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direito civil II

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FATO JURÍDICO
 
         É fato ou complexos de fatos sobre o qual incidiu a Norma jurídica (NJ);
         É o fato que dimana agora, mais tarde, condicionalmente, um dia, ou talvez nunca, efeitos jurídicos (Pontes de Miranda – adaptado);
         São os acontecimentos que, de forma direta ou indireta, acarretam efeito jurídico (Venosa);
         Todo o acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas (Stolze e Pamplona);
         Nem todos os fatos jurídicos produzem efeitos; comumente acontece, mas não é obrigatório. Ex: TESTAMENTO; uma vez feito e depois revogado não produz efeitos (a não ser que ocorra a morte);
         Fatos jurídicos podem advim de fatos/eventos da natureza quando causam destruição de bens e/ou lesão a pessoas, etc;
         Em resumo: O que qualifica o fato jurídico é a potencialidade de produzir efeitos;
 
 
 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS
 
	Informações Complementares
	         Segundo Pablo Stolze, Fato jurídico, em sentido amplo, seria todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas;
         Segundo Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: ...o fato jurídico é aquele acontecimento capaz de produzir efeitos (isto é, capaz de criar, modificar, substituir ou extinguir situações jurídicas concretas) trazendo consigo uma potencialidade de produção de efeitos, mas não necessariamente fazendo com que decorram tais conseqüências; Tome-se como exemplo a elaboração de um testamento. Com efeito, se alguém, maior e capaz, elaborar um testamento, teremos, efetivamente, um fato jurídico que somente produzirá seus efeitos depois da morte do testador. Se, contudo, vier a revogar, ainda em vida, o testamento antes elaborado, o referido fato jurídico deixará de existir sem nunca produzir um único efeito concreto, não criando, modificando, substituindo ou extinguindo nenhuma relação jurídica;
 Podem ser NATURAIS ou HUMANOS:
1. FATOS NATURAIS (Fato jurídico em sentido estrito): é o que advém, em regra, de fenômeno natural, sem intervenção da vontade humana, que produz efeito jurídico;
 
a)    ORDINÁRIOS: Fatos cujo acontecimento é rotineiro, comum. Ex: nascimento, morte, maioridade, aluvião, avulsão, decurso do tempo, etc;
 
- AVULSÃO: Acréscimo de propriedade por perda de outro proprietário de forma repentina e por força da natureza;
- ALUVIÃO: acréscimo de propriedade por perda de outro proprietário de forma gradativa e imperceptível por força da natureza;
 
b)   EXTRAORDINÁRIOS: Fatos cuja ocorrência é excepcional, inesperada. Ex: caso fortuito ou força maior (queda de raio, inundação, motim), terremoto, enchente, etc;
 
- CASO FORTUITO: Fato do Homem. Ex: acidente de veículo;
- FORÇA MAIOR: Acidente da natureza;
 
Art. 393, CC/02
 
2. FATO HUMANO: é o acontecimento que depende de vontade humana;
 
a)    ATO JURÍDICO: simples manifestação consciente de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos. Neste tipo de ato, não existe propriamente uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei. Pode-se dizer que o ato jurídico apenas concretiza o propósito fático contido na norma jurídica. Ex: A conduta do reconhecimento de paternidade;
 
- LÍCITO: Efeitos almejados, queridos pelo agente. Para Stolze as ações humanas lícitas dever ser chamadas de atos jurídicos;
- ILÍCITO (Efeito involuntário): Efeitos não almejados pelo agente. Para Stolze as ações humanas ilícitas dever ser chamadas de atos ilícitos – ação humana antijurídica. Uma vez que esses atos são tratados separadamente no código civil. Portanto, fazem parte de uma categoria separada dos atos jurídicos (Zeno Veloso);
 
	Informações Complementares
	         É o ato tipicamente não negocial, para o qual o CC reservou apenas um artigo (art. 185). Não é tão aprofundado quanto o negócio jurídico, pois é o simples comportamento humano voluntário e consciente que gera efeitos jurídicos legalmente pré-determinados. (...) o ato jurídico em sentido estrito é o que gera conseqüências jurídicas previstas em lei (tipificadas previamente), desejadas é bem verdade, pelos interessados, mas sem qualquer regulamentação da autonomia privada. Surge como mero pressuposto de efeito jurídico preordenado por lei. Ilustrativamente é possível invocar o exemplo do reconhecimento de paternidade, no qual há vontade exteriorizada no sentido de aderir a efeitos previamente previstos na norma, não sendo possível ao manifestante criar efeitos distintos daqueles contemplados na norma. Não é possível, assim, reconhecer um filho, impedindo-lhe, porém, de cobrar alimentos ou de ser herdeiro necessário. - Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald;
         Os efeitos do Ato Jurídico em sentido estrito são dados pela lei, não pela vontade. Seus efeitos consistem na resolução dos pressupostos fáticos da norma.
         Exemplos: Atos materiais como a fixação do domicílio, a percepção de um fruto, a caça e pesca permitida; o reconhecimento de filhos; participações, como as intimações, protestos. *Participar pode significar também “dar ciência”, são os atos de comunicação (notificação, intimação, protesto)
 
b)   ATO-FATO JURÍDICO: É o fato jurídico qualificado pela atuação humana (o que se leva em conta é o efeito resultante do ato que pode ter repercussão jurídica, inclusive ocasionando prejuízo a terceiros). Embora a atuação do homem seja da substância do fato jurídico, não importa para a norma se houve, ou não, manifestação de vontade em praticá-lo, o que se ressalta é a consequência do ato (Stolze e Pamplona). O ato não é consciente. Ex: compra e venda feita por crianças;
 
	Informações Complementares
	         Segundo Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, existem, contudo, espécie na qual “o fato para existir necessita, essencialmente, de um ato humano, mas a norma jurídica abstrai desse ato qualquer elemento volitivo como relevante.” Isto é, “o ato humano é da substância do fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não, vontade em praticá-lo”, conforme a precisa lição de Bernardes de Mello; 
         A teoria do ato-fato jurídico é uma das teorias mais complexas do direito civil brasileiro. Foi criada por Pontes de Miranda e tem como adeptos Orlando Gomes e Vicente Ráo
         O ato-fato é um comportamento humano gerador de efeitos jurídicos provenientes de atitude completamente desprovida de voluntariedade ou consciência. Exs.: a compra de uma bala por uma criança de 5 anos, a especificação realizada por alienado mental, o tesouro encontrado por uma criança; 
         A criança que compra o doce – para alguns autores, é um contrato de compra e venda nulo por incapacidade absoluta do agente, para outros é um negócio jurídico nulo, mas aceito socialmente e para os adeptos da teoria do ato-fato, não é negócio jurídico, não é um contrato, é um ato-fato, pois provém de atitude humana na qual inexiste qualquer consciência.
	
 
c)    NEGÓCIO JURÍDICO: É a manifestação de vontade, com base na sua autonomia privada da vontade (dentro do que a lei permite), pela qual o particular regula por si os próprios interesses (a maioria dos contratos encontra-se aqui!). Ocorre quando existe por parte da pessoa a intenção específica de gerar efeitos jurídicos ao adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. Trata-se de uma declaração de vontade que não apenas constitui um ato livre, mas pela qual o declarante procura uma relação entre as várias possibilidades que oferece o universo jurídico. No ato jurídico os efeitos previstos ocorrem independentemente da vontade; já no negócio jurídico os efeitos são elegíveis;
 
CLASSIFICAÇÃODOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
 
1. QUANTO A MANIFESTAÇÃO DE VONTADE (nº de declarantes)
 
a)    UNILATERAIS: um só vontade. Ex: testamento, renúncia;
b)   BILATERAIS: duas vontades. Vontades convergentes. Um contrato só se faz com no mínimo duas vontades. A quantidade de partes é diferente da quantidade de pessoas. Ex: compra e venda, locação, prestação de serviços, casamento (2 pessoas e 2 vontades; 3 pessoas e 2 vontades; 10 pessoas e 2 vontades);
 
c)    PLURILATERAIS ou MULTILATERAIS: mais de duas vontades. Ex: consórcio, contrato de sociedade (3 pessoas e 3 vontades; 10 pessoas e 5 vontades);
 
2. QUANTO ÀS VANTAGENS
 
a)    GRATUITOS: só uma das partes aufere benefício. Ex: doação pura, mandato, depósito, mútuo, comodato;
 
	Informações Complementares
	         Comodato é o contrato unilateral, gratuito, pelo qual alguém (comodante) entrega a outrem (comodatário) coisa infungível, para ser usada temporariamente e depois restituída. 
         Infungibilidade é o princípio que abarca os bens móveis que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade. Logo, todo bem móvel único é infungível, assim como todo bem imóvel.
         São infungíveis as obras de arte, bens produzidos em série que foram personalizados, objetos raros dos quais restam um único exemplar, um livro, etc.
         Uma vez que a coisa é infungível, gera para o comodatário a obrigação de restituir um corpo certo. Difere-se assim do mútuo, que é empréstimo de coisa fungível, consumível (como o dinheiro), onde a restituição é de coisa do mesmo gênero. O comodante guarda a propriedade da coisa e o comodatário adquire a posse, podendo valer-se dos interditos possessórios. O comodante geralmente é o proprietário ou o usufrutuário. Pode ainda ser o locatário, desde que autorizado pelo locador. É contrato não solene, podendo assim ser oral, mesmo quando envolver bens imóveis. Contudo, a forma escrita é recomendável. É contrato unilateral, porque somente o comodatário assume obrigações. A gratuidade é o que distingue o comodato da locação;
         Se o contrato de comodato é mútuo, significa que tem igual valor entre ambas as partes signatárias;
 
b)   ONEROSOS: ambas as partes auferem vantagens, associada a uma contraprestação (compra e venda, locação, mútuo a juros). Estes, podem ser ainda comutativos, quando as prestações são equivalentes, certas e determinadas. E aleatórios, quando a prestação de uma das partes depende de acontecimentos incertos e inesperados – contrato de seguro, contrato de compra de coisas futuras;
 
c)    BIFRONTES: podem ser gratuitos e se tornarem onerosos segundo a vontade das partes. Ex: mútuo, mandato, depósito. É uma categoria híbrida. Sempre parte do gratuito para oneroso e nunca o inverso.
 
- Quando se dá nomes diferentes a uma mesma relação dependendo apenas da onerosidade ou gratuidade da mesma, será gratuito ou oneroso. Já quando a relação, independente de ser gratuita ou onerosa, tiver a mesma nomenclatura, será bifronte (ocorre de gratuito para oneroso);
 
MECÂNICA DO NEGÓCIO BIFRONTE
 
c1) MÚTUO GRATUITO > MÚTUO FENERÁTÍCIO ONEROSO: (art. 591 – Destinando-se a mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual);
c2) MANDATO GRATUITO > MANDATO ONEROSO: (art. 658 – O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada contribuição, exceto se o seu objeto corresponder aos daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa. PU – Se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato. Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por arbitragem);
c3) DEPÓSITO GRATUITO > DEPÓSITO ONEROSO: (art. 628 – O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o depositário praticar por profissão);
 
3. QUANTO AO TEMPO DOS EFEITOS
 
a)    INTER VIVOS: as conseqüências operam-se em via dos interessados (produzem os efeitos estando as partes ainda em vida. Ex: compra e Vanda, locação, seguro de carro; seguro de vida;
b)   MORTIS CAUSA: regulam ações de direito após a morte do sujeito. Ex: legado, testamento;
 
4. QUANTO À EXISTÊNCIA
 
a)    PRINCIPAIS: existem por si mesmos. Ex: locação compra e venda; mútuo;
b)   ACESSÓRIOS: possuem existência subordinada a outro negócio. Pressupõe a existência do principal. Ex: fiança, penhor;
 
5. QUANTO ÀS FORMALIDADES
a) SOLENES (formais): requerem forma especial prevista em lei para que sejam válidos. Ex: testamento;
b) NÃO SOLENES (não formais/ de forma livre): possuem forma livre, sem interferência legal. Ex: doação de bem móvel;
- Há também outra divisão não predominante, mas que, segundo Anderson, é mais lógica: a) formais (escritos); b) informais (verbais) e c) solenes – a lei obriga uma intervenção de uma autoridade estatal (registrados em cartório) – classificação de José Abreu Filho;
 
INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
 
1. Art. 113 – Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
 
- BOA-FÉ OBJETIVA: o modelo de conduta social, arquétipo ou standard jurídico, segundo o qual cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria um homem reto – com honestidade, lealdade e probidade. Possui seu embasamento no princípio da eticidade, um dos princípios norteadores do CC/02 junto com os princípios da operabilidade e da sociabilidade;
- BOA- FÉ SUBJETIVA: denota “estado de consciência” ou convencimento individual de obrar (a parte) em conformidade ao direito (sendo) aplicável, em regra, ao campo dos direitos reais, especialmente em matéria possessória;
 
- FUNÇÔES DA BOA-FÉ OBJETIVA:
 
a) INTERPRETATIVA: art. 113 – os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração;
b) INTEGRATIVA: art. 422 – os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé; Após o CC/02 isso acontece na fase pré-contratual, contratual e pós-contratual
c) LIMITADORA (de controle): limita o exercício do indivíduo – art. 187 – também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Um direito legítimo tem que ser exercido nos limites da boa-fé objetiva;
- O COMPORTAMENTO representa a boa-fé OBJETIVA, e a INTENÇÃO, a boa-fé SUBJETIVA;
- A boa-fé objetiva traz consigo deveres anexos.
 
2. Art. 109 – no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público (escritura pública / tabelião – cartório), este é da substância do ato.
 
- Não valerá caso não seja lavrada a escritura no Cartório de Registro (o negócio é nulo);
 
3. Art. 110 – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
 
- A reserva mental (reticência) não produz efeitos, uma vez que não houve sua exteriorização. Ex: simulação de casamento de estrangeiro com brasileiro.
- Reserva mental boa-fé;
- Reserva mental má-fé; equipara-se a simulação;
 
4. Art. 111 – O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
 
- Quem cala em direito, em regra, não diz nada. Caso a circunstância (de uso, qualifica pela circunstância) leve a possível resposta positiva, o silêncio importará;
- O SILÊNCIO SIMPLES importa o NÃO QUERER, já o QUALIFICADO importa o QUERER.
 
