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Cidadania UN04

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CidadaniaCidad
U4
Objetivo do estudo
Esta unidade tem como objetivo estudar a cidadania em suas diversas dimensões, particularmente a dimensão 
jurídica e política. Estudaremos as gerações de direitos, a partir dos estudos de Marshall e Bobbio, em seguida 
veremos como a expansão da cidadania se tornou instrumento para problemas sociais, como a exclusão e por 
fi m analisaremos os aspectos que defi nem a relação ente Estado sociedade e a cidadania.
Dimensões jurídicas e 
políticas da cidadania
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2
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
4 T1 Gerações de direito e cidadania a partir de Marshall e Bobbio.INTRODUÇÃO
“O sistema da exclusão se assenta no caráter essencial da diferença... o grau extremo da 
exclusão é o extermínio; o grau extremo da desigualdade é a escravidão." (SANTOS, P. 282)
De fato, o estudo dos direitos humanos conduz, necessariamente, à análise de sua relação 
com o próprio homem, seu destinatário. Dessa maneira, no plano histórico, busca-se 
a justifi cação dos valores naquilo que representam ao homem, que lhe possibilitem o 
desenvolvimento da personalidade, da convivência pacífi ca e da solidariedade social. No 
tocante à defi nição de direitos humanos, constata-se que isso vem sendo feito de modo vago 
e insatisfatório, ainda mais quando se busca um fundamento absoluto, único. 
Nesse sentido, cabe considerar as seguintes defi nições de Bobbio (1992):
“O reconhecimento e a proteção dos direitos fundamentais do homem no mundo alcançaram 
seu estágio atual de forma lenta e gradual, passando por várias fases. 
Do ponto de vista teórico, sempre defendi - e continuo a defender, fortalecido por novos 
argumentos - que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos 
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa 
de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma 
vez e nem de uma vez por todas. Estas etapas da evolução desses direitos são chamadas 
de gerações, pois foram construídas em diferentes momentos históricos. ”
A expressão geração foi primeiro utilizada por Karel Vasak, em 1979, que buscou, 
“metaforicamente, demonstrar a evolução dos direitos humanos com base no lema da 
revolução francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) ”. Ou seja, a expressão geração tem 
como conotação, tão somente, demonstrar uma evolução histórica dos direitos fundamentais, 
e que estes foram construídos em diferentes momentos históricos. (LIMA, 2003).
Em virtude de representar uma evolução histórica e de a expressão geração dar a entender 
que há uma substituição gradativa dos direitos, o que na prática não ocorre, atualmente, 
tal termo tem sido rechaçado. Em sua oposição surgiu a terminologia dimensão, que passa 
a ideia de que os novos direitos são acrescidos aos demais, havendo um somatório de 
direitos fundamentais.
Mesmo com toda discussão sobre a nomenclatura dos direitos humanos, foi Noberto 
Bobbio quem consagrou as gerações/dimensões, afi rmando que “desenvolvimento dos direitos 
do homem passou por três fases”, que são as três primeiras gerações/dimensões clássicas 
dos direitos fundamentais, entretanto, atualmente outras duas mais se desenvolveram.
Vamos estudá-las?
Eugène Delacroix
- La liberté guidant le peuple
3
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
Primeira geração ou dimensão
Os direitos de primeira geração, assim defi nidos por Noberto Bobbio (1992), são aqueles que 
declaram os direitos de liberdade. Estes surgem no âmbito público, e resguardam liberades 
públicas quais sejam, as de caráter civil e político. 
A resistência ao poder opressivo do Estado é o foco dos direitos de primeira geração, que por 
isso são chamados de direitos de liberdades negativas. Essa expressão traduz a oposição 
à interferência do Estado nas liberdades individuais e coletivas. 
Os direitos de primeira geração surgem durante a Revolução Francesa, e tinham o propósito 
de limitar o poder monárquico e garantir a burguesia direitos mínimos para o exercício da 
sua atividade. Os indivíduos e grupos sociais são protegidos em suas liberdades, afastando 
e demarcando o Estado e o não-Estado. 
Os direitos de primeira geração/dimensão alcançam a todos, sendo direitos que atendem aos 
indivíduos, simplesmente pela sua condição de seres humanos, independentemente das condições 
pessoais, ou sociais etc. Para aplicação e proteção desses direitos, o indivíduo é fundamental. 
 
A Constituição Federal, traz em seu Artigo 5º, caput, as garantias dos direitos a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
Segunda geração ou dimensão
Esses são os direitos sociais, culturais e econômicos e surgem com a queda do Estado 
Liberal e o nascimento do Estado do Bem-Estar Social. 
O excesso de liberdade assegurado pelos direitos de primeira geração causou um desequilíbrio 
social. Em virtude desse fato, afi rmou Noberto Bobbio (1992) que esses são os chamados 
“direitos políticos, porque concebem a liberdade não apenas negativamente, (como não 
impedimento), mas positivamente, como autonomia”. 
Aqui, embora tenhamos direitos que têm como principal característica o fato de se estenderem 
a todos, se destacam por serem voltados para uma categoria ou um grupo específi co da 
sociedade e não ao indivíduo. Esses grupos sociais estariam amparados por esses direitos, 
por serem considerados mais fracos, ao se relacionarem socialmenmte com outros grupos. 
