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MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria 
 
 
 
 
Apostila de 
Administração do 
Capital de Giro 
 
Professor: Murilo Castellano, Msc 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
I. Introdução 
As principais teorias financeiras, desde a publicação do artigo Portfolio Selection de Harry 
Markowitz, consideram um mercado ideal líquido por natureza e postulam que o agente 
econômico pode tomar ou emprestar recursos à taxa livre de risco. Por mais sofisticadas que 
sejam estas teorias (e são sofisticadas e mereceram as premiações que receberam!) não 
conseguem explicar na prática, sobretudo com relação à nossa realidade brasileira, como que 
um Empresário ou Gestor deveriam lidar com a questão dos fundos ou recursos de curto 
prazo. E sabemos, da prática, que a empresa tem que se preocupar com o seu lado econômico 
(lucro, patrimônio) e com o seu lado financeiro (suficiência dos fundos de curto prazo para 
fazer frente às necessidades correntes). E os recursos de curto prazo não forem bem geridos 
talvez ela não experimente o longo prazo. Neste texto abordamos os recursos de curto prazo 
bem como a sua interação com a liquidez e a rentabilidade da empresa. Indicamos um método 
para se administrar a solvência da empresa bem como de suas contas a receber e a pagar. 
 
I. Ativo Circulante (Capital de Giro) e Capital Circulante Líquido (Capital de Giro Líquido) 
Ativo Circulante: 
Disponibilidades (caixa, bancos, títulos para negociação imediata); Valores a receber no curto 
prazo (duplicatas, contas e aplicações no curto prazo); estoques (material em geral, 
embalagens, produtos em fabricação e produtos acabados) e despesas diferidas (valores já 
pagos mas ainda não apropriados como despesas porque os serviços ainda não foram 
prestados). 
Esses itens são facilmente conversíveis em dinheiro e normalmente tem o prazo de até um 
ano. Entretanto, para algumas empresas com ciclo operacional mais longo do que um ano, o 
ativo circulante tem a maturidade do ciclo operacional. Exemplo: estaleiro de navios. 
O disponível é o ponto de partida para todo o fluxo do ativo circulante. Regra geral, é com as 
disponibilidades que se compram as matérias primas, que manufaturadas se transformam em 
produto acabado que são estocados para, em seguida, serem vendidos à vista ou prazo. A 
venda a gera uma disponibilidade imediata e as vendas a prazo serão disponíveis em breve. 
Este é o ciclo ininterrupto ao qual se dá o nome de GIRO. 
Tipicamente, a empresa financia-se no seu lado esquerdo do balanço por recursos próprios 
(patrimônio líquido) ou de terceiros (duplicatas a pagar, fornecedores e empréstimos 
bancários). Em geral, procura-se tomar recursos de curto prazo para financiar os ativos, 
também, de curto prazo. Caso contrário, a empresa incorre em riscos de liquidez uma vez que 
o financiamento de ativos de longo prazo a partir de recursos de curto prazo impõe um 
descasamento ou gap perigoso para a empresa. Quando não há recursos de curto prazo 
suficientes para financiar os ativos de longo prazo é preciso sustentar parte do ativo circulante 
por recursos (próprios ou de terceiros) de longo prazo. Assim, definimos: 
Capital Circulante Líquido = Capital de Giro Líquido = Ativo Circulante – Passivo Circulante 
 
2 
 
Ou ainda, o Capital Circulante Líquido pode ser definido como sendo o excedente dos recursos 
permanentes (Exigível a longo prazo + Patrimônio Líquido) sobre os ativos alocados a longo 
prazo (Ativo Permanente + Realizável a Longo Prazo) 
 
Capital Circulante Líquido = (Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo) – (Ativo Permanente 
+ Realizável a Longo Prazo) 
 
Nas figuras 1 e 2 abaixo representamos os balanço de empresas hipotéticas, a primeira tendo 
um capital circulante líquido positivo e a segundo com capital circulante líquido negativo. No 
primeiro caso a situação de liquidez é melhor, mais tranqüila pois há uma parte de recursos 
permanentes financiando o ativo circulante (capital de giro). No segundo, dizemos que a 
empresa tem uma situação pior no que diz respeito a solvência pois os recursos passivos de 
curto prazo financiam parte dos ativos permanentes da empresa. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Baixo Risco de Solvência 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Elevado Risco de Solvência 
Ativo 
Circulante 
(AC) 
Passivo 
Circulante 
(PC) 
Exigível 
Longo Prazo 
(ELP) 
Patrimonio 
Líquido (PL) 
Real.Longo 
Prazo (RLP) 
Ativo 
Permanent
e (AP) 
Ativo 
Circulante 
(AC) 
Passivo 
Circulante 
(PC) 
Exigível 
Longo Prazo 
(ELP) 
Patrimonio 
Líquido (PL) 
Real.Longo 
Prazo (RLP) 
Ativo 
Permanent
e (AP) 
 
3 
 
De maneira que o balanço da Figura 1 apresenta Capital Circulante Líquido (ou capital de giro 
líquido) positivo pois AC > PC e na figura 2, o Capital Circulante Líquido é negativo. 
II. Ciclo Operacional, Financeiro e econômico 
Considere a figura 3 abaixo onde apresentamos os intervalos de tempo típicos ocorridos 
numa indústria. 
 
Compra de Início da Fim da Venda Recebimento 
Matéria Prima Fabricação Fabricação de venda 
|----------------------------|----------------------------|-----------------------------|-----------------------------| 
 PME PMF PMV PMC 
PME  Prazo médio de Estocagem de matérias primas 
PMF  Prazo médio de fabricação 
PMV Prazo médio de venda (prazo médio de estocagem de produtos acabados) 
PMC Prazo médio de cobrança 
Figura 3 – Prazos médios dentro do ciclo operacional 
 
Os prazos variam de indústria para indústria e irá demandar investimento de recursos, 
próprios ou de terceiros, em grau mais elevado ou não e isto irá configurar a necessidade de 
capital de giro de uma empresa e, também, a necessidade média de um determinado setor 
econômico. O ciclo operacional, portanto, vai desde o momento da aquisição da matéria prima 
até o recebimento das vendas. Tipicamente, a maior parte das empresas tem um ciclo 
operacional com prazo menor do que um ano de maneira que, dentro de um ano, o ciclo 
repete-se várias vezes. Entretanto, algumas empresas, como construtoras e empresas que 
exercem atividade agrícola demandam mais do que um ano para completar o seu ciclo 
operacional. 
 
 
Figura 4 – Valor do Capital de Giro acumulado ao longo do ciclo operacional 
 
4 
 
 
Na figura 4 fica claro que o investimento necessário para garantir o ciclo operacional aumenta 
até o momento do recebimento. Isto varia de empresa para empresa e de setor econômico 
para setor econômico. Entretanto, há espaço para a gestão produzir economias seja pela 
diminuição de tempos, pelo barateamento da estocagem, pela substituição de fontes onerosas 
(como os empréstimos bancários) pela extensão dos prazos de financiamentos de 
fornecedores, pela diminuição dos estoques de produto acabado, aumentando a produção 
Just in time. Aliás, estes são exemplos de coisas que pretendemos ver neste curso de 
Administração do Capital de Giro. A partir do ciclo operacional podemos identificar o ciclo 
financeiro e o ciclo econômico conforme figura 5 abaixo. 
 
 
 
Compra de Início da Fim daVenda Recebimento 
Matéria Prima Fabricação Fabricação de venda 
|----------------------------|----------------------------|-----------------------------|-----------------------------| 
 PME PMF PMV PMC 
 PMPF (pgto fornecedor) 
 
 Ciclo econômico 
 
 Ciclo Financeiro 
 
Figura 6 – Ciclo Operacional, Econômico e Financeiro 
 
Podemos montar as seguintes equações para obtermos os tempos médios de cada ciclo, a 
partir do ciclo operacional: 
 
Ciclo Operacional = PME (MP) + PMF + PMV + PMC (conforme definido na figura 3) 
Ciclo Financeiro = Ciclo operacional – PMPF (pgto fornec) – PMDD (desconto duplic) 
Ciclo Econômico = Ciclo Operacional – PMC 
 
O investimento em capital de giro acompanha o princípio do conflito histórico entre risco e 
retorno. Uma empresa que tenha um maior nível de CCL (capital circulante líquido ou capital 
de giro líquido) terá um menor risco de insolvência, entretanto, isso não se dá gratuitamente, 
mas à custa de sacrifícios no retorno empresarial. Uma empresa que enfrenta dificuldades em 
função de lhe ser exigido pelo mercado prazos maiores de financiamento das vendas e prazos 
menores de financiamento de suas compras terá que aportar mais recursos permanentes (e, 
na maioria dos casos, próprios) para garantir o funcionamento do negócio. Tal exigência não 
necessariamente virá acompanhada de maiores retornos. Não exige um nível ótimo (único) 
para no nível de capital circulante líquido, este dependerá da característica do setor de 
atuação da empresa e, também, do nível de aversão a risco do empresário. Um aspecto 
interessante para o equilíbrio financeiro da empresa é perceber o volume de capital de giro 
(ativo circulante) permanente, ou seja, aquele volume minimamente demandado e que não se 
altera com os meses ao longo do ano. Este conceito se opõe ao capital de giro sazonal que 
 
5 
 
surge em função de períodos nos quais a empresa é mais demandada, por exemplo no final do 
ano para aquelas empresas de bebidas e alimentos. Como regra geral a empresa deveria 
procurar financiar o capital de giro permanente com recursos permanentes (longo prazo) e o 
capital de giro sazonal com recursos de curto prazo. Isto traria um equilíbrio financeiro. Veja a 
figura 7, onde apresentamos graficamente a idéia dos dois tipos de capital de giro, 
permanente e sazonal. 
 
