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Descartes e a Filosofia Moderna unid II

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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
Unidade II
5 DESCARTES
A Filosofia Moderna foi fecunda em pensamentos e pensadores. Dentre os mais importantes, está 
René Descartes, tido como o fundador da Filosofia Moderna. Nesse primeiro momento, trataremos de 
apresentar a vida de Descartes e como escreveu e publicou suas obras mais importantes, bem como 
veremos como o cinema retratou a vida desse filósofo.
Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno. É um filósofo referência dentro da História da 
Filosofia Ocidental.
A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim como às ciências naturais, por ter estabelecido 
um método que ajudou no seu desenvolvimento. Além de filósofo, foi matemático. Você deve ter ouvido 
falar do sistema cartesiano:
-4 -3 -2 -1 10 2 3 4 x
y
-1
4
-2
3
-3
2
-4
1
Figura 32
Pois bem, foi Descartes quem o inventou. Ele foi um filósofo do século XVI inserido na Filosofia 
Moderna. Antecedido pelo período Medieval, a Filosofia Moderna teve seu início com o surgimento do 
pensamento renascentista, que rompeu com a Filosofia Medieval.
O método cartesiano consiste no ceticismo metodológico, que nada tem a ver com a atitude 
cética, ou seja, para que seja possível conhecer racionalmente as coisas do mundo real, duvida-se 
de cada ideia que as define, que não sejam suficientemente claras e distintas. Eis como Descartes 
instituiu a dúvida cética ou dúvida metódica: uma vez que só se pode dizer que existe aquilo que 
puder ser provado, e isso significa que antes o sujeito colocou em dúvida tudo o que julgara saber 
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– prática do caminho para a comprovação racional possível –, somente o ato de duvidar pode ser 
considerado indubitável. Do contrário, o exercício da dúvida metódica se constituiria apenas como 
uma dúvida solipsista, que jamais chegaria ao fim.
Seu método de quatro regras básicas:
• Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada.
• Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas em suas unidades mais simples e estudá-las.
• Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro.
• Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.
5.1 Vida e obra
René Descartes nasceu em 1596, em La Haye, na França, em uma família da pequena nobreza 
francesa de Touraine.
Seu pai, Joachim Descartes, foi conselheiro do parlamento britânico em 1586, e seu avô, Pierre 
Descartes, lutou em guerras de religião. Sua mãe, Jeanne Brochard, era filha do tenente-general de 
Poitiers e teve três filhos. O filho mais velho, Pierre Descartes, sucedeu a seu pai, René foi o terceiro.
De 1604 a 1612, René estudou no colégio de La Flèche, fundado por Henry IV e dirigido pelos 
jesuítas. O jovem estudou Filosofia durante três anos, que consistia em apresentações, resumos ou 
comentários de obras de Aristóteles: Organon, Metafísica e De Anima. Esse tipo de educação, segundo 
a tradição, era destinada a preparar o estudante para a teologia. No segundo ano, ele estudou também 
matemática e álgebra, bem como o tratado de P. Clavius. Em 1616, ele vai para Poitiers realizar seus 
exames legais em Direito.
Em 1618 inicia a Guerra dos Trinta Anos, o que levou Descartes a alistar-se na Holanda, um aliado 
da França contra os espanhóis no exército do príncipe Maurício de Nassau. Ao receber uma modesta 
fortuna, Descartes estava dispensado de qualquer preocupação material, como muitos outros senhores 
do seu tempo. A amizade com um médico da Universidade de Caen, Isaac Beeckman, nascido em 1588, 
leva Descartes a lidar com problemas de matemática.
Em 1619, Descartes deixa a Holanda, liberado de seu compromisso com Maurice de Nassau, 
e vai para a Dinamarca e depois para a Alemanha servir no exército de Maximilian da Bavaria. 
Luta contra o rei da Boêmia e auxilia em Frankfurt na coroação do Imperador Ferdinand. Em 1620 
renuncia a vida militar.
Em 10 de novembro de 1619, em uma aldeia alemã perto de Ulm, Descartes tem a intuição, em um 
sonho, dos fundamentos de uma ciência admirável, expressão que denota provavelmente um método 
universal, capaz de introduzir a unidade em ciência.
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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
Em 1622 volta à França e em 1623 viaja à Itália. De 1623 a 1625, estava na Itália, onde realizou a peregrinação 
à Nossa Senhora de Loreto, pois ele tinha feito um voto para ir, no momento do seu sonho. Descartes, nessa 
época, passa por um período de entusiasmo místico e, junto do matemático Faulhaber, entra para a Associação 
Rosa-Cruz, que requer que seus membros tenham o livre exercício da medicina. Alguns manuscritos da época 
possuem algumas linhas significativas: a Experimenta, que se relaciona com as coisas sensíveis; o Parnassus, a 
região de musas; o Olympica, que se relaciona com as coisas divinas. Finalmente, foi nessa época que ele teve o 
célebre sonho profético, que ele interpretou como um sinal de sua vocação filosófica.
De 1626 a 1628 viveu em Paris, lidando com matemática. Isso é provavelmente quando ele escreveu 
um panfleto que permaneceu inacabado, o Regulae directionem ingenii, publicado em 1701, e que a Lógica 
de Port-Royal (Parte IV, cap. II, 1664) traduziu as regras XII e XIII. Naquela época, também, o cardeal Bérulle, 
fundador do Oratório, o encorajou na pesquisa filosófica para servir à causa da religião contra os libertinos.
No final de 1628, Descartes se retirou para a Holanda para buscar a solidão. Exceto uma viagem à 
França em 1644, ele permaneceu na Holanda, mudando de casa várias vezes, até 1649. De 1628 a 1629, 
ele escreveu um pequeno tratado de metafísica sobre a existência de Deus e da alma, destinado a dar os 
fundamentos à sua Física. Em 1629, ele interrompe a redação para lidar com a Física. Então escreveu o 
Tratado do Mundo, sobre os fenômenos da natureza, a formação do planeta, a gravidade, fluxo e refluxo, 
para obter a explicação do homem e o corpo humano.
Em seguida, em 1633, ocorre o evento que iria mudar seus planos: Galileu foi condenado pelo Santo 
Ofício por propor que o movimento da Terra girava em torno do sol. Descartes escreve a Mersenne, em 
22 de julho de 1633, que a condenação de Galileu o deixou tão atônito que ele pensou em queimar 
todos os seus papéis, ou pelo menos não deixar ninguém ver. Confessou que preferia admitir que se 
o movimento da Terra é falso, todas as bases de sua filosofia também são. O tratado permaneceu nos 
manuscritos de Descartes e não foi publicado até 1677.
Em 1637, Descartes publica o Discurso do Método. Mesmo depois da condenação de Galileu pela 
Santa Inquisição, Descartes não abandona a ideia de escrever um tratado físico e três ensaios (Meteora, 
Dióptrica e Geometria), publicados em 1637. Esses escritos foram precedidos por um discurso do método, 
destinado a preparar o caminho da ciência futura. O título original de toda a obra foi substituído por: 
“Discurso sobre o método para bem conduzir a razão e procurar a verdade na ciência, mais Dióptrica, 
Meteoros e Geometria” (BRÉHIER, 1996, p. 43).
