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Aula 03 Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXIV Exame - Com videoaulas Professor: Renan Araujo DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 40 AULA 03: CRIME: ELEMENTOS (PARTE II): CULPABILIDADE (IMPUTABILIDADE). ERRO. SUMçRIO 1. CULPABILIDADE .......................................................................................... 3 1.1. Conceito ................................................................................................... 3 1.2. Teorias ..................................................................................................... 3 1.3. Elementos ................................................................................................ 4 1.3.1. Imputabilidade penal ................................................................................ 4 1.3.2. Potencial conscincia da ilicitude ................................................................ 7 1.3.3. Exigibilidade de conduta diversa ................................................................. 7 2. ERRO ......................................................................................................... 12 2.1. Erro de tipo ............................................................................................ 12 2.2. Erro de tipo acidental ............................................................................. 14 2.2.1. Erro sobre a pessoa (error in persona) ...................................................... 14 2.2.2. Erro sobre o nexo causal ......................................................................... 15 2.2.2.1. Erro sobre o nexo causal em sentido estrito ............................................ 15 2.2.2.2. Dolo geral ou aberratio causae .............................................................. 15 2.2.3. Erro na execuo (aberratio ictus) ............................................................ 16 2.2.3.1. Erro sobre a execuo com unidade simples (Aberratio ictus de resultado nico) 17 2.2.3.2. Erro sobre a execuo com unidade complexa (Aberratio ictus de resultado duplo) 17 2.2.4. Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aberratio delicti ou aberratio criminis) .............................................................................................. 17 2.2.4.1. Com unidade simples ........................................................................... 17 2.2.4.2. Com unidade complexa ........................................................................ 18 2.2.5. Erro sobre o objeto (error in objecto) ........................................................ 18 2.3. Erro determinado por terceiro ................................................................ 18 2.4. Erro de proibio .................................................................................... 19 3. RESUMO .................................................................................................... 27 4. EXERCêCIOS DA AULA ............................................................................... 33 5. GABARITO ................................................................................................. 39 Ol, meus amigos! DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 40 Na ltima aula ns iniciamos o estudo do crime, seu conceito e elementos, estudando os dois primeiros deles: o fato tpico e a ilicitude. Hoje vamos finalizar o estudo dos elementos do Crime, analisando a culpabilidade e o fenmeno do Erro no Direito Penal. Trata-se, tambm, de um tema bastante cobrado pela FGV nas provas da OAB. Aproximadamente 10% das questes que a FGV j cobrou no Exame de Ordem saram desta aula! Bons estudos! Prof. Renan Araujo DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 40 1.!CULPABILIDADE 1.1.! Conceito A culpabilidade nada mais que o juzo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas circunstncias pessoais.1 Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato tpico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de estudo no o fato, mas o agente. Da alguns doutrinadores entenderem que a culpabilidade no integra o crime (por no estar relacionada ao fato criminoso, mas ao agente). Entretanto, vamos trabalh-la como elemento do crime. 1.2.! Teorias Trs teorias existem acerca da culpabilidade: A)!Teoria psicolgica Ð Para essa teoria a culpabilidade era analisada sob o prisma da imputabilidade e da vontade (dolo e culpa). Esta teoria entende que o agente seria culpvel se era imputvel no momento do crime e se havia agido com dolo ou culpa. Vejam que essa teoria s pode ser utilizada por quem adota a teoria naturalstica da conduta (pois o dolo e culpa esto na culpabilidade). Para os que adotam a teoria finalista (nosso Cdigo penal), essa teoria acerca da culpabilidade impossvel, pois a teoria finalista aloca o dolo e a culpa na conduta, e, portanto, no fato tpico. B)!Teoria normativa ou psicolgico-normativa Ð Possui os mesmos elementos da primeira, mas agrega a eles a inexigibilidade de conduta diversa, que a Òpossibilidade de agir conforme o DireitoÓ. Para essa teoria, mais evoluda, ainda que o agente fosse imputvel e tivesse agido com dolo ou culpa, s seria culpvel se no caso concreto lhe pudesse ser exigido um outro comportamento que no o comportamento criminoso. Trata-se, portanto, da incluso de elementos normativos culpabilidade, que deixa de ser a mera relao subjetiva do agente com o fato (dolo ou culpa). A culpabilidade seria, portanto, a conjugao do elemento subjetivo (dolo ou culpa) e do juzo de reprovao sobre o agente.2 C)!Teoria normativa pura Ð Essa j muda de ares. J no mais considera o dolo e culpa como elementos da culpabilidade, mas do fato tpico (seguindo a teoria finalista da conduta). Para esta teoria, os elementos da culpabilidade so: a) imputabilidade; b) 1 BITENCOURT, Op. cit., p. 451/452 2 BITENCOURT, Op. cit., p. 447 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 40 potencial conscincia da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. A potencial conscincia da ilicitude seria a anlise concreta acerca das possibilidades que o agente tinha de conhecer o carter ilcito de sua conduta. Vamos estudar cada um desses elementos mais frente; CUIDADO: Para a maior parte da Doutrina, a teoria normativa pura se divide em: ¥! Teoria extremada ¥! Teoria limitada Mas o que dizem estas teorias? Basicamente, a mesma coisa. A grande diferena entre elas reside no tratamento dispensado ao erro sobre as causas de justificao (ou de excluso da antijuridicidade), tambm conhecidas como descriminantes putativas. A teoria extremada defende que todo erro que recaia sobrea uma causa de justificao seria equiparado ao erro de proibio. A teoria limitada, por sua vez, divideo erro sobre as causas de justificao (descriminantes putativas) em: ¥! Erro sobre pressuposto ftico da causa de justificao (ou erro de fato) Ð Neste caso, aplicam-se as mesmas regras previstas para o erro de tipo (tem-se aqui o que se chama de ERRO DE TIPO PERMISSIVO).3 ¥! Erro sobre a existncia ou limites jurdicos de uma causa de justificao (erro sobre a ilicitude da conduta) Ð Neste caso, tal teoria defende que devam ser aplicadas as mesmas regras previstas para o erro de PROIBIÌO, por se assemelhar conduta daquele que age conscincia da ilicitude. Vamos estudar cada um dos elementos da culpabilidade e, ao final, estudaremos com mais detalhes o tratamento conferido ao ERRO. 1.3.! Elementos 1.3.1.! Imputabilidade penal O Cdigo Penal no define o que seria imputabilidade penal, apenas descreve as hipteses em que ela no est presente. A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o carter ilcito da conduta e de comportar-se conforme o Direito. Existem trs sistemas acerca da imputabilidade: 3 BITENCOURT, Op. cit., p. 508 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 40 Ø! Biolgico Ð Basta a existncia de uma doena mental ou determinada idade para que o agente seja inimputvel. adotado no Brasil com relao aos menores de 18 anos. Trata- se de critrio meramente biolgico: Se o agente tem menos de 18 anos, inimputvel. Ø! Psicolgico Ð S se pode aferir a imputabilidade (ou no), na anlise do caso concreto. Ø! Biopsicolgico Ð Deve haver uma doena mental (critrio biolgico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar no caso concreto se o agente era ou no capaz de entender o carter ilcito da conduta e de se comportar conforme o Direito (critrio psicolgico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo nosso Cdigo Penal.4 CUIDADO! