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Aula 02 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXIV Exame - Com videoaulas Professor: Renan Araujo DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 63 AULA 02: CRIME. CONCEITO. ELEMENTOS (PARTE I): FATO TêPICO; CLASSIFICAÌO DOS CRIMES (DOLOSO, CULPOSO, CONSUMADO, TENTADO E IMPOSSêVEL). ILICITUDE. SUMçRIO 1. DO CRIME .................................................................................................... 3 1.1. Fato tpico e seus elementos .................................................................... 5 1.1.1. Conduta .................................................................................................. 5 1.1.2. Resultado naturalstico .............................................................................. 7 1.1.3. Nexo de Causalidade ................................................................................. 8 1.1.4. Tipicidade .............................................................................................. 14 1.2. Crime doloso e crime culposo ................................................................. 19 1.2.1. Crime doloso ......................................................................................... 19 1.2.2. Crime culposo ........................................................................................ 21 1.3. Crime consumado, tentado e impossvel ................................................ 25 1.3.1. Tentativa .............................................................................................. 25 1.3.2. Crime impossvel .................................................................................... 28 1.3.3. Desistncia voluntria e arrependimento eficaz ........................................... 30 1.3.4. Arrependimento posterior ........................................................................ 31 1.4. Ilicitude ................................................................................................. 37 1.4.1. Estado de necessidade ............................................................................ 38 1.4.2. Legtima defesa ...................................................................................... 40 1.4.3. Estrito cumprimento do dever legal ........................................................... 43 1.4.4. Exerccio regular de direito ...................................................................... 44 1.4.5. Excesso punvel ...................................................................................... 44 2. RESUMO .................................................................................................... 48 3. EXERCêCIOS DA AULA ............................................................................... 55 4. GABARITO ................................................................................................. 63 Salve, galera! Na aula de hoje vamos adentrar ao estudo do crime, seu conceito e elementos, estudando os dois primeiros elementos do crime: Fato tpico e ilicitude. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 63 Alm disso, vamos ver as modalidades de CRIME (Doloso, culposo, consumado, tentado e impossvel), conforme as mais variadas classificaes. Trata-se de um tema MUITO cobrado pela FGV nas provas da OAB. Aproximadamente 15% das questes que a FGV j cobrou no Exame de Ordem saram desta aula! Bons estudos! Prof. Renan Araujo DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 63 1.! DO CRIME O Crime um fenmeno social, disso nenhum de vocs duvida. Entretanto, como conceituar o crime juridicamente? Muito se buscou na Doutrina acerca disso, tendo surgido inmeras posies a respeito. Vamos tratar das principais. O Crime pode ser entendido sob trs aspectos: Material, legal e analtico. Sob o aspecto material, crime toda ao humana que lesa ou expe a perigo um bem jurdico de terceiro, que, por sua relevncia, merece a proteo penal. Esse aspecto valoriza o crime enquanto contedo, ou seja, busca identificar se a conduta ou no apta a produzir uma leso a um bem jurdico penalmente tutelado. Assim, se uma lei cria um tipo penal dizendo que proibido chorar em pblico, essa lei no estar criando uma hiptese de crime em seu sentido material, pois essa conduta NUNCA SERç crime em sentido material, pois no produz qualquer leso ou exposio de leso a bem jurdico de quem quer que seja. Assim, ainda que a lei diga que crime, materialmente no o ser. Sob o aspecto legal, ou formal, crime toda infrao penal a que a lei comina pena de recluso ou deteno, nos termos do art. 1¡ da Lei de Introduo ao CP.1 Percebam que o conceito aqui meramente legal. Se a lei cominar a uma conduta a pena de deteno ou recluso, cumulada ou alternativamente com a pena de multa, estaremos diante de um crime. Por outro lado, se a lei cominar a apenas priso simples ou multa, alternativa ou cumulativamente, estaremos diante de uma contraveno penal. Esse aspecto consagra o SISTEMA DICOTïMICO adotado no Brasil, no qual existe um gnero, que a infrao penal, e duas espcies, que so o crime e a contraveno penal. Assim: 1 Art 1¼ Considera-se crime a infrao penal que a lei comina pena de recluso ou de deteno, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contraveno, a infrao penal a que a lei comina, isoladamente, pena de priso simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 63 Vejam que quando se diz Òinfrao penalÓ, est se usando um termo genrico, que pode tanto se referir a um ÒcrimeÓ ou a uma Òcontraveno penalÓ. O termo ÒdelitoÓ, no Brasil, sinnimo de crime. O crime pode ser conceituado, ainda, sob um aspecto analtico, que o divide em partes, de forma a estruturar seu conceito. Primeiramente surgiu a teoria quadripartida do crime, que entendia que crime era todo fato tpico, ilcito, culpvel e punvel. Hoje praticamente inexistente. Depois, surgiram os defensores da teoria tripartida do crime, que entendiam que crime era o fato tpico, ilcito e culpvel. Essa a teoria que predomina no Brasil, embora haja muitos defensores da terceira teoria. A terceira e ltima teoria acerca do conceito analtico de crime entende que este o fato tpico e ilcito, sendo a culpabilidade mero pressuposto de aplicao da pena. Ou seja, para esta corrente, o conceito de crime bipartido, bastando para sua caracterizao que o fato seja tpico e ilcito. As duas ltimas correntes possuem defensores e argumentos de peso. Entretanto, a que predomina ainda a corrente tripartida. Portanto, na prova objetiva, recomendo que adotem esta, a menos que a banca seja muito explcita e vocs entenderem que eles claramente so adeptos da teoria bipartida, o que acho pouco provvel. Todos os trs aspectos(material, legal e analtico) esto presentes no nosso sistema jurdico-penal. De fato, uma conduta pode ser materialmente crime (furtar, por exemplo), mas no o ser se no houver previso legal (no ser legalmente crime). Poder, ainda, ser formalmente crime (no caso da lei que citei, que criminalizava a conduta de chorar em pblico), mas no o ser materialmente se no trouxer leso ou ameaa a leso de algum bem jurdico de terceiro. Desta forma: DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 63 Esse ltimo conceito de crime (sob o aspecto analtico), o que vai nos fornecer os subsdios para que possamos estudar os elementos do crime (Fato tpico, ilicitude e culpabilidade). O fato tpico o primeiro dos elementos do crime, sendo a tipicidade um de seus pressupostos. Vamos estud-lo, ento! 1.1.! Fato tpico e seus elementos O fato tpico tambm se divide em elementos, so eles: ¥! Conduta humana (alguns entendem possvel a conduta de pessoa jurdica) ¥! Resultado naturalstico ¥! Nexo de causalidade ¥! Tipicidade 1.1.1.! Conduta Trs so as principais que teorias buscam explicar a conduta: Teoria causal-naturalstica (ou clssica), finalista e social. Para a teoria causal-naturalstica, conduta a ao humana. Assim, basta que haja movimento corporal para que exista conduta. Esta teoria est praticamente abandonada, pois entende que no h necessidade de se analisar o contedo da vontade do agente nesse momento, guardando esta anlise (dolo ou culpa) para quando do estudo da culpabilidade.2 2 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 287/288 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 63 Para a teoria finalista, de HANS WELZEL, a conduta humana a ao voluntria dirigida a uma determinada finalidade. Assim: Conduta = vontade + ao Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta no existir, o que acarreta a inexistncia de fato tpico. EXEMPLO: Joo olha para Roberto e o agride, por livre espontnea vontade. Estamos diante de uma conduta (quis agir e agrediu) dolosa (quis o resultado). Agora, se Joo dirige seu carro, v Roberto e sem querer, o atinge, estamos diante de uma conduta (quis dirigir e acabou ferindo) culposa (no quis o resultado). Vejam que a ÒvontadeÓ a que me referi como elemento da conduta uma vontade de meramente praticar o ato que ensejou o crime, ainda que o resultado que se pretendesse no fosse ilcito. Quando a vontade (elemento da conduta) dirigida ao fim criminoso, o crime doloso. Quando a vontade dirigida a outro fim (que at pode ser criminoso, mas no aquele) o crime culposo. Porm, por enquanto vamos ficar apenas na ÒvontadeÓ (desculpem o trocadilho) e estudar somente os elementos do fato tpico. ESTA A TEORIA ADOTADA PELO NOSSO CîDIGO PENAL. Vejamos os termos do art. 20 do CP3: Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punio por crime culposo, se previsto em lei. Ora, se a lei prev que o erro sobre um elemento do tipo exclui o dolo, porque entende que o dolo est no tipo (fato tpico), no na culpabilidade. Assim, a conduta , necessariamente, voluntria. A grande evoluo da teoria finalista, portanto, foi conceber a conduta como um Òacontecimento finalÓ4, ou seja, somente h conduta quando o agir de algum dirigido a alguma finalidade (seja ela lcita ou no). Para terceira teoria, a teoria social, a conduta a ao humana, voluntria e que dotada de alguma relevncia social.5 3 DOTTI, Ren Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2012, p. 397 4 DOTTI, Ren Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2012, p. 396 5 DOTTI, Ren Ariel. Op. cit. p. 397 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 63 H crticas a esta teoria, pois a relevncia social no seria um elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade que esta poderia ou no possuir. Assim, a conduta que no fosse socialmente relevante continuaria sendo conduta.6 A conduta humana pode ser uma ao ou uma omisso. A questo : Qual o resultado naturalstico que advm de uma omisso? Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Assim, aquele que se omite na prestao de socorro a algum, pode estar cometendo o crime de omisso de socorro, art. 135 do Cdigo Penal (que um crime formal, pois a morte daquele a quem no se prestou socorro irrelevante), no porque causou a morte de algum (at porque este resultado irrelevante e no fora diretamente provocado pelo agente), mas porque descumpriu um comando legal. Entretanto, o art. 13, ¤ 2¡ do CP diz o seguinte: ¤ 2¼ - A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado. Esse artigo estabelece o crime omissivo imprprio. Nesses crimes, quando o agente se omite na prestao do socorro ele no responde por omisso de socorro (art. 135 do CP), mas responde pelo resultado ocorrido (por exemplo, a morte da pessoa a quem ele deveria proteger). EXEMPLO: O Pai leva o filho de 04 anos praia e o deixa brincando beira da gua e sai para beber cerveja com os amigos. Quando retorna, v que seu filho fora levado ao mar por um maluco que pretendia mata- lo, tendo a criana morrido. Nesse caso o Pai no responde por omisso de socorro, mas por homicdio doloso consumado, pois tem a obrigao legal de cuidar do filho. Mas como se pode dizer que a conduta do pai matou o filho? Tecnicamente falando, a conduta do pai no gerou a morte do filho. O que gerou a morte do filho foi o afogamento. Entretanto, pela teoria naturalstico-normativa, a ele imputado o resultado, em razo do seu descumprimento do dever de vigilncia. 1.1.2.! Resultado naturalstico O resultado naturalstico a modificao do mundo real provocada pela conduta do agente.7 6 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 246/247 7 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 63 Entretanto, apenas nos crimes chamados materiais se exige um resultado naturalstico. Nos crimes formais e de mera conduta no h essa exigncia. Os crimes formais so aqueles nos quais o resultado naturalstico pode ocorrer, mas a sua ocorrncia irrelevante para o Direito Penal. J os crimes de mera conduta so crimes em que no h um resultado naturalstico possvel. Vou dar um exemplo de cada um dos trs: ¥! Crime material Ð Homicdio. Para que o homicdio seja consumado, necessrio que a vtimavenha a bito. Caso isso no ocorra, estaremos diante de um homicdio tentado (ou leses corporais culposas); ¥! Crime formal Ð Extorso (art. 158 do CP). Para que o crime de extorso se consume no necessrio que o agente obtenha a vantagem ilcita, bastando o constrangimento vtima; ¥! Crime de mera conduta Ð Invaso de domiclio. Nesse caso, a mera presena do agente, indevidamente, no domiclio da vtima caracteriza o crime. No h um resultado previsto para esse crime. Qualquer outra conduta praticada a partir da configura crime autnomo (furto, roubo, homicdio, etc.). Alm do resultado naturalstico (que nem sempre estar presente), h tambm o resultado jurdico (ou normativo), que a leso ao bem jurdico tutelado pela norma penal. Esse resultado sempre estar presente! Cuidado com isso! Assim, se a banca perguntar: ÒH crime sem resultado jurdico?Ó A resposta NÌO!8 1.1.3.! Nexo de Causalidade Nos termos do art. 13 do CP: Art. 13 - O resultado, de que depende a existncia do crime, somente imputvel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido. Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o vnculo que une a conduta do agente ao resultado naturalstico ocorrido no mundo exterior. Portanto, s se aplica aos crimes materiais! Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade: 8 Pelo princpio da ofensividade, no possvel haver crime sem resultado jurdico. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 63 ¥!TEORIA DA EQUIVALæNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA CONDITIO SINE QUA NON) Ð Para esta teoria, considerada causa do crime toda conduta sem a qual o resultado no teria ocorrido. Assim, para se saber se uma conduta ou no causa do crime, devemos retir-la do curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria (Processo hipottico de eliminao de Thyrn). EXEMPLO: Marcelo acorda de manh, toma caf, compra uma arma e encontra Jlio, seu desafeto, disparando trs tiros contra ele, causando-lhe a morte. Retirando-se do curso o caf tomado por Marcelo, conclumos que o resultado teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto, se retirarmos a compra da arma do curso do processo, o crime no teria ocorrido. O inconveniente claro desta teoria que ela permite que se coloquem como causa situaes absurdas, como a venda da arma ou at mesmo o nascimento do agente, j que se os pais no tivessem colocado a criana no mundo, o crime no teria acontecido. Isso um absurdo! Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que o dolo. Logo, s ser considerada causa a conduta que indispensvel ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no exemplo anterior, o vendedor da arma no seria responsabilizado, pois nada mais fez que vender seu produto, no tendo a inteno (nem sequer imaginou) de ver a morte de Jlio. Nesse sentido: CAUSA = conduta indispensvel ao resultado + que tenha sido prevista e querida por quem a praticou Podemos dizer, ento, que a causalidade aqui no meramente fsica, mas tambm, psicolgica. Essa foi a teoria adotada pelo Cdigo Penal, como regra. ¥!TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA Ð Trata-se de teoria tambm adotada pelo Cdigo Penal, porm, somente em uma hiptese muito especfica. Trata-se da hiptese de concausa superveniente relativamente independente que, por si s, produz o resultado9. Como assim? Vamos explicar desde o comeo! As concausas so circunstncias que atuam paralelamente conduta do agente em relao ao resultado. As concausas podem ser: absolutamente independentes e relativamente independentes. As concausas absolutamente independentes so aquelas que no se juntam conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser preexistentes (existiam antes da conduta), concomitantes 9 CUNHA, Rogrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edio. Ed. Juspodivm. Salvador, 2015, p. 232/233 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 63 (surgiram durante a conduta) e supervenientes (surgiram aps a conduta). Exemplos: EXEMPLO (1) Pedro resolve matar Joo, e coloca veneno em seu drink. Porm, Pedro no sabe que Marcelo tambm queria matar Joo e minutos