Em 1641, aparecem As Meditações, com o nome de Philosophia prima Meditações Latina em quibus 
existentia Dei e de Animae immortalitas demonstrantur, concluída em 1640. Descartes tem tomado 
muito cuidado para que essas meditações, que contêm todos os fundamentos da Física, fossem bem 
recebidas pelos teólogos. Ele primeiro enviou-as para um jovem teólogo holandês, Caterus. No final de 
1640, ele envia a Mersenne com objeções e respostasàs primeiras acusações de Caterus. Mersenne diz 
que sua intenção foi dar a conhecer o Tratado aos teólogos “a fim de ter o seu julgamento e aprender com 
eles o que vai ser bom para mudá-la, corrigir ou acrescentar antes torná-la pública.” Ele foi precedido 
por uma carta para os teólogos da Sorbonne, de quem ele exigia aprovação, argumentando finalidade 
de suas manifestações contra o ímpio. O tratado apareceu, seguido de objeções e respostas a Descartes, 
e, como era esperado, mas de forma errada, a aprovação da Sorbonne foi impressa na parte inferior da 
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tampa: approbatione doctorum cum. Esta desaparece a partir da edição de 1642, cujo título é alterado 
para Animæ tem distinctio corpore. Esta edição também contém, em resposta a Arnauld, uma passagem 
sobre a Eucaristia, que Mersenne tinha tentado excluir na primeira edição, e as objeções do jesuíta 
Bourdin. Uma tradução francesa da primeira edição, revista em parte por Descartes, apareceu em 1647. 
Há, neste esforço para penetrar, insistindo suas ideias em círculos largos, muito mais do que a ambição 
pessoal, o sentido do valor profundo de seu trabalho (BRÉHIER, 1996, p. 45).
A estadia de Descartes na Holanda só foi interrompida por três viagens curtas para a França, em 
1644, 1647 e 1648. Na segunda, ele conheceu o jovem Pascal. Em setembro de 1649, Descartes deixa 
a Holanda para ir a Estocolmo a convite da Rainha Cristina da Suécia. Descartes morreu vítima de 
pneumonia, em 11 de fevereiro de 1650, em Estocolmo.
 Lembrete
Descartes (1596-1650) publica o Discurso do Método em 1937 e as 
Meditações em 1641.
5.2 Cinebiografia de Descartes
Em 1974, o diretor de cinema Roberto Rossellini dirigiu o filme Cartesius. Trata-se da cinebiografia 
do filósofo, físico e matemático francês René Descartes, considerado o fundador da Filosofia Moderna e 
autor da frase “Penso, logo existo”.
Figura 33 – Capa do DVD do filme Descartes, de Rossellini
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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
A história conta a vida de Descartes, seus estudos, aulas, viagens, sua relação com a governanta. Um 
momento sublime do filme ocorre na cena que retrata o sonho de Descartes, em que ele tem a intuição 
do “Penso, logo existo”. Mas Rossellini não retratou apenas a vida do filósofo. Em muitos momentos, ele 
fez referência direta à obra que o filósofo estava escrevendo e aos seus pensamentos filosóficos. Para 
criar ações dramáticas do personagem Descartes, Rossellini utiliza trechos inteiros de algumas obras 
fundamentais do pensador, como O Discurso do Método, de 1637, e as Meditações, de 1941. Narra sua 
relação com a Igreja, o que o obriga, nas Meditações, a tratar da prova da existência de Deus.
Veja uma crítica do filme escrita por Uirá Machado e publicada na Folha de São Paulo, em 24 de 
maio de 2009:
“Penso, logo existo” é a frase mais famosa do filósofo francês René Descartes 
(1596-1650), mas o cineasta italiano Roberto Rossellini (1906-1977) 
escolheu outra, bem menos difundida, para conduzir a cinebiografia do 
pensador: “A ciência me impediu de viver a vida”.
A afirmação dramática, até surpreendente para os que se acostumaram a 
associar o cartesianismo à primazia da razão, faz parte da sequência final de 
“Descartes” (“Cartesius”, no original), o quarto longa sobre filósofos que o mestre 
do neorrealismo italiano filmou para a TV na década de 70, no final da carreira 
(completam a tetralogia “Sócrates”, “Blaise Pascal” e “Agostinho de Hipona”).
O Descartes que Rossellini apresentou ao público da Itália em 1974 chega 
agora ao Brasil em um DVD essencial para os interessados em filosofia.
Com base nas obras e na vasta correspondência do filósofo, o filme mostra 
dois aspectos em geral pouco abordados quando se fala desse pensador 
francês: seu lado humano, com dúvidas, angústias, medos e paixões, e o fato 
de ele ser um produto de seu tempo.
Não que o brilhantismo individual de Descartes não esteja lá. O filme 
“acompanha” três décadas da vida do pensador e expõe sua genialidade em 
diversas áreas – matemática, física, filosofia –, assim como seu profundo 
interesse pelas novas ciências, sua inquietação intelectual desde a juventude 
e a admiração que sua inteligência provocava nos interlocutores.
Mas o que Rossellini procura enfatizar é o contexto em que Descartes viveu. 
Desde a primeira cena, ele aparece rodeado de pessoas que debatem as teses 
de Nicolau Copérnico (1473-1543) e Galileu Galilei (1564-1642) acerca 
da mobilidade da Terra e do heliocentrismo ou que fazem experiências 
contrárias ao consenso “científico” da filosofia aristotélica.
Com isso, vemos um Descartes mundano, que acordava sempre depois do 
meio-dia, temia publicar sua obra – sobretudo após a condenação de Galileu 
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pelo Tribunal do Santo Ofício, em 1633 – e gostava de viajar pela Europa em 
busca de suas certezas racionais.
O resultado é uma ótima radiografia do amadurecimento intelectual do pai 
da filosofia moderna. Porém, se nisso reside o maior mérito do filme, aí está 
também sua grande fraqueza: à força de enfatizar o contexto da época e os 
conflitos internos do personagem, Rossellini deixa de explicar em detalhes 
a obra de Descartes.
Sem didatismo, os 162 minutos do filme, quase todos com diálogos densos, 
são pouco convidativos para quem não é familiarizado com o assunto. É um 
preço alto que Rossellini paga por sua escolha. No DVD, felizmente, os extras 
ajudam a sanar o problema (MACHADO, 2009).
 Saiba mais
Assista ao interessante filme sobre Descartes para conhecer melhor a 
vida e a obra desse filósofo:
DESCARTES. Dir. Roberto Rossellini. Itália; França: Orizzonte 2000; RAI 
Radiotelevisione Italiana, 1974. 162 minutos.
6 A PSICOLOGIA E A METAFÍSICA DE DESCARTES
Depois de conhecer a biografia de Descartes e suas principais obras, iremos adentrar em seu 
pensamento. Trataremos da psicologia e da metafísica.