 
Figura 7 – Evolução do Capital de Giro permanente e total ao longo dos trimestres 
 
Note que a distância entre o valor permanente e o valor total é exatamente o capital de giro 
sazonal que, em tese, deveria ser financiado com recursos de curto prazo, enquanto o valor da 
linha pontilhada, também em tese, deveria ser financiado por recursos permanentes. 
 
 
 
III. Estruturas de financiamento do capital de giro 
 
Já dissemos e aqui repetimos que a escolha do nível de capital de giro (capital circulante) 
que será financiada com recursos de curto prazo ou com recursos permanentes depende do 
tipo de indústria (setor econômico) e do nível de aversão a risco dos gestores/empresários. 
Acrescentamos o fato de dependerá também do poder que a empresa tenha em sua cadeia 
produtiva. Se ela detiver poder de barganha ela poderá, por exemplo, alargar os seus prazos 
de pagamento das compras e reduzir o prazo de financiamento das vendas, reduzindo o capital 
de giro. Veja na figura 8 uma estrutura arriscada para o financiamento do capital de giro. Os 
recursos passivos de longo prazo são menores do que os ativos permanentes (de longo prazo). 
Logo, é preciso financiar uma parte dos ativos de longo prazo com recursos de curto prazo, 
situação que configura elevado risco de insolvência. Neste caso o capital circulante líquido é 
negativo dado que o passivo circulante é maior do que o ativo circulante. Na figura 9 percebe-
se uma situação muito mais tranqüila onde os recursos passivos de longo prazo (permanentes) 
chegam a financiar, inclusive, uma parte do capital de giro sazonal. Em suma, na figura 9, 
temos uma situação tal que todo o capital de giro permanente e alguma parte do capital de 
giro sazonal é financiada por recursos de longo prazo. 
Capital de Giro 
sazonal 
 
6 
 
 
Figura 8: estrutura arriscada para financiamento do capital de giro 
 
 
 
 
 
Figura 9: estrutura de baixo risco para financiamento do capital de giro 
 
 
 
Ativos circ. + parcela de ativo 
de longo prazo financiados 
com passivos de curto prazo 
Capital circulante 
líquido negativo 
Capital circulante 
líquido positivo 
financiando até 
mesmo capital de giro 
sazonal. 
 
7 
 
 
IV. Indicadores de Liquidez 
 
O capital de giro líquido ou capital circulante líquido embora seja um importante indicador 
do grau de solvência da empresa, no curto prazo, não esgota totalmente o assunto. Mais à 
frente estudaremos a dinâmica do giro e perceberemos que é preciso mais informação para se 
avaliar se a empresa está, de fato, otimizando o seu investimento em giro, sobretudo quando 
comparada com os seus pares no mesmo setor de atuação. Desde já enunciamos que é 
possível encontrar empresas com volume elevado de CCL mas com dificuldades de caixa e, ao 
contrário, empresas com volume baixo de CCL mas com aperto de caixa. É só lembrar que 
algumas contas que compõe o ativo e o passivo circulante tem natureza diferente de 
disponibilidade. Basta imaginar uma empresa que tem baixo poder de barganha na sua cadeia 
produtiva e que se vê obrigada a conceder bastante prazo para vender e, ao contrário, não 
consegue prazo equivalente para as suas compras. A empresa acaba tendo necessidade de 
muito caixa ou de financiamento bancário para conseguir sobreviver. Isto denota uma situação 
de aperto de caixa. 
CirculantePassivo
Disponivel
ediataLiquidez Im
 
 
CirculantePassivo
sAntecipadaDespesasEstoquesCirculanteAtivo
SecaLiquidez


 
CirculantePassivo
CirculanteAtivo
CorrenteLiquidez 
 
 
 Empresa FOLGADONA S.A. EMPRESA APERTADONA S.A. 
 
ATIVO 
 
PASSIVO 
 
 ATIVO 
 
PASSIVO 
Ativo Circulante 310.000,00 
Passivo 
Circulante 
 
110.000,00 
Ativo 
Circulante 
 
310.000,00 
Passivo 
Circulante 
 
450.000,00 
Caixa e Bancos 200.000,00 Fornecedores 
 
110.000,00 Caixa e Bancos 
 
20.000,00 Fornecedores 
 
200.000,00 
Dupl.a Receb. 0,00 PL 
 
500.000,00 Dupl.a Receb. 
 
180.000,00 Bancos 
 
250.000,00 
Estoques 50.000,00 
 
 Estoques 
 
110.000,00 PL 
 
160.000,00 
Alug. Antecip. 60.000,00 
 
 
 
 
Ativo Permanente 300.000,00 
 
 
Ativo 
Permanente 
 
300.000,00 
 
 
Total 610.000,00 Total 
 
610.000,00 Total 
 
610.000,00 Total 
 
610.000,00 
 
 
 
 
 
CCL 160.000,00 
 
 CCL 
- 
140.000,00 
 
 
Liquidez Imediata 1,82 
 
 
Liquidez 
Imediata 
 
0,04 
 
 
Liquidez Seca 
 
1,82 
 
 Liquidez Seca0,44 
 
 
Liquidez Corrente 
 
2,82 
Liquidez 
Corrente 
 
0,69 
Figura 10 – Exemplo de cálculo dos índices de liquidez. 
 
8 
 
V. Análise dinâmica do capital de giro 
 
Uma metodologia bastante útil para aprofundarmos a análise da solvência da empresa 
no curto prazo bem como para avaliarmos com maior precisão o investimento necessário 
em giro é a análise da necessidade de capital de giro, introduzida no Brasil pelo Professor 
Michel Fleuriet, através da obra A dinâmica financeira das empresas brasileiras, 1980. Ao 
calcular os índices de liquidez apresentados nos capítulos anteriores o leitor deve ter 
percebido a falta de algum outro instrumento que detalhasse mais o problema. No caso 
das empresas folgadona e apertadona, mostradas na figura 10, fica clara esta necessidade. 
A metodologia da necessidade de capital de giro separa os ativos em cíclicos (ou 
operacionais) e financeiros (ou erráticos). Veja na Figura 11 a estrutura básica na qual os 
elementos do balanço são colocados para efeito de aplicação desta metodologia. 
 
 Ativo Passivo 
Circulante 
 Caixa e Bancos Empréstimos Bancários 
Circulante 
Financeiro Aplicações Financeiras Financiamentos Financeiro 
 Duplicatas Descontadas 
 Dividendos e IR 
 
 Duplicatas a Receber Fornecedores 
Operacional Estoques Salários e encargos Operacional 
 Adiantamentos e Despesas Impostos e taxas 
 de competência exerc. Seguiinte Adiantamentos de clientes 
 Realizável a Longo Prazo Exigível a Longo Prazo 
Permanente Investimento Fixo Patrimônio Líquido Permanente 
Figura 11 – Classificação de contas utilizada pela metodologia de análise dinâmica do 
capital de giro 
 
O ativo financeiro, de natureza aleatória, não guarda uma relação direta com ciclo 
operacional da empresa. Varia, sobretudo, em função do nível de aversão a risco dos 
proprietários ou gestores. De outro lado, o ativo e o passivo circulante operacional ou 
cíclico mantém relação direta com o ciclo operacional. O prazo concedido aos clientes, o 
nível de estoque necessário para manter o bom atendimento, o prazo conseguido de 
fornecedores, tudo isso irá influenciar na determinação do volume mínimo necessário de 
capital próprio destinado ao giro. O Investimento fixo é representado pelos direitos da 
empresa no longo prazo, incluindo aqui o ativo permanente. De forma análoga, o passivo 
financeiro não guarda relação direta com o ciclo operacional. O fato de um fornecedor não 
conceder mais prazo para pagamento de compras irá repercutir diretamente sobre o 
passivo operacional ou cíclico mas não sobre o passivo financeiro, a não ser por vias 
indiretas. O passivo permanente constitui as fontes de financiamentos de longo prazo, que 
deve corresponder, sobretudo, ao investimento fixo, de forma a permitir o equilíbrio 
financeiro da empresa. 
 
 
9 
 
Uma vez já apresentada a classificação das contas, indicamos abaixo a fórmula para cálculo 
da Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NIG). 
 
NIG = Ativo Circulante Operacional – Passivo Circulante Operacional 
 
De uma maneira geral, quando a atividade operacional produzir mais saídas de caixa do 
que entrada, ou seja, o dispêndio com compras, estocagem e fabricação, ocorrer antes do 
recebimento das vendas isto irá produzir uma necessidade de investimento permanente 
em giro. 
 
Note, por exemplo, que a empresa folgadona, indicada na figura 10, não tem uma 
necessidade de capital de giro pois o seu NIG é nulo: 
 
NIG (empresa folgadona) = 110.000 (estoques + desp. Antec.) – 110.000 (fornec.) = 0 
 
Seria até mesmo o caso de se analisar, do ponto de vista do dilema rentabilidade x 
liquidez, porque o gestor da folgadona mantém tanto dinheiro em caixa e em bancos. De 
outro lado o NIG da apertadona é positivo evidenciando a necessidade que a mesma tem 
de manter um capital fixo (próprio ou de terceiro) para financiar o seu giro. 
 
NIG (empresa apertadona) = 290.000 (estoques + desp. Antec.) – 200.000 (estoques) = 90 
mil. 
 
Ora, esta segunda empresa não conseguiu uma fonte natural, não onerosa, para financiar 
o seu ciclo operacional e, então, precisa manter recursos permanentes, de longo prazo, no 
valor de $ 90.000,00 para financiar o seu giro. 
 
