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Guerra do Contestado: as consequências socioambientais da falta de regulação do poder econômico

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CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470 - Km 71 - no 1.040 – Bairro Benedito – Caixa Postal 191 – 89130-000 – Indaial/SC
 Caixa Postal 191- Fone (47) 3281-9000 – Fax (47) 3281-9090 – Site: www.uniasselvi.com.br
RELATÓRIO PROJETOS DE PESQUISA – IC
Artigo 170 / SC – 2° Semestre 2015
1. TÍTULO DO PROJETO
Guerra do Contestado: as consequências socioambientais da falta de regulação do poder econômico
2. NOME DO BOLSISTA / PESQUISADOR
Maria de Fátima Venutti – Turma 0352 – Matr. 654662
3. NOME DO ORIENTADOR
Thiago Rodrigo da Silva
4. RESUMO
A Guerra do Contestado, maior Guerra Civil Camponesa brasileira, completa 100 anos de seu início e apesar do tema ter desencadeado a produção de diversos livros, artigos e pesquisas sobre, o desmatamento sofrido na região do conflito e a situação social dos grupos indígenas que conviviam com a população naquela região não possui um enfoque aprofundado, bem como a falta de políticas públicas que amparassem a população da região afetada. Neste sentido, este trabalho tem a proposta de incitar o questionamento sobre as mudanças sociais, culturais e ambientais herdadas da guerra e que transformaram as gerações dos povos daquela região, trazendo à tona o questionamento da situação social, pós-guerra, das famílias que enfrentaram e sobreviveram à Guerra do Contestado, tanto as indígenas como os caboclos e como a guerra e a implantação da ferrovia na região afetou a natureza da região desencadeando um grande processo de desmatamento e destruição de alguns dos principais meios de subsistência daquela população. A pesquisa, através de vasto material publicado nas mais diferentes mídias, procurou nortear os aspectos citados para compor um posicionamento que não fosse unilateral. Nesse contexto e, diante dos fundamentos e revelações encontrados, esta reflexão conseguiu despertar a consciência crítica, e fazer uso destes posicionamentos para transformar, desmistificando a visão histórica dos fatos e assim, perceber o que está por trás de cada ideologia e alienação.
Palavras-Chave: Araucária Angustifolia. Southern Brazil Lumber and Colonization Company. Guerra do Contestado 
5. INTRODUÇÃO (Justificativa e objetivos, em fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5. Precisa estar amparado pelos autores utilizados na pesquisa sendo devidamente referenciado).
A proposta desta pesquisa não é a de aprofundar os elementos e/ou acontecimentos históricos desencadeantes da Guerra do Contestado, ocorrida entre 1912 e 1916 na região do Rio do Peixe entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Mas sim a de utilizar-se desta ocorrência como fator observador de uma desestruturação social, política, cultural e ambiental na região do conflito até os dias atuais. Ao completar 100 anos de seu início, ironicamente vimo-nos bombardeados desde então com publicações de artigos, trabalhos científicos, monografias de conclusão de cursos, livros, vídeos, documentários, resgate de filmes sobre a guerra (alguns com mais de 30 anos de produção), enfim, uma quantidade imensa de estudiosos, mestres e doutores interessados em encontrar um ponto, um motivo, um alerta divergente entre os já estudados e comprovados ao longo deste século de tempo. No entanto, como disseram Carvalho e Nodari (2015) “Nenhum trabalho de fôlego até agora se deteu especificamente na história da empresa e no seu envolvimento com a devastação da floresta de araucária na primeira metade do século XX.”. 
Desta forma e, para melhor compreensão da proposta, iniciamos por abordar aspectos da formação da floresta de Araucária Angustifolia na região, partindo de um breve relato historiográfico sobre composição nas regiões do globo e fatores geográficos que desencadearam seu crescimento e desenvolvimento. Em seguida, buscaram-se fatores da ocupação humana na região do Contestado para que pudéssemos compreender todo o processo de configuração de habitação dos grupos que fizeram parte da região, em especial do sertanejo, seus hábitos e costumes. Na sequência, a vinda da empresa do estadunidense Percival Farquhar, a Brazil Railway Company, as questões políticas da época que favoreceram sua entrada na região e o desenvolvimento do projeto de implantação da ferrovia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (EFSPRG), bem como a instalação da Serraria Lumber e sua atuação até a década de 1970. Desta forma, propomos a reflexão para composição do cenário de nossa proposta final: situar, na realidade das cidades que hoje compõem a região do Contestado, os aspectos destes 100 anos de miséria, ignorância, falta de políticas públicas para a região e um enorme buraco na cultura daqueles que se negam a falar sobre o assunto, pois muitos tiveram a vida de seus ancestrais aniquilada pela guerra e pela ganância das empresas que aniquilaram a floresta de araucária da região.
6. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (Revisão bibliográfica do tema estudado).
 Por perspectiva teórica, o trabalho pretende realizar um estudo em História Ambiental.  Área do conhecimento que teve como pioneiro, no Brasil, o historiador José Augusto de Pádua, autor de Um Sopro de destruição: Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil (1786-1888). Tal perspectiva analítica busca pensar as alterações da relação da humanidade com o meio ambiente através dos tempos. No nosso caso, podemos observar que as causas da Guerra do Contestado se relacionam a devastação ambientação, causada pela extração da madeira na região fronteiriça dos estados de Santa Catarina e Paraná. 
 Para tanto, buscou-se em diversos trabalhos e obras publicadas estabelecer uma correlação de pensamentos e pesquisa científica que pontuasse os caminhos que desencadearam a desestruturação social, econômica e ambiental da região do Contestado. 
