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4 ESTRUTURA TEXTUAL - PORTUGUÊS_-_DIREITO_-_AULA04

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AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 1 
PORTUGUÊS INSTRUMENTAL – DIREITO
AULA 4
O TEXTO - 1
Na aula anterior falamos sobre o ato 
comunicativo na área do Direito, hoje 
discutiremos a respeito da representação 
gráfica da comunicação: o texto. Veremos 
como ele se organiza, de que forma é aplicado 
à área jurídica e quais são as dicas para 
escrever melhor, afinal, este é um instrumento 
de trabalho fundamental para os futuros 
profissionais. 
 Escrevemos e falamos sobre textos diariamente, mas você sabe definir 
o que é um texto? É só aquilo que está escrito?
O dicionário nos dá algumas pistas: 
1 conjunto das palavras escritas, em livro, folheto, documento etc. (p. 
oposição. a comentários, aditamentos, sumário etc.); redação original de 
qualquer obra escrita <um texto manuscrito> 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 2 
2 trecho ou fragmento de obra de um autor <o texto de Graciliano 
Ramos> 
3 passagem da Bíblia que se toma para servir de tema ou assunto de um 
sermão. 
4 qualquer material escrito que se destina a ser falado ou lido em voz alta 
5 parte principal de livro ou outra publicação, com exclusão dos títulos, 
subtítulos, epígrafes, gravuras, notas etc.
Já Elisa Guimarães, doutora em Letras pela USP, define texto da seguinte 
forma:
“Em sentido amplo, a palavra texto designa um 
enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve, 
antigo ou moderno. Concretiza-se, pois, numa cadeia 
sintagmática [combinação de significados] de 
extensão muito variável, podendo circunscrever-se 
tanto a um enunciado único ou a uma lexia 
[expressão, locução], quanto a um segmento de 
grandes proporções.”1
Sendo assim, podemos afirma que são textos: frases, provérbios, versos, 
estrofes, romances, placas de sinalização e até palavras que, sozinhas, 
representam toda uma frase como, por exemplo, “Fogo” ou “Socorro”, que 
1- GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. São Paulo : Ática, 1992. p. 14. 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 3 
podem significar “preciso de ajuda”, dependendo do contexto em que forem 
utilizadas.
Alguns autores procuram analisar a definição de texto a partir de sua 
etimologia (origem da palavra), que está vinculada ao verbo latino “texere”, o 
qual, como podem deduzir, significa “tecer”, “enlaçar”, “entrelaçar”. Portanto, o 
conceito de texto desde que surgiu está relacionado ao trabalho dos tecelões, 
pois o grande mérito de uma boa argumentação escrita está na capacidade de 
entrelaçar as palavras de modo a desenvolver um conjunto harmônico de 
idéias e informações. 
Em Direito, essa harmonia tende a ser bastante prestigiada e utilizada 
como método de convencimento, pois normalmente o senso comum prestigia 
aquele que “fala bonito”. 
Contudo, às vezes, esse “falar bonito” pode ser uma espécie de 
admiração àquilo que não foi compreendido. O raciocínio tortuoso é o seguinte: 
se a pessoa disse algo que eu não entendi, significa que ela é mais inteligente 
do que eu. Falaremos mais sobre isso em breve.
Cabe ressaltar que nem só de palavras escritas vive a comunicação. 
Numa visão mais ampla, qualquer imagem que transmita uma mensagem é 
também um texto. Estão nesse grupo “tirinhas”, “charges”, “figuras”, 
“desenhos”, “fotos”, etc, pois todos eles não prescindem de texto escrito, mas 
transmitem uma ideia.
Vejamos um exemplo:
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 4 
Autor: Luís R. Mendiguren Tarres - Costa Rica
Fonte: www.blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br
Verifique que na charge acima não há nenhum texto escrito (ok, ok, 
exceto a assinatura do autor), mas mesmo assim, através da representação 
gráfica, podemos ler algumas informações: o objetivo, aparentemente, é fazer 
uma crítica à invasão do Iraque determinada pelo governo Bush e mantida pelo 
atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Como sabemos, à 
época, após os ataques de 11 de setembro de 2001, o governo americano 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 5 
alegou que a invasão era necessária, pois o líder estadista Saddam Hussein 
estaria escondendo armas nucleares. Os anos se passaram, Saddam morreu 
enforcado, as tais armas não foram encontradas e os EUA continuam 
ocupando o país do oriente médio até os dias de hoje. Os críticos alegam que a 
única motivação para que tudo isso tenha acontecido é que, na verdade, o 
interesse americano sempre foi o petróleo (combustível em abundância na 
região). 
