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Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares [JJ C ONSIDERAÇÕES SOBRE REPARO O processo inflamatório é um mecanismo básico de defesa dos seres vivos e representa uma resposta às agres- sões sofridas por tecidos de origem mesenquirnal, e que envolve seus elementos celulares e vasculares. Os fato- res de agressão capazes de provocar a inflamação são comumente designados por agentes flogógenos. Embora possa produzir efeitos indesejáveis, a infla- mação conduz ao confinamento, à destruição ou à eli- minação dos agentes agressores, proporcionando condi- ções para que ocorra a restauração das perdas teciduais. Esta restauração, designada como processo de cura es- pontânea das inflamações ou simplesmente processo de reparo, somente se processa com a extinção da flogose, através da eliminação das suas causas, e com a absorção do exsudato inflamatório e do tecido necrótico, e admi- te as modalidades de regeneração e cicatrização. Na regeneração, as perdas são completamente repa- radas com tecidos das mesmas características e com a reconstituição da arquitetura original e da função. Ocorre nos tecidos e nos órgãos cujas células são mitoticamente competentes corno nos epitélios de revestimento cutâneos e mucosas, fígado, osso, ligamento periodontal, entre outros. Na cicatrização, o tecido destruído é substituído por conjuntivo neoformado (tecido cicatricial) com evi; dentes alterações da arquitetura tecidual e da função. E a forma mais comum de reparo nos seres superiores sen- do própria de tecidos e órgãos cujas células não são mitoticarnente competentes, como os músculos estriado e cardíaco, órgãos parenquirnatosos, etc. Influem ainda na modalidade de reparo a extensão da destruição tecidual e o caráter crônico da agressão. Grandes perdas de tecidos e/ ou agressões de longa du- ração podem superar as possibilidades proliferativas do parênquirna do órgão e determinar a cura através da proliferação do estroma conjuntivo. [[] G ENERALIDADES SOBRE REPARO DOS TECIDOS ÁPICO-PERIAPICAIS Parece oportuno antecipar às descrições mais deta- lhadas, uma visão geral e resumida do processo de repa- ro dos tecidos ápico-periapicais e ainda estabelecer de- terminados conceitos relacionados com o terna. Sabe-se que o objetivo final do tratamento endodôn- tico radical é propiciar condições para o reparo dos teci- dos ápico-periapicais, invariavelmente agredidos, seja por patologias preexistentes, e que determinaram a inter- venção profissional, seja pelos próprios procedimentos operatórios. A relação de continuidade entre a polpa e o perio- donto enseja a que as patologias de um determinem al- terações no outro. As agressões aos tecidos periapicais podem ser traumáticas ou iatrogênicas mas, na maioria .- 1 ~-~~232 ~ Capítulo 12 Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares .. ~ dos casos, resultam das doenças inflamatórias pulpares decorrentes, quase sempre, do processo carioso. Ainda que possam surgir como conseqüência de inflamação pulpar, mesmo parcial, estão freqüentemente associa- dos à necrose da polpa. Às perdas teciduais decorrentes da ação dos agentes agressores somam-se aquelas resul- tantes do próprio processo inflamatório que, mesmo incipiente, sempre resulta em destruição de tecidos. Eliminadas as causas da agressão- desiderato da te- rapia endodôntica - o quadro reacional evoluirá para o processo de reparo, no qual a proliferação e a diferen- ciação de célu las específicas propiciarão a reposição dos tecidos destruídos. O reparo, que consiste na restaura- ção das perdas teciduais, representa, pois, o epilogo de um processo inflamatório bem-sucedido e ocorre nos tecidos apicais e periapicais através de um mecanismo semelhante ao que se verifica em outros órgãos, resguar- dadas algumas peculiaridades de cada região. O conhecimento dos mecanismos do processo infla- matório-reparativo é importante para que o profissional possa conduzir todos os passos da terapia endodôntica de forma a favorecer o reparo ou, pelo menos, não dificultá-lo pelo acréscimo de fatores de agressão. O Esquema 12.1 resume os fatos fundamentais en- volvidos no processo de agressão e defesa ao nivel dos tecidos ápico-periapicais, posteriormente detalhados. Sendo o objetivo final do tratamento endodôntico, o reparo caracteriza o sucesso da terapia empregada e a análise de sua ocorrência pode ser realizada através de duas óticas diferentes: a clínica e a histológica. Como será enfatizado no final deste capítulo, o repa- ro periapical é constatado clinicamente quando o dente se apresentar sem sinromatologia e com imagem radiográfica exibindo - independentemente das condi- ções iniciais - integridade da lâmina dura e ~spessura uniforme do espaço periodontal. Essas características revelam a ausência de processo inflamatório clinicamente detectável. Uma aferição mais precisa pode ser proporcionada pela análise microscópica que revelará o sucesso quan- do da recondução dos tecidos apicais e periapicais agre- didos e destruídos à condição de normalidade. Parece- nos lícito estabelecer o segu inte conjunto de fenômenos histológicos como indicativo do reparo: 1) Reparação das reabsorções de cemento e de dentina por cemento neoformado. 2) Reposição do osso, quando reabsorvido, por te- cido ósseo ncoformado. 3) Produção c inserção de novas fibras periodontais nos tecidos duros neoforrnados, reconstituindo a normalidade do ligamento. 4) Restauração da dimensão normal do espaço periodontal. 5) Ausência de fenômenos inflamatórios nos teci- dos ápico-perapicais. Esquema 12.1. A agressão aos tecidos periapicais (infecções, traumas, iatrogenias) suscita a instalação local do processo inflama- tório. Os danos teciduais estarão representados pela destruição de tecidos moles e duros (reabsorções) da região. A ocorrência do reparo passa pela e liminação dos fatores de agressão e pela reabsorção do exsudato inflamatório; as proliferações celular e vascular fornecerão células e condições nutricionais para as neoformações teciduais que repararão os danos. Em face da ausência de células odontogênicas, a reparação de dentina dar-se-á, até certo limite, pela deposição de cemento Reabsorção do exsudato inflamatório AGRESSÃO 1 . --- Ligamento < Tec1dos moles --- M d 1 , e u a ossea Destruliçãoltecidual . ~ Osso Tec1dos duros C _ emento (reabsorçao) 0 . entma INFLAMAÇÃO Eliminação dos fatores .....---- ------ de agressão · e ua ossea Neoformações teciduais 1 ---Osso Tecidos duros -=::::::::::::_ Cemento REPARO Embora a observação dos requisitos anteriores possa indicar a ocorrência do reparo, tem sido discutido na literatura a necessidade ou, pelo menos, as vantagens da obliteração total do forame apical por cemento, de- signada como selamento biológico (Figura 12.1). Produ- zido de forma acelerada e, por vezes, em condições ad- versas para os cementoblastos, este tecido pode incor- Figura 12.1 Fotomicrografia mostrando selamento biológico do forame pela deposição de cemento neoformado ( ~ ). Estudo em cães. porar vasos, células e outros componentes teciduais do ligamento, adquirindo aspecto comum ao osso, sendo, nestas condições, designado como cemento osteóide. Tal selamento constituiria a forma ideal de reparo após tra- tamento endodôntico por isolar, total e definitivamente, o material obturador contido no canal e que se configu- ra, agora, como um corpo estranho. Se as relações har- mônicas entre polpa e o periodonto foram rompidas, a comunicação entre eles deve ser encerrada da forma mais efetiva possível. Os trabalhos no nivel histológico mos- tram, no entanto, que este selamento total não ocorre freqüentemente em face da dificuldade da formação de cemento diretamente sobre a superfície do material ob- turadorutilizado (Figura 12.2). O emprego de materiais obturadores não-agressivos, utilizados com técnicas ade- quadas, propicia com freqüência uma neoformação de cemento nas paredes do canal cementário e do ápice radicular que, todavia, é em quantidade insuficiente para promover o selamento biológico (Figuras 12.3 e 12.4). Vários trabalhos conduzidos sobre esta questão, ob- tiveram altos índices de selamento biológico com o em- prego de hidróxido de cálcio como material obturador. Seus resultados, detalhados mais adiante, revelam que este material estimula e/ ou propicia condições biológi· cas para a deposição de cememo na sua interface com o Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~= Figura 12.2 Fotomicrografia destacando deposição de neocemento na parede do canal cementário ( ~) e sua ausência junto ao mate- rial obturador. Estudo em cães. Figura 12.3 Fotomicrografia mostrando o se/amento Incompleto do forame cujo diâmetro foi reduzido pela deposição de cemento. Estudo em cães. Figura 12.4 Em condições favoráveis. a deposição de cemento ( -+) reduzirá o diâmetro do forame, como neste caso, podendo obliterá- lo. como no caso da Figura 12. I. Estudo em cães. .... • • 234"1 Capítulo 12 Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares ...... ~ ---------------------------------------------'-- tecido conjuntivo, conduzindo ao selamento total do forame apical bem como à calcificação dos canais do delta apical. Alguns autores admitem a ocorrência de um reparo ideal, definindo-o como aquele que culmina com o selamento do forame pela deposição de tecido duro, man- tendo um ligamento periodontal de espessura normal e isento de células inflamatórias (Figura 12.1). Admitem, ainda, como reparo aceitável, as situações em que, junto ao forame apical, instala-se um tecido conjuntivo fibro- so livre de células inflamatórias (Figura 12.4). Considerando que o profissional somente poderá analisar os