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do momento em que ocorreu o fato criminoso. As causas de inimputabilidade esto previstas nos arts. 26, 27 e 28 do CP. Vamos explicar as hipteses de inimputabilidade: (i) Menor de 18 anos Esse um critrio meramente biolgico e taxativo: Se o agente menor de 18 anos, responde perante o ECA no se aplicando a ele o CP, nos termos do art. 27 do CP. (ii)! Doena mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era inteiramente incapaz de entender o carter ilcito da conduta ou se era parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, ser inimputvel, ou seja, isento de pena. No segundo caso, ser semi-imputvel, e ser aplicada pena, porm, reduzida de um a dois teros. Lembrando que o art. 26 do CP exige, para fins de inimputabilidade por este motivo: ¥! Que o agente possua a doena (critrio biolgico) ¥! Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se conforme este entendimento (critrio psicolgico) 4 BITENCOURT, Op. cit., p. 474. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 40 Por isso se diz que este um critrio BIOPSICOLîGICO (pois mescla os dois critrios). Nos dois casos acima, se o agente for inimputvel, exclui-se a culpabilidade e ele isento de pena. Se for semi-imputvel, ser considerado culpvel (no se exclui a culpabilidade), mas sua pena ser reduzida de um a dois teros. No caso de o agente ser inimputvel, por ser menor de 18 anos, no h processo penal, respondendo perante o ECA. No caso de ser inimputvel em razo de doena mental ou desenvolvimento incompleto, ser isento de pena (absolvido), mas o Juiz aplicar uma medida de segurana (internao ou tratamento ambulatorial). Isso o que se chama de sentena absolutria imprpria (Pois, apesar de conter uma absolvio, contm uma espcie de sano penal). No caso de o agente ser semi-imputvel, ele no ser isento de pena! Ser condenado a uma pena, que ser reduzida. Entretanto, a lei permite que o Juiz, diante do caso, substitua a pena privativa de liberdade por uma medida de segurana (internao ou tratamento ambulatorial). (ii)! Embriaguez Segundo o CP, a embriaguez no uma hiptese de inimputabilidade, salvo se decorrente de caso fortuito ou fora maior (E mesmo assim, deve ser completa e retirar totalmente a capacidade de discernimento do agente). EXEMPLO: Imaginem que Luciana embriagada por Carlos (que coloca lcool em seus drinks). Sem saber, Luciana ingere as bebidas alcolicas e comete crime. Nesse caso, Poliana poder ser inimputvel ou semi- imputvel, a depender de seu nvel de discernimento quando da prtica da conduta. Vejamos o seguinte esquema: Embriaguez: Voluntria Culposa Acidental (caso fortuito ou fora maior) Importante destacar que o CP exige que EM RAZÌO da embriaguez decorrente de caso fortuito ou fora maior o agente esteja INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se conforme este entendimento. No excluem a imputabilidade COMPLETA Ð agente inimputvel PARCIAL Ð agente semi-imputvel DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 40 Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, no ser possvel aplicao de medida de segurana, pois essa visa ao tratamento do agente considerado doente, e que oferece risco sociedade. No caso da embriaguez acidental, o agente sadio, tendo ingerido lcool por caso fortuito ou fora maior. 1.3.2.! Potencial conscincia da ilicitude A potencial conscincia da ilicitude a possibilidade (da o termo ÒpotencialÓ) de o agente, de acordo com suas caractersticas, conhecer o carter ilcito do fato5. No se trata do parmetro do homem mdio, mas de uma anlise da pessoa do agente. Assim, aquele que formado em Direito, em tese, tem maior potencial conscincia da ilicitude que aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instruo. claro que isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime para crime, pois alguns so do conhecimento geral (homicdio, roubo), e outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo). Quando o agente age acreditando que sua conduta no penalmente ilcita, comete erro de proibio (art. 21 do CP). O erro de proibio pode ser: Ø! Escusvel Ð Nesse caso, era impossvel quele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrria ao Direito Penal. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente isento de pena. Ø! Inescusvel Ð Nesse caso, o erro do agente quanto proibio da conduta no to perdovel, pois era possvel, mediante algum esforo, entender que se tratava de conduta penalmente ilcita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuda de um sexto a um tero (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). 1.3.3.! Exigibilidade de conduta diversa No basta que o agente seja imputvel, que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato, necessrio, ainda, que o agente pudesse agir de outro modo. Esse elementoda culpabilidade fundamenta duas causas de excluso da culpabilidade: Ø! Coao MORAL irresistvel Ð Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaa de lhe fazer algum mal grave. Ex.: Alberto coloca uma arma na 5 BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera reimpressin. Bogot, 1996, p. 153 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 40 cabea de Poliana e diz que se ela no atirar em Romeu, matar seu filho, que est sequestrado por seus comparsas. Nesse caso, no se pode exigir de Poliana que deixe de atirar em Romeu, pois est sob ameaa de um mal gravssimo (morte do filho). Ø! Obedincia hierrquica Ð o ato cometido por algum em cumprimento a uma ordem ilegal proferida por um superior hierrquico. Cuidado! A ordem no pode ser MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem sabe que est cometendo uma ordem ilegal, responde pelo crime juntamente com aquele que deu a ordem. Se a ordem no manifestamente ilegal aquele que apenas a cumpriu estar acobertado pela excludente de culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa. CUIDADO! Nesse caso, s se aplica aos funcionrios pblicos, no aos particulares! Com relao coao mora irresistvel, vocs podem perceber que eu coloquei a expresso ÒMORALÓ em caixa alta. Foi para deixar BEM CLARO que somente a coao MORAL irresistvel que exclui a culpabilidade (por inexigibilidade de conduta diversa). A coao FêSICA irresistvel NÌO EXCLUI A CULPABILIDADE. A coao FêSICA irresistvel EXCLUI O FATO TêPICO, pois o fato no ser tpico por ausncia de CONDUTA, j que no h vontade. (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XI EXAME DE ORDEM) Para aferio da inimputabilidade por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, assinale a alternativa que indica o critrio adotado pelo Cdigo Penal vigente. a) Biolgico. b) Psicolgico. c) Psiquitrico. d) Biopsicolgico. COMENTçRIOS: Para a aferio da inimputabilidade o CP adotou os critrios Òmeramente biolgicoÓ e ÒbiopsicolgicoÓ. O primeiro foi adotado em relao aos menores de idade, ou seja, basta que sejam menores de 18 anos, sem que haja necessidade de qualquer avaliao especfica das condies psicolgicas do agente no caso concreto. O critrio biopsicolgico, por sua vez, foi adotado em relao aos doentes mentais, nos termos do art. 26 do CP. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 40 PORTANTO, A ALTERNATIVA CORRETA A LETRA D. (FGV Ð 2012 Ð OAB Ð VIII EXAME DE ORDEM) Analise as hipteses abaixo relacionadas e assinale a alternativa que apresenta somente causas excludentes de culpabilidade. a) Erro de proibio; embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior; coao moral irresistvel. b) Embriaguez culposa; erro de tipo permissivo; inimputabilidade por doena mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado. c) Inimputabilidade por menoridade; estrito cumprimento do dever legal; embriaguez incompleta. d) Embriaguez incompleta proveniente de caso fortuito ou fora maior; erro de proibio; obedincia hierrquica. COMENTçRIOS: Das alternativas apresentadas a nica que traz apenas hipteses de excluso da culpabilidade a letra A, pois tanto o erro de proibio quanto a embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fora maior e a coao moral irresistvel so causas de excluso da culpabilidade, nos termos dos arts. 21, 22 e 28, ¤1¼ do CP. PORTANTO, A ALTERNATIVA CORRETA A LETRA A. (FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB) Acerca das causas excludentes de ilicitude e extintivas de punibilidade, assinale a afirmativa incorreta. A) A coao moral irresistvel exclui a culpabilidade, enquanto que a coao fsica irresistvel exclui a prpria conduta, de modo que, nesta segunda hiptese, sequer chegamos a analisar a tipicidade, pois no h conduta penalmente relevante. B) Em um bar, Caio, por notar que Tcio olhava maliciosamente para sua namorada, desfere contra este um soco no rosto. Aturdido, Tcio vai ao cho, levantando-se em seguida, e vai atrs de Caio e o interpela quando este j estava saindo do bar. Ao voltar-se para trs, atendendo ao chamado, Caio surpreendido com um soco no ventre. Tcio praticou conduta tpica, mas amparada por uma causa excludente de ilicitude. C) Mvio, atendendo a ordem dada por seu lder religioso e, com o intuito de converter Rufus, permanece na residncia deste sua revelia, ou seja, sem o seu consentimento. Neste caso, Mvio, mesmo cumprindo ordem de seu superior e mesmo sendo tal ordem no manifestamente ilegal, pratica crime de violao de domiclio (Art. 150 do Cdigo Penal), no estando amparado pela obedincia hierrquica. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 40 D) O consentimento do ofendido no foi previsto pelo nosso ordenamento jurdico-penal como uma causa de excluso da ilicitude. Todavia, sua natureza justificante pacificamente aceita, desde que, entre outros requisitos, o ofendido seja capaz de consentir e que tal consentimento recaia sobre bem disponvel. COMENTçRIOS: A) O item est perfeito. A coao pode ser fsica ou moral. A coao fsica exclui a prpria conduta, j que h mero movimento corporal, sem qualquer elemento subjetivo. Portanto, atuando sobre a conduta, exclui- se o fato tpico (tipicidade). A coao moral irresistvel, por sua vez, no exclui o fato tpico, mas a culpabilidade, pois o agente pratica conduta (atividade corporal + elemento subjetivo), mas essa conduta est viciada, j que o agente est sob forte ameaa, de forma que ausente o elemento da culpabilidade consistente na exigibilidade de conduta diversa. O art. 22 do CP trata da situao, embora diga apenas Òcoao irresistvelÓ. B) O item est errado. No caso, Tcio no est amparado por nenhuma causa de excluso da ilicitude. Trata-se, apenas, de vingana; C) O item est correto. Nesse caso no h possibilidade de se falar em obedincia hierrquica, primeiro porque esta causa de excluso da culpabilidade s admissvel nas relaes de servio pblico, e em segundo lugar porque a ordem manifestamente ilegal; D) O item est correto. O nosso ordenamento previu apenas quatro espcies de causas de excluso da ilicitude, no estando entre elas o consentimento do ofendido. Contudo, a Doutrina entende que o consentimento do ofendido, desde que vlido e em relao a bens disponveis, constitui-se como uma causa de excluso da ilicitude, j que tornaria a ao legtima, deixando de ser injusta, portanto. Portanto, a ALTERNATIVA ERRADA A LETRA B. (FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVI EXAME DE ORDEM) Patrcio e Luiz estavam em um bar, quando o primeiro, mediante ameaa de arma de fogo, obriga o ltimo a beber dois copos de tequila. Luiz ficou inteiramente embriagado. A dupla, ento, deixou o local, sendo que Patrcio conduzia Luiz, que caminhava com muitas dificuldades. Ao encontrarem Juliana, que caminhava sozinha pela calada, Patrcio e Luiz, se utilizando da arma que era portada pelo primeiro, constrangeram-na a com eles praticar sexo oral, sendo flagrados por populares quepassavam ocasionalmente pelo local, ocorrendo a priso em flagrante. Denunciados pelo crime de estupro, no curso da instruo, mediante percia, restou constatado que Patrcio era possuidor de doena mental grave e que, quando da prtica do fato, era inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do seu comportamento, situao, alis, que permaneceu at o momento do julgamento. Tambm ficou demonstrado que, no momento do DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 40 crime, Luiz estava completamente embriagado. O Ministrio Pblico requereu a condenao dos acusados. No havendo dvida com relao ao injusto, tecnicamente, a defesa tcnica dos acusados dever requerer, nas alegaes finais, A) a absolvio dos acusados por fora da inimputabilidade, aplicando, porm, medida de segurana para ambos. B) a absolvio de Luiz por ausncia de culpabilidade em razo da embriaguez culposa e a absolvio Patrcio, com aplicao, para este, de medida de segurana. C) a absolvio de Luiz por ausncia de culpabilidade em razo da embriaguez completa decorrente de fora maior e a absolvio imprpria de Patrcio, com aplicao, para este, de medida de segurana. D) a absolvio imprpria de Patrcio, com a aplicao de medida de segurana, e a condenao de Luiz na pena mnima, porque a embriaguez nunca exclui a culpabilidade. COMENTçRIOS: No caso em tela o Juiz dever absolver Luiz, em razo da ausncia de culpabilidade, por inimputabilidade decorrente de embriaguez completa proveniente de fora maior, nos termos do art. 28, ¤1¼ do CP. Em relao a Patrcio, dever receber sentena de absolvio imprpria, com aplicao de medida de segurana, nos termos do art. 26 do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV Ð 2015 Ð OAB Ð XVII EXAME DE ORDEM) Durante um assalto a uma instituio bancria, Antnio e Francisco, gerentes do estabelecimento, so feitos refns. Tendo cincia da condio deles de gerentes e da necessidade de que suas digitais fossem inseridas em determinado sistema para abertura do cofre, os criminosos colocam, fora, o dedo de Antnio no local necessrio, abrindo, com isso, o cofre e subtraindo determinada quantia em dinheiro. Alm disso, sob a ameaa de morte da esposa de Francisco, exigem que este saia do banco, levando a sacola de dinheiro juntamente com eles, enquanto apontam uma arma de fogo para os policiais que tentavam efetuar a priso dos agentes. Analisando as condutas de Antnio e Francisco, com base no conceito tripartido de crime, correto afirmar que A) Antnio no responder pelo crime por ausncia de tipicidade, enquanto Francisco no responder por ausncia de ilicitude em sua conduta. B) Antnio no responder pelo crime por ausncia de ilicitude, enquanto Francisco no responder por ausncia de culpabilidade em sua conduta. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 40 C) Antnio no responder pelo crime por ausncia de tipicidade, enquanto Francisco no responder por ausncia de culpabilidade em sua conduta. D) Ambos no respondero pelo crime por ausncia de culpabilidade em suas condutas. COMENTçRIOS: No caso em tela, Antnio foi vtima de coao FêSICA irresistvel (no teve vontade alguma, escolha alguma), de forma que fica afastada a prpria configurao do fato tpico, dada a ausncia de conduta. Francisco, por sua vez, foi vtima de coao MORAL irresistvel, de maneira que agiu sem culpabilidade, nos termos do art. 22 do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. 2.! ERRO 2.1.! Erro de tipo Quando o agente comete um fato que se amolda perfeitamente conduta descrita no tipo penal (direta ou indiretamente), temos um fato tpico e, como disse, estar presente, portanto, a tipicidade. Pode ocorrer, entretanto, que o agente pratique um fato tpico por equvoco! Isso mesmo! O agente pratica um fato considerado tpico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos. O erro de tipo a representao errnea da realidade, na qual o agente acredita no se verificar a presena de um dos elementos essenciais que compem o tipo penal. EXEMPLO: Imaginemos o crime de desacato: Art. 331 - Desacatar funcionrio pblico no exerccio da funo ou em razo dela: Pena - deteno, de seis meses a dois anos, ou multa. Imaginemos que o agente desconhecesse a condio de funcionrio pblico da vtima. Nesse caso, houve erro de tipo, pois o agente incidiu em erro sobre elemento essencial do tipo penal. ATENÌO! Quando o erro incidir sobre elemento normativo do tipo6, h divergncia na Doutrina! Parte entende que 6 Com relao a estes termos, CEZAR ROBERTO BITENCOURT os considera como Òelementos normativos especiais da ilicitudeÓ. Para o autor, elementos normativos seriam aqueles que demandam mero juzo de valor acerca de um objeto (saber que o documento falsificado pblico, por exemplo, no crime de falsificao de documento pblico). Termos como ÒindevidamenteÓ, Òsem justa causaÓ, etc., seriam antecipao da ilicitude do fato inseridas dentro do tipo penal. (BITENCOURT, Op. cit., p. 350). Fica apenas o registro, j que a Doutrina majoritria entende que tais expresses so DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 40 continua se