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Tribunal Superior do Trabalho DIÁRIO ELETRÔNICO DA JUSTIÇA DO TRABALHO PODER JUDICIÁRIO REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Nº109/2008 Data da divulgação: Sexta-feira, 07 de Novembro de 2008. Brasília - DF Tribunal Superior do Trabalho Ministro Rider Nogueira de Brito Presidente Ministro Milton de Moura França Vice-Presidente Ministro João Oreste Dalazen Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho Setor de Administração Federal Sul (SAFS) Quadra 8 - Lote 1 - Zona Cívico-Administrativa CEP 70.070-943 Tel.: 3314-4300 Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho Despacho Processo Nº PP-198980/2008-000-00-00.5 Requerente Ney José de Freitas - Juiz Corregedor Regional do TRT da 9ª Região O Ex.mo Sr. Ney José de Freitas, Juiz Corregedor Regional do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, formula, sob forma de consulta, Pedido de Providências. O ilustre Requerente aponta dificuldades com que se defrontam os Juízes do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região quando do cumprimento de cartas precatórias inquiritórias, oriundas dos Estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As acenadas dificuldades adviriam do envio de cartas precatórias desacompanhadas de documentos supostamente necessários à colheita de prova pelo Juízo Deprecado, tais como cópia do termo de audiência de instrução, "depoimentos das partes e das testemunhasdo local" [sic]. Tais documentos forneceriam elementos de molde a revelar os pontos controvertidos, objeto da prova. Segundo o Requerente, não raramente os Juízes da 15ª Vara do Trabalho de Curitiba, após marcarem audiência para o cumprimento do ato deprecado, solicitam esclarecimentos ao Juízo Deprecante, "o que nem sempre é fornecido, como se não fosse necessário" (fl. 2). Tal comportamento implicaria o adiamento da audiência e ocuparia a pauta, que poderia ser utilizada para solução de outros processos. Prática que também acarretaria o aumento do prazo médio de processos no Eg. 9º Regional. Ainda segundo o Requerente, as informações prestadas pelo Exmo. Sr. Rafael Gustavo Palumbo, Juiz da 15ª Vara do Trabalho de Curitiba, juntadas aos autos, denotam que, nas aludidas Regiões "existe a praxe de ouvir testemunhas por precatória, mesmo antes da oitiva das partes e testemunhas do local, o que contraria flagrantemente o art. 848 da CLT e art. 452, incisos II e III e art. 410, inciso II, ambos do CPC, porque muitas vezes as testemunhas deprecadas são ouvidas antes, invertendo a ordem processual". Aduz o Requerente que "sói acontecer, também, que o ato muitas vezes se torna inócuo porque na audiência em que as partes devam ser ouvidas, opera-se a composição amigável, pondo fim ao litígio. Por aí pode-se perceber que a inversão da ordem processual é altamente nociva ao princípio da celeridade, tumultuando o andamento do feito. Não raro de sapiência geral que a confissão da parte em Juízo (do reclamado mais comum, em geral pelo desconhecimento dos fatos) implicaria a desnecessidade de deprecar o ato. Tal procedimento afrontaria os preceitos do art. 130 do CPC e 400 da CLT." (fls. 2/3). Por tais fundamentos, pugna pela adoção de providências bem como pelas orientações que se façam necessárias. Por derradeiro, o Requerente exibe cópia dos seguintes documentos: a) expediente, firmado pelo Exmo. Sr. Rafael Gustavo Palumbo, Juiz da 15ª Vara do Trabalho de Curitiba/PR, contendo informações sobre o cumprimento de cartas precatórias (fl. 4); b) estudo sobre regras processuais atinentes à colheita de prova oral em cartas precatórias; e c) 4 (quatro) Cartas Precatórias Inquiritórias, originárias dos Estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. É o relatório. Decido. De início, releva notar que, a título exemplificativo, anexou-se aos presentes autos o termo de audiência em que o Exmo. Sr. Rafael Gustavo Palumbo, Juiz da MM.ª 15ª Vara do Trabalho de Curitiba/PR, recusou-se a dar cumprimento à Carta Precatória nº 69/07, originária da MM.