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Direito Civil 6 (Direito de Família) 1ª parte

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DIREITO CIVIL – PARTE ESPECIAL 
DIREITO DE FAMÍLIA 
 
 
1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DE FAMÍLIA 
 
1.1 CONCEITO E CONTEÚDO DO DIREITO DE FAMÍLIA 
Direito de família, segundo MARIA HELENA DINIZ, é o “complexo de 
normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele 
resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a 
união estável, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos 
complementares da tutela e curatela”. 
Tal conceito abrange todos os institutos do direito de família, regulados 
pelo novo Código Civil entre os arts. 1.511 e 1.783, que o separa em regras que, 
didaticamente, poderíamos classificar como de direito matrimonial, direito 
convivencial, direito parental e direito assistencial. 
Em suma, as normas de direito de família ora regem relações pessoais 
entre cônjuges ou conviventes, entre pais e filhos, entre parentes (como as que 
tratam dos efeitos pessoais do matrimônio, da filiação, ou as que autorizam o 
filho a promover a investigação de sua paternidade, etc); ora regulam relações 
patrimoniais (que surgem, p.ex., entre marido e mulher ou companheiros, entre 
ascendentes e descendentes, entre tutor e pupilo); ora disciplinam as relações 
assistenciais que existem entre os cônjuges ou conviventes, os filhos perante os 
pais, o tutelado ante o tutor e o interdito em face do curador. 
Porém é preciso esclarecer que o direito de família, em qualquer uma de 
suas regras, não tem conteúdo econômico, a não ser indiretamente, no que 
tange ao regime de bens entre os cônjuges ou conviventes, à obrigação 
alimentar entre parentes, ao usufruto dos pais sobre os bens dos filhos menores, 
à administração dos bens dos incapazes, e que apenas aparentemente assume a 
fisionomia de direito real ou obrigacional. O que se protege, em verdade, são 
interesses superiores, que são os da família como organismo (o casamento, a 
união estável, as relações de parentesco e os institutos protetivos de todos eles), 
e não os particulares do indivíduo. 
 
1.2 OBJETO DO DIREITO DE FAMÍLIA 
O objeto do direito de família é a própria família, embora contenha normas 
concernentes à tutela dos menores que se sujeitam a pessoas que não são os 
seus genitores, à curatela, que não tem, necessariamente, qualquer relação com 
 2 
o parentesco, mas que faz parte deste sub-ramo do direito civil pela semelhança 
ou analogia com o sistema assistencial dos menores. Apenas a ausência, que é 
modalidade especial de assistência aos interesses de quem abandona o próprio 
domicílio e, portanto a própria família, não se encontra aqui regulada, pois o 
novo Código Civil a rege na parte geral (arts. 22 a 39). 
 
Família – Dicionário Aurélio: 
Substantivo feminino. 
1. Pessoas aparentadas que vivem, ger., na mesma casa, particularmente o 
pai, a mãe os filhos. 
2. Pessoas do mesmo sangue. 
3. Origem, ascendência. 
4. Art. Gráf. O conjunto dos caracteres ou dos tipos com o mesmo desenho 
básico. 
5. Biol. Reunião de gêneros [v. gênero (5)]. 
Antrop. A que é constituída pelo casal e seus filhos. 
 
A palavra família tem várias acepções jurídicas que se desprendem do 
vocábulo, em gradações somáticas, segundo a situação em que se acha o 
observador. Num primeiro sentido, chamado de sentido amplíssimo por 
MARIA HELENA DINIZ, o termo abrange todos os indivíduos que estiverem 
ligados pelo vínculo da consangüinidade ou da afinidade, chegando a incluir 
inclusive pessoas estranhas, como no caso do art. 1412, §2º, do Código Civil (em 
que as necessidades da família do usuário compreendem também as das 
pessoas de seu serviço doméstico) ou do art. 241 da Lei nº 8.112/90, Estatuto 
dos Servidores Públicos da União (que considera como família do funcionário 
além do cônjuge e prole, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e 
constem de seu assentamento individual (segundo CLÓVIS BEVILÁQUA, esta 
concepção corresponde à gens dos romanos e à genos dos gregos). 
No sentido amplo ou “lato”, além dos cônjuges ou companheiros, e de 
seus filhos, a família abrange os parentes em linha reta ou colateral, bem como 
os afins (parentes do outro cônjuge ou companheiro), nos termos dos arts. 1.591 
e seguintes do Código Civil, o Decreto-lei n.º 3.200/41 e a Lei 883/49. 
Já no sentido restrito (CF, art. 226, §§1º e 2 º), família é o conjunto de 
pessoas unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente os 
cônjuges e sua prole (CC, arts. 1.567 e 1.716), e entidade familiar a comunidade 
formada pelos pais, que vivem em união estável ou qualquer dos pais ou 
 3 
descendentes (CF, art. 226, §§3º e 4º), independentemente de existir o vínculo 
conjugal que a originou.1 
 
a) Formas históricas de família 
Os diferentes modos pelos quais se podem estabelecer as relações entre os 
cônjuges e os filhos determinam várias formas de família. Uma delas depende, 
diretamente, da modalidade que reveste a união conjugal e daí a poligamia e a 
monogamia. Outras procedem das relações de dependência, parentesco e 
autoridade que tecem entre os membros da associação familial. Daí as três 
formas de família identificadas por CLÓVIS BEVILÁQUA: a matriarcal, o 
patriarcal e a igualitária. 
 
 Família materna (matriarcado): em vários clãs primitivos da 
África, da Oceania e da América (tribos tupis, bechuanas e bantos) 
encontrava-se a filiação com o caráter puramente feminil. Trata-se 
do que escritores antigos chamavam de “matriarcado”, onde a 
mulher toma parte no conselho administrativo da família, dela 
sendo o seu chefe (preponderância da mulher). 
 
 Família paterna (patriarcado): forma familial mais consistente e 
definida, na qual o comando da família repousa sobre a autoridade 
de um homem, chefe despótico, que é, ao mesmo tempo, o 
ascendente mais velho, em regra, e o pontífice do grupo que 
preside. Despontou entre vários ramos étnicos, especialmente entre 
os povos arianos. 
 
 Família igualitária: o comando da família é dividido entre os 
cônjuges, homem e mulher, ou pertence a apenas um na ausência 
do outro. É o tipo de família atual. 
 
 
b) Aplicação da palavra família pela legislação brasileira 
A legislação brasileira, com base nas acepções da palavra família, a tem 
empregado de acordo com vários critérios, quais sejam: o dos efeitos 
 
1
 Trata-se de inovação da CF/1988, pois anteriormente só havia núcleo familiar se constituído pelo 
casamento. Assim, após a Constituição de 1988 e da Lei 9.278/96, assim como após o advento do Novo 
Código Civil, passou-se a se reconhecer a família como aquela decorrente do matrimônio e a entidade 
familiar como a oriunda de união estável e também a comunidade monoparental, formada por qualquer 
dos pais e seus descendentes, independentemente da existência de vínculo conjugal entre os pais. 
 4 
sucessórios e alimentares, o da autoridade e o das implicações fiscais e 
previdenciárias. 
 
 Critério Sucessório: a família abrange os indivíduos chamados por 
lei a herdar uns dos outros. Compreende todos os parentes da linha 
reta ad infinitum (ascendentes e descendentes), os cônjuges, os 
companheiros (art. 1.790, CC) e colaterais até o 4º grau (arts. 1.829, 
IV, 1.839 a 1.843, CC). 
 
 Efeitos Alimentares: considera-se família os ascendentes, os 
descendentes e os irmãos (arts. 1.694 a 1.697, CC). 
 
 Critério da Autoridade: a família restringe-se a pais e filhos, pois 
nela se manifesta o poder familiar, ou seja, as autoridades paterna e 
materna, que se fazem sentir na criação e educação dos filhos (arts. 
1.630 a 1.638, CC) 
 
 Critério fiscal: emrelação ao imposto de renda, a família reduz-se 
ao marido, à mulher, ao companheiro, aos filhos menores, aos 
maiores inválidos ou que freqüentam a universidade às expensas 
do pai, até a idade de 24 anos, às filhas solteiras e ao ascendente 
inválido, que vivam sob a dependência econômica do contribuinte, 
e aos filhos que morem fora do ambiente doméstico, se 
pensionados em razão de condenação judicial. 
 
 Efeitos previdenciários: a família abrange o casal, os filhos de 
qualquer condição até os 21 anos (desde que não emancipados) ou 
inválidos ou inválidas, enteados e menores sob tutela (sem bens 
suficientes para seu sustento e educação), incluindo o convivente 
do trabalhador, inclusive em concorrência com os filhos. É de se 
observar que a maioridade do Código Civil (18 anos) não se aplica 
para efeitos previdenciários pois a legislação específica confere a 
condição de dependente previdenciário às pessoas até 21 anos. 
 
c) Espécies de Família 
Quatro são, didaticamente, as espécies de família, conforme seja sua fonte, 
o matrimônio, o companheirismo, a adoção ou a unilateralidade, posto que 
juridicamente não há qualquer distinção entre todas, de modo que para todos 
 5 
os efeitos legais, seja qual for a espécie de família, filho será sempre filho. 
Vejamos: 
 
 Matrimonial: a que tem por base o casamento, sendo composta 
pelos cônjuges e pela prole (arts. 1.597, I a V e 1.618, parágrafo 
único, CC). 
 
 Não-matrimonial: a oriunda de relações extraconjugais (união 
estável), composta pelos pais (conviventes) e pela prole. 
 
 Monoparental: a formada por apenas um dos genitores e a prole. 
 
 Homoafetiva: a formada por casais de pessoas do mesmo sexo e 
prole (reconhecida pelo STF no julgamento conjunto da ADFP 132-
RJ e da ADI 4.277-DF, como pela 4ª Turma do STJ no julgamento do 
REsp 1.183.378 – RS ). 
 