A exemplo temos: os direitos dos trabalhadores, dos inquilinos, dos consumidores, dos idosos. 
Observe que esses grupos pertencem a uma categoria social específi ca e que necessitam 
de amparo legal maior, em virtude da sua condição de vulnerabilidade nas suas relações. 
Para a defesa dos direitos sociais, o Estado assume papel preponderante, pois deverá 
garantir a igualdade entre os grupos sociais, seguindo a máxima utilizada por Aristóteles, 
que diz que devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida 
de sua desigualdade.
Neste sentido, a Constituição Federal assume o princípio da igualdade em vários de seus 
artigos, a exemplo do Artigo 5º: 
“Art. 5o. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição;” (BRASIL, 1988)
4
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
Direitos sociais na Constituição Federal de 1988
A constituição Federal traz, em seu Art. 6º os direitos sociais, assim defi nidos: “são direitos 
sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência 
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência social aos desamparados, na 
forma desta Constituição”. (BRASIL, 1988)
Terceira geração ou dimensão
São os direitos sociais, decorrentes da solidariedade ou de titularidade coletiva, ditos difusos, 
eles nascem a partir da generalidade e diversidade da raça humana. Deste modo, estão 
voltados para a proteção do coletivo social, e não dos indivíduos. Atendem, portanto aos 
interesses difusos e coletivos.
Os direitos de terceira geração se dividem em:
• o direito à paz;
• o direito ao desenvolvimento;
• direito ao patrimônio comum da humanidade
• o direito à comunicação
• o direito à autodeterminação dos povos
• ao meio ambiente sadio ou ecologicamente equilibrado
 
Direitos difusos e coletivos na constituição Federal de 1988
A Constituição Federal de1988 traz em seu artigo 225, um dos direitos difusos:
Art. 225, caput: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como 
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público 
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” 
(BRASIL, 1988).
Contraponto
O Direto à Paz, também é considerado um direito de terceira geração, por se tratar de um 
direito difuso e coletivo. Através da garantia deste direito, garante-se à coletividade o direito 
a própria vida. Assim, no entendimento de alguns autores, seria um direito difuso, pela sua 
generalidade e porque envolve toda a raça humana. 
No entanto, a opiniões contrárias que afi rmam que o direito à paz é um direito fundamental 
de quinta geração, por possuir características específi cas, que os diferencia dos demais 
direitos de terceira geração. 
O direito à paz deve ser considerado mais que um direito coletivo, seria, então, um direito plural 
e a natureza dessa pluralidade, reside no fato de que todos os povos poderão reivindicá-lo.
Quarta geração ou dimensão
Além das três gerações/dimensões clássicas, descritas por Karel Vasak e por Noberto Bobbio, 
atualmente se estuda a existência de outras, decorrentes dos avanços sociais, genéticos e tecnológicos.
Neste sentido, destaca a quarta geração dos direitos do homem surge para proteger 
direitos decorrentes desses avanços. São diretos que se refere à manipulação genética, à 
biotecnologia e à bioengenharia, têm forte cunho ético, pois tratam de discussões acerca da 
vida e da morte, Através dessa geração se determinam os alicerces jurídicos dos avanços 
tecnológicos e seus limites constitucionais.
5
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
Como marco histórico dessa geração tem-se a Declaração Universal sobre o Genoma 
Humano e os Direitos Humanos, da UNESCO, que reconhece logo no artigo 1 que o genoma 
humano é patrimônio da humanidade; no Artigo 2, que ninguém pode ser discriminado em 
virtude de suas características genéticas; e, no Artigo 4, que o genoma não pode ser objeto 
de negociação fi nanceira.
O que se pretende com a garantia desse direito é preservação da individualidade humana 
e da diversidade do genoma, impondo-se limites ao seu uso, que compreende questões 
práticas, como a proibição para fi ns não humanísticos e questões éticas, como intervenção 
acerca do patrimônio genético do ser humano.
“Artigo 1 O genoma humano constitui a base da unidade fundamental de todos os membros 
da família humana bem como de sua inerente dignidade e diversidade. Num sentido simbólico, 
é o patrimônio da humanidade. ”
“Artigo 2 a) A todo indivíduo é devido respeito à sua dignidade e aos seus direitos, 
independentemente de suas características genéticas. b) Esta dignidade torna imperativa a 
não redução dos indivíduos às suas características genéticas e ao respeito à sua singularidade 
e diversidade. ” (UNESCO, 1997)
Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os 
Direitos Humanos:
h t t p : / / u n e s d o c . u n e s c o . o r g /
images/0012/001229/122990por.pdf
Saiba mais! Quinta geração ou dimensão
O direito à paz, está colocado entre os direitos de 
quinta geração porque possui características próprias e 
independentes. Pela sua importância para a humanidade, 
esse direito tem sido tratado com destaque, ocupando espaço 
mais importante que os demais direitos fundamentais. 
O direito à paz surgiu primeiramente na Declaração das 
Nações Unidas, sendo que posteriormente, foi mencionado 
na Declaração da Conferência de Teerã sobre os Direitos 
Humanos, de 13 de maio de 1968, que reconheceu que a 
ausência de paz é prejudicial ao cumprimento dos direitos 
humanos.
