Buscar

2 CULTURA E COMUNICAÇÃO - PORTUGUÊS - DIREITO_-_AULA02

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 1 
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL – DIREITO
AULA 2
DIREITO, CULTURA E COMUNICAÇÃO
01 – As funções da Linguagem
Na aula anterior estudamos a comunicação e analisamos cada um dos 
elementos que a constituem. Verificamos que, por vezes, não obtemos sucesso 
ao partilharmos algumas informações, dada a ocorrência de ruídos que podem 
interferir no fluxo dessa troca. 
Agora partiremos para o estudo 
das funções da linguagem. 
Será que utilizamos a 
linguagem apenas de uma maneira? 
Ou nós a adequamos conforme 
nossas necessidades? Obviamente ela 
irá variar de acordo com a situação 
comunicativa. 
O linguista russo Roman Jakobson, em seu livro “Linguística e 
Comunicação” classificou as Funções da Linguagem da seguinte forma:
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 2 
Função Emotiva
Por meio dessa função, o emissor suscita a impressão de certa emoção, 
verdadeira ou simulada, em seu discurso. É marcado pela sua atitude 
pessoal: emoções, opiniões, preconceitos, avaliações, etc.
Ex: Autobiografias, memórias, crônicas, poesias, etc.
Função Referencial ou Denotativa
A mensagem é centrada no referente (contexto relacionado a emissor e 
a receptor) e oferece informações sobre a realidade, mas sem fazer uso 
de sua opinião pessoal. O texto é escrito de forma objetiva, direta, 
dando ênfase ao que tem à informar. 
Ex: textos jornalísticos, acadêmicos, etc.
Função Apelativa ou Conotativa
A mensagem é centrada no receptor e se organiza de modo à influenciá-
lo. O objetivo desta função é persuadir, manipular, seduzir, convencer 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 3 
aquele que recebe a mensagem. Nas mensagens em que predomina 
essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, 
levando-o a adotar este ou aquele comportamento.
Ex: discursos, sermões, textos de publicidade e propaganda.
Função Fática
O objetivo dessa função é focar no canal de comunicação (meio pelo 
qual o emissor envia a mensagem). No dicionário Houaiss encontramos 
que “fático” é um termo “centrado no próprio canal de comunicação e 
cujo objetivo é estabelecer, ou manter aberta, sem interrupções, a 
comunicação entre o locutor e o destinatário, mas sem transmissão de 
nenhuma mensagem importante”. Enfim, nesta função, o interesse do 
emissor é simplesmente testar ou chamar a atenção para o canal de 
comunicação, com objetivo de verificar e fortalecer sua eficiência.
Ex: alô, pronto, oi, tudo bem?, sente-se, etc
(Obs: Na propaganda escrita, essa função é utilizada na forma, nos tipos 
e tamanhos dos caracteres. Nos textos profissionais, utilizam-se as 
variações de letra maiúscula/minúscula, negritos, sublinhados, etc).
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 4 
Função Poética ou Estética
Essa função é aquela elaborada de forma inovadora e imprevista. É 
aquela que coloca em evidência a forma da mensagem, ou seja, até 
certo ponto ela está mais preocupada em “como dizer” do que com “o 
que dizer” (mas isso pode ser facilmente contestado por alguns poetas). 
Desta forma, a mensagem fica em destaque e chama a atenção para a 
maneira como foi organizada/colocada. É uma linguagem efetiva, 
metafórica, que explora bem a polissemia*. Essa função é capaz de 
surpreender o leitor e despertar o prazer estético.
Ex: obras literárias, letras de música, propaganda, discursos da área 
jurídica.
*Polissemia: multiplicidade de sentidos de uma palavra ou locução (ex: 
Prato: vasilha, comida, iguaria, instrumento musical (bateria)). 
Polissemia é um fenômeno comum nas línguas naturais e são raras as 
palavras que não a apresentam (Dicionário Houaiss).
Função Metalinguística
É quando o próprio código (a língua, os sinais) estão em evidência. 
Desta forma, utiliza-se o código para falar dele mesmo.
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 5 
O teatro inglês nos traz um grande 
exemplo de metalinguagem. Trata-se 
de “Hamlet”, talvez o trabalho mais 
importante de Willian Shakespeare. 
Nele, o personagem do atormentado 
príncipe dinamarquês encena uma 
peça a alguns seletos convidados 
para provocar reações de espanto e 
tentar descobrir quem é o assassino 
de seu pai. Desta forma, Hamlet, um 
personagem de teatro, faz uso da própria linguagem do teatro para 
conseguir o que quer.