Descartes nasceu em 1596 na França e morreu em 1650, portanto, viveu no período de lenta transição 
do feudalismo para o capitalismo moderno. O pensamento de Descartes é revolucionário para a sociedade 
feudalista em que ele nasceu, na qual a influência da Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia 
uma tradição de “produção de conhecimento”. Foi um dos precursores do movimento, considerado o pai 
do racionalismo, e defendeu a tese de que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao conhecimento.
6.1 A psicologia cartesiana
Descartes desenvolveu uma psicologia ao tratar da relação entre o corpo e a alma humana. Seu 
pensamento é dualista: ser pensante e ser pensado; coisa pensante e coisa extensa; alma e corpo.
No Tratado do Mundo, escrito entre 1629 e 1632, Descartes finalizou com capítulos que falam sobre 
o homem e os movimentos cardíacos. Descartes estendeu seu mecanismo para explicar as funções do 
corpo humano, a digestão da carne, o batimento do pulso, a distribuição dos cinco sentidos. Para tanto, 
ele estudou a anatomia das cabeças de vários animais para explicar o que é a imaginação e a memória.
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A ideia era a de que os corpos de animais e homens são comparáveis às máquinas ou aos autômatos. 
Este é um conceito frequente na filosofia grega, mesmo em Platão e Aristóteles, e deixou vestígios por 
toda a Idade Média. A ideia de que o corpo é uma máquina está tradicionalmente ligada à outra ideia, 
a de que existeum mecânico que construiu a máquina e a faz operar.
Descartes mostra a construção da máquina e as leis universais da natureza que operam a 
máquina sem a necessidade, por assim dizer, de um mecânico particular, pois esse mecanismo é 
universal. Isso leva Descartes a ter uma visão dualista da realidade: espírito e matéria, corpo e alma, 
ser pensante e coisa extensa.
Para ele, é possível ter uma ideia clara e distinta de si mesmo como sendo pensado, ao mesmo 
tempo em que podemos conceber esse ser pensante, sem introduzir qualquer noção de corpo 
nele. Então, temos o direito, pela regra, para dizer que nossa alma é uma substância pensante 
completamente separada do corpo. Podemos adquirir algum conhecimento de nós mesmos sem 
consciência corporal. Podemos dizer que não estamos errando quando excluímos o corpo da essência 
da minha alma. Assim, a espiritualidade da alma e do corpo, a distinção entre eles são verdades 
racionais e derivadas das noções apresentadas pela dúvida hiperbólica dos sentidos. O corpo, por 
sua vez, é separado da alma a partir do núcleo e contém em sua substância que o permite fazer por 
si mesmo. O corpo é apenas a máquina que pode se mover sem alma, como faz o autômato, isto é, 
espécie de mecanismo que se move, um robô da idade moderna.
Agora vejamos como Jostein Gaarder (1995, p. 254-261), em um trecho do capítulo sobre Descartes 
em seu livro O Mundo de Sofia, narra a questão da relação entre corpo e alma para Descartes:
CAPÍTULO XVIII: DESCARTES
... ele queria remover todos os velhos materiais do terreno de construção....
— Mas esse era apenas um dos problemas. A nova física colocara também a questão sobre 
a natureza da matéria, ou seja, sobre o que determina os processos físicos na natureza. Cada 
vez mais pessoas defendiam uma compreensão materialista da natureza. Mas quanto mais 
o mundo físico era concebido de forma mecanicista, mais urgente se tornava a questão da 
relação entre corpo e alma. Antes do século XVII, a alma fora descrita geralmente como uma 
espécie de “espírito vital” que percorria todos os seres vivos. Aliás, o significado original de 
“alma” e “espírito” é também “sopro vital” ou “respiração”. É esse o caso em quase todas as 
línguas europeias. Para Aristóteles, a alma é algo que está presente em todo o organismo como 
“princípio vital” desse organismo — e que é inconcebível separada do corpo. Por isso também 
podia falar de uma “alma vegetativa” e de uma “alma sensitiva”. Foi só no século XVII que os 
filósofos estabeleceram uma separação radical entre alma e corpo, porque todos os objetos 
físicos — também um corpo animal ou humano — eram explicados como processos mecânicos. 
Mas a alma humana não podia ser uma parte desta “máquina fisiológica”? O que era então? 
Tinha que se esclarecer como é que algo “espiritual” podia dar origem a um processo mecânico.
— Essa é realmente uma ideia bastante estranha.
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— O que queres dizer com isso?
— Eu decido levantar o meu braço — e o braço eleva-se. Ou eu decido correr para o ônibus 
e imediatamente as minhas pernas começam a mover-se. Por vezes, penso numa coisa 
triste: as lágrimas vêm-me logo aos olhos. Assim, tem de haver alguma ligação misteriosa 
entre o corpo e a consciência.
— Foi precisamente este problema que levou Descartes a refletir. Tal como Platão, 
ele estava convencido de que há uma divisão rígida entre espírito e matéria. Mas Platão 
não conseguiu dar resposta ao problema de como o espírito influencia o corpo, ou a 
alma o corpo. (...)
— Está bem. Ele descobriu que é um ser pensante, que Deus existe e ainda que existe 
uma realidade exterior.
— Mas entre a realidade exterior e a realidade das ideias há uma diferença essencial. 
Descartes pressupõe que existem duas formas diferentes de realidade — ou duas “substâncias”. 
Uma substância é o “pensamento” ou a alma, a outra a “extensão” ou a matéria. A alma 
é apenas consciente, não ocupa espaço e, por isso, também não pode ser dividida em 
partes menores. A matéria, por seu lado, é extensa, ocupa espaço e pode ser dividida 
em partes cada vez menores — mas não é consciente. Descartes afirma que ambas as 
substâncias provêm de Deus, porque apenas Deus existe independentemente de todas as 
outras coisas. Mas mesmo provindo pensamento e extensão de Deus, as duas substâncias 
são completamente independentes uma da outra. O pensamento é livre na sua relação com 
a matéria — e vice-versa: os processos materiais operam de forma totalmente independente 
do pensamento. 
— E assim, a Criação ficou dividida em dois.
— Exato. Dizemos que Descartes é “dualista”, e isso significa que ele traça uma clara 
linha de separação entre a realidade espiritual e a realidade em extensão. Por exemplo, 
apenas o homem tem alma. Os animais pertencem totalmente à realidade em extensão. A 
sua vida e os seus movimentos são puramente mecânicos. Descartes via os animais como 
uma espécie de autômatos complexos. Em relação à realidade em extensão, ele tem dela 
uma concepção mecanicista — tal como os materialistas.
— Mas eu duvido muito que Hermes seja uma máquina ou um autômato. Certamente, 
Descartes nunca gostou de um animal. E em relação a nós? Também somos autômatos?
— Sim e não. Descartes chegou à conclusão de que o homem é um ser duplo que pensa 
e ocupa espaço. O homem tem uma alma e um corpo extenso. S. Agostinho e S. Tomás de 
Aquino já tinham afirmado algo semelhante. Acreditavam que o homem tem corpo tal como 
os animais, mas também espírito como os anjos. Para Descartes, o corpo é um mecanismo 
muito sofisticado. Mas o homem tem também alma que pode operar independentemente 
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do corpo. Os processos corporais não têm essa liberdade, seguem as suas próprias leis. 
