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Resumo classe subalternas

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INFÂNCIA, MATERNIDADE E PATERNIDADE: SOFRIMENTO, REJEIÇÃO, AUSÊNCIA E ABANDONO
As histórias de vida dos adolescentes são carregadas de lembranças tristes, difíceis de serem verbalizadas, e, por isso mesmo, muitos deles evitam pensar ou falar sobre elas. 
Entre períodos vividos em instituições, em casas de parentes ou em famílias substitutas, eles foram-se construindo, num universo de incertezas, dúvidas, medos e tensões que caracterizaram sua infância e que têm acompanhado sua adolescência. Embora sujeitos a diversas situações, esses adolescente desejam dançar, sair, fazer festas, namorar etc. Por mais simples a qualquer adolescente essas coisas, para eles esses sonhos ganham uma conotação especial. 
Quando falam de suas infâncias, apresentam-nas marcadas por situações de abandono, rejeições, medos e humilhações, que os caracterizam como pessoas privas de proteção familiar e de condições para se opor a esse universo. 
Para esses adolescentes, predomina esses sentimentos descritos acima, pois o desprezo é sempre mais forte que o sentimento de terem sido desejados. Deixar a casa da família e buscar outras possibilidades de vida representa uma forma de responderem à rejeição. Assim, hoje, quando falam de sua infância, a representação é caracterizada por muita tristeza, por uma lembrança que os faz chorar, manifestando características que denuncia o que foi esse passado cheio de mágoas, de marcas profundas e dolorosas, fruto de muito sofrimento, e sobre qual evitam pensar, daí viver o presente é, assim, um meio de evitarem o sofrimento provocado pelas lembranças da infância. 
Todos os adolescentes viveram situações de perda e separação na infância, das quais se lembram cm muita tristeza. Como nas situações encontradas, onde um perdeu a mãe, que morreu de câncer e outro se separou de seu pai aos 5 anos. É perceptível em suas falas que a representação “infância sofrida” os une e os aproxima. Segundo os adolescentes, isso seria motivo suficiente, para estar “perdidos”, o que nos leva a pensar em uma representação muito frequente socialmente, a de que ter problemas familiares e viver a condição de pobreza levaria a uma vida marginal.
 Uma coisa é certa, mesmo em meio a esse contexto e expostos a todas as possibilidades de marginalização, eles, resistiram e continuam a resistir a ele.
Quanto à representação materna verbalizada por eles, apresenta como uma grande desilusão, sendo vista como causa situação atual em que vivem. A maioria dos adolescentes consideram ter experimentado um relacionamento extremamente ruim, violento, no qual a mãe não soube ser “mãe”, por não saber defendê-los, nem amá-los. Justifica tal sentimento pelo fato de ter sito abandonados pela mãe, não tendo em certos casos, a chance de conhecê-la, ou, como é o caso de uma das adolescentes, que foi mantida constantemente me instituições, experimentando, até o momento, uma vida praticamente institucionalizada, os poucos momentos que teve com a mãe evocam lembranças das agressões, constrangimentos e de muita tristeza, pois esta a agredia muito. Dentre essas agressões, a adolescente destaca o fato de ter que conviver com as relações afetivas e sexuais da mãe. 
Principalmente quando as mães encontram um novo companheiro que não querem assumir os filhos diante da família desse novo cônjuge. 
Ainda referindo à questão materna, alguns adolescentes mostram como viveu o memento em que suas mães saíram de casa, deixando-os praticamente na rua. Essas mães para esses adolescentes apresentam como alguém que não conseguiu dar conta de sua tarefa, alguém que não teve as condições necessárias para manter a casa e os filhos. Isso é encarado por eles com muita mágoa, porem admitem que as mães poderiam pelo menos mandar noticias, interessar por eles ou procurá-los. Isso evidencia que a representação materna é uma via de mão dupla; de um lado uma mãe que poderia ser boa e a experiência concreta de uma mãe que não conseguiu confirmar esses atributos esperados. 
É importante salientar que esses adolescentes estudados, constituem um grupo, em sua maioria, rejeitados por famílias. 
IMAGEM CORPORAL, RELAÇÕES SOCIAIS E PROJETO FUTURO: MARGINALIDADE, EXCLUSÃO, INSEGURANÇAS E INCERTEZAS.
Se a infância é dolorosa, e isso é confirmado pelas histórias de vida, bem como, pelas emoções de raiva, desprezo e choro que acompanham essas histórias, o presente e o futuro também se apresentam, para esses adolescentes, como motivos de angústia em função do abandono, da solidão, das incertezas e da instabilidade, sendo-lhes muito difícil pensar no que serão quando adultos. Daí vem questões ligadas à rejeição como querer mudar a aparência e cor etc. principalmente em uma sociedade como a nossa que valoriza a estética e impera um forte culto ao corpo, aos traços perfeitos etc. Todo esse contexto colabora para que esses adolescentes desenvolverem um sentimento de baixa auto-estima. Assim na intenção de tornarem objeto de desejo das outras pessoas, procuram se “diferentes”, o que se converte numa meta de vida, num meio de melhorar sua própria representação e a que os outros fazem deles. O ato de julgarem-se feios faz parte da representação social construída para esses jovens através dos olhares que lhes são dirigidos e a partir do sentimento de não serem amados e de não terem, em seu corpo, o objeto de desejo instituído socialmente. 