Numa época de elevada inflação ficou famosa no mercado a estratégia de algumas 
empresas de varejo que vendiam rapidamente as mercadorias, muito antes do prazo que 
tinham para pagar as suas compras e, em alguns casos, conseguiam vender a preços 
abaixo do custo porque se davam ao luxo de aplicar os recursos em aplicações financeiras 
de curto prazo muito rentáveis. De uma maneira geral o investimento em giro tem a ver 
com o ciclo financeiro da empresa. Aquelas empresas, semelhantes ao caso citado para 
empresas de varejo, quase não precisavam de investimento em giro pois conseguia prazos 
maiores para pagamento de suas compras. De outro lado um ciclo financeiro mais longo 
irá pressionar a necessidade de investimento em giro, fazendo com que a empresa invista 
recursos permanentes, próprios ou de terceiros, no seu giro. 
 
Alterações nas fases operacionais, como aumento dos prazos de cobranças, diminuição do 
prazo de fornecedores, aumento de estoques implicam em aumento da necessidade de 
investimento em giro. Claro que, para movimentos contrários das variáveis citadas 
implicarão em redução da necessidade de investimento em giro. 
 
 
10 
 
Não é só as alterações no ciclo operacional que modificam a necessidade de investimento 
em giro. O aumento das vendas, quando acompanhado do aumento de duplicatas a 
receber (vendas a prazo) e de estoques irá exigir mais investimento no giro. Claro que a 
empresa pode gerir o negócio no sentido de conseguir aumento de prazo de fornecedores 
e mesmo aumento de impostos e salários a pagar de maneira a atenuar um pouco essa 
necessidade. 
 
Resumindo, as características do ciclo operacional e do volume de vendas vão definir a 
necessidade de investimento em giro, valor este que, regra geral, para o bem do equilíbrio 
financeiro da empresa, deve ser mantido por recursos permanentes. Assim, a empresa que 
vem aumentando fortemente as suas vendas deve procurar gerar caixa a partir de suas 
operações (vendas a vista) para financiar esta expansão e, nos casos em que não é 
possível, deve procurar recursos de longo prazo para garantir o equilíbrio financeiro da 
empresa. 
 
Definimos agora as métricas abaixo que podem ajudar na compreensão e na gestão dos 
ativos e passivos de curto prazo da empresa: 
 
NTFP (Necessidade Total de Financiamento Permanente) = NIG + Investimento 
Permanente (Realizável a Longo Prazo + Ativos Permanentes) 
 
Saldo de Disponível (SD) = Passivo Permanente – NTFP = Ativo Financeiro – Passivo 
Financeiro 
 
O saldo de disponível funciona como uma reserva de liquidez para fazer frente a eventuais 
expansões da necessidade de investimento operacional em giro, em particular, aquelas de 
caráter sazonal. Claro que se a necessidade de investimento persistir aí a empresa terá que 
buscar uma fonte de longo prazo. 
 
V.1 Exemplos de estruturas patrimoniais e de necessidade de investimento em giro 
 
Veja na figura 12 duas estruturas distintas de necessidade de giro. A empresa tranqüila 
ltda à esquerda e a empresa aflita ltda à direita. Vamos calcular os indicadores vistos até aqui 
para ambas as empresas: 
Empresa Tranquila LTDA Empresa Aflita LTDA 
Ativo Circulante Operacional = 60.000 
Passivo Circulante Operac. = 40.000 
NIG = 20.000 
Ativo Permanente = 50.000 
NIG = 20.000 
NTFP =70.000 
Saldo de Disponível = Ativo Financeiro – Passivo Financeiro = 
30.000 – 20.000 = 10.000 
Saldo de Disponível = Capital de Giro Líquido – Necessidade de 
Capital de Giro = (90.000-60.000) – 20.000 = 10.000 
Saldo de Disponível = Passivo Permanente – NTFP = 80.000 – 
70.000 = 10.000 
Ativo Circulante Operacional = 35.000 
Passivo Circulante Operac. = 30.000 
NIG = 5.000 
Ativo Permanente = 75.000 
NIG = 5.000 
NTFP = 80.000 
Saldo de Disponível = Ativo Financeiro – Passivo Financeiro = 
30.000 – 50.000 = -20.000 
Saldo de Disponível = Capital de Giro Líquido – Necessidade 
de Capital de Giro = (65.000-80.000) – 5.000 = -20.000 
Saldo de Disponível = Passivo Permanente – NTFP = 60.000 – 
80.000 = -20.000 
 
11 
 
 
Empresa Tranquila ltda 
 
 
 
Empresa Aflita ltda 
 
 
 
 
 
 
 
 Ativo Passivo 
 
Ativo Passivo 
 
C
ir
cu
la
n
te
 
Financeiro Financeiro 
 C
ir
cu
la
n
te
 
 
C
ir
cu
la
n
te
 
Financeiro Financeiro 
C
ir
cu
la
n
te
 
 
30.000,00 
 
20.000,00 
 
30.000,00 
 
50.000,00 
 Operacional 
Operacional Operacional 
 
35.000,00 Operacional 
 
60.000,00 
 
40.000,00 
 
30.000,00 
 
 
 
 Permanente Permanente 
 
 
 
Permanente Permanente 
 
 
 
50.000,00 
 
80.000,00 
 
 
 
 
75.000,00 
 
60.000,00 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 12: duas estruturas patrimoniais básicas, duas exigências distintas de NIG 
 
A estrutura patrimonial da empresa Aflita ltda é bem diferente da empresa Tranquila Ltda. A 
primeira está financiando parte de sua necessidade total de financiamento com recursos de 
curto prazo. Note que a NTFP da Aflita é de 80.000 enquanto os seus recursos (passivo) 
permanentes montam a 60.000. Esta é uma situação de risco que indica potenciais problemas 
de solvência. De outro lado a empresa Tranquila ltda tem uma NTFP de 70 para um passivo 
permanente (recurso fixo) de 80.000. É de fato uma situação bastante tranqüila pois o recurso 
permanente consegue financiar o ativo permanente, o investimento necessário em giro (NIG 
de 20.000) e ainda sobram 10.000 na forma de disponível ou saldo de tesouraria. Note, 
também, que se a empresa Aflita ltda não conseguir renovar (rolar) o seu passivo financeiro 
(não cíclico) de curto prazo ela estará em dificuldade financeira e até mesmo risco de 
insolvência. 
 
V.2 Necessidade de capital de giro (NIG) e Capital de Giro Líquido (CCL) 
 
 É fácil perceber que temos: 
 
 
 Capital de Giro Líquido (CCL) = NIG + SD 
 
Como o CCL engloba as contas financeiras e cíclicas, o NIG trata somente das contas cíclicas. 
Vamos considerar um balanço extraído de Assaf Neto e Silva (1) e representado na figura 13 
para fixarmos o sentido da equação apresentada acima. Note que apuramos facilmente: 
 
Ativo Circulante = Ativo Circulante Operacional + Ativo Circulante Financeiro 
 377.000 = 297.000 + 80.000 
 
12 
 
 
Ativo 
 
Passivo 
 Disponível 30.000,00 Empréstimos Bancários 60.000,00 
Aplicações Financeiras 50.000,00 Duplicatas descontadas 40.000,00 
Ativo Circulante Financeiro 80.000,00 Passivo Circulante Financeiro 100.000,00 
Duplicatas a Receber 140.000,00 Fornecedores 90.000,00 
(-) PDD - 5.000,00 Encargos sociais e fiscais 20.000,00 
Adiantamento a Fornecedores 6.000,00 Adiantamento de Clientes 10.000,00 
Estoques 104.000,00 Dividendos propostos 8.000,00 
Despesas Antecipadas 7.000,00 Outros Valores Circulantes 32.000,00 
Outros Valores Circulantes 45.000,00 
Ativo Circulante Operacional 297.000,00 Passivo Circulante Operacional 160.000,00 
 Ativo Circulante 377.000,00 Passivo Circulante 260.000,00 
Realizável a Longo Prazo 123.000,00 Exigível a Longo Prazo 340.000,00 
Ativo Permanente 500.000,00 Patrimônio Líquido 400.000,00 
Total do Ativo 1.000.000,00 Total do Ativo 1.000.000,00 
Figura 13 – Exemplo de um balanço para avaliação de NIG e SD 
 
Passivo Circulante = Passivo Circulante Operacional + Passivo Circulante Financeiro 
 260.000 160.000 100.000 
 
 CCL = NIG + SD 
117.000 137.000 + (20.000) 
 
 NTFP = NIG + Ativo Permanente + Realizável Longo Prazo 
760.000 137.000 + 500.000 + 123.000 
 
 SD = Passivo Permanente - NTFP 
 (20.000) 740.000 - 760.000 
 
Note que existem passivos circulantes (20.000) financiando ativos fixos (ou permanentes) na 
empresa da figura 13. Não chega a se configurar como algo crítico mas já sinaliza a 
necessidade de se administrar melhor as operações da empresa, analisando reduções nos 
prazos concedidos aos clientes, aumento dos prazos dos fornecedores, diminuição de estoques 
e assim por diante. 
 