tratando de erro de tipo. Outra parte da Doutrina entende que no se trata de erro de tipo, mas de erro de proibio, pois o agente estaria errando acerca da licitude do fato7. Exemplo: O art. 154 do CP diz o seguinte: Art. 154 - Revelar algum, sem justa causa, segredo, de que tem cincia em razo de funo, ministrio, ofcio ou profisso, e cuja revelao possa produzir dano a outrem: Pena - deteno, de trs meses a um ano, ou multa. Nesse caso, o elemento Òsem justa causaÓ elemento normativo do tipo. Se o mdico revela um segredo do paciente para um parente, acreditando que este poder ajud-lo, e faz isso apenas para o bem do paciente, acreditando haver justa causa, quando na verdade o parente um tremendo fofoqueiro que s quer difamar o paciente, o mdico incorreu em erro de tipo, pois acreditava estar agindo com justa causa, que no havia. Porm, como disse a vocs, parte da doutrina entende que aqui se trata de erro de proibio. Mas a teoria que prevalece a de que se trata mesmo de erro de tipo. O erro de tipo pode ser: ¥! Escusvel Ð Quando o agente no poderia conhecer, de fato, a presena do elemento do tipo. Exemplo: ÒAÓ entra numa loja e ao sair, verifica que esqueceu sua bolsa. Ao voltar, A encontra uma bolsa idntica sua, e a leva embora. Entretanto, ÒAÓ no sabia que essa bolsa era de ÒBÓ, que estava olhando revistas distrada, tendo sua bolsa sido levada por outra pessoa no momento em que saiu da loja pela primeira vez. Nesse caso, ÒAÓ no tinha como imaginar que algum, em to pouco tempo, haveria roubado sua bolsa e que outra pessoa deixaria no mesmo lugar uma bolsa idntica. Nesse caso, ÒAÓ incorreu em erro de tipo escusvel, pois no poderia, com um exerccio mental razovel, saber que aquela no era sua bolsa. ¥! Inescusvel Ð Ocorre quando o agente incorre em erro sobre elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforo mentalrazovel, no ter agido desta forma. Exemplo: Imaginemos que Marcelo esteja numa repartio pblica e acabe por desacatar funcionrio pblico que l estava. Marcelo no sabia que se tratava de funcionrio pblico, mas mediante esforo mental mnimo poderia ter chegado a esta concluso, analisando a postura da pessoa com quem falava e o que a pessoa fazia no local. Assim, Marcelo incorreu em erro de tipo inescusvel, e responderia por crime culposo, caso houvesse previso de desacato culposo (no h). elementos normativos do tipo penal. Ver, por todos: GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 211. 7 BITENCOURT, Op. cit., p. 514/515 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 40 Assim, lembrem-se: Pode ser que se utilize o termo ÒErro sobre elemento constitutivo do tipo penalÓ. Eu prefiro essa nomenclatura, mas ela no utilizada sempre. ATENÌO! Existe, ainda, o que se convencionou chamar de Òerro de tipo permissivoÓ. O que isso? O erro de Òtipo permissivoÓ o erro sobre os pressupostos objetivos de uma causa de justificao (excludente de ilicitude). Assim, o erro de Òtipo permissivoÓ seria, basicamente, uma descriminante putativa. Fala-se em Òtipo permissivoÓ em razo da teoria dos elementos negativos do tipo, surgida na Alemanha no comeo do sculo passado. Para esta teoria, as causas de excluso da ilicitude seriam elementos NEGATIVOS do tipo. Ou seja, enquanto o Òtipo incriminadorÓ propriamente dito seria a descrio da conduta proibida, as excludentes de ilicitude corresponderiam a ÒressalvasÓ ilicitude da conduta. Desta forma, o que a Doutrina quis dizer foi que, basicamente, quando o art. 121 do CP diz que Òmatar algumÓ crime, ele na verdade quer dizer que Òmatar algum crime, exceto se houver alguma causa de justificaoÓ. Esta uma teoria que conta com alguns adeptos e, independentemente disso, o fato que o termo Òerro de tipo permissivoÓ largamente utilizado e, portanto, digno de nota! 2.2.! Erro de tipo acidental O erro de tipo acidental nada mais que um erro na execuo do fato criminoso ou um desvio no nexo causal da conduta com o resultado8. Pode se apresentar de diversas formas: 2.2.1.! Erro sobre a pessoa (error in persona) Aqui o agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito. Neste caso, o erro irrelevante, pois o agente responde como se 8 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 376 Agente comete o fato típico por incidir em erro sobre um dos elementos que compõem o tipo penal ERRO DE TIPO DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 40 tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA. Essa previso est no art. 20, ¤3¡ do CP. Aqui o sujeito executa perfeitamente a conduta, ou seja, no existe falha na execuo do delito. O erro est em momento anterior (na representao mental da vtima). Ex.: Joo quer matar seu pai, pois est com raiva em razo da partilha dos bens de sua me. Joo fica na espreita e, quando v uma pessoa chegar, acreditando ser seu pai, mira bem no crnio e lasca um balao certeiro, fazendo com que a vtima caia desfalecida. Aps, verifica que a pessoa no era seu pai, mas seu irmo. Neste caso o agente responder como se tivesse praticado o delito contra seu pai (pessoa visada) e no pelo homicdio contra seu irmo. Trata-se da teoria da equivalncia. 2.2.2.! Erro sobre o nexo causal No erro sobre o nexo causal o agente alcana o resultado efetivamente pretendido, mas em razo de um nexo causal diferente daquele que o agente planejou. Pode ser de duas espcies: 2.2.2.1.!Erro sobre o nexo causal em sentido estrito Aqui o agente, com um s ato, provoca o resultado pretendido (mas com nexo causal diferente). Ex.: Jos dispara dois tiros contra Maria, visando sua morte. Maria, em razo dos disparos, cai na piscina, e morre por afogamento. O agente responde pelo que efetivamente ocorreu (morte por afogamento).9 2.2.2.2.!Dolo geral ou aberratio causae Aqui temos o que se chama de DOLO GERAL OU SUCESSIVO. o engano no que se refere ao meio de execuo do delito. Ocorre quando o agente, acreditando j ter ocorrido o resultado pretendido, pratica outro ato, mas ao final verifica que este ltimo foi o que provocou o resultado. Ex.: O agente atira contra a vtima, visando sua morte. Acreditando que a vtima j morreu, atira o corpo num rio, visando sua ocultao. Mais tarde, descobre-se que esta ltima conduta foi a que causou a morte da vtima, por afogamento, pois ainda estava viva. Embora, tenhamos dois crimes (um homicdio doloso tentado na primeira conduta e um homicdio culposo consumado na segunda conduta), a Doutrina majoritria entende que o agente responde 9 Por todos, GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Curso de Direito Penal. JusPodivm. Salvador, 2015, p. 380 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 40 por apenas um crime, pelo crime originalmente previsto (homicdio doloso consumado10), tendo sido adotada a TEORIA UNITçRIA (ou princpio unitrio).11 Mas qual o nexo causal que se deve considerar? O pretendido ou o efetivamente ocorrido? Embora no haja unanimidade, prevalece o entendimento de que deve o agente responder pelo nexo causal efetivamente ocorrido (e no pelo pretendido).12 2.2.3.! Erro na execuo (aberratio ictus) Aqui o agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, no por confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE EXECUTAR O DELITO. Imagine que o agente, tentando acertar ÒAÓ, erre o tiro e acaba acertando ÒBÓ. No erro sobre a pessoa o agente no Òerra o alvoÓ, ele Òacerta o alvoÓ, mas o alvo foi confundido. SÌO COISAS DIFERENTES! A aberratio ictus pode decorrer de mero acidente durante a execuo do delito (no houve m execuo pelo infrator, mas mero acidente). ! Ex.: Jos deseja matar Maria. Sabendo que Maria usa seu carro todas as manhs para ir ao trabalho, coloca uma bomba no veculo, que ser acionada assim que for dada a partida no carro. Maria, contudo, no usa o carro naquele dia, e quem acaba ligando o veculo seu marido, que vem a falecer em razo da bomba. Vejam que, aqui, o agente no errou na hora de executar o ato criminoso, mas acabou atingindo pessoa diversa em razo de acidente no curso da empreitada criminosa. Nesse caso, assim como no erro sobre a pessoa, o agente responde pelo crime originalmente pretendido. Esta a previso do art. 73 do CP13. 10 GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal. Volume 1. Ed. Impetus. Niteri-RJ, 2015, p. 360 11 Doutrina minoritria (mas muito importante) sustenta que o agente deva responder por dois crimes em concurso: homicdio doloso tentado (primeira conduta) + homicdio culposo consumado (segunda conduta). Trata-seda adoo da teoria do desdobramento. 