resultados de seus tratamentos endodônticos sob a ótica clínico-radiográfica, poderia parecer acadê- mica uma discussão sobre reparo no nível histológico, análise restrita a pesquisadores e aplicada em trabalhos com animais de laboratório. No entanto, é através des- sas pesquisas que se avalia, sob o rigoroso enfoque da microscopia, os resultados do uso de materiais e da apli- cação de técnicas, com vistas à obtenção de resultados ideais ou aceitáveis como acima definidos. Técnicas e materiais que conduzirem a bons níveis de reparo histológico, determinarão, por óbvio, altos índices de sucesso quando do seu emprego na clínica. [I] REPARO APÓS PULPECTOMJA No tratamento dos dentes com polpa viva, o princi- pal fator de agressão aos tecidos ápico-periapicais está representado pelo trauma resultante do seccionamento da polpa e posterior irritação devida aos procedimentos químico-mecânicos da modelagem e obturação. Isto por- que a infecção, embora freqüentemente presente, limi- ta-se às porções mais coronárias do tecido pulpar, e pode ser controlada através dos procedimentos de esvazia- mento e modelagem. A seqüência de fenômenos que compõem a reação dos tecidos ápico-periapicais ao tratamento endodôntico se identifica com a classicamente descrita na literatura e correspondente aos passos do processo inflamatório- reparativo. Após a remoção da polpa, ocorre uma he- morragia, contida pelos mecanismos de hernostasia do organismo, resultando em um coágulo sangüíneo à al- tura da porção tecidual seccionada. No remanescente de tecido conjuntivo, contido no canal - coto apicar - instalam-se os fenômenos caracte- rísticos da inflamação aguda. A vasodilatação determina maior fluxo de sangue e conseqüente hiperemia da microcirculação da região. Simultaneamente, ocorre o aumento da permeabilidade · Ver Capítulo 7. vascular. Estes dois fenômenos propiciam a exsudação plasmática e a transmigração celular. A vasodilatação arteriolar faz elevar, nos capilares, a pressão sangüínea responsável pela transferência de plas- ma para os tecidos; a permeabilidade vascular aumen- tada enseja a perda de proteínas do sangue, reduzindo a pressão coloidosmótica responsável pela reabsorção do líquido intersticial. Desta forma, o aumento da saída e a diminuição do retorno determinam o acúmulo de líquido no interior do tecido, constituindo o edema in- flamatório. O conseqüente aumento da pressão tecidual pelo edema, bem como a ação algógena dos mediadores químicos da inflamação, atuando sobre as terminações nervosas sensitivas, tendem a produzir dor. O aumento da permeabilidade franqueia ainda ·a transrnigração leucocitária. São principalmente os neu- trófilos que, por diapedese, atravessam as paredes das vênulas e se acumulam no tecido conjuntivo do coto apical; pouco depois, são encontrados entre as fibras do ligamento periodontal. Assim, o processo inflamatório estende-se, em face da continuidade tecidual, ao perio- donto apical. A ação das enzimas lisossômicas dos neutrófilos, li- beradas no tecido durante o trabalho de fagocitose ou corno conseqüência da morte celular, conduz a certo grau de destruição dos componentes teciduais. É a fase destrutiva do processo inflamatório. Mediadores quími- cos dos processos defensivos como prostaglandina e interleucina estimulam a atividade das células elásticas e conduzem à reabsorção óssea e cementária (podendo atingir a dentina) determinando, por conseqüência, a desinserção das fibras periodontais da região. As reabsorções de cemento ocorrem tanto ao nível do canal cementário quanto na superfície externa do ápice, são normalmente de dimensões microscópicas e, como vere- mos, reparadas ao final do processo. A camada mais superficial do coto apical, recoberta pelo coágul<:>, sofre necrose. O quadro inflamatório descrito, decorrente do trau- ma cirúrgico, é habitualmente suave e rápido, desde que não tenham ocorrido contaminações e/ ou traumas ex- cessivos. Clinicamente o dente mostra-se assintomático ou com discreta sensibilidade a~ toque. Três a quatro dias após produzida a ferida, a fase aguda da inflamação regride dando lugar à fase crônica caracterizada por proliferação celular, neoformação vascular e infiltração de macrófagos, linfócitos e plas- mócitos. Configura-se, assim, o tecido de granulação, característico do processo de reparo. Originados dos monócitos do sangue, os macrófagos acumulam-se prin- cipalmente ao nível dos tecidos necrosados. Dependen- do da agressão sofrida e da intensidade do processo in- flamatório instalado, a necrose atinge porções variáveis do tecido, podendo envolver todo o coto apical. Os lin- fócitos e os plasmócitos responderão pelos fenômenos imunológicos que acompanham o quadro reacional. A proliferação de fibroblastos no coto e no tecido pe- riapical propicia a formação de novas células para a pro- dução das fibras colágenas e dos complexos glico-pro- téicos que compõem a substância amorfa do tecido con- juntivo. Cementoblastos e osteoblastos formarão os teci- dos duros para a reparação do osso a!ye_olar e da raiz. Ao se neoformarem, osso e cemento fixarão os extremos dos novos feixes de fibras periodontais elaborados, de forma a restaurar o sistema de sustentação dental na região. Se as condições biológicas forem favoráveis, o cemento neoformado excederá a quantidade necessária ao reparo radicular e, apondo-se nas paredes- do canal cementário- além de se depositar na superfície externa do ápice- poderá reduzir gradualmente o diâmetro do forame e, eventualmente, obliterá-lo (Figura 12.5). Figura 12.5 A obturação confinada no interior do canal (seta maior) proporcionou condições para um reparo satisfatório. O cemento neoformado reparou reabsorções e promoveu um selamento parcial do ápice (setas menores). Normalidade dos tecidos conjuntivos da r~gião. Estudo emcães. 3.1 Alguns Fatores Locais que Podem Influir no Reparo nos Casos de Pulpectomia Inúmeros fatores locais podem influir, positiva ou negativamente, no reparo dos dentes com polpa viva. Dentre eles, destacamos: 3.1.1 Infecção A polpa, enquanto viável, oferece resistência ao pro- gresso dos microrganismos, seja pela dificuldade de di- .,. Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~~ fusão oferecida pela substância amorfa, seja pelos me- canismos de defesa nela instalados. Zelante comprovou que, em polpas expostas ao meio bucal e inflamadas, a infecção estava contida nas porções mais coronárias. Analisando amostras de polpas, aquele autor verificou que, junto à exposição, o tecido se apresentava invaria- velmente infectado; na entrada dos canais radiculares, apenas 45% das amostras mostravam-se contaminadas e, próximo ao forame, não havia infecção. Assim, atra- vés de um preparo mecânico criterioso, é possível obter- se um canal pronto para a obturação sem a necessidade de medidas adicionais de desinfecção. Procedimentos inadequados podem, outrossim, con- duzir ou permitir a chegada de bactérias aos tecidos apicais e/ou periapicais, produzindo infecção, especial- mente nos casos de sobreinstrumentação quando a dilaceração dos tecidos do periápice e o acúmulo de san- gue coagulado favorecem o assentamento e a prolifera- ção de microrganismos. Nestes casos, a inflamação se intensifica, dificultan- do ou impedindo o reparo. Outras considerações a respeito da interferência da infecção no processo de reparo serão feitas quando da abordagem dos dentes despolpados. 3.1.2 Fatores Mecânicos A manutenção de um remanescente tecidual, de um a dois milímetros, na região apical, tem sido amplamente indicado como um fator que favorece o reparo. O proces- so inflamatório, decorrente do rompimento pulpar, ins- tala-se no coto remanescente e estende-se aos tecidos periapicais de forma geralmente branda e assintomática. Nos casos em que o feixe vásculo-nervoso é rompido além dos limites do dente, no ato da excisão da polpa ou no decorrer da instrumentação, a resposta inflamatória tende a acentuar-se. A ruptura de troncos vasculares, comuns às circulações sangüíneas do ligamento e da polpa, determina hemorragia mais intensa e coágulo mais volumoso, que provocará compressão e agressão aos te- cidos. Podem ocorrer, ainda, possíveis transtornos circu- latório do conjuntivo periodontal por lesão de uma das suas fontes nutritivas que são os vasos apicais. Nestas situações, a necessidade da reabsorção do sangue coa- gulado e dos componentes teciduais dilacerados, antes que se complete o reparo, retarda a cura. É importante reafirmar que a presença de tecidos le- sados ou de coágulo sangüíneo aumenta os riscos de infecção por constituírem excelentes meios de incuba- ção de microrganismos. 3.1.3 Fatores Químicos A escolha das substâncias a serem utilizadas como auxiliares do preparo mecânico e/ou na medicação intra- canal não pode ser efetuada sem a estrita consideração Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares ."'.'