1.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA 
A evolução dos costumes deu à família moderna um tratamento legal 
mais consentâneo à realidade social, de modo a ser preservada a coesão familiar 
e seus valores culturais, bem como se atender as necessidades da prole e de 
diálogo entre os cônjuges ou companheiros. Nesse sentido, o atual direito de 
família rege-se pelos seguintes princípios: 
 
 Principio da “ratio” do matrimônio e da união estável: segundo 
ele, o fundamento básico do casamento, da vida conjugal e do 
companheirismo é a afeição entre os cônjuges ou conviventes e a 
necessidade de que perdure completa comunhão de vida, sendo a 
ruptura da união estável, a separação judicial e o divórcio uma 
decorrência da extinção da affectio (CF, art. 226, §6º; CC, art. 1.511 e 
1.571 a 1.582). 
 
 Princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros: 
segundo ele, os poderes e deveres do matrimônio pertencem a 
ambos os cônjuges concomitantemente; as decisões devem ser 
tomadas em comum acordo entre conviventes ou entre marido e 
mulher (CF, art. 226, §5º; CC, art. 1.511, in fine, 1.565 a 1.570, 1.631, 
1.634, 1.643, 1.647, 1.650, 1.651 e 1.724). 
 
 6 
 Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos: segundo ele não 
há distinção entre: a) filhos legítimos, naturais ou adotivos, quanto 
ao nome, direitos, poder familiar, alimentos e sucessão; b) permite 
o reconhecimento de filhos havidos fora do casamento; c) proíbe 
que se revele no assento do nascimento a ilegitimidade simples ou 
espuriedade; d) veda designações discriminatórias relativas à 
filiação. Só é possível, portanto, diferenciar-se os filhos 
didaticamente, em matrimoniais ou não matrimoniais e 
reconhecidos ou não reconhecidos (CF, art. 227, §6º; CC, art. 1595; 
ECA, art. 41). 
 
 Princípio do pluralismo familiar: segundo o qual são 
constitucionalmente reconhecidas como válidas as famílias 
matrimoniais e as entidades familiares (união estável e famílias 
monoparentais), cujos integrantes possuem, em regra, os mesmos 
direitos e deveres. 
 
 Princípio da consagração do poder familiar: surge, em substituição 
ao antigo poder marital e paterno (pátrio poder), o chamado poder 
familiar, que é o poder-dever inerente a ambos os cônjuges ou 
conviventes, inerente à criação, educação, companhia, guarda, 
representação, obediência e respeito entre pais e filhos (CC, arts. 
1.630 a 1.638). 
 
 Princípio da liberdade: representa: a) o livre poder de constituir 
uma comunhão de vida familiar por meio de casamento ou união 
estável, sem qualquer imposição ou restrição de qualquer pessoa 
jurídica de direito público ou privado (CC, art. 1.513); b) a decisão 
livre do casal, unido pelo casamento ou pela união estável, quanto 
ao planejamento familiar (CF, art. 226, §7º; CC, art. 1.565, §2º); c) a 
liberdade na aquisição e administração do patrimônio familiar (CC, 
arts. 1.642 e 1.643); d) liberdade de escolha do regime matrimonial 
de bens (CC, art. 1.639); d) liberdade de escolha do modelo de 
formação educacional, cultural e religiosa da prole (CC, art. 1.634). 
 
 Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana: necessário ao 
pleno desenvolvimento e a realização de todos os membros da 
comunidade familiar, principalmente da criança e do adolescente 
(CF, art. 1º, III e 227). 
 7 
1.4 NATUREZA DO DIREITO DE FAMÍLIA 
O direito de família é, como vimos, o direito das pessoas projetado no 
grupo doméstico, que tem aspectos patrimoniais harmonizados com os 
interesses pessoais e familiares, uma vez que se organiza em razão dos 
membros da comunidade familiar e se opera através da atuação deles, 
individualmente considerados. 
Assim, o direito de família é direito extrapatrimonial, e, portanto, 
personalíssimo, irrenunciável, intransmissível e não admite condição ou termo 
ou o seu exercício por meio de procurador. 
Apesar disso é o ramo do direito civil menos individualista, dado o 
reduzido e limitado papel da vontade, pois as normas jurídicas fixam-lhe todos 
os efeitos, salvo nas raras exceções em que se apresentam como normas 
permissivas ou supletivas, em matéria de regime de bens, deixando à margem à 
autonomia da vontade. 
Os institutos como o matrimônio, a união estável, a filiação e o parentesco 
estão delimitadas, de modo rigoroso, por normas, que as organizam e 
regulamentam; logo, reduzida é a esfera deixada à vontade humana. Portanto, 
no direito de família a regra é o princípio estatutário e a exceção, a autonomia 
da vontade, porque o interesse individual está sujeito ao da família. 
O Estado, consciente dos seus objetivos, não pode deixar ao indivíduo a 
sorte da família, de forma que os efeitos do matrimônio, do companheirismo e 
da filiação, a extensão do poder familiar e do poder tutelar não podem 
submeter-se ao arbítrio individual, pois manifestam um interesse da 
comunidade política, já que a sólida organização da família constitui a base de 
toda a estrutura da sociedade e da preservação e fortalecimento do Estado. 
Em virtude disso, a maioria das normas do direito de família são cogentes 
ou de ordem pública, insuscetíveis de serem derrogadas por simples arbítrio do 
sujeito, devendo, por isso, ser interpretadas restritivamente. O que se quer 
dizer, é que embora o casamento, a união estável, a adoção e o reconhecimento 
dos filhos nasçam de atos voluntários, seus efeitos já estão preestabelecidos em 
lei. 
No mais, todo o direito de família também repousa na idéia de que os 
vínculos que por meio dele se estabelecem são na verdade direitos-deveres. 
Assim, o poder familiar, a tutela e a curatela não são apenas direitos, mas 
direitos-deveres, ou melhor, poderes-deveres, pois não só outorgam poderes a 
quem os tem, mas tem os impõe deveres. 
Por fim, muito emboraalguns juristas considerem o direito de família 
como ramo do direito público, dado à grande intervenção do Estado, não é esta 
a dicção que nos parece correta. O direito de família é ramo do direito privado, 
 8 
e assim também do direito civil, tendo em vista os sujeitos das relações que 
disciplina (particulares), o conteúdo dessas relações, os fins de seu 
ordenamento e as suas formas de atuação, bem com pelo fato de que a 
intervenção do Estado é meramente protetora, não podendo ocorrer de forma 
dominante, excessiva, como o é no caso do ramos do direito público. 
 
2 – DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO 
 
2.1 CONCEITO E ESPÉCIES 
Parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que 
descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também 
entre um cônjuge e os parentes do outro, entre adotante e adotado e entre pai 
institucional e filho socioafetivo. 
Desse conceito, extraímos as seguintes espécies de parentesco: 
 
a) Natural ou consangüíneo: é o vínculo entre pessoas que 
descendem de um mesmo tronco ancestral; ligadas, portanto, 
umas às outras, pelo mesmo sangue. Este parentesco existe tanto 
na linha reta como na linha colateral. Será matrimonial se oriundo de 
casamento, e extramatrimonial se proveniente de união estável, 
relações sexuais eventuais ou concubinárias. O parentesco natural 
pode ainda ser duplo ou simples, conforme derive dos dois ou 
somente de um dos genitores (nesse sentido, são irmãos 
germanos os nascidos dos mesmos pais, e unilaterais os que são 
de um só deles – uterinos, se apenas da mesma mãe, e 
consangüíneos, se apenas do mesmo pai). 
 
b) Afim: aquele que se estabelece por determinação legal (art. 1.595, 
CC), unindo os parentes consangüíneos ou civis de um cônjuge 
ou companheiro ao outro (se origina apenas em virtude de 
casamento válido ou união estável). O parentesco por afinidade 
limita-se aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou 
companheiro (art. 1.595, §1º, CC). A afinidade é um vínculo 
pessoal, ou seja, os afins de um cônjuge ou convivente não o são 
entre si, de forma que não estão unidos por afinidade os parentes 
de um cônjuge ou convivente aos parentes do outro. Em nosso 
direito, como já estudamos, constitui impedimento matrimonial a 
afinidade em linha reta (art. 1.521, II, CC), que não deixa de existir 
mesmo depois da dissolução, por morte ou por divórcio, do 
 9 
casamento ou da união estável que deu origem a este parentesco 
(art. 1.595, §2º, CC), sendo, portanto, vedado o casamento de 
genro e sogra, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e 
enteado. O mesmo não se aplica à linha colateral, cujo parentesco 
cessa com o óbito do cônjuge ou companheiro, não sendo, pois, 
vedado o casamento entre cunhados. 
 
c) Civil (art. 1.593, in fine, CC): é o que se refere à adoção, 
estabelecendo um vínculo entre adotante e adotado, que se 
estende aos parentes de um e de outro. A adoção atribui a 
situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo 
com os pais e parentes consangüíneos, salvo para efeito de 
impedimento matrimonial. Pai e filho adotivo, portanto, são 
parentes civis em virtude de lei (art. 41, ECA). O parentesco civil 
abrange o socioafetivo (arts. 1593, in fine, e 1.597, V, CC), alusivo ao 
liame entre pai institucional e filho advindo de inseminação 
artificial heteróloga (aquela em que o pai não contribui com 
material fecundante), gerando relação paterno-filial, mesmo não 
havendo vínculo biológico entre o filho e o marido de sua mãe, 
que anuiu na reprodução assistida. Trata-se de relação baseada no 
afeto, gerado pela convivência entre ambos. 
 