A Resolução 33/73, aprovada na 84ª Sessão Plenária da 
Assembleia da ONU, de 14 de dezembro de 1978, consagrou 
expressamente a paz como direito fundamental, ao tratar 
sobre a preparação das sociedades para viver em paz. Neste 
há o reconhecimento de que “la paz entre lasnaciones es el 
valor supremo de lahumanidad, que aprecian em elmás alto 
grado todos losprincipales movimientos políticos, sociales y 
religiosos”. (ONU, 1978)
A paz é reconhecida assim como “condição indispensável 
ao progresso de todas as nações, grandes e pequenas, 
em todas as esferas”. Isso porque, logo no item 1, há a 
disposição de que diz:
“CONSIDERANDO que o reconhecimento da dignidade 
inerente a todos os membros da família humana e seus 
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, 
da justiça e da paz no mundo,” (ONU, 1948)
proibição 
para fins não 
humanísticos 
e questões 
éticas
6
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/
UDHR_Translations/por.pdf
Saiba mais!
Entre os deveres dos Estados expressos nos instrumentos de direitos humanos, merece 
particular destaque a proibição, por lei, de qualquer propaganda favorável à guerra e da 
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitui incitamento à discriminação, 
hostilidade ou violência [...]
Neste contexto, a era dos direitos percorre os antecedentes 
do principal marco de conscientização dos direitos humanos 
e difusos, que foi a Declaração Universal dos Direitos do 
Homem, assinada em Paris em 1948, depois do cataclisma da 
Segunda Grande Guerra. Logo na introdução, Bobbio (1992) 
nos assegura que os direitos sempre existiram, mesmo em 
regimes feudais, onde súditos, muito antes do advento dos 
cidadãos, já tinham direitos à segurança da nobreza.
No capítulo sobre os fundamentos dos direitos do homem, 
Bobbio (1992), retorna a Kant quando defi ne a liberdade 
como o mais fundamental entre os direitos fundamentais 
da vida, da propriedade e da justiça, esta última a própria 
garantia da liberdade. 
Reafi rma também a precedência dos direitos civis e políticos 
diante dos direitos econômicos e sociais e acompanha 
Marshal na defi nição historiográfi ca obrigatória dos direitos 
de primeira (civis), segunda (políticos), terceira (econômicos 
e sociais) e quarta gerações (direitos difusos do meio-
ambiente e da genética). 
Bobbio (1999), na defesa dos Direitos fundamentais, afi rma: 
“o problema fundamental em relação aos direitos do homem, 
hoje, não é tanto o de justifi cá-los, mas o de protegê-los. 
Trata-se de um problema não fi losófi co, mas político”.
violência
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Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
Se mesmo os direitos fundamentais são relativizados 
pela história, como a menor importância que se 
passou a dar ao direito da propriedade, desde o 
século XIX, em face da maior importância ao direito 
da vida, entendendo-se aí uma ameaça ao direito 
mais intrínseco à humanidade, que é a liberdade, 
como não arguir que a garantia fundamental de 
todos os direitos é a justiça e o estado de direito?
Não serão estas as “verdades evidentes em si 
mesmas” a que se referia Jefferson na declaração 
de independência americana de 1776?
pare e reflita
1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração 4ª Geração
Liberdade Igualdade Fraternidade Democracia (direta)
Direitos negativos 
(não agir)
Direitos a 
prestações 
Direitos civis 
e políticos: 
liberdade política, 
de expressão, 
religiosa, comercial
Direitos sociais, 
econômicos e 
culturais
Direito ao 
desenvolvimento, 
ao meio-ambiente 
sadio, direito à paz
Direito à 
informação, à 
democracia direta 
e ao pluralismo
Direitos individuais Direitos de uma coletividade Direitos de toda a Humanidade
Estado Liberal Estado social e Estado democrático e social
Leia mais: http://jus.com.br/artigos/4666/criticas-a-teoria-das-geracoes-ou-mesmo-dimensoes-dos-direitos-
fundamentais#ixzz3a9ZmAhnO
Pois bem, Bobbio (1992) novamente retorna a Kant que 
identifica a liberdade como autonomia; o direito natural 
do homem de obedecer apenas à lei de que ele mesmo 
é autor e, neste sentido, obrigar outros à esta mesma 
faculdade moral do homem, a este direito inato que lhe é 
transmitido pela sua própria natureza. A opção neste caso 
pela determinação do coletivo pelo individual é evidente, uma 
vez que a cada cidadão, um juízo e um voto, fundamento 
da própria democracia. 
Se nos estados despóticos, os indivíduos só têm deveres 
e quase nenhum direito e nos estados monárquicos os 
indivíduos só têm direitos privados, nos estados de direito os 
indivíduos vão dispor de direitos privados e também públicos, 
pois estes são estados de cidadãos.
8
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
Cidadãos com plenos direitos garantidos pelo Estado e, entre os quais, o direito de questionar 
o próprio Estado, transformando-os desta forma em cidadãos do mundo. Se na Pax Perpetua, 
Kant afirma que se trata de um bem forçosamente universal, da mesma forma a plena 
cidadania é planetária e para além do próprio Estado. Antes de Kant, Locke já garantia a 
liberdade como igualdade diante da lei que, por sua vez, é a única forma de se garantir a 
segurança e a vida diante de poderes ilimitados do próprio Estado. 
