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QVI Registro Oficio da Benzecao Betim ex17(2)

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Q U A D R O V I 
 
Registro de Bem Imaterial – Saberes 
OFÍCIO DA BENZEÇÃO 
 
EXERCÍCIO 2017 
 
 
 
BETIM / MG 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
REGISTRO DO OFÍCIO DA BENZEÇÃO 
 EXERCÍCIO 2017 PÁGINA 2/115 
 
 
FUNARBE – FUNDAÇÃO ARTÍSTICO CULTURAL DE BETIM 
Avenida Padre Osório Braga, 18. Centro | Betim – MG 
(31) 3532-29 11 / 3530-90 12 / memoriaepatrimonio.betim@gmail.com 
 
 
Rubrica 
SUMÁRIO 
 
1.INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... .....3 
2. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO E DO LOCAL ONDE OCORRE O BEM CULTURAL (DISTRITO 
SEDE) 
2.1. HISTÓRICO DO BEM CULTURAL .................................................................................... 5 
2.2. TRAJETÓRIA HISTÓRICA E DEPOIMENTOS ............................................................... 22 
3. DESCRIÇÃO DETALHADA DO BEM CULTURAL 
3.1. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO GRUPO DE EXECUTANTES ........................... 49 
3.2. ETAPAS DE REALIZAÇÃO DO OFÍCIO DA BENZEÇÃO ............................................ 52 
3.3. MATERIAIS NECESSÁRIOS ............................................................................................ 55 
3.4. DESCRIÇÃO DOS LOCAIS DE OCORRÊNCIA .............................................................. 58 
4. CARTOGRAFIA ............................................................................................................................... 64 
5. DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA ............................................................................................ 65 
6. REGISTRO AUDIOVISUAL ........................................................................................................... 74 
7. FICHAS DE INVENTÁRIO ............................................................................................................. 75 
8. ANÁLISE DO BEM CULTURAL ................................................................................................... 95 
8.1. PLANO DE VALORIZAÇÃO E SALVAGUARDA 
8.2. IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS DE DESAPARECIMENTO ....................................... 104 
8.3. DIRETRIZES DE PROTEÇÃO ......................................................................................... 105 
8.4. MEIOS DE DIFUSÃO E TRANSMISSÃO PARA FUTURAS GERAÇÕES ................. 107 
8.5. DETALHAMENTO DAS AÇOES A SEREM DESENVOLVIDAS ............................... 107 
8.6. CRONONOGRAMA DE SALVALVAGUARDA 2016 – EX. 2018 ............................... 112 
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS ........................................................... 113 
10. FICHA TÉCNICA ......................................................................................................................... 114 
11. ANEXOS - PARTE LEGAL ......................................................................................................... 115 
PROPOSTA DE REGISTRO 
ANUÊNCIAS 
ATA DE TOMBAMENTO PROVISÓRIO 
PARECER TÉCNICO FEITO PELO CONSELHO 
DIVULGAÇÃO DA DECISÃO SOBRE O INÍCIO DO REGISTRO 
ATA DE TOMBAMENTO DEFINIITIVO 
DIVULGAÇÃO DO REGISTRO DEFINITIVO 
INSCRIÇÃO NO LIVRO DE REGISTRO 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
REGISTRO DO OFÍCIO DA BENZEÇÃO 
 EXERCÍCIO 2017 PÁGINA 3/115 
 
 
FUNARBE – FUNDAÇÃO ARTÍSTICO CULTURAL DE BETIM 
Avenida Padre Osório Braga, 18. Centro | Betim – MG 
(31) 3532-29 11 / 3530-90 12 / memoriaepatrimonio.betim@gmail.com 
 
 
Rubrica 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente conjunto textual, imagético e documental compreende o Dossiê de Registro do 
Ofício da Benzeção e é composto por informações históricas, culturais e institucionais que visam 
subsidiar a salvaguarda municipal do Bem Imaterial em questão. 
 O Registro de Bens Imateriais é regido pelo Decreto 3.551, de 04 de agosto de 2000, que 
visa proteger e promover o Patrimônio Imaterial instituindo, para isso, quatro livros de preservação: 
 1) Saberes: conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; 
 2) Formas de expressão: manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; 
 3) Celebrações: rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, 
do entretenimento e de outras práticas da vida social; 
4) Lugares: mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se 
reproduzem práticas culturais coletivas. 
 A inscrição de um Bem Imaterial em um desses livros significa o reconhecimento público 
do patrimônio da comunidade, cabendo sua preservação e o incentivo à sua continuidade. O 
Registro de Bens Imateriais possibilita a valorização e a continuidade de um patrimônio relevante 
para a comunidade, por meio do reconhecimento de sua importância para a identidade coletiva e o 
incentivo de sua permanência. 
 A motivação para o reconhecimento patrimonial do Ofício da Benzeção partiu do interesse 
do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, Histórico e Turístico de Barroso em valorizar e 
promover esse saber presente no município, certamente, desde a virada dos séculos XVII para o 
XVII, início da povoação da área. Contribuíram significativamente para a elaboração do presente 
Dossiê de Registro os funcionários da FUNARBE - Fundação Artístico Cultural de Betim e 
diversas pessoas que forneceram informações sobre os benzedores. Além disso, deve-se ressaltar 
que a participação dos executantes desse ofício, por meio de entrevistas, foi fundamental para a 
elaboração deste documento. 
 Com vistas a subsidiar o presente estudo, foram feitas pesquisas históricas e pesquisas de 
campo, com a realização de entrevistas abertas e semi-estruturadas e consultas à bibliografia 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
REGISTRO DO OFÍCIO DA BENZEÇÃO 
 EXERCÍCIO 2017 PÁGINA 4/115 
 
 
FUNARBE – FUNDAÇÃO ARTÍSTICO CULTURAL DE BETIM 
Avenida Padre Osório Braga, 18. Centro | Betim – MG 
(31) 3532-29 11 / 3530-90 12 / memoriaepatrimonio.betim@gmail.com 
 
 
Rubrica 
específica, além de um estudo que informa sobre as mudanças e permanências desta tradição e sua 
identificação com outras manifestações correlatas. 
 O resultado das pesquisas está materializado no presente Dossiê de Registro, o qual procura 
explorar essa importante manifestação imaterial praticada no município de Betim e refletir sobre 
suas significações, tanto para os agentes envolvidos com a prática tradicional de cura, quanto para a 
comunidade local. Este Dossiê busca explorar o contexto de realização das benzeções, as histórias 
de vida de seus agentes executantes e a estrutura ritualística de recriação do ofício. 
O objetivo é fornecer informações consistentes sobre o bem cultural e seus significados para 
a comunidade de Betim, servindo de subsídio para o registro desse ofício. No entanto, destaca-se 
que a elaboração de dossiês não garante a valorização dos bens culturais nomeados patrimônio. A 
continuidade da prática vincula-se à sua apropriação pela comunidade onde ocorre, sendo que o 
desenvolvimento de ações para a salvaguardado saber constitui-se estratégia primordial para sua 
difusão e valorização. Diante do reconhecimento da relevância cultural do Ofício da Benzeção em 
Betim, propõe-se o Registro Imaterial dessa saber, como forma de valorizar e promover de maneira 
mais ampla os conhecimentos tradicionais de cura disseminados no município, com sua inscrição no 
Livro de Registro dos Saberes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
REGISTRO DO OFÍCIO DA BENZEÇÃO 
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Rubrica 
Figura 01: Localização geográfica de Betim. Cidades IBGE. IN: 
http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=310670&search=minas-
gerais|betim|infograficos:-dados-gerais-do-municipio, acesso em 10072015. 
HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE BETIM 
 