Ex: Dicionários, gramáticas, textos que analisam textos.
É evidente que estas funções organizadas por Jakobson não acorrem 
apenas de maneira isolada, afinal elas podem muito bem mesclarem-se e 
alternarem-se ao longo do texto/discurso. Isso fica bastante evidente no Direito.
Por exemplo, um acusado, em seu depoimento, utiliza uma linguagem 
marcadamente subjetiva (que pertence ao sujeito pensante e ao seu íntimo), 
portanto ela estará carregada de pronomes com eu, mim, meu, minha, ou seja, 
haverá ênfase no emissor, caracterizando-se, assim, a Função Emotiva. 
Hamlet e Horácio, por Eugène 
Delacroix
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 6 
Já a informação jurídica, que documentará o caso do acusado citado, 
surgirá de forma precisa, objetiva, pois há interesse em registrar e esclarecer 
os fatos de forma neutra (mas segundo determinado ponto de vista). Assim, 
temos duas possibilidades: Função Referencial, se de fato o texto é 
completamente neutro (será que isso é realmente possível?), ou Função 
Conotativa, se os interesses do emissor tornam-se evidentes ao longo da 
exposição. 
Contudo, este texto/discurso jurídico não está impedido de emprestar 
sonoridade e ritmo às palavras, com objetivo de tornar mais evidente o cuidado 
com a elaboração e com a forma daquilo que está sendo comunicado. Temos, 
portanto, a Função Poética. E se, durante elaboração deste texto 
precisássemos do auxílio de dicionários e vocabulários jurídicos? Então 
estaríamos fazendo uso da Função Metalinguística.
Há grande variação dessas funções, mas sabemos que o texto jurídico 
possui um caráter eminentemente persuasório. Ele tem por objetivo aproximar-
se do receptor pra fazê-lo mudar de ideia, de comportamento, provocar novos 
estímulos e novas condutas. Sendo assim, fica evidente a ampla presença da 
Função Conotativa, marcada pelo forte interesse em persuadir 
(http://www.youtube.com/watch?v=DHcjcgwn8Sc).
Para que o discurso seja persuasivo é necessário que ele seja 
convincente, mas nem sempre isso ocorre. Vejamos um exemplo: no ano 
passado três graves acidentes de trânsito repercutiram em Curitiba e em todo o 
país. No primeiro acidente estava envolvido um ex-deputado, no segundo um 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 7 
filho do diretor geral da Assembleia Legislativa e no terceiro um torcedor do 
Coritiba.
Após serem presos, a defesa imediatamente solicitou que eles fossem 
soltos. Vejamos os argumentos em resposta usados pelos juízes e 
desembargadores para os dois último casos:
Sobre o torcedor: 
“Em que pese o requerente ter demonstrado possuir residência fixa e 
ocupação definida, bem como que é portador de bons antecedentes segundo 
se depreende dos autos..., havendo prova da existência do crime e indíciossuficientes de autoria a recair sobre o requerente, a manutenção de sua prisão 
se justifica, como garantia da ordem pública, haja vista que, tendo o ato sido 
formal e legalmente praticado pela autoridade policial (bem constituída e que 
goza de fé pública) a revogação do ato importará, na verdade, em pleno 
descrédito às instituições, fazendo crer mais pela impunidade e impotência do 
que pela efetiva garantia de segurança que deve ser proporcionada aos 
cidadãos.
“A prisão se justifica para garantia da ordem pública em razão da 
periculosidade concreta evidenciada pelo modo e pelo contexto de execução 
do delito”.
“No que diz respeito ao modo de execução do delito, a periculosidade concreta 
decorre da atitude do paciente de ter acelerado o veículo no local em que 
transitavam diversos pedestres evidenciando-se o menosprezo pela vida e 
pelo outro”.
“Não pode ser negligenciado que a proximidade entre o atropelamento e os 
novos surtos de violência de torcidas de futebol na cidade, reforça a percepção 
de intranquilidade social a que poderia se somar agora uma eventual 
concessão do direito à liberdade ao paciente”.
“Um último aspecto a considerar é o de que está assentado na jurisprudência 
que a situação de pessoas primária, com residência fixa, ocupação lícita e 
família constituída, de per si considerada, não é suficiente para assegurar o 
direito à liberdade”.