Aqui, vale lembrar a citação de Milton Friedman, economista americano prêmio Nobel de 1976:
“A sociedade que coloca 
a igualdade à frente da 
liberdade irá terminar sem 
igualdade e sem liberdade.”
Só a partir da Declaração de Independência americana é que 
os direitos do homem prevalecem sobre os deveres diante do 
Estado. Até 1776, seguindo a tradição dos códigos morais de 
Hamurabi, da Torá e das Doze Tábuas, as regras codificadas 
são mais das obrigações do que dos direitos. Mesmo os 
artigos da Carta Magna, de 1215, e do Bill of Rights, de 
1689, estabelecem direitos concedidos pelo soberano, o que 
é totalmente inverso do espírito da Declaração Americana 
que afirma uma democracia como soberania dos cidadãos, 
a partir da afirmação do princípio da maioria e da vontade/
voto individual. Se a concepção individualista da sociedade 
for eliminada, não será mais possível justificar a democracia 
como uma boa forma de governo.
9
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
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10
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
T2 O acesso a participação política 
É possível uma cidadania política dentro dos limites da sociedade 
capitalista?
Para Marshall, a cidadania política na sociedade industrial moderna ou contemporânea 
designa a participação do povo. Essa participação concretiza-se, segundo Marshall, como 
exercício efetivo, por parte do povo, do direito de escolher os seus governantes. E o exercício 
efetivo desse direito implica, de um lado, a existência de um processo eleitoral autêntico, 
supervisionado por instituições judiciárias independentes, que garantam a correspondência 
entre os resultados das eleições e a vontade eleitoral da maioria social; de outro lado, a 
existência de governantes que de fato governem, o que supõe a presença de um Parlamento 
forte, efetivamente participante na tomada das grandes decisões nacionais.
Contraponto
Podemos colocar em discussão a visão de Marshall, tendo em vista que a "participação 
do Povo no exercício do poder político" é, mais que uma realidade ou uma possibilidade. A 
participação do povo nas decisões e no poder político deve garantir a reivindicação e defesa 
dos direitos políticos. Tais direitos consistem na liberdade de ir e vir e de manifestar livremente 
a sua vontade, bem como na capacidade de se apropriar de bens ou de si mesmo e de fazer 
valer contra terceiros essa capacidade.
http://noticias.terra.com.br/brasil/protesto-
tarifa/
Saiba mAIS
REPORTAGENS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES NO BRASIL
Veja um exemplo da manifestação da vontade popular.
17 de Junho, Brasília
Manifestantes ocupam a Esplanada dos Ministérios 
Manifestantes e policiais militares entraram em confronto 
durante a tarde em Brasília depois que um grupo tentou 
subir a rampa do Congresso Nacional. A Polícia Militar 
usou spray de pimenta e armas taser (não letal) para conter 
alguns protestantes, que entraram no espelho d'água. Dois 
manifestantes foram presos. À noite, um grupo conseguiu 
furar o bloqueio e subiu no prédio do Congresso Nacional 
pela lateral do edifício. A PM respondeu com bombas, mas 
os manifestantes retornaram em maior número e ocuparam 
o local onde fi cam as abóbadas invertidas. Eles gritavam 
frases como "aha-uhu, o Congresso é nosso". Do lado de 
baixo, no gramado, manifestantes cantavam o hino nacional 
segurando os celulares acesos. 
17 de Junho, Rio de Janeiro
Manifestantes e polícia entram em confronto em frente à Alerj 
Depois de um começo de manifestação pacífi co, a polícia e 
os manifestantes entraram em confronto durante os protestos 
contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. O 
enfrentamento aconteceu em frente à Assembleia do Estado 
do Rio de Janeiro (Alerj), que recebeu forte policiamento para 
evitar pichações. Os manifestantes fi zeram fogueiras nas 
imediações do prédio e atearam fogo em dois carros, um no 
estacionamento e outro atrás da Alerj. No fi m da noite, um 
grupo de manifestantes conseguiu invadir o prédio, quebrou 
janelas, ateou fogo na porta e tirou cadeiras de dentro do 
edifício. 
a existência 
de um 
processo 
eleitoral 
autêntico
11
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
Fonte das reportagens acima: http://noticias.
terra.com.br/brasil/protesto-tarifa/
Saiba mAIS
17 de Junho, São Paulo
Em São Paulo mais de 65 mil pessoas, de acordo com 
estimativa do Datafolha, participaram do maior protesto até 
agora contra o aumento das tarifas do transporte público. 
Os manifestantes se reuniram no largo da Batata e, de 
lá, partiram em marcha pela rua Brigadeiro Faria Lima. O 
protesto terminou na avenida Paulista. Um grupo de cerca de 
10 policiais militares acompanharam ativistas e se sentaram 
na avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Eles foram 
aplaudidos por integrantes do protesto. 
17 de Junho, Recife
Munidas de cartazes, centenas de pessoas foram às ruas em 
Recife (PE) na noite de 17 de junho para protestar contra a 
tarifa do transporte público e a corrupção, além de reivindicar 
melhorias, o passe livre estudantil e a meia passagem 
intermunicipal. O movimento teve o apoio da União dos 
Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe). O 
protesto começou no Diretório Central dos Estudantes (DCE) 
da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e seguiu 
pela avenida Conde da Boa Vista até a praça do Derby. Não 
houve tumulto ou confronto. 
