escola pri- vada. Em defesa da escola pública estavam três principais correntes do pensamento pedagógico brasileiro: liberal-idealista, liberal-pragmatista e socialista. lEItURA COMPlEMENtAR Sobre estas correntes teóricas, sugiro a leitura do autor Demerval Saviani. (Obras sugeridas: Escola e democracia, 1986; Educação Brasileira: estrutura e sistema, 1987 e; A nova lei da edu- cação, 1997). Prezado (a) estudante acredito que você esteja assimilando todas as informações apresentadas até o momento em nosso guia. Conto com seu comprometimento pois vamos continuar nossa jornada de estudos! As medidas legais que consolidaram o ensino público tomaram ainda mais importância no início dos anos sessenta, acompanhadas pelo crescimento econômico do capitalismo industrial e para- lelo aos movimentos sociais populares, que trouxeram importantes discussões acerca da organi- zação do ensino e dos processos educativos. Um dos mais importantes representantes desse movimento de educação popular, e que certamen- te você já conhece, é Paulo Freire com a teoria da pedagogia libertadora. E caso você ainda não tenha lido nenhuma de suas obras, procure ler o quanto antes, pois as ideias de Paulo Freire são pano de fundo para muitas discussões sociológicas da educação no Brasil. 18 Fonte da figura: http://sereduc.com/LcyTsf As reformas educacionais ocorreram no Brasil, no entanto, inspiradas na pedagogia tecnicista, articulando a organização racional (taylorista) e controle de comportamento nos processos de aprendizagem (behaviorismo) . E foi justamente no período da Ditadura Militar, que a escola pú- blica se expandiu. Essa aparente contradição, por um lado, refere-se ao modelo econômico em desenvolvimento que exigia escolarização da população, e por outro, exigia o controle da escola- rização, em especial no que diz respeito ao ingresso ao ensino superior, maior foco de resistência ao regime ditador. A dualidade, então, cujos reflexos vivemos ainda hoje, expressou-se pela oposição quantidade- qualidade. A educação escolarizada reflete o caráter contraditório que encontramos na sociedade capitalista moderna; que a sociologia identificou como um papel reprodutor das desigualdades sociais. Esse enfrentamento ocorre quando a escola, como instituição social, assume o papel de garantir aos sujeitos com oportunidades contraditoriamentedesiguais; a apropriação de conhecimentos, a formação de valores sociais e culturais e a preparação para o mundo do trabalho e desenvolvi- mento da prática social. VISItE A PáGINA Prezado estudante caso queria saber mais sobre o Taylorismo e o Behaviorismo acesse os links: Taylorismo, Behaviorismo. http://sereduc.com/LcyTsf https://pt.wikipedia.org/wiki/Taylorismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Behaviorismo 19 PAlAVRAS DO PROfESSOR Pois bem, caro (a) aluno (a), aqui encerramos nossa terceira unidade. Os estudos de nossa dis- ciplina continuam na Unidade IV com o aprofundamento acerca dos temas que configuram os debates atuais da sociologia da educação. Acesse o ambiente e responda a atividade em caso de quaisquer dúvidas pergunte ao seu tutor! Até breve!
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