5. Art. 112 – Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
 
- Tal princípioprocura afastar-se do extremismo ou evitar de adotar unicamente a declaração (a teoria da declaração ou posição objetivista: o intérprete se atem a vontade manifestada), ou a vontade (posição subjetivista ou corrente voluntarista da manifestação de vontade: a hermenêutica deve investigar o sentido da efetiva vontade do declarante) como formas de interpretação. (Venosa);
- No caso de um erro gráfico que modifique o resultado de uma ação, poderá este ser interpretado conforme a vontade (intenção), desde que se perceba a diferença entre a vontade e o expresso;
- Caso do gato da velha salvo por Hitallo (quem receberá a recompensa? Hitallo que salvou ou Rafael que teve o nome citado HITALLO?
 
- O CC/02 ADOTA A TEORIA DA VONTADE EM OPOSIÇÃO À TEORIA DA DECLARAÇÃO;
 
6. Art. 114 – Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
 
- No caso em que A não “ganha” nada e B “recebe” algo (doação) deve-se interpretar de forma estrita: os acessórios só seguirão o principal se expressos no contrato;
- CARRO – se não houver descrição do aparelho de som, este não estará incluso;
 
7. Art. 117 – Salvo se o permitir a lei ou o representado é anulável o Negócio Jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. PU – Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em que os poderes houverem sido substabelecidos.
 
- No autocontrato há, no caso da representação para a venda de um carro, duas vontades, duas partes e apenas uma pessoa;
- Se o contrato ou a lei dispor em contrário o fato será anulável;
- AUTOCONTRATO e o STJ: súmula 60 – é nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculando ao mutuante no exclusivo interesse deste;
- Representação legal: é a que está na lei;
- Representação voluntária: é a contratual;
 
EFEITOS AQUISITIVOS, MODIFICATIVOS, CONSERVATIVOS E EXTINTIVOS DE DIREITO.
 
1. AQUISIÇÃO DE DIREITO: É a adjunção, encontro, união com uma pessoa, seu titular (surge a propriedade quando o bem se subordina a um dominus). Pode ser:
 
a)    ORIGINÁRIA: é feita sem qualquer relacionamento com o titular anterior, tanto porque o direito surge pela primeira vez (como é o caso da aquisição da propriedade pela ocupação de uma coisa sem dono – res nullius), como porque o direito já existia, como na coisa abandonada (res derelictae);
 
EX: OCUPAÇÃO – art. 1.263, CC – quem se assenhorear de coisa sem dono para logo se adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa em lei. Tanto res nullius ou res derelictae.
 
EX: USUCAPIÃO (para bens móveis e imóveis) – art. 1.238, CC - Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
 
b)   DERIVADA: Há relacionamento com o titular antecedente do direito. Sempre que houver aquisição derivada de direitos, estamos diante do que se denomina sucessão; Se houver um vício no direito, este será transmitido ao novo titular.
 
- EX: COMPRA E VENDA (aquisição onerosa) – art. 481, CC – Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
 
- EX: DOAÇÃO (aquisição gratuita) – art. 538 – Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
 
1.1.        EXPECTATIVA DE DIREITO: É a mera possibilidade ou simples esperança de adquirir um direito. Não há proteção jurídica, uma vez que ainda não foi incorporada ao patrimônio jurídico da pessoa. Expectativa é diferente do direito condicional;
 
- EX: direito do herdeiro testamentário e direito à nomeação (decisão do STF)
 
1.2.        DIREITO CONDICIONAL: É o que só se perfaz (condição suspensiva – não há uma produção de efeitos) ou se extingue (condição resolutiva – os efeitos são desde já e só terminam com a condição implementada) pelo advento de um acontecimento futuro e incerto – ambos têm proteção jurídica; Condição é um evento incerto e futuro.
 
2.     MODIFICAÇÃO DE DIREITO: Os direitos podem ser alterados sem que ocorram mudanças em sua substância. Referem-se ao conteúdo ou ao titular do direito. PODE SER:
 
a)    OBJETIVA: atinge o objeto da relação jurídica qualitativa (altera-se o objeto do direito - sem que sua essência seja alterada) e quantitativamente (o direito permanece o mesmo, mas com acréscimo ou diminuição) – refere-se ao conteúdo.
 
- EX: pagamento acertado em dinheiro, mas feito em cheque (qualitativa); avulsão; aluvião (quantitativa);
 
b)   SUBJETIVA: ocorre quando há alteração do sujeito titular do direito. Não muda o objeto;
 
- EX: compra e venda, sucessão hereditária, doação;
 
b1) DIREITOS PERSONALÍSSIMOS: São aqueles que só podem ser exercitados por seus titulares (ou seja, não pode ocorrer modificação subjetiva do direito), não sendo passíveis de alienação. Entretanto, há alguns julgados que têm admitido a possibilidade de uma ação investigatória de relação avoenga para a hipótese de falecimento do indivíduo que não teve a paternidade reconhecida, mas que seus herdeiros pretenderam vê-la declarada, seja para efeitos sociais, seja para petição de herança. Ao falecer, o pai transfere o direito ao filho de saber quem é o avô (STJ);
 
3.     DEFESA DE DIREITO: É meio de garantir a conservação ou repelir a agressão a um direito. Para um direito já violado, para conservá-los ou em vias de ser;
 
a) ATOS DE CONSERVAÇÃO: Visa-se evitar o perecimento, turbação ou esbulho de seu direito (medidas e ações cautelares - produção antecipada de provas). Está associado a tempo;
 
b) ATOS DE DEFESA DO DIREITO LESADO: tendo ocorrido a lesão ao direito (ações cognitivas – de conhecimento – e executivas). O direito foi efetivamente lesado;
 
c) ATOS DE DEFESA PREVENTIVA: antes mesmo da lesão, mas diante da sua ameaça evidente (interdito proibitório, fiança, clausulas contratuais, etc)
 
Interdito possessório:
 
1.    Manutenção de posse - turbação na posse. A posse é perturbada. É preventiva;
2.    Reintegração – quando há esbulho (perda) da posse – é direito lesado;
3.    Interdito Proibitório – quando há uma ameaça. É preventiva;
 
d) AUTOTUTELA: ocorre quando a lei autoriza, ocorrida a lesão, que o sujeito possa repelir a lesão a direito pelas próprias mãos. Há um desforço imediato;
- EX: art. 1210, §1º, CC – O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. § 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
 
4. EXTINÇÃO DE DIREITO 
 
a) PERDA: É o desligamento do direito de seu titular para o patrimônio de outrem. EX: compra e venda, doação;
 