 Historiadores como Paulo Pinheiro Machado, com sua tese de Doutorado “Um estudo sobre as origens sociais e a formação política das lideranças sertanejas do Contestado 1912-1916”, contribuíram para o conhecimento historiográfico aprofundado sobre a formação dos grupos sociais que iniciaram o povoamento das cidades na região do conflito, principalmente no que tange à questão do coronelismo que muito corroborou para a consciência messiânica e política no período anterior ao conflito. Outro historiador que contribuiu e muito para a análise da formação de vida do sobre sertanejo, através de suas práticas e costumes, assim como de uma análise dos impactos resultantes da instalação da empresa Lumber Company foi Alexandre Assis Tomporoski com seu trabalho “Do Antes ao Depois: A influência da Lumber Company para a deflagração do movimento sertanejo do Contestado e seu impacto na região fronteiriça entre Paraná e Santa Catarina”. Assim como os de Miguel Mundstock Xavier de Carvalho, “Uma grande empresa em meio à Floresta: A história da Devastação da Floresta com Araucária e a Southern Brazil Lumber and Colonization (1870-1970)” e sua Dissertação de Mestrado em História “O desmatamento das florestas de araucária e o Médio Vale do Iguaçu: uma história de riqueza madeireira e colonizações” que trouxeram no enfoque da história da devastação da floresta um conhecimento extensivo e aprofundado sobre a ação da Lumber and Colonization e da Brazil Railway além de um conhecimento geográfico sobre as áreas de concentração da Araucária Angustifolia na região e no mundo.
 Outras contribuições, não menos importantes e que estão nas Referências deste trabalho, como Márcia Janete ESPIG e seu artigo “A construção da linha sul da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (1908-1910) mão de obra e migrações”, ou ainda Delmir José Valentini com o artigo A Atuação da Brazil Railway Company e o Desencadeamento da Guerra na Região do Contestado (1906-1916), bem como seu generoso e potencial trabalho de pós-graduação Atividades da Brazil Railway Company no sul do Brasil: a instalação da Lumber e a guerra na regiãodo Contestado (1906-1916), que muito enriqueceu essa pesquisa, trouxeram um olhar diferenciado sobre o assunto, com enfoques que instigaram a manutenção da pesquisa futuramente. 
​
7. METODOLOGIA (Descreve quais procedimentos realizados para alcançar os objetivos propostos no projeto submetido, em fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5).
 A metodologia utilizada consistiu na leitura de obras historiográficas regionais, além de trabalhos publicados de outras áreas, especialmente aqueles ligados à Biologia (Meio Ambiente) e Geografia. Procurando ater-se aos problemas sociais e ambientais ocasionados pelo desmatamento descontrolado na região, principalmente do pinheiro Araucária (Araucária angustifólia), a expulsão dos índios e caboclos que habitavam todo o espaço em que a ferrovia São Paulo-Rio Grande ocupou e tomou com o aval do governo da época, desestabilizando todo o ecossistema que funcionava perfeitamente desde muito antes do descobrimento do Brasil. Deu-se preferência à busca por teses de Doutorado, Mestrado e ou ainda de Pós Graduação, cujas fontes de pesquisa estivessem alinhadas com o tema escolhido. Algumas obras, consideradas literárias também fizeram parte de todo o processo de leitura na pesquisa, como enriquecimento do conhecimento do pesquisador sobre o tema. Porém, não foram utilizadas na composição, justamente por serem literárias e não historiográficas.
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO (Neste item deve ser apresentado os resultados preliminares da pesquisa. Sugere-se que os mesmos sejam discutidos, embasando os dados obtidos com outros autores e fazendo a devida discussão, referenciando os autores e trabalhos. Pode conter ainda tabelas, gráficos, mapas, figuras e/ou fotos necessárias a compreensão e interpretação do estudo realizado. Fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5).
8.1 PROCESSO DE FORMAÇÃO DA FLORESTA DA REGIÃO DO CONTESTADO
 A Guerra do Contestado (1912-1916), considerada por vários historiadores como a maior guerra civil brasileira, desencadeou vários processos sociais mesmo após o seu término. Desde reestruturação de grupos sociais (caboclos, índios, migrantes e imigrantes), reorganização da economia regional com ênfase ao desenvolvimento sócio-cultural e o desmatamento das florestas com araucária, processo esse que perdurou até 1970. 
 Para compreender esses processos, há a necessidade de voltarmos no tempo e entendermos historicamente a origem, o desenvolvimento de cada um desses processos na região, bem como os processos que desencadearam a formação atual e suas problemáticas sociais. Para tanto, iniciamos com o processo de existência da Araucária Angustifolia.
 Sobre a composição da floresta, na região do Contestado, Carvalho (2015) afirma que até o século XIX, as florestas com araucária ocupavam aproximadamente 200.000 km2 dos planaltos do sul do Brasil, a maioria em áreas com mais de 500m de altitude. E continua:
A presença da Araucária angustifólia, com seu tronco reto e sua copa característica em forma de guarda-chuva, sobressaindo acima da altura média da floresta, imprime uma fisionomia inconfundível a esse tipo de floresta. Além dessa, espécies como a imbuia (Ocotea porosa), a canela lageana (Ocotea pulchella), a erva-mate (Ilex paraguariensis), o butiá (Butia eriospartha), a bracatinga (Mimosa scabrella), o xaxim (Dicksonia Sellowiana) e tantas outras contribuem para a caracterização desse ecossistema.
 Assim, podemos entender que a composição da diversidade da floresta na região do Contestado alinhava-se sobremaneira às necessidades da comunidade existente. A Araucaria angustiolia faz parte da família das Araucariaceae que, por outro lado, pertencem ao grupo das coníferas e estas ao grupo das gimnospermas. (CARVALHO, 2015). A família das Araucariaceae, atualmente se divide em três gêneros: Araucaria (encontradas no Brasil, Chile, Argentina - ambos os lados da Cordilheira dos Andes, Nova Caledônia e ilhas da Oceania), Wollemia (com somente uma espécie existente na Austrália) e Agathis (existente na Indonésia, Nova Zelândia e Nova Caledonia). (CARVALHO, 2015). 
