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CRIMES AMBIENTAIS – LEI N.º 9.605/98 Como se sabe, o meio ambiente é um bem fundamental à existência humana e, como tal, deve ser assegurado e protegido para uso de todos. Este princípio está consagrado no texto da Constituição Federal de 1988, eis que no seu art. 225, caput, está posto sobre o reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio e equilibrado como uma extensão ao direito à vida, seja pelo aspecto da própria existência física e saúde dos seres humanos, seja quanto à dignidade desta existência. Este reconhecimento impõe ao Poder Público e à coletividade a responsabilidade pela proteção ambiental. O meio ambiente tem como um de seus mecanismos de proteção a Lei n.º 9.605/98, também conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, a qual determina as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Assim, será crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente: flora, fauna, recursos naturais e o patrimônio cultural. Importante lembrar que por expressa previsão constitucional (art. 225, § 3º, da CF/88) e legal (art. 3º da Lei dos Crimes Ambientais) as pessoas jurídicas serão responsabilizadas nas esferas administrativa, civil e penal, não se excluindo a responsabilidade das pessoas físicas. Fundamental aqui é compreender que para a pessoa jurídica poder ser responsabilizada criminalmente, deve haver a chamada dupla imputação na denúncia (acusação formulada contra a pessoa jurídica e a pessoa física). As penas aplicadas às pessoas jurídicas são de: multa, restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade (art. 21). A Suspensão das atividades: quando não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares. A Interdição: quando funcionarem sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. A Proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não pode exceder o prazo de 10 anos. Ademais, a pessoa jurídica constituída ou utilizada para a prática de crimes ambientais terá decretada sua liquidação forçada, sendo considerado seu patrimônio instrumento do crime e perdido para o Fundo Penitenciário Nacional (art. 24). No tocante a imposição da pena, será observada, conforme o artigo 6º da Lei, durante a dosimetria: a) a gravidade do fato; b) os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambiental; c) situação econômica, no caso de multa. Ainda sobre a temática das penas, a lei indica em seu artigo 7º que as penas restritivas de direito são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: a) o crime for culposo ou a PPL (pena privativa de liberdade) for inferior a 4 anos; b) verificada a culpabilidade, antecedentes, conduta social, etc. A lei também traz uma série de circunstâncias atenuantes (art. 14) que devem ser aplicadas nos casos de crimes ambientais em razão da aplicação do princípio da especialidade, a saber: a) baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; b) arrependimento do infrator, com espontânea reparação do dano; c) comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; d) colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. Além disso, surgem também diversas circunstâncias agravantes (art.15): a) reincidência nos crimes de natureza ambiental; b) ter cometido a infração para obter vantagem pecuniária, coagindo outrem; c) expondo a grave perigo a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos a propriedade alheia; e) atingindo áreas ou assentamentos urbanos; f) em período de defeso à fauna; g) em domingos ou feriados, à noite, em época de secas ou inundações; h) com emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; i) mediante fraude ou abuso de confiança; j) com abuso de licença, permissão ou autorização; l) no interesse de pessoa jurídica, mantida por verbas públicas ou beneficiadas por incentivos fiscais; m) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções Deve-se observar que a perícia produzida no inquérito civil ou no âmbito cível pode ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório (art. 19). Os crimes ambientais de menor potencial ofensivo poderão ser objeto de proposta de aplicação imediata da pena restritiva de direitos ou multa, previstas no art. 76 da Lei n.º 9.099 – transação penal. Apenas, deve-se observar que está providência condiciona-se à prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade (art. 27). Crimes Ambientais De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, os crimes estão divididos em cinco grupos diferentes: Contra a fauna (arts. 29 a 37): São aquelas agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como a caça, pesca, transporte e a comercialização sem autorização; os maus-tratos; a realização experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro meio, independente do fim. Também estão incluídas as agressões aos habitats naturais dos animais, como a modificação, danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de espécimes animal estrangeiras no país sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como a morte de espécimes devido à poluição; Contra a flora (art. 38 a 53): Causar destruição ou dano a vegetação de Áreas de Preservação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de Conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização; Poluição e outros crimes ambientais (art. 54 a 61): Todas as atividades humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoque ou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Assim como, aquela que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. São também considerados crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não-recuperação da área explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis; a operação de empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixam nesta categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas; Contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65): Meio Ambiente é um conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais (solo, ar, água, flora,fauna). O meio ambiente é a interação de todos estes, com os elementos artificiais construídos e alterados pelo homem e culturais, que, juntos, propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida. Desta forma, a violação da ordem urbana e/ou da cultura também configura um crime ambiental; Contra a administração ambiental (art. 66 a 69): São as condutas que dificultam ou impedem que o Poder Público exerça a sua função fiscalizadora e protetora do meio ambiente, seja ela praticada por particulares ou por funcionários do próprio Poder Público. Comete crime ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental; Ou aquele que concede licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais. Também comete crime ambiental a pessoa que deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, quando tem o dever legal ou contratual de fazê-la, ou que dificulta a ação fiscalizadora sobre o meio ambiente.
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