- Ocorre toda vez que houver transferência de uma pessoa para outra;
- Alienação: transferência de propriedade. Alienação não se confunde com a venda. Esta é uma espécie daquela;
 
b) EXTINÇÃO (propriamente dita): É o desaparecimento do direito para qualquer pessoa. Ex: algo jogado no fundo mar, no espaço, casos sinistros (a casa pegou fogo e nada restou)
 
c) RENÚNCIA: É a abdicação inequívoca do direito (o titular abre mão de seu direito), cujaintenção é explícita, sem transferir-lo a outrem. EX: renúncia à herança;
 
d) INÉRCIA: É a inação que acarreta a extinção do direito. A intenção é implícita. EX: usucapião (extinção de um direito para um e aquisição para outro)
 
- RENÚNCIA INÉRCIA DO TITULAR DO DIREITO: o proprietário, não praticando ato externo que demonstre sua propriedade, não deixa de ser proprietário, a não ser por ato de outrem, que pela posse continuada adquira a coisa por usucapião.
 
e) ABANDONO: ato volitivo (voluntário de vontade), de intenção implícita, de deixar a coisa (res derelicta – a coisa abandonada)
 
ABANDONO RENÚNCIA: no primeiro, a intenção é implícita, na segunda, é explícita.
 
f) FALECIMENTO: Acarreta a extinção do direito quando se tratar de direito personalíssimo;
- art. 6º, CC – a existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autorizar a abertura da sucessão definitiva;
 
g) PRESCRIÇÃO: É a perda da pretensão em razão do decurso do tempo (prescrição atinge pretensão e decadência atinge o direito)
- art. 205, CC: a prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor;
- art. 206, CC: trata de prescrições em prazos menores;
 
h) DECADÊNCIA: É a perda de um direito potestativo (impositivo) pelo decurso do tempo (potestade = impor).
- art. 178, CC: é de quatro anos o prazo de decadência para preitear-se anulação do negócio jurídico, contado: I – no caso de coação, do dia em que ela cessar; II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III – no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade;
 
5. PLANO DE EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
 
 5.1.        PLANO DE EXISTÊNCIA
 
 5 .1.1.   ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
 
 a)    MANIFESTAÇÃO DE VONTADE
 
a.1) EXPRESSA: palavra escrita ou articulada, gestos ou sinais;
 
a.2) TÁCITA: decorre do comportamento, expresso por uma atitude (receber sempre o produto sem dar uma resposta, apenas pagando o boleto);
 
- Tanto a manifestação expressa como a tácita tem valor para o ordenamento jurídico, salvo nos casos em que a lei especificamente exige a forma expressa, por vezes somente escrita;
- Meios que neutralizem a ação volitiva, como a violência física (vis absoluta), ou até mesmo a hipnose, tornam inexistente o negócio jurídico;
 
a.2.1) SILÊNCIO: via de regra, o silêncio é ausência de manifestação de vontade, e, como tal, não produz efeitos;
 
- Art. 111, CC. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa,
 
- Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado;
EX: do capacete da NASA
 
b)   AGENTE EMISSOR: a participação do sujeito (pessoa natural ou jurídica) é indispensável à configuração existencial do negócio jurídico;
 
c)    OBJETO: é a utilidade física ou ideal em razão da qual giram os interesses das partes;
 
d)   FORMA: é o meio pelo qual a declaração de exterioriza – escrita, oral, silêncio, sinas (divergência: nem todos colocam – STOLZE sim e VENOSA não);
 
- Não confundir a forma – elemento existencial do negócio –, com forma legalmente prescrita – pressuposto de validade do ato negocial, cuja inobservância atinge o plano de validade, e não o de existência;
 
 
5.1.     PLANO DE VALIDADE: Os atos jurídicos determinam a aquisição, modificação ou extinção de direitos. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o ato é inválido, ou seja, não produz efeito jurídico em questão e é nulo.
 
	Informações Complementares
	         os elementos de validade do negócio jurídico estão previstos na lei (art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo) e forma prescrita ou não defesa em lei. Apesar de não estar previsto expressamente no art. 104, CC, a doutrina ainda acrescenta o consentimento (vontade livre e consciente que corresponda efetivamente ao que almeja o agente). Isso porque caso não haja o consentimento, o negócio estará viciado, tornando passível de anulação. A capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos gerais, porque são elementos comuns a todos os negócios jurídicos. Já a forma é elemento especial, pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os negócios jurídicos exigem uma forma especial.
5.1.1.  PRESSUPOSTO DE VALIDADE
 
A) PRESSUPOSTO DE VALIDADE
A1) PRINCÍPIO DA AUTONIMIA DA VONTADE: Traduz a liberdade de atuação do indivíduo no comércio jurídico, respeitando-se os ditames mínimos de convivência social e moralidade média.
AS LIMITAÇÕES DEVEM PROVIR DA:
1)  LEI: para salvaguardar o bem geral;
2)  MORAL: de ordem subjetiva;
3)  ORDEM PÚBLICA: impõe a observância de princípios superiores, ligados ao direito, à política e à economia; 
- É a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam;
A2) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ: É preciso que as partes comportem um padrão ético objetivo de confiança recíproca, atuando segundo o que espera de cada um, em respeito a deveres implícitos a todo negócio jurídico bilateral: confidencialidade, respeito, lealdade recíproca, assistência, etc.
Pablo Stolze e Pamplona se colocam da seguinte forma: “Em nosso entendimento, a violação da boa-fé objetiva autoriza não apenas a condenação do infrator em perdas e danos, mas, em algumas hipóteses, até mesmo a anulação do negócio jurídico, justificada pela incidência do erro ou dolo, sem prejuízo de a parte lesada exigir compensação pelo prejuízo sofrido”.
 
5.1.2.  AGENTE EMISSOR DE VONTADE CAPAZ E LEGITIMADO PARA O NEGÓCIO
         Capaz: maior ou emancipado e não interditado;
         Art. 497, II: Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: (II) II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;
A) CAPACIDADE: É a medida jurídica da personalidade;
- Tal capacidade deve ser aferida no momento do ato. A capacidade superveniente à prática do ato não é suficiente para sanar a nulidade. Por outro lado, a incapacidade que sobrevém ao ato não o inquina, não o vicia (VENOSA);
I – CAPACIDADE DE DIREITO DE GOZO: É o atributo, inerente à pessoa, para ser sujeito de direitos e obrigações;
II – CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCÍCIO: É a aptidão para exercer por si só os atos da vida civil;
a)   Art. 3º, CC: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
b)   Art. 4º, CC: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
c)   REPRESENTAÇÃO: 
Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos.
Art. 118. Orepresentante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
B) LEGITIMIDADE: Não basta que o agente tenha capacidade para que tenha validade o negócio jurídico, é preciso que ele não esteja circunstancialmente impedido de celebrar o ato. Legitimidade é a pertinência subjetiva para a prática de determinado ato. “As partes, em determinado negócio jurídico, devem ter competência específica para praticar o ato”. (VENOSA)
- A legitimação ou legitimidade depende da particular relação do sujeito com o objeto do negócio;
- Art. 1.749, CC: Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade:
I - adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor;
- Art. 1.521, CC: Não podem casar: IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
- Caso de indignidade para herança também é falta de legitimidade;
	Informações Complementares
	         Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do Código Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já analisamos quem são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a aula sobre pessoas naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria. No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo relativamente incapaz sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade é um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo.
 