 Segundo Dutra e Stranz, apud Carvalho (2015), a história das Araucariaceae inicia após a maior das extinções presenciada pelo planeta entre as eras paleozoica e mesozoica, ou seja, há aproximadamente 251 milhões de anos. Como os continentes ainda estavam unidos, formando o supercontinente Pangea, isso explica como a família tem uma distribuição de espécies disjuntas e em áreas tão distintas. Carvalho (2015) ainda comenta que, no Brasil, a paisagem era bem diferente há 40.000 anos em comparação com a que existe hoje, com geadas frequentes e severas, impedindo o crescimento das araucárias. A partir de 1.100 é que a floresta se expande rapidamente sobre os campos adquirindo, com o tempo, a forma que existiam até o final do século XIX. (CARVALHO, 2015).
8.2 OCUPAÇÃO HUMANA NA REGIÃO
 Estudos arqueológicos recentes apontam que a ocupação humana na região iniciou-se por volta de 4.320, período de maior expansão da floresta na região. Assim, grupos humanos da tradição Taquara/ Itararé viam na floresta uma fonte abundante de alimento: os pinhões e as sementes de araucária. (CARVALHO, 2015). Cada araucária fêmea produz até 30 (trinta) cones (pinhas), com uma média de 112 (cento e doze) sementes e como existe uma variedade de pinheiro, há uma produção diversa durante o ano. Essa abundância de pinhões, consequentemente, atraía animais selvagens o que possibilitava a caça. (CARVALHO, 2015).
 Iriarte e Behling (2007), apud Carvalho (2015) traçam importantes paralelos entre a expansão da floresta com araucária no planalto e a expansão da colonização humana:
 (...) A colonização do planalto sul-brasileiro pela tradição Taquara / Itararé foi fortemente associada com a expansão marcante da floresta com araucária durante o período final do Holoceno. (...) A substituição dos campos nativos pela floresta com araucária pode ter permitido o assentamento humano mais permanente no planalto. O desenvolvimento cultural adaptado a esse novo meio ambiente é inferido baseado na proliferação das vilas de habitações (pithouse) da tradição Taquara / Itararé.
 Carvalho (2015) esclarece que a tradição Taquara / Itararé é uma definição ampla para as culturas indígenas no sul do Brasil. Itararé no Paraná e Taquara no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, caracterizada pela construção de sítios de habitação (pithouses), determinados tipos de cerâmicas e montículos. Desta forma, Carvalho (2015) nos direciona a compreender que a floresta com araucária tem um passado bastante antigo e de mudanças ambientais frequentes, sendo de suma importância para que evitar uma “visão estática do ecossistema, como se eles representassem apenas o cenário em que se desenrolou a atividade humana, já que os ecossistemas têm uma dinâmica independente.”. Assim como para evitarmos considerar a floresta com araucária anterior ao processo de desmatamento (final do século XIX) como uma floresta virgem intocada ou ainda mesmo um sertão sem história e sem transformações ao longo do tempo. (CARVALHO, 2015). 
 Tomporoski (2015) relata que a configuração da região do planalto catarinense está ligada à Estrada de Tropas, “caminho através do qual os tropeiros conduziam gado e mulas do interior do Rio Grande do Sul até São Paulo para comercialização na feira de Sorocaba.”. As cidades da região foram surgindo como pequenos locais de parada da tropa e, aos poucos, foram se transformando em vilas e cidades. Outro elemento destacado por Tomporoski (2015) que colaborou para a formação de núcleos populacionais foi “A longa disputa de limites entre os estados do Paraná e Santa Catarina, os quais, com o intuito de assegurar ao menos o controle provisório sobre a região fronteiriça, estimularam a criação de distritos e municípios.”.
 A composição dos moradoresdessas vilas e cidades era de um tipo étnico não muito preciso. O “caboclo” ou “sertanejo”, percebido pela mistura étnica entre indígenas e descendentes de lusos, porém, seu modo de vida, tradições e costumes também colaboram para essa identificação. (TOMPOROSKI, 2015). Porém, a população negra e mestiça, o tropeiro de origem paranaense ou sul rio-grandense e os significativos grupos de imigrantes que ocuparam a região no final do século XIX e início do século XX, também faziam parte da composição social. (TOMPOROSKI, 2015). 
 Machado (2015, p. 44) também confirma essa composição social e traça o desenvolvimento econômico e social da região a partir de meados do século XVIII:
Com o caminho das tropas se formou um longo curso de fazendas de invernada e criação, locais de importância fundamental ao repouso e engorde do gado extenuado pelas longas jornadas, o que acabou por transformar esta região em fronteira de expansão da pecuária paranaense e gaúcha. O planalto meridional, iniciando no Rio Grande e seguindo até a Capitania de São Paulo, era dominado pela mata de araucária e entrecortado por formações de campos naturais em Cruz Alta, Passo Fundo e Vacaria (RS), Lages, Campos Novos, Curitibanos e Estiva (Papanduva), Lapa, Castro, Palmeira e Curitiba, no Paraná. 
 Porém, segundo Machado (2015, p. 45), o número de muares que chegavam anualmente em Sorocaba (SP) cresceu até 1865 (100 mil). A partir de 1870, com o rápido crescimento da rede ferroviária, houve um decréscimo acentuado. Em 1890, por exemplo, não passou de 12 mil. O caminho das tropas favoreceu a dispersão de famílias paulistas e gaúchas por todo o planalto meridional. Com relação ao modo de vida do homem daquela região, Tomporoski (2015) relata que dependia do apossamento da terra, construindo assim seu rancho com a madeira do entorno. Criava pequenos animais, conservava uma arma para uma caçada e também proteção de suas posses e vida. A partir do mês de junho, iniciava a colheita de erva mate do erval nativo disponível e comercializava – através de troca – com os bodegueiros da localidade, até mesmo com os tropeiros que atravessavam a região. Desta forma, Tomporoski (2015) relata o modo de vida do habitante da região, totalmente dependente da agricultura, da criação de animais e da exploração das matas, através do corte da erva mate nativa ou da coleta do pinhão da (semente da araucária). Outro fato importante para Tomporoski (2015) é o uso de facões, machados e facas para o corte da erva mate, bem como à lida com o gado e à exploração da floresta. Assim, o manuseio destes instrumentos rendeu-lhe uma habilidade com armas brancas, como por exemplo, nos confrontos vencidos pelos sertanejos rebelados durante a Guerra do Contestado.