Mas aquilo que pensamos com a razão não acontece no corpo. Acontece na alma, que é 
independente da realidade extensa. Eu posso ainda acrescentar que Descartes não queria 
excluir a possibilidade de também os animais pensarem. Mas, se possuírem essa faculdade, 
também tem de existir neles a mesma divisão entre pensamento e extensão.
— Já falamos sobre isso. Quando eu decido correr para o ônibus, todo o “autômato” se 
põe em movimento. E se perco o ônibus, vêm-me as lágrimas aos olhos.
— Nem Descartes podia contestar que existe sempre esse efeito recíproco entre alma 
e corpo. Enquanto a alma está no corpo, segundo ele, está ligada ao corpo através de um 
órgão do cérebro muito especial, uma glândula, na qual se dá uma reação constante entre 
o espírito e a matéria. Deste modo, segundo Descartes, a alma pode ser permanentemente 
confundida com os sentimentos e sensações que têm a ver com as necessidades do corpo. 
O objetivo é transmitir à alma a ordem: Seja qual for a gravidade das minhas dores de 
barriga, a soma dos ângulos num triângulo é sempre cento e oitenta graus. Deste modo, o 
pensamento pode elevar-se acima das necessidades do corpo e proceder “racionalmente”. 
Deste ponto de vista, a alma é totalmente independente do corpo. As nossas pernas podem 
ficar velhas e fracas, as nossas costas tortas, e os nossos dentes podem cair — mas dois 
mais dois serão sempre quatro, enquanto ainda houver razão em nós. Porque a razão não 
fica velha e caduca. Os nossos corpos é que envelhecem. Para Descartes, a própria razão é 
a alma. Paixões e humores inferiores como a concupiscência e o ódio estão estreitamente 
ligados às funções corporais — e consequentemente à realidade extensa.
— Eu não me conformo com o fato de Descartes ter comparado o corpo com uma 
máquina ou um autômato.
— O motivo da comparação é o fato de as pessoas, no tempo de Descartes, estaremcompletamente fascinadas com as máquinas e os mecanismos dos relógios, que 
aparentemente funcionavam por si mesmos. A palavra “autômato” designa precisamente 
algo que se move por si mesmo. Mas eles moverem-se por si era apenas uma ilusão. Por 
exemplo, os homens construíram nessa época um relógio astronômico e deram-lhe corda. 
Descartes acentua que estes mecanismos artificiais são compostos muito simplesmente por 
poucas partes, em comparação com as quantidades de ossos, músculos, nervos, artérias e 
veias que compõem os corpos de homens e animais. Mas por que é que Deus não havia de 
produzir um corpo animal ou humano com base nas leis mecânicas?
— Hoje fala-se muito de “inteligência artificial”.
— Estás a pensar nos nossos autômatos atuais. Construímos máquinas que por vezes nos 
podem convencer realmente da sua inteligência. Essas máquinas teriam certamente posto 
Descartes em pânico. Talvez ele se interrogasse se a razão humana é realmente tão livre e 
autônoma como ele tinha pensado. Há filósofos que pensam que a vida espiritual humana 
é tão pouco livre como os processos corporais. A alma de um homem é infinitamente mais 
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complexa do que qualquer programa de computador, mas há também quem pense que em 
princípio somos tão pouco livres como esses programas.
Fonte: Gaarder (1995, p. 254-261).
 Saiba mais
Assista ao filme:
AS AVENTURAS do Barão de Munchausen. Dir. Terry Gilliam. Reino 
Unido; Itália: Columbia Pictures Corporation, 1988.
Reflita sobre a cena em que o rei e a rainha têm suas cabeças separadas 
de seus corpos.
No mundo moderno, no que diz respeito à noção de alma, o desenvolvimento decisivo da questão 
da dualidade corpo e alma ocorre com Descartes. Na doutrina do filósofo, ocorre uma reafirmação da 
realidade da alma. Para Descartes, a alma humana tem reconhecida sua função de ser uma via de acesso 
privilegiada à realidade. Essa via de acesso é o pensamento, ou melhor, a consciência. Segundo Descartes, 
o “penso, logo existo” revela, de modo evidente, a natureza da substância pensante, isto é, a alma. O 
pensamento revela um ser cuja existência nos é mais conhecida do que a dos outros seres, de modo 
que pode servir como princípio para conhecê-los. Assim, o pensamento compreende “tudo o que está 
em mim e de que sou imediatamente consciente”. Isso significa que não devemos abrir mão de duvidar, 
compreender, conceber, afirmar, negar, querer, não querer, imaginar, sentir etc. Assim, a consciência, de 
tão segura, chega ao ponto de ser absolutamente indubitável. Ela é uma via de acesso privilegiada a uma 
realidade que queremos conhecer. Do mesmo modo, a substância alma também é uma forma de acesso 
privilegiada, porque pode servir como princípio para conhecer as outras realidades.
Mas a alma não está sozinha. No ser humano, ela vem acompanhada pelo corpo. A consciência 
é testemunha do caráter passivo da nossa faculdade sensível, referente aos cinco sentidos. E como 
testemunha, de fato, a própria consciência faz pensar em uma substância ou realidade diferente da 
alma: o corpo. Essa substância corporal age sobre a alma, isto é, em uma substância corpórea ou extensa, 
certificada pelo princípio da veridicidade divina.
Desse modo, Descartes realizou uma virada subjetivista na interpretação da alma como substância. 
Para ele, os atributos da alma continuam sendo os tradicionais: simplicidade, indestrutibilidade, unidade. 
Entretanto, o pensamento (“penso, logo existo”) garantiu um acesso privilegiado e mais certo à realidade 
da alma porque possui a certeza do cogito. Comparada à realidade da alma, a certeza das outras coisas 
materiais e corporais, isto é, das substâncias extensas, é secundária e derivada, porque é mediada pela 
consciência. Já a realidade da alma é de imediato a consciência, sem mediações.
Essa concepção cartesiana de corpo e alma influenciou significativamente outras doutrinas modernas.
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 Observação
A psicologia de Descartes é dualista, pois pressupõe a existência de um 
corpo vinculado a uma alma. Algo semelhante ao que propôs Platão.
6.2 Metafísica cartesiana
O termo metafísica aparece pela primeira vez em Aristóteles. Ao ser perguntado sobre onde estavam 
os escritos sobre a Filosofia primeira, Aristóteles respondeu que estavam na prateleira, logo após os 
escritos sobre Física. Então ficou meta (após, além) e física, isto é, estudos sobre uma realidade que está 
além da realidade física. Deus e alma são alguns dos temas tratados pela metafísica.
Descartes escreveu sobre metafísica e apresentou ao público o seu pensamento em três obras: 
Discurso do Método, Meditações e Princípios.
Nessas obras, o filósofo Descartes seguiu sempre a mesma ordem: primeiro duvidar da existência de coisas 
materiais e, segundo, aceitar a certeza que a matemática traz e a inabalável certeza do “penso, logo existo”.
Para ele, nossos julgamentos devem ser baseados em ideias claras e distintas, em certezas que 
resultam da essência da alma e do pensamento puro, livre das influências dos sentidos.
