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Violência Simbólica de Gênero em Faculdades de Medicina de São Paulo

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O objetivo deste trabalho foi analisar hinos de faculdades de medicina paulistanas sob a perspectiva de gênero e do referencial de violência simbólica. Compreendemos os hinos como discursos que espelham a cultura e os valores de um grupo em uma época, reproduzindo-os inclusive em suas desigualdades. 
Consideramos hinos os cantos entoados por torcidas e estudantes em jogos universitários e festas, de autoria indefinida. Em um universo de dez faculdades de medicina particulares da capital, encontramos onze hinos de oito faculdades em páginas de Facebook, blogs e sítios de internet de atléticas e torcidas, além de vídeos postados no YouTube. As canções foram submetidas à análise de conteúdo (modalidade temática)3 e interpretadas sob a perspectiva de gênero e o referencial de violência simbólica. 
A afirmação do curso ou da faculdade de pertencimento, esperada em qualquer hino, é realizada principalmente através de imagens de violência sexual, culto ao falo e violência física. As ameaças de violência sexual se dirigem ambiguamente à torcida adversária, entidade supostamente amorfa, mas claramente feminilizada, e às suas componentes, mulheres concretas com corpos a violar. 
O conteúdo violento, sexista e heteronormativo dos hinos estudados contribui à naturalização da violência de gênero, à objetificação da mulher e à perpetuação da hegemonia masculina na Medicina. Discentes e docentes devem desnaturalizar esses discursos se almejam combater a reificação da mulher e as desigualdades de gênero dentro de sua área – afinal, zelar pela saúde humana, seja ela física ou mental, constitui uma de suas principais atribuições. 
Bibliografia
1 Scheffer MC, Cassenote AJF. La feminización de la Medicina en Brasil. Rev. Bioét. 2013; 21(2):268-277. 
2 Bourdieu P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. 
3 Bardin L. Análise de conteúdo. 2a. reimpr. São Paulo: Edições 70, 2011. 
4 Bourdieu P. A dominação masculina. 11ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. 
A cachorrada chegou para foder!  
E é de quatro que vamos te comer.  
Eu sou cachorro e meto sem parar.  
Sem camisinha até você chorar.  
No seu cuzinho meu pau eu vou meter  
Vou te arrombar até você gemer 
(Universidade Anhembi Morumbi) 
Violência simbólica de gênero em hinos de faculdades médicas paulistanas (PD923)
Autores: Milena Reami Sabbadini (Sabbadini MR) – misabbadini.med@gmail.com, Antônio Augusto Dall’Agnol Modesto (Modesto, AAD) - ilomedlit@yahoo.com.br 
Universidade Cidade de São Paulo (Unicid)
Introdução
Em meio ao franco processo de feminilização da Medicina 1, universitárias mulheres convivem com trotes, comentários reducionistas, assédio e piadas sexistas que partem até de seus professores. Muitos desses abusos constituem o que Pierre Bourdieu2 chama de violência simbólica, aquela exercida sem coação física, mas que causa danos morais e psicológicos e consiste na aceitação de uma imposição econômica, social ou simbólica, contribuindo para reprodução da ordem estabelecida. 
Objetivo
Métodos
Resultados e discussão
Conclusão
No cuzinho ou na boceta o meu pau eu vou meter  
É a Med Unicid que chegou pra te foder!  
Foder! Foder! Foder até morrer!  
Se você está cansada, é melhor se preparar  
Aí vem a Unicid, ela vai te arrombar 
(Universidade Cidade de São Paulo) 
Elementos de objetificação da mulher são evidentes, incluindo a violência como fonte de prazer feminino e a banalização da figura feminina e seus órgãos sexuais.   
O poder simbólico se manifesta através de sistemas simbólicos como a língua, a arte e a mídia, se relacionando aos interesses da classe dominante. Interesses particulares tendem a ser apresentados como universais, desmobilizando os grupos dominados e legitimando a ordem estabelecida.2 Nos hinos analisados, a produção simbólica se alinha à manutenção da hegemonia masculina4 em um ambiente progressivamente feminilizado.1 
Segundo Bourdieu,4 a construção da identidade feminina foi pautada pela interiorização pelas mulheres das normas enunciadas pelos discursos masculinos, em que dominadas incorporam a dominação e reproduzem a violência, fazendo-a ser vista como natural e levando à autodepreciação e autodesprezo. Assim, ao entoar esses hinos, universitárias mulheres podem estar legitimando mais ainda o processo de objetificação de seus corpos e redução a um papel sexual inerente à sua condição de ser mulher, conferindo aos universitários homens, consciente ou inconscientemente, o direito de uso e deleite de seus corpos. 
As letras dos hinos analisados carregam parte da cultura do grupo dominante dando suporte à manutenção da cultura do patriarcado, visto que é desinteressante aos homens desconstruir sua posição hegemônica.

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