 
V.3 Volatilidade e Financiamento do Investimento Necessário em Capital de Giro 
 
Tal e qual o apresentado nas figuras 8 e 9 o NIG varia ao longo do tempo e apresenta 
sazonalidades. Uma idéia razoável para financiamento do giro da empresa é apresentada na 
Figura 14 a seguir, onde o NIG e o ativo permanente, em outras palavras, a NTFP, a 
 
13 
 
Necessidade Total de Financiamento Permanente é coberta por Passivos permanentes e as 
necessidades sazonais de capital de giro são financiadas com passivos financeiros de curto 
prazo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Tempo 
 
Figura 14 – Volatilidade do NIG e estrutura ideal de financiamento 
 
 
Vamos a um exemplo extraído de Assaf Neto e Silva (1): 
 
Ativo Passivo 
Ativo Circulante Financeiro 
 
100,00 Passivo Circulante Financeiro 120,00 
Ativo Circulante Operacional 
 
400,00 Passivo Circulante Operacional 280,00 
Ativo Permanente 
 
500,00 Passivo Permanente 600,00 
Total do Ativo 
 
1.000,00 Total do Passivo 1.000,00 
Indicadores: 
 
NIG 
 
120,00 
 
SD 
- 
20,00 
 
NTFP 
 
620,00 
 Figura 15: exemplo de NTFP com elemento sazonal incluído 
 
Suponha que além dos dados apresentados na Figura 15 você saiba também que, do total de 
120,00 do NIG, cerca de 70,00 sejam devidos à sazonalidade. E, mais, que dos 100,00 de Ativo 
Circulante Financeiro, cerca de 10,00 precisam estar sempre ali para atender a necessidades 
constantes e cíclicas de caixa. Ora, podemos, portanto, recalcular a NTFPconforme abaixo: 
 
Verdadeira NTFP = NTFP + caixa mínimo – NIG sazonal = 620,00 + 20,00 – 70,00 = 570,00 
 
$ 
NTFP 
Fonte de Financiamento: 
Passiv
 
os Financeiros 
Fonte de Financiamento: 
Passivos Permanentes 
(Patrim.Liq+Ex.L.Prazo) 
Ativo 
Permanente 
NIG 
Permanente 
 
 
 
14 
 
Neste caso, note que o Passivo Permanente cobre toda a necessidade de capital de giro 
permanente, ficando o sazonal para ser financiado com recursos de curto prazo, recaindo 
naquela situação que já reputamos como sendo cômoda ou tranqüila. 
 
Uma situação de desequilíbrio financeiro, onde passivos correntes financiam ativos 
permanentes é uma situação que também tende a produzir maiores retornos dado que, regra 
geral, os ativos de mais longo prazo custam mais caro. Esta é uma lógica válida nos mercados 
de países de primeiro mundo e, para situações de normalidade. Mas, pode se ter, em 
determinadas ocasiões, inversões desta lógica onde os recursos de curto prazo custam mais do 
que os de longo prazo. Em países em desenvolvimento é comum não se ter volume suficiente 
de recursos de longo prazo no mercado, exceto nos órgãos governamentais de fomento como 
BNDES e Fundos Constitucionais. 
 
 
V.4 Dimensionamento do NIG em termos de dias de vendas 
 
 
 Vamos observar os dados da empresa CAGIR extraída de Assaf Neto e Silva (1) 
representado na figura 16 a seguir. 
 
 
 
Ativos Circulantes Operacionais $ Passivos Circulantes Operacionais $ 
Duplicatas a Receber 
 
7.500,00 Fornecedores a Pagar 
 
4.000,00 
Estoques 
 
 Despesas Operacionais a Pagar 
 
400,00 
 Matérias Primas 
 
400,00 
 
 
 Produtos em Processo 
 
700,00 
 
 
 Produtos Acabados 
 
1.050,00 
 
 
 
 
 
Informações Adicionais do Quadrimestre 
 
 
 - Vendas = $ 15.000 
 
 
 - Custo do Produto Vendido (CPV) = $ 7.000 
 
 
 - MP consumida no quadrimestre = $ 1.600 
 
 
 - Compras no quadrimestre = $ 6.000 
 
 
 - Desp. Oper.Incorridas no quadrim. = $ 2.400 
Figura 16: Dados do cliclo operacional e financeiro 
 
 
 
 
 
15 
 
A partir destas informações podemos avaliar o NIG em termos de dias e não em termos 
monetários: 
 
NIG = (PME + PMF + PMV + PMC) – Máximo{PMPF,PMPD) 
 
Prazo Médio de Estocagem (PME) 
diasxx
imaMatériadeConsumo
imaMatéria
PME 30120
600.1
400
120
Pr
Pr

 
 
Prazo Médio de Fabricação – PMF 
 
diasxx
ElaboradosodutosdosCusto
ocessoemoduto
PMF 12120
000.7
700
120
Pr
PrPr

 
 
Prazo Médio de Venda – PMV 
 
diasxx
ElaboradosodutosdosCusto
acabadosodutos
PMV 18120
000.7
050.1
120
Pr
Pr

 
 
Prazo Médio de Cobrança – PMC 
 
diasxx
Vendas
ceberaDuplicatas
PMC 60120
000.15
500.7
120
Re

 
 
Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores – PMPF 
 
diasxx
Compras
PagaraesFornecedor
PMPF 80120
000.6
000.4
120 
 
 
Prazo Médio de Pagamento de Despesas Operacionais – PMPD 
 
diasxx
IncorridasDespesas
PagaraDespesas
PMPD 20120
400.2
400
120 
 
 
Logo, temos: 
NIG = (PME + PMF + PMV + PMC) – (PMPF) 
NIG = (30 + 12 + 18 + 60 ) - (80) 
NIG = 40 dias 
 
Isto pode ser interpretado da seguinte maneira: ao longo dos 120 dias do ciclo operacional, a 
empresa tem financiamento natural (passivo cíclico) para 80 dias, que é o tempo médio que 
ela consegue paga pagar os seus fornecedores. Entretanto, como o ciclo operacional dura 120 
 
16 
 
dias, ela precisará investir capital de giro por 40 dias, para fazer frente a este gap no 
financiamento natural. 
 
 PMC 
 PME PMF PMV 
| | | | | | | 
 30 42 60 80 100 120 (dias) 
 
 
 
 Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores Necessidade de Investim. 
Figura 17: ilustração da necessidade de investimento em dias 
 
Os cálculos que fizemos expressam os indicadores em dias, mas dias de que? Ora, é possível 
relativizar os indicadores em termos das vendas e, então, teríamos os números expressos 
como dias de venda e isso seria mais palpável e mais lógico. Para tanto, utilizaríamos as 
fórmulas abaixo: 
 
Indicadores de Estoque: 
 
 
Vendas
imaMateriadeConsumo
xx
imaMateriaConsumo
primaMateria
PME
Pr
120
Pr


 
 
Vendas
CPV
xx
CPV
Elaboraçãoemodutos
PMF 120
Pr

 
 
Vendas
CPV
xx
CPV
Acabadosemodutos
PMV 120
Pr

 
 
Podemos também utilizar a fórmula de Prazo Médio de Estocagem Total, onde: 
 













Vendas
CPV
xx
CPV
TotalEstoque
PMET 120
 
 
Fornecedores: 













Vendas
Compras
xx
Compras
esFornecedor
PMPF 120
 
 
 
Despesas a Pagar 
 













Vendas
IncorridasDespesas
xx
IncorridasDespesas
PagaraDespesas
PMPD 120
 
 
17 
 
No exemplo da empresa CAGIR da figura 16 temos: 
 
Duplicatas a Receber-------------------------------------60 dias (este indicador já é relativo a vendas) 
 
Estoques: 
Matéria Prima ------30 x (1.600/15.000).................3,2 
Prod.em Processo...12x(7.000/15.000)................ 5,6 
Prod.acabados.......18 x (7.000/15.000)................. 8,4 
 
 Ativo Operacional..........................................77,2 dias 
 
Fornecedores: 80 x (6.000/15.000)......................32,0 
Despesas a pagar: 20 x (2.400/15.000)..................3,2 
 
 Passivo Operacional........................................35,2 dias 
 
NIG (em dias de vendas)........................................42 dias 
 
V.5 Overtrading 
 
 Caracteriza-se como uma rápida e forte expansão das atividades da empresa sem que 
haja recursos disponíveis para financiar as suas necessidades de giro. Ou seja, a empresa 
possui recurso financeiro capaz de suportar um volume máximo de vendas, quando este 
máximo é superado os problemas começam a aparecer na forma de dívidas bancárias e 
elevado nível de despesa com juros. Tipicamente, no overtrading, a NIG cresce bastante e 
supera o CCL da empresa. 
 
 Nas figuras 18-a e 18-b notamos os efeitos de uma expansão em dois casos distintos. 
No primeiro caso os recursos permanentes foram crescendo para acompanhar a demanda do 
giro. Notamos que o novo volume de vendas foi financiado por mais PL e também por mais 
passivo cíclico. No segundo caso, notamos que a expansão das vendas não foi acompanhada 
de uma expansão nos recursos permanentes e nem mesmo de passivos cíclicos, pressionando 
o caixa da empresa. Note também que o PL da empresa, na figura 17-b, que representa a única 
fonte de recursos de longo prazo ou permanentes, aumentou proporcionalmente menos do 
que a dívida bancária, enquanto, de outro lado, a NIG aumentava mais do que 
proporcionalmente ao aumento do CCL. Uma boa sugestão para a empresa do caso b seria 
arranjar novo capitalpróprio (sócios, abertura de capital) ou conseguir exigíveis de longo prazo 
para financiar a sua expansão. Se ainda não fosse possível, poder-se-ia tentar vender mais à 
vista ou mesmo conseguir mais prazo de fornecedores. Todas seriam medidas válidas para 
diminuir a NIG. Se esboçássemos o gráfico Vendas x NIG x CCL teríamos uma figura parecida 
com uma tesoura com as vendas crescendo e formando uma curva com concavidade para cima 
e o NIG crescendo com a concavidade para baixo, daí o overtrading é chamado efeito tesoura. 
 