Assim, sua metafísica vai da dúvida para a certeza, ou seja, de um primeiro determinado julgamento, 
envolvido na mesma dúvida, para o cogito. Somente a certeza pode produzir certeza.
Filósofos antigos, acadêmicos e os céticos, a partir do século III a. C., tinham razão para duvidar de coisas 
sensíveis. Descartes leva essas razões para outros campos, inserindo nelas as ilusões dos sentidos e os sonhos.
Muitas vezes acreditamos ver a verdade em coisas que são, de fato, falsas. Então, temos motivo suficiente 
para tomarmos cuidado com a direção do nosso conhecimento, já que uma vez fomos enganados.
As aparências enganam. À noite, todos os gatos são pardos. Algo que parece, mas não é. São frases 
que indicam que devemos ter cuidado com as informações que os nossos sentidos nos dão.
Nossos sentidos são: visão, tato, audição, paladar e olfato. Quantas vezes tivemos que chegar 
mais perto para ver algo melhor e descobrimos que era diferente da primeira vez que olhamos? Já 
confundiram o miado de um gato com o choro de uma criança? Ou sentiram um cheiro e não sabiam 
exatamente do quê?
Mas se os argumentos de Descartes são os mesmos que os céticos formularam, suas intenções 
são bastante diferentes. A dúvida sobre as coisas materiais é uma dúvida metódica. Descartes usa o 
ceticismo para tomar consciência daquilo que não é sensível, ou seja, a realidade espiritual. A dúvida 
cartesiana, em certo sentido, vai muito além de qualquer dúvida cética: porque, uma vez estabelecida 
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uma razão para duvidar, Descartes não hesita em assumir outras razões que aumentam e levá-la a essa 
ligeira dúvida. Descartes usa a dúvida para limpar o caminho: “Tire as coisas erradas de verdade, para 
esclarecer a mais verdade”. Se me enganei uma vez sobre uma imagem ou sobre um cheiro, quem me 
garante que não estou sendo enganado neste momento também? E mais, quem me garante que não 
estou enganado sempre? Assim, surge a dúvida hiperbólica, isto é, a dúvida exagerada sobre tudo.
Vejamos agora como Jostein Gaarder (1995, p. 255-259), em seu livro O Mundo de Sofia, narra a 
questão da dúvida de Descartes:
CAPÍTULO XVIII: DESCARTES
... ele queria remover todos os velhos materiais do terreno de construção....
Alberto indicou o livro que estava entre eles na mesa e prosseguiu:
— Neste pequeno livro, “Discurso do Método”, Descartes levanta a questão de qual o 
método filosófico que um filósofo deve utilizar para resolverum problema filosófico. As 
ciências da natureza já tinham desenvolvido o seu novo método... — Já falaste nisso.
— Descartes explica em seguida que não podemos dar nada como verdadeiro enquanto 
não tivermos reconhecido claramente que é verdadeiro. Para conseguirmos isso, temos 
que decompor um problema complexo em tantas partes simples quanto possível. Podemos 
começar então pela ideia mais simples. Talvez se possa dizer que cada ideia é “pesada e 
medida” — mais ou menos do mesmo modo que Galileu queria medir tudo e tornar 
mensurável o não mensurável. Descartes achava que o filósofo podia prosseguir do simples 
para o complexo. Deste modo poderia ser construído um novo conhecimento. Até ao final, é 
necessário verificar que não se omitiu nada, por meio de um controlo e de uma verificação 
constantes. Só assim se pode atingir conclusões filosóficas.
— Isso parece um problema matemático.
— Sim, Descartes queria aplicar o “método matemático” à reflexão filosófica. Queria 
provar verdades filosóficas aproximadamente do mesmo modo que um teorema matemático. 
Queria usar exatamente o mesmo instrumento que usamos ao trabalhar com números, a 
“razão”, porque só a razão nos fornece conhecimento seguro. Não estabelece de modo 
algum que se possa confiar nos sentidos. Já referimos a sua afinidade com Platão. Também 
este dissera que a matemática e as relações numéricas fornecem conhecimento mais seguro 
do que os testemunhos dos nossos sentidos.
— Mas é possível responder desse modo a questões filosóficas?
— Voltemos ao raciocínio de Descartes. O seu objetivo é, portanto, obter conhecimentos 
seguros acerca da natureza da realidade, e ele torna claro em primeiro lugar que no início 
devemos duvidar de tudo. Ele não queria edificar o seu sistema filosófico sobre areia.
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— Porque se o fundamento cede, toda a casa se desmorona.
— Obrigado pela ajuda, Sofia. Descartes não achava sensato duvidar de tudo, mas 
pensava que, em princípio, podemos duvidar de tudo. Em primeiro lugar, não é certo que 
façamos progressos na nossa busca filosófica pela leitura de Platão ou Aristóteles. Talvez 
alarguemos com isso o nosso saber histórico, mas não descobrimos mais acerca do mundo. 
Descartes achava importante lançar ao mar o patrimônio intelectual antigo antes de iniciar 
a sua própria investigação filosófica.
— Ele queria remover todos os velhos materiais do terreno de construção, antes de 
iniciar a construção da nova casa?
— Sim, para ter a certeza de que o novo edifício de ideias era estável, ele queria usar 
apenas material de construção novo e sólido. Mas as dúvidas de Descartes vão ainda mais 
longe. Segundo ele, nunca podemos confiar no que os nossos sentidos nos transmitem, 
porque podemos ser enganados por eles.
— Como é que isso é possível?
— Mesmo quando sonhamos, acreditamos estar a viver uma situação real. E haverá 
alguma coisa que distinga as nossas sensações, quando estamos despertos, das sensações 
“sonhadas”? “Quando reflito cuidadosamente nesta questão, não encontro nenhum indício 
pelo qual possa distinguir com segurança a vigília do sono”, escreve Descartes. E ele 
prossegue: “São ambos tão semelhantes que eu fico totalmente perplexo e não sei se não 
estarei a sonhar neste momento”.
— Jeppe também achava que tinha sonhado ter estado deitado na cama do barão.
— E enquanto estava deitado na cama do barão achava que a sua vida como camponês 
pobre era um sonho. Assim, Descartes duvida de tudo. Muitos filósofos antes dele já tinham 
terminado as suas reflexões filosóficas neste ponto.
— Nesse caso, não foram muito longe.
— Mas Descartes tentou continuar a trabalhar a partir do zero. Ele chegou à conclusão 
de que duvidava de tudo e que isso é a única coisa de que se pode ter uma certeza absoluta. 
E, em seguida, há algo que se lhe torna claro: há um fato, do qual ele pode ter toda a 
certeza: duvida. Mas se duvida, tem que concluir que pensa, e se pensa tem de concluir que 
é um ser pensante. Ou, como ele próprio diz: “cogito, ergo sum”. — E o que significa?
— Penso, logo existo. — Não me surpreende que ele tenha chegado a essa conclusão.
