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CAUSA DE PEDIR CONCEITO Marcus Vinícius Rios Gonçalves ( Novo curso de Direito Processual Civil, v. 1 ed. Saraiva) Consiste nos fundamentos de fato e de direito que embasam o pedido. Aquele que ingressa em juízo deve expor ao juiz os fatos que justificam o seu pleito e indicar de que maneira o ordenamento jurídico regula aquele tipo de situação. Luiz Guilherme MARINONI- (Curso de Processo Civil – Processo de conhecimento, vol.II.). Causa de pedir, são as razões fáticas e jurídicas que justificam o pedido. O autor deve narrar o fato e apresentar o seu nexo com um efeito jurídico. O autor narra o fato que constitui o direito por ele afirmado. Cândido Rangel Dinamarco ( Instituições do Direito Processual Civil) -A doutrina brasileira costuma distinguir causa de pedir próxima e remota: • CAUSA PRÓXIMA: fundamentos jurídicos da demanda • CAUSA REMOTA: fatos alegados. Marcus Vinícius Gonçalves fala da divergência quanto a terminologia. Diz que parte da doutrina chama os fatos de causa de pedir próxima e os fundamentos jurídicos de causa remota.( Moacyr A Santos) e outra parte usa essa nomenclatura invertida ( Vicente Greco Filho , Arakem de Assis e Sergio Gilberto Porto). Dinamarco afirma que para que seja necessária a tutela jurisdicional é indispensável que o direito alegado pelo autor esteja em crise. Sem uma CRISE DE CERTEZA, de INADIMPLEMENTO OU DE ALGUMA SITUAÇÃO JURÍDICA sequer se justificaria a intromissão dos agentes do Poder Judiciário. A conseqüência é que a demanda deve necessariamente: • Individualizar fatos, • Propor seu enquadramento jurídico para a demonstração do direito alegado, • Descrever, também, os fatos caracterizadores da crise jurídica lamentada. EX: Ação possessória: • O autor alega os fatos dos quais decorre seu direito a possuir o bem, • As razões jurídicas por que tem esse direito e mais, • Os fatos imputados ao réu, caracterizadores do esbulho, da turbação ou da ameaça que vem a juízo lamentar. ASSIM, para o autor: “[...] narrar fatos significa descreve-los como faz um historiador. Descrevem-se os acontecimentos em si mesmos, em sua autoria e em suas circunstâncias de modo, lugar e tempo”. IMPORTÂNCIA DA DESCRIÇÃO DOS FATOS: Os fatos descritos delimitarão o pedido, pois só posso pedir, a partir dos fatos que narrados e devidamente fundamentados. Em conseqüência, o pedido delimitará a sentença, em razão do princípio da congruência. ( arts. 128 e 460 do CPC). A coisa julgada de uma sentença, não impedirá a propositura de outra demanda, fundada em outros fatos, já que mudando os fatos, muda-se a causa de pedir, que é um dos elementos da ação e consequentemente, a ação será outra. Outro aspecto importante é o da incidência do princípio do contraditório, pois uma boa narrativa de fatos possibilitará uma defesa adequada do réu. FUNDAMENTOS JURÍDICOS: Para Dinamarco, “Consistem na demonstração de que os fatos narrados se enquadram em determinada categoria jurídica (p. ex., que eles caracterizam dolo da parte contrária) e de que, a sanção correspondente é aquela que o demandante pretende (p. ex:, anulabilidade do ato jurídico, com a conseqüência de dever o juiz anula-lo ). Posso concluir, portanto, que para dar a fundamentação jurídica ao pedido é preciso indicar, na inicial, a conseqüência jurídica que deve ser aplicada ao caso concreto, sem, necessariamente, indicar o artigo, embora se tenha o hábito de fazê-lo. TEORIAS SOBRE A CAUSA DE PEDIR. Teoria da substanciação: P/ Sergio Gilberto Porto (Coisa Julgada Civil, Ed. Aide) a teoria da substanciação exige que o autor substancie – fundamente- a demanda através de um fato ou um conjunto de fatos aptos a suportarem a sua pretensão, identificando, assim, a causa de pedir com a relação fática posta à análise como suporte da pretensão. EX: a existência de concubinato na investigatória de paternidade; a entrega do dinheiro de um empréstimo na ação de cobrança. Teoria da individualização P/ Sergio Gilberto Porto (Coisa Julgada Civil, Ed. Aide) a teoria da individualização sustenta ser bastante para que se tenha a demanda como aptamente fundamentada – a firmação da relação jurídica sobre a qual se estriba a pretensão, constituindo-se, pois, a