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 8 
“Não se trata obviamente de negligenciar o princípio constitucional de 
presunção de inocência (art. 5.º inc. LVII da Constituição), mas de, no quadro 
de preservação da construção da tutela dos direitos fundamentais, observar 
equilíbrio capaz de assegurar o menor prejuízo possível para os interesses 
envolvidos na situação em que está em causa a cautelaridade inerente à 
prisão antes da sentença penal.”
Sobre o filho do diretor geral da Assembleia Legislativa:
“Dos documentos juntados aos autos, percebe-se que o requerente possui 
ocupação lícita, residência fixa e é primário, restando portanto, face à aparente 
ausência de periculosidade do agente nesta fase inquisitorial, que o pedido 
merece acolhimento”.
“No tocante ao acidente restou claro que o air-bag do motorista da pajero foi 
acionado, sendo público e notório que este equipamento ofende a integridade 
física do motorista, mas pode preservar-lhe a vida, situação que pode ter 
gerado a sua aparência de desnorteado, cambaleante e a vermelhidão no 
rosto e olhos”.
“Ora, em que pese todo o contexto trágico do evento, não se pode afirmar 
– de forma categórica – que o requerente foi o responsável pela causa primária 
do acidente e que agiu com dolo eventual, sendo que nesse caso, a dúvida é 
real e nesse aspecto necessário reconhecer-se a presunção de inocência”.
(Fonte: Jornal Gazeta do Povo, 28/12/2009)
Perceba que a argumentação da defesa, analisada e comentada pelos 
juízes e desembargadores é praticamente a mesma (o fato de os dois réus 
possuírem residência fixa e ocupação definida), entretanto o torcedor 
permaneceu preso “a manutenção de sua prisão se justifica, como garantia da 
ordem pública” e o filho do diretor geral da Assembleia Legislativa foi solto 
“restando portanto, face à aparente ausência de periculosidade do agente 
nesta fase inquisitorial, que o pedido [de soltura] merece acolhimento”. 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 9 
Para pensar: Analisando os 
dois casos, será que é possível 
afirmar que a argumentação da 
defesa foi realmente convincente? 
Há fatores externos ao discurso 
que devem ser levados em 
consideração? Como esse 
problema poderia ser resolvido?
Segundo Regina Toledo Damião, licenciada em Letras e doutora em 
Direito, o discurso persuasório pode apresentar duas vertentes: a exortativa e a 
autoritária. 
A vertente exortativa, que procura induzir a fazer ou a pensar determinada 
coisa, á abundante em texto publicitários. É esse tipo de discurso que nos 
convence de que certa cerveja desce redondo, que aquele sabão em pó lava 
mais branco ou que aquele lanche engordurado traz felicidade. Esta vertente é 
um tanto quanto impactante em nossas vidas 
(http://www.youtube.com/watch?v=aWQc0e9toys), pois como observou a linguista 
Helena H. N. Brandão, retomando as palavras de Mikhail Bakhtin, o homem “é 
um sujeito social, histórica e ideologicamente situado. É o outro que dá a 
medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação com a alteridade” 
A outra vertente é a autoritária, também bastante presente no Direito. 
Para identificá-la basta dar uma olhada no Código Penal, que possui 
expressões como “afixe-se e cumpra-se”, “revoguem-se as disposições em 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 10 
contrário”, “arquive-se”, “justiça imperante”, etc. A própria lei é algo que ordena 
e não exorta, fazendo com que todos estejamos sujeitos ao seu tom imperativo.
Por outro lado, há também outros discursos que procuraram se apoderar 
deste cunho persuasório. O discurso religioso, por exemplo, que tende a 
estabelecer diretrizes (julgamento após a morte/céu como recompensa) e 
punições (Apocalipse/inferno como condenação pelos pecados).
 No clássico (e polêmico) curta metragem que o cineasta espanhol Luís 
Buñuel realizou em parceria com o pintor, também catalão, Salvador Dali, “Um 
Cão Andaluz” (1929), podemos verificar uma ácida crítica a este tipo de 
discurso. Há uma cena em que, motivado pelo desejo sexual, o protagonista 
tenta se aproximar de uma mulher, mas não consegue avançar, pois se vê 
amarrado e tendo que arrastar dois padres católicos deitados no chão.
O foco na persuasão coerciva também está bastante presente nos textos 
jornalísticos. Não raro nos deparamos com jornalistas ou com as próprias redes 
de TV apropriando-se dos poderes de um juiz no tribunal e, visando sempre o 
apelo popular/dramático, realizando julgamentos e decretando punições das 
mais descabidas.
