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A vinda da Familia Real para o Brasil e as Transformacoes na

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Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
 A vinda da Família Real para o Brasil e as Transformações na 
Saúde Pública no Rio de Janeiro 
Flávia Cristina Morone Pinto*1 (PQ),Vagner Pereira de Souza 2 (PQ), Teresa Cristina C Piva 3(PQ) 
 
1 Mestre em Saúde Pública – Profª do Curso de Graduação em Enfermagem e Coordenadora do Curso de Pós-
Graduação em Saúde Pública, do Centro Universitário Celso Lisboa. 
2 Bacharel e Licenciado em História - Prof. de História da Saúde Pública do Curso de Pós-Graduação em Saúde 
Pública, do Centro Universitário Celso Lisboa. 
3 Doutora em Ciências – Profª do Curso de Pós-Graduação de Enfermagem - Terapia Intensiva e Enfermagem do 
Trabalho, do Centro Universitário Celso Lisboa. 
 
Centro Universitário Celso Lisboa 
Rua 24 de Maio, 797 - Sampaio - Rio de Janeiro/RJ - Cep: 20950-091 
Tel: 21 3289-4722 
 
Email: flaviamorone@globo.com 
 
 Palavras Chave: Saúde Pública, Rio de Janeiro, Corte Portuguesa, Família Real. 
 
Introdução 
O Rio de Janeiro até a chegada da 
família real em 1808 era uma cidade 
insalubre, pantanosa, com águas 
estagnadas e com poucas ruas, crescendo 
desordenadamente. Existia dificuldade de 
abastecimento de água, não havia 
saneamento, a falta de higiene era total, 
não havia esclarecimento, uma vez que a 
população era praticamente analfabeta. 
 