         INCAPACIDADE:
 
- Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) devem ser representados → falta de representação → Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC).
- Relativamente incapazes (art. 4°, CC) devem ser assistidos → falta de assistência → Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC).
 
         É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e má-fé de terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode uma pessoa capaz realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for indivisível (ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem capazes, não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que o vício tenha sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o vício se estenderá para toda a obrigação, sendo o negócio anulado.
         Resumindo: 
 
- Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte → o vício não pode ser alegado em benefício próprio.
- Pessoa não sabia da incapacidade relativa → o vício pode ser alegado:
 
  Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados.
  Exceção: aproveita aos demais se a obrigação for indivisível.
 
         Há outro ponto interessante. Se o menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistência, escondendo dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar este vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, CC).
 
         Recordando! A pessoa jurídica deve ser representada por uma pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja uma pessoa natural para assumir os compromissos e assinar os contratos da pessoa jurídica, exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em regra essa pessoa é a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus diretores. Trata-se, assim, de uma representação imprópria.
 
         REPRESENTAÇÃO: Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes:
 
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados.
b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo cargo em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma falência, inventariante, etc.
c) Convencionais: são aqueles que têm um mandato, expresso ou tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada (fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta espécie de representação é possível o substabelecimento. Substabelecer significa transferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do mandante. Ex.: “A” (representado ou mandante) outorgou poderes para “B” (representante ou mandatário) defender seus interesses em um processo trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia designado para a audiência “B” não irá comparecer, pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para “D”, que é outro Advogado. O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não o fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 16, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos ou assumir as obrigações decorrentes da representação. O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do representado, sob pena de anulação. O exemplo clássico ocorre no cumprimento do chamado mandato em causa própria, onde o mandatário é também o beneficiário. Ex.: A confere mandato para B para vender seu apartamento, com autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo = B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A (como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). Notem, que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois ângulos diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em nome próprio). Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e houver um conflito de interesses com o representado,sendo que tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também será anulável.
5.1.3.     OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL E DETERMINADO
- Art. 104, CC: A validade do negócio jurídico requer:
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
- Art. 106, CC: A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
a)  LICITUDE: É a qualidade do objeto incluso no campo da possibilidade normativa e moral;
b)  POSSIBILIDADE: Entende-se como possível tudo o que estiver dentro das forças humanas ou das forças da natureza;
- Há uma sinonímia entre a licitude e possibilidade jurídica do objeto. Quando o objeto for ilícito, proibido, será também impossível juridicamente. EX: particular que celebra compra e venda de um objeto de uso comum do povo (praça); celebração de contrato de prestação de serviços sexuais – todos seriam nulos pela impossibilidade jurídica/ilicitude de seu objeto; 
1.   POSSIBILIDADE JURÍDICA: Para alguns autores (a minoria) a possibilidade jurídica é sinônimo de licitude. Mas, para outros (a maioria) isso não é possível, uma vez que o ato pode ser lícito e impossível juridicamente. Se o negócio for impossível juridicamente, o ato será nulo, ou seja, não produzirá efeitos;
2.   POSSIBILIDADE FÍSICA: 
2.1.     RELATIVA: pode ser impossível para uns e possível para outros; a realização seria possível por terceiro, às custas do devedor;
2.2.     ABSOLUTA: impossibilidade que atinge a todos. A impossibilidade só invalida o negócio jurídico se for absoluta;
c)  DETERMINABILIDADE: o objeto deve ser determinado ou determinável (deve conter elementos mínimos de individualização que permitam caracterizá-lo);
	Informações Complementares
	         O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto lícito, ou seja, não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. Assim, eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e explorar naquele imóvel (que era para fins residenciais) uma atividade ilícita, como por exemplo, a exploração da prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, nulo será o negócio jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto roubado. Também neste caso haverá a nulidade absoluta do ato.
         Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade pode ser jurídica (proibida pelo ordenamento jurídico: venda de herança d pessoa viva – art. 426, CC) ou física (desrespeito às leis naturais ou físicas: ir à lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o negócio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem quer que seja (atinge a todos sem distinção). Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, puder ser realizada por alguém (mesmo que não seja o devedor), não haverá obstáculo para o negócio, que continua válido. Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. Em outras palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela escolha.
 
         Impossibilidade inicial do objeto: Um aspecto interessante do atual Código Civil é o seu art. 106: “A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinada”. Ou seja, quando da celebração do contrato havia um vício relativo em relação ao objeto, mas, durante a execução do contrato, este defeito deixou de existir. Assim, nosso Código, consagrando o princípio da máxima utilidade afirma que tal vício estará superado. Lembrando que o defeito deve ser relativo, pois se for absoluto o negócio será considerado nulo.
 
         ATENÇÃO!
 
- Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado → Negócio Jurídico Nulo (art. 166, II CC).
 
         CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico: A manifestação de vontade exerce papel imprescindível no negócio jurídico, sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja espontânea, livre de qualquer vício. Inicialmente perguntamos: o que interessa mais ao Direito: a intenção ou a ação? Resposta: para o Direito o mais importante é a vontade declarada, a ação, pois a intenção, isoladamente, não tem valor algum. Somente após a manifestação de vontade declarada (por escrito, palavras, gestos ou sinais) é que a intenção será levada em consideração. Portanto, a declaração de vontade é constituída de dois elementos: a) interno: real intenção do agente; b) externo: vontade declarada. O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo o que desejava. Deve haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes ele deve ser interpretado, para se chegar a real intenção das partes. Interpretar o negócio jurídico é delimitar o alcance da declaração de vontade. No entanto as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas de forma isolada, mas sim no contexto do contrato, em conjunto com as demais cláusulas. O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força de declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o brocardo: “quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na hipótese da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação, concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso concreto, que deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. No dizer de Machado de Assis: “O silêncio... é um tumulto”. Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma “fria” de um texto do contrato). Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção de alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na omissão de determinado ato). A boa-fé se presume. De forma contrária,a máfé precisa ser provada. O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doação pura e simples) e a renúncia (ato unilateral em que a parte abre mão de um direito, faculdade ou vantagem) interpretam-se estritamente. Ou seja, segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios uma interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; por tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as obrigações do mesmo (confiram o art. 819, CC). Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece destaque especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”.
5.1.4.     FORMA ADEQUADA: É o requisito de validade dos negócios jurídicos obedecerem à forma prescrita ou não adotarem a forma proibida (em regra a forma é livre, mas a lei pode dispor em contrário);
A) FORMA LIVRE: 
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir;
B) FORMA LEGAL OU PRESCRITA:
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País;
C) FORMA CONTRATUAL OU CONVENCIONAL:
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato;
	Informações Complementares
	         Defeitos do negócio jurídico são os vícios relativos à formação da vontade ou à sua declaração, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave (quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser remediado pelo interessado).
         Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) “quando eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, às vezes eu posso ter feito algo que não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras vezes quero fazer algo e faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. É importante notar que em qualquer uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados defeitos relativos à vontade. Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o prejudicado é um dos contratantes. Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo a correspondência entre a vontade interna e a manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os chamados vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é considerada por parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva iludir terceiros. Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, referente à invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos defeitos do negócio).
 5.2.     OS DEFEITOS NO NEGÓCIO JURÍDICO 
5.2.1.     INTRODUÇÃO: São vícios que impedem a declaração de vontade livre e de boa-fé;
5.2.2.     CLASSIFICAÇÃO:
 5.2.2.1.      VÍCIOS DE CONSENTIMENTO (DE VONTADE)
         Erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo;
 