12 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Curso de Direito Penal. JusPodivm. Salvador, 2015, p. 380/381 13Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execuo, o agente, ao invs de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no ¤ 3¼ do art. 20 deste Cdigo. No caso de ser tambm atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Cdigo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 40 No que tange s consequncias, o erro na execuo pode ser de duas ordens: 2.2.3.1.!Erro sobre a execuo com unidade simples (Aberratio ictus de resultado nico) O agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada. Neste caso, responde como se tivesse atingido a pessoa visada (e no aquela efetivamente atingida), da mesma forma como ocorre no erro sobre a pessoa. 2.2.3.2.!Erro sobre a execuo com unidade complexa (Aberratio ictus de resultado duplo) O agente atinge a vtima no visada, mas atinge tambm a vtima originalmente pretendida. Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO FORMAL. 2.2.4.! Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aberratio delicti ou aberratio criminis) Aqui o agente pretendia cometer um crime, mas, por acidente ou erro na execuo, acaba cometendo outro. Aqui h uma relao de pessoa x coisa (ou coisa x pessoa). Na aberratio ictus h uma relao de pessoa x pessoa. Pode ser de duas espcies: 2.2.4.1.!Com unidade simples O agente atinge apenas o resultado NÌO PRETENDIDO. O agente responde apenas por um delito, da seguinte forma: §! Pessoa visada, coisa atingida Ð Responde pelo dolo em relao pessoa (tentativa de homicdio ou leses corporais). ! Ex.: Jos atira contra Maria, querendo sua morte. Contudo, erra na execuo e acaba por atingir uma planta. Neste caso, Jos responde apenas pela tentativa de homicdio. §! Coisa visada, pessoa atingida Ð Responde apenas pelo resultado ocorrido em relao pessoa. ! Ex.: Imagine que algum atire uma pedra num veculo parado, com o dolo de danific-lo (art. 163 do CP). Entretanto, o agente erra o alvo e atinge o dono, que estava perto (cometendo leses corporais, art. 129 do CP). Nesse caso, o agente acaba por cometer CRIME DIVERSO DO PRETENDIDO. Responder apenas pelo crime praticado efetivamente (leso corporal culposa). DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 40 2.2.4.2.!Com unidade complexa O agente atinge tanto o alvo (coisa ou pessoa) quanto a coisa (ou pessoa) no pretendida. Aplica-se, neste caso, a mesma regra do erro na execuo: atingindo ambos os bens jurdicos (o pretendido e o no pretendido) responder por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL (art. 70 do CP).14 ! CUIDADO! Se o agente visa atingir uma pessoa (leses corporais, por exemplo) e, alm de atingir a pessoa visada, acaba tambm quebrando uma vidraa, ele NÌO responde por leses corporais dolosas + dano culposo, pois NÌO Hç CRIME DE DANO CULPOSO. 2.2.5.! Erro sobre o objeto (error in objecto) Aqui o agente incide em erro sobre a COISA visada, sobre o objeto material do delito. Ex.: O agente pretende subtrair uma valiosa obra de arte. Entra noite na residncia mas acaba furtando um quadro de pequeno valor, por confundir com a obra pretendida. O CP no previu esta hiptese de erro, mas diante de sua possibilidade ftica, a Doutrina se debruou sobre o tema. Uma vez ocorrendo erro sobre o objeto, no h qualquer relevncia para fins de afastamento do do dolo ou da culpa, bem como no se afasta a culpabilidade. O agente responder pelo delito. Mas qual delito? Neste caso, h divergncia doutrinria. A doutrina majoritria, porm, sustenta que o agente deve responder pela conduta efetivamente praticada (independentemente da coisa visada). Assim, no exemplo anterior, o agente responderia pelo furto do quadro de pequeno valor (e no pelo furto da obra de arte valiosa). 2.3.! Erro determinado por terceiro No erro de tipo o agente comete o erro ÒsozinhoÓ, ou seja, no induzido a erro por ningum. No erro determinado (ou provocado) por terceiro o agente erra porque algum o induz a isso. Neste caso, s responde pelo delito aquele que provoca o erro. Entende-se que h, aqui, uma modalidade de autoria mediata, na qual o autor mediato (agente provocador) utiliza o autor imediato (agente provocado, aquele que comete o erro) como mero instrumento para seu intento criminoso. ! Ex.: Determinado mdico, querendo a morte do paciente, entrega enfermeira (dolosamente) uma dose de veneno, e a induz a ministra-lo 14 GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 379 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 40 ao paciente, alegando tratar-se de um sedativo. A enfermeira, sem saber do que se trata, confiando no mdico, ministra o veneno. O paciente morre. Neste caso, somente o mdico (aquele que provocou o erro) responde pelo homicdio (neste caso, doloso). ! A enfermeira, em regra, no responde por crime algum, salvo se ficar demonstrado que agiu de forma negligente (por exemplo, se tinha plenas condies de saber que se tratava de veneno, ou se podia desconfiar das intenes do mdico, etc.). 2.4.! Erro de proibio A culpabilidade (terceiro elemento do conceito analtico de crime) formada por alguns elementos, dentre eles, a POTENCIAL CONSCIæNCIA DA ILICITUDE. A POTENCIAL CONSCIæNCIA DA ILICITUDE a possibilidade de o agente, de acordo com suas caractersticas, conhecer o carter ilcito do fato. No se trata do parmetro do homem mdio, MAS DE UMA ANçLISE DA PESSOA DO AGENTE. Quando o agente age acreditando que sua conduta no ilcita, comete ERRO DE PROIBIÌO (art. 21 do CP). O erro de proibio pode ser: Ø! Escusvel Ð Nesse caso, era impossvel quele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrria ao Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente isento de pena. Ø! Inescusvel Ð Nesse caso, o erro do agente quanto proibio da conduta no to perdovel, pois era possvel, mediante algum esforo, entender que se tratava de conduta ilcita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuda de um sexto a um tero (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). EXEMPLO: Um cidado, l do interior, encontra um bem (relgio de ouro, por exemplo) e fica com ele para si. Entretanto, mal sabe ele que essa conduta crime, previsto no CP (apropriao de coisa achada). Vejamos: Art. 169 - Apropriar-se algum de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou fora da natureza: Pena - deteno, de um ms a um ano, ou multa. Pargrafo nico - Na mesma pena incorre: (...) Apropriao de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restitu-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. DIREITO PENAL para o XXIVEXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 40 Percebam que at mesmo uma pessoa de razovel intelecto capaz de no conhecer a ilicitude desta conduta15. Assim, o agente, diferentemente do que ocorre no erro de tipo, REPRESENTA PERFEITAMENTE A REALIDADE (Sabe que a coisa no sua, uma coisa que foi perdida por algum), mas ACREDITA QUE A CONDUTA LêCITA. Imaginem, no mesmo exemplo, que o camarada que achou o relgio, na verdade, soubesse que no podia ficar com as coisas dos outros, mas acreditasse que o relgio era um relgio que ele tinha perdido horas antes (quando, na verdade, era o relgio de outra pessoa). Nesse caso, o agente sabia que no podia praticar a conduta de Òse apropriar de coisa alheia perdidaÓ (No h, portanto, erro de proibio), mas acreditou que a coisa no era ÒalheiaÓ, achando que fosse sua (erro de tipo). Ficou clara a diferena? O erro de proibio pode ser direto (que a hiptese mencionada) ou indireto. O erro de proibio indireto ocorre quando o agente atua acreditando que existe uma causa de justificao que o ampare. Contudo, no confundam o erro de proibio indireto com o erro de tipo permissivo. Ambos se referem existncia de uma causa de justificao (excludente de ilicitude), mas h uma diferena fundamental entre eles: ¥! Erro de tipo permissivo Ð O agente atua acreditando que, no caso concreto, esto presentes os requisitos fticos que caracterizam a causa de justificao e, portanto, sua conduta seria justa. Ex.: Jos atira contra seu filho, de madrugada, pois acreditava tratar-se de um ladro (acreditava que as circunstncias fticas autorizariam agir em legtima defesa). 