Fig 1- Vista da Lagoa do Boqueirão com o Aqueduto da Carioca. 
Pintura de Leandro Joaquim, 1790, Acervo do Museu Histórico 
Nacional. 
A vinda da Corte para o Brasil foi o 
momento considerado apropriado para 
ocorrer mudanças. Foi chegada à hora de 
sanear a cidade ou de, pelo menos, 
“esconder” o que ocorria na realidade. 
Nem todos compartilharam desta idéia. Foi 
o caso do médico Domingos Ribeiro dos 
Guimarães Peixoto (1790-1846), agraciado 
com o título de Barão de Iguarassu. 
Domingos Ribeiro declarou o seu 
pensamento sobre as condições sanitárias 
do Rio de Janeiro no livro publicado pela 
Impressão Régia em 1820, intitulado Aos 
Sereníssimos Príncipes Reais do Reino 
Unido de Portugal, do Brasil e do Algarve, 
os Senhores D. Pedro de Alcântara e D. 
Carolina Leopoldina, oferecem em sinal de 
gratidão, amor, respeito e reconhecimento 
estes Prolegômenos, ditados pela 
obediência, que servirão às observações 
que for dando das moléstias cirúrgicas do 
país em cada trimestre. 
 Este trabalho tem como objetivos 
mostrar os benefícios para a saúde pública 
do Rio de Janeiro com a vinda da Família 
Real para o Brasil e oferecer um breve 
panorama da saúde pública da época. 
A metodologia utilizada foi do tipo 
bibliográfica de caráter descritivo sendo 
também investigado os bancos de dados 
do Scielo,do Dicionário Histórico-Biográfico 
das Ciências da Saúde - COC/Fiocruz, 
Biblioteca Nacional e o acervo do Museu 
Histórico Nacional. 
Resultados e Discussão 
 No início do livro, Domingos Ribeiro 
já demonstra o seu conhecimento científico 
ao determinar com precisão a localização 
da cidade do Rio de Janeiro, “Situada entre 
os trópicos longitude 334, 45, latitude 
austral 22, 54, 15 localizado na 
extremidade baixa de uma vastíssima 
Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
2 
planície” e continua seus relatos explicando 
que a topografia da cidade dificultava a 
circulação dos ventos, fazendo com que o 
ar atmosférico ficasse estagnado, fato este 
que trazia grande malefício a saúde da 
população[1]. As ruas estreitas e alagadas, 
sem saneamento, a água potável escassa, 
todos estes fatores propiciavam a 
proliferação de doenças, ou melhor, de 
“miasmas”. 
Diferente das “teorias teológicas”, as 
teorias médicas praticadas na época eram 
divididas entre Homeopatas, Alopatas e 
Hidropatas, como também entre 
Contagionistas e Infeccionistas. Estes, os 
Infeccionistas, com seus “miasmas 
morbíficos”, buscavam a reformulação 
urbana e social, eram modernistas e 
desenvolvimentistas, enquanto que os 
Contagionistas, presos aos “inexplicáveis” 
problemas da transmissão das doenças e 
aos “venenos específicos” de cada uma, 
não queriam mudanças, como por 
exemplo, nas vias públicas, a fim de não 
levantarem mais “miasmas” do solo com as 
obras. Estavam associados ao atraso, ao 
isolamento dos doentes e da quarentena 
dos navios, que atrapalhavam a circulação 
de pessoas e cargas dos navios onerando 
os custos comerciais, eram, portanto, 
“depreciadores urbanos e sociais”. 
 As práticas que se instituíram para 
fazer face as doenças, como, por exemplo, 
à peste, buscaram evitar a proximidade e o 
toque, e, ao mesmo tempo, neutralizar com 
perfumes e máscaras os odores viciados 
que corrompiam o ar. A corrupção do ar era 
percebida como fenômeno originário do 
lixo, das profundezas do solo, de 
conjunções astrológicas malignas e 
também dos próprios doentes e cadáveres. 
A doença se alastrava de um para outro; a 
participação do ar era fundamental[2]. 
A população estava à sorte de 
adquirir diarréias, disenterias, verminoses, 
sarnas, bichos de pé, bernes e piolhos, isto 
sem contar com as doenças epidêmicas e 
contagiosas, como peste, varíola, malária e 
febre amarela. 
A quarentena, sistema instituído no 
período da peste, consistia em retirar as 
pessoas da convivência em observá-las até 
se ter certeza de que não estivessem 
doentes, é referida, por exemplo, pelos 
historiadores contemporâneos como uma 
das primeiras contribuições fundamentais à 
prática da saúde pública, conforme ocorria 
na Antiguidade Clássica[3]. 
Devido às Guerras Napoleônicas, 
em 1807, o Regente D.João VI transfere a 
sede da Corte para o Brasil e Correia 
Picanço (1745-1824), médico brasileiro 
formado pela Faculdade de Montpellier e 
Lente da Universidade de Coimbra, desde 
1789, acompanha o cortejo real retornando 
ao Brasil, chegando à Bahia em 24 de 
janeiro de 1808. Com muito prestígio junto 
ao Monarca, de quem recebeu o título de 
Primeiro Barão de Goiana, Correia Picanço 
consegue através de Carta Régia, datada 
de 18 de fevereiro de 1808, homologar a 
criação do ensino da medicina em nosso 
País. Fundava-se assim a primeira Escola 
Médica do Brasil, em Salvador, capital da 
Bahia e primeira localidade de chegada da 
Coroa lusa em terras brasileiras. 
Com a chegada da Corte no Rio de 
Janeiro, o Dr. Correia Picanço se encontra 
envolvido em outra grande empreitada: 
fundar, agora na capital, a segunda 
Faculdade de Medicina no Brasil. A criação 
das duas faculdades foi de suma 
importância para o ensino médico nacional, 
principalmente com relação aos estudantes 
nordestinos. A faculdade bahiana deu 
oportunidade a muitos brasileiros de se 
tornarem médicos. Antes, apenas os mais 
abastados tinham possibilidade de pagar 
seus estudos na Europa. 
Filho de um Cirurgião-Barbeiro, e, 
portanto, de origem humilde, Correia 
Picanço sabia dar atenção às populações 
menos favorecidas. A figura do Cirurgião-
Barbeiro foi, na época colonial, responsável 
pelo atendimento de saúde da população, 
pois a medicina como a conhecemos hoje 
só se tornou uma realidade no século XIX. 
Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
3 
 