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 11 
2 - Língua Oral e Língua Escrita
Será que falamos da mesma forma que escrevemos? Ou será que 
escrevemos da mesma forma que falamos? A resposta é: nem uma coisa, nem 
outra.
Vejamos esse trecho de uma entrevista que o apresentador Jô Soares 
concedeu à revista Veja em 1990:
“Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui 
a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até 
vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas 
palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué 
coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é 
parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u 
purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”
Até onde se sabe, Jô Soares, um bem sucedido apresentador de TV, é 
alfabetizado e conhece a norma culta da Língua Portuguesa. Então porque o 
trecho citado está recheado de “erros” ortográficos? Justamente para 
demonstrar ironicamente que a Língua falada (independentemente da classe 
social de quem está se comunicando) é um tanto quanto diferente da língua 
escrita. É bastante comum, por exemplo, o falante, com ou sem escolaridade, 
não pronunciar a letra 'i” de palavras como “Caixa” e Peixe”: “Caxa”, “Pexe”. 
Contudo, na hora de escrever difícilmente a pessoa esquecerádessa letra. 
Esta diferença é um dos fatores predominantes quando o assunto é 
preconceito linguístico (o qual nós nos aprofundaremos nas próximas aulas), 
pois infelizmente é comum vermos pessoas que não estudam cientificamente a 
língua, julgando e criticando aqueles que, segundo seus critérios subjetivos, 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 12 
“falam errado”. É lamentável, pois, como veremos adiante, o próprio conceito 
de “falar errado” não se sustenta.
Cabe ressaltar que, na linguagem escrita, não há contato direto entre 
quem lê e quem escreve, daí o seu caráter mais abstrato, que exige 
permanente esforço de elaboração por estar sujeito aos preceitos gramaticais 
para que possa ser satisfatoriamente compreendido. 
Já linguagem falada conta com recursos extralinguísticos, como postura, 
entonação, gestos, expressões faciais, etc. Estes recursos podem ser utilizados 
para melhor esclarecer aquilo que se quer comunicar, assim como veremos na 
aula sobre oratória.
3 – Variedade linguística (Níveis de linguagem)
As inúmeras 
situações comunicativas do 
nosso cotidiano (desde 
conversar com a família 
durante o café da manhã, 
até o ato de expor o seu 
ponto de vista em uma 
reunião) exigem níveis de 
linguagem diferentes, às 
vezes informais e às vezes 
bastante formais. A compreensão e a utilização adequada destas variedades 
linguísticas são imprescindíveis para desempenhar uma boa comunicação.
Operários, de Tarsila do Amaral
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 13 
O premiado professor e escritor Cristóvão Tezza, em seu livro “Prática 
de texto para estudantes universitários”, afirma que as a imensa variedade 
linguística da oralidade pode ser dividida da seguinte forma:
A) Diferenças sintáticas: aquelas que decorrem da ordem das palavras 
na fala (ele me disse x ele disse-me) ou de diferentes modos de realizar a 
concordância verbal (tu querias x tu queria ou nós estávamos x nós estava);
B) Diferenças morfológicas: aquelas que decorrem da forma da 
palavra, tomada individualmente (vamos x vamo);
C) Diferenças lexicais: isto é, diferentes nomes para o mesmo objeto 
(pandorga x pipa x raia x papagaio);
D) Diferenças fonéticas: pronúncia diferentes da mesma unidade 
sonora sem distinção de significado (poRta, com erre “carioca” x porta, 
com erre “caipira”).
Esta divisão, segundo Tezza, estaria determinada por inúmero fatores, 
entre eles:
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 14 
1. A região do falante:
 Este aspecto talvez seja o mais facilmente observado no 
cotidiano, uma vez que cada região possui seu conjunto de 
características fonéticas (sons) bem estabelecido. É aquilo que 
chamamos de “sotaque”, que é marca registrada do território de 
onde viemos. Por exemplo, se ao chegarmos no nordeste falarmos 
a palavra “leite” (pronunciando Leiti), seremos logo identificados 
como sendo do sul do país.