	Informações Complementares
	         Vícios de Consentimento → A vontade não é expressada de maneira absolutamente livre; a vontade declarada não representa a real intenção do agente → Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e Estado de Perigo;
         Ausência de Vontade → Negócio inexistente (ou nulo para outra corrente doutrinária).
5.2.2.2.      VÍCIOS SOCIAIS:
         Simulação, fraude contra credores; 
	Informações Complementares
	         Vícios Sociais → há uma correspondência entre a vontade interna do agente e a sua manifestação, no entanto, a vontade manifestada não tem a intenção pura e de boa-fé que enuncia; o negócio é realizado em desconformidade com a lei, pois a intenção é de prejudicar terceiros → Fraude contra Credores. Quanto à Simulação, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores ainda afirmem ser um vício social, o atual Código Civil a coloca em outro capítulo (da invalidade do negócio jurídico: art. 167, CC), conforme veremos adiante.
A) ERRO
         É a falsa percepção da realidade; tal desconhecimento do declarante a respeito das circunstâncias do negócio (ignorância);
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. 
         O ERRO DEVE INCIDIR SOBRE A NORMA DISPOSITIVA (que pode ser afastada) PARA SE CARACTERIZAR?
- Não necessariamente. O erro pode incidir sobre norma dispositiva ou cogente desde que não haja intenção de escusar-se da lei.
 
- Art. 139. O erro é substancial quando: III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico;
- ERRO = ESSECIALIDADE (se não soubesse não teria emitido a vontade) + ESCUSABILIDADE (segundo o CJF não é exigida); 
         O ERRO PODERÁ INCIDIR NO NEGÓCIO, NO OBJETO OU NA PESSOA.
A1) REQUISITOS
- ESSENCIALIDADE:O equívoco deve incidir sobre a essência do ato que se pratica. TIPOS:
I – “error in negotio”: é o erro que incide sobre a natureza do negócio jurídico. Ex: comodato por doação (troca de uma coisa jurídica por outra);
II –“ error im corpore”: é aquele que se refere à identidade do objeto material do negócio jurídico. Ex: compra de um carro por outro diverso;
III – “error in substantia”: é o que acarreta equívoco acerca da substância de que é composto o objeto material do negócio. Ex: compra de bijuteria por anel de ouro (erro sobre a qualidade do objeto)
IV – “error in persona”: caracteriza-se quando o engano incide sobre as qualidades ou acerca da identidade de uma pessoa. Ex: contratar um cirurgião plástico por outro, erro de Cristiane casando com Escobar (engano por achar que Escobar tinha uma personalidade, tendo ele outra diversa – causa de anulação de casamento);
V – “error júris”: o erro de direito consiste não apenas na ignorância da norma, como também em seu falso conhecimento, equivocada compreensão ou interpretação errônea. De qualquer modo, para induzir a anulação do ato, necessário que o erro tenha sido a razão única ou principal, ao determinar a vontade;
- ESCUSABILIDADE: é a possibilidade de se alegar o erro, em razão das condições em que se encontra o declarante, observando a diligência do homem médio (alguns dizem ser dispensável, não precisamos dela para configurar o erro);
ENUNCIADO Nº 12 (I jornada de direito civil da JF): na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança;
A2) ERRO DE CÁLCULO (art. 143): apenas autoriza a retificação da declaração de vontade;
A3) ERRO E VÍCIO REDIBITÓRIO
- ERRO REDIBITÓRIO: é o defeito APARENTE ou OCULTO que torna a coisa imprópria ao uso a que é destinada, ou que lhe diminua o valor. Fundamento legal no CC/02 (arts. 441 a 446). Redibi-se o contrato ou abate-se o preço; 
- o ERRO vicia a própria vontade do agente, atuando no campo psíquico (subjetivo). Já o vício redibitório não toca no psiquismo do agente, incidindo, portanto, na própria coisa;
 
- REDIBIR é anular judicialmente a venda ou o contrato comutativo em que a coisa transacionada foi entregue com vícios ou defeitos;
- PRAZOS NO CC
I. VÍCIO DETECTADO INICIALMENTE: 30 dias da entrega efetiva do bem móvel (15 dias da alienação, se já havia posse); 1 ano da entrega efetiva do bem imóvel (6 meses da alienação, se já havia posse);
II. VÍCIO DETECTADO POSTERIORMENTE: 180 dias da ciência do vício do bem móvel; 1 ano da ciência do defeito do bem imóvel;
 
- PRAZOS NO CDC
 
I. VÍCIOS APARENTES: 30 dias da entrega efetiva do produto ou termino do serviço (não duráveis); 90 dias da entrega efetiva do produto ou término do serviço (duráveis);
 
II. VÍCIOS OCULTOS: idêntico prazo. A contar do momento em que houver ciência do defeito;
B) DOLO
         É todo artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro com o propósito de prejudicar outrem, quando da celebração do negócio jurídico. É a má-fé deliberada no sentido de prejudicar a outrem (causar dano); é o erro provocado, erro induzido;
         DOLO FRAUDE: na atuação dolosa dirige-se especificamente a outra parte do negócio; já a fraude, quase sempre, busca-se violar a lei ou prejudicar a um número indeterminado de pessoas;
         O dolo não se presume das circunstâncias de fato, devendo ser provado por quem alega;
	Informações Complementares
	         Dolo é o artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o propósito de enganar a outra parte do negócio, causando-lhe prejuízo e beneficiando o autor do dolo ou o terceiro. Para a sua caracterização exige-se a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi).
B1) TIPOS DE DOLO
- DOLUS BONUS: Caracteriza-se pelo mero exagero nas qualidades da coisa, sem intenção de prejudicar (o exagero, dentro de certo limite, NÃO CARACTERIZA A MÁ-FÉ). Para tanto, exige-se do adquirente grau mediano de diligência para que possa perceber as criatividades técnicas de publicidade; 
	Informações Complementares
	         Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios em geral. Consiste em reticências, realce e exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo ele não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro.
- DOLUS MALUS: É o intuito malicioso de prejudicar outrem; 
	Informações Complementares
	         Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios em geral. Consiste em reticências, realce e exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo ele não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro.
         Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, palavras ou até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar prejuízo. Vicia o consentimento e por isso é anulável (na hipótese de ser essencial) ou obriga a satisfação de perdas e danos (na hipótese de ser acidental). O dolo mau pressupõe:
a) prejuízo para o autor do ato; 
b)benefício para o autor do dolo ou terceiro; c) pode ser praticado pelo silêncio.
         Observação! Não há critérios absolutos para se distinguir na prática o dolus bonus do dolus malus. É o Juiz quem vai decidir, analisando as peculiaridades de cada caso concreto. Exemplo disso é a “mensagem subliminar” (atua inconscientemente em face do consumidor, induzindo-o a determinado comportamento) que pode se caracterizar em comportamento doloso e prática comercial abusiva.
- DOLO PRINCIPAL: É o que se dirige à causa do negócio. Anula o negócio; 
Art. 145, CC - São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 
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	         Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art. 145, CC - é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio. Para que seja possível a anulação é necessário que: 
 
a) haja a intenção de induzir a outra parte a praticar um negócio lesivo;
b) os artifícios maliciosos sejam graves, por indicar fatos falsos, suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar algum fato que se devesse relatar ao outro contratante;
c) seja a causa determinante na declaração de vontade;
d) haja uma relação de causa e efeito entre a indução do erro e a prática do negócio;
e) se o dolo foi proveniente de terceiro, que seja do conhecimento do outro contratante.
- DOLO ACIDENTAL: É o que, a seu despeito, o negócio jurídico em que ocorre, se realizaria, embora de outro modo. Nesse caso, cabem perdas e danos;
Art. 146, CC -. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
 