Fig. 2 - Carlos Chagas numa sala de aula com um doente de 
malária[4] 
Poucos foram os médicos que 
vieram no início de nossa colonização. Os 
que aqui desembarcaram eram 
denominados de físicos e, em sua maioria, 
vinham fugidos de perseguições políticas 
ou religiosas. Os “cirurgiões” se dividiam 
em três categorias: os “Cirurgiões-
Barbeiros”, predominantes, os “Cirurgiões-
Aprovados” e os “Cirurgiões-Diplomados”.Para adquirir o título de Cirurgião-Barbeiro 
bastava saber ler e escrever, e com seus 
parcos conhecimentos médicos realizavam 
tratamentos de fraturas e luxações, 
curavam feridas, sangravam, aplicavam 
ventosas, clisteres e sanguessugas, 
lancetavam abscessos, extraíam dentes e, 
é claro, cortavam cabelo e faziam a barba 
de seus clientes. Essa situação só 
começou a mudar a partir da chegada da 
Corte no Brasil em 1808. 
 
 
Fig. 3 - Emil Bauch. Práticas médicas exercidas por barbeiros 
nas ruas do Rio de Janeiro (séc. XIX)[4] 
 
A transferência da Corte portuguesa 
para o Brasil em 1808 fez com que as elites 
estabelecidas no Rio de Janeiro 
elaborassem paulatinamente um projeto de 
“civilização” para os trópicos. Para os 
novos nobres moradores da cidade, era 
preciso que a cidade sofresse 
transformações para torná-la digna de ter 
sido elevada à categoria de Sede da Coroa 
Portuguesa. Herdeiros da tradição 
iluminista que preconizava o “progresso e a 
civilização”, os intelectuais e o Estado, num 
primeiro momento, submeteram a cidade a 
uma “civilização improvisada”. Novas 
instituições foram criadas, artistas e 
homens de ciência procedentes da Europa 
foram convidados a participar da 
elaboração desse ambicioso projeto ou a 
fornecer-lhe subsídios[6]. 
Laurentino Gomes cita em seu 
livro[13] a importância da cidade do Rio de 
Janeiro no cenário de 1808: 
“A cidade que acolheu a família real 
portuguesa, em 1808, estava para as rotas 
marítimas transoceânicas como o 
aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, está 
hoje para os vôos intercontinentais. Era 
uma espécie de esquina do mundo na qual 
praticamente todos os navios que partiam 
da Europa e dos Estados Unidos paravam 
antes de seguir para a Ásia, a África e as 
terras recém descobertas do Pacífico Sul...” 
 Dispostos a transformar o que se 
lhes afigurava como um verdadeiro “caos 
urbano” — “uma cidade 'suja' e 'doente', 
'corrompida' pelos miasmas e pelos 
comportamentos 'pouco recomendáveis' da 
população” — em um espaço “civilizado”, 
um pequeno grupo de médicos radicados 
na cidade fundou, em maio de 1829, a 
Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro. 
 O objetivo principal dessa 
associação era fornecer pareceres às 
autoridades governamentais em matérias 
relativas à higiene e saúde pública. Esse 
vínculo existente entre a Sociedade de 
Medicina e o Estado revela o caráter 
eminentemente político dessa entidade que 
pretendia organizar o espaço urbano 
exclusivamente à luz da ciência[7]. 
Atendendo a uma solicitação do governo 
regencial, em 1830, a Sociedade de 
Medicina nomeou, entre seus pares, uma 
comissão para cuidar da transformação das 
Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
4 
academias Médico-Cirúrgicas do Rio de 
Janeiro e de Salvador em faculdades de 
medicina, o que se concretizou em outubro 
de 1832[6]. 
 
