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Teoria das Representações Sociais

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TEORIA DAS 
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
De que ordem é o saber que norteia nossas escolhas e nossas ações?
Quando fazemos escolhas ou praticamos determinadas ações, somos motivados por questões lógicas, racionais ou cognitivas e também por questões afetivas, simbólicas, míticas ou religiosas.
Estes motivos decorrem dos “saberes” que construímos a partir de processos mentais carregados de sentido simbólico. Eles são originados nas trocas do dia-a-dia.
PARTE I – CONCEITO DE R.S.
“A um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana, no curso das comunicações interpessoais, e que expressam a identidade do grupo social, chamamos representações sociais. Elas surgem da interligação entre cognição, afeto e ação.”
Representa sempre um objeto. Faz referência a alguém ou a alguma coisa;
É imagem. Com isso pode alterar a sensação e a idéia, a percepção e o conceito;
Tem um caráter eminentemente simbólico;
Tem poder ativo e construtivo;
Possui um caráter autônomo e generativio.
O ato de representar envolve cinco características fundamentais:
Através do estudo da Teoria das Representações Sociais podemos compreender e mapear o campo de significações que define como um determinado objeto foi representado no registro das experiências simbólicas de um determinado grupo social. O saber do senso comum, tão desprezado pela Ciência, ganhou novo tratamento a partir do surgimento da Teoria das Representações Sociais.
“As Representações Sociais são , então, ‘teorias’ sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas espontaneamente e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar dados reais antes incompreensíveis. São dinâmicas e levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio. Seus ingredientes são cognição, afeto ação.”
Muitas vezes não nos damos conta de nossos ‘saberes’ porque eles são compostos por elementos fortemente impregnados de afeto e simbolismo. É por intermédio do estudo das R.S. que podemos compreender e identificar como tais saberes atuam na motivação das pessoas ao fazerem suas escolhas (comprar, votar, agir, etc).
É um conceito abrangente e compreende outros conceitos, atitudes, opiniões, imagens e ramos do conhecimento;
Possui poder explanatório: não substitui, mas incorpora os conceitos, indo mais a fundo na explicação causal dos fenômenos;
A Teoria das Representações Sociais é constituída pelo elemento social. O ser humano é aqui entendido como essencialmente social. Segundo ela, o social é coletivamente edificado e o ser humano é construído através do social.
O conceito de R.S. é versátil e pode ser atrelado a três postulados:
Isto significa que a Teoria das Representações Sociais é abrangente e dinâmica. Pode nos ajudar a entender as várias dimensões da realidade. Por isso as representações sociais são um valioso e imprescindível instrumento no campo da Psicologia Social.
Criamos as representações sociais, ou seja, construímos estes saberes espontâneos para tornar familiar o que não é familiar, para trazer para o senso comum assuntos “estranhos”.
O senso comum rejeita o estranho e o diferente. Para assimilação do não familiar, 2 processos básicos são geradores das representações sociais: ancoragem e objetivação.
A ancoragem é o processo pelo qual procuramos classificar, encontrar um lugar para encaixar o não familiar. 
Como o estranho é percebido como ameaçador, precisamos encaixá-lo em categorias internas e por nós já conhecidas, ou seja, em uma realidade conhecida e institucionalizada.
ANCORAGEM
Mesmo quando algo não se encaixa exatamente a um modelo conhecido, nós o forçamos a assumir determinada forma, ou o forçamos a entrar em determinada categoria, sob pena de não poder ser decodificado. Um exemplo deste processo ocorreu no início da década de 1980 com o surgimento da AIDS.
Por ser uma doença fatal e pouco compreendida até mesmo no meio científico, passou a ser comparada a uma forma de câncer que se manifestava sobretudo em homossexuais. Ganhou, então, o apelido de “câncer gay”. Ainda que tal denominação tenha gerado enganos e preconceitos, foi deste modo que a AIDS entrou no universo simbólico do mundo ocidental na década de 1980.
A objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreta, visível, uma realidade. Procuramos aliar um conceito com uma imagem, descobrir a qualidade icônica, material, de uma idéia ou de algo duvidoso. A imagem deixa de ser signo (significante + significado) e passa a ser uma cópia da realidade.
OBJETIVAÇÃO
Serge Moscovici exemplifica o processo de objetivação: ao ser chamar Deus de “pai”, objetiva-se a idéia abstrata de Deus numa imagem conhecida (pai). Isso proporciona uma compreensão mais concreta do que seja “Deus”.
A ancoragem e a objetivação são formas específicas em que as Representações Sociais estabelecem mediações, trazendo para um nível quase material (concreto) a produção simbólica de uma comunidade e dando conta do caráter concreto das R.S. na vida social.
As R.S. emergem como processo que ao mesmo tempo desafia e reproduz, repete e supera, que é formado, mas que também forma a vida social de uma comunidade.