Cidadania x Política
De forma elementar podemos dizer que o direito político diz 
respeito ao direito de participar do poder político, como eleito ou 
eleitor. Esses direitos são praticados institucionalmente através 
do Parlamento e os Conselhos de Governo. Segundo Marshall, 
o século XIX foi o período formativo dos direitos políticos. 
Os direitos políticos só surgiram a partir do momento que 
os direitos civis, principalmente aqueles ligados à liberdade 
se consolidaram. 
Evolução dos Direitos Políticos
Observando a evolução histórica dos direitos políticos, 
vemos que no século XVIII, esses direitos encontravam-se 
ainda defi cientes em sua distribuição para os padrões da 
cidadania democrática. O direito de voto era ainda restrito 
a determinados grupos. Marshall (2002), afi rma que nesse 
momento não se conferia um direito, mas reconhecia uma 
capacidade. 
“Nenhum cidadão respeitador da lei era impedido, devido ao 
status pessoal, de votar. Era livre para receber remuneração, 
adquirir propriedade de alugaruma casa e para gozar 
quaisquer direitos políticos que estivessem associados a 
esses feitos econômicos” (Marshall, 2002)
Já no século XX, abandona-se essa posição de atrelamento 
dos direitos políticos aos civis e se associa direito político 
à cidadania propriamente dita, não sendo o último apenas 
complemento do primeiro. Um exemplo disso é que o direito 
ao voto deixa de estar associado a condição econômica e 
passa a considerar apenas o status pessoal de cidadão.
direito
político
12
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
“Todo o poder emana do 
povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos 
desta Constituição”
http://noticias.terra.com.br/brasil/protesto-tarifa/
Saiba mAIS
Aspectos jurídicos da Cidadania e dos Direitos Políticos
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, 
nos termos desta Constituição” 
O artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988, apresenta o conceito de 
cidadania representativa, que se processa através do voto, sendo, portanto, considerada 
indireta. 
Já a cidadania participativa, que tem suas formas também descritas no texto da Constituição 
Federal é considerada direta e se processa através de instrumentos como:
• Iniciativa popular, referendo e plebiscito (art. 14, I, II e III); 
• Participação de trabalhadores e empregadores na administração (art. 10);
• Participação na administração da justiça pela ação popular, participação na 
fi scalização fi nanceira municipal (art. 31, §3º); 
• Participação da comunidade na seguridade social (art. 194, VII); 
• Participação na administração do ensino (art. 206, VI).
13
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM
Direitos Políticos 
O Direito político consistente no conjunto de normas que disciplinam os meios necessários ao 
exercício da soberania popular. Os direitos políticos, ao contrário dos direitos do indivíduo, 
não se opõem ao Estado, são direitos que tratam de prerrogativas que conferem ao indivíduo 
a liberdade de participar da vida política do Estado. Em regra, só têm acesso aos direitos 
políticos os nacionais, pois a nacionalidade é um dos pressupostos do exercício da cidadania.
Obs. Não se confunde nacionalidade e cidadania: Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de 
direito público interno, que liga um indivíduo a determinado Estado. Cidadania é atributo político 
que decorre do direito de participar no governo e de ser ouvido pela representação política.
Juridicamente cidadão é o indivíduo com capacidade eleitoral ativa e passiva, isto é, titular 
do direito de votar e ser votado. Os direitos de cidadania adquirem-se mediante alistamento 
eleitoral.
Em suma, a cidadania se adquire com a qualidade de eleitor e se manifesta documentalmente 
pela posse do título de eleitor.
Divisão dos Direitos Políticos 
Direitos Políticos Positivos 
Os Direitos Políticos Positivos são aqueles que irão garantir a participação do povo no poder 
mediante o sufrágio. Determinam como os indivíduos adquirem a cidadania, e a maneira de 
exercê-la. O seu núcleo é o direito ao sufrágio, que é a expressão de duas capacidades: 
a) Capacidade eleitoral ativa – participação do povo no processo eleitoral. É o direito de votar, 
que pressupõe o preenchimento de alguns requisitos, para a alistabilidade. 
b) Capacidade eleitoral passiva – é o direito de ser votado. Decorre do atributo da elegibilidade. 
Para que alguém seja elegível, necessário que tenha capacidade eleitoral ativa – só será 
eleito se for eleitor.
14
Dimensões jurídicas e políticas da cidadania Cidadania | UNISUAM 
Direitos Políticos Negativos
No caso dos Direitos Políticos Negativos, a lei apresenta 
regras que privam o cidadão de votar e de ser votado, pela 
perda defi nitiva ou temporária (suspensão) dos direitos 
políticos, e, ainda, determinam restrições à elegibilidade do 
cidadão, considerando certas circunstâncias. 
Prevalece o princípio da plenitude do gozo dos direitos 
políticos, devendo qualquer interpretação em sentido 
contrário ser restritiva. Duas são as espécies de direitos 
políticos negativos: 
a) Privação dos direitos políticos. 
b) Inelegibilidade.
políticos, e, ainda, determinam restrições à elegibilidade do políticos, e, ainda, determinam restrições à elegibilidade do 
cidadão, considerando certas circunstâncias. cidadão, considerando certas circunstâncias. 