 
Fig. 4- Sede da antiga Academia Imperial de Medicina, Campo 
de Santana, Rio de Janeiro, entre 1861 e 1874[8]. 
 Pelo decreto da regência de 8 de 
maio de 1835, a Sociedade passou a 
denominar-se Academia Imperial de 
Medicina. Os seus objetivos, segundo o 
artigo desses estatutos, eram: 
“responder às perguntas do Governo sobre 
tudo quanto pode interessar à saúde 
pública, e principalmente sobre epidemias 
e moléstias particulares de certos países, 
as epizootias, os diferentes casos de 
medicina legal (...) a propagação da vacina, 
os remédios novos ou secretos, os quais 
não poderão ser expostos ao público sem o 
seu exame e aprovação (...) ocupando-se 
além disto, de todos os objetos de estudo e 
de indagação que podem concorrer para o 
progresso dos diferentes ramos da arte de 
curar”.[8] 
Após a recuperação do prestígio da 
Academia, novos titulares se associaram, 
incorporando anseios políticos, dentre eles, 
José Pereira Rego (1816-1892), 
posteriormente Barão do Lavradio, assumiu 
então a presidência da Academia e 
manteve-se no cargo até 1883. Pereira 
Rego retomou gradativamente a atuação 
institucional. De sua administração 
destaca-se a publicação de relatórios 
anuais elaborados por ele próprio, acerca 
das condições de saúde no país. Em 1889, 
com a instauração da República, a escola 
teve seu nome mudado para Academia 
Nacional de Medicina, como todas as 
instituições imperiais — mesmo as que 
mantiveram inalterados os seus 
regulamentos — que incorporaram o 
adjetivo “nacional” em suas 
denominações[9]. 
Dentre as obras da produção 
intelectual de José Pereira Rego [10] faz-se 
necessário apresentar um trecho da que se 
intitula o “Esboço histórico das epidemias 
do Rio de Janeiro de 1830 a 1870”, onde 
ele salienta que: 
“A ignorância das causas ordinárias das 
grandes epidemias que na sucessão dos 
séculos têm devastado o mundo, a 
dificuldade e mesmo a impossibilidade que 
daí resulta às vezes para estabelecer 
medidas profiláticas gerais tendentes a 
prevenir ou atenuar suas devastações, 
assim como uma terapêutica adequada 
para combatê-las, pela obscuridade que 
reina em nosso espírito acerca da sua 
índole especial, não devem embaraçar os 
esforços da ciência na pesquisa dos meios 
de descortinar o véu misterioso que até 
hoje tem escondido às suas investigações 
estes arcanos da natureza...” 
 