2.2 CONTAGEM DE GRAUS DE PARENTESCO CONSANGÜÍNEO 
O parentesco consangüíneo divide-se em linha reta e em linha colateral ou 
transversal. A linha é a vinculação de alguém a um tronco ancestral comum. 
Assim, são parentes em linha reta as pessoas que estão ligadas umas às outras 
por um vínculo de ascendência e descendência (art. 1.591, CC). São parentes na 
linha ascendente o pai, o avô, o bisavô e etc, e na linha descendente o filho, o 
neto, o bisneto e etc. Tal parentesco é infinito, ou seja, pois mais afastadas que 
estejam as gerações, serão sempre parentes entre si pessoas que descendem 
umas das outras. Serão parentes em linha colateral aquelas pessoas que, 
provindas de um tronco comum, não descendem umas das outras (art. 1.592, 
CC), como p.ex., irmãos, tios, sobrinhos e primos. Este parentesco não é infinito, 
ou seja, não vai, em nosso direito, além do 4º grau, pois há a presunção de que 
após esse limite o afastamento é tão grande que não mais serve de base para 
relações de direito. 
O parentesco se conta por graus, que constituem a distância que cai de 
uma geração a outra. 
 10 
Na linha reta, o parentesco é contado pelo número de gerações (art. 1594, 
1ª parte, CC). Cada geração representa um grau. A linha reta se subdivide, 
ainda, em paterna e materna. 
Na linha colateral também se contam os graus pelo número de gerações, 
subindo, porém, de um parentes até o ascendente comum, e descendo, depois, 
até encontrar o outro parente (art. 1.594, 2ª parte, CC). Nesta linha não há 
parentesco em 1º grau, porque a contagem se inicia sempre em linha ascendente 
(há sempre no mínimo três pessoas e dois graus na contagem colateral). Dessa 
forma, irmãos são parentes colaterais em 2º grau; tio e sobrinho são parentes 
colaterais em 3º grau; primos são parentes colaterais em 4º grau; e tio-avô e 
sobrinho-neto também são colaterais em 4º grau. A linha colateral será, ainda, 
dúplice, se dois irmãos casarem-se com duas irmãs, uma vez que seus filhos 
serão duplamente primos. 
 
2.3 CONTAGEM DE GRAUS NO PARENTESCO POR AFINIDADE 
No que diz respeito ao parentesco por afinidade, as regras de contagem 
de graus são iguais as do parentesco consangüíneo. Na linha reta, tem-se 
afinidade entre sogro e nora, sogra e genro, padrasto e enteada, madrasta e 
enteado. São, portanto, afins em 1º grau. Em 2º grau, na linha reta, o cônjuge 
será afim dos avós do outro, e assim sucessivamente, não havendo limite de 
graus (art. 1.595, §§1º e 2º, CC). 
Já na linha colateral, o parentesco por afinidade não ultrapassa o 2º grau, 
existindo apenas afinidade de um cônjuge ou convivente com os irmãos do 
outro. Os cunhados são, portanto, parentes por afinidade em 2º grau (art. 1.595, 
§1º, 2ª parte, CC), não havendo afinidade em 3º ou 4º graus. 
 
 
3 – DO CASAMENTO 
 
3.1 CONCEITO E FINS DO MATRIMÔNIO 
Casamento, segundo a conceituação clássica, é a união legal entre um 
homem e uma mulher, com o objetivo de constituírem família legítima. União 
legal é aquela celebrada com observância das formalidades exigidas na lei. E 
entre um homem e uma mulher, porque o casamento entre pessoas do mesmo 
sexo ainda não seria permitido expressamente pela lei, embora também não 
fosse expressamente proibido. O casamento celebrado sem as solenidades 
previstas na lei, bem como o é aquele em que os nubentes não manifestam o 
consentimento. O casamento cria a família legítima (CC, art. 229). 
 11 
Para MARIA HELENA DINIZ, o casamento é “o vínculo jurídico entre o 
homem e a mulher que visa o auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma 
integração fisiopsíquica e a constituição de uma família”. 
Para SÍLVIO RODRIGUES o casamento é “o contrato de direito de família que 
tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim 
de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua 
assistência”. 
CLÓVIS BEVILÁQUA assim conceitua o casamento: “é o contrato bilateral e 
solene, pelo qual um homem e uma mulherse unem indissoluvelmente, legalizando por 
ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de interesses, 
e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer”. 
Pelas definições acima expostas, nota-se que o casamento é muito mais do 
que a simples “legalização” da união ou das relações sexuais entre homem e 
mulher, como entendia KANT, mas sim uma relação dinâmica e progressiva 
entre marido e mulher, onde há comunhão de matéria e espírito entre eles e 
cada cônjuge reconhece e pratica a necessidade da vida em comum, para 
ajudar-se e socorrer-se mutuamente, compartilhar o mesmo destino e perpetuar 
a espécie. 
Afora isso, nota-se também a manutenção da diversidade de sexos para a 
maioria dos doutrinadores, como requisito essencial para o casamento. Ocorre 
que após a decisão proferida pelo STF, em 05/05/2011, no julgamento conjunto 
da ADPF 132-RJ e da ADI 4.277-DF, em que se reconheceu a possibilidade da 
instituição de famílias por casais homoafetivos, naquela ocasião por meio 
apenas do instituto da União Estável, vários casamentos começaram a ser 
realizados, a grande maioria por meio do procedimento de conversão de União 
Estável em Casamento, entre pessoas do mesmo sexo. 
Em razão disso, a 4º Turma do STJ, ao julgar o REsp nº 1.183.378 – RS, 
autorizou a realização de casamento direto (não por conversão), entre duas 
pessoas do mesmo sexo, considerando que não existe qualquer vedação 
expressa ou mesmo implícita no Código Civil para tanto, interpretando-se tal 
diploma legal em consonância com os princípios atinentes ao Direito de Família 
constitucionalmente previstos, conforme ementa abaixo transcrita: 
 
DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS 
DO MESMO SEXO (HOMOAFETIVO). INTERPRETAÇÃO DOS 
ARTS. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565 DO CÓDIGO CIVIL DE 
2002. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO EXPRESSA A QUE SE 
HABILITEM PARA O CASAMENTO PESSOAS DO MESMO 
SEXO. VEDAÇÃO IMPLÍCITA CONSTITUCIONALMENTE 
INACEITÁVEL. ORIENTAÇÃO PRINCIPIOLÓGICA 
CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF N. 
 12 
132⁄RJ E DA ADI N. 4.277⁄DF. 1. Embora criado pela Constituição 
Federal como guardião do direito infraconstitucional, no estado atual 
em que se encontra a evolução do direito privado, vigorante a fase 
histórica da constitucionalização do direito civil, não é possível ao STJ 
analisar as celeumas que lhe aportam "de costas" para a Constituição 
Federal, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito 
desatualizado e sem lastro na Lei Maior. Vale dizer, o Superior 
Tribunal de Justiça, cumprindo sua missão de uniformizar o direito 
infraconstitucional, não pode conferir à lei uma interpretação que não 
seja constitucionalmente aceita. 2. O Supremo Tribunal Federal, no 
julgamento conjunto da ADPF n. 132⁄RJ e da ADI n. 4.277⁄DF, 
conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002 interpretação conforme 
à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o 
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas 
do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo 
perfeito de família. 3. Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 
uma nova fase do direito de família e, consequentemente, do 
casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo 
familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a 
constituir esse núcleo doméstico chamado "família", recebendo todos 
eles a "especial proteção do Estado". Assim, é bem de ver que, em 
1988, não houve uma recepção constitucional do conceito histórico de 
casamento, sempre considerado como via única para a constituição de 
família e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora consagrados 
princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Agora, a 
concepção constitucional do casamento - diferentemente do que ocorria 
com os diplomas superados - deve ser necessariamente plural, porque 
plurais também são as famílias e, ademais, não é ele, o casamento, o 
destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o intermediário 
de um propósito maior, que é a proteção da pessoa humana em sua 
inalienável dignidade. 4. O pluralismo familiar engendrado pela 
Constituição - explicitamente reconhecido em precedentes tanto desta 
Corte quanto do STF - impede se pretenda afirmar que as famílias 
formadas por pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do 
Estado, se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas 
por casais heteroafetivos. 5. O que importa agora, sob a égide da Carta 
de 1988, é que essas famílias multiformes recebam efetivamente a 
"especial proteção do Estado", e é tão somente em razão desse desígnio 
de especial proteção que a lei deve facilitar a conversão da união 
estável em casamento, ciente o constituinte que, pelo casamento, o 
Estado melhor protege esse núcleo doméstico chamado família. 6. Com 
efeito, se é verdade que o casamento civil é a forma pela qual o Estado 
melhor protege a família, e sendo múltiplos os "arranjos" familiares 
reconhecidos pela Carta Magna, não há de ser negada essa via a 
nenhuma família que por ela optar, independentemente de orientação 
sexual dos partícipes, uma vez que as famílias constituídas por pares 
homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos daquelas 
constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das 
pessoas de seus membros e o afeto. 7. A igualdade e o tratamento 
isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à auto-afirmação e 
 13 
a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias. Em uma 
palavra: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se é 
garantido o direito à diferença. Conclusão diversa também não se 
mostra consentânea com um ordenamento constitucional que prevê o 
princípio do livre planejamento familiar (§ 7º do art. 226). E é 
importante ressaltar, nesse ponto, que o planejamento familiar se faz 
presente tão logo haja a decisão de duas pessoas em se unir, com escopo 
de constituir família, e desde esse momento a Constituição lhes 
franqueia ampla liberdade de escolha pela forma em que se dará a 
união. 8. Os arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565, todos do Código 
Civil de 2002, não vedam expressamente o casamento entre pessoas do 
mesmo sexo, e não há como se enxergar uma vedação implícita ao 
casamento homoafetivo sem afronta a caros princípios constitucionais, 
como o da igualdade, o da não discriminação, o da dignidade da pessoa 
humana e os do pluralismo e livre planejamento familiar. 9. Não 
obstante a omissão legislativa sobre o tema, a maioria, mediante seus 
representantes eleitos, não poderia mesmo "democraticamente" 
decretar a perda de direitos civis da minoria pela qual eventualmente 
nutre alguma aversão. Nesse cenário, em regra é o Poder Judiciário - e 
não o Legislativo - que exerce um papel contramajoritário e protetivo 
de especialíssima importância, exatamente por não ser compromissado 
com as maiorias votantes, mas apenas com a lei e com a Constituição, 
sempre em vista a proteção dos direitos humanos fundamentais, sejam 
eles das minorias, sejam das maiorias. Dessa forma, ao contrário do 
que pensam os críticos, a democracia se fortalece, porquanto esta se 
reafirma como forma de governo, não das maiorias ocasionais, mas de 
todos. 10. Enquanto o Congresso Nacional, no caso brasileiro, não 
assume, explicitamente, sua coparticipação nesse processo 
constitucional de defesa e proteção dos socialmente vulneráveis, não 
pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação 
tácita de um Estado que somente é "democrático" formalmente, sem 
que tal predicativo resista a uma mínima investigação acerca da 
universalização dos direitos civis. 11. Recurso especial provido. (STJ – 
REsp nº 1.183.378 – RS – 4ª Turma – Rel. Min. Luis Felipe 
Salomão – DJ 01.02.2012) 
 