Curioso que toda essa interpretação do parágrafo anterior possa ser feita 
apenas analisando uma charge. Imagine então textos mais complexos, como 
em uma jurisprudência? Mas há, ainda, outro elemento que pode ser 
observado nesta imagem-texto, é o que chamamos de “intertextualidade”. A 
intertextualidade ocorre quando um determinado texto dialoga com outro 
anterior, ou seja, para que possamos compreender plenamente o texto atual, 
precisamos de um conhecimento prévio. 
A posição dos soldados desenhados pelo chargista faz referência a uma 
famosa foto tirada por Joe Rosenthal na Segunda Guerra Mundial:
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 6 
Na época a fotografia repercutiu como um símbolo da bravura dos 
soltados americanos na Segunda Guerra, principalmente na batalha de Iwo 
Jima, a qual foi retratada em dois filmes recentes de Clint Eastwood: “Cartas de 
Iwo Jima” (mostrando o lado dos japoneses) e “A conquista da Honra” (focando 
o lado americano e mostrando que não houve tanta bravura assim nos gesto 
dos soldados). O cartaz deste segundo filme, também faz uma releitura do 
trabalho de Rosenthal:
(Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=sYKjQX6amUk)
Portanto, podemos afirmar que só compreenderia plenamente a charge 
(ou o filme de Eastwood) quem conseguisse perceber a intertextualidade com a 
famosa fotografia da Segunda Guerra Mundial e também com os conflitos no 
oriente médio.
Podemos concluir que quanto mais amplo for o nosso universo de leitura, 
maiores serão as possibilidades de interpretação de um texto 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 7 
(independentemente da área de atuação, pois um bom profissional de qualquer 
área, não apenas do Direito, não pode se limitar a apenas um grupo 
específico/técnico do conhecimento), pois a nossa bagagem cultural poderá ser 
utilizada a favor das intertextualidades, ampliando, portanto, nosso campo de 
compreensão intelectual.
O discurso do Direito não pode ser encarado como uma coisa estanque, 
fechada em si e que não dialoga com o exterior, com os não-iniciados nas 
práticas jurídicas. 
Vejamos um exemplo de que as várias áreas 
do conhecimento podem (e devem) se comunicar. 
Você deve ter assistido ou ouvido falar no filme 
“Ensaio Sobre a Cegueira” dirigido pelo brasileiro 
Fernando Meirelles.
(Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=6wyj1V-aKVc). 
Trata-se de uma transposição para o cinema 
do famoso livro do escritor português José 
Saramago, vencedor do Nobel de Literatura por este trabalho. Pois bem, 
estamos falando sobre cinema e literatura, será que poderíamos acrescentar a 
essa conta o Direito? A respostaé sim, veja a seguir no texto de Alexandre 
Coutinho Pagliarini (Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Lisboa) em 
que analisa o enredo do livro sob a ótica jurídica:
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 8 
O Direito em José Saramago: ensaio sobre o Ensaio...
Este estudo é a primeira análise jurídica feita no Brasil sobre o livro 
Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Em setembro de 2009, foi 
apresentado, em forma de palestra, em evento organizado pela Universidade 
Federal da Grande Dourados e pela Universidade Estadual do Mato Grosso do 
Sul.
Tudo começa quando um motorista parado no semáforo perde a visão e 
se percebe acometido pela cegueira branca que, logo após, espalha-se pela 
cidade. Os cegos são colocados em quarentena num local inapropriado e 
insalubre, por um governo improvidente cujos membros, pouco mais tarde, 
tornam-se também cegos.
Acerca da quarentena acima narrada, juridicamente falando, 
Constituições até permitem que, em casos extremos de iminente ameaça 
externa (Estado de Defesa) e em casos de grave desordem interna provocada 
– por exemplo – por uma guerrilha (Estado de Sítio), pessoas possam ser 
privadas de algumas liberdades. Entretanto, na hipótese narrada por 
Saramago, houve, por parte do governo, o abuso de uma quarentena imposta 
sem a contraprestação (a oferta) do apoio logístico, enfermeirial e médico que 
se impunham, fator este que tornou o confinamento inconstitucional.
Em análise filosófica do Direito, na quarentena – e na situação de perda 
de visão por si só –, os cegos são reduzidos à essência humana, trazendo à 
tona as máximas de Thomas Hobbes segundo as quais “O homem é o lobo do 
homem” e “Os homens vivem numa guerra de todos contra todos”.