~ Capítulo 12 :1, ------------------------------------------------------------------------------------------ aos aspectos de biocompatibilidade. A eventual agressão química aos tecidos apicais e periapicais vai somar-se àque- la determinada pela instrumentação e poderá prejudicar o reparo e/ou prolongar o seu tempo de ocorrência. A agressividade das substâncias irrigadoras está ge- ralmente relacionada ? sua capacidade anti-séptica. O hipoclorito de sódio, amplamente utilizado, isoladamente ou em associação com peróxido de hidrogênio, na clás- sica técnica de irrigação preconizada por Grossman, mostra-se agressivo aos tecidos vivos especialmente em alta concentração como na soda clorada. Por sua capaci- dade solvente é capaz de dissolver uma polpa inteira entre 20 minutos e 2 horas como demonstraram Grossman e Meiman. Em baixas concentrações, como no líquido de Dakin e na solução de Milton, quando sua agressividadc é menor, a indicação em pulpectornia não parece necessária já que uma eventual infecção superfi- cial da polpa poderá ser controlada por cuidadoso pre- paro mecânico sem a necessidade do uso de substância bactericida e, conseqüentemente, citotóxica. Na opção de utilizá-los, os cuidados técnicos devem ser redobrados. Substâncias com bom poder de limpeza e baixo po- tencial irritativo, mesmo quando introduzidos no seio do tecido conjuntivo, os detergentes aniônicos são cita- dos como boa opção para irrigação nas pulpectomias. Trabalho desenvolvido pelos autores em tecido subcutâ- neo de ratos, mostrou discreto efeito exsudativo desta substância em contraste com a severa agressão determi- nada pela soda clorada. As soluções de EDTA recomendadas, por seu poder descalcificante, para facilitar a modelagem de canais atrésicos e para remover o smear layer, utilizadas cuida- dosamente, apenas contatam com os tecidos vivos e não provocam danos sobre eles. Introduzidas no seio dos tecidos ápico-periapicais, provavelmente, provocarão várias alterações registradas na literatura. Tais diferenças relacionadas com a forma de ação dos químicos sobre os tecidos não são uma particularidade do EDTA, sendo possível generalizar para todas as subs- tâncias utilizadas durante o tratamento endodôntico. Assim, as agressões provocadas pelas substâncias químicas auxiliares do preparo mecânico devem ser evi- tadas através da escolha do fármaco adequado e do seu uso através de técnica criteriosa. Outro procedimento que envolve a utilização de subs- tâncias química é o curativo de demora. Eventuais con- siderações sobre os produtos a serem utilizados e seus efeitos sobre o processo de reparo, devem ser precedi- das por algumas reflexões a respeito da necessidade desse curativo e, por vias de conseqüências, da realização do tratamento dos dentes vitalizados em sessão única. O número de sessões para o tratamento de dentes com a polpa viva tem sido alvo de muita divergência entre profissionais e pesquisadores. A concretização da pulpectornia em duas sessões é um procedimento tradi- cionalmente aceito e, para muitos, o único correto. No entanto, a possibilidade de concluir um tratamento endodôntico radical em uma única sessão tem desperta- do extraordinária motivação entre pacientes e profissio- nais. Aprovada por muitos ou contestada por outros, esta conduta clínica tem sido rapidamente difundida e cada dia mais utilizada, embora possa produzir, com mais fre- qüência, algum desconforto para o paciente. Importantes para avaliar-se a validade de cada pro- cedimento são as informações obtidas, através de pes- quisas histológicas, a respeito de eventuais diferenças no processo de reparo em função do tempo - uma ou duas sessões - e, por conseqüência, do uso ou não de um curativo de demora. Baseados nos resultados histológicos de seus traba- lhos com dentes humanos, Baume, Leonardo, Tsushima, entre outros, sustentam a indicação do tratamento em sessão única. Holland e colaboradores e Soares e colaboradores estudaram o reparo em dentes de cães obturados na mesma sessão ou tratados em duas sessões, entre as quais era aplicado um curativo de corticóide-antibiótico, e não verificaram diferenças ao fim dos períodos experimen- tais (60 e 90 dias). Mais recentemente, Souza e colabo- radores analisaram a influência do curativo de antiinfla- matório-antibiótico nos tempos experimentais de 7 e 180 dias, em dentes de cães. A curto prazo, o curativo deter- minou uma redução do processo inflamatório porém, ao final da experiência, não houve diferenças nos resulta- dos. Portanto, os benefícios iniciais decorrentes da ação antiinflamatória daquele fármaco se extinguiram ao lon- go do tempo e o reparo ocorreu independentemente da suautilização. Em certas situações, no entanto, o tratamento deve- rá ser conduzido em mais de uma sessão, seja porque não foi possível completá-lo no primeiro atendimento, ou porque a aplicação de um curativo está indicada. Nesta última hipótese, incluem-se, entre outros, os ca- sos de sobreinstrumentação ou aqueles em que o pa- ciente mostra, em sua história clínica, respostas exacer- badas (hipersensibilidade) aos estímulos, como os pro- cedimentos operatórios. Em ambos os casos, há tendên- cia de uma reação inflamatória intensificada e com mai- ores perspectivas de dor. Um curativo com associação de antiinflamatório com antibiótico, por 48 a 72 horas, re- duz a resposta orgânica e o desconforto do paciente. Uma alternativa para a realização do curativo é a utilização de pasta de hidróxido de cálcio. Ainda que não exerça uma ação antiinflamatória como o corticóide também não possui os efeitos colaterais desse fármaco. Além de estimular ou favorecer o reparo, ao agir sobre o coto apical, poderá permanecer no canal, se necessário, por tempo dilatado, o que é desaconselhável quando utilizamos corticóide, fármaco que mostrou produzir progressiva redução da vitalidade pulpar . Pelo exposto, os autores acreditam que a utilização do curativo de demora, com indicação correta e com produtos adequados, poderá constituir-se em um fator que contribua positivamente para o reparo dos tecidos á pico-periapicais. 3.1.4 Fatores Mecânicos e Químicos (Obturação) Material obturador, momento, nível e técnica de ob- turação são, entre outros, aspectos relacionados com a obturação do canal radicular que constituem um con- junto de fatores mecânicos e químicos e merecem, por- tanto, apreciação quanto à influência no reparo após tratamento endodôntico. Em face da importância conferida ao estudo dos materiais, um item específico lhes será dedica'do no cur- so deste capítulo. O momento da obturação, nas pulpectomias, já foi abordado anteriormente mas é importante lembrar que, em qualquer condição clínica, alguns requisitos básicos devem ser atendidos: canal devidamente modelado e au- sência de indicativos de inflamação como dor e exsudato. O nível da ins trumentação e obturação do canal radicular constitui um aspecto amplamente discutido. Os estudos sobre um nível que proporcione melhores condições de reparo estão intimamente ligados àqueles que se referem à anatomia da cavidade pulpar, especial- mente em seu extremo apical. Sucessivos trabalhos, defendem a obturação hermé- tica do canal radicular na junção cemento-dentinária porque além daquele limite, o espaço é preenchido por tecido diferente da polpa c que a sua manutenção, alia- da a uma obturação com material impermeável e não irritante, propiciará a formação de cemento e o fecha- mento do forame. Kuttler, através do estudo microscópico de 402 ápi- ces radiculares, revela que o limite entre a porções dentinária e cementária do canal Uunção cemento- dentinária) ocorre em torno de uma área de constricção localizada de 0,5 mrn a O, 7 mrn do vértice radicular e indica que a obturação deve ser restrita ao canal den- tinário. Em 1961, reconhece haver diferenças histológi- cas entre a polpa do canal dentinário e o tecido que pre- enche o canal cementário e que é capaz de produzir cemento proporcionando o fechamento do ápice. Acres- centa que este selamento, no entanto, somente ocorre nas obturações ligeiramente curtas pois os cemento- blastos parecem necessitar de um apoio tecidual sólido, como as paredes do conduto, para depositarem o cemento neoformado. Este apoio não é oferecido pelo material obturador, nos casos de obturação plena ou de sobreobturação. O nível de obturação, segundo Kuttler, ' Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~ deve ser de 0,5 mm aquém do forame nos dentes jovens e 0,75mm nos dentes senis. Os conhecimentos anatômicos resultantes destes e outros trabalhos e as recomendações deles emanadas, incentivaram as pesquisas clínica e histológica a respei- to da influência desse nível sobre os índices de sucesso. Os resultados que se seguiram foram, muitas vezes, conflitantes. Uma recente revisão sobre o assunto, mostra que, embora haja trabalhos que indiquem a plena obturação do canal ou mesmo a sobreobturação como forma de impedir a permanência de microrganismos no seu inte- rior, a maioria dos autores concorda com instrumentação e obturação mais curtas, distando de 1 a 2 mm do vérti- ce radicular. Entre estes, salienta-se o trabalho de Ketterl que, atra- vés de análise radiográfica de 560 casos e histológica de 160 casos, verificou que os melhores resultados ocorre- ram quanto as obturações obedeceram aos limites aci- ma indicados. A percentagem de sucesso reduziu-se dras- ticamente quando as obturações atingiram ou ultrapas- saram o vértice, especialmente sob a ótica microscópica. Mais recentemente, Soares e colaboradores observa- ram, em dentes de cães, expressivos depósitos de cemento nos ápices de dentes cujas obturações ficaram confina- das no interior do canal - 1 a 2 mm - (Figura 12.5) e que os piores resultados foram observados nas obtura- ções que atingiram ou ultrapassaram o forame apical, quando o material agride os tecidos com sua ação quí- mica e presença física (Figura 12.6). Como salientam Holland e colaboradores, a obtura- ção ligeiramente curta, no entanto, não elimina a ação irritativa do material obturador nem impede a agressão decorrente do ato cirúrgico mas faz com que os fenôme- nos inflamatórios mais intensos, decorrentes dessas Figura 12.6 A obturação ao nível do forame impediu a formação de cemento no canal cementário (ocupado pelo material). O conjuntivo periapical mostra células inflamatórias, revelando resultado diferente daquele mostrado no caso da Figura 12.5. Estudo em cães. ,-'. • Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares ,• .:~ Capítulo 12 ----------------------------------------------------------------------------------------- ações, fiquem sediados no coto apical e não no ligamen- to periodontal vizinho, proporcionando melhores con- dições para o reparo dos tecidos da região periapical. Finalmente, alguns aspectos relacionados com a téc- nica de obturação devem ser considerados. A adequa- ção dimensional do cone principal ao stop apical, con- feccionado durante a modelagem e que pré-determina o nível da obturação, é um fator importante. O ajuste do cone a este ponto diminui as possibilidades da sobreo- bturação e determina que o contato com o tecido vivo seja efetuado quase que exclusivamente pela guta-per- cha, reconhecidamente biocompatível. A tridimensionali- dade da obturação, que deverá preencher todo o espaço modelado, assegura um selamento adequado aumentan- do a possibilidade de sucesso. REPARO APÓS TRATAMENTO DE DENTE DESPOLPADO A evolução do processo de reparo após o tratamento dos dentes com polpa necrosada apresenta algumas va- riações em função da presença ou não de lesões peria- picais detectadas radiograficamente. Nos dentes sem lesões periapicais radiolúcidas, o pro- cesso de reparo é semelhante àquele observado nas pulpectomias, embora o quadro histológico inicial seja diferente: não há coto apical e o ligamento está compro- metido por processo inflamatório. Eliminada a causa, através de uma terapêutica endo- dôntica que promova a desinfecção do sistema de ca- nais radiculares, o processo inflamatório regride. As cé- lulas inflamatórias crônicas vão cedendo lugar a células formadoras- osteoblastos, cementoblastos e fibroblastos - que promoverão a neoformação dos tecidos duros reabsorvidos e a regeneração do ligamento periodontal, com reinserção de novas fibras em substituição às des- truídas. Junto ao material obturador, no forame apical, é fre- qüente a presença de tecido conjuntivofibroso, mas em condições muito favoráveis, o selamento biológico com cemento pode ser obtido. Em circunstâncias desfavorá- veis que dificultam a eliminação da infecção e/ ou de outros fatores de agressão, como a presença de corpos estranhos, por exemplo, o processo de reparo não se completa e um tecido conjuntivo frouxo cronicamente inflamado permanece na região. Quando ocorrem lesões periapicais, dois fatores dife- renciam estes casos daqueles que não as apresentam: o tempo necessário ao reparo e o índice de sucesso. Tais fatores serão abordados ao final, quando será enfocada a preservação. No entanto, é inevitável considerarmos desde já que, nesses casos, os agentes agressores são mais intensos e/ ou mais difíceis de ser eliminados e que o grau de destruição tecidual é maior, exigindo mais tem- po para a ocorrência da cura e determjnando menores índices de sucesso. O tempo de reparo, segundo a literatura, varia de 6 meses a vários anos (Figuras 12.7 e 12.8). Neste perío- do, uma sucessão de eventos ocorre: a substituição pro- gressiva do tecido inflamatório crônico que preenche a área da lesão por tecido fibroso e deste pelos tecidos duros que repararão as perdas óssea e radicular; a inser- ção de novas fibras colágenas no osso e no cemento neoformados, orien!adas segundo os padrões da região, proporcionando a restauração do ligamento periodontal. Figura 12.7 Radiografias pré-operatória, pós-operatória imediata e à distância, ode é possível observar o reparo parcial dos tecidos peria- picais ocorrido em um ano. Obturação com Diaket. Figura 12.8 Radiografias pós-operatórias, imediata após 7 e 17 anos. Sete anos após o tratamento, ainda havia pequena radiolucidez apical, o que demonstra lento processo de reparação. Dezessete anos de- pois ( 1997), o reparo dos tecidos periapicais está concluído. Obtura- ção com Diaket. No tempo necessário à observação do pleno reparo, inclui-se aquele destinado à substituição do osso primá- rio por osso secundário. De fato, como nos reparos ós- seos de um modo geral, o tecido ósseo inicialmente for- mado possui fibras colágenas em disposição desorde- nada, grande quantidade de osteócitos e é menos calcificado, caracterizando-se como osso primário. Sua presença pode, por vezes, ser observada nas radiogra- fias, por imagens que identificam tecido ósseo ocupan- do a área da lesão porém com menor radiopacidade que o circundante (Figura 12.9). Ao longo do tempo, com o dente retomando à atividade, os estímulos fisiológicos orientarão a substituição deste por um tecido ósseo se- cundário, do tipo lamelar, com colágeno orientado, me- nos células inclusas na matriz e mineralização plena. A reconstrução óssea pela deposição de tecido primário ocorre num tempo variável de três a seis me~es, neces- sário à eliminação dos irritantes pelo organismo, enquan- to que sua substituição por osso secundário demandará um período maior, de até cinco anos ou mais. 4 . 1 Alguns Fatores Locais que Podem Influir no Reparo dos Dentes Despolpados 4. 1.1 Infecção Como já foi salientado, os microrganismos represen- tam o fator de agressão mais comum na etiologia das lesões pulpares e periapicais. Uma vez atingindo a cavi- dade pulpar- habitualmente através do processo carioso - e determinando a necrose da polpa, os microrganis- mos se alojam no conduto principal e em suas ramifica- ções, bem como nos túbulos dentinários, de onde elabo- ram toxinas e enzimas que agridem os tecidos perio- dontais vizinhos. Entre essas agressões, se incluem as reabsorções do dente e do osso alveolaT pelos osteo- clastos, cuja atividade é estimulada pelas endotoxinas bacterianas e por mediadores do processo inflamatório - sustentado pela infecção - entre outros fatores. A reabsorção radicular pode, por sua vez, favorecer a infecção, ao promover a formação de crateras na super- fície do cemento e a abertura de túbulos dentinários para o. espaço periodontal, propiciando, em ambos os casos, a sobrevivência dos microrganismos através de nutrição oriunda do ligamento. Revelando novas informações sobre as infecções periapicais, a literatura cita a formação de placas bacte- rianas sobre a superfície externa do ápice radícula r, onde determinados microrganismos se abrigam. A sobrevivên- cia de bactérias no seio das lesões periapicais é também um achado cada vez mais consistente nas pesquisas. No interior do dente ou em localizações estratégicas na sua superfície, os microrganismos estão ao abrigo das defesas naturais do organismo e da medicação sistêmica e freqüentemente seus nichos são inacessíveis aos pro- Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~ Figura 12.9 Reparo em dente portador de lesão periapical. (A) Am- pla lesão em pré-molar inferior submetido a tratamento endodôntico deficiente. (B) Radiografia de preservação, um ano após retratamento. A área da lesão, reduzida em seu tamanho, mostra imagem radiográfica sugestiva de regeneração em curso através de osso primário. cedimentos mecânicos da terapia endodôntica (Figura 12.10). Uma modelagem mais cuidadosa e a utilização de substâncias anti-sépticas na irrigação e no curativo de demora são medidas recomendadas para obter-se o saneamento do sistema de canais, condição necessária à obtenção do reparo. No desenvolvimento da infecção é importante consi- derar-se a patogenicidade do microrganismo, isto é, a sua capacidade de produzir o dano tecidual. Alem da virulência, a concentração é um fator determinante des- sa patogenicidade. Uma determinada quantidade de microrganismos produz dano mais acentuado quando atua sobre pequena área tecidual do que quando disse- minada por amplo espaço. No conduto radicular, as bac- térias estão concentradas e sua ação, através dos espa- ços estreitos dos forames, contribui para a severidade da agressão local. Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares •"'•':. "24õl Capítulo 12 ~~~ ---------------------------------------------------------------------------------------------- Figura 12. 1 O Aspecto histológico de dente de cão. com polpa necrosada, 90 dias após o tratamento endodôntico. Reparo em curso junto ao forame do canal principal e, à esquerda, amplas áreas de reabsorção, relacionadas com periodonto inflamado, sugerem a per- sistência de infecção em túbulos e/ou canais de delta. Embora trabalhos como o de Bender e colaboradores revelem a ocotTência de reparo em dentes com cultura positiva antes da obturação, isto não nos deve conduzir a uma postura de desconsideração quanto ao falOr in- fecção. A obturação do canal radicular, ao selar as aber- turas de túbulos dentinários e ramificações dos canais, inviabiliza a sobrevivência de microrganismos neles con- tidos e pode responder pelo sucesso do tratamento de dentes que permaneceram infectados logo após a mode- lagem. No entanto, mesmo uma hermética obturação- nem sempre obtida- impedirá o sobrevivência de bacté- rias alojadas em espaços abertos para o ligamento perio- dontaJ, de onde receberão nutrição, como em túbuJos dentinários expostos por reabsorção radicular ou rami- ficações do canal com emergência no periodonto (Figu- ra 12.11). Assim, as medidas saneadoras anteriormente indicadas se impõem na terapia endodôntica dos dentes infectados como uma tentativa de criar condições mais favoráveis ao reparo dos tecidos periapicais. 4.1 .2 Lesão Periapical O fator lesão periapical tem sido amplamente consi- derado no estudo do reparo após tratamento endodôn- tico, sob vários enfoques. Aqui, os autores procurarão discutir, inicialmente, as diferenças de índices de suces- so decorrentes da presença ou não das lesões periapicais e, posteriormente, as eventuais influências do tamanho e tipo de lesão sobre o processo de reparo. Os dentes despolpados que não exibem, radiografica- mente, áreas derarefação periapicaJ ainda assim mos- tram comumente, no exame histológico, inflamação do ligamento periodontal e rea bsorção óssea medular e Figura 12. 