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Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 2 • Edição 05 Editorial Diretor e fundador da Design Magazine Brasil. Atua com design desde 2010. Focado em direção de projetos, mas também domina outras áreas do design. Lucas Fernandes Como já disse anteriormente, nossa equipe se esforça para que a Design Magazine Brasil esteja sempre melhorando e evoluindo. Acredito que essa edição é uma prova disso. Sempre sou o responsá- vel por finalizar e fechar o arquivo final da revista, e ao fazer isso dessa vez, percebi que essa é, ao me- nos na minha opinião, nossa melhor edição até o momento. Fiquei apaixonado pelo conteúdo. O prazer e a satisfação de trabalhar com aqui- lo que você gosta é uma das melhores coisas que pode acontecer. A DMB é meu primeiro grande pro- jeto e sempre me surpreendo com o crescimento dela, o qual espero que não pare jamais. Além da revista por si só, também é mui- to bom poder compartilhar dessa paixão com os membros da minha incrível equipe. Quando os vejo se dedicando, a minha vontade de continuar com esse projeto só tende a crescer. Muitas vezes tenho que ficar no pé deles, é verdade, mas ainda assim no final das contas, nós conseguimos cumprir cada missão da melhor forma possível. Às vezes é cansativo, parece que tudo vai des- moronar, mas não podemos desistir nunca! Termino esse texto o resumindo em duas mensagens. A primeira, é para aqueles que estão ao meu lado: um muito obrigado pela dedicação de todos vocês, vamos continuar a batalhar para evoluirmos ainda mais. E a segunda, para todos os nossos leitores: lutem sempre para fazer aquilo que vocês desejam, que vocês gostam, aquilo que lhes fazem bem, não desistam nunca, pois com o tempo a recompensa virá. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 3 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 4 • Edição 05 Sumário Um olhar bem brasileiro Pág. 08 Design de serviços com Gustavo Bittencourt Pág. 20 O design no Brasil na última década Pág. 32 Design e a cidade - Parte 2 Pág. 14 MAC de Niterói Pág. 26 Entrevista com Bernardo Clarkson Pág. 40 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 5 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 6 • Edição 05 Créditos Diretor Capa Revisão Logotipo Site Email Redes Sociais Projeto gráfico Diagramação Ilustrações Idealizadores Redatores Lucas Fernandes Thiago Seixas Juliana Teixera Lourrane Alves Lucas Fernandes Elementoa À Solta designmagazine.com.br lucas@designmagazinebrasil.com.br facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Beatriz Vieira Douglas Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Wendel Fragoso Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Eliezer Santos Hebert Tomazine João Valle Mayara Wal Thiago Seixas Vitor Cardoso Edição #05 - Outubro/2014 A Design Magazine Brasil é uma revista digital derivada da Design Magazine de Portugal. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 7 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 8 • Edição 05 Um olhar bem brasileiro Carioca amante do conhecimento, cultura artís- tica, idiomas e computação gráfica. Youtuber e autodidáta, atua como designer na Rede Solaris Network e como freelancer. Vitor Cardoso Arte da vitrine: Douglas Gomes. “Sergio Rodrigues deixou um legado do arquétipo de identidade nacional em suas obras.” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 9 Design Magazine Brasil Um dos maiores nomes no design brasileiro e o pioneiro no despontar do processo industrial de um mobiliário nacional, Sergio Rodrigues, deixou um legado do arquétipo de identidade nacional em suas obras. No dia 1° de setembro deste ano, aos seus 87 anos, o arquiteto e designer faleceu em sua residência. Conforme informações de seu escritó- rio, ele mantinha constante vigilância no seu trata- mento para o fígado e já se encontrava debilitado nos últimos dias. Ilu st ra çã o: D ou gl as G om es Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 10 • Edição 05 Sergio Rodrigues nasceu no Rio de janeiro e cresceu em meio a uma família de intelectuais, onde adquiriu o senso crítico e a simpatia pelo gosto artístico. Era neto de Mario Rodrigues, criador do jornal “A Crítica”, sobrinho de Mario Filho e do dramaturgo Nelson Rodrigues. Seu pai, o ilustrador e artista plástico Roberto Ro- drigues mantinha além de admiração, o contato com Cândido Portinari, segundo este, Roberto seria um dos maiores artistas plásticos brasilei- ros. Isso só não ocorreu devido a um incidente aos seus 23 anos na redação do jornal de seu avô, onde Roberto interpelou o tiro que atingiria Mario Rodrigues. Com 20 anos de idade, Sergio Rodrigues começava a cursar arquitetura e já formado, participou junto com David Azambuja, Olavo Re- dig de Campos e Flavio Regis do Nascimento do projeto do Centro Cívico de Curitiba. Seguiu se- melhante caminho percorrido por Villa Nova Ar- tigas, Oswaldo Bratke, Paulo Mendes da Rocha, arquitetos inclinados na defesa da importância do espaço interno nos projetos de