Saramago nos lembra da “Responsabilidade de ter olhos enquanto os 
outros os perderam”. Nesse sentido, existe a figura da Mulher do Médico, a 
única pessoa capaz de enxergar, cujo papel na busca da dignidade de si 
própria e de todos os demais cegos confinados é fundamental. Daí a razão de 
se ter olhos enquanto os outros os perderam – “(...) em terra de cegos, quem 
tem olho é rei”. No caos da cegueira, o “obscurecimento branco” dos valores é 
inversamente proporcional à iluminação virtuosa advinda das qualidades de 
alguns poucos, caso da Mulher do Médico, única luze no insuperável fim de 
túnel da cegueira da indignidade.
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 9 
Algo a ser elucidado em Ensaio Sobre a Cegueira: qual é a diferença 
entre a cegueira comum – a preta, aquela que deixa a visão do cego normal 
obscurecida em negritude visual – e a treva branca (leitosa) de Saramago? A 
resposta é: a cegueira negra (comum) é só física. Já a treva branca é muito 
pior e corresponde à inversão dos conceitos (constitucionais) de dignidade, 
liberdade, igualdade, fraternidade e solidariedade; trata-se o caos da treva 
branca da perda do respeito às minorias e às maiorias historicamente 
desfavorecidas. Em suma, a cegueira branca de José Saramago é o caos do 
menosprezo aos Direitos Humanos Fundamentais.
Ícones da cultura ocidental se tornam inúteis – e, portanto, são violados 
– no mundo dos cegos brancos. Alguns deles são: 
I) identidade (nomes) – no livro, os personagens não têm nome e são tratados 
como a Mulher do Médico, a Rapariga de Óculos Escuros, o Velho de Venda 
Preta nos Olhos, o Primeiro Cego, a Mulher do Primeiro Cego, o Ladrão (o 
interessante é que isso corresponde ao que tem ocorrido no mundo sem alma, 
contemporâneo e pós-moderno, em que pessoas humanas são chamadas de 
“Elementos” pela polícia, ou idealizam vidas paralelas e criam personagens de 
si próprias em sites de relacionamentos, deixando de lado suas 
personalidades); II) perda da noção de propriedade privada – de quê importa 
ter relógios ou carros se não podemos deles nos utilizar entre cegos perdidos?; 
III) incolumidade física, vida e liberdade – no livro, nenhum desses três direitos 
fundamentais é preservado em confinamento improvidente;IV) perda da noção 
de tempo e vilipêndio ao protestantismo de Max Weber – que nos ensinou o 
valor do trabalho, e do tempo no trabalho; V) incentivo à vingança – à medida 
que a Mulher do Médico, em nome dos cegos oprimidos da Ala 1, vinga-se, 
matando com uma tesourada o líder do motim da Ala vizinha.
Contudo, a maior denúncia de Saramago nesta obra é a perda da 
esperança e da fé. Para isso, ele se utiliza da mitologia católica quando a 
Mulher do Médico entra numa igreja e se depara com a figura de Jesus Cristo 
com uma venda tapando-lhe os olhos. Em termos religiosos, a denúncia de 
Saramago é clara. Porém, ela pode ser trazida ao mundo de um Direito em 
que, por exemplo, os advogados constitucionalistas de ontem – que deveriam 
abraçar verdadeiramente a estruturação de um Estado justo e as causas 
sociais – recusam-se a sair de seus gabinetes, e em que os representantes 
dos três poderes rejeitam o povo e as responsabilidades para as quais foram 
designados. Como escreve Saramago: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, 
repara”.
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 10 
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/
Você pode encontrar mais detalhes e informações sobre este estudo no 
link abaixo, que mostra uma palestra apresentada pelo professor Pagliarini na 
UFGD:
http://www.youtube.com/watch?v=qNC8XkHhqPA
Quando falamos sobre textos é importante também verificar a situação 
em que ele ocorre ou à qual faz referência, pois ela pode interferir no 
entendimento da mensagem. Estamos falando sobre “Contexto”, que nada 
mais é do que a informação que acompanha o texto no momento em que ele é 
produzido. 
Provavelmente você já ouviu falar de algum artista ou pessoa pública 
que se sentiu prejudicada por alguma entrevista que tenha concedido, pois o 
jornalista retirou as frases do contexto, distorcendo o que ela pretendia dizer.
Quando um grupo de amigos faz uma piada interna, sobre algum fato 
passado que apenas eles conhecem, e alguma pessoa de fora está presente, 
ela provavelmente não achará graça ou fingirá que entendeu para não se sentir 
excluída. Isso ocorrerá porque ela desconhece o contexto da piada. 
No mundo jurídico, faz-se necessário a mais clara compreensão do 
contexto em que os fatos ocorreram e em que o discurso foi proferido (sob 
pressão? Coagido?). Afinal, cabe lembrar a frase-clichê dos filmes policiais 
“Tudo o que disser poderá ser utilizado contra você no tribunal”. 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 11 
Analisar a situação em que se dá o discurso é importante para que se 
consiga esclarecer as dúvidas e estabelecer uma possibilidade de julgamento 
que mais se aproxime da justiça ou do interesse acordado.