11 Canal lateral visto ao microscópio eletrônico de varre- dura onde se observa na saída, na superfície radicular, a presença de microrganismos em seu interior. cementária. Se a rarefação está presente na imagem ra- diográfica, a destruição óssea já atingiu a cortical e as reabsorções radiculares são maiores. Portanto, ·a idéia de lesão periapical radiolúcida está relacionada com o grau de destruição tecidual capaz de gerar uma imagem radiográfica utilizada para a sua caracterização clínica. A designação de lesão periapical indica sua localiza- ção habitual junto à abertura do canal principal e suas ramificações terminais. No entanto, podem ocorrer em qualquer parte da raiz e na região da furca, em face da presença de canais laterais, c merecem a mesma aten- ção do profissional (Figura 12.12 A e B). Os maiores índices de sucesso obtidos nos tratamen- tos de dentes despolpados sem lesão em relação àqueles com lesão, mostram que o estado do periápice influi na obtenção do reparo. · O índice de sucesso dos tratamentos endodônti- cos de dentes com polpa viva e daqueles com polpa necrosada sem lesão periapical é de cerca de 96%. A presença de lesão periapical radio- graficamente detectável faz baixar este índice para cerca de 86%. Assim, a presença de lesão periapical pressupõe, como já foi enfatizado, a interveniência de fatores que favore- cem o seu desenvolvimento e dificultam ou impedem o reparo. Muitos deles estão relacionados com os micror- ganismos envolvidos, outros são de natureza mecânica ou química. Figura 12. 12 (A) Radiografia pré-operatória do 46 com ampla radiolu- cidez na região da furca. Clinicamente havia a presença de fístula gengi- va!. Na radiografia pós-operatória imediata observa-se a obturação de um canallaterai.(B) Radiografias. em duas incidências, de controle pós- operatório (3 anos depois), do caso mostrado na figura A, onde é notório o reparo da área comprometida. Obturação AH 26. A quantidade de microrganismos, por exemplo, pa- rece ser relevante, havendo uma correlação significante entre o tamanho da lesão e a concentração de bactérias no interior do canal radicular. As endotoxinas bacteria- ·nas, com seu poder de agredir e de estimular as reabsor- ções, estão presentes também em maior quantidade nos condutos de dentes portadores de rarefações apicais. Os nichos de sobrevivência de bactérias, anteriormente co- mentados, também são decisivos na gênese e na manu- tenção das lesões periapicais As lesões provocada por bactérias sediadas nos teci- dos periodontais, mostram-se particularmente difíceis de serem tratadas e quando não regridem após tratamento convencional bem conduzido são designadas como le- Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos E• sões refratárias (Figura 12.13). Sendo um conceito ainda recente, a literatura revela controvérsias quanto à etiolo- gia e o tratamento destas lesões. Julgamos que uma le- são refratária decorra de infecção extra-canal produzi- da por microrganismos resistentes às defesas naturais e às medicações utilizadas, em virtude de suas caracterís- ticas próprias de resistência e/ ou por se alojarem em nichos inacessíveis. Irritantes mecânicos, tais como o conteúdo do canal extrusionado através do forame durante a instrumenta- ção, raspas de dentina, especialmente se infectadas, ou ainda a presença de materiais empregados na obtura- ção, determinarão, alem da agressão mecânica, a injúria decorrente das bactérias que os acompanham. Da mes- ma forma, irritantes químicos, representados por pro- dutos auxiliares do preparo mecânico impelidos para o espaço periodontal, poderão contribuir para o desenvol- vimento e manutenção de lesões. A influência do tamanho das lesões na obtenção do reparo tem-se mostrado um ponto bastante controverti- do. Embora devamos reconhecer que o organismo terá mais trabalho e demandará mais tempo no reparo das lesões maiores, Bysrrom e colaboradores, examinando, ao longo de 2 anos, os resultados de tratamentos que efetuaram, verificaram que a maioria das lesões regre- diu para 2mm ou menos, independentemente do tama- nho inicial que atingia até 12 mm. Resultados semelhan- tes foram citados por outros autores. Há lógica nestes resultados se considerarmos que os tecidos conjuntivos têm ampla capacidade de reparo desde que se eliminem as causas de agressão que sustentam o processo infla- matório. Figura 12. 13 Radiografia obtida imediatamente após a conclusão do tratamento endodôntico de um dente com necrose pulpar (06.1990). O controle pós-operatório, com radiografias em duas angulações (07.1 991 ) evidencia o aumento da lesão periapical e o fracasso do tratamento. Obturação com AH 26. ",~ ··~ Capítulo 12 Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares ... .. A discussão sobre a influência do tamanho da lesão tem sido, em parte, fomentada pela idéia de que as le- sões maiores tendem a ser cistos, remetendo a polêmica à indagação sobre a possibilidade da regressão não-ci- rúrgica dos cistos periapicais . Esta possibilidade te,m sido amplamente discutida por várias décadas, através de trabalhos que buscam indicati- vos de reparo em observações clínico-radiográficas e his- tológicas de dentes submetidos ao tratamento endodôn- tico não cirúrgico. As dificuldades neste campo já se expressam nas dú- vidas sobre o diagnóstico diferencial entre o cisto e ou- tras lesões periapicais radiolúcidas, especialmente o granuloma. Dados como o tamanho e caracteristicas ra- diológicas, embora possam, no seu conjunto, constituir fortes indícios da natureza da lesão, não são sinais patognomônicos de qualquer uma delas e, portanto, não garantem o diagnóstico. Métodos que envolvem a análise bioquímica, através de eletroforese do conteúdo líquido da lesão têm condu- zido a uma identificação mais segura, porém ainda são pouco utilizados na prática cotidiana do profissional. Há algumas décadas, prevalecia a idéia de que os cistos eram lesões irreversíveis ao tratamento endodô- ntico de rotina. Aliada à convicção de que as lesões de grande porte eram cistos, estabelecia-se o princípio de que, nestes casos, o índice de sucesso do tratamento ten- dia a ser menor e a solução para as grandes lesões deve- ria ser cirúrgica. Entretanto, opiniões discordantes foram se somando ao longo do tempo, baseadas em dados que revelam ín- dices de sucesso semelhantes entre lesões pequenas e grandes. Na busca de comprovação do reparo de lesões císti- cas, os autores têm-se valido de critérios estatísticos, clí- nicos e microscópicos. Se levarmos em conta que o índice de insucessos nos tratamentos de dentes portadores de lesão periapical é da ordem de 15% aproximadamente e que cerca de 30% das lesões são cistos, mesmo atribuindo-se todos os fra- cassos a cistos, ainda assim parte deles reparam, segun- do esta ótica estatística. Do ponto de vista clínico também há evidência desta possibilidade. Morse e colaboradores, em 1975, tratan- do 17 casos de cisto diagnosticados pelo método de eletroforese, obtiveram sucesso em 14 casos comprova- dos radiograficamente. A experiência pessoal dos autores tem demonstrado o reparo de lesões, cujo conjunto de características clini- co-radiográficas conduzem ao diagnóstico de cisto, após tratamento onde deu-se ênfase aos procedimentos de desinfecção do canal radicular (Figura 12.14) . Menos comum na literatura são os estudos microscó- picos sobre a regressão dos cistos. Trabalho neste senti- do foi conduzido por Rocha, em 1991, quando analisou 348 casos desta lesão através de técnica histológica de rotina e de técnicas de imuno-histoquímica, em busca de padrões morfológicose de distribuição de células B, T, e de Langerhans e observou, a ocorrência de padrões Figura 12. 14 Comprovação radiográfica de reparo de lesão de gran- de porte. (A) Lesão .Reriapical, associada à raiz do 12 com caracterís- ticas radiográficas de cisto. (B) Radiografia de preservação revelando, após 3 anos. o desaparecimento da imagem radiolúcida. A formação óssea raiada na área, é sugestiva de reparo de cisto. I característicos para os cistos incipientes, instalados, re- siduais e para aqueles tratados endodonticamente. Nos cistos tratados, o epitélio mostrava atrofia, degenera- ção, necrose, microabcessos e intensa infiltração de lin- fócitos T; enquanto a parede fibrosa revelava acentuado infiltrado inflamatório com predomínio de linfócitos Te plasmócitos. Semelhanças encontradas entre os padrões morfoló- · gico e imuno-histoquímico dos cistos incipientes (iniciais) e os tratados, sugerem que a terapia endodôntica induz a reativação das reações inflamatórias específicas e ines- pecíficas com intensidade semelhante àquela que se ve- rifica quando o processo se inicia. Parece, pois, que eli- minada a fonte antigênica principal através do correto tratamento do canal radicular, as defesas orgânicas se voltam exclusivamente ao combate dos antígenos conti- dos na lesão, especialmente nas células epiteliais, pro- movendo a regressão do cisto e propiciando o reparo da região periapical envolvida. 4. I .3 Fatores Mecânicos Considerando-se que a instrumentação do canal radí- cula!~ nos casos de dentes despolpados, deve atingir, em determinados procedimentos, toda a sua extensão, cui·- dados devem ser tomados para evitar-se a sobreinstru- mentação. À irritação mecânica do instrumento, pode- rão somar-se as agressões química e biológica decorren- tes da condução do conteúdo séptico/ tóxico do canal ao espaço periodontal determinando a intensificação do pro- cesso inflamatório instalado. Além de um pós-operató- rio desconfortável, o aumento da destruição tecidual pela flogose determinará maiores dificuldades no reparo. 