Portanto, independentemente da orientaçãosexual do casal, dentre os fins 
do matrimônio podemos citar: 
a) a instituição da família matrimonial (CC, art. 1.513); 
b) a procriação dos filhos: é conseqüência natural mas não essencial ao 
casamento. Sua falta não acarreta conseqüência alguma ao casamento, 
embora seja requisito legal para o matrimônio a aptidão física dos 
nubentes, tendo em vista que a lei admite a sua anulação se um dos 
cônjuges for impotente para a prática do ato sexual (CF, art. 226, §7º); 
c) a prestação do auxílio mútuo: conseqüência do convívio entre os 
cônjuges; 
 14 
d) o estabelecimento de deveres patrimoniais ou não entre os cônjuges 
(p.ex.: dever legal dos cônjuges de prover na proporção dos seus 
rendimentos e de seus bens a manutenção da família (CC, art. 1568); 
dever de fidelidade recíproca (CC, art. 1.566, I e V); 
e) a educação da prole: conseqüência da procriação, é a criação da prole 
(CC, art. 1.634). 
f) a atribuição de nome ao cônjuge e aos filhos (CC, art. 1565, §1º). 
 
3.2 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO 
Polêmica é a questão referente à natureza jurídica do casamento, se se 
trata de um contrato ou de uma instituição. 
Pela teoria contratualista, originária do direito canônico em primeiro lugar 
está o consentimento dos nubentes, ficando a intervenção do sacerdote e do 
Estado em segundo plano, na formação do vínculo. Para essa corrente, também 
chamada de individualista, seguida entre nós por CAIO MÁRIO DA SILVA 
PEREIRA e SÍLVIO RODRIGUES dentre outros, o matrimônio é um contrato 
civil, regido pelas normas comuns a todos os contratos, ultimando-se e 
aperfeiçoando-se apenas pelo simples consentimento entre os nubentes, que há 
de ser recíproco e manifesto por sinais exteriores. Tal concepção sofreu algumas 
variações, pois civilistas há que vislumbram no casamento um contrato especial 
ou sui generis, pois, em razão de seus efeitos peculiares e das relações específicas 
que cria, não se lhe aplicam os dispositivos legais dos negócios de direito 
patrimonial, concernentes à capacidade dos contraentes, aos vícios de 
consentimento e aos efeitos, embora as normas de interpretação dos contratos 
de direito privado possam ser aplicados à relação matrimonial.2 
Já a teoria institucionalista, adotada por MARIA HELENA DINIZ, vê no 
matrimônio um estado em que os nubentes ingressam, isto é, uma grande 
instituição social, refletindo uma situação jurídica que surge da vontade dos 
contraentes, mas cujas normas, efeitos e forma encontram-se preestabelecidos 
pela lei. As partes são livres, podendo cada uma escolher o seu cônjuge e 
decidir se vai casar ou não; uma vez acertada a realização do matrimônio, no 
entanto, não lhes é permitido discutir o conteúdo de seus direitos e deveres, o 
modo pelo qual se dará a resolubilidade da sociedade ou do vínculo conjugal 
ou as condições de legitimidade da prole, porque disciplinadas em lei estão tais 
relações. O estado matrimonial é, portanto, um estatuto imperativo 
preestabelecido ao qual os nubentes aderem. Não se trata, no entanto, para os 
seguidores desta doutrina, de um contrato de adesão, mas sim de simples 
 
2
 Esse é o entendimento, por exemplo, de ORLANDO GOMES, PAULO LINS E SILVA e CAIO 
MÁRIO DA SILVA PEREIRA. 
 15 
aceitação das normas de um estatuto, tal qual ele é, em liberdade para adotar ou 
estabelecer outras normas 
Para tentar solucionar criou-se uma terceira teoria, a teoria eclética, que 
constitui uma fusão das anteriores, pois considera o casamento um ato 
complexo: um contrato especial, do direito de família, mediante o qual os 
nubentes aderem a uma instituição pré-organizada, alcançando o estado 
matrimonial. 
 
3.3 CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO 
Dentre as principais características do casamento, temos: 
a) liberdade na escolha do nubente ; 
b) solenidade do ato nupcial (não basta a simples união do homem e da 
mulher, com a intenção de permanecerem juntos e gerarem filhos; é 
imprescindível que o casamento tenha sido celebrado conforme a lei 
que o ampara e rege); 
c) é de ordem pública (as normas que o regem estão acima das 
convenções dos nubentes); 
d) é união permanente (quando duas pessoas contraem matrimônio não o 
fazem por tempo determinado, mas sim por toda a vida; mesmo que 
venham a se separar e a se casar novamente, sempre há, em regra, um 
desejo íntimo de perpetuidade, ou seja, de permanência da ordem 
conjugal e familiar); 
e) é união exclusiva (pois exige fidelidade conjugal). 
 
3.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO MATRIMONIAL 
Para ORLANDO GOMES, três são os princípios que regem o casamento: 
a) Princípio da livre união dos futuros cônjuges: o casamento advém do 
consentimento dos próprios nubentes, que devem ser capazes para 
manifestá-lo. Impossível é a substituição do consentimento dos 
contraentes, bem como a auto-limitação de suas vontades pela 
condição ou pelo termo. 
b) Princípio da monogamia: embora alguns povos admitam a poligamia e 
a poliandria, a grande maioria dos países adota o regime da 
singularidade, que não permite a existência simultânea de dois ou 
mais vínculos matrimoniais contraídos pela mesma pessoa (o art. 
1.521, VI, CC, estatui que não podem se casar as pessoas casadas, 
assim como o art. 1.548, II, CC, estabelecer ser nulo o casamento 
contraído com infringência ao mesmo impedimento e o art. 235 do 
 16 
Código Penal estabelece ser crime alguém, sendo casado, contrair 
novo casamento). 
c) Princípio da comunhão indivisa: segundo ele, o matrimônio tem por 
objetivo criar uma plena comunhão de vida entre os cônjuges, material 
e espiritual (CC, art. 1511). 
 
3.5 DOS ESPONSAIS OU PROMESSA DE CASAMENTO 
Os esponsais, segundo MARIA HELENA DINIZ, consistem num 
“compromisso de casamento entre duas pessoas desimpedidas, de sexos diferentes, com o 
escopo de possibilitar que se conheçam melhor, que aquilatem suas afinidades e gostos”. 
Seria a promessa recíproca de casamento tendente a facilitar a passagem da 
posição de estranhos à de cônjuges e justificar à sociedade a convivência mais 
contínua e íntima dos noivos, sendo, simplesmente, um ato preparatório do 
matrimônio. 
Dada a liberdade matrimonial dos tempos atuais, a promessa de 
casamento não gera qualquer conseqüência jurídica, por não ter qualquer 
obrigatoriedade, podendo ser rompida a qualquer tempo pelos noivos, até 
mesmo por ocasião da cerimônia nupcial. 
Em nosso antigo ordenamento jurídico os esponsais tinham natureza 
contratual, e seu inadimplemento resolvia-se em perdas e danos (Lei de 6-10-
1884). Com o Código Civil de 1916, deixou tal promessa de ser regulamentada, 
surgindo então dúvidas sobre sua validade, sobre os casos em que se admite a 
sua ruptura, sobre a questão de saber se o seu rompimento acarreta ou não 
reparação de danos, o prazo para sua cobrança e etc. 
A grande maioria dos civilistas entende que no moderno direito civil a 
promessa esponsalícia não cria nenhum vínculo de parentesco nem de família 
entre os noivos, nem entre cada um deles e os consangüíneos do outro, nem 
mesmo faz surgir impedimentos matrimoniais. 
O arrependimento, no entanto, especialmente quando externado sem 
motivo justo, pode dar causa a uma ação indenizatória. É sabido que, na 
iminência de um casamento, os noivos realizam despesas de diversas ordens 
(adquirem peças de enxoval, alugam ou compram bens imóveis e móveis, 
adiantam pagamentos de bufês, enfeites de igreja e do salão de festas, etc). 
Assim, o arrependimento pode causar inúmeros prejuízos, de ordem 
material, ao outro noivo. Se não houve motivo justo para a mudança de atitude, 
ter-se-á como ocorrido ato ilícito, surgindo para o lesado o direito deobter a 
reparação do dano, com base no art. 186 do Código Civil. 
Além dos prejuízos materiais, relativos às despesas pré-nupciais, é 
também possível que o rompimento de noivado dê ensejo aos danos morais, 
 17 
caracterizados pela vergonha, pela frustração de uma expectativa, pelo 
desgosto, enfim, pelo sofrimento gerado à vítima (ex: abandono na igreja, antes 
ou durante a celebração). 
WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO assim enumera os três 
requisitos essenciais para que haja responsabilidade civil por rompimento de 
noivado: 
 Que a promessa de casamento tenha emanado, livremente, do 
próprio arrependido, e não de seus genitores ou qualquer outra 
pessoa próxima; 
 Que o arrependido não ofereça motivo justo para sua desistência 
(tal como infidelidade, mudança de religião, ruína econômica, 
condenação criminal, moléstia grave, etc.); 
 Que o rompimento do noivado tem causado danos materiais ou 
morais, ou ambos, ao ex-noivo ou ex-noiva. 
Trata-se, portanto, de espécie de responsabilidade subjetiva, que 
depende da comprovação de falta de motivo justo para o rompimento, ou seja, 
de que o ato praticado seja ilícito (art. 186 c/c art. 927, ambos do CC). 
 