— Está bem. Mas não te esqueças com que certeza intuitiva ele se concebe 
subitamente como um eu pensante. Talvez ainda te lembres que para Platão é mais real 
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o que compreendemos com a razão do que o que obtemos dos sentidos. Com Descartes, 
passava-se exatamente o mesmo. Ele não compreende apenas que é um eu pensante, 
entende simultaneamente que este eu pensante é mais real do que o mundo físico, que 
apreendemos com os sentidos. E a partir daqui, ele prossegue, Sofia. Ainda não concluiu de 
modo algum a investigação filosófica.
— Prossegue tu também com calma.
— Descartes interrogou-se então sobre se havia algo mais que ele pudesse apreender 
com a mesma evidência intuitiva, além do fato de ser um ser pensante. Ele descobre que 
tem também uma ideia clara e nítida de um ser perfeito. Teve sempre essa ideia e, para 
Descartes, é evidente que essa ideia não pode provir dele mesmo. A ideia de um ser perfeito 
não pode provir de um ser imperfeito. Por isso, a ideia de um ser perfeito tem de provir 
desse mesmo ser perfeito — por outras palavras, de Deus. Que Deus existe é deste modo tão 
imediatamente evidente para Descartes como o fato de alguém que pensa ter de ser um eu 
pensante.
— Agora, acho que ele precipita um pouco as conclusões. E era tão atento no princípio!
— Sim, houve quem afirmasse ser este o ponto mais fraco de Descartes. Mas tu estás a 
falar de deduções. Na verdade, não se trata aqui de uma demonstração. Descartes queria 
apenas dizer que todos nós temos uma ideia de um ser perfeito, e que esta ideia implica 
que este ser perfeito existe. Porque um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. 
Além disso, não teríamos a ideia de um ser perfeito se esse ser não existisse. Nós somos 
imperfeitos e, por isso, a ideia do perfeito não pode provir de nós. A ideia de um Deus é, 
segundo Descartes, uma ideia inata que nos foi implantada ao nascermos — “tal como a 
marca que o artista imprimiu na sua obra”, como ele escreve.
— Mas mesmo que eu tenha uma ideia de um crocofante, isso não significa que existam 
crocofantes. — Descartes teria dito que o conceito de “crocofante” não implica que ele 
exista. Mas o conceito de “ser perfeito” implica que este ser exista. Para Descartes isto é 
tão certo como o fato de a ideia de círculo implicar que todos os pontos do círculo estão 
à mesma distância do centro do círculo. Logo, não podes falar de um círculo se ele não 
preenche estes requisitos. E também não podes falar de um ser perfeito se lhe falta a mais 
importante de todas as qualidades, a existência.
— É um modo de pensar muito especial.
— Isto é um modo de pensar claramente “racionalista”. Tal como Sócrates e Platão, 
Descartes via uma conexão entre pensamento e existência. Quanto mais evidente uma coisa 
é para o pensamento, mais certa é a sua existência.
— Até aqui, ele reconheceu que é um ser pensante, e que existe um ser perfeito.
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— E, a partir destas certezas, prossegue. Todas as ideias que temos da realidade exterior 
— por exemplo, Sol e Lua —, podiam também ser apenas visões oníricas. Mas a realidade 
exterior também tem algumas características que podemos conhecer com a razão. Por 
exemplo, as relações matemáticas, ou seja, aquilo que pode ser medido, o comprimento, 
a altura e a profundidade. Estas “propriedades quantitativas”são tão claras para a razão 
como o fato de eu ser um ser pensante. “Propriedades qualitativas” como cor, cheiro e 
sabor estão por seu lado relacionadas com os nossos sentidos e não descrevem nenhuma 
realidade exterior.
— Então, afinal, a natureza não é um sonho?
— Não. E, neste ponto, Descartes recorre novamente à nossa ideia de um ser perfeito. 
Se a nossa razão conhece algo muito clara e distintamente — que é o caso das relações 
matemáticas na realidade exterior — é porque é assim mesmo. Um Deus perfeito não faria 
pouco de nós. Descartes recorre a Deus como garantia de que aquilo que conhecemos com 
a nossa razão corresponde a uma coisa real.
Fonte: Gaarder (1995, p. 255-259).
Vejamos agora, como exemplos, dois filmes em que os sentidos nos enganam: Matrix, de Lana e Lilly 
Wachowski, e A Origem, de Nolan.
Para você relembrar a história, leia a sinopse de Matrix:
Em um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem 
programador de computador que mora em um cubículo escuro, é 
atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontra-se conectado 
por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores 
do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no exato momento 
em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida que 
o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por 
meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e 
Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras 
pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula 
a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa 
os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, 
entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias 
capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e 
à liberdade (MATRIX, [s.d.]).
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Figura 34 – Capa do DVD do filme Matrix
No filme Matrix, as pessoas andam, trabalham, comem e vivem em um mundo que parece ser 
verdadeiro, no qual seus sentidos indicam que elas sentem cheiros, provam gostos, ouvem músicas, 
dançam. Mas, na realidade, estão presas em cápsulas e plugadas a um sistema de computadores que 
fazem com que elas pensem que estão sentindo os cheiros e gostos, ouvindo as músicas, andando e 
dançando, mas, de fato, não estão. É tudo um grande engano provocado pelos sentidos decorrentes de 
percepções sensíveis da experiência do mundo material.
Vejamos agora a sinopse do filme A Origem:
Em um mundo onde é possível entrar na mente humana, Cobb (Leonardo 
DiCaprio) está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do 
inconsciente durante o estado de sono. Além disso, ele é um fugitivo, pois 
está impedido de retornar aos Estados Unidos devido à morte de Mal (Marion 
Cotillard). Desesperado para rever seus filhos, Cobb aceita a ousada missão 
proposta por Saito (Ken Watanabe), um empresário japonês: entrar na mente 
de Richard Fischer (Cillian Murphy), o herdeiro de um império econômico, 
e plantar a ideia de desmembrá-lo. Para realizar este feito ele conta com a 
ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a inexperiente arquiteta de 
sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se disfarçar 
de forma precisa no mundo dos sonhos (A ORIGEM, [s.d.]).
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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
Figura 35 – Capa do DVD do filme A Origem
Nesse filme, o mundo que nos engana não é um sistema de computadores, mas a nossa própria 
mente. Mergulhados em sono profundo, os personagens sonham suas vidas, ao invés de vivê-las e, a 
partir de um determinado momento, não conseguem mais distinguir entre sonho e realidade. Então, 
acabam acreditando que aquilo que sonham é o que constitui o mundo real.
Porém, em ambos os filmes existem pessoas que lutam contra as ilusões oriundas dos sentidos e que 
buscam sair do mundo das aparências e retornar à realidade. Fazem isso por meio da dúvida. Começam 
a duvidar de que o que veem é real e passam a buscar sair desse mundo de aparências e retornar ao 
mundo verdadeiro.
Voltando ao pensamento de Descartes, é possível ver que esse processo de questionamento dos 
sentidos torna possível o que o filósofo chamou de dúvida hiperbólica. Ou seja, o sujeito deve se perguntar 
se não está sendo enganado o tempo todo. E também se um certo gênio maligno, como os sistemas de 
computadores da Matrix, que enganam sempre, o colocam em um estado de erro constante. Segundo 
Descartes, esse gênio maligno é uma onipotência; esta energia permite ao sujeito se fazer estar errado 
sempre, cada vez que faz a adição de dois mais e três, ou tenta numerar os lados de um quadrado.
