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Segundo Lapassade, a descrição das atividades cotidianas em termos de realizações práticas permite mostrar como se efetua nas situações escolares um trabalho microssocial de instituição. Para ele, a instituição se constitui um dos objetos essenciais das correntes microssociológicas. Lapassade compara, a partir dessa discussão, duas visões de análise: a institucional e a interacionista. Para a análise institucional, os analisadores desviantes, quando definidos por um desvio em relação a uma norma, contribuem para revelar a ordem estabelecida descrita, frequentemente denunciada como coercitiva e arbitrária. A análise interacionista, por sua vez, também vê no desvio um revelador social das normas prescritas pelos empresários da moral e até o produto da ordem social estabelecida. Mas, ao mesmo tempo, ela descreve esse desvio como sendo resultado de uma construção interativa e localizada, consequentemente, o produto de um verdadeiro trabalho microssocial de instituição. No ponto de vista dos etnógrafos ingleses, os comportamentos antiescolares de alunos que recusam e até mesmo atacam a ordem escolar e os professores que são por eles responsáveis encontrariam suas causas nos dispositivos organizacionais, tais como: grupos de níveis, diversos encaminhamentos, seleção dos alunos e sua colocação em grupos institucionais desfavorecidos. Lapassade mostra ainda que estudos sobre acontecimentos perturbadores desenvolvidos por Woods em 1990 descreve como os alunos “desviados” tornam-se transgressores em virtude dos procedimentos dos professores de rotulagem e de categorização: o aluno que rouba uma vez pode tornar-se “o ladrão”. Ao atribuir-lhe essa nova identidade, ele vai se conformar com ela e atuar com base nela. Quando o professor categoriza seus alunos, fazendo a distinção entre os bons e os maus, ele constrói sua classe como fato social estabilizado. Tal estabilização parece necessária ao cumprimento das tarefas escolares: são os referenciais sobre os quais o mestre vai se apoiar para ensinar. Pode-se também descrever essa mesma classe como uma situação na qual múltiplas interações contribuem para o estabelecimento de uma ordem mínima, para que se possa trabalhar, e fazem da classe uma microssociedade instituída que, ao mesmo tempo, institui-se continuamente. Desta forma, a visão da etnografia interacionista define a instituição em dois sentidos. O primeiro como um sistema de normas estabelecidas quando identificam aí a origem de certos desvios no meio escolar. O segundo como um trabalho de instituição quando apresentam esse desvio escolar não mais como apensa um “efeito de estabelecimento” mas como o resultado das interações entre professores e alunos. Segundo Lapassade, há, então, uma convergência das microssociologias em torno de uma concepção construtivista de uma ordem social que se institui. Conforme as discussões sobre desvio, é possível comparar a complementaridade da abordagem interacionista com a da análise institucional. A abordagem interacionista enfatiza a construção social do desvio para além das relações com a norma instituída. Desta forma, o autor aponta a importância da observação participante e da pesquisa-ação como dispositivos para a análise institucional.
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