 Compreende-se que a ocupação de todo o planalto catarinense decorreu da formação inicial de bairros rurais que nada mais era do que o agrupamento de algumas ou muitas famílias, próximas ou não, e de elementos conectados à vida cultural e social, bem como o compartilhamento de momentos lúdicos e religiosos. (TOMPOROSKI, 2015, p. 72). A questão da religiosidade é outro fato análogo marcante ao trabalho coletivo e à celebração festiva desses grupos, pois, de acordo com Tomporoski (2015, p.74) “Tem um papel importante como meio de preservação da sociabilidade. No planalto contestado, desenvolvia-se um conjunto de importantes práticas socioculturais que tinham por universo o grupo rural de vizinhança.”. Religiosidade essa que explica a forte devoção ao monge José Maria e suas práticas e ideais religiosos, fomentando a sociabilidade e a união dos sertanejos, como por exemplo, a organização da “Santa Religião” e a deflagração do movimento que foi uma das causas da Guerra do Contestado (1912-1916). (TOMPOROSKI, 2015, p. 75).
 Machado (2015, p. 46) trata a questão de povoamento da região de uma forma mais acentuada a partir da segunda metade do século XVIII, onde esse processo foi paulatino, animado pela pecuária associada à pequena lavoura de subsistência. Registra ainda que se deu de duas direções: 
A primeira e mais antiga, partia dos campos de Curitiba em direção ao sul e sudoeste, consistindo na formação de currais e fazendas de criação de gado dirigidas por particulares e expedições oficiais. (...) A segunda, leva de povoamento, mais tardia, a partir do início do século XIX, partiu do Rio Grande do Sul, de localidades como Santo Antonio da Patrulha (na direção de São Joaquim), de Vacaria (na direção de São José do Cerrito e dos Baguais, hoje Campo Belo) e de Passo Fundo (na direção de Campos Novos). Das famílias provenientes do sul, havia uma espécie de prática de vaivém, uma vez que boa parte da população de vacaria e Passo Fundo era originalmente paulista.
 
 Juntamente com os tropeiros e fazendeiros que vieram do Paraná e Rio Grande do Sul, além de suas extensas famílias, trouxeram escravos, crioulos e africanos, índios e mestiços agregados. (MACHADO, 2015, p. 48). Esses “fazendeiros”, mais tarde, tornar-se-iam os coronéis das localidades povoadas e teriam, à sua mercê, uma população analfabeta, totalmente vinculada a terra e às tradições culturais religiosas, servidoras de seus patrões.
 Nem bem o período republicano chegou, na região do Contestado iniciou-se um processo de privatização dos ervais, o que veio contradizer o sistema de coleta de mate, pois proibia o acesso dos coletores ao produto. A situação dos posseiros pobres se agrava mais ainda, pois a primeira Constituição republicana (1891) tratava do assunto intensificando a apropriação das terras, mantendo artigos da Constituição anterior (1850) em que proibia a aquisição de terras devolutas por outro título que não fosse o de compra. Como os sertanejos pobres não dispunham de recursos para a compra de terras, além de serem analfabetos, muito menos tinham condições financeiras para pagar agrimensores para medirem as terras, já que teriam direito, por serem posseiros. Nessa situação, usurpadores se aproveitavam para requererem as tais terras às autoridades governamentais superiores e garantirem o pleito, tornando-se os efetivos proprietários em detrimento dos sertanejos posseiros que ali estavam. (TONON, 2015, p. 105)
Até a Proclamação da República, quando a propriedade das terras públicas pertencia ao governo imperial, o sertanejo tinha liberdade para a coleta livre do mate em terras devolutas. Na transição para o regime republicano, as terras públicas passam para os Estados e esses com governos controlados por coronéis fazem concessões das terras disponíveis para seus amigos e mandões políticos regionais. A situação se agrava para os trabalhadores dos ervais com a chegada dos imigrantes, da ferrovia rasgando o sertão e das empresas do Sindicato Farquhar na atividade de extração da madeira. A conjuntura política, econômica e social lhe era desfavorável e excludente, restando-lhe resistir e morrer, ou fugir para outros rincões, com poucas quinquilharias e muita esperança, deixando para trás o suor e lágrimas de uma trajetória repleta de luta, trabalho, sofrimento, ingratidão e injustiças. (TONON, 2015, p. 100).
8.3 A “BRAZIL RAILWAY COMPANY” E A “LUMBER AND COLONIZATION”
 Na visão de Machado (2015, p. 133), um dos elementos que contribuiu muito para a instabilidade social na região contestada, além de também no planalto catarinense, foi a instalação da ferrovia. Segundo Valentini (2010) a construção da ferrovia, na região do Contestado, marcou profundamente a História da região (antes e depois da instalação dos trilhos entre os Rios Iguaçu e Uruguai): “A ferrovia foi inaugurada em 1910 e, até então, a Região era habitada, esparsamente, pelas comunidades indígenas e pelos caboclos e mestiços pioneiros referidos anteriormente”.
 A linha entre União da Vitória e Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, concluída em 1910, e o ramal leste, que ligava União da Vitória a Rio Negro e a São Francisco, concluídoem 1913, desencadearam uma série de problemas para a região. (MACHADO, 2015, p. 133). 
A política imperial de imigração não criou dificuldades para o imigrante tornar-se proprietário na região sul, muito pelo contrário, por tratar-se de uma região altamente estratégica em termos geopolíticos, o povoamento com os imigrantes recebendo as terras para pagar em longo prazo, às vezes até com subsídios para a prática de uma agricultura de subsistência. Encontramos na História do Contestado não unicamente o estímulo e incentivo dos governos provinciais, com o objetivo de atraírem imigrantes, mas igualmente de empresas privadas. (TONON, 2015, p. 106).