Fig. 5- Condições higiênicas do Rio de Janeiro, ironizadas em 
charge de 1861. Fundação Biblioteca Nacional.[12] 
Por fim, é preciso ressaltar que as 
relações entre as camadas populares e os 
médicos não eram as mais amenas. Novos 
procedimentos terapêuticos, como a 
vacinação, por exemplo, introduzidos pela 
medicina acadêmica, alimentavam o medo, 
despertavam desconfianças e rejeições 
[11]. 
Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
5 
Diante de tamanha pressão, o 
governo central convidou vários membros 
da Academia Imperial de Medicina e 
professores da Faculdade de Medicina do 
Rio de Janeiro para formar a Comissão 
Central de Saúde Pública. O órgão ficou 
responsável pela formulação de um 
Regulamento Sanitário dirigido ao combate 
emergencial da moléstia. Algumas das 
medidas tomadas pela comissão foram de 
tipo preventivo, como incentivar à 
população a manter a higiene corporal por 
meio de banhos freqüentes, caminhadas 
leves pela manhã, e cultivar os bons 
hábitos, evitando excessos na ingestão de 
alimentos, no uso das bebidas e nas 
relações sexuais. Estas orientações 
visavam principalmente evitar o 
desequilíbrio corporal, que favorecia o 
adoecimento, segundo as concepções 
médicas em voga no século XIX[12]. Mais 
tarde esta Comissão foi substituída pela 
Junta Central de Higiene 
Conclusões 
 Para os tripulantes e passageiros 
dos navios que, em viagens perigosas e 
monótonas, em direção à África, à Ásia, ao 
Atlântico ou ao Pacífico Sul, passavam pelo 
Rio de Janeiro, era sempre um fato 
agradável aportar aqui. Todos os relatos, 
de tripulantes e passageiros se referiam à 
grandiosidade e beleza da cidade e de seu 
entorno. O Naturalista inglês Charles 
Darwin, em abril de 1832, a bordo do 
Beagle, ao passar pelo Rio de Janeiro, se 
refere à cidade com um conjunto de 
adjetivos de fazer inveja às mais belas 
cidades do mundo: “Sublime, Pitoresca, 
cores intensas, predomínio do azul, 
grandes plantações de cana-de-açúcar e 
café, véu natural de mimosas, ... grande 
quantidade de água, ...”[13]. 
 
 O que a princípio parece a pintura 
mais exuberante que um artista 
impressionista pode fazer, na verdade 
escondia uma cidade doente e carente de 
ações públicas de saúde. Adolfo Morales 
de Los Rios Filho[14] descreve a situação 
da cidade: 
 
“Não havia assistência pública organizada. 
Apesardisto, bastante foram as leis, 
decretos, alvarás e avisos por meio dos 
quais se pretendeu ampliar o auxílio aos 
desamparados. 
Cabia a iniciativa particular, representada 
pelas irmandades da Misericórdia e 
Candelária, ordens terceiras de São 
Francisco da Penitência, de São Francisco 
de Paula, do Monte do Carmo e da 
Imaculada Conceição, e Convento do 
Carmo, exercer, em toda sua plenitude 
aquela benemérita missão...”. 
 
 A grande quantidade de água 
referenciada por Charles Darwin era a 
maior responsável pela cidade do Rio de 
Janeiro ser um grande alagadiço cercado 
de montanhas. Esses alagadiços eram 
responsáveis pela proliferação de insetos e 
doenças, e suas águas estagnadas eram 
tidas como responsáveis pela emanação 
de miasmas[11], condição essa observada 
desde a Antiguidade Clássica, como está 
descrito nos estudos de “Ares, Águas e 
Lugares” sobre a relação do homem com o 
meio em que vive[4]. 
 
 A chegada da Corte portuguesa veio 
para mudar este panorama. As poucas 
obras realizadas na cidade, principalmente 
durante a era dos Vice-Reis com a capital 
da colônia do Brasil no Rio de Janeiro, 
tiveram de ser ampliadas e feitas todas as 
modificações necessárias a adaptação e 
acolhimento da Corte. Foram necessários 
drenagens, pavimentações, iluminação e, 
principalmente, higienização. O primeiro 
relato feito no país pelo médico da família 
real, Manuel Vieira da Silva, em 1808, 
também demonstra a realidade da cidade. 
O texto “Reflexões sobre alguns dos meios 
propostos por mais conducentes para 
melhorar o clima da cidade do Rio de 
Janeiro” foi motivado pela urgência da 
Corte em evitar o contágio pelas doenças 
comuns no período. Seguindo uma das 
teorias médicas da época, que indicava 
serem os lugares alagadiços responsáveis 
pela proliferação de doenças “contagiosas”, 
o Dr. Manuel Vieira sugeriu o aterramento 
de determinadas regiões[14]. 
 