O município de Betim-MG situa-se na Zona Metalúrgica e integra a Região Metropolitana 
de Belo Horizonte. Com um território de 346 km
2
, distante 31 km de Belo Horizonte por rodovia e 
38 km por ferrovia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do 
censo de 2014, Betim apresenta uma população de 412.003 habitantes, ocupando a quinta posição 
entre as cidades mais populosas do Estado de Minas Gerais. Segundo dados do censo de 2010, a 
população rural é de 2.758 habitantes e a densidade demográfica (habkm2) de 1.102,801. 
A sede do município está localizada, em média, a 860 m de altitude. Sua posição é 
determinada pelas coordenadas geográficas de 19º57‘52‘‘ Latitude Sul e 44º11‘54‘‘ Longitude 
Oeste. A área rural da cidade é composta por várias comunidades, como, por exemplo, os Bairros 
Flores, Aroeiras, Charneca, Liberatos, Marimbá, Santo Afonso, Pimentas, Icaivera, Açude, Saraiva, 
Casa Amarela, Estância do Sereno, Bandeirinhas, Gorduras, Vianópolis, Quebra, Várzea das Flores, 
Serra Negra, Várzea do Portugues. O município faz divisas com Esmeraldas, Contagem, Juatuba, 
Igarapé, Ibirité, São Joaquim de Bicas, Mário Campos e Sarzedo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Dados fornecidos pelo IBGE: 
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=310670&search=||infogr%E1ficos:-
informa%E7%F5es-completas, acessado em 10072015. 
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Rubrica 
Figura 02: Mapa Hidrográfico de 
Betim. (EMATER MG, 2006). 
A área do município apresenta um relevo de planaltos ondulados no imenso tabuleiro que 
se estende pelos contrafortes
2
 da Serra do Curral até Oeste de Minas Gerais. O relevo é acidentado, 
principalmente nas vertentes da ―Serra Negra‖ terminando em vales e áreas com menores 
declividades. A topografia de Betim pode ser caracterizada pela seguinte maneira: 15% do relevo é 
plano, 25% é montanhosa e a grande maioria 60% é ondulada. 
Betim se insere na bacia hidrográfica do Rio Paraopeba com o ribeirão Betim cortando a 
cidade. A nascente do ribeirão de Betim está situada na altitude de 920 m, no Município de 
Contagem. Sua bacia tem uma área de drenagem total de aproximadamente 172 km
2
. Da sua área 
total, aproximadamente 139 km
2
 ou 80% estão no Município de Betim, numa região de maior 
concentração de ocupação urbana. Num trecho, os principais afluentes são os córregos Saraiva, 
Bom Retiro, Várzea das Flores e o Riacho das Areias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O clima é definido como tropical de altitude ameno e seco, com dias ensolarados e noites 
com temperaturas amenas. O verão é úmido e o inverno seco. A região fora coberta pelas florestas 
de galeria, floresta mesófila (secas) e cerrados, sendo o bioma da região constituído por Cerrado e 
Mata Atlântica. Porém, destaca-se que a ocupação do território mais as atividades de agropecuária e 
 
2
 Contrafortes: termo de natureza descritiva utilizado pelos geomorfólogos e geólogos ao tecerem considerações sobre o 
relevo de regiões serranas. Denominação dada às ramificações laterais de uma cadeia de montanhas. Os contrafortes 
quase sempre estão em posição perpendicular ou pelo menos oblíqua, ao alinhamento geral das serras. Glossário 
Geológico. Serviço Geológico do Brasil (CPRM). IN: http://www.cprm.gov.br/Aparados/glossario_geologico.htm#C, 
acessado em 15/07/2015. 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
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Rubrica 
silvicultura provocaram redução nas formações vegetais, tanto em termos de área quanto em termos 
de biodiversidade. 
Conforme Lopes (2004), até os anos 40, Betim tinha uma economia rural razoavelmente 
diversificada, uma indústria siderúrgica de pequeno porte e algumas outras indústrias, o que 
possibilitou o desenvolvimento de uma cidade pequena, mas significativamente diversificada do 
ponto de vista social. A instalação, na década de 1960, da Refinaria Gabriel Passos (REGAP) da 
Petrobras, promoveu o desenvolvimento de muitas atividades complementares, a exemplo do 
comércio atacadista de combustíveis. O planejamento da Região Metropolitana de Belo Horizonte 
resultou no reforço das potencialidades de localização industrial e de desenvolvimento urbano em 
Betim. 
A criação do Distrito Industrial Paulo Camilo, na década de 1970, por meio da instalação 
da Fiat Automóveis S/A, em 1972, e suas indústrias satélites, fez surgir o segundo pólo industrial 
automobilístico do país. A partir de 1990, em consequência do programa de ―mineirização‖ dos 
componentes da Fiat Automóveis, houve novo crescimento de Betim. Portanto, o município é 
considerado um importante pólo de concentração industrial do estado mineiro, sendo o setor 
industrial bastante diversificado e com empresas do porte. 
Os principais processos produtivos industriais do município são: metal-mecânico; 
automobilístico; eletroeletrônico; químico e petroquímico; produtos de materiais de plástico; 
indústria do vestuário; calçados e artefatos de tecidos; material elétrico, eletrônico e comunicação; 
construção; madeira; material de transporte; papel e papelão; mecânica e metalúrgica. A mineração 
tem como principal bem explorado o gnaisse extraído dos domos da região. Destaca-se que areia, 
pedras britadas e ornamentais são as principais reservas minerais exploradas. 
Afora as atividades industriais, a economia de Betim compreende as atividades econômicas 
de agropecuária e agricultura, o artesanato e o turismo. Os principais setores da economia do 
município são: indústria, comércio e prestação de serviços. Destarte, as mudanças na estrutura 
econômica da cidade se refletem tanto no crescimento da população quanto na evolução da 
distribuição de sua população economicamente ativa (LOPES, 2004).PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM 
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 EXERCÍCIO 2017 PÁGINA 8/115 
 
 
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Rubrica 
Figura 03: Refinaria Gabriel Passos (REGAP) em Betim. IN: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-
atividades/principais-operacoes/refinarias/refinaria-gabriel-passos-regap.htm, acessado em 10072015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No setor agrícola, predomina a produção de amendoim, arroz, banana, cana-de-açúcar, 
café, laranja, mandioca, milho e tomate. Na agroindústria se destacam a produção de aguardente 
artesanal e a comercialização de doces e compotas. A pecuária em Betim é constituída por rebanhos 
de bovinos, suínos, equinos e a criação de aves. As atividades mais expressivas compreendem a 
criação de rãs, aves exóticas, e orquidário, afora a criação de gado (EMATER, 2006). 
No município há a fundação Artística Cultural de Betim, que proporciona oficinas de arte 
e cultura das mais diversas, de acordo com a demanda existente, e o Salão do Encontro, que 
capacita artesãos em atividades de marcenaria, tecelagem, tapeçaria, cerâmica, cestaria, confecções 
de bonecas de pano e estofamento de móveis. Estas instituições servem de instrumento para a 
preservação das tradições artísticas e culturais de Betim. Nesse sentido, Betim tem foi apontada 
como cidade potencial para o turismo ecológico, com destaque para esportes náuticos, devido a 
represa Várzea das Flores construída na década de 1960, e para o turismo de negócios. 
 
HISTÓRICO 
 
O povoamento da região onde hoje se encontra o município de Betim surgiu em 
consequência das expedições bandeirantes
3
 em busca de ouro e pedras preciosas no interior da 
 