arquitetura, no entanto deteve mais afinidade com o traba- lho mobiliário, decorativo e cenográfico. “Não tínhamos tempo de desenhar os móveis, o volume de trabalho para a nova capital era enorme.” Oscar Niemeyer Um olhar bem brasileiro Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 11 Design Magazine Brasil “De fato, naqueles anos ele fez coexistir o Brasil-brasileiro e o Brasil-de-Ipanema, além do Brasil da industrialização paulista.” Lúcio Costa Como consequência deste interesse, na Praça General Osório, em Ipanema, foi criada a “Oca”, um misto de loja, ateliê e galeria de arte, um local aconchegante que se tornou ponto de encontro de intelectuais e artistas da década de 50. Também se tornou referência mediante ao panorama nacional da indústria mobiliária da época, que se encontrava estagnada no estilo co- lonial e importado. A Oca promovia o frescor com um retorno às fontes de cunho indígena, uso de materiais nacionais como palha, couro e madeira de jacarandá e design condizente com a necessi- dade do usuário. O designer foi reconhecido por Niemeyer e Lúcio Costa e preencheu a lacuna que se en- contrava nos projetos modernistas da cons- trução de Brasília. De acordo com Lúcio Cos- ta, ele incorporou a identidade brasileira dos movimentos musicais vigentes em 50 (a bos- sa-nova e samba canção) e o zelo da escola paulista de arquitetura com o espaço interno aos seus projetos. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 12 • Edição 05 Sua peça mais conhecida, a poltrona Mole foi resultado de um pedido de Otto Stupakoff pro seu estúdio, o custo era elevado e se tornou parte somente da vitrine da loja. Todavia esta mesma peça foi a que atingiu o posto máximo de conde- coração do Concurso Internacional do Móvel em Cantú, Itália. Após isso ela começou a ser pro- duzida internacionalmente pela companhia ISA de Bérgamo com o nome Sheriff (atualmenteela faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque). Um olhar bem brasileiro Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 13 Design Magazine Brasil Outras peças também ganharam tal impor- tância, como: poltrona Tonico (1963), com almofa- da para apoio do pescoço, a poltrona Aspas “chifru- da” (1962), com encosto em compensado curvado, a poltrona Kilin PL-104 (1973), premiada pela IAB em 75, suas cadeiras Oscar e Lúcio Costa (1956), como homenagem aos profissionais e a poltrona Diz (2001), que entra em contraposição com sua mais conhecida peça como ele mesmo afirma: “A poltrona Diz é toda de madeira, porém tão confor- tável quanto a Poltrona Mole” Seu modo de pensar o mobiliário e valoriza- ção internacional abriu espaço para o design brasi- leiro como um todo, passando a ter representações nas feiras de Colônia e Milão pela ClassiCon. Não somente seu ideal e técnica profissional caracteri- zavam o espírito brasileiro, como também o conta- giante humor, sempre perceptível em seu cotidiano e histórias contadas. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 14 • Edição 05 “Se você participa por um tempo da dinâmica da cidade começa a entender as interações e o desenho da mesma” Design e a cidade - Parte 2 Designer de produto de formação e metida a docei- ra nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atual- mente estuda Design de Serviços e Interação. Mayara Wal Arte da vitrine: Wendel Fragoso. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 15 Design Magazine Brasil Sim me descobri uma aficionada pela cidade. Como estudante de design aprendi que a ca- pacidade de observação é uma qualidade quase que intrínseca a essa profissão. Juntou-se a isso minha paixão por viajar, que herdei dos meus pais. Assim, viajando e observando, comecei a entender que de certa forma, cada cidade faz sentido dentro do seu contexto. E por contexto quero dizer: popu- lação, estilo arquitetônico, cultura, língua, cores, cheiros, meios de transporte, natureza, história e muito mais. Se você participa por um tempo da di- nâmica da cidade começa a entender as interações e o desenho da mesma, e vê que tudo que a com- põe se conecta de alguma maneira. Cada cidade tem um modo de funcionamen- to que envolve todos esses fatores. Longe de mim querer fazer uma análise etnográfica ou antropoló- gica das cidades. Apenas comecei a relacionar cer- tos pontos com minha singela visão de designer, e gostaria de compartilhar aqui com vocês algumas das cidades que tive a oportunidade de conhecer e que me fascinaram! Foto: Vinicius Pinheiro Foto: Josu.orbe Foto: Paul Bica Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 16 • Edição 05 Design e a cidade - Parte 2 A primeira cidade que me marcou foi Toron- to. A cidade era fria, cheia de fast foods, constru- ções mais sóbrias e não muito altas, muitos pré- dios, muitos shoppings. Não havia muitas cores, a maioria do colorido vinha dos luminosos ou da comunicação publicitária, no mais era tudo num tom concreto ou tijolo. Uma mistura de pessoas sem fim, de todas as nacionalidades imagináveis. A cidade era limpa, o transporte público muito bom, constituído de