Prevalece o princípio da plenitude do gozo dos direitos Prevalece o princípio da plenitude do gozo dos direitos 
políticos, devendo qualquer interpretação em sentido políticos, devendo qualquer interpretação em sentido 
contrário ser restritiva. Duas são as espécies de direitos contrário ser restritiva. Duas são as espécies de direitos 
https://www.youtube.com/watch?v=FfWxe-8iI94
aprofundando
T3 A expansão efetiva da cidadania 
O exercício efetivo da cidadania pode ser um instrumento de combate à exclusão? 
Vejamos como a expansão cidadania tem contribuído para enfrentar a questão social mais 
importante nos nossos dias: A exclusão
Os caminhos da exclusão: 
A exclusão se refere a não incorporação de uma parte da população à comunidade social e 
política, negando seus direitos de cidadania - envolvendo a igualdade de tratamento ante a 
lei e as instituições públicas - e impedindo seu acesso à riqueza produzida no país. 
De uma forma mais profunda, a exclusão implica a construção de uma normatividade que 
separa os indivíduos, impedindo sua participação na esfera pública. Trata-se de um processo 
relacional e cultural que regula a diferença como condição de não inclusão, apresentando 
também uma manifestação territorial, seja como gueto ou favela. Esta fratura socio-política, 
que se manifesta na convivência em uma mesma sociedade de uma dupla institucionalidade, 
impede a constituição das dimensões nacional, republicana e democrática, retirando 
legitimidade ao exercício do poder e restringindo a esfera pública (Fleury, 2002). 
Grande parte dos estudos econômicos e políticos tem se dedicado à questão da pobreza, 
tratando-a como uma questão de desigualdade, sem distingui-la analiticamente da exclusão. 
No entanto, Santos (2006) sublinha a diferença entre desigualdade e exclusão:
“Se a desigualdade é um fenômeno socio-econômico, a exclusão é, sobretudo, um fenômeno 
cultural e social, um fenômeno de civilização. Trata-se de um processo histórico através do 
qual uma cultura, por via de um discurso de verdade, cria a interdição e a rechaça”
 “O sistema da desigualdade se assenta, paradóxicamente, no caráter essencial da igualdade; 
o sistema da exclusão se assenta no caráter essencial da diferença... o grau extremo da 
exclusão é o extermínio; o grau extremo da desigualdade é a escravidão.” 
Para Hannah Arendt (1993) os fundamentos da condição humana encontram-se na relação 
entre o discurso e a ação, pois aí encontramos o lugar do sujeito. Por conseguinte, se a 
apropriação discursiva é o fundamento da condição humana, é a proibição do discurso o 
que despoja aos indivíduos de sua condição de atores, da possibilidade de inclusão em uma 
ordem simbólica relacional, constituída por uma trama de atos e palavras. A constituição de 
sujeitos de ação, sua possibilidade de inserção, passa, necessariamente, pelo resgate de 
sua possibilidade discursiva.
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h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m /
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Saiba mAIS
Dessa forma, a exclusão é um processo cultural que implica o estabelecimento de uma norma 
que proíbe a inclusão de indivíduos, grupos ou populações em uma comunidade sócio-política.
Os grupos excluídos estão, em geral, impossibilitados de participar das relações econômicas 
predominantes -- no mercado, como produtores e/ou consumidores--e das relações políticas 
vigentes, os direitos de cidadania.
No entanto, a coexistência, em um mesmo grupo populacional, de situações de pobreza, 
ausência de direitos sociais ou de condições de exercê-los, e sua exclusão da comunidade 
sócio-política, não nos deve confundir e levar-nos a pensar que se trata de um fenômeno 
simples, subordinado à dimensão econômica, o que implicaria em uma estratégia técnico-
redistributiva de enfrentamento desta complexa condição.
Em países como os latino-americanos em que a exclusão tem um forte conteúdo econômico, 
não é possível combater a exclusão sem a redistribuição da riqueza. No entanto, o combate à 
exclusão não se reduz à esta dimensão econômica, já que a esta, apesar de ser a dimensão 
fundamental, não existe isolada do contexto sócio-cultural que a legitima e reproduz. Em 
outros termos, a concentração da riqueza é um fenômeno político, que impede a constituição 
de sujeitos políticos capazes de reivindicar sua inserção na esfera pública.
Não há como negar a associação entre exclusão e violência, tema que tem sido amplamente 
omitido no debate atual, ainda sendo a violência a manifestação mais evidente da questão 
social. A emergência de uma questão social requer e reivindica seu enquadramento por meio 
de políticas e instituições específi cas, em geral, as chamadas políticas sociais. Por suposto, 
uma mesma questão será respondida de diferentes maneiras em contextos políticos, culturais 
e institucionais distintos, gerando diversos padrões de proteção social.
Neste ponto nos deparamos com uma forte contradição, pois mesmo com um grande 
desenvolvimento das ciências sociais se ocupando da mensuração da pobreza e da defi nição 
de estratégias individualizadas de focalização e reformas dos sistemas de política social, de 
outro modo assistimos ao crescente “cercamento” dos espaços públicos e privados, como 
estratégia de defesa patrimonial contra os pobres coletivizados como classes perigosas. 