 
18 
 
 
Ano I 
 
Ano II 
 
Ano III 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Caixa/Bancos 
 
5.000,00 Bancos 
 
5.000,00 
 
 Caixa/Bancos 
 
6.000,00 Bancos 
 
6.000,00 
 
 Caixa/Bancos 
 
7.200,00 Bancos 7.200,00 
 Dupl.a receber 10.000,00 Fornec. 10.000,00 
 
 Dupl.a receber 12.000,00 Fornec. 12.000,00 
 
 Dupl.a receber 14.400,00 Fornec. 14.400,00 
 Estoques 10.000,00 PL 50.000,00 
 
 Estoques 12.000,00 PL 52.000,00 
 
 Estoques 14.400,00 PL 54.400,00 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Totais 65.000,00 65.000,00 
 
 Totais 70.000,00 70.000,00 
 
 Totais 76.000,00 76.000,00 
 CCL 10.000,00 
 
 CCL 12.000,00 
 
 CCL 14.400,00 
 
 NIG 10.000,00 
 
 NIG 12.000,00 
 
 NIG 14.400,00 
 Figura 18-a : NIG crescendo proporcionalmente ao CCL 
 
 
 
 
 
Ano I 
 
Ano II 
 
Ano III 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Ativo 
 
 Passivo 
 
 Caixa/Bancos 
 
5.000,00 Bancos 
 
5.000,00 
 
 Caixa/Bancos 
 
6.000,00 Bancos 
 
9.000,00 
 
 Caixa/Bancos 
 
7.200,00 Bancos 13.000,00 
 Dupl.a receber 10.000,00 Fornec. 10.000,00 
 
 Dupl.a receber 14.000,00 Fornec. 12.000,00 
 
 Dupl.a receber 18.000,00 Fornec. 14.400,00 
 Estoques 10.000,00 PL 50.000,00 
 
 Estoques 12.000,00 PL 51.000,00 
 
 Estoques 14.400,00 PL 52.200,00 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Ativo Perman. 40.000,00 
 
 Totais 65.000,00 65.000,00 
 
 Totais 72.000,00 72.000,00 
 
 Totais 79.600,00 79.600,00 
 CCL 10.000,00 
 
 CCL 11.000,00 
 
 CCL 12.200,00 
 
 NIG 10.000,00 
 
 NIG 14.000,00 
 
 NIG 18.000,00 
 Figura 18-b: NIG crescendo mais do que proporcionalmente ao CCL 
 
 
 
 
19 
 
VI. Administração do Disponível 
 
Segundo Assaf Neto e Silva (1), são três os motivos pelos quais uma empresa mantém 
dinheiro em caixa: transação, precaução e especulação. Se todos os fluxos ativos e passivos 
fossem perfeitamente casados não haveria necessidade de se manter recursos em caixa, 
entretanto, como não há o sincronismo perfeito uma empresa precisa manter recursos para 
honrar os seus compromissos e realizar as suas transações do dia a dia. O outro motivo é 
bastante óbvio, uma empresa que tem uma atividade mais arriscada onde vendas podem ser 
devolvidas, canceladas, precisa ter um recurso para suprir uma necessidade eventual de caixa. 
E o outro, diz respeito ao surgimento de oportunidades repentinas. Entretanto, a empresa 
deve ter em mente que quanto mais caixa ela tem, mais recursos ficam parados sem 
remuneração, dificultando a rentabilidade dos investidores ou proprietários. O mesmo Assaf 
Neto e Silva (1) cita alguns fatores para a determinação de um caixa mínimo: 
 
a) Falta de sincronismo entre pagamentos e recebimentos; 
b) Ocorrência de eventos fora do planejado; 
c) A existência de um mercado financeiro eficiente e desenvolvido diminui a necessidade 
de caixa, permitindo a minimização dos recursos em caixa; 
d) Bom relacionamento bancário; 
e) Possibilidade de fraudes. Um controle mais acurado pode minimizar este tipo de 
ocorrência e determinar um nível menor de caixa mínimo; 
f) Existência de um elevado prazo médio de recebimento. A empresa, sempre que puder 
deve gestar no sentido de reduzir este prazo; 
g) Existência de um prazo médio reduzido de pagamento. A empresa deve gestar para 
elevar este prazo médio; 
h) Existência de grande investimento em estoque. O estoque deve ser dimensionado de 
forma otimizada, ou seja, um estoque que atenda às necessidades dos clientes e que 
custe o mínimo possível; 
i) Existência de várias contas correntes em diferentes bancos, consumindo saldo mínimo 
bancário exagerado para atender aos bancos e não à própria empresa; 
j) Política de crédito (ou ausência) insuficiente. 
 
Obviamente que os fatores não esgotam todas as possibilidades mas representam elementos 
comuns a maior parte das empresas. Na seção seguinte apresentaremos alguns modelos que 
podem ser utilizados para determinar o caixa mínimo de uma empresa. 
 
VI.1 Modelos de administração de Caixa 
 
a) Modelo do caixa mínimo operacional 
 
Este é um modelo bastante simples e prático. Calcula-se o giro de caixa conforme 
abaixo: 
 
 
20 
 
financeirociclodoDias
CaixadoGiro
360

 
CaixadoGiro
ExercícionoDesembolsodeevisao
MínimoCaixa
Pr

 
 
Vamos a um exemplo. Uma empresa prevê desembolsar $ 2.400.000 nos próximos 360 dias. A 
empresa tem os seguintes prazos nos seus ciclos operacional e financeiro: Prazo médio de 
estocagem (PME) igual a 20 dias, Prazo Médio de Fabricação igual a 20 dias, Prazo Médio de 
Vendas igual a 5 dias, Prazo Médio de Cobrança de 60 dias. O prazo de pagamento a 
fornecedores é de 15 dias. Logo teremos: 
 
Ciclo Financeiro = 20 + 20 + 5 + 60 – 15 = 90 dias. 
 
Giro do caixa = 360/90 = 4 vezes. 
 
Caixa Mínimo Operacional = 2.400.000/4 = 600.000 
 
Ora, a empresa deve manter a quarta parte do desembolso, ou ainda, deve manter um caixa 
mínimo para um giro. Note que uma pequena redução no ciclo financeiro reflete diretamente 
na redução do caixa mínimo. Se a empresa conseguisse aumentar o seu prazo de pagamento a 
fornecedores de 15 para 30 dias, o novo tamanho do ciclo financeiro seria de 75 dias. O giro 
passaria para 4,8 e o caixa mínimo seria de 500.000, uma redução de 100 mil na necessidade 
mínima de caixa. 
 
b) Modelo de Baumol 
 
Este modelo recebe o nome do pesquisador que aplicou o conceito de lote econômico 
de compra (logística). O modelo foca uma situação típica de uma empresa que recebe 
um valor fixo no início de um período e que faz pagamentos ao longo deste período. 
Isto se assemelha inclusive aos gastos de uma família assalariada, onde o salário é 
recebido num único ponto e os gastos se dão ao longo dos dias entre um salário e 
outro. 
 
b
Ri
N
..5,0

, onde: 
I  taxa de juros da aplicação financeira no período em que se recebe o fluxo de 
caixa; 
R  Valor da parcela recebida no início do período; e 
b  o custo de cada transação, em unidades monetárias. 
N  o número de movimentação dos recursos, ou seja, o número de partes que o 
recurso inicial será dividido, ficando a primeira no caixa e o restante aplicado e 
retirado N-1 vezes. 
 
 
21 
 
Vamos a um exemplo: vamos supor que uma empresa prestadora de serviços recebe 
uma quantia fixa todo início de mês, por exemplo, $ 800.000,num momento em que a 
taxa de juros mensal está em 0,80% e o custo de cada transação é de $ 800,00 
(envolvendo o custo com controle, impostos, tarifas etc..). Então, calculemos N, 

800
000.800%.80,0.5,0
N
 2 
Logo, o modelo sugere que se pegue o valor de $ 800.000 e, de início, deixe no caixa a 
quantia de $ 400.000, aplicando os outros $ 400.000. Daí a 15 dias corridos (metade de 
um mês), saca-se o restante para fazer frente aos pagamentos diários da empresa. 
Aqui está implícito que os pagamentos diários da empresa são uniformes iguais a 
800.000/30 = $ 26.667,00. Poderíamos imaginar uma planilha tal e qual a mostrada na 
Figura 19 abaixo. 
Dia Caixa Inicial Saída de Caixa Entrada de Caixa Caixa Final 
1 400.000,00 - 26.666,67 - 373.432,51 
2 373.432,51 - 26.666,67 - 346.857,95 
3 346.950,09 - 26.666,67 - 320.368,51 
4 320.453,61 - 26.666,67 - 293.864,99 
5 293.943,05 - 26.666,67 - 267.347,38 
6 267.418,40 - 26.666,67 - 240.815,69 
7 240.879,66 - 26.666,67 - 214.269,89 
8 214.326,81 - 26.666,67 - 187.710,00 
9 187.759,86 - 26.666,67 - 161.135,99 
10 161.178,79 - 26.666,67 - 134.547,86 
11 134.583,60 - 26.666,67 - 107.945,60 
12 107.974,27 - 26.666,67 - 81.329,20 
13 81.350,81 - 26.666,67 - 54.698,67 
14 54.713,20 - 26.666,67 - 28.053,98 
15 28.061,43 - 26.666,67 400.000,00 401.501,40 
16 401.608,05 - 26.666,67 - 375.040,98 
17 375.140,61 - 26.666,67 - 348.566,51 
18 348.659,11 - 26.666,67 - 322.077,97 
19 322.163,53 - 26.666,67 - 295.575,36 
20 295.653,88 - 26.666,67 - 269.058,66 
21 269.130,14 - 26.666,67 - 242.527,88 
22 242.592,30 - 26.666,67 - 215.983,00 
23 216.040,37 - 26.666,67 - 189.424,01 
24 189.474,33 - 26.666,67 - 162.850,91 
25 162.894,17 - 26.666,67 - 136.263,69 
26 136.299,89 - 26.666,67 - 109.662,34 
27 109.691,47 - 26.666,67 - 83.046,86 
28 83.068,92 - 26.666,67 - 56.417,24 
29 56.432,23 - 26.666,67 - 29.773,47 
30 29.781,38 - 26.666,67 - 3.115,54 
 Figura 19: Fluxo mensal de caixa 
 
22 
 
Note que os pagamentos diários são equivalentes a 800.000/30 e a taxa de juros diária 
foi a taxa efetiva diária equivalente à taxa de 0,80% ao mês, ou seja, a taxa de 
(1+0,80%)(1/30) – 1. 
 
c) Modelo de Miller e Orr 
 
Os dois primeiros modelos eram determinísticos, ou seja, partiam da premissa que os fluxos 
eram certos e sabidos. Agora, apresentaremos um modelo probabilístico muito simples de 
aplicar. Como diz a lenda, uma figura vale mais do que mil palavras, então veja na Figura 20 a 
idéia contida no modelo de Miller e Orr. 
 
