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Prof. Diogo Frantz Mestre em Direito Pós-graduando em Direito Tributário Email: diogo@piresefrantz.com.br DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Introdução Na visão ocidental de democracia, governo pelo povo e limitação de poder estão indissoluvelmente combinados. O povo escolhe seus representantes, que, agindo como mandatários, decidem os destinos da nação. O poder delegado pelo povo a seus representantes, porém, não é absoluto, conhecendo várias limitações, inclusive com a previsão de direitos e garantias individuais e coletivas, do cidadão relativamente aos demais cidadãos e ao próprio Estado. Assim, os direitos fundamentais cumprem, no dizer de Canotilho, "a função de direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva: 1) constituem, num plano jurídico- objetivo, normas de competência negativa para os poderes públicos, proibindo fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica individual; 2) implicam, num plano jurídico-subjetivo, o poder de exercer positivamente direitos fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes públicos, de forma a evitar agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa)”. Função dos Direitos Fundamentais Os direitos fundamentais são uma categoria jurídica instituída com a finalidade de proteger a dignidade humana em todas as dimensões. Formam uma classe de direitos, uma categoria jurídica, de modo que todos os direitos que recebem o adjetivo de fundamental possuem características comuns entre si e peculiaridades individualizadoras que forjam traços diferenciais das demais categorias jurídicas. Direitos Fundamentais Historicidade Os direitos fundamentais possuem caráter histórico. Nasceram com o cristianismo, embora depois desse período, a discussão sobre direitos humanos tenha ficado esquecida, vindo a ser despertada com o advento das declarações de direitos humanos, chegando aos dias atuais. Características Universalidade Os direitos fundamentais, por natureza, são destinados a todos os seres humanos, pois são uma preocupação generalizada da raça humana. Logo, é impensável a existência de direitos fundamentais circunscritos a uma classe, estamento ou categoria de pessoas. Características Limitabilidade Os direitos fundamentais não são absolutos (relatividade). Dois direitos fundamentais podem colidir, quando um invade o âmbito de proteção de outro. A convivência dos direitos em colisão exige um regime de cedência recíproca. A solução pode vir discriminada na própria Constituição, ou caberá ao intérprete, ou magistrado decidir qual direito deverá prevalecer. Características Para isso, deve utilizar-se do princípio da concordância prática ou da harmonização de forma a coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada qual (contradição dos princípios), sempre em busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto constitucional com sua finalidade precípua. Exemplo: direito de propriedade x desapropriação. Concorrência Os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, concorrendo (ocorrendo) ao mesmo tempo em um caso concreto. Exemplo: jornalista que, após transmitir a informação, faz uma crítica, exercendo concorrentemente (concomitantemente) direitos de informação, opinião e comunicação. Esse instituto recebe a denominação de concorrência de direitos fundamentais. Características Irrenunciabilidade Os direitos fundamentais são irrenunciáveis. Os indivíduos não podem deles dispor. O que pode ocorrer é o não-exercício, mas não a renúncia. Exemplo: aposentadoria; voto facultativo. Características Imprescritibilidade Os direitos fundamentais não se perdem pelo decurso do prazo, podendo ser exercidos/reclamados a qualquer tempo durante a vida e até após a morte do indivíduo. Inalienabilidade Não há possibilidade de transferência dos direitos fundamentais. Por serem conferidos a todos, são indisponíveis, não podendo aliená-los por não terem conteúdo econômico-patrimonial. Exemplo: direito autoral (patente). Características Inviolabilidade Não podem ser violados (desrespeitados) por legislação infraconstitucional ou por atos das autoridades públicas. Efetividade O Poder Público deve atuar para garantir a efetivação dos direitos fundamentais. Características Interdependência Embora as determinações constitucionais sejam autônomas, possuem diversas interligações para atingirem suas finalidades (mesmo porque o direito é um sistema). Vejam-se as ramificações do direito à liberdade de locomoção, que está intimamente ligada à garantia do habeas corpus, bem como à previsão de prisão, somente por flagrante delito ou por ordem da autoridade judicial. Características Complementariedade Os direitos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador constituinte. Características Em regra, as normas definidoras dos direitos fundamentais democráticos e individuais são de eficácia e aplicabilidade imediata. A própria Constituição Federal, em uma norma-síntese, determina tal fato dizendo que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Essa declaração pura e simplesmente não bastaria se outros mecanismos não fossem previstos para torná-la eficiente (exemplo: mandado de injunção e iniciativa popular). Aplicabilidade Essa regra, naturalmente, comporta exceções trazidas pelo constituinte originário . Exemplo: Art 5º, XIII – “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Aplicabilidade O art. 5.° da Constituição Federal estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade., nos termos dos seus 78 incisos e parágrafos. Trata-se de um rol meramente exemplificativo, na medida em que os direitos e garantias expressos na CF não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que o República Federativa do Brasil faça parte (Art. 5º, § 2º). Abrangência O art. 5.