4. 1.4 Fatores Químicos Como já foi salientado, a instituição de uma terapêu- tica que promova a desinfecção do sistema de canais radiculares é uma exigência em todos os casos de dentes despolpados e envolve, não somente um preparo mecâ- nico adequado, como a utilização de substâncias quími- cas com poder anti-séptico. Estudos têm demonstrado que a instrumentação pode reduzir consideravelmente o número de bactérias den- tro do canal; com o emprego de soluções irrigadoras anti- sépticas, como o hipoclorito de sódio, um número ainda mais expressivo de canais pode resultar desinfetado. Apesar do inegável valor destes procedimentos, é ne- cessário reconhecer, como já foi anteriormente referido, que as bactérias podem persistir, após a modelagem, em locais inacessíveis, inviabilizando o sucesso do tratamento. Na prática clínica, os microrganismos remanescentes poderiam ser impedidos de repopularem o canal ao uti- lizarmos um curativo de demora ou ao obturarmos her- Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~ meticamente o conduto, não proporcionando nutrição ou espaço para sua multiplicação. Ainda que esta segunda hipótese torne possível o tra- tamento endodôntico em sessão única, é importante sa- lientar que, nestas circunstâncias, a obturação passa a ser a única responsável pela manutenção da desinfecção alcançada com o preparo mecânico e qualquer imperfei- ção em sua execução poderá determinar o fracasso do tratamento. Diante desta possibilidade, o emprego de anti-sépti- cos como curativo de demora - por reduzir a flora bacteriana remanescente ao preparo mecânico, especi- almente por alcançar áreas inacessíveis aos instrumen- tos e soluções irrigadoras- tem-se revelado um procedi- mento complementar importante na desinfecção do sis- tema de canais e que pode contribuir para aumentar o percentual de reparo. Entre os muitos fármacos disponíveis, o hidróxido de cálcio, aparentemente por controlar a infecção sem pro- duzir seqüelas pós-operatórias, vem se impondo como a medicação de preferência da comunidade endodôntica. Informações se acumularam ao longo do tempo so- bre a sua eficácia e o seu mecanismo de ação, e entre elas incluem-se os achados de Bystrom e colaboradores de que o hidróxido de cálcio possui poder anti-séptico superior ao do paramonoclorofenol canforado, e que sua utilização contribui de forma significativa para a desin- fecção do sistema de canais radiculares. Relatam ainda, aqueles autores, um elevado percentual de sucesso (94%) no tratamento de dentes portadores de lesões periapicais e que receberam curativos com o hidróxido de cálcio. Os dados da literatura, as observações clínicas e os estudos realizados pelos autores, nos últimos 15 anos, têm sustentado a utilização do hidróxido de cálcio, como medicação entre sessões, no t ratamento de dentes despolpados, com e sem lesão periapical. Se benefícios são reconhecidos com a utilização de anti-sépticos na irrigação e como curativos, ressalvas devem ser feitas quanto ao poder irritativo de algumas dessas substâncias sobre os tecidos periapicais, quando conduzidos ao seu interior. As concentrações desses fármacos devem ser as me- nores possíveis, nas quais ainda se manifeste a capaci- dade antimicrobiana desejada. Assim, no caso do hipo- clorito de sódio, por exemplo, elevadas concentrações, como na soda clorada, estão sendo substituídas por con- centrações menores- e de menor poder agressivo - como nas soluções de Dakin e Milton. As técnicas de uso devem garantir a manutenção dos anti-sépticos no interior do canal, embora haja recomen- dações de extravasamento do curativo com pasta de hidróxido de cálcio para o periápice em dentes portado- res de lesão periapical, procedimento ainda discutido . " 244 I Capítulo 12 Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares • 4.1 .5 Irritação Química e Mecânica (Obturação) Como foi visto, a sobreinstrumentação e o extravasa- mento de substâncias químicas auxiliares do preparo mecânico freqüentemente determinam a exacerbação das reações inflamatórias periapicais, por se constituírem em novas fontes de agressão. Embora sua ação seja limita- da no tempo, produzem incômodos• pós-operatórios e determinam, pelo aumento da destruição tecidual, mai- ores dificuldades e retardo do reparo. Por outro lado, a presença de importante quantidade de material obturador ou detritos, como raspas de dentina - especialmente se contaminados - nos tecidos periapicais, determina irritação duradoura ou permanen- te, sustentando o processo inflamatório e dificultando ou mesmo impedindo o reparo. O extravasamento de pequenas quantidades de ma- terial obturador é uma ocorrência freqüente no trata- mento dos dentes com polpa necrosada, onde o esvazia- mento do canal é executado em toda a extensão. Nestes casos, o material extravasado tende a ser reabsorvido com o passar do tempo, sem influência no resultado fi- nal do tratamento (Figuras 12.15 e 12.16). As considerações sobre obturação, no item referente ao reparo após pulpectomia são, de maneira geral, válidas para os casos de dentes despolpados. Assim, o nível de obturação a cerca de 1mm do vértice é aconselhável. Importante é salientar-se que a porção final não obturada deverá estar perfeitamente esvaziada e saneada de for- ma a não abrigar material necrótico ou microrganismos. No que se refere ao momento da obturação, especial atenção deve ser dada aos pré-requisitos para este pro- cedimento: canal devidamente modelado; ausência de sintomatologia; ausência de exsudato. Sintomatologia dolorosa e/ ou exsudato revelam atividade inflamatória. A obturação nestas circunstâncias poderá ser prejudica- da em virtude da umidade do canal e muito provavel- mente determinaráuma indesejável exacerbação do pro- cesso flogístico e retardo da cura. []] A INFLUÊNCIA DO MATERIAL OBTURADOR NO PROCESSO DE REPARO A grande quantidade de produtos obturadores dis- poníveis - que traduz não só a existência de diferentes marcas comerciais de um mesmo material mas também uma grande variedade de materiais - revela que ainda não foi encontrado uma substância ou composição que, por suas qualidades, se impusesse na preferência do pro- fissional. Clínicos e pesquisadores têm revelado o sucesso de tratamentos endodônticos com o uso dos mais variados materiais de obturação. Esta constatação não deve, no CRCS 7-85 Figura 12.15 Na radiografia, após a obturação do canal de um pré- molar inferior com polpa necrosada, é possível ver a sobreobturação. O exame radiográfico pós-operatório, I O meses após, registra a per- manência do material extravasado e redução da área radiolúcida. Figura 12.16 A radiografia para controle pós-operatório, 2 .anos de- pois, do caso apresentado na figura anterior, evidencia o reparo dos tecidos periapicais e a completa reabsorção do material extravasado. entanto, nos levar a desconsiderar as qualidades do produ- to a ser utilizado e à falsa idéia de que qualquer substân- cia que possa ser contida no canal conduzirá ao sucesso. Além de propriedades físicas favoráveis, que permi- tam o fácil uso do material e a obtenção de um selamento adequado, é importante considerar o seu comportamento biológico, argüindo-se sobre a sua capacidade de esti- mular ou propíclâr condições favoráveis ao reparo. Os cimentos à base de óxido de zinco-eugenol (OZE), amplamente utilizados como material obturador, há mui- to suscitam discussão na literatura quanto aos aspectos de biocompatibilidade. Aceita-se, de um modo geral, que o OZE é um irritante suave aos tecidos conjuntivos com os quais entra em contato direto. No entanto, Soares e colaboradores, entre outros, demonstraram que a utili- zação de uma técnica adequada permite a obtenção de resultados plenamente satisfatórios. Observaram, em dentes de cães, que a irritação restringia-se ao tecido do coto apical imediatamente em contato com o material e se resumia a uma inflamação crônica suave. O restante do coto e os tecidos periapicais mostravam-se quase sem-· pre sem inflamação e neocemento se formava nas paredes do canal cementário, produzindo selamentos parciais, embora não se formasse diretamente sobre o material obturador. Quando a obturação atingia o vértice ou ha- via sobreobturação, os resultados eram menos favorá- veis: uma inflamação mais intensa localizava-se em ple- no tecido periodonral e a cemenrogênese era reduzida. Resultados muito semelhantes foram obtidos com vários outros materiais, quando se reproduziam as mes- mas condições de uso. A literatura tem demonstrado, no entanto, que quan- do da utilização do hidróxido de cálcio como material obturador, o processo de reparo mostra evolução mais favorável e reveste-se de características peculiares, um pouco diferente daquele observado com o uso de ourros materiais. Obturando dentes de cães com pasta de hidróxido de cálcio, Holland e colaboradores verificaram, aos dois dias de observação, que o coto apical em contato com o ma- terial sofre necrose de coagulação decorrente, em parte, da desnaturação protéica provocada por sua acentuada alcalinidade. Esta zona de necrose estende-se por altu- ras variáveis do coto apical, podendo, em alguns casos atingir o forame. O infiltrado inflamatório é bastante discreto no coto e no tecido periapical. No ligamento, não é observada necrose nem reabsorções de tecidos duros, neste período. A semelhança do que ocorre nos tratamentos conser- vadores onde a polpa é recoberta por hidróxido de cál- cio, granulações cálcicas birrefringentes à luz polariza- da, de dimensões variadas, são observadas na intimida- de do coto apical. Localizam-se na área