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	         Dolo Acidental (dolus incidens): art. 146, CC – leva a vítima a realizar o negócio jurídico, porém em condições mais onerosas (ou menos vantajosas), não afetando sua declaração de vontade (embora venha a provocar desvios). Não se constitui vício de consentimento porque não influi diretamente na realização do negócio. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, independentemente das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em condiçõesmenos onerosas à vítima. O dolo acidental leva a distorções comportamentais que podem alterar o resultado final do negócio, no entanto não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou a uma redução da prestação pactuada.
         Dolo Essencial → dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não teria sido concluído → Ato Anulável.
         Dolo Acidental → realiza o negócio jurídico em condições mais onerosas → não afeta a declaração de vontade → Ato válido, mas enseja indenização por perdas e danos.
 - DOLO POSITIVO (FAZER): Realiza-se mediante um fazer, uma ação (comissão); 
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	         Positivo (ou comissivo): resulta de uma ação dolosa; são os artifícios positivos. Ex.: falsas afirmações sobre as qualidades de uma coisa: pode comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem pequeno... ele é da espécie “toy”... passados alguns meses aquele “cachorrinho” se tornou um “cachorrão”.
- DOLO NEGATIVO (OMITIR):
         Consubstancia por meio de um não fazer, uma omissão.
Art. 147, CC – Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. 
         Para VENOSA, são requisitos do dolo negativo: a intenção de induzir o outro contratante ao erro, o silêncio sobre circunstância desconhecida da outra parte, a relação de essencialidade entre a omissão dolosa e a declaração de vontade do próprio contraente e não de terceiro; 
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	         Negativo (ou omissivo): é a manobra astuciosa que constitui uma omissão intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negócio. Trata-se da ocultação de uma circunstância relevante e que a parte contratante deveria saber. E, sabedora, não teria efetivado o negócio. Ex.: seguro de vida em que se omite uma doença grave e o segurado vem a falecer dias depois – neste caso houve uma evidente intenção de lesar a seguradora, beneficiando os sucessores; venda de um cavalo de raça já doente e que vem a morrer logo depois da realização do negócio, etc. Nestas hipóteses o silêncio funciona como um mecanismo de atuação dolosa (quebra da boa-fé objetiva). Acarretará a anulação do negócio se o dolo for principal (motivo determinante), pois é necessária a relação de causalidade entre a omissão intencional e a declaração de vontade (art. 147, CC). Se for acidental enseja apenas perdas e danos.
- DOLO DE TERCEIRO:
         Ocorre quando a conduta dolosa advém de um indivíduo estranho à relação jurídico-negocial;
 
Art. 148, CC – Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
         RESPONSABILIDADE:
- A parte beneficiada pelo dolo (principal) sabia ou devia saber – neste caso, o negócio é anulável e AMBOS respondem por perdas e danos;
- Parte beneficiada pelo dolo (principal ou não) não sabia ou não tinha como saber – nesta situação, o negócio subsiste e apenas o terceiro responde por perdas e danos; 
 
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	         Dolo de Terceiro (art. 148, CC): Em algumas situações o dolo pode ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não afeta o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente enseja a sua anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” assegurando que ele é de ouro; porém o relógio é apenas dourado e “C” sabe disso, estando em conluio com “B”. Neste caso o terceiro (“C”) e o contratante (“B”) são tidos como autores do dolo. O negócio é anulável. No entanto se “B” (contratante favorecido) não tinha conhecimento da conduta dolosa por parte do terceiro, não se anula o negócio, mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (o terceiro causador da situação). Resumindo:
 
- Beneficiado pelo dolo de terceiro sabia ou deveria saber → negócio anulável.
- Beneficiado pelo dolo não sabia e nem tinha como saber → negócio válido, porém o terceiro responde pelas perdas e danos da parte que foi ludibriada.
- DOLO DE REPRESENTANTE: 
         Pressupõe-se a existência de representação (legal ou convencional).
Art. 149, CC – O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
 
         RESPONSABILIDADE:
- REPRESENTAÇÃO CONVENCIONAL: O representante responde solidariamente com o representado pelas perdas e danos. É solidária porque o representado teve culpa em elegê-lo (culpa in eligendi);
- REPRESENTAÇÃO LEGAL: O representado só responde até a importância do proveito que obteve; 
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	         Dolo dos Representantes (art. 149, CC): Aqui a lei prevê duas situações com soluções diferentes. No caso da representação obrigatória ou legal (pais, tutores ou curadores), o representado fica obrigado a responder civilmente somente até a importância do proveito que teve. Isto porque o seu representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), sem que ele pudesse se rebelar contra isso. Seria injusto responsabilizar o representado por tudo. Por ser incapaz, ele não pode escolher o seu representante e nem vigiar os seus atos, não tendo ciência se ele está agindo de forma maliciosa. No entanto, no caso de representação convencional ou voluntária (que é o caso do mandato) o representado responderá solidariamente com o representante por tudo, inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que escolhe um representante e lhe confere uma procuração, cria um risco para o mundo exterior; o procurador irá agir usando o nome do representado. Por tal motivo deve, inicialmente, escolher bem a pessoa que irá representá-lo. Além disso, deve vigiar os atos da pessoa que escolheu para ser seu representante. Escolhendo mal (culpa in eligendo) ou não fiscalizando (culpa in vigilando) o seu representante, o representado responde solidariamente pela reparação total do dano (e não apenas limitado à responsabilidade do proveito que teve, como no caso da representação legal). Resumindo:
 
- Dolo do representante legal (pais, tutores e curadores) → responsabilidade do representado limitada até a importância do proveito que teve com o dolo.
- Dolo do representante convencional (mandatário) → responsabilidade solidária entre o representante e o representado, inclusive nas perdas e danos.
- DOLO RECÍPROCO:
         Ocorre quando ambas as partes agem dolosamente.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.
         CONSEQUÊNCIAS:
- Para a Lei (exegético): não há possibilidade de anulação do negócio, pois “Nemo propriam turpitudinem allegans” (ninguém pode se beneficiar da própria torpeza);
- Para a Doutrina: há a possibilidade de anulação quando se tratar de dolos de extensões diferentes;
Exemplo: Maria troca uma máquina com João. Maria diz que a máquina X tem as funções A, B, C, D, E e F. João diz que a máquina Y tem as funções J, K, L e M. Acontece que a máquina X tem apenas as funções A, B e C (então Maria agiu com dolo). E a máquina Y tem apenas as funções J, K e L (então João agiu com dolo).
Para os exegéticos, já que os dois agiram com dolo, o negócio não é anulável.
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	         Dolo recíproco (ou bilateral): Ocorre quando ambas as partes agem com dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuízo da outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipótese ocorre a neutralização do delito, poishá uma compensação entre os dois ilícitos. Isto é, não haverá a anulação do ato, pois ninguém pode se valer da própria torpeza. O ato é considerado válido para ambos (art. 150, CC).
 