3
 As ―Bandeiras‖ foram expedições organizadas, inicialmente, para apresar índios no interior do Brasil. Depois, 
surgiram as ―Bandeiras de Contrato‖ e, por último, as de prospecção de pedras e metais preciosos. Antes da existência 
das Bandeiras, foram designadas as Entradas que constituíram, simultaneamente, operações de reconhecimento do 
território brasileiro em busca de ouro, prata e pedras preciosas que ali deveriam existir e de consolidação do domínio 
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Rubrica 
Fig.04: Povos que viviam em 
Minas Gerais (2ª metade do 
Século XVI). Destaque para os 
botocudos, grifos meus. 
(CAMPOS; FARIA, 2005:25). 
colônia, ao final do século XVII. A primeira bandeira a que tradicionalmente se atribui a descoberta 
de ouro na região das Minas Gerais é a de Antônio Rodrigues Arzão que, em 1693, localizou o 
metal nos sertões do Rio Casca (CAMPOS; FARIA, 2005). A notícia da descoberta de ouro 
aumentou significativamente o número de bandeiras a entrar pelo sertão mineiro, onde se acharam 
novas minas de ouro e, futuramente, jazidas de pedras preciosas. 
Antes da chegada dos bandeirantes, a região do atual território de Betim era provavelmente 
ocupada por diferentes tribos indígenas seminômades, que foram dizimadas em decorrência dos 
conflitos com os bandeirantes. Conforme Campos e Faria (2005), no início do período colonial, os 
índios foram chamados primeiramente de aimorés, sendo numerosos na época das primeiras 
incursões portuguesas. Distribuíam-se pelo sul da Bahia, região Nordeste de Minas Gerais e norte 
do Espírito Santo. 
Depois, passaram a ser conhecidos como botocudos, denominação genérica dada a 
diferentes grupos indígenas pertencentes ao tronco macro-jê, isto é, grupo não tupi, de diversas 
filiações linguísticas, cujos indivíduos, em sua maioria, usavam botoques labiais e auriculares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
português na América. Chamavam-se Bandeiras em função do costume tupiniquim de levantar uma bandeira em sinal 
de guerra. Para combater os indígenas, valeram os portugueses das rivalidades entre algumas das principais tribos, 
atirando-as umas contras as outras, daí a expressão utilizada por Anchieta ―levantar bandeira‖, depois difundida por 
Capistrano de Abreu. (CARVALHO, 2012:91). 
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Rubrica 
Neste ambiente de constante mobilidade espacial, rotas e caminhos foram criados para a 
passagem de bandeirantes e aventureiros, atraídos pelo desejo de enriquecimento, e das tropas de 
abastecimento, que traziam consigo gêneros e víveres para a manutenção e abastecimento da região. 
Profissional comum na região, ao tropeiro cabia transportar gêneros alimentícios oriundos de 
diferentes territórios, segundo a necessidade do mercado minerador. 
Para abastecer as aglomerações que se formavam, desenvolveu-se uma intensa rede 
comercial, com produtos de primeira necessidade trazidos da região portuária do Rio de Janeiro e de 
outras capitanias, como São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio Grande (do Sul). Além da existência, 
desde os primeiros anos das Minas, de roças e paragens que se dedicavam à produção e escoamento 
de produtos agrícolas (alimentos e bebidas — notadamente aguardente), pastoris (bois, vacas e 
ovelhas) e têxteis (tecidos grosseiros), direcionados ao abastecimento interno da capitania mineira 
A formação do povoado de Capela Nova de Betim, atualmente Betim, à época, iniciou-se 
nesse período, quando a região fazia parte desse entrecruzar de caminhos, integrando parte da rota 
dos bandeirantes que partiam de São Paulo e se dirigiam a Pitangui. A localidade era destino dos 
escravos transferidos do nordeste para as Minas e onde se registrava o gado entrado na região, 
destinado a abastecê-la, que eram registrados no povoado das Abóboras, que passou a ser conhecido 
como Contagem das Abóboras. A contagem era realizada, evidentemente, com objetivos fiscais. 
Para controlar e ampliar a exploração aurífera nas Minas Gerais, a Coroa portuguesa 
proibiu qualquer tipo de plantação de alimentos e criação de gado na zona. Os garimpos, portanto, 
tornaram-se importantes centros consumidores de alimentos e animais de transporte. Destaca-se que 
essa proibição não era respeitada, visto que a região de Betim constituiu-se como local de instalação 
de criadores de gado no início do século XVIII. Em um dos primeiros núcleos da povoação do 
atual município, foi construído um casarão
4
 destinado ao uso como pousada e venda de secos e 
molhados, especialmente para as tropas que por ali passavam. 
Em 1711, Joseph Rodrigues Betim, ligado por parentesco e amizade ao destacado 
bandeirante Borba Gato, solicitou a Coroa portuguesa a doação de uma sesmaria na região. O 
pedido foi atendido no mesmo ano e a região, demarcadaàs margens do Ribeirão da Cachoeira, 
 
4
 Destaca-se que este casarão atualmente abriga a casa de Cultura Josephina Bento, inaugurada em 1987 em 
homenagem a uma das mais antigas professoras da região. Tombada como patrimônio histórico e cultural, em 1997, o 
imóvel está localizado na Rua Padre Osório Braga, nório Braga, nº 18, onde se realizam diversas atividades culturais. 
IN: 
http://www.betim.mg.gov.br/prefeitura_de_betim/secretarias/turismo/pontos_turisticos/39100%3B59205%3B07243603
%3B0%3B0.asp, acessado em 15/07/2015. 
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Rubrica 
Figura 05: Capela de Nossa 
Senhora do Monte do 
Carmo. IN: 
http://imphic.ning.com/profi
les/blogs/linha-do-tempo-
de-betim, acessado em 
15/07/2015. 
passou a ser conhecida como Ribeirão do Betim. Porém, segundo apontamentos de Fonseca (1975), 
não se pode asseverar que Joseph Rodrigues Betim tenha sido responsável pelo desenvolvimento do 
povoado de Betim e pela construção de duas capelas na sesmaria, uma vez que mudou-se para 
Pitangui em 1713 (FONSECA, 1975). 
Nas primeiras décadas após a doação da sesmaria a Betim, a região consolidou-se como 
local de passagem e parada dos tropeiros. Ressalta-se que, afora o sesmeiro Joseph Betim, o 
território foi dividido entre os sesmeiros João de Souza Sotto Mayor (criador de gado) e João Leite 
da Silva Ortiz (FONSECA, 1975). Nesse período, recebeu diversos núcleos de povoação, 
coincidentes com os pontos de parada dos tropeiros. Tais núcleos tinham por função o plantio de 
roças e criação de gado, destinados como suprimento aos bandeirantes em expedição pelo interior. 
Desse modo, o arraial da Bandeirinha foi o primeiro de Betim a constar na documentação oficial, ao 
pedir autorização para a construção de uma capela em 1753. 
A autorização foi obtida em 1754 e a capela erigida
5
 imediatamente com o nome de Capela 
de Nossa Senhora do Monte do Carmo, demonstrando a prosperidade do local. Betim aparece como 
local essencial para o abastecimento das tropas que ali passavam para transportar o ouro. A 
oficialização do arraial se deu em 1754 através do estabelecimento da Capela Nossa Senhora do 
Monte do Carmo, a Capela Nova, que mais tarde emprestaria seu nome ao arraial – Arraial Capela 
Nova do Betim (FONSECA, 1975). Pois, havia outras capelas na região, em Mateus Leme e Santa 
Quitéria, atual cidade de Esmeraldas. A partir de 1760, o arraial cresceu em importância, sendo 
elevado a distrito em 1797 e comportando a instalação de forças policiais reais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5
 A edificação foi instalada onde atualmente se encontra a Praça Milton Campos, com os fundos para o futuro centro 
histórico de Betim. 
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Rubrica 
Ao final do século XVIII, a decadência do ciclo do ouro provocou forte impacto na região 
mineradora, levando a um processo de rápido esvaziamento da população e à substituição da 
agropecuária comercial pela agricultura de subsistência (RODRIGUES, 1980). A decadência da 
exploração aurífera acarretou na retração econômica de diversas cidades da região das Minas 
Gerais. Capela Nova do Betim, que também teve sua economia afetada pela crise, passou a 
desenvolver atividade econômica de subsistência. Às margens do Rio Betim, se instalaram olarias e 
moinhos de fubá, em aproveitamento das quedas d‘água. Em 1851, a povoação foi elevada a distrito 
com a denominação de Capela Nova do Betim, por meio da Lei Provincial nº 522, de 23/09/1851. 
À época, o território mineiro recebeu diversas incursões de viajantes estrangeiros, que 
fizaram importantes descrições do cenário e das cidades que visitavam. Destarte, o viajante James 
Wells (1995) fornece a seguinte descrição sobre a região: 
 
Capela Nova do Betim é avistada muito antes que eu a alcance. Sua longa rua de casas 
brancas e telhas vermelhas fica situada proeminentemente sobre um morro alto, cercado de 
vales fundos e de morros mais altos e cadeias de montanhas. A estrada desce da região alta 
que eu tinha atravessado, cruza um vale e sobe por uma ladeira larga e íngrime, com casas 
separadas, casebres e ranchos de cada lado. Chegando ao topo, ela se une a outra rua em 
ângulo reto, ou melhor, a uma longa praça aberta, com filas de casas de porta e janela 
amontoadas e uma igreja simples, caiada, em uma extremidade. Há diversas vendas e 
armazéns de secos e molhados e ranchos abertos para tropas de mula. (...) Uns poucos 
matutos, em seus matungos esquálidos, montados com seus dedões do pé enfiados em 
pequenos estribos e usando o inevitável poncho de baeta ou tecido azul listrado de 
vermelho; umas poucas mulheres negras ou mulatas, vestidas com saias de algodão e xales 
espalhafatosos e batas brancas, apregoando frutas ou doces em tabuleiros de porta em porta; 
uns poucos vadios nas vendas e armazéns; algumas cabeças nas janelas assistindo apáticas 
à cena para a qual passam diariamente olhando e os numerosos porcos, bodes, cachorros, 
galinhas, perus e galinhas d‘angola da rua constituem a restrita vida presente nesta vila 
sonolenta. (WELLS, 1995:121-122). 
 