Não podemos desprezar o papel da “mídia” na reprodução 
sistemática de normas de exclusão e na reificação de 
identidades sociais polarizadas. A difusão de valores 
individualistas e de consumo, prevalecendo sobre normas 
solidárias, mina as possibilidades de construção de vínculos 
sociais que transitem e superem a fratura urbana, que no 
Brasil foi denominada como “cidade partida”.
“rolézinho”
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No ponto 
central da 
política está 
sempre a 
preocupação 
com o mundo
T4 Implicações entre Estado, sociedade e mercado para a cidadania 
Sem democracia, sem direitos humanos?
Para que tipo de Estado está se encaminhando a sociedade de massas da era informacional, 
a sociedade de risco, e qual o papel da Constituição e do cidadão neste contexto? 
Os direitos humanos e a democracia são elementos fundamentais para o sucesso do regime 
socialista-liberal defendido por Bobbio (1992). 
O desenvolvimento dos direitos humanos nas últimas décadas representou uma importante 
expressão na transformação do pensamento jurídico em um número crescente de países. 
Nesse contexto, na fi losofi a bobbiana, direitos humanos e democracia são elementos 
necessários do mesmo movimento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e 
protegidos, não há democracia; sem democracia, não existem as condições mínimas para 
o desenvolvimento do socialismo-liberal.
O Estado liberal é tido como limitado tanto com respeito aos seus poderes quanto às suas 
funções. O primeiro é o Estado de direito e o segundo é o Estado mínimo. Contudo, é possível 
que um Estado de direito não seja mínimo, como também um Estado mínimo que não seja 
um Estado de direito. O Estado de direito se opõe ao Estado absoluto; o Estado mínimo se 
contrapõe ao Estado máximo.
O cidadão, o Estado e a cidadania
Para a Hannah Arendt a constituição do sujeito é política, decorrente da pluralidade humana. 
Ser e Aparecer coincidem, pois é no mundo que o sujeito se revela, sendo que os atos e as 
palavras expressam a liberdade humana. Da interação dos cidadãos no espaço político surge 
o autêntico poder que legitima as instituições políticas e o direito positivado. 
“No ponto central da política está sempre a preocupação com o mundo”,... e o sentido da 
política é a liberdade.” (Arendt)
Arendt identifi ca a liberdade com o poder de começar a ação política conjunta capaz de 
interferir nos processos desencadeados pela interação humana.
A liberdade está presente no âmbito da política, pois o homem, ao participar da “teia” de 
relações humanas, ao agir, tem o dom de romper o processo de causa e efeito de que a toda 
ação corresponde uma re-ação, e pode fazer surgir o inédito. São verdadeiros milagres, no 
sentido de algo novo desencadeado pela vontade humana, que ocasionam interrupções a 
uma série qualquer de acontecimentos.
O voto é a única expressão de democracia?
A democracia não se restringe apenas no direito de voto. Numa sociedade aberta, ela 
se desenvolve também por meio de formas refi nadas de mediação do processo público 
e pluralista da política e da prática cotidiana, especialmente mediante a realização dos 
Direitos Fundamentais.
Nessa perspectiva, o “povo” deixa de ser apenas um referencial quantitativo que se manifesta 
no dia da eleição e que, enquanto tal, confere legitimidade democrática ao processo de decisão.
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Notas sobre uma “nova cidadania”
A chamada “nova cidadania”, ou cidadania ampliada começou a ser formulada pelos 
movimentos sociais que, a partir do fi nal dos anos setenta e ao longo dos anos oitenta, se 
organizaram no Brasil em torno de demandas de acesso aos equipamentos urbanos como 
moradia, água, luz, transporte, educação, saúde, etc. e de questões como gênero, raça, 
etnia, etc. Inspirada na sua origem pela luta pelos direitos humanos (e contribuindo para a 
progressiva ampliação do seu signifi cado) como parte da resistência contra a ditadura, essa 
concepção buscava implementar um projeto de construção democrática, de transformação 
social, que impõe um laço constitutivo entre cultura e política. Incorporando características de 
sociedades contemporâneas, tais como o papel das subjetividades, o surgimento de sujeitos 
sociais de um novo tipo e de direitos também de novo tipo, bem como a ampliação do espaço 
da política, esse projeto reconhece e enfatiza o caráter intrínseco da transformação cultural 
com respeito à construção da democracia. Nesse sentido, a nova cidadania inclui construções 
culturais, como as subjacentes ao autoritarismo social como alvos políticos fundamentais da 
democratização. (DAGNINO, 2004)
A redefi nição da noção de cidadania formulada pelos movimentos sociais, expressa não 
somente uma estratégia política, mas também uma política cultural.
O primeiro elemento marcante desta concepção determina que a nova cidadania assume 
uma redefi nição da ideia de direitos, cujo ponto de partida é a concepção de um direito a 
ter direitos. Essa concepção não se limita a provisões legais, ao acesso a direitos defi nidos 
previamente ou à efetiva implementação de direitos formais abstratos. Ela inclui a criação de 
novos direitos, que surgem de lutas específi cas e de suas práticas concretas.
Direitos novos: 
• Direito à autonomia sobre o próprio corpo; 
• Direito à proteção do meio ambiente; 
• Direito à moradia; 
• Direito à igualdade e principalmente o direito à diferença, aprofunda e amplia o 
direito à igualdade.