É, portanto, com a hipótese do gênio do mal que Descartes é levado à ideia da dúvida hiperbólica.
Se assumirmos, em vez de acreditar em Deus, que o que pensamos que fazemos nem sequer existe 
de fato – porque um gênio “do mal”, que tem o mesmo poder de Deus, mas que é inteligente e capaz 
de alterar a verdade das coisas no exato momento que nós percebemos o mundo, para nos levar ao erro 
sempre –, ao menos seria possível pensar as ideias que temos das coisas a partir de um terreno firme e 
seguro: a dúvida enquanto princípio de conhecimento.
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Ainda neste material, veremos, nas análises do Discurso do Método e das Meditações, como Descartes 
resolve esta questão do gênio maligno.
 Observação
Metafísica é uma parte da Filosofia que estuda o ser, a alma, a 
liberdade, Deus e outras realidades que estão além do mundo físico 
concretamente estabelecido.
6.3 Descartes no ensino de Filosofia
Vejamos agora, em um texto retirado do artigo “René Descartes e a Filosofia da Educação Moderna: um 
modelo de Subjetividade” (ALONSO JR., 2012), como a dúvida metódica pode contribuir para a Educação.
René Descartes e a Filosofia da Educação Moderna: um modelo de Subjetividade
O racionalismo é um período importante do pensamento moderno que abrange os 
séculos XVII e XVIII. O mais emblemático representante dessa corrente de pensamento é o 
filósofo francês René Descartes que, a certa altura da vida, começava a duvidar da verdadeira 
solidez de tudo que lhe fora ensinado. Com um método audacioso, propõe abandonar todos 
os pretensos conhecimentos num processo que é, ao mesmo tempo, filosófico e pedagógico.
A filosofia de Descartes, após a virada epistemológica, vai em direção ao sujeito e passa a 
estabelecer modelos de subjetividade. Ao analisar esses modelos, é possível oferecer melhores 
configurações de sujeito, possibilitando uma compreensão de como o conhecimento ocorre 
no sujeito e como ele pode ser verdadeiro ou falso. Para o filósofo, o saber e as ciências 
como saber verdadeiro vão estar assentados no eu, isto é, no ser pensante (res cogitans) que 
se liberta da dependência dos sentidos e da imaginação que obscurecem a razão.
A única coisa que parece ser indubitável são as verdades matemáticas. Afirma na “Meditação 
Primeira: das coisas que se pode colocar em dúvida”, o argumento de que o único ponto 
seguro que encontrou foi o de duvidar de todas as opiniões que possui. Universaliza a dúvida. 
Mas as falsas opiniões não o abandonam completamente. Elas frequentemente lhe vêm à 
lembrança, mas não se deve deixar de duvidar delas. O único caminho seguro para encontrar 
um conhecimento confiável na ciência é o da dúvida. O conhecimento que tenho em mim é 
desvinculado da imaginação. Imaginar ser alguma coisa é fingir ser alguma coisa. As coisas 
que se relacionam ao corposão imaginação e quimeras. Somente o intelecto pode fornecer 
conhecimento seguro sobre mim mesmo. Nesse ponto, a imaginação é excluída pela dúvida.
Uma vez abordadas algumas considerações feitas por Paulo Guiraldelli na obra O que é 
filosofia da educação?, vale ressaltar que em termos gerais, a subjetividade pode ser descrita 
por meio de “formas de consciência”. Tais formas podem ser descritas pelo eu (identidade), 
a pessoa (consciência moral), o cidadão (consciência política) e o sujeito epistemológico 
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(consciência intelectual). Da máxima cartesiana “penso, logo existo” (Cogito ergo sum) 
pode-se perceber a trajetória que vai do pensamento ao ser que pensa. Nesse caso, realiza-se, 
então, o salto sobre o abismo que separa objetividade de subjetividade (2002).
A subjetividade que se pode enlaçar com os indivíduos ganha contornos peculiares na 
perspectiva de Descartes. A subjetividade cartesiana, dada em forma de estrutura asséptica 
do sujeito do conhecimento, é representativa da postura iluminista. Nesse sentido, a verdade 
depende da certeza que só pode ser obtida no pensamento subjetivo, a saber, o Cogito cartesiano.
Nas suas Meditações, Descartes propõe o processo da dúvida metódica. O ponto de 
partida é duvidar da verdade do conhecimento empírico. Isto porque tudo o que o sujeito 
sabe está no seu pensamento, e para chegar até lá, esse conhecimento ou é inato, ou passou 
pelos sentidos. E como os sentidos não são de confiança para nos oferecer conhecimento 
verdadeiro é preciso duvidar de todos os pensamentos na tentativa de edificá-los sobre 
bases mais seguras.
A posição filosófica de Descartes se relaciona com as finalidades da educação na fase 
inicial do período moderno. A concepção filosófica adotada por Descartes, além de ajudar 
efetivamente na própria formulação conceitual das novas configurações de infância e de 
educação, passa, de certo modo, a se colocar como fundamentadora do discurso pedagógico 
que naquele período se articulava.
A filosofia elaborada por Descartes assume posicionamentos que podem ser considerados 
filosofia da educação, por pretender fundamentar todo e qualquer saber, inclusive o saber 
pedagógico e a própria pedagogia moderna. Além disso, estabelece o caminho seguro 
da busca da verdade como um percurso filosófico-pedagógico. Por outras palavras, o 
pensamento filosófico de Descartes deveria ser seguido por aqueles que educam e deveria ser 
preservado por aqueles que pretendem educar. É através do percurso filosófico-pedagógico 
acima mencionado que o sujeito moderno deveria ser educado.
Espera-se que o desenvolvimento deste estudo contribua com a discussão pedagógica 
que visa refletir sobre as críticas à filosofia da consciência ou filosofia do sujeito, o núcleo 
central, metafísico-epistemológico, do pensamento humano e da filosofia da educação 
moderna. Vale ressaltar que a abordagem inicial deverá oferecer elementos que possibilitem 
a continuidade do debate, principalmente a partir das discussões sobre a dependência 
cartesiana da instância chamada pensamento subjetivo – o Cogito.
Fonte: Alonso Júnior (2012, p. 27-29).
Assim, o ensino da Filosofia deve ser sempre crítico. O aluno deve aprender a duvidar de tudo que 
está à sua frente. Buscar compreender a realidade a partir de uma postura de questionamento. Não 
aceitar de imediato como óbvio e evidente aquilo que a sociedade, a mídia, a família e os amigos lhe 
dizem, sem antes perguntar: mas será que as coisas são assim mesmo? Será que meus ouvidos não estão 
me enganando? Será que as pessoas realmente sabem o que dizem?
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Unidade II
A partir desse primeiro momento de questionamento, o aluno de filosofia deve ir em busca da 
verdade e de uma compreensão mais aprofundada da realidade que o circula.