Destaca-se também que o desenvolvimento da localidade, a partir da segunda metade do 
século XVIII, pode ser percebido pela construção da Matriz de Nossa Senhora do Cormo, concluída 
em 1867. A Matriz foi construída em substituição da capela erguida em 1754, uma vez que já não 
comportava mais o público religioso, que havia crescido significativamente. 
 
 
 
 
 
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Rubrica 
Figura 06: Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, século XVIII. IN: 
http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-tempo-de-betim, acessado em 15/07/2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao final do século XIX, o Brasil vivenciara a mudança de regime político com a 
implantação do regime republicano em 1889, que originou a divisão política dos estados e 
municípios através da Constituição Federal. Minas Gerais passa de província para condição de 
Estado, formado por apenas 11 municípios. Um deles era o município de Santa Quitéria, 
representado pelos atuais municípios de Esmeraldas, Contagem, Ibirité e Betim (ASSIS, 1996, 
p.15). Em 1901, o então denominado Distrito da Segunda Companhia da Capela Nova do Betim 
passou a integrar o município de Santa Quitéria, deixando de se subordinar à Vila de Sabará. 
Em 1894 começou a construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário. A iniciativa da 
construção da capela partiu da Irmandadede Nossa Senhora do Rosário, existente em Betim desde 
1814. À época, já havia uma imagem de Nossa Sra. do Rosário localizada na Igreja de Nossa 
Senhora do Carmo. Porém, a devoção dos negros era afetada, pois não se sentiam à vontade para 
realizar suas preces e oferendas à Senhora do Rosário (FONSECA, 1975:162). Assim, em fevereiro 
de 1897, a capela recebia vidraçaria e nela já se celebravam os atos religiosos. A instalação da 
capela, portanto, serviu como elemento de afirmação do bairro Angola, onde a maioria dos negros 
de Betim residia nesse período. 
 
 
 
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Rubrica 
Figura 07: Capela de Nossa Senhora do Rosário, 
século XVIII. IN: 
 http://imphic.ning.com/profiles/blogs/linha-do-
tempo-de-betim, acessado em 15/07/2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A estagnação econômica do distrito de Capela Nova do Betim, durante todo o século XIX, 
não fugiu às características conjuntura econômica de Minas Gerais, no período. O desfavorável 
cenário econômico do município somente seria alterado a partir do final do século XIX, com a 
mudança da capital mineira, em Ouro Preto, para a região da antiga Curral d‘El-Rei: 
Apesar das obras de implementação da nova capital absorverem as principais iniciativas 
políticas e econômicas do governo, empenhado em fazer em Belo Horizonte um centro 
moderno que refletisse os ideais republicanos de ordem e progresso, esse processo 
repercute nas regiões próximas e alcança Betim que, aos poucos, sai do seu relativo 
isolamento‖ (RUGANI, 2001, p. 56). 
 
O desenvolvimento de Betim nesse momento, portanto, pode ser compreendido como 
reflexo da implantação da nova capital mineira (CAMARGOS, 2006). Assim, destaca-se a 
construção da Estrada de Ferro Oeste de Minas, em 1909, que ligava Belo Horizonte a Divinópolis, 
como resultado da concessão de 155 km para a Schnoor Engenharia. Outra importante construção 
do período foi a Usina Hidrelétrica, inaugurada em 1914, iniciativa do engenheiro Antônio 
Gonçalves Gravatá, funcionário da Schnoor. Além de sugerir a construção da hidrelétrica, cedeu 
parte de suas terras para o empreendimento, na Fazenda Cachoeira. A usina foi construída com 
recursos próprios de Antônio Gravatá e seu empregador, Emílio Schnoor, fornecendo energia 
também às cidades de Henrique Galvão (atual Divinópolis) e de Contagem, em 1945 
(CAMARGOS, 2006). 
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Rubrica 
Figura 09: Usina Hidrelétrica. Foto do 
acervo da Casa da Cultura Josephina 
Bento, que retrata o período inicial de 
funcionamento da usina, em 1914. 
Figura 08: Foto da Estação Ferroviária de 
Capela Nova do Betim, de 1915. IN: 
http://www.estacoesferroviarias.com.br/rm
v_garcas/betim.htm, acessado em 
15/07/2015. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tais acontecimentos não alteraram o quadro econômico da região, já que o Distrito de 
Betim apenas definia sua especialização na produção agrícola, que permaneceu especializada na 
produção de gêneros alimentícios, principalmente, arroz, milho, mandioca, feijão, cana de açúcar e 
algum gado (RODRIGUES,1980). A partir de 1910, com o funcionamento da Estação Ferroviária, 
a cidade desenvolveu um novo desenho urbano, implantada próxima a Praça Milton Campos, 
compreendida como região central. O crescimento urbano, desse modo, deslocou o eixo central da 
cidade para a confluência das avenidas Governador Valadares e Amazonas, em detrimento ao 
antigo ―centro‖. 
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Rubrica 
Figura 10: Foto de Betim, na década de 1940. IN: 
http://www.cidade-brasil.com.br/foto-betim.html, 
acessado em 15/07/2015. 
Resultado da política sanitária do país, em 1922 foi instalado o Sanatório Santa Isabel, para 
o internamento e isolamento de doentes com lepra. O Sanatório surge da reação política de 
intervenção para o controle da doença a nível nacional. Foi uma das 33 colônias implantadas em 
todo o Brasil, localizado numa região afastada de Betim, conhecida atualmente como Citrolândia 
(ASSIS, 1996). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No ano de 1938, Betim passa à condição de município e comarca, composto pelas cidades 
de Ribeirão das Neves, Contagem, Ibirité e Betim, conforme a Lei Estadual nº 148, de 17/12/1938. 
Na década de 40, Contagem e Ribeirão das Neves são emancipadas de Betim. Finalmente, em 1962, 
Betim se desmembra de Ibirité, passando a ter, atualmente, uma área de 372 km
2
.
6
 Em 1941, a 
criação da Cidade Industrial, em terras desapropriadas de Betim
7
, comprova a intenção do governo 
estadual de consolidar o centro econômico em torno da capital. Com a construção das rodovias para 
 