 Para entendermos a necessidade da construção da ferrovia, retomamos ao período Imperial. Espig (2015, p. 852), relata que no fim do Império brasileiro, o Decreto nº 10.432 de nove de novembro de 1889 aprovava a construção de um “caminho de ferro” que faria a ligação de São Paulo ao sul do Brasil, denominada Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (EFSPRG). O Decreto previa uma garantia de juros de 6% durante 30 anos sobre o valor necessário para a construção da linha principal, assim como cedia gratuitamente terras devolutas que se encontrariam ao longo das linhas, totalizando 30 km para cada lado. Outra questão importante foi elencada nas mais de 50(cinquenta) cláusulas do documento: a organização da colonização nas terras servidas pela linha férrea. Segundo Espig (2015, p. 853), a Companhia responsável pela construção estabeleceria nas terras demarcadas até 10 mil famílias de agricultores nacionais e estrangeiros em um prazo máximo de 15 (quinze) anos.
Cada família teria direito a um lote de terras de dez hectares e uma casa construída. Enquanto tivessem seu sustento provido pela Estrada de Ferro, os colonos trabalhariam 15 dias por mês em seus lotes e os demais dias para a Companhia, mediante um salário acordado entre as partes. (...) O governo estabelecia também que 15% das famílias poderiam ser nacionais; as outras seriam compostas de imigrantes europeus ou das possessões portuguesas e espanholas que chegassem ao país por conta própria ou por conta do governo. (ESPIG, 2015, p. 853). 
 Valentini (2010) ainda afirma que, sobre o assunto, é necessário frisar que a chegada da Brazil Railway Co. provocou mudanças agudas no âmago da cultura dos caboclos que viviam nas denominadas terras devolutas e que “o assalto à floresta primitiva resultou na súbita e na decisiva destruição das matas”. Quanto aos moradores, ainda destaca que “a incapacidade dos caboclos pioneiros, dedicados à subsistência, de transformar seus direitos de ocupantes em títulos de propriedade (...) fez com que continuassem abandonados, justamente aqueles que eram capazes de conviver com a floresta, sem destruí-la”. (VALENTINI, 2010)
 
 Em 1899, o primeiro trecho, entre Ponta Grossa e Rebouças foi concluído e somente em 1909, a empresa Brazil Railway Company, do estadunidense Percival Farquhar (1864 – 1953), adquiriu ações da EFSPRG e assumiu o controle da diretoria. (ESPIG, p. 858). 
FIGURA 1: Mapa da Ferrovia São Paulo- Rio Grande
Fonte: KAMP (2009, p. 115)
 O conceito de construção de estradas de Percival Farquhar, segundo Kamp (2009, p. 115), mesmo avançado para a sua época, ainda é utilizado até hoje. “O aproveitamento das margens das ferrovias para desenvolver a região e, automaticamente, aumentar o transporte de carga e de passageiros.”. Quando comprou a EFSPRG, a Brazil Railway Co. recebeu também a propriedade de 15.894 km2 de terras que ficavam a 15 km de cada lado da linha férrea a ser construída, equivalente a 656.776 alqueires, terras estas cobertas por uma floresta de araucárias. A chegada da empresa de Farquhar criaria conflitos sociais, pois além dos trilhos e dormentes, a empresa trouxe oito mil trabalhadores, sendo cerca de mil os responsáveis pela instalação e operação de duas ferrovias (uma delas, a maior da América Latina). (KAMP, 2009, p. 115). 
Expulsos de suas terras, os posseiros, cuja existência havia sido ignorada – perderam de uma só vez teto e sustento. Toda árvore pertencia à estrada de ferro, todos os lotes transformaram-se em colônias para operários. Uma situação tensa que piorou quando as obras terminaram e, contrariando o compromisso assumido, a Brazil Railway Co. não providenciou o transporte de volta dos milhares de homens contratados em várias partes do Brasil e mesmo no exterior. A fome e o desespero dos sem-teto somada à desconfiança e à intolerância dos proprietários rurais desencadearam a violência, (KAMP, 2009, p. 116).
 Segundo Thomé (1983) apud Carvalho e Nodari (2015), a empresa de Percival Farquhar possuía capital em vários países do mundo, incluindo na América Latina. No Brasil, “Atuava em várias regiões e em diversos ramos de atividade com o estabelecimento de empresas de fornecimento e distribuição de energia, de navegação, de construção de portos, colonização, frigoríficos, inúmeras ferrovias e outras.”. Para ter-se uma ideia do poderio da Brazil Railway, em terras brasileiras, a empresa de Farquhar chegou a adquirir 250.000 km² no Brasil, ou seja, 2,93% de território (THOMÉ, 1983, apud CARVALHO e NODARI, 2015).
 
Em maio de 1909, segundo Valentini (2010), o governo brasileiro assinou um decreto concedendo autorização para a empresa Southerm Brazil Lumber Company funcionar no país. A Lumber, como vamos nos referir, fazia parte do grupo empresarial de Percival Fasquhar e, como madeireira, seria instalada no centro de um vastíssimo pinheiral, na margem esquerda do Rio Negro, entre os Rios São João e Canoinhas. Começou a ser construída em 1909 e concluída no final de 1911. Mas além da madeireira, Valentini (2010) coloca a questão da colonização como uma das grandes preocupações do governo, na época. Tanto que as empresas do grupo de Faquhar começaram a estabelecer imigrantes poloneses nas diversas colônias à margem das linhas da São Paulo-Rio Grande para também trabalharem na madeireira. A capacidade da madeireira, na época era absurda. Chegava a serrar 200.000 pés de madeira por dia e foi considerada a segunda maior madeireira do mundo.