ª Vara do Trabalho de Farroupilha/RS, Processo nº CP-292260-2007-15-9-0-1, Reclamação Trabalhista nº 00832-2007-531-04-00.8. A recusa, na espécie, funda-se em virtual "prejuízo processual ante a ausência da "colheita do depoimento das partes e testemunhas perante o Juízo deprecante". Daí por que o Juízo Deprecado retirou de pauta os autos da referida carta, determinando sua reinclusão tão logo fosse noticiada a realização da audiência perante o Juízo Deprecante (fl. 160). Em resposta, o Exmo. Sr. Herbert Paulo Beck, Juiz da Vara do Trabalho de Farroupilha, Juízo Deprecante, expediu o Ofício nº 29260/2007 ao Juízo Deprecado, consignando: "Solicito a V. Exa. o cumprimento da diligência deprecada, em seus termos, uma vez que a este Juízo incumbe a avaliação quanto ao alegado prejuízo às partes em ouvir a testemunha antes do depoimento das partes. Os procuradores estiveram presentes na audiência inicial e nada requereram quando da determinação de expedição da carta precatória inquiritória. Os autos encontram-se fora de pauta, aguardando a diligência deprecada e outras determinações, para a audiência de prosseguimento." (fl. 164) Ante os fatos aqui constatados, sem sombra de dúvida que há fundado receio de iminente prejuízo aos jurisdicionados, advindo da conduta dos juízes de primeiro grau quando da expedição e do 109/2008 - Sexta-feira, 07 de Novembro de 2008 Tribunal Superior do Trabalho 2 cumprimento de cartas precatórias inquiritórias. Tal circunstância, a meu juízo, justifica a intervenção administrativa da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho tendente à adoção de providência de modo a coibir, senão a evitar, os efeitos danosos resultantes de tal comportamento. É certo não se pode constranger o Juízo Deprecante a tomar o depoimento das partes. Máxime quando se atenta para o preceito ínsito no artigo 848 da CLT, o qual faculta ao Juiz, de ofício, proceder ao interrogatório. Eis o conteúdo da norma: "Terminada a defesa, seguir-se-á a instrução do processo, o presidente, podendoex officio ou a requerimento de qualquer Juiz temporário, interrogar os litigantes." (grifo nosso) Idealmente, todavia, entendo que as cartas precatórias destinadas à inquirição de testemunhas devem ser precedidas sempre do interrogatório das partes, desde que haja controvérsia sobre fatos relevantes à solução do litígio. Ora, se é certo que não há obrigatoriedade de o Juiz Deprecante tomar o depoimento das partes antes de expedir a carta precatória inquiritória, a experiência e o bom senso recomendam largamente a adoção sempre dessa providência. Em primeiro lugar, porque a ninguém mais que ao Juiz interessa elucidar os fatos controvertidos, como condição primacial para bem aplicar o Direito à espécie e, pois, equacionar a lide com Justiça. A iniciativa probatória do magistrado ainda mais se justifica frente à natureza da lide trabalhista, na qual se vêem traços destacados de inquisitoriedade, entre outros, nos arts. 765 (diligência de ofício) e 878 da CLT (execução de ofício), tudo a indicar que o magistrado do trabalho não é um conviva de pedra na presidência do processo. Em segundo lugar, a iniciativa do Juiz na tomada dos depoimentos das partes em audiência, em geral, mostra-se bastante proveitosa, porquanto desarma espíritos e reduz expectativas de ambas as partes, o que tende a favorecer à conciliação. Em terceiro lugar, a colheita do depoimento pessoal das partes, sobretudo se conduzida com inteligência e sabedoria pelo magistrado após fixar os pontos controvertidos, quase sempre é um valiosíssimo meio de prova mediante o qual se alcança a confissão sobre fatos, no todo ou em parte, o que, em última análise, pode tornar desnecessária a expedição de carta precatória para inquirição de testemunha. Mesmo quando não se logra obter a confissão, o teor dos depoimentos pessoais costumam revelar-se sobremaneira úteis para aquilatar-se a confiabilidade dos testemunhos. Por derradeiro,a tomada dos depoimentos das partes, no Juízo Deprecante, permite o balizamento dos fatos que remanescem controvertidos para efeito de instrução no Juízo Deprecado, em caso de inquirição de testemunha. Resta perquirir se, dispensado o depoimento das partes no Juízo Deprecante, é lícito ao Juízo Deprecado recusar-se ao cumprimento