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EXCELENTÍSSIMO JUIZO DA ___ VARA CÍVEL DE ARACAJU/SE
DARLISSON ANDRADE DA CRUZ, brasileiro, solteiro, estudante, portador de Carteira de Identidade nº 3.163.791-4 SSP/SE e CPF nº 842.219.255-15, residente e domiciliado à Rua Reis Lima, nº 281, Casa B, Bairro Porto Dantas (Industrial), CEP: 49065-640, possuidor de Telefone nº (79) 9 9944-1200, conhecido socialmente por EMILLY RHILANE ANDRADE DA CRUZ, por intermédio de seu advogado, com procuração em anexo, através da assistência judiciária gratuita pelo Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade Estácio de Sergipe, com endereço constante em nota de rodapé, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ingressar com a presente:
AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL PARA MUDANÇA DE SEXO E PRENOME
pelas relevantes razões de fato e de direito que passa a expor.
DAS PRELIMINARES
Inicialmente requer seja-lhe concedido o benefício da Justiça Gratuita, em virtude de não estar em condições de pagar às custas do processo e também honorários de advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família.
DOS FATOS
A Requerente, geneticamente, nasceu sob o sexo Masculino, na Cidade de Aracaju/SE, no dia 23 de setembro de 1987. O assentamento de seu nascimento foi realizado junto ao Cartório do 25º Oficio do Distrito de Aracaju, Certidão de Nascimento Sob o Nº. 2055 - Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Aracaju/SE.
 
Nunca teve dúvidas sobre quem realmente é, desde criança se identificou com o gênero feminino, onde mesmo com as dificuldades e preconceitos encontrados na busca pela sua afirmação, sempre buscou se mostrar como realmente sente ser: uma MULHER!
A Requerente não realizou cirurgia para mudança do órgão genital, mas afirma que quando lhe for oportuno a realizará. Faz uso de hormônios femininos por conta própria há 3 anos. Não faz tratamento com um médico Endocrinologista, pois sua condição financeira não permite.
Possui Laudo Psicológico, assinado por Geovanna Santana de Souza Turri – Psicológa (CRP 19/3077), onde considera que a Requerente, apresenta características suficientes para que se suponha adequado ao que, segundo o DSM-V, seria Disforia de Gênero, corroborando sua indicação para iniciar processo de alteração do nome masculino para o nome social feminino.
Esclareça-se, ademais, que embora recentemente disponibilizada no sistema público de saúde, no SUS, em alguns poucos Estados da federação, uma cirurgia para mudança de sexo, além de no Brasil ser um procedimento de alto risco, muitas vezes não produz qualquer benefício a quem a ela se submete, notadamente no que diz respeito ao orgasmo e à plástica.
Ressalte-se, contudo, tendo em vista ter plena consciência de que a adaptação do seu sexo biológico a sexo psicológico é apenas um pormenor, que a condição de transexual independe da transgenitalização, a Requerente está com a cabeça acomodada quanto ao assunto.
Todas as pessoas do seu convívio a conhece pelo seu nome social – EMILLY RHILANE ANDRADE CRUZ. Inclusive no Sistema Acadêmico da Faculdade Estácio de Sergipe, da qual é aluna, consta seu nome social. 
A Requerente não se identifica com seu nome DARLISSON, pois o mesmo não condiz com sua aparência física, portanto, impossibilitada de exercer seus direitos inerentes ao ser humano sem passar por constrangimentos, encontrando dificuldade de inserção nos seus papéis sociais.
Observe-se não ser necessário classificar se a pessoa é transexual ou travesti, para se reconhecer sua condição de “ser humano e digno” e, portanto, com direito a ser identificado pelo nome que revele o seu EU social.
No caso em questão o que a Autora quer é se sentir bem com a condição social expressada pelo seu nome e tudo o que ele representa coletiva e individualmente. Inequivocamente, a insatisfação com um nome em descompasso com a identidade impede a pessoa de viver com dignidade e alimenta um sentimento de total não adaptação.