A companhia do Grupo Farquhar iniciou a colonização com imigrantes poloneses, ucranianos e, mais tarde, em todo o Vale do Rio do Peixe, foram chegando italianos, alemães e outras nacionalidades. O governo queria introduzir os imigrantes na região, mas somente dos que se propunham a ficar em definitivo no país. (VALENTINI, 2010). Um dado significativo em toda essa pesquisa é de que estimativas demonstram, conforme Valentini (2010) também aponta de que a Lumber cortou e beneficiou milhões de árvores de araucária durante os anos de 1911 a 1940, na região do Contestado. Porém, em 1914, com a Primeira Guerra Mundial, o império de Percival Farquhar começou a desabar e administradores designados tomaram as rédeas de seu império.
Ligada ao processo de industrialização e urbanização brasileira, a demanda por madeira exerceu forte pressão sobre a Floresta Ombrófila Mista (KLEIN, 1984 apud VALENTINI, 2015) e grande parte desta fabulosa riqueza natural foi destinada aos incipientes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. No plano externo, o mercado da madeira se expandiu com as exportações, principalmente pelos portos de São Francisco e Paranaguá, de onde o pinho retirado desta Região ganhava os mercados mundiais. (VALENTINI, 2015)
 Valentini (2015) destaca que o aproveitamento comercial da madeira que era retirada da floresta estava intrinsicamente ligado às pressões dos desmatamentos que intencionavam abrir áreas agrícolas e formar as pastagens para o gado. Era comum ara as empresas colonizadoras a venda das terras para garantirem a reserva de madeira sobre a terra, já que o colono queria uma terra sem mata para arar, cultivar sua lavoura e criar seus animais. O sul do Brasil possuía uma área de mais de 200.000 km2 coberta de araucárias no iníciodo século XX. Hoje, nessa mesma região, há apenas 3% da cobertura original, o que comprova o desaparecimento de uma vasta floresta. (VALENTINI, 2015).
Em toda a história da Lumber, podemos destacar a presença de grande número de trabalhadores, principalmente imigrantes ou descendentes destes e as profundas mudanças causadas pela presença do capital internacional na Região. Em 1912, trabalhavam 400 homens na madeireira de Três Barras, aumentando para 655 em 1915. Existem registros que confirmam que a serraria de Três Barras ficou parada entre agosto de 1914 e junho de 1915. A crise foi contornada com grandes vendas para a Argentina, no ano de 1916. (DIACON, 2002, p. 51 apud VALENTINI, 2015).
 A Lumber explorava comercialmente não somente a madeira araucária, mas também a imbuia, o cedro e a canela em uma escala bem menor. Na década de 1910, a empresa adquiriu uma série de glebas na região do Contestado, terras que tinham sido legitimadas junto ao governo do Paraná. (CARVALHO e NODARI, 2015). De acordo com Thomé (1983) apud Carvalho e Nodari (2015), 
Até 1913, a recém-criada empresa já havia adquirido cerca de 3.248 km² (ou 324.800 hectares) de terras nas regiões marginais a ferrovia a preços bem compensadores em vista do futuro empreendimento. Desse total, 1.800 km² (180.000 hectares) se localizavam na região do atual município de Três Barras (SC), onde instalou “o maior complexo industrial de exploração madeireira da América do Sul, nunca igualado em toda a história, com equipamento trazido diretamente da Europa e dos Estados Unidos, e importando a tecnologia canadense.”. 
 Foram adquiridos cerca de 517 km² (51.700 hectares) na região da estação ferroviária de Calmon, terras estas que após o acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina passaram a pertencer ao município de Porto União (SC). Foi nessa localidade que a Lumber  construiu outra serraria que se destinava a serrar madeira para exportação e também para fornecer dormentes e madeira serrada para as instalações da ferrovia em construção. (CARVALHO e NODARI, 2015). De acordo com Gauld apud Carvalho e Nodari (2015) “Essa serraria tinha uma capacidade de produção cerca de dez vezes menor que a serraria de Três Barras. A serraria junto à estação de Calmon é frequentemente lembrada nos livros de história por ter sido incendiada pelos rebeldes em 1914.”. 
 Valentini (2015) relata que houve uma preocupação com a retirada das araucárias de forma indiscriminada e que isso só desenvolveu-se após a nacionalização da Lumber. Uma portaria assinada em 01 de fevereiro de 1940 intencionava organizar um serviço administrativo geral para a comercialização do pinho brasileiro. Regras foram estabelecidas e limitou-se a quantidade de pinheiro para ser retirada e comercializada. No ano seguinte, criou-se o Instituto Nacional do Pinho. Mas somente em 1946, através do Decreto-Lei, Número 9647, de 22 de agosto, a situação ficou mais organizada, pois o governo brasileiro adotou normas proibitivas para a exportação de madeira bruta ou industrializada em totó território nacional. Valentini (2015) destaca que em período recente da história da Floresta Ombrófila Mista, em 1966 iniciou-se um programa de incentivos fiscais ao reflorestamento com espécies exóticas do gênero “Pinus”. Em 1967, cria-se o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) que substituiu o INP (Instituto Nacional do Pinho). 
Um desastre ecológico, o fim de um ecossistema que tinha como fundamento a gigante árvore de pinhas, com sementes nutritivas, para a fauna, índios e caboclos? O progresso que chegou com os trilhos da ferrovia São Paulo - Rio Grande? A colonização que depositou nesta terra sementes diferentes e braços europeus para o seu cultivo? Substituição da floresta preta de pinheiros pelo deserto verde do pinus illiotis, efêmera floresta lucrativa?. (VALENTINI, 2015).
 Tabela 1 – Exportação de Pinho (1911- 1967)
	Anos
	Toneladas
	1911
	4.4.73612
	1912
	3.736
	1913
	11.932
	1914
	5.809
	1915
	30.719
	1916
	71.126
	1917
	45.713
	1918
	152.021
	1919
	71.621
	1920
	84.885
	Década de 1910
	481.974
	1921
	72.036
	1922
	100.774
	1923
	143.243
	1924
	112.907
	1925
	95.844
	1926
	79.939
	1927
	88.791
	Década de 1920
	950.296
	1937
	205.262.