2. O nível social do falante, sua escolaridade e sua relação com 
a escrita: 
Aqui ficam evidentes as diferenças entre a língua ensinada na 
escola e língua falada nas ruas, havendo discrepâncias no 
momento da escrita, como alguns pontos da concordância verbal 
(nós voltamos x nóis vortemo), emprego de alguns termos 
repudiados pela sociedade (menos pessoas x menas pessoas), uso 
de vocabulário literário, etc
3. A situação da fala:
Como já vimos, o uso da língua exige adequação às circunstâncias 
que cercam o momento da comunicação. A mesma pessoa 
empregará variedades linguísticas diferentes ao longo do dia, 
dependendo de onde estiver: no escritório, no jogo, no bar, etc; da 
pessoa com quem está falando: chefe, professor, amigo, esposa, 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 15 
etc; da sua intenção ao falar: dar uma ordem, chamar a atenção do 
filho, pedir um emprego, etc; da situação específica: um incêndio, 
uma peça de teatro, no tribunal.
Os manuais de língua portuguesa costumam tradicionalmente a abordar 
os Níveis de Linguagem segundo três aspectos:
Linguagem familiar:
Utilizada quando não obrigatoriedade formal. Bastante presente no 
cotidiano, é a linguagem que normalmente vemos na televisão e nos jornais. 
Há preocupação relativa com a obediência às regras gramaticais.
Linguagem Popular:
Há pouca preocupação com as formalidade gramaticais, até porque elas 
não são necessárias neste ambientes. É linguagem corrente, carregada de 
gírias e falares regionais. Em termos de criatividade, esta é o tipo de linguagem 
mais rico em variações.
Linguagem culta:
Utilizada pela classes intelectuais da sociedade (muito mais na escrita do 
que na fala), é nível de linguagem presente nos meios diplomáticos, 
burocráticos e científicos; nos discursos e nos sermões; nos tratados jurídicos e 
nas sessões do tribunal. Fica evidente o uso pleno das normas gramaticais.
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 16 
Contudo, muitas vezes há certo exagero na utilização deste recurso 
linguístico, como bem observa o professor paulista Walter Cevenita (Jornal 
Folha de S. Paulo, 02/05/93):
“O Direito é uma disciplina cultural, cuja prática se resolve em palavras, 
direito e linguagem se entrelaçam e se confundem. Algumas vezes – 
infelizmente, mais do que o necessário – os profissionais da área jurídica 
ficam tão empolgados com os fogos de artifício da linguagem que se 
esquecem do justo e, outras vezes, até da lei. Nas acrobacias da escrita 
jurídica, chega-se a encontrar formas brilhantes nas quais a substância 
pode ser medida em conta-gotas. O defeito – também com desafortunada 
frequência – surge mesmo em decisões judiciais que atingem a liberdade 
e o patrimônio das pessoas”
O uso exagerado de termos de difícil compreensão tem até nome, 
chama-se “juridiquês”, ou seja, uma “nova” língua que só iniciados (e olha lá! 
talvez nem eles) conseguem compreender.
Vejamos um exemplo de tradução “do juridiquês para o português”:
*Texto:
“Com espia no referido precedente, plenamente afincado, de modo 
consuetudinário, por entendimento turmário iterativo e remansoso, e com 
amplo supedâneo na Carta Política, que não preceitua garantia ao 
contencioso nem absoluta nem ilimitada, padecendo ao revés dos 
temperamentos contritores limados pela dicção do legislador 
infraconstitucional, resulta de meridiana clareza, tornando despicienda 
maior peroração, que o apelo a este Pretório se compadece do imperioso 
prequestionamento da matéria abojada na insurgência, tal entendido 
AULA 02 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 17 
como expressamente abordada no Acórdão guerreado, sem que estéril se 
mostrará a irresignação, inviabilizada ab ovo por carecer de pressuposto 
essencial ao desabrochar da operação cognitiva”
*Tradução:
“Um recurso, para ser recebido pelos tribunais superiores, deve abordar 
matéria explicitamente tocada pelo tribunal inferior ao julgar a causa. Isso 
não ocorrendo, será pura e simplesmente rejeitado, sem exame do mérito 
da questão”
(Revista Língua Portuguesa, novembro 2005)
É interessante verificarmos que a pessoa que 
escreveu o texto citado preocupou-se tanto em deixar 
o texto “bonito”, “estética e gramaticalmenteperfeito”, 
que acabou deixando de lado um item imprescindível 
para a comunicação: a clareza. De nada adianta eu 
escrever um texto cheio de firulas linguísticas se as 
pessoas depois não compreenderão o que eu quero 
dizer.
Já pensou se essa apostila fosse toda escrita em Juridiquês? 
Provavelmente ela ficaria muito “bonita”, mas não serviria para muita coisa.

Outros materiais