De fato, no caso em tela, é irrelevante saber se fez ou fará cirurgia para mudança de sexo, uma vez que se pretende que o seu nome seja alterado para nome usualmente feminino é porque sem dúvidas se vê e é vista por todos como mulher. Ela usa roupas femininas porque nelas experimenta uma sensação de conforto, de naturalidade, de descontração, tranquilidade e bem estar. Adota sempre um nome feminino em sua vida social.
DA FUNDAMENTAÇÃO
Inicialmente, o direito da autora encontra amparo no artigo 1º, III, da CF/1988, que tem como fundamento o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, bem como o artigo 5º, I, também da CF/1988 que tem como fundamento o Princípio da Igualdade, onde homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. 
Saliente-se Meritíssimo, a busca da felicidade é inerente ao ser humano. Compete ao ordenamento jurídico dispor de mecanismos que afaste a segregação social e garantam às pessoas a possibilidade de lutar por esse fim na sociedade. As pessoas que sofrem de inadequação do sexo genético ao sexo psíquico, como no caso do Autor, só estarão plenamente inseridas na sociedade se seu direito de autodeterminação for plenamente respeitado. É inequívoco que a Requerente, ao se identificar como sendo DARLISSON, se sente diariamente sob o olhar de preconceito, dificultando-lhe ter uma vida plena, livre da dor de não ter o sexo biológico idêntico ao sexo psíquico.
Assim, visto que o transexual é portador do direito fundamental da dignidade humana, o que, portanto, lhe assegura direito à identidade, que lhe deve ser assegurado à busca da plena felicidade, do que se extrai que a faculdade para a realização de cirurgia de mudança de sexo, a alteração do prenome e à identidade de gênero, decorrem de aludido direito fundamental e igualmente dos também expressos direitos fundamentais de liberdade, igualdade, privacidade, intimidade e dignidade da pessoa humana.
Diante de todo o relato supra, a Requerente propõe a presente ação com o intuito de adequar sua aparência física e psicológica à sua identidade civil, a alteração de seu prenome em seu assento civil, de DARLISSON ANDRADE DA CRUZ, uma vez que seu prenome atual não condiz com sua situação psíquica feminina, para que passe a constar do seu registro civil o nome EMILLY RHILANE ANDRADE DA CRUZ.
O nome é a expressão máxima do princípio da dignidade da pessoa humana, indispensável para nossa identificação em relação aos outros e nós mesmos, nos conferindo um lugar no mundo e um espaço necessário para a construção de nossa identidade e personalidade.
A Requerente deve ter sua AMPLA LIBERDADE garantida pelo Poder Público, sem interferir no direito de outrem. Pois bem, no presente caso está claro e evidente que a pretensa MUDANÇA DE PRENOME, com alteração no Registro Civil pretendida pela Requerente, não interfere no direito de outrem, razão porque deve ser acolhida a tese dos pleitos constantes da presente ação. 
No caso, inexistente qualquer restrição ao nome da Requerente, de modo que os direitos de terceiros estarão preservados, e, afastada a má-fé, que não se presume, conforme demanda o princípio da segurança jurídica, como consta das certidões negativas em anexo, patente que a pretensão da Requerente visa à adequação da identificação merece prosperar, conforme requerido.
Ademais, como demonstrado, no concernente à possibilidade de alteração de registro civil para mudança de nome por individuo transexual, nossa jurisprudência tem se mostrado progressista ao reconhecer o direito a uma nova identidade sexual e social, independentemente de referido individuo haver se submetido à cirurgia para transmutação da genitália.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. Pedido realizado por transexual - Inclusão de prenome feminino no registro civil - Cabimento. A incoincidência da identidade do transexual provoca desajuste psicológico, não se podendo falar em bem-estar físico, psíquico ou social. Assim, o direito à adequação do registro é uma garantia à saúde, e a negatividade modificação afronta imperativo constitucional,revelando severa violação aos direitos humanos. Sentença reformada. Recurso do autor conhecido e provido. Recurso do Ministério Público conhecido e parcialmente provido. Decisão unânime.(APELAÇÃO CÍVEL Nº 5751/2012, 6ª Vara Privativa de Assistência Judiciária de Aracaju, Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, DES. RICARDO MÚCIO SANTANA DE ABREU LIMA , RELATOR, Julgado em 30/10/2012) 
Nesta mesma linha, o STJ em maio de 2017, decidiu que Independentemente da realização de cirurgia de adequação sexual, é possível a alteração do sexo constante no registro civil de transexual que comprove judicialmente a mudança de gênero. Nesses casos, a averbação deve ser realizada no assentamento de nascimento original com a indicação da determinação judicial, proibida a inclusão, ainda que sigilosa, da expressão “transexual”, do sexo biológico ou dos motivos das modificações registrais.