antes tambm havia colocado veneno no drink de Joo, que vem a morrer em razo do veneno colocado por Marcelo. Nesse caso, a concausa preexistente (conduta de Marcelo) produziu por si s o resultado (morte). Nesse caso, Pedro responder somente por tentativa de homicdio. __________________________________________________ EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Joo, e comea a disparar contra ele projteis de arma de fogo. Entretanto, durante a execuo, o teto da casa de Joo desaba sobre ele, vindo a causar-lhe a morte. Aqui, a causa concomitante (queda do teto) produziu isoladamente o resultado (morte). Portanto, Pedro responde somente por homicdio tentado. __________________________________________________ EXEMPLO (3) Pedro resolve matar Joo, desta vez, ministrando em sua bebida certa dose de veneno. Entretanto, antes que o veneno faa efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de pistola contra Joo, o mantando. Nesse caso, Pedro responder somente por homicdio tentado. __________________________________________________ Em todos estes casos o agente NÌO responde pelo resultado ocorrido. Por qual motivo? Sua conduta NÌO FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de cada um destes agentes (nos trs exemplos), o resultado morte ainda assim teria ocorrido da mesma forma. Logo, a conduta dos agentes NÌO considerada causa. Entretanto, pode ocorrer de a concausa no produzir por si s o resultado (absolutamente independente), afastando o nexo entre a conduta do agente e o resultado, mas unir-se conduta do agente e, juntas, produzirem o resultado. Essas so as chamadas concausas relativamente independentes, que tambm podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes. Mais uma vez, vou dar um exemplo de cada uma das trs e explicar quais os efeitos jurdico-penais em relao ao agente. Primeiro comearei pelas preexistentes e concomitantes. Aps, falarei especificamente sobre as supervenientes. EXEMPLO (1) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de faco, causando-lhe a morte. Entretanto, Caio no sabia que Maria era hemoflica, tendo a doena contribudo em grande parte para seu DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 63 bito. Nesse caso, embora a doena (concausa preexistente) tenha contribudo para o bito, Caio responde por homicdio consumado. Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido? No. Caio teve a inteno de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicdio consumado). ___________________________________________________ EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Joo, e coloca em seu drinkdeterminada dose de veneno. Ao mesmo tempo, Ricardo faz a mesma coisa. Pedro e Ricardo querem a mesa coisa, mas no se conhecem nem sabem da conduta um do outro. Joo ingere a bebida e acaba falecendo. A percia comprova que qualquer das doses de veneno, isoladamente, no seria capaz de produzir o resultado. Porm, a soma de esforos de ambas (a soma das quantidades de veneno) produziu o resultado. Assim, Pedro responde por homicdio consumado. Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a prpria e j falada teoria da equivalncia dos antecedentes). Se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? No. Pedro teve a inteno de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo resultado (homicdio consumado). At aqui ns conseguimos resolver todos os casos pela teoria da equivalncia dos antecedentes, da seguinte forma: ¥! Nas concausas absolutamente independentes Ð Em todos os casos a conduta do agente no contribuiu para o resultado. Logo, pelo juzo hiptese de eliminao, a conduta do agente no foi causa. Portanto, no responde pelo resultado. ¥! Nas concausas relativamente independentes (Preexistentes e concomitantes) Ð Em todos os casos a conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo juzo hiptese de eliminao, a conduta do agente foi causa. Portanto, responde pelo resultado. Agora que a coisa complica um pouco. No caso das concausas supervenientes relativamente independentes, podem acontecer duas coisas: §! A causa superveniente produz por si s o resultado §! A causa superveniente se agrega ao desdobramento natural da conduta do agente e ajuda a produzir o resultado. ¥! EXEMPLO (1) - Pedro resolve matar Joo (insistente esse cara!), DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 63 e dispara 25 tiros contra ele, usando seu Fuzil Automtico Ligeiro- Fal, CALIBRE 7.62 (agora vai!). Pedro fica estirado no cho, socorrido por uma ambulncia e, no caminho para o Hospital, sofre um acidente de carro (a ambulncia bate de frente com uma carreta) e vem a morrer em razo do acidente, no dos ferimentos causados por Pedro. ¥! Nesse caso, Pedro responde apenas por tentativa de homicdio. ¥! Por qual motivo? Sua conduta no foi a causa da morte. Mas, se suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? No. Pedro teve a inteno de produzir o resultado? Sim. ¥! Ento por que no responde pelo resultado?? ¥! Aqui o CP adotou a teoria da causalidade adequada. A causa superveniente (acidente de trnsito) produziu por si s o resultado, j que o acidente de ambulncia no o desdobramento natural de um disparo de arma de fogo (esse resultado no consequncia natural e previsvel da conduta do agente10). ¥! Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro), apesar de produzir sozinha o resultado, no absolutamente independente, pois se no fosse a conduta de Pedro, o acidente no teria ocorrido (j que a vtima no estaria na ambulncia). ¥! Por isso dizemos que, aqui, temos: §! Concausa superveniente relativamente independente Ð A conduta de Pedro relevante para o resultado. §! Que por si s produziu o resultado Ð Apesar disso, a conduta de Pedro foi relevante apenas por CRIAR A SITUAÌO, mas no foi a responsvel efetiva pela morte. ¥! EXEMPLO (2) - No mesmo exemplo anterior, Joo socorrido e chegando ao Hospital, submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o ferimento infecciona e Joo morre por infeco. Nesse caso, a causa superveniente (infeco hospitalar) no produziu por si s o resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a morte de Joo. Nesse caso, Pedro responde por homicdio consumado. 10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼ edio. So Paulo, 2015, p. 324/325 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 63 Mas qual a diferena entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A diferena bsica reside no fato de que: §! No exemplo (1) Ð A conduta do agente relevante em apenas um momento: por criar a situao (necessidade de ser transportado pela ambulncia). §! No exemplo (2) - A conduta do agente relevante em dois momentos: (a) cria a situao, ao fazer com que a vtima tenha que ser operada; (b) contribui para o prprio resultado (j que a infeco do ferimento no um novo nexo causal). Segue abaixo um esquema para melhor compreenso: ¥! TEORIA DA IMPUTAÌO OBJETIVA Ð A teoria da imputao objetiva, que foi melhor desenvolvida por Roxin11, tem por finalidade ser uma teoria mais completa em relao ao nexo de causalidade, em contraposio s "vigentes" teoria da equivalncia das condies e teoria da causalidade adequada. Para a teoria da imputao objetiva, a imputao s poderia ocorrer quando o agente tivesse dado causa ao fato (causalidade fsica) mas, ao mesmo tempo, houvesse uma relao de causalidade NORMATIVA, assim compreendida como a criao de um risco no permitido para o bem jurdico que se pretende tutelar. Para esta teoria, a conduta deve: 11 ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 362/411 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 63 a)!Criar ou aumentar um risco Ð Assim, se a conduta do agente no aumentou nem criou um risco, no h crime12. Exemplo clssico: Jos conversa com Paulo na calada. Pedro, inimigo de Paulo, atira um vaso de planta do 10¼ andar, com a finalidade de matar Paulo. Jos v que o vaso ir cair sobre a cabea de Paulo e o empurra. Paulo cai no cho e fratura levemente o brao. Neste caso, Jos deu causa (causalidade fsica) s leses corporais sofridas por Paulo. Contudo, sua conduta no criou nem aumentou um risco. Ao contrrio, Jos diminuiu um risco, ao evitar a morte de Paulo. b)!Risco deve ser proibido pelo Direito Ð Aquele que cria um risco de leso para algum, em tese no comete crime, a menos que esse risco seja proibido pelo Direito. Assim, o filho que manda os pais em viagem para a Europa, na inteno de que o avio caia, os pais morram, e ele receba a herana, no comete crime, pois o risco por ele criado no proibido pelo Direito. c)! Risco deve ser criado no resultado Ð Assim, um crime no pode ser imputado quele que no criou o risco para aquela ocorrncia. Explico: Imaginem que Jos ateia fogo na casa de Maria. Jos causou um risco, no permitido pelo Direito. Deve responder pelo crime de incndio doloso, art. 250 do CP. Entretanto, Maria invade a casa em chamas para resgatar a nica foto que restou de seu filho falecido, sendo lambida pelo fogo, vindo a falecer. Nesse caso, Jos no responde pelo crime de homicdio, pois o risco por ele criado no se insere nesse resultado, que foi provocado pela conduta exclusiva de Maria. 