6
 Na legislação de 1939-1943, o município é constituído de 5 distritos: Betim, Campanha, Contagem, Ibiritê e Neves. 
Pelo Decreto-lei Estadual n.º 1.058, de 31/12/1943, os distritos de Campanha e Ribeirão das Neves (ex-Neves) foram 
transferidos do município de Betim para Pedro Leopoldo. E, ainda pelo mesmo Decreto-lei, o distrito de Ibiritê passou a 
ser grafado Ibirité. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de 3 distritos: 
Betim, Contagem e Ibirité (ex-Ibiritê). 
Pela Lei n.º 336, de 27/12/1948, é criado o distrito de Sarzedo e anexado ao município. Em divisão territorial datada de 
01/07/1950, o município é constituído de 4 distritos: Betim, Contagem, Ibirité e Sarzedo. Pela Lei Estadual n.º 1.039, de 
12/12/1953, é desmembrado o município de Betim o distrito de Contagem e elevado à categoria de município. Em 
divisão territorial datada de 01/07/1955, o município é constituído de 3 distritos: Betim, Ibirité e Sarzedo. Em divisão 
territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído de 3 distritos: Betim, Ibirité e Sarzedo. Pela Lei Estadual n.º 
2.764, de 30/12/1962, é desmembrado do município de Betim os distritos de Ibirité e Sarzedo, para constituir o novo 
município de Ibirité. Em divisão territorial datada de 31/12/1963, o município é constituído do distrito sede. Fonte: 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades@: Betim. IN: 
http://www1.ibge.gov.br/cidadesat/painel/historico.php?lang=_EN&codmun=310670&search=minas-
gerais%7Cbetim%7Cinphographics:-history, acessado em 15/07/2015. 
7
 A Cidade Industrial foi criada em terras que pertenciam à Betim, passando a fazer parte de Belo Horizonte e depois 
passando a integrar o território de Contagem, através do Decreto Lei n.336, em1948 (RUGANI, 2002). 
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Rubrica 
Figura 11: Foto da 
Colônia Sanitária Santa 
Isabel, apesar de uma 
região isolada, integrante 
do município de Betim, 
na década de 1940. IN: 
http://imphic.ning.com/pr
ofiles/blogs/linha-do-
tempo-de-betim, 
acessado em 15/07/2015. 
São Paulo e Uberaba, Betim ampliou as facilidades de escoamento para esses mercados, 
favorecendo a exploração das pedreiras da região. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Enquanto isso, a industrialização no município ganha uma maior participação no setor 
secundário da economia na tentativa de reforçar o parque siderúrgico do Vale do Paraopeba 
(DINIZ, 1981). Algumas indústrias de refratários são instaladas no município, como a Cerâmica 
Saffran (1942), Ikera (1945) e a Cerâmica Minas Gerais (1947), ligadas por dois eixos de 
articulação entre o município: a Avenida Amazonas e a Ferrovia, fazendo ligação de Belo 
Horizonte a Divinópolis (ASSIS, 1996). 
Destaca-se que, paralelo ao crescimento industrial, a agropecuária também se desenvolveu, 
especialmente na produção de hortifrutigranjeiros, visando ao abastecimento da capital. Todavia, 
essa primeira industrialização pode ser atribuída a uma elite industrialista local, mais integrada à 
comunidade, comprometida com a absorção da mão-de-obra da região e, por seu caráter mais 
tradicionalista, menos agressiva sobre o tecido urbano. 
Logo, entre 1940 a 1950, Betim passa a ter importante função como local de passagem das 
rotas de abastecimento, desta vez destinadas à capital, Belo Horizonte. O planejamento Estadual 
destinou ao município a função de comportar a indústria de base ou de bens de capital, representada 
pelas siderúrgicas, e a produção de alimentos para o abastecimento da capital. Destaca-se que o 
município fez parte da constituição do Parque Siderúrgico Nacional, por meio da criação da Cidade 
Industrial de Contagem, cuja extensão abrangeu Betim. 
O governo Estadual, no intento de superar a estagnação econômica, associa-se ao Banco de 
Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e à Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) 
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Rubrica 
para a criação do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI). O instituto tinha por objetivo 
principal a criação e instalação de um parque industrial mineiro, meta conquistada com a fundação 
da Cidade Industrial, em 1941 (RUGANI, 2001). Assim, novas indústrias se instalaram na RMBH, 
principalmente em Contagem, e mais tarde, Betim. 
A intensificação do processo de urbanização no Brasil foi acompanhada pelo acelerado 
processo de industrialização da economia brasileira em meados da década de 1950. Com o objetivo 
de melhorar o desempenho da economia, a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) 
foi orientadora fundamental, apoiado pelo governo Juscelino Kubitschek (1956-1960). Com isso, 
não só a economia alcançava um novo patamar, onde predominavam os setores de bens de capital e 
de bens de consumo duráveis, como também os sistemas de transportes e viário se modernizavam, 
promovendo a articulação entre diversas regiões do país (DINIZ, 1981). 
Na década de 1950, a industrialização brasileira tem seu eixo alterado, com a diminuição 
do investimento nas indústrias de bens de capital (as siderúrgicas) e o aumento do investimento para 
a produção de bens de consumo duráveis, para substituição das importações. Detentora de uma 
localização estratégica, Betim tornou-se pólo de atração das indústrias. Essa época foi marcada pelo 
programa de governo de Juscelino Kubitschek, cuja meta era tornar Minas mais autônoma em 
relação à geração de energia. Em 1954, portanto, era instalada uma central geradora de energia da 
CEMIG em Betim. 
Também foi objetivo do governo estadual e federal modernizar o sistema de transporte 
para integrar o núcleo do estado ao cenário nacional. Belo Horizonte e Contagem beneficiaram-se 
com os investimentos aplicados, mas Betim continuou com sua economia voltada para o setor 
agropecuário, insuficiente para promover dinamismo econômico no município (CAMARGOS, 
2006). Contudo, a pavimentação da Rodovia Fernão Dias (BR 381) e da BR-262 induziria o 
surgimento de vários núcleos econômicos ao longo das rodovias. Além disso, o mercado imobiliário 
já sinalizava o futuro da incorporação do município ao processo de metropolização (RUGANI, 
2003). 
A Rodovia Fernão Dias, construída no governo presidencial de Juscelino Kubitschek, foi 
significativa para o desenvolvimento da região, provocando um considerável número de 
loteamentos na porção central da cidade, durante a década de 1960. O bairro PTB (Posto 
Telegráfico Brasileiro) é percebido como um dos maiores exemplos da expansão da ocupação 
urbana nessa época. A partir de 1960, delineava-se uma nova configuração urbana em Betim, 
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Rubrica 
embasada nas ações de demarcação dos lotes e bairros novos, sendo em maioria implantados às 
margens da Rodovia. 
Nesse período, chegaram a Betim algumas indústrias de médio porte, quase todas de 
capital privado, excetuando-se a Refinaria Gabriel Passos, instaladas no Bairro Cachoeira, local 
tradicional da primeira industrialização de Betim, vinculado à presença da Av. Amazonas, do Rio 
Betim e da Ferrovia Oeste de Minas. Assim, destacam-se as seguintes indústrias: Cortume Morumbi 
(1960), Fabril de Minas (sabões,1962), Riomar (artigos de pesca, 1962), Fábrica São Geraldo 
móveis, 1962), Fábrica São João (biscoitos, 1962), Frigorífico Silveli Torres (1964), Confecções 
Dora (1964), Siderúrgica Amaral (1965), Refinaria Gabriel Passos (1968), Asfalto Chevron 
(emulsão asfáltica, 1969), Sidero Manganês de Pellets (1969, a partir de 1974, chamou-se 
Siderúrgica Wilson Raid). 
A Refinaria Gabriel Passos, REGAP, foi instalada em 1968 em Betim devido ao ponto 
estratégico de sua localidade: uma confluência de condições favoráveis à redistribuição de 
combustíveis. Ademais, a disponibilidade de uma grande área cedida pelo governo local, 
juntamente com a privilegiada localização geográfica, facilitaria o escoamento da produção 
(CAMARGOS, 2006). Além disso, sua proximidade com Contagem e Belo Horizonte, centro 
dinâmico da região, garantiria a demanda de um centro consumidor e também o fornecimento de 
mão de obra. Primeiro empreendimento industrial do município, tornou-se responsável pelo 
desenvolvimento de muitas atividades complementares, a exemplo do comércio atacadista de 
combustíveis. 
Contudo, a implementação da Refinaria não trouxe mudanças na oferta de empregos para apopulação residente do município nem contribuiu para a dinamização da economia. Segundo 
RODRIGUES (1980), cerca de 80% de seus empregados residiam em Contagem e Belo Horizonte. 
Por outro lado, a implementação dessa empresa já sinalizava uma tendência de expansão do 
município em direção a Contagem. Na década de 1970, apenas uma indústria, a Asfaltos Chevron, 
havia sido atraída para o município em função da REGAP. 
Na década de 1970, a política econômica estadual, conhecida como ―Nova Industrialização 
Mineira, permitiu que Betim ocupasse uma posição de destaque no cenário nacional. Planejada 
pelos políticos mineiros, esse projeto pretendia retirar o estado da posição de centro industrial 
periférico, fornecedor de insumos para o eixo Rio/São Paulo, tornando-o um centro autônomo. Por 
isso, foi criada a Companhia de Distritos Industrias de Minas Gerais (CDI), que planejou cinco 
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Rubrica 
distritos industriais na Região Metropolitana de Belo Horizonte: Betim, Vespasiano, Contagem, 
Santa Luzia e Belo Horizonte. 
O distrito de Betim, denominado Paulo Camilo, recebeu mais investimentos, com o intuito 
de se tornar o 2º polo automobilístico do país. Logo, no início da década de 1970, a prefeitura 
municipal de Betim contraiu empréstimo junto à Caixa Econômica Federal para adquirir terrenos 
que seriam doados tanto à Fiat Automóveis quanto à Krupp. A instalação dessas indústrias no 
município deveu-se as boas condições de infraestrutura apresentadas e o esgotamento do espaço de 
Contagem. Segundo dados da CDI até 1979, Betim havia recebido 72,60% dos investimentos nos 
distritos industriais da RMBH e gerara 64,11% dos empregos diretos criados nestes mesmos 
distritos. É importante ressaltar que Betim sofreu uma alta especialização produtiva, isto é, grande 
parte de sua industrialização nesta época deu-se em função da indústria automotiva. 
A instalação da Fiat Automóveis em Betim resultou na formação do segundo maior pólo 
industrial automobilístico do país, atraindo outras indústrias ligadas ao setor para o novo ―Eldorado 
Industrial de Minas Gerais‖ (RODRIGUES, 1980). Nesse sentido, a instalação desse 
empreendimento repercutiu significativamente na reestruturação do espaço urbano e 
desenvolvimento econômico de Betim. Segundo Rodrigues (1980), o governo municipal, em 
momento nenhum, participou das negociações para instalação da Fiat em Betim, sendo um acordo 
firmado entre o governo estadual e a Fiat. 
Após uma década de instalação da Fiat, Betim teve alterada definitivamente sua 
participação no quadro econômico nacional: passando da posição de município relativamente bem 
dotado de algumas indústrias de pequeno porte, para um ―centro de convergência‖ da 
industrialização moderna, que vai se instalando no Estado. Esse desenvolvimento resultou num 
crescimento vertiginoso da população do município, que mais cresceu na RMBH desde então 
(CAMARGOS, 2006). 
Porém, concomitante à expansão industrial, percebe-se um crescente processo de 
favelização no município, principalmente nas áreas urbanas centrais e nas adjacências das grandes 
industriais de Betim. A ausência de intervenção da política local e atuação do mercado imobiliária 
acarretaram num processo de periferização extensiva, por meio da oferta de loteamentos populares 
em áreas pouco valorizadas. Pois, essas regiões por não serem foco de investimento público, 
tornaram-se financeiramente acessíveis às camadas de baixa renda (ASSIS, 1996). 
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Rubrica 
A ocupação de Betim, nesse sentido, não apresentou um desenvolvimento homogêneo. 
Enquanto algumas localidades tiveram significativas taxas de crescimento, outras tiveram níveis 
bastantes baixos de aumento populacional. Assim, quatro regionais foram responsáveis por quase 
88% do crescimento populacional de Betim: Alterosas, PTB, Norte e Imbiruçu (CAMARGOS, 
2006). Sobremaneira, a concentração da população em Betim encontra-se na região sul, leste e 
central. Portanto, Betim apresenta uma formação histórica, social e cultural, a partir da década de 
1950, ligada aos processos de industrialização que vivenciou. 
A partir da instalação da Fiat e da Regap e de demais indústrias, em consequência, Betim 
teve seu desenvolvimento econômico e crescimento populacional acelarados. Na década de 1970, a 
taxa de crescimento populacional da cidade foi de 8,33%. Entre as décadas de 1980 aos anos 2000, 
a taxa de crescimento populacional se manteve aproximadamente constante em 6,60% 
(CAMARGOS, 2006). De acordo com o censo demográfico do ano 2000, a população de Betim era 
composta por 306.317 pessoas, sendo um dos municípios mais populosos de Minas Gerais 
(CAMARGOS, 2006). 
 