O entendimento foi firmado pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao acolher pedido de modificação de prenome e de gênero de transexual que apresentou avaliação psicológica pericial para demonstrar identificação social como mulher. Para o colegiado, o direito dos transexuais à retificação do registro não pode ser condicionado à realização de cirurgia, que pode inclusive ser inviável do ponto de vista financeiro ou por impedimento médico. (o número do processo não pode ser divulgado por estar em segredo de justiça).
Por todos os motivos supramencionados nessa exordial, melhor atitude não há senão a procedência dos pedidos da AUTORA, baseado nos Princípios da Dignidade Humana, art, 1º, III, da CF/ 88 e da Isonomia, conforme art. 5º, I, também da Constituição da República Federativa do Brasil. 
PEDIDOS 
Face do acima exposto, espera que seja acolhido o pedido da Autora, sendo a presente Ação de Alteração de Assento de Nascimento julgada TOTALMENTE PROCEDENTE, com fundamento nos artigos art, 1º, III, da CF/ 88 e art. 5º, I, também da Constituição da República Federativa do Brasil. 
a) a concessão dos benefícios da justiça gratuita, isentando a Requerente do dever de pagar taxas, custas e quaisquer outros emolumentos, nos termos do artigo 98 do CPC;
b) Após ouvido o Dr. Representante do Ministério Público, seja julgada procedente a presente ação, determinando Vossa Excelência a expedição de mandado ao Sr. Oficial do Ofício do Registro Civil das Pessoas Naturais Cartório do Distrito de Aracaju, Certidão de Nascimento Sob o Nº. 2055 - Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Aracaju/SE, com as determinadas averbações da sentença às margens do assento do ofício de Registro de Civil de Nascimento conforme original, para que promova a alteração do prenome e do gênero do Requerente no seu assento civil, a fim de não mais constar o nome Darlisson Andrade da Cruz, passando a constar o nome EMILLY RHILANE ANDRADE DA CRUZ.
c) outrossim, requer a expedição de ofício aos órgãos próprios, para que se promovam as alterações correspondentes no CPF, RG, TÍTULO ELEITORAL, PASSAPORTE, CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO, bem como no CERTIFICADO DE RESERVISTA.
DAS PROVAS
Protesta-se por todos os meios de provas em direito admitidos, conforme artigo nº 369 e seguintes do CPC/2015, em especial as documentais, testemunhais e tudo o mais que se fizer necessário para total elucidação dos fatos.
Destaca-se também como meios de provas juntados neste processo:
Cópia de Atestado Psicológico;
Fotos onde mostra o aspecto feminino;
6. VALOR DA CAUSA:
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00, (Um mil reais), para meros efeitos fiscais.
Nesses termos, pede deferimento.
Aracaju, 23 de novembro de 2017.
ADVOGADO
Magda dos Santos
Acadêmica em Direito
TESTEMUNHAS: 
DARCILENE ANDRADE DA CRUZ
Endereço: Travessa Reis Lima, nº 281, Bairro Industrial
KÁTIA FERREIRA DE JESUS
Endereço: Rua São Lucas, nº 81, Conjunto João Paulo II Bairro Industrial
DALILA SIMÃO MIRANDA
Endereço: Rua São Lucas, nº 135, Conjunto João Paulo II, Bairro Industrial
Rua Teixeira de Freitas, n.º 10, Bairro Salgado Filho. Aracaju/SE. CEP: 49.020-480. Telefone: (79) 3246-8114

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