O período da adolescência está estreitamente vinculado a questões da sexualidade, a qual, através das mudanças físicas e hormonais que a caracterizam, introduz os conflitos e transformações da adolescência, este período vai estar permeado pela necessidade de o individuo assumir uma determinada posição em relação à própria sexualidade, tarefa que não é fácil e que frequentemente vem acompanhada de muita angustia. Se essa tarefa já é difícil, imagina para esses adolescentes, ao qual se soma, ainda, uma imagem que os mostra desqualificados, rejeitado e desvalorizados. 
Buscar atingir um modelo ideal de corpo é uma forma de o adolescente sentir-se mais seguro com relação a sua sexualidade. Nos grupo estudados o tema mais abordado por eles é sobre a sexualidade o que corrobora com toda essa ideia estereotipada com relação a representação da sexualidade no contexto social.
Em função das pressões vividas pelo núcleo familiar e, ao mesmo tempo, das exigências sociais, os adolescentes, não raro, sentem-se pressionados a falar, de modo que, geralmente, mais falam do que agem. Sentem dificuldades em assumir um sentimento por alguém publicamente, principalmente se esse alguém não corresponde ao “tipo ideal”. 
Outro entrave encontrado esta intimamente ligado a função do trabalho para a sociedade, onde, esperam que adolescentes sejam sujeitos trabalhadores; sendo que a escola como outros sonhos são trocados pelo universo do trabalho, o qual, na maioria das vezes, é desprovido de qualificação. Como tudo parece e de mostra distante, fica nítido que a realidade os situa como adolescentes desprovidos de um projeto de futuro, não lhes permitindo sonhar, por não haver espaço social para um projeto voltado a esses adolescentes, de modo que o trabalho aparece como a alternativa na qual se centra o presente e como única possibilidade de pensar o futuro. 
A sociedade encontra dificuldade em projetar um futuro para todos os adolescentes; pois para esses que não têm um futuro assegurado socialmente, já esta instituída a ideia de que já estão excluídos. A narrativa dos adolescentes nos permite entender a relação agressiva e humilhante por que passam nas relações sociais, o que evidencia a existência de um conflito permanente no cotidiano social, embora este seja constantemente negado pelo discurso formal oficializado pelas autoridades. 
A relação de conflito entre grupos sociais distintos, somadas as dificuldades vividas no ambiente familiar, transformam esses sujeitos em adolescentes de risco. O cotidiano é apresentado como violento, agressivo e exige sempre o cuidado e a necessidade de autodefesa; quando analisamos, sentimos a existência de uma tensão constante.Os grupos funcionam, como protetores, representando a única possibilidade de enfrentar a rua. 
Esses adolescentes se mostram em um jogo de forças, experimentam uma grande tensão social. Quando reagem a essa realidade, sua resposta não é compreendida em função dessa dinâmica social, mas, ao contrário, é vista como um fato que confirma a regra segundo a qual “todos são mesmo assim”.
Se eles representam o universo social dessa forma, é importante salientarmos que, mesmo quando toda a realidade parece adversa à possibilidade de evitar a marginalização, eles vêm lutando contra esta, eles vêm tentando resistir a esse movimento de exclusão que, dentre outras, encontram na marginalização uma de suas formas de concretização. 
FAMÍLIA SUBSTITUTA: EXPERIÊNCIAS E CONFLITOS DECORRENTES DESSA VIVÊNCIA
Desde o Estatuto da Criança e do Adolescente, toda a ênfase tem sido dada na possibilidade de incrementar as situações de convivência familiar, ainda que em família substituta, como medida mais eficaz contra deterioração da identidade da criança, exatamente pela compreensão do que o processo de socialização constitui o fator mais determinante nesse processo. 
É no ECA que encontramos a família substituta como uma alternativa possível para evitar a institucionalização dos adolescentes impossibilitados do convívio com a família de origem. O estatuto considera a critica às grandes instituições de abrigo, onde as crianças sofrem um processo de alienação, tanto de sua história quanto de seu mundo social. 
Por outro lado em relação à família substituta, podemos salientar questão como o fato de elas estarem ainda muito longe de configurar como esse lugar onde essa criança/adolesce possa se inserir de fato. Sem dúvida, a família substituta pode oferecer um ambiente que se aproxima mais da vivencia familiar, porem, deve-se pensar que tipo de vivencia familiar será oportunizada, uma vez que não se trata de qualquer vivência, pois o fato de ser um ambiente familiar por si só não garante o que é básico e necessário ao sujeito. 