causa de pedir, na relação jurídica ou no estado jurídico afirmado pelo autor em arrimo à sua pretensão. EX: a existência de relação jurídica de filiação na demanda investigatória de paternidade; a condição de credor na demanda de cobrança. Segundo Dinamarco, vige no sistema processual brasileiro o sistema da SUBSTANCIAÇÃO, pelo qual os fatos narrados influem na delimitação objetiva da demanda e conseqüentemente na sentença ( art. 128), mas os fundamentos jurídicos, não. Tratando-se de elementos puramente jurídicos e nada tendo de concreto relativamente ao conflito e à demanda, a invocação dos fundamentos jurídicos na petição inicial não passa de mera proposta ou sugestão endereçada ao juiz, ao qual compete fazer depois os enquadramentos adequados – para o que levará em conta a narrativa de fatos contida na petição inicial, a prova realizada e sua própria cultura jurídica, podendo inclusive dar aos fatos narrados e provados uma qualificação jurídica diferente daquela que o demandante sustenta. Ex: o autor narra determinados fatos e com fundamento neles pede a anulação do contrato por ERRO, nada o impede – e nada impede o juiz também – de alterar essa capitulação e considerar que os fatos narrados integram a figura da COAÇÃO e não do erro. O resultado prático será o mesmo, porque qualquer um desses vícios do consentimento conduz à anulabilidade do negócio jurídico e, portanto, autoriza a sua anulação ( cc, arr. 171, inc. II). Mas os fatos o autor não pode alterar, nem pode o juiz apoiar-se em outros para fazer os seu julgamento. É claro que, se a nova capitulação jurídica atribuída aos fatos narrados não conduzir ao resultado postulado, a pretensão do autor não poderá obter sucesso. Isso NÃO significa que os fundamentos jurídicos deixem de integrar a causa petendi. Eles têm algumas das utilidades que a lei associa à individualização das demandas – ao menos no tocante à competência ( p. ex. causas fundadas em direito pessoal ou real. Arts. 94-95) VINCULAÇÃO DO JUIZ JOSÉ ALBUQUERQUE DA ROCHA ( Teoria Geral do processo, Atlas, p. 171). O autor, também, conclui que a primeira teoria é a melhor, embora não seja completa. Os fatos é que efetivamente constituem a causa de pedir, pois é deles que nasce o direito. Os fundamentos jurídicos não vinculam o juiz, que dará ao pedido a fundamentação jurídica que considerar mais acertada. Contudo, segundo José Albuquerque Rocha, a causa de pedir não é constituída apenas de fatos, que dão origem à situação jurídica que se pretende valer em juízo, como ordinariamente se diz. É constituída também, do fato violador dessa situação afirmada em juízo. Em poucas palavras, é constituída, também do fato constitutivo do ilícito, do qual nasce a necessidade de recorrer ao Judiciário para pedir a tutela jurisdicional, dada a proibição da justiça privada. CONCLUSÃO: causa de pedir é constituída pelos fatos da realidade de que nasce a situação jurídica afirmada e pelos fatos que violam, ameaçam ou põem em dúvida essa situação jurídica posta em juízo. MARCUS VINÍCIUS RIOS GONÇALVES ( NOVO curso de Direito Processual Civil, Saraiva) concorda com José Albuquerque e também afirma que ... Só os fatos é que servem para identificar a ação, e apenas a eles o juiz deve ater-se. Não é preciso que ele se prenda aos fundamentos jurídicos do pedido, porque é de se presumir que o magistrado conhece a lei ( princípio da jura novit cúria) Ex: alguém postula indenização por ter sido vítima de acidente quando era transportado por empresa de ônibus, invocando em seu favor a culpa do réu, o juiz poderá julgar o pedido com fulcro na responsabilidade objetiva ( ondenão se perquire da culpa, só a existência do dano), ainda que esta não tenha sido invocada na petição inicial. Não houve julgamento extra petita porque o juiz deve ater-se aos fatos indicados na petição inicial, mas não ao direito invocado, pois vige o princípio de que o juiz deve conhecer o direito ( jura novit cúria) OBS: Para fazer este resumo, não foi observada a regra da redação própria. Os textos são, em sua maioria, dos autores indicados e que constam da bibliografia básica ou complementar da disciplina.
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