         Dolo x Erro: O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso. Já o dolo é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro eu errei sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é, eu errei, mas fui induzido a cometer este erro pela conduta (má-fé) da outra parte. Resumindo: o erro é espontâneo; o dolo é provocado intencionalmente. O dolo do direito civil (artifício para enganar alguém) não deve ser confundido com o dolo do direito penal. Este é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário a lei. O sujeito quis ou assumiu o risco de produzir o resultado. Está previsto no art. 18 do Código Penal. Também não se confunde com o dolo do direito processual. Este decorre de conduta processual contrária a boa-fé, sendo reprovável; trata-se da chamada litigância de má-fé (prevista nos arts. de 16 a 18 do Código de Processo Civil). Não se admite invocação do dolo para se anular um casamento. Isto porque em relação ao Direito de Família as regras são um pouco diferentes. O art. 1.550, inciso III, CC prevê que um casamento somente pode ser anulado por vício de vontade nos termos dos artigos 1.556 a 1.558. Os dois primeiros artigos se referem ao erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. E o último se refere a coação. Portanto, por exclusão, não se pode alegar dolo para se anular um casamento. No entanto, observem que não há uma proibição expressa de se reconhecer o dolo no casamento. Isto se extrai por dedução lógica. Por tal motivo, é possível na prática que o Juiz reconheça o dolo de um dos cônjuges para a realização do casamento. Imaginem a situação em que um homem se casa com sua namorada, pois ela diz que está grávida. Depois do casamento, ele descobre que a namorada mentiu. Diante dessa situação entendo que ele até poderia alegar o dolo para anular seu casamento.
 Já para outros doutrinadores, pelo grau de dolo tem sido diferente (Maria omitiu 3 funções e João só 1), João poderá alegar dolo para anular o negócio jurídico. 
C) COAÇÃO
         É a violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio jurídico em desacordo co sua vontade. A coação não é, em si, um vício de vontade, mas sim o temor que ela inspira, tornando defeituosa a manifestação de querer do agente.
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
         Para Stolze, os requisitos que caracterizam a coação são: violência psicológica, declaração de vontade viciada e receio sério e fundado de grave dano à pessoa, à família (ou pessoa próxima) ou aos bens do paciente;
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	         Coação é toda pressão física ou moral exercida sobre alguém (vida, integridade física), seus bens ou honra, para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio jurídico. O que caracteriza a coação é o emprego da violência (física ou psicológica) para viciar a vontade, influenciando a vítima a realizar negócio que sua vontade interna não deseja celebrar, por isso é bem mais grave que o dolo. Na coação há uma intimidação. Oferecem-se à vítima (também chamada de paciente ou coacto) duas alternativas: emitir declaração de vontade que não pretendia originalmente ou resistir e sofrer as consequências decorrentes da concretização da ameaça ou de uma chantagem.
C1) TIPOS DE COAÇÃO
         COAÇÃO FÍSICA (“vis absoluta”): ocorre quando o coator imprime energia corporal sobre a vítima (coacto), neutralizando a vontade deste. É aquela que age diretamente no corpo da vítima, ou seja, a força física incide sobre a vítima.
 
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	         Coação Física (vis absoluta): é o constrangimento corporal que retira toda capacidade de querer de uma das partes, implicando ausência total de consentimento ou manifestação de vontade (ex.: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato, etc.). A vítima não chega a manifestar uma vontade, agindo de forma mecânica. Segundo a doutrina, a manifestação de vontade é um requisito para a existência do negócio jurídico. Assim, não havendo a vontade, o negócio não existiria, sendo considerado inexistente. Doutrinariamente a coação física não é um vício de consentimento, pois sequer houve a vontade. No entanto a questão é polêmica: há autores que sustentam a nulidade absoluta do negócio (e não a sua inexistência).
	Informações Complementares
	         Coação Moral ou Psicológica (relativa ou vis compulsiva): atua sobre a vontade da vítima, sem retirar-lhe totalmente o consentimento, pois ela conserva uma relativa liberdade, podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que é ameaçada (ex.: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação constrangedora, etc.). Trata-se de modalidade de vício de consentimento expresso na lei, posto que há manifestação de vontade, embora sob pressão (consentimento viciado).
 
O art. 152, CC prevê que o Juiz, ao apreciar a coação, deve ter em conta aspectos subjetivos, como o sexo, a idade, a saúde, a condição e o temperamento do paciente, bem como as demais circunstâncias que possam influir na gravidade da coação.
 
         Observação: a jurisprudência entende ser possível a coação exercida contra pessoa jurídica. Efeitos: Coação Física: não há consentimento algum → ausência de vontade → ato inexistente (não há previsão expressa na lei, mas é mencionada pela doutrina). Para alguns autores é hipótese de nulidade absoluta. Coação Moral: há consentimento, mas ele é viciado → ato anulável (expressamente prevista no Código Civil). É importante deixar claro que nem toda ameaça se configura em um vício de consentimento. Assim, são necessários os seguintes requisitos para a caracterização da coação moral e a consequente anulação do negócio jurídico (art. 151, CC):
 
- seja a causa determinante do negócio jurídico: ou seja, nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima; se não houvesse a coação, não haveria o negócio.
- temor justificado: deve causar um medo ou um fundado receio na vítima. Os melhores exemplos a respeito são: ameaça de morte, chantagens, cárcere privado, desonra, mutilação, escândalos públicos, etc.
 
Ex.: se você não me der tanto eu colocarei “aquelas” fotos suas na internet... Já o grau de ameaça para o reconhecimento (ou não) do defeito e a consequente anulação do ato deve ser apreciado pelo Juiz, caso a caso.
 
- dano iminente: suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, seus bens, etc. O termo família abrange não só a que resulta de casamento, como também decorrente de união estável. O dano pode atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o Juiz decidirá se houve ou não a coação, analisando cada caso concreto.
- dano considerável e sério: a ameaça deve ser grave (vida, liberdade, honra, patrimônio) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente), nela incutindo um fundado temor. O dano pode ser patrimonial ou moral. Se a ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o ato
         COAÇÃO MORAL (“vis compulsiva”): é a que incute na vítima um temor constante e capaz de perturbar o espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada. Por não tolher completamente a liberdade volitiva, é causa de invalidade (anulabilidade) do negócio jurídico e não de inexistência;
C2) APRECIAMENTO
Art. 152, CC – No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.
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