 O movimento iniciado com a 
chegada da Corte foi prolongado ao longo 
do período Imperial, chegando à passagem 
da Monarquia ao Republicanismo. Essa 
passagem foi pautada na negação do 
passado histórico com a afirmação do 
moderno como marca da transformação. 
Novamente a cidade passou por 
transformações internas com vistas a 
modificar a imagem da Capital do país de 
Scientiarum Historia – UFRJ / HCTE 
1º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ / HCTE – 22 e 23 de setembro de 2008 
 
6 
uma cidade doente e estagnada para uma 
metrópole ativa e progressiva. O “bota 
abaixo” do início do século XX não foi 
apenas nas fachadas dos prédios, mas 
uma transformação de costumes coloniais 
do Império em modernos da República, 
sem, no entanto, perder de vistas as lições 
ensinadas pela maciça presença européia 
aqui desde 1808. 
 
As lições deixadas pela presença da 
Corte modificaram também os hábitos e 
costumes coloniais frente aos problemas 
de saúde pública. A beleza de uma cidade 
também se traduzia em um ambiente livre 
de doenças e epidemias, onde a sociedade 
podia crescer em número e em qualidade 
de vida. 
 
____________________ 
 
1- Peixoto, Domingos R. dos G.. Aos Sereníssimos Príncipes Reais do 
Reino Unido de Portugal, do Brasil e do Algarve, os Senhores D. Pedro 
de Alcântara e D. Carolina Leopoldina, oferecem em sinal de gratidão, 
amor, respeito e reconhecimento estes Prolegômenos, ditados pela 
obediência, que servirão às observações que for dando das moléstias 
cirúrgicas do país em cada trimestre.Imprensa Régia, 1820 
2- Czeresnia, Dina. Do contágio à transmissão: uma mudança na 
estrutura perceptiva de apreensão da epidemia. História, ciências, saúde, 
vol IV(1), Mar-Junh, 1997. 
3- Rosen, George. Uma História da Saúde Pública. 2ª Ed. São Paulo: 
Hucitec, 1994. 
4- Regis, Edmir. História da Medicina Pernambucana - Correia Picanço 
- Fundador do Ensino Médico no Brasil. Revista Movimento 
Médico/CREMEPE, Ano III - Nº 9 - Set / Out / Nov / 2007. Disponível 
http://revista.cremepe.org.br/09/historia_da_medicina_pernambucana.ph
p, acesso em 2008. 
5- Soares, Márcio de Sousa. Médicos e Mezinheiros na Corte Imperial: 
uma herança colonial. Hist. cienc. saude-Manguinhos v.8 n.2 Rio de 
Janeiro jul./ago. 2001. 
6- Machado, Roberto et alii . Danação da Norma: medicina social e 
constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro, Graal. 1978. 
7- FIOCRUZ. Casa de Oswaldo Cruz. Dicionário Histórico-Biográfico 
das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Sociedade de Medicina 
do Rio de Janeiro. Disponível em 
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/socmedrj.htm, 
acesso em 2008. 
8- Fernandes, Tania Maria. Vacina antivariólica: visões da Academia de 
Medicina no Brasil Imperial. Hist. cienc. saude-
Manguinhos vol.11 suppl.1 Rio de Janeiro, 2004. 
9- FIOCRUZ. Casa de Oswaldo Cruz. Dicionário Histórico-Biográfico 
das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930).José Pereira Rego. 
Disponível em 
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/P/verbetes/regojope.htm, 
acesso em 2008. 
10- Chalhoub, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte 
Imperial. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. 
11- Monique de Siqueira Gonçalves. A morte anunciada. Revista de 
História da Biblioteca Nacional. 01/12/2007. Disponível em 
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1300, 
acesso em 2008. 
12 – Gomes, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe 
medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a 
história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 
2007. 
13 - Filho, Adolfo M. de los R. O Rio de Janeiro Imperial. 2ª Ed. Rio de 
Janeiro: Topbooks/UniverCidade, 2000. 
 
 
14 – A Saúde Pública no Rio de Dom João. Textos de Manuel Vieira da 
Silva e Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto. Rio de Janeiro: 
Editora Senac, 2008.

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