$ 
h* 
 
z* 
 
 
m 
 
 
 tempo 
Figura 20: gráfico ilustrativo da região aceitável de saldo de caixa no Modelo de Miller e Orr 
 
O modelo utiliza a fórmula abaixo para calcular o Z*, chamado ponto de retorno que é o valor 
central em torno do qual o fluxo de caixa deverá retornar após ultrapassar os limites superior 
(h*) ou inferior (m). 
 
3
2..75,0
*
i
b
mz


, onde 
m é o valor mínimo admissível para o saldo de caixa, b é o custo de cada transação, i a taxa de 
juros diária e σ2 é a variância diária do fluxo de caixa. O m deverá ser determinado pela 
gerência da empresa e reflete o nível de aversão a risco da empresa. De posse do m 
(arbitrado), do z*, calculamos o h* conforme abaixo: 
 
h* = m + 3.z* 
 
Vejamos um exemplo a partir dos dados da Figura 11, onde listamos uma amostra de fluxos de 
caixa e os cálculos da média e da variância. Note que no exemplo dado na figura 21, os valores 
de entrada (dados) são os seguintes: caixa mínimo (m) igual a 30.000; taxa de juros diária (i) de 
0,0423%; custo unitário da transação financeira (b) igual a 500. Utilizando as fórmulas 
calculamos, respectivamente, o ponto de retorno (z*) de 195.596 e o valor máximo (h*) de 
616.789. E, como enunciado, a empresa deverá manter o saldo de caixa entre os dois valores 
limites. Se ultrapassar o valor superior a empresa aplicará o excesso, de maneira que o saldo 
 
23 
 
de caixa volte ao ponto de retorno. Caso contrário, a empresa resgatará um valor um valor tal 
que o saldo de caixa também voltará ao ponto de retorno. 
Dia Fluxo de Caixa FC - média (FC-média)2 
1 100.000,00 24.000,00 576.000.000,00 
2 - 30.000,00 - 106.000,00 11.236.000.000,00 
3 50.000,00 - 26.000,00 676.000.000,00 
4 70.000,00 - 6.000,00 36.000.000,00 
5 160.000,00 84.000,00 7.056.000.000,00 
6 50.000,00 - 26.000,00 676.000.000,00 
7 130.000,00 54.000,00 2.916.000.000,00 
8 140.000,00 64.000,00 4.096.000.000,00 
9 150.000,00 74.000,00 5.476.000.000,00 
10 - 60.000,00 - 136.000,00 18.496.000.000,00 
Total 760.000,00 
 
Média 76.000,00 
 
Variância 
 
 5.124.000.000,00 
m 30.000,00 
 
taxa juros 0,0423% 
 
b 500,00 
 
z* 195.596,34 
 
h* 616.789,02 
 Figura 21: Exemplo de aplicação do modelo de Miller e Orr 
 
d) Modelo da curva normal 
 
Este é um modelo que reflete um elevado nível de precaução. Vamos tomar o mesmo exemplo 
da figura 21. A partir dos dados lá fornecidos vamos calcular o desvio-padrão (que é a raiz da 
variância) e determinar o maior fluxo com um certo nível de confiança conforme a fórmula 
abaixo: 
 
Saldo Mínimo = Fluxo Máximo Previsto = Fluxo Médio + σ.zα 
 
O zα reflete o nível de confiança (conservadorismo) da estimativa. Tipicamente se utilizam os 
valores de 90%, 95% e 99% de confiança, correspondendo aos z de 1,281, 1,644 e 2,33, 
respectivamente. Determinamos o saldo ideal de caixa como sendo um valor equivalente ao 
Fluxo Máximo acima. Se o saldo fica aquém deste valor repomos o caixa via resgate da 
aplicação. Qualquer valor acima deste saldo mínimo vai para o investimento. No exemplo da 
figura 19 teríamos: 
12,582.71000.000.124.5  
 
Saldo Mínimo = 76.000 + 2,33 . 71.582,12 = 242.786 
 
Note que no modelo anterior o limite inferiorera de 30 mil, arbitrado pela administração. Aqui 
adotamos o valor mínimo de 242.786. Quando o saldo cair abaixo desse valor, uma quantia 
 
24 
 
deve imediatamente ser resgatada. A quantia que reponha o saldo a 242,786 mil. Note que 
neste exemplo aqui utilizamos o nível de confiança de 99%. Isto significa que em 100 dias, 
esperamos acertar em 99, ou ainda, não haverá um saldo negativo senão em um dia apenas. 
 
 
VII. Administração de Valores a Receber 
 
Uma empresa venderá a crédito com a finalidade de aumentar as suas vendas. Isto fará 
com que mais pessoas comprem da mesma. Um maior volume de financiamento de clientes 
irá gerar mais valores de duplicatas a receber e também provisão para devedores duvidosos. 
Muito além dos efeitos contábeis e fiscais a empresa deve ter políticas e procedimentos para 
lidar com o crédito, senão o efeito pode ser o contrário, em vez de lucro virão grandes 
prejuízos. Portanto, uma empresa deve ter uma Política de Crédito que estabeleça diretrizes 
para todos os funcionários envolvidos com ela e não deixe dúvidas sobre quem pode ser 
financiado (critérios de concessão), que prazos são praticados, qual a taxa de juros praticada 
ou taxas de juros em função do prazo e do tipo de cliente, quais são os instrumentos de 
garantia, o que fazer na fase de condução (ou monitoramento), como lidar com as 
inadimplências de primeiros dias e com as inadimplências antigas e, por fim, como lidar com a 
recuperação de crédito, seja pela via administrativa ou pela via jurídica. 
 
 
VII.1 Políticas de Concessão de Crédito 
 
Tipicamente, uma empresa que venda muito a crédito estabeleceria as seguintes 
diretrizes: 
 
a) Todo cliente será avaliado, analisado e será gerado um score, uma letra que traduza o 
nível de risco do mesmo e a sua capacidade de pagamento; 
b) Clientes com restrições em órgãos públicos de avaliação de crédito (Serasa, SPC e 
outros) não serão merecedores de crédito; 
c) Independente da capacidade financeira, sempre existirá um limite máximo de 
concentração por cliente. Exemplo: a empresa limita os créditos individuas a $ 
500.000. 
d) Limite de concentração de crédito por setor econômico. A empresa não deixa que o 
crédito se concentre em determinados segmentos econômicos e utiliza uma 
classificação de setores (por exemplo, o cnae do IBGE) e estabelece valores para cada 
um dos setores. 
e) Manter banco de dados com valores históricos recebidos, valores inadimplidos em 
função dos dias de atraso e valores já dados ou registrados como perdas, para 
alimentar modelos quantitativos de determinação da taxa de financiamento, de 
valores máximos a financiar e, também, para registro qualitativo do caráter do cliente. 
 
 
 
 
25 
 
VII.2 Concessão do Crédito 
 
VII.2.1 Precificação do Crédito (determinação da taxa ao cliente) 
 
A variável mais importante para a concessão do crédito é a taxa de inadimplência ou de 
perda. Para alguns segmentos e tipos de negócios é importante distinguir entre 
inadimplência e perda, uma vez que dada a inadimplência de alguns dias é possível acionar 
a justiça e conseguir a recuperação do bem financiado para revenda a terceiro. É o caso, 
por exemplo, de automóveis com cláusula de alienação fiduciária, onde se consegue 
recuperar o bem em até três meses e, no quarto, revendê-lo a uma terceira pessoa, 
recuperando boa parte do crédito concedido. Vamos apresentar abaixo um critério de 
concessão e precificação do crédito (determinação da taxa de juros) que atenda aos 
múltiplos interesses da empresa concedente de crédito. 
 
Taxa média de Perda = p 
 (aqui supomos que a empresa considera a inadimplência de X dias como sendo perda ou 
que ainda utiliza taxas médias de recuperação dada a inadimplência). 
 
Exemplo: 
 
Valores 
Emprestados 
no início do 
quadrimestre 
Valores 
Inadimplidos um 
mês depois 
Valores 
Inadimplidos 
dois meses 
depois 
Valores 
Inadimplidos 
três meses 
Depois 
Perdas no 
quadrimestre 
6.000.000,00 500.000/2.000.000 350.000/4.000.000 200.000/6.000.000 3,33% 
 
Note que não há uma única maneira de determinar a taxa de perda. No exemplo acima 
enfocamos uma empresa que dividia as vendas em três prestações iguais e que considerou 
como situação limite a inadimplência de quatro meses. Outra empresa poderia adotar um 
prazo maior (ou menor) e, ainda sim, trabalhar com uma taxa de recuperação de 
inadimplências, seja por contratar empresas terceirizadas de cobrança ou mesmo por 
manter um departamento jurídico próprio que acione os clientes e, a partir daí, consiga 
recuperar alguns valores em juízo. A experiência bancária, entretanto, revela que a justiça 
não exerce um grande papel na recuperação dos créditos. O melhor mesmo é acertar na 
concessão através de políticas justas e avaliadas periodicamente. E, note, que a empresa 
poderia manter um quadro de apuração por quadrimestre móvel, de maneira a ter uma 
taxa de perda mais recente, que capture a situação conjuntural. Mas voltando ao caso 
acima, entendemos que a empresa perde 3,33% de tudo o que financia. 
 