1.1.4.! Tipicidade A tipicidade nada mais que a adequao da conduta do agente a uma previso tpica (norma penal que prev o fato e lhe descreve como crime). Assim, o tipo do art. 121 : Òmatar algumÓ. Portanto, quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, est cometendo fato tpico, pois est praticando uma condutaque encontra previso como tipo penal. No h muito o que se falar acerca da tipicidade. Basta que o intrprete proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso concreto e a conduta prevista na Lei Penal. Se a conduta praticada se amoldar quela prevista na Lei Penal, o fato ser tpico, por estar presente o elemento ÒtipicidadeÓ. CUIDADO! Nem sempre a conduta praticada pelo agente se amolda perfeitamente ao tipo penal (adequao imediata). Ës vezes necessrio que se proceda anlise de outro dispositivo da Lei Penal para se chegar concluso de que um fato tpico (adequao mediata). Por exemplo: Imaginem que Abreu (El Loco) 12 ROXIN, Claus. Op. cit., p. 365 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 63 dispara contra Adriano (El Imperador), que no morre. Nesse caso, como dizer que Abreu praticou fato tpico (homicdio tentado), se o art. 121 diz ÒmatarÓ algum, o que no ocorreu? Nessa hiptese, conjuga-se o art. 121 do CP com seu art. 14, II, que diz ser o crime punvel na modalidade tentada. Isso tambm se aplica aos crimes omissivos imprprios (art. 13, ¤ 2¡ do CP). (FGV - 2012 - OAB - VIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO) Jos conversava com Antnio em frente a um prdio. Durante a conversa, Jos percebe que Joo, do alto do edifcio, jogara um vaso mirando a cabea de seu interlocutor. Assustado, e com o fim de evitar a possvel morte de Antnio, Jos o empurra com fora. Antnio cai e, na queda, fratura o brao. Do alto do prdio, Joo v a cena e fica irritado ao perceber que, pela atuao rpida de Jos, no conseguira acertar o vaso na cabea de Antnio. Com base no caso apresentado, segundo os estudos acerca da teoria da imputao objetiva, assinale a afirmativa correta. A) Jos praticou leso corporal culposa. B) Jos praticou leso corporal dolosa. C) O resultado no pode ser imputado a Jos, ainda que entre a leso e sua conduta exista nexo de causalidade. D) O resultado pode ser imputado a Jos, que agiu com excesso e sem a observncia de devido cuidado. COMENTçRIOS: A questo retrata o exemplo mais clssico sobre a Teoria da Imputao Objetiva. Embora Jos tenha empurrado Joo, e esta conduta tenha sido a causa das leses sofridas por Joo em seu brao, certo que Jos no agiu com dolo de ferir Joo, tendo agido assim para evitar a ocorrncia de um evento ainda mais danoso para este, qual seja, a sua eventual morte em razo do impacto que seria provocado pelo vaso jogado do alto do prdio por Antnio. Assim, como Jos evitou a ocorrncia de um resultado lesivo ainda maior, tendo sido movido por essa inteno, pela Teoria da Imputao Objetiva, no pode responder pelo delito de leses corporais. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð EXAME DE ORDEM) Isadora, me da adolescente Larissa, de 12 anos de idade, saiu um pouco mais cedo do trabalho e, ao chegar sua casa, da janela da sala, v seu companheiro, Frederico, mantendo relaes sexuais com sua filha no sof. Chocada com a cena, no teve DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 63 qualquer reao. No tendo sido vista por ambos, Isadora decidiu, a partir de ento, chegar sua residncia naquele mesmo horrio e verificou que o fato se repetia por semanas. Isadora tinha efetiva cincia dos abusos perpetrados por Frederico, porm, muito apaixonada por ele, nada fez. Assim, Isadora, sabendo dos abusos cometidos por seu companheiro contra sua filha, deixa de agir para impedi-los. Nesse caso, correto afirmar que o crime cometido por Isadora a) omissivo imprprio. b) omissivo prprio. c) comissivo. d) omissivo por comisso. COMENTçRIOS: No caso em tela, Frederico est praticando o delito de estupro de vulnervel, previsto no art. 217-A do CP. A me da vtima, Isadora, no est cometendo omisso de socorro, pois ela tem O DEVER LEGAL de evitar o resultado, j que a vtima sua filha (tendo o dever de proteo, cuidado e vigilncia). Assim, Isadora responder pelo mesmo delito praticado por Frederico (e que ela deveria evitar), ou seja, estupro de vulnervel. Tal imputao se d por fora da causalidade NORMATIVA imposta conduta de Isadora (j que do ponto de vista ÒnaturalÓ ela no praticou qualquer ato relativo ao estupro). Temos, aqui, o que se chama de crime COMISSIVO POR OMISSÌO, ou OMISSIVO IMPRîPRIO, nos termos do art. 13, ¤2¼ do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA A. (FGV Ð X EXAME UNIFICADO DA OAB) Joo, com inteno de matar, efetua vrios disparos de arma de fogo contra Antnio, seu desafeto. Ferido, Antnio internado em um hospital, no qual vem a falecer, no em razo dos ferimentos, mas queimado em um incndio que destri a enfermaria em que se encontrava. Assinale a alternativa que indica o crime pelo qual Joo ser responsabilizado. A) Homicdio consumado. B) Homicdio tentado. C) Leso corporal. D) Leso corporal seguida de morte. COMENTçRIOS: No caso em tela a morte de Antnio se deu em razo de concausa superveniente RELATIVAMENTE INDEPENDENTE (j que sem a conduta de Joo, Antnio no estaria l), mas que produziu, por si s, o resultado (que no decorreu das leses praticadas por Joo). DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 63 Assim, neste caso, nos termos do art. 13, ¤1¼ do CP, Joo responder apenas pelos atos praticados, no sendo imputvel a ele o resultado. Desta forma, responder apenas pela tentativa de homicdio. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B. (FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB) Jos subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente desconhecido, chamado Joo. Tal subtrao deu-se mediante o emprego de grave ameaa exercida pela utilizao de arma de fogo. Joo, entretanto, rapaz jovem e de boa sade, sem qualquer histrico de doena cardiovascular, assusta-se de tal forma com a arma, que vem a bito em virtude de ataque cardaco. Com base no cenrio acima, assinale a afirmativa correta. A) Jos responde por latrocnio. B) Jos no responde pela morte de Joo. C) Jos responde em concurso material pelos crimes de roubo e de homicdio culposo. D) Jos praticou crime preterdoloso. COMENTçRIOS: No caso em tela, Jos praticou o delito de roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo, nos termos do art. 157, ¤2¼, I do CP. Contudo, a morte de Joo no pode ser imputada a Jos, uma vez que a ocorrncia do resultado no entrou na esfera de previsibilidade do agente, que no podia prever que mataria algum pelo susto. Assim, Jos responde apenas pela conduta praticada, e no pelo resultado que no pretendeu produzir. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B. (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIV EXAME DE ORDEM) Wallace, hemoflico, foi atingido por um golpe de faca em uma regio no letal do corpo. Jlio, autor da facada, que no tinha dolo de matar, mas sabia da condio de sade especfica de Wallace, sai da cena do crime sem desferir outros golpes, estando Wallace ainda vivo. No entanto, algumas horas depois, Wallace morre, pois, apesar de a leso ser em local no letal, sua condio fisiolgica agravou o seu estado de sade. Acerca do estudo da relao de causalidade,assinale a opo correta. A) O fato de Wallace ser hemoflico uma causa relativamente independente preexistente, e Jlio no deve responder por homicdio culposo, mas, sim, por leso corporal seguida de morte. B) O fato de Wallace ser hemoflico uma causa absolutamente independente preexistente, e Jlio no deve responder por homicdio culposo, mas, sim, por leso corporal seguida de morte. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 63 C) O fato de Wallace ser hemoflico uma causa absolutamente independente concomitante, e Jlio deve responder por homicdio culposo. D) O fato de Wallace ser hemoflico uma causa relativamente independente concomitante, e Jlio no deve responder pela leso corporal seguida de morte, mas, sim, por homicdio culposo. COMENTçRIOS: Em relao ao caso, o fato de Wallace ser hemoflico uma causa relativamente independente preexistente, e Jlio no deve responder por homicdio culposo, mas, sim, por leso corporal seguida de morte. Isso porque a hemofilia no produziu sozinha o resultado, mas agregou-se conduta de Jlio (relativamente independente). Jlio, porm, no responder por homicdio doloso, pois no teve inteno de matar. O resultado morte, porm, ser a ele imputvel, pois decorreu da conjugao de dois fatores: hemofilia e conduta de Jlio. Jlio responder, portanto, por leso corporal seguida de morte. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA A. (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM) Odete diretora de um orfanato municipal, responsvel por oitenta meninas em idade de dois a onze anos. Certo dia Odete v Elisabeth, uma das recreadoras contratada pela Prefeitura para trabalhar na instituio, praticar ato libidinoso com Poliana, criana de 9 anos, que ali estava abrigada. Mesmo enojada pela situao que presenciava, Odete achou melhor no intervir, porque no desejava criar qualquer problema para si. Nesse caso, tendo como base apenas as informaes descritas, assinale a opo correta. A) Odete no pode ser responsabilizada penalmente, embora possa s-lo no mbito cvel e administrativo. B) Odete pode ser responsabilizada pelo crime descrito no Art. 244-A, do Estatuto da Criana e do Adolescente, verbis: ÒSubmeter criana ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, prostituio ou explorao sexualÓ. C) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de estupro de vulnervel, previsto no Art. 217-A do CP, verbis: ÒTer conjuno carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anosÓ. D) Odete pode ser responsabilizada pelo crime de omisso de socorro, previsto no Art. 135, do CP, verbis: ÒDeixar de prestar assistncia, quando possvel faz-lo sem risco pessoal, criana abandonada ou extraviada, ou pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou no pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pblicaÓ. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 63 COMENTçRIOS: Neste caso, Odete a responsvel pelas crianas, de forma que tem o DEVER de evitar a ocorrncia do resultado. Assim, como Odete se OMITIU quando tinha o DEVER de evitar o resultado, deve por ele responder, na forma do art. 13, ¤2¼ do CP. Odete, portanto, responder pelo crime praticado pela recreadora (estupro de vulnervel, art. 217-A do CP). Odete no deu causa ao resultado, mas deveria ter agido para impedi-lo (era sua obrigao), motivo pelo qual responder pelo delito. Trata-se de crime omissivo imprprio. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. 1.2.! Crime doloso e crime culposo O dolo e a culpa so o que se pode chamar de elementos subjetivos do tipo penal. Com o finalismo de HANS WELZEL, o dolo e a culpa (elementos subjetivos) foram transportados da culpabilidade para o fato tpico13 (conduta). Assim, a conduta (no finalismo) no mais apenas objetiva, sinnimo de ao humana, mas sim a ao humana dirigida a um fim (ilcito ou no). Vamos estudar cada um destes elementos separadamente. 1.2.1.! Crime doloso O dolo o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre e consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assuno do risco produzido pela conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP: Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi- lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O dolo direto, que o elemento subjetivo clssico do crime, composto pela conscincia de que a conduta pode lesar um bem jurdico mais a vontade de lesar este bem jurdico. Esses dois elementos (conscincia + vontade) formam o que se chama de dolo natural. Antigamente, quando o dolo pertencia culpabilidade, a esses dois elementos era acrescido mais um elemento, que era a conscincia da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo. Atualmente, com a transposio do dolo e da culpa para o fato tpico, os elementos normativos ficaram na culpabilidade e a conscincia da ilicitude tambm, passando, ainda a ser meramente potencial. 13 BITENCOURT, Op. cit., p. 290/291 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 63 Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo natural e no causalismo o dolo normativo. O dolo eventual, por sua vez, consiste na conscincia de que a conduta pode gerar um resultado criminoso, mais a assuno desse risco, mesmo diante da probabilidade de algo dar errado. Trata-se de hiptese na qual o agente no tem vontade de produzir o resultado criminoso (no o que aconteceu, embora possa ser outro), mas, analisando as circunstncias, sabe que este resultado pode ocorrer e no se importa, age da mesma maneira. EXEMPLO: Imagine que Renato, dono de um stio, e apreciador da prtica do tiro esportivo, decida levantar sbado pela manh e praticar tiro no seu terreno, mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance e que h casas na vizinhana. Renato at no quer que ningum seja atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e no se importa, pratica a conduta assim mesmo. Nesse caso, se Renato atingir algum, causando- lhe leses ou mesmo a morte, estar praticando homicdio doloso por dolo eventual. O dolo pode ser, ainda: ¥! Dolo genrico Ð Atualmente, com o finalismo, passou a ser chamado simplesmente de dolo, que , basicamente, a vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem nenhuma outra finalidade; ¥! Dolo especfico, ou especial fim de agir Ð Em contraposio ao dolo genrico, nesse caso o agente no quer somente praticar a conduta tpica, mas o faz por alguma razo especial, com alguma finalidade especfica. o caso do crime de injria, por exemplo, no qual o agente deve no s praticar a conduta, mas deve faz-lo com a inteno de ofender a honra subjetiva da vtima; ¥! Dolo direto de primeiro grau Ð Trata-se do dolo comum, aquele no qual o agente tem a vontade direcionada para a produo do resultado, como no caso do homicida que procura sua vtima e a mata com disparos de arma de fogo; ¥! Dolo direto de segundo grau Ð Tambm chamado de Òdolo de consequnciasnecessriasÓ, se assemelha ao dolo eventual, mas com ele no se confunde. Aqui o agente possui uma vontade, mas sabe que para atingir sua finalidade, existem efeitos colaterais que iro NECESSARIAMENTE lesar outros bens jurdicos. Diferentemente do dolo eventual, aqui a ocorrncia da leso ao bem jurdico no visado certa, e no apenas provvel. Imagine o caso de algum que, querendo matar certo executivo, coloca uma bomba no avio em que este se encontra. Ora, nesse caso, o agente age com dolo de primeiro grau em face da vtima DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 63 pretendida, e dolo de segundo grau face aos demais ocupantes do avio, pois certo que tambm morrero, embora este no seja o objetivo do agente; ¥! Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae Ð Ocorre quando o agente, acreditando ter alcanado seu objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas depois se constata que esta ltima foi a que efetivamente causou o resultado. Trata-se de erro na relao de causalidade, pois embora o agente tenha conseguido alcanar a finalidade proposta, somente o alcanou atravs de outro meio, que no tinha direcionado para isso. Exemplo: Imagine a me que, querendo matar o prprio filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta, o joga num rio. Posteriormente a criana encontrada e se descobre que a vtima morreu por afogamento. Nesse caso, embora a me no tenha querido matar o filho afogado, mas por estrangulamento, isso irrelevante penalmente, importando apenas o fato de que a me alcanou o fim pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio, devendo, pois, responder por homicdio consumado; ¥! Dolo antecedente, atual e subsequente Ð O dolo antecedente o que se d antes do incio da execuo da conduta. O dolo atual o que est presente enquanto o agente se mantm exercendo a conduta, e o dolo subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a conduta com uma finalidade lcita, altera seu nimo, passando a agir de forma ilcita. Esse ltimo caso o que ocorre no caso, por exemplo, do crime de apropriao indbita (art. 168 do CP), no qual o agente recebe o bem de boa-f, obrigando- se devolv-lo, mas, posteriormente, muda de idia e no devolve o bem nas condies ajustadas, passando a agir de maneira ilcita. 