	Década de 1930
	1.594.194
	1947
	476.412
	Década de 1940
	3.766.140
	1957
	769.417
	1967
	1.053.900
 Fonte: Carvalho (2015, p. 62)
 O quadro acima demonstra um grandioso salto na produção madeireira a partir de 1915. Em 1910, por exemplo, o aumento na produção dá-se por vários fatores como, por exemplo, o avanço da colonização europeia para as várias regiões do oeste de Santa Catarina e do Paraná. Esses imigrantes desmataram, por onde se estabeleceram uma vasta área para o cultivo da lavoura e produzir pastagens. (CARVALHO, 2015, p. 63).
 Thomé (1983) apud Carvalho e Nodari (2015) relata que, em 1940, terminado o prazo dado pelo governo (ainda em 1890) de 50(cinquenta) anos de colonização e exploração das terras concedidas, o governo de Getúlio Vargas estatiza todos os bens da Lumber, bem como das outras empresas de Percival Farquhar. Assim, o governo continuou administrando a Lumber até desativá-la em definitivo alguns anos mais tarde. As terras e equipamentos da empresa foram vendidos a particulares, mas uma área de 2.000 (dois mil) hectares, da serraria de Três Barras, passou a ser controlada pelo exército brasileiro. (THOMÉ, 1983, apud CARVALHO e NODARI, 2015).
8.4 A REGIÃO DO CONTESTADO ATUALMENTE
 Correia e Guedes (2015, p. 77) apontam que a Guerra do Contestado “Deixou suas marcas não somente na paisagem, mas também no que diz respeito aos aspectos socioeconômicos de algumas cidades dos Estados de Santa Catarina e do Paraná.”. Cidades que participaram do conflito, como Matos Costa-SC, Santa Cecília – SC, Três Barras – SC, Calmon – SC, General Carneiro – PR, União da Vitória – PR, e outras, são hoje caracterizadas como subdesenvolvidas social e economicamente, comparadas às demais de seu Estado.
(...) a região da Guerra do Contestado, nos dois estados, se caracteriza como pobre, social e infra estruturalmente, porém do lado catarinense há um número maior de cidades desenvolvidas, com razoável parque industrial e geração de emprego, inclusive com uma população relativamente maior. (FRAGA, 2010, p. 154).
 Assim como Fraga (2010, p.154), Correia e Guedes (2015, p.77) concordam com outros historiadores que consideram como uma herança do período da Guerra do Contestado a situação atual de pobreza das cidades que fizeram parte do conflito. Coincidência ou não, estas são as que se encontram atualmente nas condições mais pobres, que se desenvolveram por meio de ligações diretas ou indiretas aos conflitos. 
 Para percebermos as consequências sociais e ambientais do evento da Guerra do Contestado na região, o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), avaliado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2013, vem confirmar a discussão de muitos historiadores sobre a situação de algumas cidades da região:
 TABELA 2 – IDHM (ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL) 
	Cidade
	IDHM
	Canoinhas
	0,757
	Três Barras
	0,706
	Lebon Regis
	0,649
	Timbó Grande
	0,659
	Irani
	0,742
	Taquaruçu
	0,721
	Calmon
	0,622
	Matos Costa
	0,657
	Porto União 
	0,786
	Joaçaba
	0,827
	Caçador
	0,735
	Videira
	0,764
 FONTE: IBGE (2015)
Se a ferrovia e o aparecimento dos caminhões (principalmente a partir da década de 1930) permitiram o desenvolvimento da indústria madeireira sulina, incluindo aí a Lumber, é preciso mencionar também que a capacidade limitada da quantidadede vagões que a empresa ferroviária fornecia, assim como as péssimas estradas de rodagem, tiveram um aspecto positivo, pois colocaram um freio ao ritmo do desmatamento, que poderia ter sido ainda mais intenso. Além do mais, se o ramal de São Francisco tivesse alcançado Foz do Iguaçu, margeando o curso desse mesmo rio,  como se planejava inicialmente, as florestas de araucária do sudoeste do Paraná teriam se esgotado muito mais rapidamente, e talvez não existissem os remanescentes significativos que ainda persistem naquela região. (THOMÉ, 1983, apud CARVALHO e NODARI, 2015).
 As florestas de araucária se esgotaram por volta da década de 1970. A partir daí, a indústria madeireira passou a realizar plantios de espécies exóticas de rápido crescimento para garantir a continuidade da atividade. (CARVALHO, 2015).
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS (O bolsista / pesquisador brevemente descreve as principais considerações da fase atual do projeto, e ainda, se os objetivos estão sendo alcançados, ou qualquer problema que esteja dificultando o andamento da pesquisa, em fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5).
A região do Contestado, mesmo antes dos conflitos deflagrados pela guerra, vivia um descaso total por parte do Governo e dos estados do Paraná e Santa Catarina já que, devido à sua própria formação habitacional, desenvolveu, a seu modo, uma maneira própria de viver, tendo a floresta como principal meio de subsistência. A população cabocla que ali vivia, desconhecia o jogo político que ia se formando em torno de si, não tendo a mínima consciência da passagem do período monárquico para o período republicano e o quanto isso poderia afetar suas vidas futuras. Esses “inocentes” não imaginavam o poder da ganância do Homem e de que seriam abandonados à própria sorte. Para o governo, havia somente o interesse no desenvolvimento e no progresso de uma região que nem mesmo ele conhecia. Para tanto, desbravar aquela região era a única forma conhecida e a ferrovia, acreditava, era uma forma progressista de atender os seus interesses, não importando as consequências desse método. O importante era atingir seus objetivos: levar o progresso com da máquina, mesmo que custasse aniquilar cultura, terras, famílias. Se refletirmos nos dias atuais, quase nada mudou desse pensamento político, haja vista os projetos em execução de hidrelétricas e de desvio do rio São Francisco, no nordeste do país. 