As Representações Sociais são formas de conhecimento prático e inserem-se entre as correntes que estudam o conhecimento do senso comum. Trata-se de uma ampliação do olhar, de modo a ver o senso comum como conhecimento legítimo e motor de transformações sociais. O senso comum passa a ser tratado enquanto teia de significações capaz de criar efetivamente a realidade social.
PARTE II - OBJETO
O sujeito da elaboração das Representações Sociais é um sujeito adulto, inscrito numa situação social e cultural definida, tendo uma história pessoal e social. Ou seja, é um sujeito concreto, que existe. “Não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração, mas sim as respostas individuais enquanto manifestações de tendências do grupo de pertença ou de afiliação do qual os indivíduos participam.” 
“As R.S. são, ao mesmo tempo, campos socialmente estruturados e expressão da realidade intraindividual que exterioriza o afeto e revela poder de criação e de transformação da realidade social. As R.S. devem ser estudadas articulando elementos afetivos, ,mentais e sociais que integram cognição, linguagem e comunicação às relações sociais.”
A análise das R.S. deve concentrar-se naqueles processos de comunicação e vida que não somente as produzem, mas que também lhe conferem uma estrutura peculiar. Esses processos são de mediação social.
Comunicação é mediação entre um mundo de perspectivas diferentes; trabalho é mediação entre necessidades humanas e é material bruto da natureza; ritos, mitos, símbolos são mediações entre a alteridade de um mundo frequentemente misterioso e o mundo da intersubjetividade humana.
PARTE III - METODOLOGIA
Todos revelam a procura de sentido e significado que marca a existência humana no mundo.
As mediações geram as R.S., que são estratégias desenvolvidas por atores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de um mundo que, embora pertença a todos, transcende a cada um individualmente. 
As R.S. são um espaço potencial de fabricação comum, onde cada sujeito vai além de sua própria individualidade para entrar em domínio diferente, ainda que fundamentalmente relacionado: o domínio da vida comum. As R.S. surgem através de mediações sociais e são, elas próprias, mediações sociais.
Como as R.S. são “teorias” do senso comum, as técnicas de análise empregadas em seu estudo procuram desvendar a associação de idéias aí subjacentes, ou seja, mapear o campo de significações que um determinado grupo social construiu acerca de um objeto. Aqui são possíveis diferentes vertentes analíticas com diferentes exigências formais quanto ao número de sujeitos necessários para efetuar as operações estatísticas.
A análise pode ser feita através de programas de análise multifatorial (computador) ou à mão.
Utilizando metodologia quantitativa ganha-se visibilidade do consenso e das permanências e diversidades, graças à agregação
de casos.
Utilizando metodologia qualitativa preserva-se a lógica intrínseca da construção das Representações Sociais, mas perde-se a visão de conjunto.
Qualquer que seja a opção metodológica, ela está pautada nas necessidades específicas do objeto de pesquisa em R.S. e em critérios de construção do conhecimento (epistemológicos).
Na década de 1950 a prática da psicanálise apresentava expressiva penetração na sociedade francesa. Serge Moscovici estudou, então, os saberes que tal sociedade havia construído acerca das idéias e da prática da psicanálise. A partir deste estudo, lançou as bases para a iniciação da Teoria das Representações Sociais.
PARTE IV – O SURGIMENTO DA 
TEORIA DAS R.S.
Moscovici inspirou-se nos conceitos de representação coletiva da Sociologia, proposto por Durkheim, e da Antrolpologia, proposto por Lévi-Bruhl. Para Moscovici, a lacuna essencial da maioria das outras teorias em Psicologia Social é que elas negligenciam a produção de conhecimento e o pensamento dos antropólogos, o que implica em ingenuidade e superficialidade para a produção em Psicologia Social.
A Teorias das Representações Sociais conduz um modo de olhar a Psicologia Social que exige a manutenção de um laço estreito entre as ciências psicológicas e sociais.
É a partir das conversações que se elaboram os saberes populares e do senso comum. São estes os fenômenos sociais que nos permitem identificar de maneira concreta as representações e trabalhar com elas.
Não apenas as conversações do senso comum expressam as representações sociais. Elas também podem ser encontradas, sob outras formas, nas ciências, nas religiões, nas ideologias e em outras circunstâncias.
O saber do senso comum e os saberes populares passaram a ser considerados como fenômenos sociais que permitem identificar de maneira concreta as representações e de trabalhar sobre elas. Considerado válido e conhecimento legítimo e útil, o saber do senso comum torna possível o entendimento dos processos de decisão e para as práticas dos grupos sociais.
Para a Psicologia Social, a iniciação da Teoria das Representações Sociais significou um marco fundamental, a partir do qual as ciências psicológicas passaram a estabelecer estreitos laços com as ciências sociais. É um teoria complexa e elástica, que pode atender a inúmeras demandas da Psicologia Social.

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