Neste caso, teríamos o seguinte modelo de precificação da taxa ao cliente: 
 
a) Para financiamentos com vencimento único ao final do prazo: 
 
nn
f
n scpi )1()1()1.()1( 
, donde apuramos 
 
26 
 
 
1
1
)1).(1(




n
f
p
sc
i
 
Onde 
n-  é o número de meses de prazo; 
p  taxa de perda em relação ao montante esperado ao final do período; 
cf  Custo financeiro da empresa (taxa mensal que paga em empréstimos); 
s -spread mensal que deseja ganhar. Ou seja, depois de pago o banco, computadas as 
perdas, a empresa ganha uma taxa de juros. 
i  taxa cobrado do cliente. 
 
Vamos a um exemplo numérico: 
 
Uma loja de departamentos financia os seus clientes por 4 meses para pagamento único 
ao final do prazo. O custo financeiro da loja é de 25% ao ano, a taxa de perda é de 3,33% e 
o spread desejado é de 1,00% ao mês. Vamos calcular a taxa ao cliente: 
 
Custo mensal da loja  1,25(1/12)-1 = 1,88% ao mês. 
 
 



 1
%33,31
%)00,11%).(88,11(
4
i
1,028988/0,99156 - 1 = 3,77 % ao mês. 
 
Logo, aplicada esta taxa ao cliente, a empresa, em tese (se a média funcionar) garante uma 
aplicação financeira líquida de 1,00% ao mês, depois de pagar ao banco e bancar a perda 
de crédito. 
 
b) Financiamento Price por n meses 
 
No modelo de financiamento price (prestações iguais, sucessivas e postecipadas) a 
prestação periódica (PMT, do inglês payment) pode ser calculada conforme abaixo: 
 
1)1(
)1.(.



n
n
i
iiP
PMT
, onde 
i é a taxa de juros ao cliente, n é o prazo em meses e P é o valor financiado. Normalmente 
temos calculadoras financeiras (HP12CV) e planilhas eletrônicas (EXCEL). No caso de 
termos uma perda p sobre todos os valores previstos para recebimento, recalculamos a 
taxa líquida com o auxílio da calculadora. Mas, agora, esta não é a taxa final ao cliente e 
sim a taxa líquida de ganho da empresa financiadora, mas que pode não cobrir o custo do 
empréstimo e o spread desejado pela empresa. Assim, podemos por tentativa e erro, na 
calculadora financeira, ou mesmo na planilha eletrônica (que ainda é mais fácil quando 
utilizamos ferramenta de atingir meta) determinar uma prestação tal que produz uma taxa 
 
27 
 
interna de retorno igual à desejada pela empresa, a saber, a taxa que cubra o custo 
financeiro da própria empresa e lhe garanta um spread mensal. Vamos a um exemplo: 
 
Ora, se o valor financiado é de $100, o valor da prestação, depois da perda, cercade 3,33% 
do previsto, tem que produzir um fluxo de caixa equivalente a uma taxa de 1,88% ao mês 
composta com o 1,00% de spread, isto significa uma taxa de (1+1,88%).(1+1%)-1 =2,90% 
ao mês. Então, na calculadora financeira colocamos os dados PV= - 100, n =4 (4 parcelas 
iguais e sucessivas), i = 2,90%, para encontrar uma prestação (pmt) de $ 26,83. Ora, 
sabemos que esta prestação ocorre depois da perda devido ao risco de crédito, então, a 
prestação original é de 26,83/0,9667 = 27,75. Ora, para um financiamento de $ 100, na 
forma price, com n igual a 4 e prestação de 27,75 encontramos a taxa de juros final ao 
cliente: PV= - 100, n=4, PMT = 27,75  4,31% ao mês. 
 
Em ambos os casos mostrados nas alíneas “a” e “b” mostramos como se determina uma 
taxa de juros ao cliente a partir da premissa do custo financeiro, taxa de perda e spread 
desejado pelo financiador. Entretanto, é preciso estabelecer um limite de crédito máximo 
para cada cliente. 
 
c) Um modelo probabilístico para precificação do crédito 
 
Nos dois casos anteriores a taxa de perda era dada como certa, determinística. 
Entretanto, vamos supor que uma determinada empresa ou loja tenha em banco de dados 
as taxas históricas de inadimplência de 90 dias. Supondo aqui que a inadimplência de 90 
dias já tem um sabor parecido com o da perda. A idéia é tomar a distribuição histórica de 
perda e estabelecer a perda média e a pior perda com um certo nível de confiança. Em 
geral, transfere-se as perdas médias para o preço do crédito, entretanto é possível avaliar 
se o mercado aceita uma taxa maior que cubra mais do que as perdas médias, cubra até 
um certo percentil maior do que o da mediana (qüinquagésimo percentil). Vamos a um 
exemplo, tomando-se a distribuição histórica de probabilidades da inadimplência de 90 
dias que para nós será equivalente a perda pois muito pouca coisa se recupera a partir daí: 
Mês Taxa de Perda Percentil 
1 2,20% 8,33% 
2 2,25% 16,67% 
3 2,30% 25,00% 
4 2,40% 33,33% 
5 2,60% 41,67% 
6 2,90% 50,00% 
7 3,40% 58,33% 
8 3,45% 66,67% 
9 3,60% 75,00% 
10 4,35% 83,33% 
11 4,70% 91,67% 
12 5,20% 100,00% 
 Figura 22: perdas históricas ordenadas dos últimos 12 meses 
 
28 
 
 
Na figura 22, ordenamos de maneira crescente as perdas históricas com crédito. Aqui a 
taxa de perda é fruto da razão entre os valores inadimplidos há mais de 90 dias sobre os 
valores correspondentes concedidos. Num banco de dados deste tipo, é preciso expurgar 
a inadimplência superior a 360 dias, de maneira a não se contaminar a série histórica com 
perdas que ocorreram há muito tempo atrás e retirar da série o caráter de atualidade. 
Para a apuração não se pode utilizar saldos contábeis que distorcem a informação. O mais 
adequado é apurar, dentro de cada mês, os valores inadimplidos há mais de 90 dias, frutos 
de concessão há menos de 360 dias. A partir daí promovemos a relação entre estes valores 
inadimplidos e os valores concedidos na origem, de preferência sem os juros, mas tão 
somente em termos de capital. Uma vez ordenadas as informações encontramos um 
determinado percentil com o qual desejamos decidir. O percentil é uma métrica de 
posição na estatística descritiva. Assim, o percentil 95 (ou nonagésimo-quinto percentil) é 
o número que deixa 95% das informações à sua esquerda e, obviamente, 5% à direita. 
Note que o nonagésimo-quinto percentil estará entre 4,70% e 5,20%. Interpolamos o 
valor no intervalo citado para encontrar o nonagésimo-quinto percentil via uma simples 
regra de três, conforme abaixo: 
 
91,67% --- 4,70%; 
95,00%  x 
100,00%  5,20% 
 






%67,91%100
%70,4%20,5
%67,91%00,95
%70,4x
 x = 4,90% 
 
Ora, esta é a maior taxa de perda com 95% de confiança. Então, poderíamos voltar a 
precificar o crédito conforme os itens a e b utilizando um valor correspondente ao 
percentil escolhido. Logo, uma diretoria avessa ao risco poderia repassar esta perda ao 
cliente, o que não é usual, mas poderia ser tentado e em seguida avaliar a aceitação do 
mercado. Se as vendas fossem para reposição única ao final do prazo poderíamos utilizar a 
fórmula vista no item “a” retro e determinar a taxa final ao cliente. 
 
1
%90,41
%)11%).(88,11(
4



i
 = 4,20%. 
 
 
Caso o mercado (a concorrência) não permitisse operar uma taxa de 4,20%, o a empresa 
concedente de crédito poderia repassar a taxa média de perda, 3,33%, cobrando do cliente 
a taxa de 3,77%. Entretanto a empresa poderia trabalhar com o conceito de VAR – Value at 
Risk. O Valor em risco seria a perda máxima num certo intervalo de tempo. No caso aqui o 
período em questão seria de quatro meses. O VAR seria a diferença entre a Perda Máxima 
com 95% de confiança e a Perda Média repassada ao cliente. Vamos calcular o VAR e 
analisar o que podemos fazer com isso: 
 
29 
 
 
Total de Vendas = $ 1.000.000,00 
Montante Nominal ao final de 4 meses = 1.000.000.000 x 1,03774 = 1.159.544,00 
Perda Esperada = 1.159.544 x 3,33% = 38.613,00 
Perda Máxima com 95% de confiança = 1.159.544 x 4,90% = 56.818,00 
VAR – Value at Risk quadrimestral = 18.205,00 
 
A empresa poderia ter valores aplicados em recursos líquidos de elevada liquidez (e fora 
do risco de crédito considerado) para fazer frente a uma perda inesperada de 18.205,00. 
No caso em questão, construímos um exemplo em que o VAR é bastante pequeno. 
Entretanto, na prática poderá existir linhas de produtos ou negócios no varejo ou atacado 
com VAR elevados. A idéia é que a empresa tenha recursos próprios para fazer frente a 
uma perda inesperada (VAR – Value at Risk). 
 