 Lembrete
Descartes é um filósofo racionalista moderno. Seu pensamento é 
inatista e dualista.
 Resumo
René Descartes (1596-1650) é como o fundador da Filosofia Moderna. 
Autor da máxima “penso, logo existo”, defendia que o melhor caminho 
para adquirir conhecimento era o raciocínio matemático. Segundo ele, 
a fim de descobrir algo “firme e constante nas ciências”, era necessário 
estabelecer princípios sobre os quais não houvesse dúvidas. Por isso, o 
filósofo precisava, antes de tudo, ser um cético e duvidar dos sentidos. Foi 
um matemático brilhante.
Suas obras mais conhecidas são: Discurso do Método, Meditações 
e Princípios. Nessas obras, o filósofo Descartes seguiu sempre a mesma 
ordem: primeiro, duvidar da existência de coisas materiais e, segundo, 
aceitar a certeza que a matemática traz e a inabalável certeza do “penso, 
logo existo”. Para ele, nossos julgamentos devem ser baseados em ideias 
claras e distintas, em certezas que resultam da essência da alma e do 
pensamento puro, livre das influências dos sentidos.
Para Descartes, o processo de questionar nossos sentidos torna 
possível a “dúvida hiperbólica”, ou seja, devo sempre me perguntar se 
não estou sendo enganado o tempo todo. Ele cria a figura de um gênio 
maligno, cujo empenho maior é nos enganar sempre, nos colocar em um 
estado de erro constante.
Mas se os argumentos de Descartes são os mesmos que os céticos 
formularam, suas intenções são bastante diferentes. A dúvida sobre 
as coisas materiais é uma dúvida metódica. Descartes usa o ceticismo 
para tomar consciência daquilo que não é sensível, ou seja, a realidade 
espiritual. A dúvida cartesiana, em certo sentido, vai muito além de 
qualquer dúvida cética: porque, uma vez estabelecida uma razão para 
duvidar, Descartes não hesita em assumir outras razões que aumentam e 
levá-la a essa ligeira dúvida. Descartes usa a dúvida para limpar o caminho, 
isto é, para esclarecer ainda mais a verdade. Se me enganei uma vez 
sobre uma imagem ou sobre um cheiro, quem me garante que não estou 
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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
sendo enganado neste momento também? E mais, quem me garante que 
não estou enganado sempre? Assim, surge a dúvida hiperbólica, isto é, a 
dúvida exagerada sobre tudo.
Descartes também tratou da relação entre corpo e alma. Seu 
pensamento é dualista: ser pensante e ser pensado, coisa pensante e coisa 
extensa, alma e corpo. No mundo moderno, no que diz respeito à noção de 
alma, o desenvolvimento decisivo da questão da dualidade corpo e alma 
ocorrem com Descartes. Na doutrina do filósofo, ocorre uma reafirmação 
da realidade da alma. Com Descartes, a alma humana tem reconhecida 
sua função de ser uma via de acesso privilegiada à realidade. Essa via de 
acesso é o pensamento, ou melhor, a consciência. Segundo Descartes, o 
“penso, logo existo” revela de modo evidente a natureza da substância 
pensante, isto é, a alma. O pensamento revela um ser cuja existência nos é 
mais conhecida do que a dos outros seres, de modo que pode servir como 
princípio para conhecê-los. Assim, o pensamento compreende “tudo o que 
está em mim e de que sou imediatamente consciente”. Isso significa que 
não devemos abrir mão de duvidar, compreender, conceber, afirmar, negar, 
querer, não querer, imaginar, sentir etc. Assim, a consciência, de tão segura, 
chega ao ponto de ser absolutamente indubitável. Ela é uma via de acesso 
privilegiada a uma realidade que queremos conhecer. Do mesmo modo, a 
substância alma também é uma forma de acesso privilegiada, porque pode 
servir como princípio para conhecer as outras realidades.
Mas a alma não está sozinha. No ser humano ela vem acompanhada pelo 
corpo. A consciência é testemunhado caráter passivo da nossa faculdade 
sensível, referente aos cinco sentidos. E como testemunha de fato, a própria 
consciência faz pensar em uma substância ou realidade diferente da alma: o 
corpo. Essa substância corporal age sobre a alma, isto é, em uma substância 
corpórea ou extensa, certificada pelo princípio da veridicidade divina.
Desse modo, Descartes realizou uma virada subjetivista na interpretação 
da alma como substância. Para ele, os atributos da alma continuam sendo os 
tradicionais: simplicidade, indestrutibilidade, unidade. Entretanto, o pensamento 
(“penso, logo existo”) garantiu um acesso privilegiado e mais certo à realidade 
da alma porque possui a certeza do cogito. Comparada à realidade da alma, a 
certeza das outras coisas materiais e corporais, isto é, das substâncias extensas, 
é secundária e derivada, porque mediada pela consciência. Já a realidade da 
alma é de imediato a consciência, sem mediações.
O ensino da Filosofia deve ser sempre crítico. O aluno deve aprender a 
duvidar de tudo que está à sua frente. Buscar compreender a realidade a 
partir de uma postura de questionamento. Não aceitar de imediato como 
óbvio e evidente aquilo que a sociedade, a mídia, a família e os amigos lhe 
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Unidade II
dizem, sem antes perguntar: Mas será que as coisas são assim mesmo? Será 
que meus ouvidos não estão me enganando? Será que as pessoas realmente 
sabem o que dizem? A partir desse primeiro momento de questionamento, 
o aluno de Filosofia deve ir em busca da verdade e de uma compreensão 
mais aprofundada da realidade que o circunda.
 Exercícios
Questão 1. Considere a imagem e as afirmativas a seguir.
Figura 36
I – A charge parodia a conhecida frase de Descartes, segundo a qual a razão é a forma de se chegar 
ao conhecimento verdadeiro.
II – A charge aponta a influência das redes sociais na vida contemporânea, em que a existência 
parece estar condicionada a postagens de fotos.
III – A charge contesta o pensamento cartesiano e valoriza a virtualidade como forma válida de 
experiência e conhecimento.
Está correto o que se afirma em
A) I, II e III.
B) I e II, apenas.
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DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA
C) II e III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, apenas.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: a charge brinca com a máxima de Descartes, para quem a razão era a forma de chegar 
ao conhecimento.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a charge critica a prática de postagem de selfies e outras fotos em redes sociais.
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a charge não critica Descartes; critica o modo de vida atual, com as redes sociais.
Questão 2 (Enade 2014). Leia o texto a seguir:
“Para não concebermos que o corpo pense de alguma forma, temos razão de crer que toda espécie 
de pensamento em nós existente pertence à alma” (DESCARTES, 2005).
Com essa afirmação, René Descartes deixa clara sua visão no que concerne à divisão entre a alma e 
o corpo. Com tal divisão, inaugura-se uma nova problemática filosófica, frequentemente chamada, pela 
Filosofia Contemporânea, de:
A) Problema mente-corpo.
B) Problema razão-emoção.
C) Dilema da paixão da alma.
D) Crítica da razão prática.
E) Crítica da razão pura.
Resolução desta questão na plataforma.

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