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Rubrica 
 HISTÓRICO DO BEM CULTURAL 
 
A prática da benzeção no Brasil e em Minas Gerais 
 
A prática da benzeção se faz presente no Brasil desde a época colonial, com sua origem 
remetendo-se aos textos bíblicos, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento e retratando 
passagens em que determinados indivíduos concediam e pediam a ―benção‖. Durante a Alta Idade 
Média no continente europeu essa prática tornou-se comum entre a população. Nesse período, os 
sacerdotes concediam a benção às pessoas e aos seus animais para livrarem-se das enfermidades 
que os acometia. Mas ao longo do tempo e, partindo das interações sociais e religiosas, indivíduos 
leigos que não possuíam a autorização da Igreja Católica passaram a praticar as benzeções no 
intuito de atenderem às necessidades da comunidade em que se inseriam. 
 A partir desse momento, em Portugal, a prática da benzeção passou a ser condenada pela 
Igreja Católica e pela Coroa, e seus praticantes foram perseguidos no intuito de acabar com tal ato. 
Souza (1986, p. 184) ressalta que ―em 1499, D. Manuel determinava que, juntamente com os 
feiticeiros, os benzedores fossem ferrados com um F em ambas as faces.‖. No período em que 
Portugal ficou sob o domínio da Espanha de Felipe II, mais conhecido como União Ibérica (1580-
1640), nas Ordenações Filipinas, que era um código legislativo que regulamentava o funcionamento 
de diversos setores da administração e do comportamento da sociedade, havia uma ordem para que 
a prática da benzeção não fosse realizada sem a autorização e sem o consentimento da Igreja e da 
Coroa. 
 Em relação à América portuguesa, o convívio entre grupos étnicos e culturais diversos 
possibilitou que a prática da benzeção e de outros rituais de cura se diversificasse no território 
colonial, principalmente, com a contribuição dos hábitos culturais dos indígenase africanos. Essa 
prática foi absorvida pela população que, em razão da escassez de médicos atuantes nas regiões 
mais ermas, bem como a falta de clérigos, passou a enxergar essas práticas heterodoxas como 
mecanismos para restabelecer a saúde e afastar inúmeras enfermidades. 
Nesse sentido, discorrendo a respeito do território das Minas Gerais, Marques (2007, p. 230) 
salienta que ―a carência de médicos, porém, não era um problema para a maioria dos mineiros que 
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Rubrica 
tinham à sua disposição uma diversidade de recursos curativos, principalmente, a crença de que a 
Deus ou às forças sobrenaturais cabia o direito de dar e tirar a vida.‖. 
Nessa perspectiva, percebe-se que a população da América Portuguesa, principalmente, das 
Minas Gerais, utilizavam outros mecanismos para alcançarem a cura e evitar enfermidades. Tal fato 
contribuiu para que o aspecto devocional aos santos aumentasse, pois a população os enxergava 
como especialistas que podiam interceder pela sua saúde. Essa realidade da sociedade colonial 
possibilitou que essas práticas heterodoxas fossem procuradas e aceitas pela população para 
atingirem a cura, principalmente, a benzeção. De acordo com Laura de Mello e Souza: 
Nos tempos coloniais, a documentação fala muito pouco dos benzedores. Fica 
difícil dizer se realmente eram escassos ou se a Inquisição, as devassas episcopais e 
os demais poderes se importavam pouco com eles. Como o hábito de benzer 
perdura ainda hoje entre nós, a segunda hipótese parece ser a mais provável. 
(SOUZA, 1986, p. 184). 
 
 De acordo com Nogueira et al. (2012, p. 168-169), essa prática resistiu à perseguição da 
―Igreja Católica [...], que por várias vezes tentou eliminar as diversas práticas religiosas que não 
condiziam com a ortodoxia católica, práticas estas que compõem o enorme quadro conhecido como 
catolicismo popular‖. As pessoas que procuram a prática da benzeção pretendem, por intermédio 
dela, alcançar a cura de uma doença ou de um estado emocional que a medicina tradicional não 
pode ou não foi eficaz ao atender o paciente, ou que não tenham encontrado um conforto em outros 
locais ou instituições, como igrejas, sociedades, etc. Ao realizar a benzeção, os benzedores seguem 
um ritual, utilizam orações, jaculatórias, objetos, plantas e indicam remédios. Para Souza (2003, p. 
1): 
A benzedeira conhece rezas, remédios e simpatias. Por meios desses mecanismos 
trabalha no sentido de promover a cura em pessoas que sofrem de alguma doença 
como erisipela, espinhela caída, dor de dente, dor de cabeça, mau-olhado e outros 
tipos de males. Ela é considerada, e também se considera portadora de um dom 
investido por Deus. Essas qualidades, dentre outras, são responsáveis pela 
legitimação e ―eficácia‖ (mesmo que simbólica) dessa agente da medicina popular 
e, também, fazem com que tenha uma credibilidade cada vez maior perante a 
comunidade em que vivem. 
 