VII.2.2 Seleção de Clientes e atribuição de limite de crédito 
 
É importante saber recusar vendas. Regra geral, com uma venda se ganha margem 
operacional e financeira mas pode-se perder todo o capital se ela for mal feita. Portanto, é 
importante verificar o caráter do cliente, analisando o seu desempenho anterior em 
compras com a própria empresa ou mesmo nos sistemas de registro e proteção ao crédito, 
como SPC e SERASA. Tipicamente as empresas podem utilizar modelos estatísticos ou 
determinísticos de score para atribuir um grau de risco ao cliente (normalmente utilizam-se 
letrinhas como A, B, C, etc...para atribuir o grau de risco do cliente). Os modelos estatísticos 
utilizam técnicas como Análise Discriminante, modelo probit ou logit para determinar a 
probabilidade de o cliente pagar ou não as suas dívidas. É possível criar um modelo simples 
sem utilização de estatística, onde a opinião dos especialistas (ou proprietários) é traduzida 
em pontos (score) e logo após estabelece um ponto de corte a partir do qual a empresa não 
mais emprestaria ou financiaria. Atribuída a letrinha de risco, obviamente que a empresa 
desejará financiar valores compatíveis com a capacidade de pagamento do cliente. Para 
aquelas empresas clientes com maior receita líquida operacional (ROL) ou Patrimônio 
Líquido (PL) serão direcionados os maiores limites de crédito. Da mesma forma, quando o 
cliente for pessoa física, procurar-se-á avaliar a expectativa de renda futura do cliente 
(quando for renda assalariada essa tarefa é mais fácil). De qualquer maneira é importante 
que se faça uma avaliação do cliente. Claro que, para pequenas vendas e para o varejo esta 
tarefa de análise deve ser rápida e automatizada para não empacar o processo. 
 
Um exemplo de modelo de score poderia ser o apresentado por Assaf e Silva (1) e que 
reproduzimos a seguir. 
 
Bloco 1: Dados Essenciais (peso 2) 
Dados essenciais 
Comprovou os dados 
Comprovou a renda 
Mais de seis meses no mesmotrabalho 
Profissão definida 
Casado 
Bloco 2: Dados Complementares 
Imóvel próprio comprovado 
Referência comercial 
Outras rendas comprovadas 
Conjuge com renda comprov. 
Mercadoria sem risco de perecibilidade 
 
 
30 
 
Prestação dentro do limite 
Desconhecido no SPC 
 
 
Bloco 2: Dados de localização 
 Endereço certo no país 
 Endereço para referencia 
 Conhece funcionário da loja 
 
 
Pontuação geral Indicação 
30 indicado para cartão de crédito 
19 a 29 aprovação normal 
13 a 18 aprovação só com entrada 
 9 a 12 aprovação só com avalista 
 6 a 8 aprovação só com entrada e aval 
Até 5 negar o crédito 
Figura 23: modelo de score determinístico 
 
Na figura 23 apresentamos um exemplo genérico de score a partir do qual poderiam ser 
agregados outros atributos para avaliação a partir da experiência dos analistas de crédito e do 
gerente da área pertinente. 
 
VII.3 Condução (monitoramento do crédito) e cobrança 
 
Quando se tem muito volume de vendas financiadas é importante monitorar a 
inadimplência e mesmo os principais clientes (maiores valores financiados). Uma empresa que 
concede elevado volume de crédito deverá manter um setor de acompanhamento e cobrança 
que pesquise algumas informações sobre os principais devedores de forma permitir uma 
tempestiva e precisa atualização do limite de crédito do cliente bem como o corte e a 
cobrança antecipada quando isso se fizer necessário. A tarefa de cobrança é muito importante 
e mostra ao devedor que a empresa está “antenada” com relação aos seus haveres. E, em 
muitos casos, uma cobrança rápida pode fazer com que a empresa credora fique bem 
posicionada em relação à uma possível fila de credores em caso de falência ou insolvência 
iminente. Algumas empresas adotam a terceirização da cobrança com o objetivo de evitar 
custos fixos com pessoal de call center e mesmo investimentos em equipamentos de 
telecomunicação. Tipicamente, quando a inadimplência está nos seus primeiros dias bastará 
uma ligação a partir de call Center para “lembrar” o cliente devedor. Muita habilidade deverá 
ser usada para não transformar um inadimplente circunstancial em inimigo da empresa 
cobradora. A partir daí seriam utilizadas estratégias de abatimentos e descontos sobre o valor 
nominal do crédito. Se estas duas fases não surtiram efeito e, se o cliente tem patrimônio 
alcançável judicialmente, pode-se ajuizar a cobrança da dívida. Entretanto, no Brasil, é preciso 
dizer que o nosso sistema jurídico não favorece muito o credor e os resultados alcançados com 
a cobrança judicial são modestos. 
 
VII.4 Análise de mudanças na política de crédito 
 
A decisão de conceder mais prazo e mais vendas a prazo aos clientes irá modificar alguns 
números da empresa. Obviamente que se não houver uma contrapartida em fonte não 
onerosa (maior prazo de fornecedores, por exemplo), a concessão de mais crédito aos clientes 
exigirá mais investimentos em capital de giro. Em compensação espera-se que a rentabilidade 
aumente em função da elevação mais do que proporcional das receitas em relação às 
despesas de provisão para crédito de liquidação duvidosa. Regra geral, os custos fixos não 
serão alterados em função de uma decisão de aumentar o volume de vendas a prazo e isto, 
 
31 
 
mantida a inadimplência sobre controle, promoverá um aumento no lucro e na rentabilidade. 
Claro que na ausência de recursos próprios, uma alavancagem das vendas a prazo por meio de 
tomada de empréstimos bancários deverá ser feita com critério face às elevadas taxas ainda 
praticadas no mercado financeiro do Brasil. 
 
 antes depois 
 Venda a vista Venda a prazo venda a vista venda a prazo 
Receitas 10.000,00 2.000,00 9.000,00 6.000,00 
 custos e despesas variáveis - 5.000,00 - 1.000,00 - 4.500,00 - 3.000,00 
 provisão para devedores duvidosos - - 60,00 - - 600,00 
 = Margem de Contribuição 5.000,00 940,00 4.500,00 2.400,00 
Custo Fixo 1.000,00 
 
 1.000,00 
 = Lucro Operacional Total 4.940,00 5.900,00 
Figura 24: analisando a decisão de aumento de vendas a prazo 
 
Note no quadro 24 que o lucro operacional total aumentou em $ 960,00, um aumento de 
19,43% sobre o lucro anterior. Isto porque a empresa resolveu investir mais vendas a prazo 
(duplicatas a receber), com um investimento incremental de $ 4.000. Vamos supor que as 
novas vendas tem prazo de dois meses contra um mês antes da decisão de aumentar as 
vendas a prazo. Logo, de maneira simplificadora, o investimento incremental em giro é igual a 
4.000 x 2 = $ 8.000. E o retorno incremental obtido foi de $ 960,00, produzindo uma 
rentabilidade de 12,00% ao ano (supondo replicado o modelo ao longo do ano). Esta taxa deve 
ser comparada com o custo de oportunidade (ou taxa mínima de atratividade) da empresa. Se 
for maior do que o custo de oportunidade a empresa deve implementar (ou continuar) o 
investimento. 
 
32 
 
VIII. Administração Financeira de Estoques 
 
Saber quanto comprar em cada lote, quando comprar e quantas vezes comprar sempre foi 
uma questão evidentemente importante. No final da década de 80 a gestão de estoques 
ganhou ainda mais notoriedade em função de as empresas japonesas adotarem a prática do 
Just in Time. Isto significa dizer que elas praticamente trabalham sem estoque e afirmam ser 
esta uma medida eficiente não só pela redução dos custos mas por permitir descortinar 
completamente o processo produtivo e, com isso, descobrir ineficiências porventura 
existentes. Os defensores da política do Just in time alegam que essa é a principal vantagem da 
medida, ou seja, não permitir que ineficiências do processo produtivo fiquem mascaradas pela 
existência de grandes estoques. 
 No Brasil já possamos por momentos especiais de elevada inflação em que se 
compensava comprar e estocar grandes quantidades de mercadorias como forma de se 
proteger da instabilidade dos preços. Outros, independentemente de inflação, baseado na 
tradição, alegam que é melhor investir em estoques do que em aplicações financeiras. Pode 
ser que em determinadas situações isto seja verdadeiro mas não no geral onde o que ocorre é 
a mensuração inadequada dos verdadeiros custos de estocagem. Cabe registrar também que a 
política de vendas do fornecedor pode influenciar a decisão sobre estoques do comprador, em 
especial, no que diz respeito à prática de descontos. 
 Vamos apresentar na seção seguinte o conceito de lote econômico de compra, um 
modelo simples para se administrar os estoques. Claro que, como todo modelo, ele exigirá a 
validade de algumas premissas. 
 
VIII.1 Lote Econômico de Compra 
 
 Segundo Assaf Neto e Silva (1), o Lote econômico de Compra (LEC) foi desenvolvido em 
1915 por F. Harris e ainda hoje é um dos modelos mais utilizados na gestão financeira de 
estoques, senão o mais utilizado. 
 
Premissas do LEC: 
 
a) Demanda constante – a empresa pode determinar a procura pelo produto e sabe-se 
que é constante por unidade de tempo (dia, quinzena, mês, etc..); 
b) Recebimento instantâneo do estoque – quando o estoque atingir o valor zero, novo 
pedido é feito. Mais à frente veremos que a coisa não é bem assim pois adotaremos 
uma margem de segurança, através

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