A alternativa proposta pelo ECA em relação à família substituta, precisa se acompanhada, repensada e melhor trabalhada, sobretudo no que diz respeito à expectativa dos pais substitutos em relação a esses adolescentes. 
Também precisa levar em conta as distâncias que produzem o ambiente com a vida anterior desses adolescentes e seu novo ambiente. A ruptura com seu universo de origem gera revolta pela desqualificação de tudo o que foi passado, de modo que, para eles, é como se ouvissem que devem esquecer tudo que viveram e aprenderam, ou seja, que todos os seus vínculos anteriores devem ser rompidos, deixados para trás, o que acaba eliminando qualquer especo para manutenção de sua história anterior, como nos evidenciam os adolescentes. Assim é provável que repita na família substituta os mesmos preconceitos característicos das instituições, talvez o preconceito não esteja no lugar para onde eles vão, mas na maneira como as pessoas que os recebem interiorizaram uma concepção de vida sobre esse universo da população que independe de onde o encontrem. Tal concepção terá a tendência a se reproduzir, pois está institucionalizada em cada um de nós. 
Outro fator está ligado ao fato das relações não ocorrerem como a família substituta deseja, existem a pratica de devolvê-los ao Conselho Tutelar ou ao Juizado de Menores, como se elas fossem um objeto descartável, desprezando-se os sentimentos, mágoas e rejeições que esses adolescentes vão acumulando ao longo desse processo.
Cabe salientar também que há distâncias entre os universos que constituem a vida anterior desses adolescentes e essa nova família, de modo que a exigência de que quebra dos vínculos anteriores provoca revolta, pois embora tenham conflitos e mágoas com relação à família de origem, esta constitui seu universo de referência e anulá-lo sempre representa sofrimento. Essa ruptura forçada com seu universo de origem gera revolta pela desqualificação de tudo o que foi seu passado, de modo que, para eles, é como se ouvissem que devem esquecer tudo o que viveram e aprenderam, ou seja, que todos os seus vínculos anteriores devem ser rompidos, deixados para trás, o que acaba eliminando qualquer espaço para a manutenção de sua história anterior. 
Muitos adolescentes também revelam que desempenham antes a função de empregados da casa do que de membro da família, como tão claramente nos mostram suas falas. Deixando claro que a família substituta nem sempre consegue fugir da reprodução do modelo vigente, mantendo a ideologia impregnada na sociedade. Dessa forma, mesmo assumindo a condição de família substituta, o que, na verdade, esses contextos oferecem é um teto, uma moradia, em troca dos serviços prestados sem remuneração. Isso reflete a dificuldade de superar os vícios e as desigualdades geradas por anos de uma prática discriminatória e autoritária que prosperou em nossas instituições e em nossas relações sociais. 
 Por isso, que o ECA precisa ser constantemente vigiado, a fim de evitar que se reproduzam, nas práticas cotidianas atuais, o já falido sistema anterior, marcado pela ideologia da exploração e exclusão. O que nos fica claro, da necessidade de mudarmos a perspectiva assistencialista que acaba por mascarar a realidade, pois, ao não alterar a situação de origem do problema, tal perspectiva não soluciona, antes coloca os adolescentes numa relação de subordinação, em que assumem a condição de quem recebe algo, de quem, portanto, se encontra em dívida com a sociedade. 
Também é preciso romper com o esse vício, oferecendo às famílias substitutas o apoio necessário para lidarem com esses adolescentes marcados por essa trajetória, possibilitando a estes uma identificação mais positiva, permitindo-lhes construir uma identidade que torne possível o sonho de um projeto futuro. 
ESCOLA X TRABALHO: PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E PROJETO FUTURO 
Para os adolescentes, a necessidade de trabalhar é o que responde de forma mais prática à possibilidade de dar conta das expectativas da adolescência, como ter algum dinheiro para sair, fazer compras, sair com garotas, cuidar do corpo, etc. Nessa perspectiva, o trabalho se sobrepõe à escola porque responde a uma necessidade presente e emergente, enquanto a escola se apresenta como projeto futuro, algo que eles, não respondem a suas ânsias e necessidades. 
O dinheiro apresenta-se, como uma necessidade, sendo-lhe atribuída a possibilidade de acesso a outras fontes de prazer, satisfação e mesmo aceitação afetiva e social, pois ele pode trazer e garantir um “status”. Tornar-se consumidor é uma forma de se mostrar como alguém para sociedade, daí a necessidade do dinheiro. Por outro lado, é também uma maneira de superar algumas dificuldades da adolescência, bem como de viverem algumas das experiências características desse momento. 
Não se tem exigência quanto ao tipo de trabalho, e sim, ao retorno que este proporciona. Nesse sentido a escola fica de lado, já que se trata de um prazer futuro que não garante certeza de retorno como já citamos. Na entrevista um dos adolescentes adverte que até o professores respeitam os alunos que trabalham e tem dinheiro, deixando claro o valor atribuído ao dinheiro.

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