 Nesse sentido, inicialmente, os benzedeiros procuram firmar um diálogo com os benzidos, 
no intuito de criar um ambiente que possibilite intensificar a intenção da cura e aproximar o 
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indivíduo ao objeto da benção. Essa prática utiliza diversos instrumentos e símbolos durante a 
execução do ritual e sua função é a de intensificar a reza no intuito de possibilitar a cura do benzido, 
tais instrumentos são escolhidos pelo próprio benzedeiro de acordo com a situação e a doença 
identificada durante o diálogo. Percebe-se, assim, que os objetos rituais possuem uma diversidade e 
uma gama de representações que auxiliarão o benzedeiro a direcionar o ritual no intuito de alcançar 
a benção. 
Durante a execução do ritual o benzedeiro utiliza objetos de cunho sagrado, como terços e 
crucifixos, em conjunto com orações do catolicismo, como o Pai-Nosso, Ave-Maria, Salve Rainha, 
além de outras, e velas, facas, brasas, ramos de plantas ou talos de planta, copos com água, agulhas, 
panos etc. Cada objeto utilizado possui uma função e são escolhidos de acordo com os males 
identificados. Na religiosidade católica, por exemplo, o terço possui um significado em relação às 
preces e à oração a Deus e durante o ritual da benzeção ele auxilia na cura das enfermidades que 
encerra o corpo do benzido em um círculo sagrado para que este indivíduo alcance seu objetivo. 
 Nas rezas voltadas para a cura de doenças como o ―cobreiro‖ ou a ―erisipela‖ os objetos 
podem ser utilizados em conjunto, como a faca com um ramo de planta, nesse caso usa-se talos da 
mamona ou da árvore assa-peixe. O uso desses objetos representa o corte da doença que está no 
corpo do indivíduo. Ao praticar o ritual da benzeção contra o ―cobreiro‖, o benzedeiro utiliza a faca 
para cortar o talo da planta e faz a seguinte questão que deve ser respondida pelo benzido e as 
outras expressões repetidas por ele: ―O que corta? Resposta: cobreiro bravo; Corta a cabeça, corta o 
rabo e corta o meio também.‖. 
Tais palavras são ditas três vezes e os talos cortados devem ser deixados em um local para 
secarem a luz do Sol, e quando secar a enfermidade não estará mais presente no corpo do benzido, 
mas o ritual pode se diferenciar de acordo com o conhecimento que cada benzedeiro aprendeu. Para 
a maior parte dos benzedores não se deve cobrar pela ritual da benzeção, pois este é um dom 
concedido por Deus e o intuito se resume em ajudar o próximo. Em relação à transmissão do 
conhecimento da prática da benzeção, Souza (2003, p. 1) salienta que: 
O processo de ensinar e aprender na benzedura não ocorre de forma aleatória, pelo 
contrário, existem regras a serem obedecidas, cumpridas, tanto pelo mestre como 
pelo aprendiz. No caso das benzedeiras da corrente católica [...] constatamos que as 
principais regras, ou melhor, as exigências, para iniciar-se no ofício são: acreditar 
no que está se propondo a fazer, ou seja, na benzeção; o aprendiz deve ter uma boa 
memória; reproduzir na íntegra as diversas orações para diferentes males, pois só 
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assim pode ser evitada, na medida do possível, a mudança no sentido das palavras; 
socorrer a quem necessitar, independente de quem quer que seja; e a gratuidade do 
serviço, pois o dom é dado por Deus, como elas próprias dizem, e, portanto, esse 
serviço não deve ser cobrado. 
 
A prática da benzeção não consiste somente à realidade do catolicismo popular, mas 
absorveu a influência de outras culturas. De acordo com Cunha (s.d., p. 4): 
A origem de muitas rezas pode ser puramente religiosa, ou fruto de um hibridismo 
de religiões, ou mesmode um misto entre conhecimento popular com práticas 
religiosas. Em geral, as rezadeiras se dizem católicas, mas muitas recebem 
influência de crenças espíritas, como as das religiões afro-brasileiras e dos rituais 
indígenas. 
 
 Portanto, percebe-se que a benzeção como conhecida hoje, provém do continente europeu e 
quando chegou à América Portuguesa sofreu influências das religiosidades indígena e africana, e 
seu uso se ampliou devido à carência assistencialista que a população possuía no período colonial. 
Esta passou a enxergar a prática da benzeção como um mecanismo que o auxiliaria a alcançar a 
cura das doenças e enfermidades, contribuindo para que ela se estabelecesse na religiosidade 
popular e, consequentemente, na cultura popular contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Rubrica 
 As benzedeiras de Betim 
 
Se for de benzeção eu levanto. Se for de médico não adianta eu 
benzer também não, porque aquilo é de médico. 
(Benzedor Raimundo Moreira) 
 
A prática de benzeção no município de Betim, certamente, remonta à fundação do povoado, 
entre os séculos XVII e XVIII. Contudo, não existem registros documentais que reforcem essa 
hipótese.
8
 Mas, levando-se em conta que o costume de benzer estava presente desde os primórdios 
da colonização e que esse hábito foi trazido pelos portugueses, deve-se considerar que nas atuais 
terras do município existisse a atuação de benzedeiras, raizeiros e toda sorte de curandeiros. Além 
disso, desde tempos imemoriais, os homens atribuem às doenças um caráter místico, sobrenatural, 
relacionando os males do corpo à ação de forças malignas ou, ainda, aos castigos divinos. Nesse 
sentido, de acordo com Priore (1997, p.88-94), as benzedeiras, rezadores e curandeiros tiveram, no 
passado, importante papel no tratamento da saúde, o que se liga à tradição de buscar nas forças 
sobrenaturais a cura para os males do corpo e do espírito. 
A concepção de doença como fruto de uma ação sobrenatural e a visão mágica do 
corpo as introduzia numa imensa constelação de saberes sobre a utilização das 
plantas, minerais e animais, com as quais fabricavam remédios que serviam aos 
cuidados terapêuticos que administravam. Além desses conhecimentos vinham os 
saberes vindos da África, baseado no emprego de talismãs, amuletos e fetiches, e as 
cerimônias de curas indígenas, apoiadas na intimidade da flora brasileira. Elas 
curavam mazelas, e antes do aparecimento de doutores e anatomistas praticavam 
enfermagem, aborto, davam conselhos sobre enfermidades, eram farmacêuticas, 
cultivavam ervas medicinais, trocavam fórmulas e faziam partos. Foram, por 
séculos, doutores sem título. 
 
Logo, devem ter atuado nas terras de Betim diversos representantes desse mundo místico da 
cura, o que se estendeu desde o século XVII até os dias de hoje. Para Machado (1997), a prática de 
benzeção espalhou-se pelo Brasil juntamente com as campanhas de colonização. 
Na empreitada de alargamento do nosso território construiu-se uma teia de 
relações, nas quais as experiências na arte de curar, mais em consonância com 
nosso ambiente e natureza, foram amalgamadas. As mezinhas provenientes da flora 
e da fauna, as orações, amuletos, benzeções e excrementos fazem parte de um rico 
arsenal curativo. Longe dos socorros médicos, isolados no sertão, marcado pela 
 
8
 De acordo com Souza (1986, p. 184): ―Nos tempos coloniais, a documentação fala muito pouco dos benzedores. Fica 
difícil dizer se realmente eram escassos ou se a Inquisição, as devassas episcopais e os demais poderes se importavam 
pouco com eles. Como o hábito de benzer perdura ainda hoje entre nós, a segunda hipótese parece ser a mais provável‖. 
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Rubrica 
distância e solidão, as novas experiências curativas puderam aflorar, demarcar 
presença, frutificar e persistir até os dias atuais (MACHADO, 1997, p. 237). 
 
E, exclusivamente, no caso de Minas Gerais, analisa Machado (1997, p. 236): 
Destacamos dentre essas crenças o curandeirismo e as ―benzeções‖ por serem 
práticas culturais que sobrevivem no interior das Gerais. [...]. Acreditamos ser 
pertinente afirmar que a busca por curadores e benzedores tem a ver com uma outra 
ordem de coisas. A mais forte delas, supomos, está intimamente ligada aos 
fenômenos do imaginário popular e das representações mentais, buscando 
solucionar problemas de suas vidas através de ‗forças imponderáveis‘. 
 