uma grande linha de metrô e ônibus, o pagamento era feito por um cartão que deveria ser adquirido todo mês, e o controle era praticamente inexistente. Os pontos de ônibus eram como aquários de vidro, fechados devido ao frio, a neve e a chuva que é presente na maior parte do ano. As pessoas eram em geral educadas (no sentido de limpeza, organização), mas não eram amigáveis pelo contrário, eram frias. A cida- de tinha letreiros bilíngues, inglês (primeira língua oficial) e francês. Mas na verdade extraoficialmen- te se falavam muito mais línguas como espanhol, koreano, português, e etc. Muitas comunidades de moradores de outras nacionalidades se formam lá. Pessoas que se mudaram em busca de uma condi- ção de vida melhor nesse enorme país que, com uma eximia população, acolhe e estimula a vinda de imigrantes. Mas o engraçado é que parecia que os próprios canadenses não gostavam muito des- sa mistura, daí comecei a entender o porquê das pessoas serem frias, distantes, elas não se mistu- ravam muito, canadenses praticamente só convi- viam entre eles, e assim os estrangeiros. E assim é a dinâmica da cidade, fria a maior parte do ano, tem muitos estrangeiros, uma sociedade que de- vora fast food e é super consumista vive em uma cidade de cores sóbrias, mas que possui luz e cor vindas da publicidade que revela o caráter super consumista dos mesmos. Foto: Paul Bica Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 17 Design Magazine Brasil Toronto Yonge-Dundas Square, o que faz lembrar da Times Square em NY. Foto: Pedro Szekely Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 18 • Edição 05 Em uma vibe completamente diferente, Istambul é uma explosão populacional, um caos no trânsito, uma poluição sonora que não tem fim, infinidade de cores, sabores e cheiros. É uma cidade barulhenta, assim como seus moradores, dentre esses barulhos um é muito peculiar, até bonito e te lembra 5 vezes ao dia que está em uma cidade de maioria islâmica. Por sua grande população quase não se vê ca- sas, a cidade é infestada de prédios de 5 anda- res que colorem o relevo acidentado com su- bidas e descidas íngremes, que deu a cidade o apelido carinhoso de “7 hills”.As cores variam sempre numa palheta mais quente, e parece que até o pôr do sol tem mais cores daqueles lados. A estética da cidade possui também mo- vimento, é um mix do conservador e do moder- no, a linha do horizonte da cidade é linda, com sua diferença de relevos acompanhada pelas linhas verticais dos minaretes das mesquitas que dão vida a cidade. A maioria da população é turca é claro, mas se vê muitos estrangeiros que se misturaram na multidão, pois como a ci- dade, a população é composta por um mix de raças, cores e estilos. É uma contradição até, uma cidade tão colorida e alegre, com tantas misturas, muitas vezes se vê representada por um tecido preto. Foto: Vladim ir Losinsky Foto: Pedro Szekely Foto: Josu.orbe Design e a cidade - Parte 2 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 19 Design Magazine Brasil Outra cidade que me fascina e que tem uma similaridade com Toronto é Bruxelas. Ca- pital de um país dividido por três línguas (Fran- ces, holandês e alemão), faz parte da comuni- dade francesa, por isso tem como língua oficial o Frances, o holandês e o Inglês! Sim, a barreira linguística lá é bem forte, cada lado obviamen- te defende a sua língua e muitas vezes não quer aprender a outra, portanto usam o inglês como intermediário nessa comunicação. Uma cidade efervescente por dentro, mas que não reflete nada disso por fora. A primeira vista é depri- mente, cinza, fria, gótica, chega até a ser feia. Mas conforme você se permite descobri-la, se abre outra face da cidade, que é surpreenden- te. Cheia de eventos culturais, gastronômicos e musicais para todos os gostos e bolsos. É como que misteriosa com suas construções antiguís- simas, que lembra muito a colonização France- sa, que escondem dentro de suas paredes toda essa efervescência. Tem muitos estrangeiros devido a União Europeia, e também devido à questão histórica com o Marrocos, e a facilida- de de acesso para os trabalhadores ilegais. E assim é Bruxelas, a cidadeque contém muitas cidades paralelas, é a cidade dos flandres e a dos franceses, é a cidade dos estrangeiros e a dos belgas, é o submundo dos ilegais e a cidade sede da União Europeia. É a cidade do design, das galerias de arte e a cidade dos festivais de música. É a cidade dos chocolates e a cidade da batata-frita. É a cidade dos Smurfs e a cida- de do Tintin. É a cidade das cervejas artesanais e a cidade da cerveja de cereja. São “lês cites obscures” como descrevem os autores Schui- ten-Peeters do quadrinho Brusel. Com esses três exemplos quis caracterizar o que resolvi aqui chamar de design da cidade. Cada uma com seu contexto possui uma forma, um movi- mento, uma palheta de cores, uma linguagem, uma forma de comunicação, um desenho, e no final das contas esse conjunto dá um resultado visual com- pletamente diferente, mas que faz sentido. Foto: M atthias Ripp Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 20 • Edição 05 Design de serviços com Gustavo Bittencourt Designer gráfico e de produto, apaixonado por artes e futebol. Buscando conhecimento e expe- riências, para um dia poder ser uma referência e inspiração para os novos designers. Thiago Seixas Arte da vitrine: Gilberto Ferreira. “O diferencial de um designer [...] é a capacidade de se colocar no lugar de outras pessoas, é entender necessidades e a partir daí projetar coisas que sejam de fato relevantes.” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 21 Design Magazine Brasil É muito difícil definir o que é design. Muitas pessoas possuem opiniões particula- res acerca da nossa profissão. Porém, uma forma de definir o design é dizer que é um método de pensar que profissionais uti- lizam para resolver problemas. Mas, diversas outras profissões também têm como objetivo so- lucionar problemas. Então, o que diferencia o designer dos demais profissionais? Para o designer Gustavo Bittencourt, sócio diretor da Li- vework, a grande diferença está na empatia. “O diferencial de um designer - e quando digo isso não me refiro somente às pessoas que tem um título - é a capacidade de se colocar no lugar de outras pes- soas, é entender necessidades e a partir daí projetar coisas que sejam de fato relevantes. Isso é o que faz com que o design seja algo muito importante, especial- mente nos dias de hoje.” Gustavo Bittencourt Foto: Arquivo pessoal Gustavo Bittencourt Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 22 • Edição 05 Design de serviços com Gustavo Bittencourt Com este pensamento podemos dizer que design pode ser aplicado a praticamente tudo. E uma nova abordagem tem crescido cada vez mais aqui no Brasil, o design de serviços. Gustavo nos explica como esse pensamento começou: “Se você pensa em design como uma abordagem, onde pessoas criam coisas relevantes para outras, sejam produtos, interfaces gráficas, in- terações digitais ou pra qualquer coisa, por que não existe alguém que pensa design para os serviços? Hoje boa parte dos serviços que usamos são muito ruins, eles são muito mal pensados, são mais como um processo interno das empresas que você está experimentando, parece que não foi desenhado para um ser humano usar.” Pesquisas mostram que atualmente o PIB dos países em desenvolvimento e, principalmente, dos países mais desenvolvidos vem principalmente dos serviços. Então, qual o sentido de utilizar a aborda- gem do design apenas para projetar objetos? Foto: livew orkstudio.com Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 23 Design Magazine Brasil Esse pensamento ganhou forma na década de 1980, quando Lynn Shostack desenvolveu um ar- tigo para a Harvard Business Review, citando a apli- cação do design para a criação de serviços. A partir daí o tema ganhou relevância no meio acadêmico e culminou na aplicação do service design no merca- do com a criação da Livework, em 2001. Pioneira na área, a consultoria desenvolve soluções para me- lhorar os serviços de seus clientes, focando tanto na experiência do usuário final quanto no retorno para a empresa. Fundada em Londres, hoje está presen- te em Oslo, São Paulo, Rotterdam e Brasília. Apesar de ser um assunto relativamente novo no Brasil, na Europa esse mercado já é muito gran- de, e profissionais buscam se especializar nesta área cada vez mais. Ao explicar o que o profissional desta área precisa ter, Gustavo diz: “Eu não gosto de colo- car o design em silos, como design de produto, de- sign gráfico, etc., no fundo se você é designer, você pensa design, pode projetar em diversos cenários, o que muda são apenas as ferramentas que utiliza. Talvez as ferramentas que você utiliza para proje- tar um avião não sejam as mesmas que utiliza para projetar um livro, assim como não serão as mesmas para um serviço de um banco, o design de Serviços tem uma forma de pensar que é específica.” Foto: livew orkstudio.com Gustavo Bittencourt Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 24 • Edição 05 Gustavo diz também que para se projetar ser- viços é necessário ser um profissional multidiscipli- nar. “Se você deseja trabalhar com serviços, preci- sa ter uma perspectiva mais profunda sobre como enxerga design. Você precisa agregar outros conhe- cimentos, entender de negócios, de psicologia, de processos, entre outras coisas que estarão conecta- das ao serviço que estará desenhando. Um serviço é prestado por uma empresa de forma interdiscipli- nar, são várias áreas, várias pessoas e vários conhe- cimentos, logo, é importante ter vários interesses, e entender de negócios de uma forma ampla.” Não existe ainda no Brasil uma faculdade es- pecífica de design de Serviços, porém existem al- guns cursos, principalmente em São Paulo. Dentre eles se destaca a EISE, a Escola de Inovação em Ser- viços. Existem dois formatos de engajamento com a escola, um de 6 meses, mais focado nas ferramen- tas de service design e um de 1 ano, mais comple- to. Cada estudante da escola escolhe a sua própria jornada, com os módulos que mais se