- Direitos das minorias (homossexuais, negros etc); 
- Liberdade religiosa;
Segundo elemento, fundamental, que implica o direito a 
ter direitos, é que a nova cidadania, não está vinculada 
a uma estratégia das classes dominantes e do Estado de 
incorporação política gradual dos setores excluídos, com 
o objetivo de uma maior integração social ou como uma 
condiçãolegal e política necessária para a instalação do 
capitalismo. 
A nova cidadania requer a constituição de sujeitos sociais 
ativos, defi nindo o que consideram ser seus direitos e lutando 
para seu reconhecimento enquanto tais. Essa, seria uma 
estratégia dos não-cidadãos, dos excluídos, que buscam 
construir uma cidadania “desde baixo”.
Um terceiro ponto é a ideia de que a nova cidadania 
ultrapassa uma referência central no conceito liberal, 
que é a reivindicação ao acesso, inclusão, participação e 
pertencimento a um sistema político já dado. 
um direito
a ter direitos
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O reconhecimento dos direitos de cidadania, tal como é defi nido por aqueles que são excluídos 
dela no, Brasil de hoje, aponta para transformações radicais em nossa sociedade e em sua 
estrutura de relações de poder. Daí a importância que essa noção adquiriu na emergência 
de experiências participativas como os Orçamentos Participativos e outras. Aqui, setores 
populares e suas organizações lutam para abrir espaço para o controle democrático do 
Estado mediante a participação efetiva dos cidadãos no poder. 
Então, a cidadania não está mais confi nada dentro dos limites das relações com o Estado, 
ou entre Estado e indivíduo, mas deve ser estabelecida no interior da própria sociedade, 
como parâmetro das relações sociais que nela se travam.
Cidadania e mercado 
A disseminação de uma concepção de cidadania como um processo de aprendizagem social, 
de construção de novos tipos de relações sociais, que implicam, a constituição de cidadãos 
como sujeitos sociais ativos impôs, também a sociedade aprender a viver em termos diferentes 
com esses cidadãos emergentes que se recusam a permanecer nos lugares defi nidos 
social e culturalmente para eles. Essa concepção orientou não só as práticas políticas de 
movimentos sociais de vários tipos, mas também mudanças institucionais, como as incluídas 
na Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”.
Além disso, a propagação dessa nova concepção de cidadania foi determinante para que, 
no Brasil, a expressão “cidadania” deixasse de designar, apenas, o conjunto da população, e 
passou a ter um signifi cado político claro, que passa a ser alvo das concepções neoliberais 
de cidadania.
Concepções neoliberais de cidadania 
O primeiro ponto devemos destacar sobre as concepções neoliberais de cidadania, é que 
elas antes de tudo, reduzem o signifi cado coletivo de cidadania anteriormente empreendido 
pelos movimentos sociais, trazendo um entendimento estritamente individualista. 
No segundo ponto em que se baseiam as concepções neoliberais de cidadania, se estabelece 
uma conexão entre cidadania e mercado. 
Na visão neoliberal, tornar-se cidadão passa a signifi car a integração individual ao mercado, 
como consumidor e como produtor. Essa é, portanto, a base para o surgimento de diversos 
programas para ajudar as pessoas a “adquirir cidadania”, isto é, aprender como iniciar 
microempresas e/ou, tornar-se qualifi cado para os poucos empregos ainda disponíveis. 
Esse contexto criado pela concepção de cidadania neoliberal, isenta o Estado de seu papel 
de garantidor de direitos, ao mesmo tempo em que coloca o mercado como uma instância 
substituta para a cidadania.
Constituição Cidadã
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E como consequências...
Essa inversão de papéis acima observada, no caso específi co do Brasil, trouxe sérias 
consequências paras as classes trabalhadoras: 
Os direitos trabalhistas estão sendo eliminados em nome da livre negociação entre patrões 
e empregados, da “fl exibilidade” do trabalho, etc., 
Os direitos sociais garantidos pela Constituição Brasileira desde os anos quarenta eliminados 
sob a lógica de que eles constituem obstáculos ao livre funcionamento do mercado, 
restringindo assim o desenvolvimento e a modernização. 
Os cidadãos/portadores de direitos são inimigos das reformas desenhadas para encolher as 
responsabilidades do Estado.
O reconhecimento de direitos, considerado no passado recente como indicador de 
modernidade, torna-se símbolo de “atraso”. 
O que se pretende com essa concepção, é legitimar o Mercado como instância alternativa 
de cidadania, isso se processa quando o mercado passa a representar único caminho para 
a inclusão social.
Texto base: DAGNINO, Evelina (2004) “¿Sociedade civil, participação e 
cidadania: de que estamos falando?” En Daniel Mato (coord.), Políticas 
de ciudadanía y sociedad civil en tiempos de globalización . Caracas: 
FACES, Universidad Central de Venezuela, pp. 95-110. in: http://www.
plataformademocratica.org/Publicacoes/3909.pdf - acesso em 23/03/2015
Constituição Cidadã
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garante-igualdade-social acesso em 15/2/2015
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http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_33/rbcs33_01.htm - Acesso em 
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http://www.enap.gov.br/downloads/ec43ea4fMariaLucia1.pdf - Acesso em 23/03/2015https://xadrezverbal.fi les.
wordpress.com/2013/10/
constituic3a7c3a3o.jpg
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