de necrose e no tecido vivo, podendo estender-se por todo o canal ce- mentário. São constituídos basicamente por carbonato de cálcio cristalizado na forma de calcita e resultam da reação química entre o hidróxido de cálcio e o gás carbônico do tecido. A composição cálcica permite sua identificação pelo método de coloração de von Kossa e seu caráter cristalino responde pela propriedade de bir- refringência. Nos tecidos adjacentes, surgem finas gra- nulações de sais de cálcio, que não mostram birrefringên- cia mas' são positivas ao método de von Kossa e cujo cál- cio origina-se do próprio organismo e não do hidróxido de cálcio. Com a continuidade do processo, verifica-se, já a partir de 15 dias, a formação de uma barreira de tecido duro ao nível da zona de granulações finas, com característi- Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~ cas morfológicas de cernento. Possivelmente as granu- lações cálcicas compõem um substrato favorável à apo- sição de tecido por parte dos cementoblastos que, no curso do reparo, aparecem em grande quantidade no coto apical. O cemento também é depositado nas pare- des do canal e estende-se para a superfície externa do ápice radicular, reparando eventuais reabsorções e recobrindo o cemento preexistente. Reduzido na intensidade e no tempo de expressão, em relação ao que ocorre com outros materiais, o pro- cesso inflamatório desaparece geralmente entre lS e 30 dias. As reabsorções cementárias (raras) e ósseas são pequenas e prontamente reparadas. O selamento biológico pode ser retardado quando a zona de necrose atinge o forame apical ou impedido quando raspas de dentina ou coágulo não permitem o contato direto do hidróxido de cálcio com o tecido do coto apical. Resultados semelhantes a estes, obtidos em dentes de cães, foram posteriormente observados por Holland e colaboradores em dentes humanos. Ainda que promissoras, do ponto de vista biológico, as pastas de hidróxido de cálcio não possuem proprie- dades físicas desejáveis a um material de obturação per- manente, o que restringe a sua utilização neste procedi- mento. Visando melhorar as propriedades fís icas, mantendo os efeitos terapêuticos daquele fármaco, cimentos à base de hidróxido de cálcio têm sido produzidos e introduzi- dos na prática endodôntica. Embora se descrevam selamentos biológicos totais promovidos por tais cimen- tos, Soares e colaboradores verificaram apenas selamen- tos parciais com CRCS e Sealapex. Acúmulos de partícu- las no ligamento têm sido também relatados, revelando a solubilidade do material (Figura 12.17). Mesmo pro- Figura 12.17 Fotomicrografia dos tecidos periapicais de um dente de cão. com o canal obturado com Sealapex, registra a presença de partículas do material obturador. ·""'3 Capftulo 12 1_, Reparo após o Tratamento dos Canais Radiculares porcionando bons resultados, esses cimentos não se di- ferenciam, mostrando-se semelhantes a muitos outros produtos utilizados na atualidade. Assim, pelos registros encontrados na literatura, pe- Los estudos histológicos que vêm realizando e por suas observações clínicas, ~s autores são levados a creditar que é possível obter-se resultados s&tisfatórios com vá- rios materiais obturadores, desde que se escolha urna técnica de obturação adequada e que se a utilize com correção e esmero. []] ALGUNS FATORES GERAIS QUE PODEM INFLUENCIAR NO REPARO ÁPICO-PERIAPICAL Alem dos fatores locais já comentados, outros, de ordem sistêrnica, têm sido considerados na literatura quanto à possibilidade de influírem no processo de re- paro. Dentre eles, destacamos: 6.1 Idade É conhecimento amplamente difundido que o reparo, de um modo geral, sofre influência da idade. Seltzer lem- bra que as enfermidades infecciosas são mais severas nos extremos da vida que nos adolescentes e adultos jovens, e que nestes o processo de cura inicia-se mais rápido.As alterações degenerativas, especialmente de vasos, como a arteriosclerose, bem corno a redução do teor de células, entre outras modjficações decorrentes da ida- de, tornam mais difícil o reparo por reduzirem a capaci- dade metabólica dos tecidos . Assim, o prognóstico de um tratamento endodôntico com sucesso seria mais po- bre nas pessoas com idade avançada. No entanto, opini- ões discordantes podem ser colhidas na literatura admi- tindo que a endodontia em pacientes idosos pode pro- duzir bons resultados, com índice de sucesso compará- vel aos obtidos nos jovens. Ainda que o reparo possa demandar mais tempo - especialmente nos casos de lesão periapical - nos pa- cientes idosos, não há dados concludentes na literatu ra de que a idade seja um fator que impeça a cura e, por- tanto, não deve constituir-se em contra-indicação ao tra- tamento endodôntico. 6.2 Desnutrição A deficiência nutritiva, especialmente protéica, in- fluencia ampla e profundamente o processo de reparo. Por um lado, torna o organismo mais suscetível às infec- ções por reduzir a síntese de mediadores dos processos de defesa como as imunoglobulinas. Por outro, dificulta a reparação tecidual por reduzir a síntese de proteínas necessárias ao crescimento celular e à produção das fi- bras e dos complexos glico-protéicos que compõem a substância amorfa dos tecidos conjuntivos, inclusive o ósseo. Determina, ainda, outras repercussões sistêmicas ao reduzir a síntese de nucleoproteínas e de enzimas, substâncias que controlam o metabolismo celular. 6.3 Deficiência Vitamínica As avitaminoses e hlpovitaminoses afetam profunda- mente o metabolismo, uma vez que as vitaminas atuam como co-enzimas: quando ausentes, as respectivas enzimas não exercem suas funções . A vitamina C é fun- damental para a síntese do colágeno e sua deficiência causa o escorbuto, com degeneração generalizado do tecido conjuntivo. No osso, sua falta determina uma di- minuição da formação da matriz que, não compensan- do o fenômeno da reabsorção, conduz a um quadro de osteoporose. No metabolismo ósseo, são importantes ainda a vitamina D que promove a absorção intestinal do cálcio, favorecendo a formação da matriz, e a vitami- na A que regula os mecanismos de produção e reabsorção ósseas. Assim, as deficiências das vitaminas A,C e D são obstáculos ao reparo periapical, especialmente n(!s situ- ações que envolvem a reposição de tecido ósseo. 6.4 Doenças Crônicas A tuberculose, a diabete e outras doenças crônicas debilitantes, por reduzirem o metabolismo, interferem no processo de reparo. A diabete- freqüente entre nossos pacientes- decorre da deficiência de produção ou de utilização da insuHna pelo organismo, o que determina a redução no aproveita- mento celular da glicose e, por conseqüência, profundas alterações metabólicas. O paciente diabético não contro- lado é extremamente suscetível às infecções e, em face das alterações metabólicas e das degenerações vasculares que ocorrem, e que dificultam a nutrição tecidual, tem sua cap(!cidade de reparo significantemente reduzida. As- sim, o tratamento endodôntico deve ser conduzido com especiais cuidados quanto aos aspectos relacionados com infecção e traumatismo para não acrescentar novos fato- res de agressão. No tratamento de dentes despolpados, especialmente aqueles que apresentam lesão periapical, o uso de antibiótico pode ser um auxiliar precioso. Simul- taneamente, o paciente deverá, através da terapia ade- quada, manter a doença-s-6bre controle, ampliando as pers- pectivas de um prognóstico favorável. As discrasias sangüíneas são, também, doenças que afetam o poder de reparo. Nas anemias, a redução no aporte de oxigênio interfere no metabolismo e "a cura de lesões periapicais é prolongada ou impedida", corno afirma Seltzer. Os quadros de hemofilia e leucemia difi- cultam a ação do profissional. Nestes pacientes, a exo- dontia está contra-Indicada e o tratamento endodôntico é a alternativa adequada. O auxílio do médico é funda- mental para a montagem de uma estratégia que permi- ta atuar no paciente nas melhores condições clínicas possíveis e controlar eventuais seqüelas pós-operatórias. 6.5 Distúrbios Hormonais Diversos hormônios influem no metabolismo dos te- cidos conjuntivos. Os corticosteróides, produzidos pelo córtex das glândulas adrenais inibem a proliferação dos fibroblastos e a síntese das fibras do conjuntivo e ate- nuam a resposta inflamatória. O ACTH (hormônio adre- nocorticotrófico) , produzido pela adeno-hipófise, pro- duz os mesmos efeitos por estimular a síntese dos corricosteróides. Nos casos de aumento da produção destes hormônios pelo organismo ou de setJ. uso para fins terapêuticos, haverá dificuldades no reparo dos te- cidos conjuntivos, inclusive ósseo. O paratormônio e a calcitonina, ao regularem o me- tabolismo do cálcio e do fosfato, exercem ativa influên- cia sobre o tecido ósseo, que é o maior armazenador destes íons no organismo. O paratormônio, produzido pelas glândulas parateireóides, promove o aumento do número de osteoclastos e, conseqüentemente, estimula a reabsorção óssea, com mobilização de cálcio para o sangue, aumentando a calcemia. A calcitonina, produ- zida pelas células parafoliculares da tireóide tem efeito oposto, reduzindo a reabsorção e a mobilização de cál- cio. A excessiva produção de paratormônio leva à inten- sa reabsorção óssea que, não sendo compensada pela neoformação, produz osteoporose. Nestas circunstância, fica .claro que o reparo de lesões ósseas periapicais esta- rá dificultada ou impedida. A mesma situação pode resultar da redução dos hormônios sexuais, substâncias que, de um modo geral, estimulam a formação de tecido ósseo. Especialmente nas mulheres após a menopausa, a ausência dos estró- genos deprime o metabolismo ósseo, diminuindo a for- mação da matriz e conduzindo ao quadro de osteoporose. Para Seltzer, a cura após a terapia endodôntica parece ser mais favorável em mulheres mais jovens, possivel- mente devido aos níveis normais de estrógenos. 