interessam e, ao longo do curso, aplica o que está aprendendo na construção de um novo serviço. Foto: youtube.com A essência do servir: Gustavo Bittencourt at TEDxUFRJ Design de serviços com Gustavo Bittencourt Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 25 Design Magazine Brasil Uma dica final para quem quer entender mais sobre essa área é a leitura especializada. Gustavo indica três livros que são básicos: Design Thinking Brasil, que mostra como o design pode ser aplica- do de diferentes maneiras sobre um ponto de vista estratégico; Service Design, dos fundadores da Li- vework, que é focado em design de serviços e fala bastante sobre projetos e ferramentas, e por último, o livro The Service Startup, que foi lançado há pou- co tempo e é indicado, principalmente, para empre- sas que estão começando. Fora isso, buscar leituras relacionadas à Customer Experience, e aos serviços prestados pelas grandes empresas como Apple, Disney, Starbucks e Zappos. “É importante estudar além dos assuntos relacionados diretamente com design” encerra Gustavo. EISE, escola de Design Thinking em SP, instituição onde Gustavo leciona. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 26 • Edição 05 MAC de Niterói Estudante de arquitetura e urbanismo na Unigran- rio, formado em técnico de design de interiores no Senac, apreciador de vinho e artista plástico de fim de semana. João Valle Arte da vitrine: BeatrizVieira. Artes da matéria: Douglas Silva. “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 27 Design Magazine Brasil Nesta edição da Design Magazine Brasil nós vamos falar sobre uma das obras mais marcantes de um dos maiores precursores do movimento mo- derno, o brasileiríssimo Oscar Niemeyer. O museu de arte contemporânea, ou MAC Niterói, está loca- lizado sobre o Mirante da Boa Viagem, na orla de Niterói. Sua conclusão deu-se em 1996 e destaca-se pelas formas curvilíneas características do próprio Niemeyer, que disse: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 28 • Edição 05 “Para a sua construção foram retirados 5.500 toneladas de material escavado e consumidos 3.200.000 m³ de concreto, o suficiente para construir um prédio de 10 andares.” Durou cerca de 5 anos para ficar pronto e tem um acervo de cerca de 1.217 obras da Coleção João Sattamini. Um conjunto reunido desde a década de 1950 pelo colecionador, constituindo a segunda maior coleção de arte contemporânea do Brasil. A idéia de criação do museu, segundo Roberto da Sil- veira, surge da intenção de Sattamini de doar sua coleção de arte para a cidade, e o museu nasce pre- cisamente para abrigá-la. O museu possui 16 metros de altura, uma cobertura de 50 metros de diâmetro e quase de 2000 m² de superfície que se sustenta em um solo central cilíndrico de 9 metros de diâmetro ancorados em uma sapata de dois metros de al- tura e possui quatro pavimentos que se instalam numa praça de 2.500 m². O projeto consiste de um pavimento no subsolo e um corpo superior formado por três pavimentos, o 1º pavimento com cerca de 393,13 m² e o 2º com 697,40 m² e mais um mezanino de 398,02 m² alocado entre o 1º e 2º pavimento. Composição MAC de Niterói Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 29 Design Magazine Brasil Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 30 • Edição 05 Subsolo Primeiro andar Mezanino Segundo andar É o local para o armazenamento de obras, mas também, existe um restaurante, um auditório e um bar. No restaurante, uma janela fina abre hori- zontalmente ao longo da fachada permitindo con- templar a baía. Além da recepção, um escritório, um espa- çoso hall de entrada e alguns escritórios adminis- trativos, se tem acesso à grande sala hexagonal e do dobro de altura, cercado por uma circular que se abre através de uma janela contínua que rodeia todo o volume. Este se encontra entre o primeiro e o segundo pavimento, envolve todo o interior do museu que é destinado também a exposições. Neste andar há cinco galerias com exposições das obras contemporâneas. Uma rampa curvilínea externa serve como uma ligação para os dois primeiros andares do mu- seu, conectando o espaço público com o núcleo central, que contém a sala de exposição. O Museu de Arte Contemporânea é um mar- co tão impactante na cidade de Niterói que além de ofuscar os outros patrimônios, ao nos referirmos à cidade, nos lembramos imediatamente de sua for- ma e sua aparência que nos remete a um disco voa- dor ou a um cogumelo. Para a sua construção foram retirados 5.500 toneladas de material escavado e consumidos 3.200.000 m³ de concreto, o suficiente para cons- MAC de Niterói Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 31 Design Magazine Brasil truir um prédio de 10 andares. A tampa circular re- cebeu um tratamento térmico e impermeabilizante, as vigas foram construídas com concreto protendi- do. Na construção do pavimento da grande rampa de acesso foi usado concreto vermelho, combinado com as paredes laterais brancas. Os pisos das salas foram revestidos com 3.000 m² de carpete azul. As placas de vidro foram fabricadas exclusivamente para o projeto, cada folha tem 18 milímetros de es- pessura, 4,80 metros de altura e 1,85 de largura, en- quadradas por perfis de aço e com uma inclinação de 40º em relação ao plano horizontal. Na sala central a iluminação é técnica envol- vendo o meio ambiente, juntamente com a ilumi- nação das janelas, o mesmo aplica-se para o andar superior. De dentro da moldagem, formada pelo en- contro do piso com o telhado, esconde-se uma luz indireta que ilumina suavemente o ambiente. Exter- namente, o museu é iluminado por luzes de 1000 watts, cada uma, e instaladas na base do edifício. Para garantir a segurança dos visitantes, tanto de dia como de noite, a rampa que leva para o museu tem seu contorno delimitado por um feixe de luz. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 32 • Edição 05 O design no Brasil na última década Atua como freelancer desde 2012 com criação de logotipos, peças publicitárias, etc. Atual- mente tem se dedicado a edição de vídeo e motion design. Eliezer Santos Arte da vitrine: Gilberto Ferreira. “O brasileiro é conhecido pelo seu enorme potencial em criatividade, fundamento básico para um bom profissional de design.” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 33 Design Magazine Brasil Quando eu fazia o curso de design gráfico, eu me lembro de uma história que meu professor con- tou. Ele disse que sempre que alguém perguntava a sua mãe qual era a profissão de seu filho, ela res- pondia: “Meu filho? Ah, ele mexe nessas coisas de computador aí…” Esta pequena ilustração mostra nitidamente, e infelizmente, a forma como o design ainda é visto e encarado no Brasil. A profissão DESIGNER ainda é muito nova no Brasil, e como tudo aqui é atrasado, devido a problemas crônicos de burocracia e má vontade por parte dos governantes, ela sequer foi regula- mentada no país. Isso contribui para o surgimento de aproveitadores, que oferecem cursos livres co- mo“profissionalizantes” e cobram caro por isso, ilu- dindo jovens talentosos e bem intencionados, que querem ganhar a vida com os dons que possuem. Foto: U FV Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 34 • Edição 05 Im agem : Paul Bica O design na verdade, só se tornou conhecido no Brasil na década de 80, quando as associações de design mais famosas surgiram, como a Associa- ção dos Profissionais em Design do Rio Grande do Sul (APDESIGN, em 1987) e Associação dos Desig- ners Gráficos (ADG, em 1989), mas ainda não houve uma popularização do tema e da profissão, e isso contribui para um enorme desperdício de talento e de bons profissionais espalhados pelo país, que faz com que os mais favorecidos sempre optem por sair do Brasil para serem reconhecidos e valoriza- dos lá fora. O brasileiro é conhecido pelo seu enorme po- tencial em criatividade, fundamento básico para um bom profissional de design. Num país sério, haveria políticas governamentais visando a popu- larização da profissão, com campanhas de cons- cientização, apoio do governo para as instituições de ensino, qualificação dos professores e incentivo aos alunos, visando criar uma geração de designers e explorar ao máximo este potencial característico de nosso povo, certo? O problema é que vivemos no Brasil, e aqui é cada um por si.Quem tem grana estuda, se qualifica e recebe os louros. Quem não tem, ou seja, a gran- de maioria, ou “se mata” como freelancer, levando calotes ou “se prostituindo” (entenda: aceitando fa- zer serviços bem abaixo do preço), ou trabalha de carteira assinada recebendo um salário irrisório. Já aquele pobre coitado que escolhe ganhar a vida como Motion Designer ou Designer 3D tem que se virar para arrumar grana e se mandar do país, pra tentar a sorte em terra estrangeira. Poucos, como o diretor Carlos Saldanha (A era do Gelo, Robôs, etc.) conseguem a Glória. Muitos ficam pelo caminho e voltam frustrados, ou ficam por lá e tentam ganhar a vida em outra profissão. Resumidamente, muito pouco se avançou por aqui nos últimos 10 anos. Mas nem tudo é tris- teza e sofrimento pra quem opta por esta profis- são no Brasil. Há alguns anos, eu diria dos últimos cinco anos pra cá, uma verdadeira revolução se O design no Brasil na última decada Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 35 Design Magazine Brasil Toronto Yonge-Dundas Square Este é Yonge-Dundas Square de Toronto, o que faz lembrar de Times Square em NY. Im agem : Stux Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 36 • Edição 05 iniciou no país, e uma popularização da profissão começou a ser construída, justamente com o sur- gimento de várias instituições de ensino voltadas para a área. Isso tem trazido a esperança de que o design “ganhe as ruas” e deixe de ser encarado pela maior parte da população como “coisas de computador”. Só a popularização da profissão po- derá trazer à população o devido esclarecimento, e naturalmente, a valorização devida desta profis- são tão importante (e do seu profissional). E pare- ce que já há pessoas e instituições sérias que estão atentando para este fato. Nos últimos anos, graças