Constata-se na pesquisa, em vários autores (sejam historiadores ou acadêmicos e pesquisadores) a certificação de um jogo de interesses comerciais do governo brasileiro deste a época da monarquia assim como do grupo de empresas de Percival Farquhar. Estratégias de lucros sempre “amarrados” a outras estratégias de outras empresas do grupo. E a rede ferroviária que na época foi uma das grandes (senão a principal, para alguns historiadores) geradoras do conflito, deu lugar à malha rodoviária. Atualmente, segundo a América Latina Logística (2014), a Estrada de Ferro São Paulo- Rio Grande (EFSPRG) é administrada pela ALL – América Latina Logística- empresa de logística que opera tanto em linhas ferroviárias (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul) como rodoviárias desde 1997, por concessão dada pelo governo federal. 
 Através deste estudo percebemos que fica ainda mais óbvio o descaso dado pelo governo aos grupos indígenas da região, aos caboclos e principalmente à mata nativa que foi absurdamente disseminada pela ganância da empresa Lumber e pelas demais do grupo de Percival Farquhar. O governo precisou de 57 (cinquenta e sete) anos após o início da devastação da floresta para conscientizar-se de sua importância e criar, em 1967, o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) que substituiu o INP (Instituto Nacional do Pinho). Ou seja, quando já não se tinha mais o que destruir, o que sugar da região em benefício do mercado estrangeiro, resolveu preservar. Só não tinha a noção de que era tarde demais e que o a natureza demorou milhões de anos para construir, a ganância do homem destruiu em 60 (sessenta) anos, já que em 1970, conforme Carvalho (2015) afirmou, a florestava estava esgotada. Hoje, restam árvores exóticas de pinus, que de certa forma contribuem para a sustentação econômica de alguns municípios da região do Contestado.
Porém, o que mais nos impressionou foi constatar que em algumas cidades que participaram do conflito, como Calmon, Lebon Régis, Timbó Grande e outras, o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) chega a ser o menor do país, pois a mesma falta de políticas públicas do início do século XX continua nos dias de hoje. Talvez, a construção da ferrovia não fosse um erro, mas poderia ter estado nas mãos de uma empresa que realmente estivesse preocupada com o desenvolvimento da região e não que a explorasse e excluísse grupos sociais existentes muito antes do descobrimento do Brasil e aniquilasse uma floresta que foi a base da formação habitacional da região.
10. CONSIDERAÇÕES DO BOLSISTA / PESQUISADOR (O bolsista descreve aqui de que forma a realização deste projeto de pesquisa contribuiu / contribui para sua formação profissional e a interdisciplinaridade ao longo das atividades do curso de graduação, em Times
 A proposta inicial de pesquisa estava focada na questão ambiental da região, de que forma a devastação da floresta de Araucária angustifólia interferiu e ainda interfere na sociedade das cidades que participaram da Guerra do Contestado (1912-1916). Porém, a pesquisa de material historiográfico, além de proporcionar o enriquecimento do conhecimento anterior sobre a Guerra do Contestado (1912-1916) e todo o seu contexto político, econômico e social, trouxe à tona o estudo da História Ambiental como fator preponderante na consciência crítica e política do processo de formação de novos grupos sociais na região: os descendentes das famílias que participaram do evento da guerra. Descendentes estes que se encontram hoje em um paradoxo de sua própria história. Enquanto em algumas cidades da região do Contestado há um “esquecimento” proposital sobre a ocorrência da guerra e seus reflexos sociais, em outras a utilização da memória da guerra se faz presente como subterfúgio econômico, com a existência de Museus e espaços físicos que mantém viva a história destes povos.
 Apesar da quantidade de material historiográfico encontrado (teses, literatura, artigos) que versa sobre a Guerra do Contestado, poucos tinham o enfoque da questão ambiental, o que confirma a necessidade iminente do aprofundamento de pesquisas nesse tema e um estudo aprofundado sobre a intercorrência da inexistência da floresta de araucária na vida das populações futuras. 
 A situação atual da população de algumas cidades, demonstrado através do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) é preocupante e mais uma vez a questão da existência de políticas públicas voltadas para a melhoria das condições de vida da população destas localidades se faz necessária. 
 Outro fator observado no decorrer da pesquisa foi a falta de utilização da História Regional nos currículos escolares, tanto de instituições de Santa Catarina quanto do Paraná, estados que fizeram parte do conflito. O historiador Nilson César Fraga realiza um trabalho de conscientização do poder público da importância da implantação do conhecimento sobre a ocorrência da Guerra do Contestado nos currículos escolares. Em entrevistas e palestras dadas pelo historiador, disponibilizadas e assistidas pela internet, observa-se seu empenho na luta para que a História Regional seja trabalhada em sala de aula.
 Finalizando, a pesquisa trouxe uma necessidade de continuidade de estudos sobre o tema, porém, trabalhar áreas específicas nessa questão ambiental talvez seja um caminho que possa ser melhor aprofundado, já que essa área, no evento da Guerra do Contestado, ainda não é muito explorada.
11. REFERÊNCIAS:(Todos os autores citados ao longo do texto devem OBRIGATORIAMENTE estarem referenciados nesta seção, em fonte Times New Roman 12, espaçamento 1,5). O formato das citações ao longo do texto e nas referências seguem o padrão da ABNT. Consultar o caderno de estudos de metodologia científica para exemplos.
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Obs.: Qualquer dúvida e/ou questionamento poderá ser sanada pelo Núcleo de Iniciação Científica (NUIC) da UNIASSELVI / NEAD, aos cuidados do Prof. Luis Augusto Ebert. E-mail: luis.ebert@uniasselvi.com.br
Local e data: Blumenau, 20/11/2015
______________________________________
Assinatura do (a)Bolsista / Pesquisador (a)
______________________________________________
Assinatura do (a) Orientador (a)
Observações:
Nesta folha final, o bolsista deverá preencher: local, data e assinar. Depois deve escanear e enviar no email de seu orientador junto com o trabalho final.

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