1.2.2.! Crime culposo Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu objetivo, ou assumiu o risco de sua ocorrncia, embora no fosse originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a conduta do agente destinada a um determinado fim (que pode ser lcito ou no), tal qual no dolo eventual, mas pela violao a um dever de cuidado, o agente acaba por lesar um bem jurdico de terceiro, cometendo crime culposo. A violao ao dever objetivo de cuidado pode se dar de trs maneiras: ¥! Negligncia Ð O agente deixa de tomar todas as cautelas necessrias para que sua conduta no venha a lesar o bem DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 63 jurdico de terceiro. o famoso relapso. Aqui o agente deixa de fazer algo que deveria; ¥! Imprudncia Ð o caso do afoito, daquele que pratica atos temerrios, que no se coadunam com a prudncia que se deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que a prudncia no recomenda; ¥! Impercia Ð Decorre do desconhecimento de uma regra tcnica profissional. Assim, se o mdico, aps fazer todos os exames necessrios, d diagnstico errado, concedendo alto ao paciente e este vem a bito em decorrncia da alta concedida, no h negligncia, pois o profissional mdico adotou todos os cuidados necessrios, mas em decorrncia de sua falta de conhecimento tcnico, no conseguiu verificar qual o problema do paciente, o que acabou por ocasionar seu falecimento; A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado praticado pelo agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois no deriva de uma deliberada ao contrria ao direito. O crime culposo composto de: ¥! Uma conduta voluntria Ð Dirigida a um fim lcito, ou quando ilcito, no destinada produo do resultado ocorrido. ¥! A violao a um dever objetivo de cuidado Ð Que pode se dar por negligncia, imprudncia ou impercia. ¥! Um resultado naturalstico involuntrio Ð O resultado produzido no foi querido pelo agente (salvo na culpa imprpria). ¥! Nexo causal Ð Relao de causa e efeito entre a conduta do agente e o resultado ocorrido no mundo ftico. ¥! Tipicidade Ð O fato deve estar previsto como crime. Em regra, os crimes s podem ser praticados na forma dolosa, s podendo ser punidos a ttulo de culpa quando a lei expressamente determinar. Essa a regra do ¤ nico do art. 18 do CP: Pargrafo nico - Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984). ¥! Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser previsvel mediante um esforo intelectual razovel. chamada previsibilidade do homem mdio. Assim, se uma pessoa comum, de inteligncia mediana, seria capaz de prever aquele resultado, est presente este requisito. Se o resultado no for previsvel objetivamente, o fato um indiferente penal. Por exemplo: Se Mrio, nas dunas de Natal, DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 63 d um chute em Joo, a fim de causar-lhe leses leves, e Joo vem a cair e bater com a cabea sobre um motor de Bugre que estava enterrado sob a areia, vindo a falecer, Mrio no responde por homicdio culposo, pois seria inimaginvel a qualquer pessoa prever que naquele local a vtima poderia bater com a cabea em algo daquele tipo e vir a falecer. A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades: ¥! Culpa consciente e inconsciente Ð Na culpa consciente, o agente prev o resultado como possvel, mas acredita que este no ir ocorrer. Na culpa inconsciente, o agente no prev que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o agente prev o resultado e mesmo assim age. Entretanto, a diferena que, enquanto no dolo eventual o agente assume o risco de produzi-lo, no se importando com a sua ocorrncia, na culpa consciente o agente no assume o risco de produzir o resultado, pois acredita, sinceramente, que ele no ocorrer. ¥! Culpa prpria e culpa imprpria Ð A culpa prpria aquela na qual o agente NÌO QUER O RESULTADO criminoso. a culpa propriamente dita. Pode ser consciente, quando o agente prev o resultado como possvel, ou inconsciente, quando no h essa previso. Na culpa imprpria, o agente quer o resultado, mas, por erro inescusvel, acredita que o est fazendo amparado por uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se levanta e avista um vulto, determinando sua imediata parada. Como o vulto continua, o pai dispara trs tiros de arma de fogo contra a vtima, acreditando estar agindo em legtima defesa de sua famlia. No entanto, ao verificar a vtima, percebe que o vulto era seu filho de 16 anos que havia sado escondido para assistir a um show de Rock no qual havia sido proibidode ir. Nesse caso, embora o crime seja naturalmente doloso (pois o agente quis o resultado), por questes de poltica criminal o Cdigo determina que lhe seja aplicada a pena correspondente modalidade culposa. Nos termos do art. 20, ¤ 1¡ do CP: ¤ 1¼ - isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstncias, supe situao de fato que, se existisse, tornaria a ao legtima. No h iseno de pena quando o erro deriva de culpa e o fato punvel como crime culposo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Cuidado! No existe a chamada Òcompensao de culpasÓ no Direito Penal brasileiro. EXEMPLO: Imaginem que Jlio, dirigindo seu veculo, DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 63 avana o sinal vermelho e colide com o veculo de Carlos, que vinha na contramo. Ambos agiram com culpa e causaram-se leses corporais. Nesse caso, ambos respondem pelo crime de leses corporais, um em face do outro. H ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, no com dolo, mas por culpa. Um exemplo clssico o crime de leso corporal seguida de morte, previsto no art. 129, ¤ 3¡ do CP. Nesse crime o agente provoca leses corporais na vtima, mediante conduta dolosa. No entanto, em razo de sua imprudncia na execuo (excesso), acabou por provocar a morte da vtima, que era um resultado no pretendido (culpa). A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do crime qualificado pelo resultado14. Para a Doutrina, o crime qualificado pelo resultado um gnero, do qual o crime preterdoloso espcie. Um crime qualificado pelo resultado aquele no qual, ocorrendo determinado resultado, teremos a aplicao de uma circunstncia qualificadora. Aqui irrelevante se o resultado que qualifica o crime doloso ou culposo. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime , necessariamente, culposo. Ou seja, h dolo na conduta inicial e culpa em relao ao resultado que efetivamente ocorre. EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a inteno apenas de lesion-la (dolo de praticar o crime de leso corporal). Contudo, em razo da fora empregada por Mariana, Luciana cai e bate com a cabea no cho, vindo a falecer. Mariana fica chocada, pois de maneira alguma pretendia a morte de Luciana. Nesse caso, Mariana praticou o crime de leso corporal seguida de morte, que um crime preterdoloso (dolo na conduta inicial, mas resultado obtido a ttulo de culpa Ð sem inteno). (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM) Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro por uma avenida beira-mar. No banco do carona est sua noiva, Ivana. No meio do percurso, Wilson e Ivana comeam a discutir: a moa reclama da alta velocidade empreendida. Assustada, Ivana grita com Wilson, dizendo que, se ele continuasse naquela velocidade, poderia facilmente perder o controle do carro e 14 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 337 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 63 atropelar algum. Wilson, por sua vez, responde que Ivana deveria deixar de ser medrosa e que nada aconteceria, pois se sua profisso era ensinar os outros a dirigir, ningum poderia ser mais competente do que ele na conduo de um veculo. Todavia, ao fazer uma curva, o automvel derrapa na areia trazida para o asfalto por conta dos ventos do litoral, o carro fica desgovernado e acaba ocorrendo o atropelamento de uma pessoa que passava pelo local. A vtima do atropelamento falece instantaneamente. Wilson e Ivana sofrem pequenas escoriaes. Cumpre destacar que a percia feita no local constatou excesso de velocidade. Nesse sentido, com base no caso narrado, correto afirmar que, em relao vtima do atropelamento, Wilson agiu com A) dolo direto. B) dolo eventual. C) culpa consciente. D) culpa inconsciente. COMENTçRIOS: Nesta questo temos um clssico exemplo de culpa consciente. O agente agiu com inobservncia de um dever de cuidado, por meio de uma conduta imprudente. O agente sabia dos riscos de sua conduta, mas acreditava que evitaria o resultado, em razo de suas habilidades. Tem-se, assim, culpa consciente. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. 1.3.! Crime consumado, tentado e impossvel 1.3.1.! Tentativa Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato tpico (conduta, resultado naturalstico, nexo de causalidade e tipicidade) so, no entanto, elementos do crime material consumado, que aquele no qual se exige resultado naturalstico e no qual este resultado efetivamente ocorre. Nos termos do art. 14 do CP: Art. 14 - Diz-se o crime: (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) I - consumado, quando nele se renem todos os elementos de sua definio legal; (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) II - tentado, quando, iniciada a execuo, no se consuma por circunstncias alheias vontade do agente. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Assim, nos crimes tentados, por no haver sua consumao (ocorrncia de resultado naturalstico), no estaro presentes, em regra, os elementos ÒresultadoÓ e Ònexo de causalidadeÓ. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 63 Disse Òem regraÓ, porque pode acontecer que um crime tentado produza resultados, que sero analisados de acordo com a conduta do agente e sua aptido para produzi-los. EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando morte de Rodrigo, dispare cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo baleado, fica paraplgico, mas sobrevive. Nesse caso, como o objetivo no era causar leso corporal, mas sim matar, o crime no foi consumado, pois a morte no ocorreu. Entretanto, no se pode negar que houve resultado naturalstico e nexo causal, embora este resultado no tenha sido o pretendido pelo agente quando da prtica da conduta criminosa. O crime consumado ns j estudamos, cabe agora analisar as hipteses de crime na modalidade tentada. Como disse a vocs, pode ocorrer de uma conduta ser enquadrada em determinado tipo penal sem que sua prtica corresponda exatamente ao que prev o tipo. No caso acima, Marcelo responder pelo tipo penal de homicdio (art. 121 do CP), na modalidade tentada (art. 14, II do CP). Mas se vocs analisarem, o art. 121 do CP diz Òmatar algumÓ. Marcelo no matou ningum. Assim, como enquadr-lo na conduta prevista pelo art. 121? Isso o que chamamos de adequao tpica mediata, conforme j estudamos. Na adequao tpica mediata o agente no pratica exatamente a conduta descrita no tipo penal, mas em razo de uma outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal, ele deve responder pelo crime. Assim, no caso em tela, Marcelo s responde pelo crime em razo da existncia de uma norma que aumenta o alcance objetivo (relativo conduta) do tipo penal para abarcar tambm as hipteses de tentativa (art. 14, II do CP). Tudo bem, galera? Vamos em frente! O inciso II do art. 14 fala em Òcircunstncias alheias vontade do agenteÓ. Isso significa que o agente inicia a execuo do crime, mas em razode fatores externos, o resultado no ocorre. No caso concreto que citei, o fator externo, alheio vontade de Marcelo, foi provavelmente sua falta de preciso no uso da arma de fogo e o socorro eficiente recebido por Rodrigo, que impediu sua morte. O ¤ nico do art. 14 do CP diz: Art. 14 (...) Pargrafo nico - Salvo disposio em contrrio, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuda de um a dois teros. (Includo pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada no punido da mesma maneira que o crime consumado, pois embora o desvalor da DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 63 conduta (sua reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado, o desvalor do resultado (suas consequncias na sociedade) menor, indiscutivelmente. Assim, diz-se que o CP adotou a teoria dualstica, realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.15 Mas qual o critrio para aplicao da quantidade de diminuio (1/3 ou 2/3)? Nesse caso, o Juiz deve analisar a proximidade de alcance do resultado. Quanto mais prxima do resultado chegar a conduta, menor ser a diminuio da pena, e vice-versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo, chegando a deix-lo paraplgico, a diminuio ser a menor possvel (1/3), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto, se Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe da consumao, devendo o Juiz aplicar a reduo mxima. A tentativa pode ser: ¥! Branca ou incruenta Ð quando o agente sequer atinge o objeto que pretendia lesar; ¥! Vermelha ou cruenta Ð quando o agente atinge o objeto, mas no obtm o resultado naturalstico esperado, em razo de circunstncias alheias sua vontade; ¥! Tentativa perfeita Ð O agente esgota completamente os meios de que dispunha para lesar o objeto material; ¥! Tentativa imperfeita Ð O agente, antes de esgotar toda a sua potencialidade lesiva, impedido por circunstncias alheias. Exemplo: Marcelo possui um revlver com 06 projteis. Dispara os 03 primeiros contra Rodrigo, mas antes de disparar o quarto surpreendido pela chegada da Polcia Militar. possvel a mescla de espcies de tentativa entre as duas primeiras com as duas ltimas (cruenta e imperfeita, incruenta e imperfeita, etc.), mas nunca entre elas mesmas (cruenta e incruenta e perfeita e imperfeita), por questes lgicas. 15 Em contraposio Teoria objetiva h a Teoria subjetiva, que sustenta que a punibilidade da tentativa deveria estar atrelada ao fato de que o desvalor da conduta o mesmo do crime consumado ( to reprovvel a conduta de ÒmatarÓ quanto a de Òtentar matarÓ). Para esta Teoria, a tentativa deveria ser punida da mesma forma que o crime consumado (BITENCOURT, Op. cit., p. 536/537). Na verdade, adotou-se no Brasil uma espcie de Teoria objetiva ÒtemperadaÓ ou mitigada. Isto porque a regra do art. 14, II admite excees, ou seja, existem casos na legislao ptria em que se pune a tentativa com a mesma pena do crime consumado. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 63 Em regra, todos os crimes admitem tentativa. Entretanto, no admitem tentativa: ¥! Crimes culposos Ð Nestes crimes o resultado naturalstico no querido pelo agente, logo, a vontade dele no dirigida a um fim ilcito e, portanto, no ocorrendo este, no h que se falar em interrupo involuntria da execuo do crime; ¥! Crimes preterdolosos Ð Como nestes crimes existe dolo na conduta precedente e culpa na conduta seguinte, a conduta seguinte culposa, no se admitindo, portanto, tentativa; ¥! Crimes unissubsistentes Ð So aqueles que se produzem mediante um nico ato, no cabendo fracionamento de sua execuo. Assim, ou o crime consumado ou sequer foi iniciada sua execuo. EXEMPLO: Injria. Ou o agente profere a injria e o crime est consumado ou ele sequer chega a proferi-la, no chegando o crime a ser iniciado; ¥! Crimes omissivos prprios Ð Seguem a mesma regra dos crimes unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e pratica o crime na modalidade consumada ou no se omite, hiptese na qual no comete crime; ¥! Crimes de perigo abstrato Ð Como aqui tambm h crime unissubsistente (no h fracionamento da execuo do crime), no se admite tentativa; ¥! Contravenes penais Ð No se admite tentativa, nos termos do art. 4¡ do Decreto-Lei n¡ 3.688/41 (Lei das Contravenes penais); ¥! Crimes de atentado (ou de empreendimento) Ð So crimes que se consideram consumados com a obteno do resultado ou ainda com a tentativa deste. Por exemplo: O art. 352 tipifica o crime de ÒevasoÓ, dizendo: Òevadir-se ou tentar evadir-seÓ... Desta maneira, ainda que no consiga o preso se evadir, o simples fato de ter tentado isto j consuma o crime; ¥! Crimes habituais Ð Nestes crimes, o agente deve praticar diversos atos, habitualmente, a fim de que o crime se consume. Entretanto, o problema que cada ato isolado um indiferente penal. Assim, ou o agente praticou poucos atos isolados, no cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual, cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo, no qual ou o agente pratica atos isolados, no praticando crime, ou o faz com habitualidade, praticando crime consumado, nos termos do art. 284, I do CP. 1.3.2.! Crime impossvel Nos termos do Cdigo Penal: DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 63 Art. 17 - No se pune a tentativa quando, por ineficcia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, impossvel consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Como podemos perceber, o crime impossvel guarda semelhanas com a tentativa, entretanto, com ela no se confunde. Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execuo do crime, mas por circunstncias alheias sua vontade o resultado no se consuma (art. 14, II do CPC). No crime impossvel, diferentemente do que ocorre na tentativa, embora o agente inicie a execuo do delito, JAMAIS o crime se consumaria, em hiptese nenhuma, ou pelo fato de que o meio utilizado completamente ineficaz ou porque o objeto material do crime imprprio para aquele crime. Vou dar dois exemplos: EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria. Marcelo chega, surdina, de noite, e percebendo que Maria dorme no sof, desfere contra ela 10 facadas no peito. No entanto, no laudo pericial se descobre que Maria j estava morta, em razo de um mal sbito que sofrera horas antes. Nesse caso, o crime impossvel, pois o objeto material (a sogra, Maria) no era uma pessoa, mas um cadver. Logo, no h como se praticar o crime de homicdio em face de um cadver. No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua sogra a tiros e, surpreenda-a na servido que d acesso casa. Entretanto, quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que, na verdade, foi enganado pelo vendedor, que o vendeu uma arma de brinquedo. Nesse ltimo caso o crime impossvel, pois o meio utilizado por Marcelo completamente ineficaz para causar a morte da vtima. Em ambos os casos temos hiptese de crime impossvel. Naverdade, o crime impossvel uma espcie de tentativa, com a circunstncia de que jamais poder se tornar consumao, face impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, no se pode punir a tentativa nestes casos, eis que no houve leso ou sequer exposio leso do bem jurdico tutelado, no bastando para a punio do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um mnimo de desvalor do resultado. Cuidado! A ineficcia do meio ou a impropriedade do objeto devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma hiptese, considerando aquelas circunstncias, o crime poderia se consumar. Assim, se Mrcio atira em Jos, com inteno de mat-lo, mas o crime no se consuma porque Jos usava um colete prova de balas, no h crime impossvel, pois o crime poderia se consumar. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 63 O STJ j decidiu (smula 567 do STJ) que a presena de cmeras e dispositivos eletrnicos de segurana em estabelecimentos comerciais no afasta a possibilidade de consumao do crime de furto. Logo, no h crime impossvel neste caso. Como o CP previu a impossibilidade de punio da tentativa inidnea (crime impossvel), diz-se que o CP adotou a teoria OBJETIVA DA PUNIBILIDADE DO CRIME IMPOSSêVEL.16 1.3.3.! Desistncia voluntria e arrependimento eficaz Embora a Doutrina tenha se dividido quanto definio da natureza jurdica destes institutos, a Doutrina majoritria entende se tratar de causas de excluso da tipicidade, pois no tendo ocorrido o resultado, e tambm no se tratando de hiptese tentada, no h como se punir o crime nem a ttulo de consumao nem a ttulo de tentativa. Na desistncia voluntria o agente, por ato voluntrio, desiste de dar sequncia aos atos executrios, mesmo podendo faz-lo. Conforme a clssica FîRMULA DE FRANK: Na tentativa Ð O agente quer, mas no pode prosseguir. Na desistncia voluntria Ð O agente pode, mas no quer prosseguir. Para que fique caracterizada a desistncia voluntria, necessrio que o resultado no se consume em razo da desistncia do agente. EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo disparar mais cinco, no o faz, mas este mesmo assim vem a falecer, Poliana responde por homicdio consumado. Se, no entanto, Jason no vem a bito, Poliana no responde por homicdio tentado (no h tentativa, lembram-se?), mas por leses corporais. No arrependimento eficaz diferente. Aqui o agente j praticou todos os atos executrios que queria e podia, mas aps isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir a consumao do resultado. Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos os tiros da pistola em Jason. Depois disso, Poliana se arrepende do que 16 BITENCOURT, Op. cit., p. 542/543. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 63 fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive em razo do socorro prestado. Neste caso, teramos arrependimento eficaz. Ambos os institutos esto previstos no art. 15 do CP: Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execuo ou impede que o resultado se produza, s responde pelos atos j praticados.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Para que estes institutos ocorram, necessrio que a conduta (desistncia voluntria e arrependimento eficaz) impea a consumao do resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente responde pelo crime, incidindo, no entanto, uma atenuante de pena genrica, prevista no art. 65, III, b do CP. A Doutrina entende que tambm Hç DESISTæNCIA VOLUNTçRIA quando o agente deixa de prosseguir na execuo para faz-la mais tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para no levantar suspeitas. Nesse caso, mesmo no sendo nobre o motivo da desistncia, a Doutrina entende que h desistncia voluntria. Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um deles realiza a conduta de desistncia voluntria ou arrependimento eficaz, esta circunstncia se comunica aos demais, pois como se trata de hiptese de excluso da tipicidade, o crime no foi cometido, respondendo todos apenas pelos atos praticados at ento. 1.3.4.! Arrependimento posterior O arrependimento posterior, por sua vez, no exclui o crime, pois este j se consumou, mas causa obrigatria de diminuio de pena. Ocorre quando, nos crimes em que no h violncia ou grave ameaa pessoa, o agente, at o recebimento da denncia ou queixa, repara o dano provocado ou restitui a coisa. Nos termos do art. 16 do CP: Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violncia ou grave ameaa pessoa, reparado o dano ou restituda a coisa, at o recebimento da denncia ou da queixa, por ato voluntrio do agente, a pena ser reduzida de um a dois teros. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) EXEMPLO: Imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o agente quebra a vidraa de uma padaria, revoltado com o esgotamento do po francs naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da queixa o agente ressarcir o prejuzo causado, ele responder pelo crime, mas a pena aplicada dever ser diminuda de um a dois teros. Vejam que no se aplica o instituto se o crime cometido com violncia ou grave ameaa pessoa. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 02 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 63 A Doutrina entende que se a violncia for culposa, pode ser aplicado o instituto. Assim, se o agente comete leso corporal culposa (violncia culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas mdicas da vtima, presta todo o auxlio necessrio, deve ser aplicada a causa de diminuio de pena. No caso de violncia imprpria, a Doutrina se divide. A violncia imprpria aquela na qual no h violncia propriamente dita, mas o agente reduz a vtima impossibilidade de defesa (ex. Amordaa e amarra o caixa da loja no crime de roubo). Parte da Doutrina entende que o benefcio pode ser aplicado, parte entende que no pode. O arrependimento posterior tambm se comunica aos demais agentes (coautores). A Doutrina entende, ainda, que se a vtima se recusar a receber a coisa ou a reparao do dano, mesmo assim o agente dever receber a causa de diminuio de pena. O quantum da diminuio da pena (um tero a dois teros) ir variar conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a voluntariedade deste ato. Vamos sintetizar isso tudo? O quadro abaixo pode ajudar vocs na compreenso dos institutos da tentativa, da desistncia voluntria, do arrependimento eficaz e do arrependimento posterior: QUADRO ESQUEMçTICO INSTITUTO RESUMO CONSEQUæNCIAS TENTATIVA Agente pratica a conduta delituosa, mas por circunstncias alheias sua vontade, o resultado no ocorre. Responde pelo crime, com reduo de pena de 1/3 a 2/3. DESISTæNCIA VOLUNTçRIA O agente INICIA a prtica da conduta delituosa, mas se arrepende, e CESSA a atividade criminosa (mesmo podendo continuar) e o resultado no ocorre. Responde apenas pelos atos j praticados. Desconsidera-se o Òdolo inicialÓ, e o agente punido apenas pelos danos que efetivamente causou. ARREPENDIMENTO O agente INICIA a prtica
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