a proliferação dos cursos voltados para a área e a ajuda do “boom” das mídias sociais, o tema tem sido cada vez mais abordado e proliferado, com uma infinidade de blogs, fan pages e publicações que tem impulsionado a popularização do tema. Faltam ainda políticas que visem o acesso aos cur- sos para as pessoas de baixa renda, e é aí que esta “Revolução” tem encontrado entraves. Im agem : Design U niso Alexandre Wollner palestrando no UDesign 2010, em Sorocaba. O design no Brasil na última decada Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 37 Design Magazine Brasil No design gráfico, por exemplo, há quem acredite que se deve priorizar a qualidade do pro- fissional, valorizando as instituições que oferecem formação superior. Isso é válido, mas foge da rea- lidade do nosso país. Com isso, o que acontece é que, devido à falta de políticas públicas, o estudan- te de design menos favorecido fica refém de cursos livres, que prometem uma formação profissional, mas muitas vezes, os próprios professores destas instituições sequer tem formação, e o aprendizado destes alunos fica defasado, além de serem rejeita- dos pelo mercado de trabalho. Por outro lado, a popularização traria um acesso maior destes estudantes ao ensino superior, e consequentemente, um aumento significativo de profissionais qualificados no mercado. A situação do design no Brasil hoje é de uma profissão elitizada demais, de difícil acesso ao mer- cado de trabalho, sem apoio do governo e sem uma estrutura, sem uma linha de desenvolvimento. O Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 38 • Edição 05 resultado disso se vê nítido nas ruas: Peças publicitárias de gosto duvidoso, sem qualquer funda- mento ou princípio básico, fei- tas por curiosos ou “sobrinhos”, encomendadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do que seja design, ou da importância e benefício que ele pode trazer ao seu negócio. A área melhor desenvol- vida do design no Brasil é sem dúvida a do design industrial. É onde se concentram a maior parte das vagas e dos profissio- nais oriundos das faculdades. E também é onde se concentram os melhores salários do ramo. Já o design gráfico e as áreas volta- das para o entretenimento ainda estão engatinhando. Ao lado, listamos as prin- cipais instituições de ensino de design no país, segundo o GUIA DO ESTUDANTE: (GO) Goiânia - UFG (MG) Belo Horizonte – UEMG (RJ) Rio de Janeiro – PUC-Rio (RJ) Rio de Janeiro – UERJ (AM) Manaus – Fac Fucapi (BA) Salvador – Unifacs (DF) Brasília – UnB (PA) Belém – Uepa (PB) Campina Grande – UFCG (PE) Recife – UFPE (PR) Curitiba – PUCPR (RJ) Rio de Janeiro – ESPM-RJ (RJ) Rio de Janeiro – UFRJ (RS) Porto Alegre – ESPM-Sul (RS) Porto Alegre – UniRitter (SC) Florianópolis – Udesc (SP) Bauru – UNESP (SP) São Paulo – Belas Artes (SP) São Paulo – ESPM-SP (SP) São Paulo – FAAP (SP) São Paulo – Mackenzie (SP) São Paulo – SENAC-SP FACULDADE ESTRELAS O design no Brasil na última decada Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 39 Design Magazine Brasil Im agem : fredsharples Há ainda uma infinidade de cursos livres, mas pela dificuldade de investigar e separar “o joio do trigo” preferimos não listá-los. Se você ainda é um curioso no tema e está lendo esta matéria para se aprofundar mais no as- sunto, e tem planos de seguir esta carreira, nossa orientação é que você, caso não possa pagar os pre- ços caros que as faculdades cobram e opte por um curso livre ou técnico, que você procure pesquisar bastante e conhecer a fundo a instituição em que você pretende ingressar. E mais do que isso: Não desista do seu sonho. Apesar de todas as dificulda- des, apesar da falta de conhecimento da população e da falta de estrutura da profissão no Brasil, vale a pena encarar essa briga e se tornar um designer. Há uma tendência de que as coisas melhorem da- qui pra frente. Resta se apegar a esta esperança, arregaçar as mangas e partir pra luta, pois poucas profissões causam tanta satisfação pessoal. Se tiver talento, vai em frente! Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 40 • Edição 05 Entrevista com Bernardo Clarkson Apaixonado e especializado em design editorial, grids, proporções e minimalismo. Trabalha na área desde 2008. Atualmente atua como designer gráfico e editorial na Diocese de Duque de Caxias. Hebert Tomazine Arte da vitrine: Bernardo Clarkson. “Todo produto tem uma história por trás dele, resta a você, como designer, saber “ler” e entender cada produto”. Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 41 Design Magazine Brasil Por que ser designer? Bernardo Clarkson Lebreiro é um designer brasileiro, 29 anos, nascido em Niterói, Rio de Ja- neiro, formado em Desenho Industrial/Projeto de Produto pela PUC-Rio. Bernardo nos conta que desde criança sem- pre foi muito curioso, desmontava de tudo para ver como funcionava, desde uma simples caneta até um rádio, e por causa de sua timidez somada a sede do conhecimento, sempre procurava saber as coisas por conta própria. Também adorava dese- nhar com muitos detalhes, pois era muito observa- dor do mundo a sua volta. Concluiu todo o ensino fundamental e mé- dio no Centro Educacional de Niterói, que ele nos conta ser uma escola muito “mente aberta”, por ser uma escola experimental, teve aula de marcenaria, elétrica e artes, isso o incentivou e estimulou muito sua criatividade. Sempre observador, gostava de enxergar os pro- dutos de forma diferente, questionando e tentando entender porque foram feitos daquela maneira. Bernardo lembracom saudosismo que ado- rava ajudar seus pais a montar e instalar produtos novos para casa, pelo fato de seu pai ser engenheiro e sua mãe estilista, sempre foi influenciado por eles, os quais até hoje são suas principais influências, por seus talentos e entusiasmos. Através deles, mesmo sem perceber inicialmente, aprendeu muito sobre criação, produção e empreendedorismo. Bernardo se define como uma mistura de seus pais, e por isso escolheu o curso de desenho industrial. Foto: Arquivo Pessoal Slimme Keuken Acomoveis - Mesa IPAD Ricardo Eletro2 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 42 • Edição 05 Entrevista com Bernardo Clarkson Os projetos de Bernardo possuem uma ten- dência por traços mais intuitivo, funcionais e sim- ples, mas isso se altera dependendo do projeto, não possuindo um único estilo de criação. Ele primeira- mente analisa o público que ira interagir com aque- le produto, e em cima disto o projeta, “Afinal, todo produto tem uma história por trás dele, resta a você, como designer, saber “ler” e entender cada produto”. Bernardo não se considera especialista em alguma vertente ou estilo, prefere saber um pouco de tudo e estar sempre informado e atualizado so- bre diferentes tipos de processos, materiais e etc. Em cada novo projeto, procura sempre acompa- nhar todo o processo de criação, para ter certeza que está tudo correndo bem, o que acarreta ser um constante aprendizado. Além da forte influência de seus pais, Ber- nardo cita suas principais referencias na área do design: “Gosto dos cuidados e os detalhes que o Jonathan Ive coloca em seus produtos (além do “pensar fora da caixa” e a coragem, é claro); A com- plexidade e leveza dos “monstros” de Theo Jan- sen; O simbolismo da funcionalidade de James Dyson; Os produtos simples/geniais e muito bem feitos da Joseph Joseph. Os clássicos da Braun, Smart, IDEO, Karim Rashid e etc. Enfim, muitos! Interesso-me muito em desenho automotivo, do peso que o design tem na concepção dos automó- veis. Gosto de buscar inspiração em outras áreas também como a arquitetura de Santiago Calatrava e Oscar Niemeyer. Nas horas vagas gosto muito de desenhar e tenho Salvador Dalí e Escher como ins- piração desde criança”. Estilo e Influências Foto: Arquivo Pessoal Limine Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com Outubro 2014 • 43 Design Magazine Brasil Feelin Rio Bernardo acha graça do fato de que os pro- jetos que ele considera serem os mais importantes para sua carreira, foram os que tiveram menos re- percussão. Nestes projetos ele obteve grandes res- ponsabilidades, e são os de maior complexidade, o que lhe fez virar diversas noites e finais de semana trabalhando para entregá-los no prazo. Mas estes mesmo projetos o fizeram perceber que estava no caminho certo, que era realmente capaz e tinha es- colhido a profissão certa, além de terem sido força de seu crescimento profissional. Projetos Bernardo considera todos seus projetos impor- tantes por terem sido fonte de experiências e aprendi- zados, incluindo os muitos projetos que virão, mas en- tre seus muitos projetos ele destaca: “Gosto de todos os projetos que pude participar quando trabalhei na Cle- ver Pack. Pude aprender muito com o Dieff Araújo (de- signer) e o dono da empresa Claudio Patrick sobre pro- dução, inovação, sustentabilidade e a maneira como ele enxerga o design, desde a concepção, passando pela ergonomia, forma, função, patentes, ao descarte (ou não) de cada produto. Mas, por mais que na Clever Pack tivemos muitos produtos premiados, eu tenho como projetos preferidos os que pude realizar com um coletivo formado apenas por amigos, como o Escorre- dor Feel’in Rio (finalista no Idea Brasil) e a luminária Li- mine (finalista no Salão Design deste ano)”. Bernardo almeja ter um estúdio de criação volta- do para área de produtos domésticos, ou focado ape- nas em produtos para cozinha, que é uma área em que ele possui grande apreço. Ano que vem pretende fazer um curso de especialização em business. No momento, Futuro Mensagem para os leitores está começando um negócio em parceria com amigos, voltado à impressão de objetos 3D, que deve ser lança- do em breve. Foto: Arquivo Pessoal “Gostaria de agradecer à Design Magazine Brasil pela oportunidade, espero que tenham gostado e qualquer dúvida ou se quiser entrar em contato: bernardo.clarkson@gmail.com ou behance.net/bernardoclarkson Grande abraço a todos!” Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com 44 • Edição 05 Licenciado para Elisabete Lima, contato@soullisa.com
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