° da Constituição Federal afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Destinatários Observe-se, porém, que a expressão residentes no Brasil deve ser interpretada no sentido de que a Carta Federal assegura ao estrangeiro todos os direitos e garantias mesmo que não possua domicílio no País, só podendo porém assegurar a validade e gozo dos direitos fundamentais dentro do território brasileiro, não excluindo, pois, o estrangeiro em trânsito pelo território nacional, que possui igualmente acesso às ações, como o mandado de segurança e demais remédios constitucionais. Igualmente, as pessoas jurídicas são beneficiárias dos direitos e garantias individuais, pois reconhece-se às associações o direito à existência, o que de nada adiantaria se fosse possível excluí-las de todos os seus demais direitos.Destinatários O caput do Art 5º, faz referencia expressa somente a brasileiros e estrangeiros residentes no País. Contudo a doutrina e o STF vêm acrescentando aos destinatários expressos, através da interpretação sistemática, os estrangeiros não-residentes (por exemplo, os turistas), os apátridas e as pessoas jurídicas. Destinatários Classificação Legal Classificação dos direitos fundamentais Direitos e Garantias Fundamentais Direitos e Garantias Individuais e Coletivos (Art.5º) Direitos Sociais (Art.6º a 11) Direitos de Nacionalidade (Art. 12) Direitos Políticos (Art.14) Direitos de Criação, Organização e Participação em Partidos Políticos (Art.17) Tradicionalmente, os direitos fundamentais são classificados em dimensões (ou gerações), levando-se em conta o momento de seu surgimento e reconhecimento pelos ordenamentos constitucionais. Classificação dos direitos fundamentais 3ª DIMENSÃO 1ª DIMENSÃO 4ª DIMENSÃO 2ª DIMENSÃO Como destaca Celso de Mello, "enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) - que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade". Classificação dos direitos fundamentais Direitos fundamentais de primeira dimensão São os direitos e garantias individuais e políticos clássicos (liberdades públicas), surgidos institucionalmente a partir da Magna Carta. Dizem respeito às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direito civis e políticos a traduzirem o valor da liberdade. Classificação dos direitos fundamentais Direitos fundamentais de segunda dimensão O momento histórico que os inspira e impulsiona é a Revolução Industrial europeia, a partir do século XIX. Nesse sentido, em decorrência das péssimas situações e condições de trabalho, eclodem movimentos como o cartista – Inglaterra e a Comuna de Paris (1848), na busca de reivindicações trabalhistas e normas de assistência social. Classificação dos direitos fundamentais O inicio do século XX é marcado pela primeira grande guerra e pela fixação de direitos sociais. Isso fica evidenciado, dentro outros documentos, pela Constituição Weimar, de 1919 (Alemanha), e pelo Tratado Versalhes, 1919 (OIT). Portanto os direitos humanos ditos da 2ª dimensão privilegiam os direitos sociais coletivos, culturais e econômicos, correspondendo aos direitos de igualdade. Classificação dos direitos fundamentais Direitos fundamentais de terceira dimensão Por fim, modernamente, protege-se, constitucionalmente, como direitos de terceira geração os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, a paz, a autodeterminação dos povos e a outros direitos difusos como o direito consumeiro, que são, no dizer de José Marcelo Vigliar, os interesses de grupos menos determinados de pessoas, sendo que entre elas não há vínculo jurídico ou fático muito preciso. Classificação dos direitos fundamentais Direitos fundamentais de quarta dimensão Segundo Norberto BOBBIO, esses direitos decorreriam da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência humana, através da manipulação do patrimônio genético. Nas palavras do autor “...já se apresentam novas exigências que só poderiam chamar-se de direitos de quarta dimensão, referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica que permitirá manipulações do patrimônio genético de cada indivíduo”. Exemplo: Bioética/Biodireito (Art. 225, §1º, II) Classificação dos direitos fundamentais Existiria um direito de quinta dimensão? Há ainda a discussão acerca dessa nova dimensão, que envolveria os direitos relacionados à informática. Conforme Sarlet (2002, p. 53) a classificação de quarta e quinta dimensão é desnecessária, porque a quarta trata sobre a bioética e, "bio " significa vida e entraria na primeira dimensão de direitos enquanto a quinta trata a respeito da cibernética e informação e entraria na terceira dimensão de direitos. Classificação dos direitos fundamentais Direitos e garantias fundamentais não são expressões sinônimas. Direito - norma de conteúdo declaratório, portanto, são normas que declaram a existência de um interesse, de uma vantagem. Ex: direito à vida, à propriedade etc. Garantia - instrumento de conteúdo assecuratório, que serve para assegurar o direito declarado. Ex: Habeas Corpus que serve para tutelar o direito de liberdade. Direitos x Garantias Para Canotilho, as garantias são também direitos, embora seu grande caráter instrumental de proteção dos direitos. As garantias traduzem-se quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a proteção dos seus direitos, quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade (exemplo: direito de acesso aos tribunais para defesa dos direitos, princípios do nullum crimen sine lege e nulla poena sine crimen, direito de habeas corpus, princípio do non bis in idem). Direitos x Garantias DIREITOS GARANTIAS Representam por si só certos bens Destinam-se a assegurar a fruição dos direitos Permitem a realização das pessoas e inserem-se direta e imediatamente Se projetam pelo nexo que possuem com os direitos São principais São acessórias Declaram Estabelecem Direitos x Garantias QUADRO RESUMO (Jorge Miranda) São direitos fundamentais do homem-indivíduo, que reconhecem autonomia aos particulares garantidos a iniciativa e independência aos indivíduos perante aos demais membros da sociedade política e do próprio Estado. Exemplo: liberdade, propriedade. Direitos Individuais São os direitos inerentes ao grupo/coletividade. Ex: os direitos: à terra urbana e rural, ao transporte coletivo, ao saneamento básico, ao meio ambiente sadio, à greve. Direitos Coletivos
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