3.6 CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO 
Desde os primórdios do Direito Romano, o matrimônio era matéria de 
suma importância. 
Pela convenção do matrimônio a mulher e seu patrimônio passavam para 
a manus maritalis, mediante três diferentes institutos: a) a confrarreatio, por meio 
do qual o casamento era religioso e se caracterizava pela oferta aos deuses de 
um pão de trigo, sendo que somente os filhos havidos desta forma de 
matrimônio é que podiam ocupar certos cargos sacertodais; b) a coemptio, 
reservada à plebe, que consistia numa espécie de casamento civil celebrado pela 
venda fictícia, do pai para o marido, do poder sobre a mulher; c) o usus, espécie 
de usucapião, em que o marido adquiria sua mulher pela posse, consistente na 
vida em comum durante um ano. 
Apenas após longa evolução, surgiu em Roma a justae nuptiae, que era o 
matrimônio livre, assemelhado ao casamento do atual direito civil brasileiro, 
cujos requisitos eram a capacidade e consentimento dos cônjuges e a ausência 
de impedimentos. 
Conforme relaciona WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, a 
legislação universal sobre o matrimônio atualmente divide-se em quatro 
grupos: a) países em que só o casamento civil é válido, ressalvado aos 
contraentes a celebração do matrimônio religioso (Brasil, quase todos os países 
sul-americanos, Alemanha e Suíça, p. ex.); b) países que concedem aos nubentes 
 18 
liberdade na opção entre o matrimônio civil e o religioso, em ambos 
reconhecendo o mesmo valor legal (EUA e Inglaterra, p. ex.); c) países em que 
se mantém a preeminência do casamento religioso, sendo o civil permitido 
apenas às pessoas de outra religião que não a oficial (Espanha, p. ex.); d) países 
em que subsiste apenas o casamento religioso (Líbano e Grécia, p. ex.). 
No Brasil, por muito tempo se reconheceu apenas o casamento religioso 
feito em Igrejas católicas, o qual era regido pelos princípios de direito canônico. 
Apenas em 1861, em virtude da crescente imigração, é que foi aprovada a Lei nº 
1.144, regulamentada pelo Decreto de 17/04/1863, permitindo que casamentos 
entre pessoas não católicas fossem realizados de acordo com as suas respectivas 
religiões (o que acabou criando três espécies de casamentos, todos religiosos, a 
saber: católicos, mistos ou acatólicos). 
Com o advento da República, o poder temporal foi separado do poder 
espiritual, e o casamento começou a perder o seu caráter apenas religioso. O 
Decreto nº 181, de 24/01/1890, instituiu o casamento civil no Brasil, não mais se 
atribuindo qualquer valor jurídico ao casamento apenas religioso. 
A Constituição de 24 de fevereiro de 1891 firmou tal entendimento, em 
seu art. 72, §4º, estabelecendo que o só se reconhecia legalmente o casamento 
civil, sendo o religioso mero “interesse da consciência individual de cada um”. Deu-
se então a generalização do casamento civil, celebrado paralelamente ao 
religioso, hábito social que permanece até hoje. 
O Código Civil de 1916 consolidou e regulamentou o casamento civil, sem 
fazer qualquer menção ao religioso, que do ponto de vista do direito civil era 
considerado como juridicamente inexistente, sendo as relações oriundas de tal 
vínculo um mero concubinato. 
A partir da Constituição de 1934 possibilitou-se a atribuição de efeitos 
civis ao casamento religioso (art. 146), o que foi mantido nas Constituições 
seguintes e adotado no atual Código Civil. 
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 226, §1º, estatui que o 
casamento é civil e gratuita a celebração, acrescentando, no §2º, que o 
religioso pode ter efeito civil, nos termos da lei. Da mesma forma o Código 
Civil de 2002, revogando o que dispunha a Lei dos Registros Públicos (Lei 
6.015/73, arts. 71 a 75), disciplina em seus arts. 1.515 e 1.516 a atribuição de 
efeitos civis ao casamento religioso. 
Em suma, embora o direito brasileiro reconheça apenas a instituição do 
casamento civil, autoriza seja o casamento religioso, quando celebrado nos 
termos da lei civil, a ser registrado como tal, produzindo seus efeitos a partir da 
data de sua celebração. 
 
 19 
3.7 CONDIÇÕES NECESSÁRIAS À EXISTÊNCIA, VALIDADE E 
REGULARIDADE DO MATRIMÔNIO 
Para que o ao nupcial seja considerado válido e eficaz, é necessário que 
certas condições para sua existência jurídica, validade e regularidade sejam 
observadas. Embora o Código Civil não trate expressamente das condições 
indispensáveis à existência jurídica do casamento, estas são evidentes. 
Por tais razões tem tomado corpo a teoria do casamento inexistente, por 
meio do qual não seria possível anular ou mesmo declarar nulo casamento que 
nunca existiu. Esta doutrina, formada em torno do Código de Napoleão 
(Código Civil francês), apontava três requisitos essenciais ao casamento, sem os 
quais casamento não se tem: diversidade de sexo, celebração e consentimento. 
O primeiro pilar do casamento era justamente a diversidade de sexo dos 
nubentes, o que, como já dito anteriormente, não condiz com a atual orientação 
do STF e do STJ, principais tribunais brasileiros, que reconheceram 
expressamente (o primeiro com repercussão geral – efeitos erga omnes), a 
existência de família entre casais homoafetivos. Lembre-se, mais uma vez que o 
STJ não só reconheceu a existência de família como autorizou expressamente o 
casamento, de forma que, ao que nos parece, não mais se justifica a 
manutenção, no direito brasileiro, ainda que para fins didáticos, da diversidade 
de sexos como requisito de existência do casamento. 
Por outro lado, será inexistente o casamento que não for celebrado na 
forma prevista em lei (art. 1.533 a 1.535, CC). Se duas pessoas redigem 
documento particular se declarando casadas, ou se se casam apenas em 
cerimônia religiosa, casamento não haverá. 
Como um dos princípios do matrimônio repousa exatamente no mútuo 
consentimento dos interessados, se houver ausência total de consentimento ter-
se-á um ato inexistente. Exemplificativamente, se um dos nubentes encontra-se 
em estado de demência que o priva de sua razão, mesmo não interditado, ou se 
estiver embriagado a ponto de perder a consciência, ou mesmo se a celebração 
prossegue sem manifestação alguma ou com manifestação contrária de algum 
dos nubentes, não se trata apenas de declaração de vontade defeituosa, mas sim 
de ausência de manifestação de vontade, o não levaria à constituição do 
casamento. 
Portanto, casamento sem celebração ou sem consentimento, não é 
matrimônio; trata-se de um nada, um ato inexistente. Não é casamento nulo,nem anulável, pois nem chega a ser casamento. Não é, pois, necessário que sua 
ineficácia seja judicialmente declarada, porque este juridicamente nunca existiu 
(não se pode desfazer o que nunca foi feito). 
 20 
Tal teoria, no entanto, do casamento inexistente, não é aceita por toda a 
doutrina brasileira, pois alguns autores, como SÍLVIO RODRIGUES, 
proclamam que basta a teoria das nulidades para a solução de todas as questões 
possíveis, assim como adotar a tese da inexistência poderia facilitar a bigamia, 
que não neste caso não se configuraria. 
As condições necessárias à validade do ato nupcial, cuja inobservância pode 
levar à nulidade ou anulabilidade do casamento são as seguintes: 
 
a) Condições naturais de aptidão física e intelectual: 
a.1) Puberdade: a lei estabelece um limite de idade, no qual se 
presume que todos estão aptos a procriar; assim se proíbe o 
casamento das mulheres e homens menores de 16 anos, sob pena 
de anulação (art. 1.550, I, CC), salvo se desse casamento resultar 
gravidez (art. 1.551,CC). Permite-se, no entanto, que se contraia 
matrimônio antes da idade legal para evitar a imposição ou o 
cumprimento de pena criminal, ou em caso de gravidez (art. 1.520, 
CC). 
 
a.2) Potência: os nubentes devem ser capazes de efetivar a conjunção 
carnal, admitindo-se a hipótese de anulação do casamento nos 
casos de impotentia couendi, desde que interesse ao cônjuge que 
antes do casamento ignorava esse defeito físico irremediável (art. 
1.557, CC). Já a impotentia generandi ou esterelidade não autoriza a 
anulação do casamento, pois não se exige a aptidão para procriar 
como condição essencial à validade do casamento. 
 
a.3) Sanidade física: a existência de doença contagiosa ou 
transmissível, anterior ao matrimônio, constitui erro essencial (art. 
1.557, III, CC), desde que desconhecida pelo outro nubente, 
possibilitando a anulação do casamento. 
 