6.6 Deficiências Imunológicas Dificuldades no reparo - seja por interferência em seu mecanismo, seja por favorecer os fatores de agres- são, como a infecção - ocorrem em pacientes que apre- sentam alguma forma de deficiência de seus sistemas de defesa, em especial o imunológico. Doenças crônicas debilitantes, como a tuberculose e outras, já abordadas, determinam uma depressão nas Parte 11 Informações e Procedimentos Clínicos ~~ defesas orgânicas, predispondo o paciente a infecções oportunistas. Em algumas situações, a deficiência decorre de me- dicações aplicadas ao paciente ou de afecções do pró- prio sistema imunológico. Os corticóides usados terapeuticamente determinam, entre outros efeitos colaterais, a inibição da síntese de DNA, principalmente no tecido linfóide, atenuando a res- posta imunitária, além de inibirem a inflamação e favore- cerem, assim, a instalação de infecções. Como já foi co- mentado anteriormente, dificultam de forma direta o re- paro por interferência na produção de tecido conjuntivo. Terapêutica com imunodepressores toma os pacien- tes transplantados altamente suscetíveis a infecções e exige a atenção do profissional especialmente no trata- mento de dentes infectados. lmunodeficiência pode ocorrer também por doenças como a síndrome de Di George, entre outras, que afe- tam a produção de linfócitos Te/ ou B. Tais doenças não possuem alta incidência e freqüentemente matam o por- tador ainda jovem. A mais freqüente imunodeficiência da atualidade é, sem dúvida, a AIDS, decorrente da infecção pelo retro- vírus HIV Matando os linfócitos T helper, responsáveis pela estimulação do processo imunológico, deprime tanto a imunidade humoral quanto a celular, predispondo o portador a neoplasias e a infecção pormicrorganismos, mesmo os que, usualmente, não causam doenças. Ainda que os dentistas tenham acumulado conheci- mentos sobre como tratar os portadores de Hrv, cremos que o tratamento odontológico de pacientes com qua- dros de imunodeficência, de um modo geral, deve ter uma abordagem ampla que envolva também a partici- pação do médico que o acompanha. Finalmente lembramos que, embora estes e outros problemas sistêmicos interfiram no reparo e tomem mais pobre o prognóstico, devemos ter em conta que o trata- mento endodôntico é o procedimento preferível por ge- rar menor traumatismo e, em alguns casos, o único pos- sível de ser executado. Portanto, uma cuidadosa anam- nese deve ser conduzida e, se necessário, exames com- plementares devem ser solicitados para avaliar correta- mente o estado de saúde do paciente e orientar a futura conduta do profissional. [[] C o NSIDERAÇÕES cLÍNICAS soBRE REPARO DOS TECIDOS ÁPICO- PERIAPJCAIS Dependendo das condições clínicas do dente - polpa viva ou necrosada sem lesão e necrosada com lesão periapical - o reparo dos tecidos ápico-periapicais, após :::.:~ _c_a_pí_tu_lo_I2 _ __ R_e_pa_r_o_a_po_' s_o_Tt_r_at_a_m_en_t_o_d_o_s _c _an_a_is_Ra_ di_cu_la_r_es _______________ _______ _ o tratamento endodôntico, pode ser inferido e/ou ob- servado clinicamente através da avaliação de sinais e sintomas e, principalmente, pela radiografia. O exame radiográfico, principal método de avaliação, possui ine- gáveis importância e limitações. Assim, dependendo da angulação, do tempo de exposição, do processamento e de quem a interpreta, é possível verificar-se resultados conflitantes. Ainda é importante salientar que, da mes- ma forma que a imagem radiográfica não mostra com exatidão as dimensões da alteração óssea, ela também pode não refletir o reparo em sua fase inicial. Estas colocações, antes de negarem o valor do exame radiográfico, procuram alertar sobre as suas limitações e, em conseqüência, para os cuidados que devem ser tomados. A interpretação da radiografia, como qualquer outra, está muito sujeita à subjetividade de quem a rea- liza. Conhecimento, experiência e cautela são ingredi- entes indispensáveis. O reconhecimento destas dificuldades recomenda que o encerramento do período de controle pós operatório (pela constatação do êxito) ou a decisão de uma nova intervenção (retratamento ou cirurgia) seja muito pon- derada e tomada sem afobações. Em alguns casos, no- vas radiografias, com diferentes angulações, em dias posteriores, ou o exame realizado por colegas não envol- vidos com o tratamento podem redirecionar a conduta. Ao final, é necessário lembrar que, apesar do que foi mencionado, o exame radiográfico é uma das poucas formas que viabiliza a avaliação clínica do tratamento realizado. 7 .I Nas Pulpectomias O sucesso do tratamento endodôntico realizado em dentes com a polpa viva, que traduziria, ao final, o repa- ro dos tecidos ápico-periapicais, é expresso pela ausên- cia de toda e qualquer sintomatologia e pela normalida- de da imagem radiográfica, identificada pelas dimen- sões fisiológicas do ligamento periodontal e ausência de áreas radiolúcidas (Figura 12.18). Em decorrência de um estado inflamatório anterior ao tratamento e/ ou pela injúria dos procedimentos endodônticos, o dente pode apresentar, nos primeiros 3 dias após a endodontia, sensibilidade espontânea ou provocada pela percussão. Esta sensibilidade, considerada normal é, quase sem- pre, resultado do ato cirúrgico e representa a manifesta- ção clínica do quadro inflamatório descrito anteriormen- te. O seu desaparecimento, é um sinal de reparo dos tecidos envolvidos no processo inflamatório e na prática indica o sucesso imediato do tratamento. Ao contrário, a persistência e/ ou aumento da dor, o aumento de volume na mucosa próxima ao dente trata- do, aumento da mobilidade dissociada de alteração Figura 12.18 As radiografias pós-operatórias, imediata (I O. 1984) e a longo prazo ( I 1.1 985 e 07.1987), de um pré-molar inferior, mostram o aspecto de normalidade dos tecidos periapicais. Obturação com Sealapex. periodontal, ou ainda a presença de uma fístula, evi- denciam o agravamento do processo inflamatório, a au- sência de reparo e, de imediato, o insucesso do trata- mento. Nesta situação, uma cuidadosa avaliação dos procedimentos realizados durante o tratamento deverá induzir à conduta aconselhada: refazer o tratamento ou submeter o paciente a um controle pós-operatório de curtos períodos (15/ 15 dias) para constatar a evolução. No tratamento dos dentes com polpa viva a normali- dade dos tecidos periapicais faz com que a radiografia tenha pouca ou nenhuma importância na avaliação ime- diata. Ao contrário, a longo prazo, ela poderá eviden- ciar alterações naqueles tecidos e caracterizar o insucesso. Para que isto possa, efetivamente, ser avaliado é de fun- damental importância que as radiografias, obtidas quan- do do início ou conclusão do tratamento, tenham sido executadas dentro de padrões técnicos corretos e pro- cessadas adequadamente. Nelas deverá ser possível ob- servar, com nitidez, o contorno radicular bem como os tecidos adjacentes. Elas servirão como parâmetros para comparações com radiografias futuras, executadas den- tro dos mesmos critérios técnicos. A experiência clinica dos autores sugere que uma radiografia para controle pós-operatório a cada 6 meses, durante Zanos, é uma conduta que permitirá observar a normalidade dos tecidos periapicais (semelhante à radio- grafia inicial) e que indica o sucesso (ou reparo) ou de- tectar alterações naqueles tecidos, caracterizadas pelo aumento do espaço periodontal ou pela presença de áreas radiolúcidas, que deixam transparecer o insucesso (ou ausência do reparo). Não havendo, nestes 2 anos, evi- dências de insucesso, e não surgindo qualquer outro fa- tor interveniente, dificilmente elas aparecerão. 7.2 Nos Dentes Despolpados sem Lesão Periapical Os aspectos clínicos que podem manifestar o retomo dos tecidos ápico-periapicais à normalidade, após o tra- tamentos dos dentes despolpados, sem lesão periapical, são muito similares àqueles descritos para os casos de pulpectomia. Da mesma forma, os tópicos evidenciadores . da ausência de reparo, ou do insucesso, também são se- melhantes. Também quanto aos aspectos radiográficos - nota- dos nos cofí'troles pós-operatórios a cada 6 meses, du- rante 2 anos - as conotações em relação ao êxito ou fracasso, são idênticas. 7.3 Nos Dentes Despolpados com Lesão Periapical Neste dentes, o reparo dos tecidos ápico-periapicais poderá ser notado de forma ímpar. A redução no tama- nho "da lesão, ou o seu desaparecimento, evidenciarão o reparo em andamento ou concluído; a manutenção ou aumento de suas dimensões, a inexistência dele (Figura 12.19). A presença - na radiografia- de uma imagem radio- lúcida mensurável, determinará a necessidade de ava- liações radiográficas periódicas, de 6 em 6 meses, que possibilitarão visualizar o reparo ou a evolução da le- são. O tempo necessário para que o exame radiográfico possa oferecer um resultado elucidativo está na depen- dência de alguns fatores e, dentre eles, destacam-se o tamanho e o tipo da lesão. Em lesões consideradas pe- quenas é possível notar o reparo, ou sua ausência, em períodos de até 2 anos; em lesões grandes, este tempo pode chegar a 4 ou mais anos. Figura 12. 19 Radiografias, antes (05.1982) e três anos após o trata- mento endodôntico (05.1985), comprovam o reparo de extensa le- são periapical associada à raiz mesial do molar inferior. Pa.rte 11 ' Informações e Procedimentos Clínicos E · Ao lado das informações obtidas através da radio- grafia, alguns sinais ou sintomas podem apresentar-se como indicativos da progressão da lesão. Dentre eles, o agudecimento
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