O contexto pode ser separado conforme a seguinte dicotomia:
Contexto imediato:
Faz referência aos elementos que seguem o precedem o texto 
imediatamente, incluindo as circunstâncias que o motivam. Por exemplo, o 
nome de um autor na capa de um livro, pode nos trazer informações imediata 
(caso já tenhamos lido algo dele) a respeito da linguagem que ele utiliza, os 
temas que prefere abordar, pontos de vista, etc.
Contexto situacional:
Refere-se ao contexto estabelecido pelos elementos que não estão no 
texto, mas que possibilitam maior entendimento deste. Isso ocorre quando 
analisamos um determinado discurso, a partir de uma perspectiva ideológica, 
histórica, geográfica, psicológica, etc. Ou seja, buscamos informações de forado texto para melhor compreendê-lo.
A partir disto, podemos concluir que o texto só cria sentido quando 
observado o seu contexto. É em função dele que nós adequamos a nossa 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 12 
linguagem, utilizando variantes formais e informais nas diversas situações 
cotidianas. 
No próprio texto escrito, isso 
também fica evidente. Já que citamos 
Fernando Meirelles anteriormente, 
vamos utilizar como exemplo um 
romance nacional que ele também 
adaptou para o cinema com muito 
sucesso, trata-se de “Cidade de Deus”1, 
de Paulo Lins. Neste livro o autor 
alterna trechos que utilizam uma escrita 
mais formal: 
“Marcelinho Baião segurou a pistola, suas mãos tremiam, 
o coração disparava. Tinha de seguir ordens de Miúdo, 
pois era ele quem sempre lhe dava dinheiro para comprar 
um quilo disso ou daquilo, fora ele quem lhe dera força em 
seu primeiro assalto, sua vida melhorou depois que 
passou a andar com Miúdo. Engatilhou a pistola e saiu 
quebrando pelas pontas de cada prédio levando seu 
medo, seu nervosismo, a sagacidade dos seus dez anos 
de idade junto com a arma que mal lhe cabia nas mãos, a 
voz de Miúdo acompanhava seus passos: “Vai lá e mata o 
cara, rapá!”. (pg. 185)
E informal:
1 LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo. Companhia das Letras, 2002.
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 13 
“Ei, você aí, acocha baseado aí... A boca tá liberada... só 
o preto, branco não, branco só pra bandido – disse Miúdo 
com o braço esquerdo jogado no ombro de Calmo e com 
o direito segurando a coleira do seu cachorro, e 
continuou: - Eu sabia que tu ia matar ele, eu sabia! Na 
hora que tu falou, eu senti que era papo sério!
- Fiquei de frente com ele assim, morou? Trocando... 
Madrugadão também. Aí eu botei o primeiro assim na bola 
dele, Madrugadão também sapecou, morou? Mais de 
vinte homi dele também sapecando na gente e a gente 
saiu saindo. (pag. 375)
Embora a primeira citação seja um pouco mais formal do que a segunda, 
podemos verificar que nos dois casos necessitamos de uma mínima noção do 
contexto das ações para compreendermos satisfatoriamente o texto como um 
todo. 
Tendo isto em mente, podemos discernir as informações e perceber que 
“saiu quebrando pelas pontas” não significa que algo foi quebrado e sim que 
alguém andou rápido ou correu por vários lugares. Podemos entender que “a 
boca” que está liberada não diz respeito a uma parte do corpo humano, mas de 
um ponto de venda de drogas. Enfim, somente o domínio do contexto nos 
permite compreender o romance.
É necessário saber que se trata da representação de uma sociedade 
pobre e violenta, boa parte dela iletrada, para não julgarmos equivocadamente 
que o escritor não sabe “escrever certo”. Afinal, construções como “tá liberada” 
ou “vinte homi” não seria aceitas pela norma padrão. Em um texto formal da 
AULA 04 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL 14 
área jurídica isso seria tido como erro gravíssimo de construção gramatical, 
mas aqui estamos falando de uma criação artística, muito mais flexível.
 É o contexto, o fato de ser uma romance, uma ficção a respeito de 
violência e pobreza, que permite a exploração criativa e a representação 
gráfica da oralidade, ou seja, a tentativa de reproduzir em texto tudo aquilo que 
falamos, exatamente como falamos. Portanto, não há nada de errado como a 
ortografia do livro, o que temos que fazer é saber diferenciar (sempre de olho 
no contexto, na situação) aquilo que é formal daquilo que é informal. Fácil “né 
mesmu”?
	O Direito em José Saramago: ensaio sobre o Ensaio...

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