a.4) Grau de maturidade intelectual e sanidade mental dos nubentes: 
que faça os nubentes compreenderem o grande significado do 
casamento, permitindo que tragam para um ato consentimento 
livre e refletido (art. 1.548, I e 1.557, IV, CC), sendo causa de 
anulação do casamento. 
 
a.5) Consentimento íntegro, isento de vícios: o erro e a coação são 
causas de anulação do casamento (arts. 1.550, III; 1.556, 1.558 e 
 21 
1.559, CC), desde que incidam sobre um fato que repercuta na 
convivência conjugal, tornando insuportável a vida em comum, 
por se tratar de qualidades substanciais, morais ou pessoais, e da 
identidade civil ou social do nubente, que se conhecidas 
previamente evitariam o casamento. 
 
b) Condições de ordem moral e social: 
b.1) Repressão à bigamia: é nulo o casamento de pessoa já casada (art. 
1.521, VI e 1.548, II), pois do princípio da monogamia, de que 
falamos anteriormente, decorre a proibição de segundo casamento, 
enquanto o primeiro não se dissolver. 
 
b.2) Prazo de viuvez (art. 1.523, I e II, CC). 
 
b.3) Tutela e curatela enquanto não cessadas e não saladas as contas 
(art. 1.523, IV, CC). 
 
b.4) Proibição em virtude de parentesco ou de afinidade: tem 
fundamento em questões fisiológicas, já que o matrimônio entre 
parentes próximos é desfavorável à melhoria da raça, e de ordem 
moral, já que produz graves inconvenientes o casamento entre 
pessoas que vivem constantemente juntas. É nulo o casamento 
contraído por parentes de linha reta ou colateral até determinado 
grau e por pessoas vinculadas pela adoção (art. 1.521, I a V, CC). 
 
b.5) Proibição do matrimônio pro homicídio ou tentativa de homicídio: 
é nulo o casamento do cônjuge com o condenado por homicídio ou 
tentativa contra o consorte (arts. 1.521, VII e 1.548, II, CC). 
 
b.6) Ausência do consentimento dos ascendentes ou representantes 
legais, quando necessário (arts. 1.517 e 1.550, II, CC). 
 
c) Condições necessárias à regularidade do matrimônio: são aquelas 
condizentes à celebração do matrimônio, que é ato solene. Dessa forma, são 
condições de regularidade: a celebração por autoridade competente e através 
das formalidades legais, sob pena de nulidade do ato nupcial (art. 1.554, CC). 
 
 
 
 22 
3.8 IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS E CAUSAS SUSPENSIVAS 
O Código Civil de 2002 reservou parte das regras relativas ao matrimônio 
a questões que proíbem quem não se encontra nas condições nelas arroladas de 
convolar núpcias. O objetivo de tais restrições é evitar uniões que afetem a 
prole, a ordem moral ou pública. 
Impedimento matrimonial é a ausência de requisitos para o casamento (CC, 
arts. 1.521 e 1.522). Impede, portanto, a realização de casamento válido. Se 
alguém, entretanto, contrair matrimônio sem alguma de suas condições 
exigidas em lei, a norma o fulminará de nulidade. São também chamados de 
“impedimentos propriamente ditos”. 
Nesse passo, não se pode confundir incapacidade para o matrimônio com 
impedimento matrimonial, pois o impedido de casar não é incapaz de contrair 
casamento (p.ex.: um irmão é impedido de casar com outro, mas não é por isso 
incapaz de contrair matrimônio com outra pessoa). Em suma, a incapacidade é 
geral, o impedimento circunstancial. 
Já as causas suspensivas da celebração do matrimônio, também chamadas 
de “impedimento impediente”, “impedimento meramente proibitivo” ou “impedimento 
suspensivo”, operam-se quando certas pessoas legitimadas para sua oposição a 
argúem antes de uma cerimônia nupcial, isto é, não proíbem o casamento, 
apenas advertem os nubentes de que não devem casar-se, sob pena de sofrerem 
sanção, como, por exemplo, a imposição do regime da separação de bens (CC, 
arts. 1.641, I e 1.489, I). 
 
3.8.1 Impedimentos 
Os impedimentos matrimoniais se dividem em três categorias: 
a) Impedimentos resultantes de parentesco (art. 1.521, I a V, CC): 
a.1) Impedimento de consangüinidade: se funda em razões de ordem 
moral (impedir núpcias incestuosas) e biológicas ou eugênicas (para 
preservar a prole de problemas fisiológicos ou malformações 
somáticas); 
a.2) Impedimento de afinidade: parentesco por afinidade é o que se 
estabelece em virtude do casamento, ou da união estável, entre um 
dos cônjuges ou companheiros, e os parentes do outro. A afinidade 
só é impedimento quando em linha reta, isto é, não podem se casar 
sogra e genro, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e enteado 
ou qualquer outro descendente do marido (neto, bisneto), mesmo 
que dissolvido o casamento ou a união estável que originou a 
afinidade. Tal ocorre porque o art. 1.595, §2º, CC, determina que a 
 23 
afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da 
união estável. Este impedimento tem fundamento moral. 
a.3) Impedimento de adoção: que intenciona velar pela legitimidade das 
relações familiares e pela moral do lar. Esse impedimento é uma 
decorrência natural do respeito e da confiança que deve haver na 
família. 
 
b) Impedimento de vínculo (art. 1.521, VI, CC): deriva da proibição de 
bigamia, proibindo de se casar pessoa vinculada a matrimônio anterior 
válido. Se alguém ainda ligado a outra pessoa por laço matrimonial 
quiser contrair outro casamento, deverá apresentar ao oficial de 
registro incumbido das formalidades preliminares: certidão de óbito 
do cônjuge falecido, ou certidão de nulidade ou anulação do 
casamento anterior, ou, ainda, o registro da sentença do divórcio. Não 
constitui impedimento a existência apenas de casamento religioso, não 
inscrito no civil (art. 1.515, CC). 
 Obs: o §1º do art. 1.571 do Código Civil de 2002, em inovação 
legislativa, determina que se dissolve o vínculo do casamento em caso 
de presunção de óbito do ausente, o que permiteque o outro cônjuge 
contraia novo matrimônio após tal fato (o que não era possível na 
dicção do Código Civil de 1916, que dava ao instituto da ausência 
apenas efeitos sucessórios). 
 
c) Impedimento de crime (art. 1.521, VII): não pode o cônjuge 
sobrevivente casar-se com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte. Tal impedimento só diz respeito ao 
homicídio doloso, já que no culposo não há intenção alguma de matar 
um consorte para casar-se com outro. Requer, ainda, a norma em 
questão, para que seja aplicada, que o autor do fato tenha sido 
condenado pelo crime de homicídio ou pela sua tentativa; se foi 
absolvido ou se o delito prescreveu, extinguindo-se a punibilidade, 
não há qualquer impedimento matrimonial. Todavia, anistia, graça ou 
perdão não têm o condão de fazer desaparecer esse impedimento. 
 
3.8.2 Causas Suspensivas 
A violação das causas suspensivas da celebração do casamento, também 
chamadas de impedimentos impedientes, suspensivos ou proibitivos, não 
desfaz o matrimônio, visto que não é nulo, nem anulável, apenas acarreta a 
aplicação de sanções previstas em lei. 
 24 
Essas causas suspensivas são estabelecidas no interesse da prole de 
casamento anterior; no intuito de evitar a confusio sanguinis e a confusão de 
patrimônios, na hipótese de segundas núpcias; ou no interesse do nubente, 
presumivelmente influenciado pelo outro. 
Para evitar a confusão de patrimônios, o Código Civil, no art. 1.523, I, 
estabelece que não deve ser celebrado o casamento de viúvo ou viúva que tiver 
filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer o inventário dos bens do casal e 
der partilha aos herdeiros. Se houver violação deste preceito, poderão ocorrer as 
seguintes sanções: celebração do segundo casamento sob o regime da separação de bens 
(art. 1.641, I, CC) e hipoteca legal de imóveis em favor dos filhos (art. 1.489, II, CC). 
Nesse caso, o objetivo foi evitar que o acervo patrimonial, que interessa 
aos filhos do primeiro casamento, se confunda com o da nova sociedade 
conjugal. Realizando-se o inventário e partilha dos bens do primeiro casal 
antecipadamente, apura-se o que realmente pertence à prole do primeiro 
casamento e o que não pertence, evitando-se tal confusão. 
Para que não haja confusão de sangue, gerando conflito de paternidade, o 
Código Civil, no art. 1.523, II, estabelece que não deve ser contraído o 
casamento de viúva ou de mulher cujo matrimônio se desfez por ser nulo ou 
por ter sido anulado, até 10 meses depois do começo da viuvez, ou da 
dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, salvo se antes de findo esse 
prazo der à luz algum filho ou provar inexistência de gravidez (parágrafo 
único, art. 1.523). A lei aconselha que a viúva ou a mulher nas condições acima 
mencionadas, sob pena de ter de se casar no regime da separação de bens (art. 1.641, 
I, CC), aguarde a expiação de tal prazo antes de contrair novo casamento, pois 
incerta seria a paternidade de filho nascido no sétimo mês do segundo 
casamento, realizado três meses após a morte do primeiro marido, pois o 
recém-nascido poderia tanto ser filho do primeiro como do segundo cônjuge 
(art. 1.598, CC). 
Também para evitar a confusão de patrimônio da antiga com o da nova 
sociedade conjugal, não deve se casar o divorciado enquanto não houver sido 
homologada ou decidida a partilha de bens do casal (art. 1.523, II, CC), sob pena 
de ter de adotar o regime obrigatório de separação de bens (art. 1.641, I, CC). 
Com o escopo de desaconselhar matrimônio de pessoas que se acham em 
poder de outrem, pois este poderia conseguir um consentimento não 
espontâneo, preceitua o art. 1.523, IV, que não devem casar “o tutor e o curador e 
os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa 
tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela e a curatela, e não estiverem 
saldadas as respectivas contas”. A violação deste preceito acarreta a obrigatoriedade 
 25 
do regime de separação de bens (art. 1.641, I, CC), salvo se se provar a inexistência 
de prejuízo para o tutelado ou curatelado (art. 1.523, parágrafo único, CC). 
 