Esse imaginário popular sobre a fé nas orações para tratar a saúde física e espiritual ainda 
persiste em Betim, como se verificou na pesquisa de campo. Mas, buscar traçar um histórico desse 
saber na localidade é tarefa complexa, visto a falta de documentação a respeito. O que se entendeu 
adequado é o interpretar a trajetória das benzeduras a partir das histórias individuais dos praticantes 
desse ofício. Assim, optou-se por elaborar o histórico do bem cultural por meio da história de vida 
de benzedores que, ainda, se encontram em atuação. Mas, buscou-se identificar, também, os antigos 
praticantes da benzeção por meio das narrativas dos atuais benzedores. 
A benzedeira mais antiga de que se teve notícia nas pesquisas realizadas em Betim foi 
Cecília da Silva. De acordo com seu filho, Venésio de Lima, Cecília era natural do município, 
nascida em 1901 e falecida em 1997, aos 96 anos de idade, sendo casada com Pedro Celestino de 
Lima, importante alfaiate local. Tendo o apelido de Dona Cila, tornou-se benzedeira a partir de uma 
senhora, cujo nome não foi identificado, que lhe repassou essa função, por se tratar de mulher muito 
caridosa na comunidade. Tal fato ocorreu nas primeiras décadas do século XX. Conforme relato de 
Venésio de Lima:
9
 
Minha mãe tornou-se uma benzedeira porque tinha uma senhora que queria passar 
pra ela os conhecimentos dela de benzeção. [...] Aí minha mãe teve muito sucesso 
com benzeção porque ela não nasceu para ser servida, ela nasceu para servir. 
Então, a situação que nós enfrentávamos era assim: chegava gente, pessoas pra 
benzer em casa, além pra [sic] benzer, ela nós ficar plantando as plantas de 
medicamento. Era obrigação nossa. [...] Nós morávamos no centro de Betim. [...] 
Minha mãe ficou desamparada depois que meu pai morreu. Então ela lavava roupa 
pra pagar aluguel e era umas casinhas tudo tapera. Muito pobre. Pobreza mesmo. 
[...] A situação que ela enfrentava era assim: chegava aquelas pessoas [...] eles 
chegavam na hora do almoço [...] tinha que dividir com todos. Não importa quem 
 
9
 Venésio de Lima. Entrevista, ago./2015. 
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que era. Então nós tínhamos que comer menos. [...] Ela benzia desde solteira. [...] 
Ela queria passar isso pra mim. Eu falei com ela que eu não queria. [...] As coisas 
que eu vi, eu não queria ela para os dias de hoje. [...] Um exemplo, casa muito 
cheia. [...] Tudo dela, não era dela. Eu acho que o sucesso que ela tinha com o 
além, né? Ela tinha muito sucesso com o além e ela benzia as pessoas. Quantas 
vezes eu vi pessoas chegar lá com cobreiro [...] e ela benzia, orava, fechava o olho 
e falava assim: o senhor vai poder vir aqui só mais uma vez. Não precisa não 
porque o senhor já começou a sarar. Quando a pessoa voltava lá você olhava a 
ferida e estava toda descascando, saindo a casca. [...] Cobreiro, uma coisa assim, 
ela ensinava remédio caseiro. [...] Ela ensinava muita coisa que tinha que passar 
naquele lugar. [...] Era assim, uma pessoa que queria resolver o seu problema. 
 
 
Foto de Cecília da Silva. s/d. 
IMAGEM: Acervo de Charles Moraes de 
Lima. 
 
Percebe-se pela fala de Venésio de Lima que sua mãe, Cecília da Silva, era uma benzedeira 
reconhecida na comunidade, com sua casa sempre repleta de pessoas que buscavam amenizar seus 
problemas a partir de sua fé. A narrativa do filho informa que ela aprendeu a benzer por meio de 
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outra praticante do ofício, que lhe repassou os saberes da benzeção e do tratamento com ervas 
medicinais. Destaca-se a significação que o filho fez da mãe benzedeira, atribuindo-lhe o dom do 
serviço e da caridade como aspectos que lhe possibilitaram sucesso em suas orações em favor dos 
outros. 
Sobre a religião praticada por Cecília, seu filho foi enfático ao afirmar que ela era católica e 
que tinha medo de práticas espíritas, como as realizadas em rituais da umbanda. Sua devoção era 
dedicada aos santos católicos e era a eles que recorria para tratar das queixas trazidas por aqueles 
que iam à sua residência, como dito, localizada no centro da cidade de Betim. Não usava terços ou 
outros objetos rituais para realizar as benzeções, apenas suas mãos e a energia que delas emanava, 
com exceção das brasas usadas para benzer mau-olhado. 
Ela tinha um processo, que quando ela terminava, ela sabia o resultado 
imediatamente. Ela benzia com pedra, com carvão aceso. Então nós tínhamos que 
comprar lenha, porque tinha que ficar fogo aceso o dia inteiro. [...] Eu consegui 
conhecer outras benzedeiras, mas eu não fiz muita ligação não. As outras 
benzedeiras faziam benzeção, mas com intuito de levar vantagem. Me admirava 
minha mãe porque ela nunca fez nada pra ela levar troco. E eu acho que o sucesso 
dela como benzedeira, como benzia as pessoas, era que ela queria servir você. Ela 
queria resolver o seu problema. E no tempo dela, não existia muito esse negócio de 
levar em médico. [...] Tudo era lá. Ela tinha função. [...] Ela como benzedeira, era 
ela amada pelas pessoas de Betim demais da conta. Muito amada, amada demais. 
[...] humilde e, assim, a humildade sofrida. Ela era sofrida e tinha a felicidade 
porque ela ajudava pessoas. E era feliz. [...].
10
 
 
Ressalta-se que a referência à Dona Cila como uma das benzedeiras mais antigas que exercia 
o ofício em Betim baseia-se na perspectiva de que, durante a pesquisa, teve-se informação de 
poucas praticantes desse saber no município nas primeiras décadas do século XX, ainda que, 
certamente, estivessem atuando. Como consta no relato de Venésio de Lima, sua mãe, Cecília da 
Silva, aprendeu ainda solteira os saberes da benzeção por meio de outra benzedeira que ali atuava e 
que lhe repassou o ofício. Logo, tal fato indica que a benzeção era praticada na localidade e que era 
transmitida de acordo com a vontade e a escolha da benzedeira, o que ainda se observa na 
atualidade. Não foi possível averiguar o nome e maiores informações da benzedeira que repassou os 
saberes da benzeção para Dona Cila. Mas, pelo que se constatou, o ato de benzer praticado por ela 
 
10
 Venésio de Lima. Entrevista, ago./2015. 
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Rubrica 
insere-se em uma trajetória do ofício no município e indica a continuidade dessa prática, existindo 
antes e depois dela. 
Quadros santeiros na parede da casa da 
benzedeira Maria Gontijo da Silva, no Bairro 
Vianópolis. 
IMAGEM: Bianca Pataro, 26/07/2015. 
 
A prática da benzeção pode parecer encontrar-se em desuso em uma sociedade identificada 
como secularizada, como caracteriza o mundo contemporâneo. Mas, pelo observado em Betim, as 
formas tradicionais de cura, incluindo a benzeção e o uso de plantas e raízes, mantêm-se vivas e em 
plena atividade. Nesse sentido, a partir da benzeção existe a ligação entre o passado e o presente da 
comunidade, bem como a continuidade da percepção de que males do corpo podem surgir de 
desavenças do espírito. 
É importante salientar que o termo benzedeira refere-se, neste dossiê, ―a uma cientista 
popular, que possui uma maneira muito peculiar de curar: combina os místicos da religião e os 
truques da magia aos conhecimentos da medicina popular‖ (OLIVEIRA, 1985, p. 25). Além disso, a 
benzedeira é caracterizada por falar em nome da religião, muitas vezes a católica, como Dona Cila, 
e, em outros casos, a umbanda. Não existe vinculação das benzedeiras de Betim a corporações, 
realizando sua função na própria casa, de forma autônoma, fazendo de seu saber a função que 
exercem. Em Betim, os benzedores e benzedeiras visitados atuam seguindo essa estrutura, sem que 
haja organização do ofício de forma profissional. Atuando em suas residências, fazem da própria 
casa local sagrado da cura. 
O dom e o carisma, como elementos usados por Venésio de Lima para representar o sucesso 
da mãe como benzedeira, são conceitos weberianos que explicam como pessoas comuns tornam-se 
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líderes religiosos em meio aos demais. De forma mais simples, esses aspectos da personalidade 
elucidam como mulheres e homens passam a ser reconhecidos no espaço social como vinculados a 
potências extra-humanas, o que lhes conferem autoridade para tratar os males do corpo e da alma. 
De acordo com Weber (1999, p. 323): 
[...] a satisfação de todas as necessidades que transcendem as exigências da vida 
econômica cotidiana tem, em princípio, fundamentos totalmente heterogêneos: 
carismáticos –

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