15 No se exige que o agente conhea EXATAMENTE a tipificao penal de sua conduta, bastando que ele saiba que sua conduta ilcita. Assim, se o agente pratica uma determinada conduta que sabe ser ilcita (embora no saiba a qual crime se refere), NÌO Hç ERRO DE PROIBIÌO. Haveria, aqui, o que se chama de Òerro de subsunoÓ, que irrelevante para fins de determinao da responsabilidade penal do agente. Isso ocorre porque no se exige do agente que saiba EXATAMENTE a que tipo penal corresponde sua conduta. Basta que se verifique ser possvel ao agente, de acordo com suas caractersticas pessoas e sociais, saber que sua conduta ilcita (Isso o que se chama de VALORAÌO PARALELA NA ESFERA DO PROFANO, OU DO LEIGO). DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 40 ¥! Erro de proibio indireto Ð O agente atua acreditando que existe, EM ABSTRATO, alguma descriminante (causa de justificao) que autorize sua conduta. Trata-se de erro sobre a existncia e/ou limites de uma causa de justificao em abstrato. Erro, portanto, sobre o ordenamento jurdico16. Ex.: Jos encontra-se num barco que est a naufragar. Como possui muitos pertences, precisa de dois botes, um para se salvar e outro para salvar seus bens. Contudo, Marcelo tambm est no barco e precisa salvar sua vida. Jos, no entanto, agride Marcelo, impedindo-o de entrar no segundo bote, j que tinha a inteno de utiliz-lo para proteger seus bens. Neste caso, Jos no representou erroneamente a realidade ftica (sabia exatamente o que estava se passando). Jos, conduta, errou quanto aos limites da causa de justificao (estado de necessidade), que no autoriza o sacrifcio de um bem maior (vida de Marcelo) para proteger um bem menor (pertences de Jos). CUIDADO! No confundam Descriminantes Putativas com delito putativo. As descriminantes putativas so quaisquer situaes nas quais o agente incida em erro por acreditar que est presente uma situao que, se de fato existisse, tornaria sua ao legtima (a doutrina majoritria limita estes casos s excludentes de ilicitude). Imagine que o agente est numa casa de festas e oua gritos de ÒfogoÓ! Supondo haver um incndio, corre atropelando pessoas, agredindo quem est na frente, para poder se salvar. Na verdade, tudo no passava de um trote. Nesse caso, o agente agrediu pessoas (moderadamente, claro), para se salvar, supondo haver uma situao que, se existisse (incndio) justificaria a sua conduta (estado de necessidade). Dessa forma, h uma descriminante putativa por estado de necessidade putativo (descriminante putativa). NO DELITO PUTATIVO acontece EXATAMENTE O OPOSTO do que ocorre no erro de tipo, no erro de proibio e nas descriminantes putativas (seja de que natureza forem). O agente acredita que est cometendo o crime, quando, na verdade, est cometendo um INDIFERENTE PENAL. EXEMPLO: Um cidado, sem querer, esbarra no carro de um terceiro, causando danos no veculo. Com medo de ser preso, foge. Na verdade, ele acredita que est cometendo crime de DANO CULPOSO, mas no sabe que o CRIME DE DANO CULPOSO NÌO EXISTE. Portanto, h, aqui, DELITO PUTATIVO. 16 BITENCOURT, Op. cit., p. 524/525 DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 40 DESCRIMINANTES PUTATIVAS X DELITO PUTATIVO DESCRIMINANTES PUTATIVAS Agente acredita no estar cometendo crime algum, por incidir em erro. Contudo, est praticando uma conduta tpica e ilcita. DELITO PUTATIVO Agente comete um INDIFERENTE PENAL, mas acredita estar praticando crime. (FGV Ð 2017 Ð OAB - XXIII EXAME DE ORDEM) Pedro, jovem rebelde, sai procura de Henrique, 24 anos, seu inimigo, com a inteno de mat-lo, vindo a encontr-lo conversando com uma senhora de 68 anos de idade. Pedro saca sua arma, regularizada e cujo porte era autorizado, e dispara em direo ao rival. Ao mesmo tempo, a senhora dava um abrao de despedida em Henrique e acaba sendo atingida pelo disparo. Henrique, que no sofreu qualquer leso, tenta salvar a senhora, mas ela falece. Diante da situao narrada, em consulta tcnica solicitada pela famlia, dever ser esclarecido pelo advogado que a conduta de Pedro, de acordo com o Cdigo Penal, configura A) crime de homicdio doloso consumado, apenas, com causa de aumento em razo da idade da vtima. ͒ B) crime de homicdio doloso consumado, apenas, sem causa de aumento em razo da idade da vtima. ͒ C) crimes de homicdio culposo consumado e de tentativa de homicdio doloso em relao a Henrique. ͒ D) crime de homicdio culposo consumado, sem causa de aumento pela idade da vtima. ͒ COMENTçRIOS: No presente caso tivemos um homicdio doloso consumado, pois houve erro na execuo, na forma do art. 73 do CP. No h aumento de pena em razo da agravante de ter sido praticado contra pessoa idosa, pois consideram-se as condies pessoais da vtima visada, e no as da vtima atingida, nos termos do art. 73 c/c art. 20, ¤3¼ do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B. (FGV Ð 2017 Ð OAB Ð XXII EXAME DE ORDEM) Tony, a pedido de um colega, est transportando uma caixa com cpsulas que acredita ser de remdios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocana em seu interior. Por outro lado, Jos transporta em seu veculo 50g de DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.brPágina 23 de 40 Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por policiais e, diante da apreenso das drogas, denunciados pela prtica do crime de trfico de entorpecentes. Considerando apenas as informaes narradas, o advogado de Tony e Jos dever alegar em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrncia de A) erro de tipo, nos dois casos. ͒ B) erro de proibio, nos dois casos. ͒ C) erro de tipo e erro de proibio. ͒ D) erro de proibio e erro de tipo. COMENTçRIOS: No primeiro caso temos erro de tipo, previsto no art. 20 do CP, pois o agente praticou o fato tpico por incidir em ERRO sobre um dos elementos do tipo penal (substncia entorpecente), j que acredita que no se tratava de substncia entorpecente, e sim de remdio. No segundo caso tivemos erro de proibio, pois o agente sabia exatamente o que estava carregando, mas acreditava que sua conduta era lcita perante o Direito Penal, ou seja, trata-se de um erro sobre a existncia ou limites da norma penal. Portanto, ERRO DE PROIBIÌO, nos termos do art. 21 do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV - 2016 - OAB - XX EXAME DE ORDEM) Wellington pretendia matar Ronaldo, camisa 10 e melhor jogador de futebol do time Bola Cheia, seu adversrio no campeonato do bairro. No dia de um jogo do Bola Cheia, Wellington v, de costas, um jogador com a camisa 10 do time rival. Acreditando ser Ronaldo, efetua diversos disparos de arma de fogo, mas, na verdade, aquele que vestia a camisa 10 era Rodrigo, adolescente que substituiria Ronaldo naquele jogo. Em virtude dos disparos, Rodrigo faleceu. Considerando a situao narrada, assinale a opo que indica o crime cometido por Wellington. A) Homicdio consumado, considerando-se as caractersticas de Ronaldo, pois houve erro na execuo. B) Homicdio consumado, considerando-se as caractersticas de Rodrigo. C) Homicdio consumado, considerando-se as caractersticas de Ronaldo, pois houve erro sobre a pessoa. D) Tentativa de homicdio contra Ronaldo e homicdio culposo contra Rodrigo. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 40 COMENTçRIOS: No caso em tela, temos o fenmeno do erro sobre a pessoa, previsto no art. 20, ¤3¼ do CP. Neste caso, o agente responde pelo crime de acordo com as caractersticas da vtima pretendida, e no de acordo com as caractersticas da vtima atingida. Assim, Wellington responder por homicdio doloso consumado, considerando-se as caractersticas pessoais de Ronaldo, a vtima visada. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV - 2016 - OAB - XIX EXAME DE ORDEM) Pedro e Paulo bebiam em um bar da cidade quando teve incio uma discusso sobre futebol. Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e tambm terceira pessoa que se encontrava no local, certo que ambas as vtimas faleceram, inclusive aquela cuja morte no era querida pelo agente. Para resolver a questo no campo jurdico, deve ser aplicada a seguinte modalidade de erro: A) erro sobre a pessoa. B) aberratio ictus. C) aberratio criminis. D) erro determinado por terceiro. COMENTçRIOS: Neste caso ocorreu aberratio ictus, ou erro na execuo, pois em virtude de acidente o agente atingiu pessoa diversa daquela que pretendia atingir (embora tambm tenha atingido a vtima visada, motivo pelo qual responder pelos dois delitos em concurso formal, nos termos do art. 73 c/c art. 70 do CP). Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B. (FGV Ð 2014 Ð OAB Ð XIV EXAME DE ORDEM) Eslow, holands e usurio de maconha, que nunca antes havia feito uma viagem internacional, veio ao Brasil para a Copa do Mundo. Assistindo ao jogo Holanda x Brasil decidiu, diante da tenso, fumar um cigarro de maconha nas arquibancadas do estdio. Imediatamente, os policiais militares de planto o prenderam e o conduziram Delegacia de Polcia. Diante do Delegado de Polcia, Eslow, completamente assustado, afirma que no sabia que no Brasil a utilizao de pequena quantidade de maconha era proibida, pois, no seu pas, um habito assistir a jogos de futebol fumando maconha. Sobre a hiptese apresentada, assinale a opo que apresenta a principal tese defensiva. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 40 a) Eslow est em erro de tipo essencial escusvel, razo pela qual deve ser absolvido. b) Eslow est em erro de proibio direto inevitvel, razo pela qual deve ser isento de pena. c) Eslow est em erro de tipo permissivo escusvel, razo pela qual deve ser punido pelo crime culposo. d) Eslow est em erro de proibio, que importa em crime impossvel, razo pela qual deve ser absolvido. COMENTçRIOS: Na hiptese narrada o agente se encontra em ERRO DE PROIBIÌO, pois incidiu em erro sobre a existncia de norma incriminadora. Quanto a ser, ou no, um erro evitvel, trata-se de uma questo mais nebulosa. O enunciado, contudo, tenta deixar claro que o agente, de fato, no sabia e nem poderia saber da proibio, j que pessoa que nunca viajou para fora da Holanda, etc. Assim, o enunciado deixa transparecer que se trata de erro de proibio inevitvel e, sendo assim, o agente fica isento de pena, por fora do art. 21 do CP. PORTANTO, A ALTERNATIVA CORRETA A LETRA B. (FGV Ð IX EXAME UNIFICADO DA OAB) Jaime, brasileiro, passou a morar em um pas estrangeiro no ano de 1999. Assim como seu falecido pai, Jaime tinha por hbito sempre levar consigo acessrios de arma de fogo, o que no era proibido, levando-se em conta a legislao vigente poca, a saber, a Lei n. 9.437/97. Tal hbito foi mantido no pas estrangeiro que, em sua legislao, no vedava a conduta. Todavia, em 2012, Jaime resolve vir de frias ao Brasil. Alm de matar as saudades dos familiares, Jaime tambm queria apresentar o pas aos seus dois filhos, ambos nascidos no estrangeiro. Ocorre que, dois dias aps sua chegada, Jaime foi preso em flagrante por portar ilegalmente acessrio de arma de fogo, conduta descrita no Art. 14 da Lei n. 10.826/2003, verbis : ÒPortar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentarÓ. Nesse sentido, podemos afirmar que Jaime agiu em hiptese de A) erro de proibio direto. B) erro de tipo essencial. C) erro de tipo acidental. D) erro sobre as descriminantes putativas. COMENTçRIOS: Partindo-se da premissa de que, de fato, Jaime no sabia que sua conduta era prevista como crime, temos um caso de erro DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 40 de proibio direto, pois recai sobre a potencial conscincia da ilicitude do fato em abstrato. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA A. (FGV - 2010 - OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - 3 - PRIMEIRA FASE (FEV/2011) Joaquim, desejoso de tirar a vida da prpria me, acaba causando a morte de uma tia (por confundi-la com aquela). Tendo como referncia a situao acima, correto afirmarque Joaquim incorre em erro A) de tipo essencial escusvel Ð inevitvel Ð e dever responder pelo crime de homicdio sem a incidncia da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (haja vista que a vtima, de fato, no era a sua genitora). B) de tipo acidental na modalidade error in persona e dever responder pelo crime de homicdio com a incidncia da agravante relativa ao crime praticado contra ascendente (mesmo que a vtima no seja, de fato, a sua genitora). C) de proibio e dever responder pelo crime de homicdio qualificado pelo fato de ter objetivado atingir ascendente (preserva-se o dolo, independente da identidade da vtima). D) de tipo essencial inescusvel Ð evitvel Ð, mas no dever responder pelo crime de homicdio qualificado, uma vez que a pessoa atingida no era a sua ascendente. COMENTçRIOS: No caso em tela, Joaquim praticou o que se chama de crime por erro sobre a pessoa, na medida em que visualizou mal a vtima, mas acertou na execuo. Nesse caso, o CP determina que o agente seja punido pelo crime que tentou em relao pessoa visada, e no em relao pessoa efetivamente atingida. Portanto, a afirmativa CORRETA A LETRA B. (FGV Ð 2013 Ð OAB Ð XII EXAME DE ORDEM) Brulio, rapaz de 18 anos, conhece Paula em um show de rock, em uma casa noturna. Os dois, aps conversarem um pouco, resolvem dirigir-se a um motel e ali, de forma consentida, o jovem mantm relaes sexuais com Paula. Aps, Brulio descobre que a moa, na verdade, tinha apenas 13 anos e que somente conseguira entrar no show mediante apresentao de carteira de identidade falsa. A partir da situao narrada, assinale a afirmativa correta. A) Brulio deve responder por estupro de vulnervel doloso. B) Brulio deve responder por estupro de vulnervel culposo. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 40 C) Brulio no praticou crime, pois agiu em hiptese de erro de tipo essencial. D) Brulio no praticou crime, pois agiu em hiptese de erro de proibio direto. COMENTçRIOS: Em tese, Brulio praticou o delito do art. 217-A do CP (estupro de vulnervel), por ter mantido relao sexual com pessoa menor de 14 anos. Contudo, no caso concreto, podemos afirmar que Brulio agiu em erro de tipo essencial, pois representou equivocadamente a realidade (acreditava que Paula tivesse mais de 14 anos), incorrendo em erro sobre um dos elementos que integram o tipo penal (ser a vtima menor de 14 anos), nos termos do art. 20 do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. (FGV Ð 2010 Ð OAB Ð II EXAME DE ORDEM) Arlete, em estado puerperal, manifesta a inteno de matar o prprio filho recm-nascido. Aps receber a criana no seu quarto para amament-la, a criana levada para o berrio. Durante a noite, Arlete vai at o berrio, e, aps conferir a identificao da criana, a asfixia, causando a sua morte. Na manh seguinte, constatada a morte por asfixia de um recm-nascido, que no era o filho de Arlete. Diante do caso concreto, assinale a alternativa que indique a responsabilidade penal da me. (A) Crime de homicdio, pois, o erro acidental no a isenta de reponsabilidade. (B) Crime de homicdio, pois, uma vez que o art. 123 do CP trata de matar o prprio filho sob influncia do estado puerperal, no houve preenchimento dos elementos do tipo. (C) Crime de infanticdio, pois houve erro quanto pessoa. (D) Crime de infanticdio, pois houve erro essencial. COMENTçRIOS: No caso narrado no enunciado Arlete dever responder pelo delito de infanticdio, previsto no art. 123 do CP. Isso porque houve o que se chama de ERRO SOBRE A PESSOA, ou seja, Arlete representou equivocadamente a realidade, agindo contra o filho de outra pessoa, acreditando que estava praticando a conduta contra o prprio filho. Em casos tais, o agente responde pelo delito como se tivesse atingido a pessoa que, de fato, pretendia atingir, nos termos do art. 20, ¤3¼ do CP. Portanto, a ALTERNATIVA CORRETA A LETRA C. 3.! RESUMO CULPABILIDADE DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 40 CONCEITO - Juzo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas circunstncias pessoais. TEORIAS TEORIAS ACERCA DA CULPABILIDADE PSICOLîGICA Imputabilidade (pressuposto) + dolo ou culpa PSICOLîGICO- NORMATIVA Imputabilidade + exigibilidade de conduta diversa + culpa + dolo natural (conscincia e vontade) + dolo normativo (conscincia da ilicitude) EXTREMADA Imputabilidade + exigibilidade de conduta diversa + dolo normativo (POTENCIAL conscincia da ilicitude)17 LIMITADA Mesmos elementos da teoria extremada + divergncia quanto ao tratamento das descriminantes putativas decorrentes de erro sobre pressupostos fticos (entende que devem ser tratadas como erro de tipo, e no erro de proibio). ADOTADA PELO CP ELEMENTOS IMPUTABILIDADE - Capacidade mental de entender o carter ilcito da conduta e de comportar-se conforme o Direito. Critrios para aferio da imputabilidade: CRITRIOS PARA AFERIÌO DA IMPUTABILIDADE BIOLîGIO Basta a existncia de uma caracterstica biolgica (doena mental ou determinada idade) para que o agente seja inimputvel. OBS.: Adotado pelo CP em relao inimputabilidade por menoridade penal. PSICOLîGICO S se pode aferir a imputabilidade (ou no), na anlise do caso concreto (se o agente tinha discernimento). BIOPSICOLîGICO Conjuga a presena de um elemento biolgico (doena mental ou idade) com a necessidade de se 17 O dolo natural (a mera vontade e conscincia de praticar a conduta definida como crime) migra, portanto, para o fato tpico, como elemento integrante da conduta. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 40 avaliar se o agente, no caso concreto, tinha discernimento. OBS.: Adotado pelo CP em relao inimputabilidade por doena mental e embriaguez decorrente de caso fortuito ou fora maior. OBS.: Em qualquer caso, a inimputabilidade aferida no momento do fato criminoso. Causas de inimputabilidade penal (excluso da imputabilidade) Menoridade penal Ð So inimputveis os menores de 18 anos (critrio biolgico) Doena mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado Ð Requisitos: ¥! Que o agente possua a doena (critrio biolgico) ¥! Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se conforme este entendimento (critrio psicolgico) Obs.: Se, em decorrncia da doena, o agente tinha discernimento PARCIAL (semi-imputabilidade), NÌO ISENTO DE PENA (no afasta a imputabilidade). Neste caso, h reduo de pena (um a dois teros). Embriaguez Ð Requisitos: ¥! Que o agente esteja completamente embriagado (critrio biolgico) ¥! Que se trate de embriaguez decorrente de caso fortuito ou fora maior ¥! Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato OU inteiramente incapaz de determinar-se conforme este entendimento (critrio psicolgico) Obs.: Se, em decorrncia da embriaguez, o agente tinha discernimento PARCIAL (semi-imputabilidade), NÌO ISENTODE PENA (no afasta a imputabilidade). Neste caso, h reduo de pena (um a dois teros). Esquema: DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 40 POTENCIAL CONSCIæNCIA DA ILICITUDE - Possibilidade de o agente, de acordo com suas caractersticas, conhecer o carter ilcito do fato. Quando o agente atua acreditando que sua conduta no penalmente ilcita, comete erro de proibio. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA - No basta que o agente seja imputvel e que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato, necessrio, ainda, que o agente pudesse agir de outro modo. No havendo tal elemento, afastada est a culpabilidade. Exemplos: §! Coao MORAL irresistvel Ð Ocorre quando uma pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob a ameaa de lhe fazer algum mal grave. Obs.: A coao FêSICA irresistvel NÌO EXCLUI A CULPABILIDADE. A coao FêSICA irresistvel EXCLUI O FATO TêPICO, por ausncia de vontade (ausncia de conduta). §! Obedincia hierrquica Ð o ato cometido por algum em cumprimento a uma ordem no manifestamente ilegal proferida por um superior hierrquico. Obs.: prevalece que s se aplica aos funcionrios pblicos. ERRO ERRO DE TIPO ESSENCIAL Ð O agente pratica um fato considerado tpico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos. a representao errnea da realidade. O erro de tipo pode ser: DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 40 §! Escusvel Ð Quando o agente no poderia conhecer, de fato, a presena do elemento do tipo. Qualquer pessoa, nas mesmas condies, cometeria o mesmo erro. §! Inescusvel Ð Ocorre quando o agente incorre em erro sobre elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforo mental razovel, no ter agido desta forma. OBS.: Erro de tipo permissivo - O erro de Òtipo permissivoÓ o erro sobre os pressupostos objetivos de uma causa de justificao (excludente de ilicitude). ERRO DE TIPO ACIDENTAL - O erro de tipo acidental nada mais que um erro na execuo do fato criminoso ou um desvio no nexo causal da conduta com o resultado. Pode ser: Erro sobre a pessoa (error in persona) - Aqui o agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito. No existe falha na execuo, mas na escolha da vtima. CONSEQUæNCIA - O agente responde como se tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA (teoria da equivalncia). Erro sobre o nexo causal - O agente alcana o resultado efetivamente pretendido, mas em razo de um nexo causal diferente daquele que o agente planejou. Pode ser de duas espcies: §! Erro sobre o nexo causal em sentido estrito - Com um s ato, provoca o resultado pretendido (mas com nexo causal diferente). §! Dolo geral ou aberratio causae Ð Tambm chamado de DOLO GERAL OU SUCESSIVO. Ocorre quando o agente, acreditando j ter ocorrido o resultado pretendido, pratica outro ato, mas ao final verifica que este ltimo foi o que provocou o resultado. CONSEQUæNCIA: Responde por apenas um crime (h posies em contrrio), pelo crime originalmente previsto (TEORIA UNITçRIA ou princpio unitrio). Responde, ainda, de acordo com o nexo causal efetivamente ocorrido. Erro na execuo (aberratio ictus) - Aqui o agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, no por confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE EXECUTAR O DELITO. Pode ser de duas espcies: §! Erro sobre a execuo com unidade simples (Aberratio ictus de resultado nico ou em sentido estrito) - O agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada. §! Erro sobre a execuo com unidade complexa (Aberratio ictus de resultado duplo ou em sentido amplo) - O agente DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 40 atinge a vtima no visada, mas atinge tambm a vtima originalmente pretendida. Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO FORMAL. Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aberratio delicti ou aberratio criminis) - Aqui o agente pretendia cometer um crime, mas, por acidente ou erro na execuo, acaba cometendo outro. Aqui h uma relao de pessoa x coisa (ou coisa x pessoa). Pode ser de duas espcies: §! Com unidade simples - O agente atinge apenas o resultado NÌO PRETENDIDO. O agente responde apenas por um delito, da seguinte forma: Ø! Pessoa visada, coisa atingida Ð Responde pelo dolo em relao pessoa (tentativa de homicdio ou leses corporais). Ø! Coisa visada, pessoa atingida Ð Responde apenas pelo resultado ocorrido em relao pessoa. §! Com unidade complexa - O agente atinge tanto o alvo (coisa ou pessoa) quanto a coisa (ou pessoa) no pretendida. Responder por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL. Erro sobre o objeto (error in objecto) - Aqui o agente incide em erro sobre a COISA visada, sobre o objeto material do delito. Prevalece que no h qualquer relevncia para fins de afastamento do do dolo ou da culpa, bem como no se afasta a culpabilidade. CONSEQUæNCIA: A doutrina majoritria (h divergncia) sustenta que o agente deve responder pela conduta efetivamente praticada (independentemente da coisa visada). ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO - No erro determinado (ou provocado) por terceiro o agente erra porque algum o induz a isso. S responde pelo delito aquele que provoca o erro (modalidade de autoria mediata). ERRO DE PROIBIÌO - Quando o agente age acreditando que sua conduta no ilcita, comete ERRO DE PROIBIÌO (art. 21 do CP). O erro de proibio pode ser: §! Escusvel Ð Qualquer pessoa, nas mesmas condies, cometeria o mesmo erro. Afasta a culpabilidade (agente fica isento de pena). §! Inescusvel Ð O erro no to perdovel, pois era possvel, mediante algum esforo, entender que se tratava de conduta penalmente ilcita. No afasta a culpabilidade. H diminuio de pena de um sexto a um tero. DIREITO PENAL para o XXIV EXAME DA OAB Teoria e exerccios comentados Prof. Renan Araujo Ð Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 40 OBS.: Erro de proibio indireto - ocorre quando o agente atua acreditando que existe uma causa de justificao que o ampare. Diferena entre erro de proibio indireto e erro de tipo permissivo: §! Erro de tipo permissivo Ð O agente atua acreditando que, no caso concreto, esto presentes os requisitos fticos que caracterizam a causa de justificao e, portanto, sua conduta seria justa. §! Erro de proibio indireto Ð O agente atua acreditando que existe, EM ABSTRATO, alguma descriminante (causa de justificao) que autorize sua conduta. Trata-se de erro sobre a existncia e/ou limites de uma causa de justificao em abstrato. Erro, portanto, sobre o ordenamento jurdico (erro normativo). Bons estudos! Prof. Renan Araujo 4.! EXERCêCIOS DA AULA 01.! (FGV Ð 2017 Ð OAB - XXIII EXAME DE ORDEM) Pedro, jovem rebelde, sai procura de Henrique, 24 anos, seu inimigo, com a inteno de mat-lo, vindo a encontr-lo conversando com uma senhora de 68 anos de idade. Pedro saca sua arma, regularizada e cujo porte era autorizado, e dispara em direo ao rival.
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