3.8.3 Oposição dos impedimentos matrimoniais e das causas 
suspensivas 
Oposição é o ato praticado por pessoa legitimada que, até o momento da 
realização do casamento, leva ao conhecimento do oficial, perante quem se 
processa a habilitação, ou do juiz que celebra a solenidade, a existência de um 
dos impedimentos, ou causas suspensivas, previstos nos arts. 1.521 e 1.523 do 
Código Civil, entre as pessoas que pretendem contrair núpcias. 
O direito de oposição possui algumas restrições, a fim de se evitar abusos 
e acusações levianas, quais sejam: 
 
a) Limitações pessoais: os impedimentos matrimoniais, como interessam à 
coletividade devem ser opostos, obrigatoriamente, ex officio, pelo 
oficial de registro civil; pelo juiz ou por quem presidir a celebração do 
casamento, se tiverem conhecimento de algum impedimento (art. 
1.522, parágrafo único, CC); ou por qualquer pessoa capaz, até o 
momento da celebração do casamento, mediante declaração escrita, 
com sua assinatura, instruída com as provas do fato que alegar (arts. 
1.522 e 1.529, CC). Quanto às causas suspensivas, como interessam 
apenas à família, só poderão ser argüidas pelos parentes em linha reta 
(ascendentes ou descendentes), de um dos nubentes, sejam 
consangüíneos ou afins; pelos colaterais, em segundo grau, sejam 
consangüíneos ou afins. 
b) Limitações formais: 
b.1) quanto à oportunidade → os impedimentos podem ser argüidos até a 
celebração do casamento, e as causas suspensivas dentro do prazo de 
15 (quinze) dias da publicação dos proclamas. 
b.2) quanto ao oponente → não poderá ficar no anonimato; deverá ser 
capaz (art. 1.522, CC); deverá provar o impedimento por escrito, 
provando-o, com observância do art. 1.529, CC; em caso de oposição 
de causa suspensiva, deverá provar o seu grau de parentesco com um 
dos nubentes. 
b.3) quanto ao Oficial do Registro Civil → deverá receber a declaração, 
verificando se apresenta os requisitos legais; deverá dar ciência aos 
nubentes (art. 1.530, CC); remeterá os autos a juízo (Lei 6.015/73, art. 
67, §5º). 
 
 26 
Se pendente a oposição, esta tem por efeito adiar o casamento, 
impossibilitando os nubentes de obter o certificado de habilitação. Se 
improcedente, levanta-se a suspensão, e o ato nupcial realiza-se; se provado o 
impedimento, não se poderá celebrar o casamento, enquanto subsistir a razão 
impeditiva. Se, contudo, durante o processo que examina a oposição, foi 
realizado o casamento, este será válido, se depois disso for ela julgada 
improcedente. A decisão, no entanto, do processo de habilitação não faz coisa 
julgada, sendo possível, pois a propositura de ação de nulidade baseada no 
mesmo impedimento argüido. 
Se o oponente agir de má-fé, nos termos do art. 1.530 do Código Civil, 
poderá sofrer sanções civis ou criminais, devendo reparar os danos morais ou 
patrimoniais que causou com seu comportamento abusivo, se doloso ou 
culposo, ex vi do art. 186 do diploma civilista. 
 
3.9 FORMALIDADES PRELIMINARES À CELEBRAÇÃO DO 
CASAMENTO 
Diante da grande importância social do instituto do matrimônio e de seus 
efeitos, prevê o legislador brasileiro certas formalidades que o devem preceder, 
com a finalidade de verificar a inexistência de impedimentos, de causas 
suspensivas e de demonstrar que os nubentes estão em condições de contrair 
núpcias, evitando-se a realização de um casamento com infração às normas 
jurídicas vigentes. Por isso, diz-se que o casamento é um ato eminentemente 
formal. 
No período preparatório do casamento é que ocorreo chamado processo 
de habilitação para o casamento (arts. 67 a 69, Lei 6.015/73), no qual os 
nubentes deverão demonstrar que estão legalmente habilitados para o ato 
nupcial, por meio de um verdadeiro processo, que corre perante o Oficial de 
Registro Civil do domicílio dos noivos; se domiciliados em distritos diferentes, 
processar-se-á no Cartório de Registro Civil de qualquer deles, sob pena de 
nulidade relativa do ato (arts. 1525, 1.550, IV, 1.560, II e 1.554, CC). Para tanto, 
ambos deverão apresentar um requerimento (feito por meio eletrônico ou 
mecânico) subscrito por eles ou por procurador (art. 1.525, CC). Se um deles, ou 
ambos, for analfabeto, será assinado a rogo, com duas testemunhas. Esse 
requerimento deverá estar acompanhado dos seguintes documentos: 
 
a) Certidão de nascimento ou documento equivalente (além de identificar 
os nubentes, comprova a existência ou não de parentesco entre os 
nubentes; se têm idade suficiente para o ato nupcial ou se estão 
sujeitos ao poder familiar, tutela ou curatela, ou se devem sofrem 
 27 
as limitações legais existentes para os maiores de 70 anos (idade 
estabelecida pela Lei n. 12.344/2010); são admitidos como prova 
de idade, na falta da certidão de nascimento, todos os 
documentos oficialmente reconhecidos, como carteira de 
identidade, carteira profissional, título de eleitor, etc); 
b) Autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato 
judicial que a supra (arts. 1.517, 1.519, 1.550, II e 1.537, CC – obtido 
o suprimento judicial, que é medida cautelar e preparatória ao 
processo de habilitação matrimonial, celebrar-se-á o casamento 
no regime de separação de bens – art. 1.641, III, CC); 
c) Declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem 
conhecer os nubentes e afirmem não existir impedimento que os iniba de 
casar (art. 1.525, III, CC e art. 42 da Lei 6.015/73); 
d) Declaração de estado civil, do domicílio e da residência atual dos 
contraentes e de seus pais, se forem conhecidos (trata-se de memorial 
que é apresentado por escrito e assinado, conjunta ou 
separadamente, pelos noivos; por ele se verificam se ambos são 
solteiros ou viúvos e se residem ou não em diferentes 
circunscrições do registro civil, pois, neste caso, é obrigatória a 
publicação dos editais de casamento numa e noutra – art. 1.527, 
CC); 
e) Certidão de óbito do cônjuge falecido, da sentença declaratória de 
nulidade ou de anulação do casamento anterior, transitada em julgado, 
ou do registro da sentença de divórcio (art. 1.525, V, CC); 
f) Certificado do exame pré-nupcial (se se tratar de casamento de 
colaterais do 3º grau, ou seja, de tio com sobrinha e de tia com 
sobrinho, nos termos do Decreto-lei nº 3.200/41, pois tais 
parentes deverão requerer ao juiz competente para a habilitação, 
sob pena de nulidade do casamento, a nomeação de dois 
médicos, isentos de suspeição, para examiná-los e atestar-lhes a 
sanidade, afirmando que a realização do ato nupcial não será 
prejudicial a eles e à eventual prole). 
 
Apresentados os documentos em questão, o oficial do Registro Civil 
verificará se estão em ordem e lavrará os proclamas do casamento, mediante 
edital que ficará afixado, durante 15 dias, nas circunscrições do Registro Civil 
de ambos os nubentes, e se publicará na imprensa local, onde houver (art. 1.527, 
CC e art. 68 da Lei nº 6.105/73), os quais têm por fim anunciar ao público a 
intenção dos nubentes, propiciando-se, a partir de sua publicação, a oposição 
 28 
dos impedimentos matrimoniais. Essa publicação é feita no Diário Oficial do 
Estado e, facultativamente, num jornal de grande circulação. 
Todavia, se se comprovar a urgência (grave enfermidade, parto iminente, 
viagem inadiável) para a celebração do casamento, o Juiz de Direito da 
Comarca onde tramita a habilitação poderá, após ouvir o Ministério Público, 
desde que se apresentem os documentos anteriormente mencionados, dispensar 
a publicação do edital (art. 1.527, parágrafo único, CC; art. 70, Lei 6.015/73). 
 Se houver alguma oposição de impedimento ou causa suspensiva, como 
já dito, o Oficial do Registro deverá dar aos nubentes, ou a seus representantes, 
nota da oposição, indicando os fundamentos, as provas e o nome da pessoa que 
a ofereceu, para que possam requerer um prazo razoável para comprovação da 
inveracidade dos fatos alegados e promover as ações cíveis e criminais contra o 
oponente de má-fé (art. 1.530, CC). 
Se decorrido o prazo de 15 dias não houver qualquer oposição de 
impedimentos ou causas suspensivas, e se o Oficial não constatar nos 
documentos que lhe foram apresentados qualquer impedimento que lhe caiba 
declarar de ofício, deverá, cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527, 
passar uma certidão declarando que os pretendentes estão habilitados para 
casar dentro de 90 (noventa) dias contados da data em que tal certidão foi 
extraída (arts. 1.531 e 1.532, CC). Se os nubentes não se casarem nesse período, 
terão de renovar o processo de habilitação, com a publicação de novos 
proclamas e nova certidão, por se tratar de prazo de decadência, já que pode 
ocorrer fato novo que modifique a situação dos noivos no que diz respeito à sua 
capacidade nupcial ou a algum impedimento matrimonial. 
Para que se conserve a prova dos proclamas, considerando-se o interesse 
social envolvido, exigem os arts. 1.527 e 1.531 do Código Civil que se complete 
o processo de habilitação com o registro dos editais no cartório do Oficial que 
os publicou, fornecendo-se certidão deles a quem os pedir. 
Este registro deve acontecer, sob pena de decadência, no mesmo prazo de 
90 dias da validade da certidão de habilitação acima referida, em sendo o 
casamento realizado apenas no civil, ou nos 90 dias seguintes à realização do 
casamento religioso com efeito civil (art. 1.516, §1º, CC). 
Se houver qualquer irregularidade no processo de habilitação, nem por 
isso será nulo o casamento. Pelo art. 28 da Lei. 6.015/73, o Oficial do Registro 
que não cumprir suas obrigações funcionais e legais, deixando, p. ex., de 
esclarecer os nubentes a respeito de fatos ou dos impedimentos que podem 
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre o regime de bens 
apontando seus efeitos jurídicos para que os nubentes possam fazer, 
conscientemente, sua opção, deverá sofrer, além da responsabilidade penal 
 29 
imposição de sanção de natureza civil por eventuais prejuízos causados aos 
nubentes (art. 186, CC). 
Resta ressaltar, por fim, que a habilitação para o casamento, o registro e a 
primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas 
cuja pobreza for declarada, sujeitando-as, na hipótese de falsa declaração, às 
penalidades legais (art. 1.512, parágrafo único, CC). 
 