de carta precatória inquiritória. Rezam o artigo 202, inciso III e o artigo 209, inciso I, do CPC: "Art. 202. São requisitos essenciais da carta de ordem, da carta precatória e da carta rogatória: I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; III - a menção do ato processual, que lhe constitui o objeto; IV - o encerramento com a assinatura do juiz." (grifo nosso) "Art. 209. O juiz recusará cumprimento à carta precatória, devolvendo-a com despacho motivado: I - quando não estiver revestida dos requisitos legais; II - quando carecer de competência em razão da matéria ou da hierarquia; III - quando tiver dúvida acerca de sua autenticidade." Como visto, constitui requisito essencial da carta precatória a fixação de seu objeto, sem o que o Juiz Deprecado pode recusar- lhe cumprimento. Entendo, por isso, que se a carta precatória inquiritória não se fizer acompanhar do termo de depoimento pessoal das partes, como seria idealmente desejável, devem ser instruídas, obrigatoriamente, com os quesitos do Juiz Deprecante. Isso porque o fornecimento de tais quesitos permite a fixação do conteúdo do ato deprecado, ou seja, a delimitação do objeto do ato processual cuja prática se busca no Juízo Deprecado. O mero confronto da petição inicial e da contestação naturalmente não é suficiente para o Juízo Deprecado extrair conclusão segura acerca das questões controvertidas remanescentes objeto da carta precatória inquiritória porquanto virtualmente pode ter sido tomado o depoimento das partes e obtida confissão, no todo ou em parte, o que, no mínimo, reduz o campo de instrução probatória do Juízo Deprecado. Conquanto fosse ocioso assinalar, rememore-se que tal diretriz impõe-se, inclusive, em nome dos princípios da economia e celeridade processuais, porquanto não se afigura razoável que colegas magistrados do trabalho, muitas vezes a braços com pautas sobremodo desgastantes, virtualmente promovam longa instrução probatória, em carta precatória inquiritória, sobre fato já confessado, ou eventualmente sobre o que houve desistência da ação. Ressalto, a propósito, que a matéria vem de merecer atualizado disciplinamento no Título VIII da Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, divulgado no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho em 30 de outubro de 2008, cujos artigos 49 e 50 assim recomendam: "Art. 49. As cartas precatórias destinadas à inquirição de testemunhas serão preferencialmente expedidas após o interrogatório das partes, de ofício, e desde que persista controvérsia sobre fatos relevantes para o equacionamento da lide. Art. 50. Em todo caso, as cartas precatórias inquiritórias far-se-ão acompanhar dos quesitos do juízo deprecante e, facultativamente, dos quesitos das partes. Parágrafo único. O desatendimento da exigência dos quesitos do juízo deprecante autoriza o Juiz deprecado a recusar-se ao cumprimento, por imprecisão do objeto (CPC, art. 202)." Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o presente Pedido de Providências para: a) recomendar que as cartas precatórias destinadas à inquirição de testemunhas sejam, preferencialmente, expedidas após o interrogatório das partes; b) declarar que não é lícito ao Juízo Deprecado, todavia, exigir a colheita do depoimento pessoal das partes como condição para o cumprimento da carta precatória inquiritória; c) declarar que, não colhido o depoimento pessoal das partes, a carta precatória inquiritória faça-se acompanhar, obrigatoriamente, dos quesitos do Juízo Deprecante e, facultativamente, dos quesitos das partes; d) declarar que se a carta precatória inquiritória não se fizer acompanhar do termo de depoimento pessoal das partes, tampouco de quesitos do Juízo Deprecante, cabe ao Juízo Deprecado, preliminarmente, oficiar para solicitar os quesitos do Juízo Deprecante e, caso não remetidos, pode recusar-se ao cumprimento, por imprecisão do objeto (CPC, art. 202). Dê-se ciência, enviando-se cópia da presente decisão: a) ao Ex.mo Sr. Ney José de Freitas, DD. Juiz Corregedor Regional do Eg. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, ora Requerente;
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