3.10 CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO 
a) Formalidades essenciais da cerimônia nupcial 
Preenchidos todos os requisitos do processo de habilitação, os contraentes, 
de posse da certidão passada pelo Registro Civil, anteriormente mencionada, 
requererão mediante petição endereçada à autoridade competente a designação 
de dia, hora e local para a celebração do casamento (art. 1.533, CC). 
Costumeiramente, entretanto, a data e o horário não são marcados pelo juiz, 
pois os nubentes declaram de pronto o dia e a hora em que pretendem casar, 
limitando-se o juiz a deferir-lhes o requerimento (embora não esteja obrigado a 
acatar a sugestão de data e hora). 
A celebração do ato nupcial é da competência do juiz do lugar em que se 
processou a habilitação e é gratuita (art. 1.512, CC). O casamento pode celebrar-
se em qualquer dia da semana, inclusive domingos e feriados, na sede do 
cartório, com toda publicidade, a portasabertas, presentes pelo menos duas 
testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e 
consentindo a autoridade celebrante, em qualquer edifício público ou particular 
(art. 1.534, CC). Serão quatro as testemunhas se for celebrado em edifício 
particular, que deverá ficar de portas abertas durante o ato, e se algum dos 
contraentes não souber, em razão de analfabetismo, ou não puder, em virtude 
de enfermidade ou lesão, escrever (art. 1.534, §§ 1º e 2º). 
Presentes os nubentes, em pessoa ou por procurador especial (art. 1.535, 
CC), as testemunhas e o Oficial de Registro (que funciona como escrivão), o 
presidente do ato ou juiz perguntará, sucessivamente, ao futuro marido e à 
futura mulher, se pretendem se casar por livre e espontânea vontade. 
Tal manifestação deve apenas ser feita de forma clara e espontânea, não se 
exigindo qualquer solenidade específica, não se tolerando mero silêncio. O 
matrimônio não se realizará, sendo sua celebração suspensa, se um dos 
nubentes recusar a solene afirmação de sua vontade, se declarar que esta não é 
livre e espontânea ou se se manifestar arrependido (art. 1.538, I, II e III, CC). O 
nubente que der causa à suspensão do ato ao poderá retratar-se no mesmo dia; 
a cerimônia só poderá ser celebrada nas próximas 24 horas (art. 1.538, parágrafo 
único, CC). A autoridade celebrante deverá designar nova data para as núpcias, 
 30 
desde que o nubente que levou à suspensão da cerimônia assim requeira, sem 
necessidade de renovar os atos anterior e validamente praticados. Igualmente 
se suspenderá a cerimônia se houver oposição séria de impedimento ou 
retratação do consentimento dos pais, tutor ou curador, cuja autorização seja 
necessária, caso em que o juiz decretará o suprimento de consentimento e a 
cerimônia se renovará. 
Obtendo resposta afirmativa, pura e simples, sem qualquer condição ou 
termo, o celebrante deve declarar contraído o matrimônio pronunciando as 
seguintes palavras: “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante 
mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados” 
(art. 1.535, parte final, CC). 
Após tal declaração considera-se o casamento efetivamente realizado, de 
forma que o arrependimento manifestado após a mesma não produz efeito 
algum (art. 1.514, CC - efeito constitutivo). 
Para completar o ciclo formal do casamento, que se inicia com a 
habilitação e prossegue com a cerimônia solene, dever-se-á lavar no livro de 
registro, para perpetuar o ato e servir de prova, o assento do matrimônio, 
assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, testemunhas e oficial, contendo 
os requisitos estabelecidos no art. 1.536, I a VII, do Código Civil. 
A falta de lavratura do assento não macula a validade do casamento nem 
pesa como falha na celebração, mesmo quando houver dolo ou culpa do Oficial, 
caso em que se provará o matrimônio por outros meios (art. 1.543, parágrafo 
único, CC). 
 
b) Casamento por procuração 
Mesmo sendo imprescindível a presença real e simultânea dos contraentes 
para que se realize o casamento, permite a lei civil que, se um deles ou ambos 
não puder estar presente ao ato nupcial, se celebre o matrimônio por 
procuração cuja eficácia não ultrapassará 90 dias (art. 1.542, §3º, CC). 
É imprescindível que o instrumento de mandato especialmente outorgue 
poderes especiais ao mandatário para receber em casamento, em nome do 
outorgante, contraente certo e determinado, bem como que o instrumento seja 
na forma pública. 
No caso de a procuração ser redigida em língua estrangeira, somente será 
admitida se houver permissivo a este respeito na legislação pátria do mandante, 
devendo nela constar expressamente a palavra casamento ou expressão 
equivalente, traduzida a procuração por tradutor juramentado. 
 31 
Não é pacífica a idéia de que ambos os contraentes possam casar-se por 
procuração, mas se for este o entendimento, é certo que devem ser dois os 
mandatários. 
Deve a procuração especificar o regime de bens que será adotado no 
casamento; não constando expressamente, vigorará o regime legal. 
Não há exigência de demonstração da impossibilidade de 
comparecimento do nubente para que seja permitido o uso do mandato, 
podendo o instrumento ser usado para o requerimento da habilitação (art. 
1.525), para o ato solene ou para ambos, dependendo dos específicos poderes 
inclusos expressamente no instrumento. 
Em se tratando de procuração, com o requisito essencial de serem 
expressos os poderes especiais e determinados, não há previsão da 
possibilidade de substabelecimento, ou de que o mandatário possa contratar 
consigo mesmo em nome de seu noivo, não sendo aplicável a regra geral do 
direito das obrigações. 
Convém apontar que, se houver falecimento do mandante e realizado o 
casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tenha notícia do fato, o 
ato será considerado 
insubsistente. De toda sorte, não há dispensa da cerimônia pública e solene 
quando um dos nubentes estiver representado por procuração. Assim realizar-
se-á o ato na forma determinada na Lei, presente um contraente, o procurador 
do outro, o oficial do registro, o celebrante e as testemunhas, na forma do 
art.1.535. 
No momento da celebração, o procurador declara sua vontade em nome 
do representado. Sem embargo de alguma divergência, o casamento por 
procuração não constitui exceção ao princípio da atualidade da manifestação de 
vontade dos cônjuges, segundo o qual o assentimento é prestado no momento 
da celebração. Também na hipótese do casamento por procuração, o 
consentimento guarda acento de atualidade, não sendo expressão de uma 
vontade consumada no momento da outorga da procuração. Tal concepção é 
reforçada pela posição doutrinária segundo a qual o procurador pode recusar o 
assentimento em virtude de fato desconhecido pelo mandante (por exemplo, 
causa de invalidade do casamento, doença física e psíquica do nubente ou 
gravidez da noiva) sempre que for presumível que o mandante, se tivesse 
conhecimento do fato, não se casaria. 
 
§ 1º A revogação do mandato não necessita chegar 
ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado 
o casamento sem que o mandatário ou o 
 32 
outro contraente tivessem ciência da revogação, 
responderá o mandante por perdas e danos. 
 
A revogação do mandato é livre, independente de qualquer outro 
requisito, salvo a previsão do § 4º. Se houver casamento sem que o mandatário 
saiba da revogação, será tido por inexistente porque ausente o requisito do 
consentimento, respondendo o mandante pelas perdas e danos provocadas ao 
outro contraente de boa-fé que ignorasse o fato impeditivo da realização do 
matrimônio. 
Em regra, a revogação de procuração se dá por meio de uma declaração 
receptícia de vontade, ou seja, somente produz efeitos a partir do momento em 
que ingressa na esfera de conhecimento do destinatário. Em se tratando de 
procuração ad nuptias, contudo, a regra geral não encontra acolhida, em razão 
da natureza personalíssima do casamento. 
A revogação da procuração ad nuptias opera efeitos no momento do ato, 
independentemente da notificação ao procurador ou do seu conhecimento ou 
do outro nubente. 
A incapacidade superveniente do representado e a revogação da 
procuração acarretam a inexistência do casamento posteriormente celebrado 
pelo procurador, sendo imperioso preservar íntegra a liberdade nupcial do 
contraente. 
Se um dos nubentes estiver em iminente risco de vida, pode o outro 
nubente se fazer representar por procuração no casamento in articulo mortis. 
Esta é uma forma excepcional de celebração de enlace. 
O prazo de validade da procuração é determinado,

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