Buscar

LESÃO CORPORAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO PENAL III – Noturno
PROFESSORA DOUTORA MARIA CAROLINA DE ALMEIDA DUARTE
AULA 3
TEMA: LESÕES CORPORAIS
 
1- CONCEITO E MODALIDADES
De acordo com a Exposição de Motivos do C. Penal, o crime de lesão corporal é conceituado como “ofensa à integridade corporal ou à saúde, isto é, como todo e qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental”. 
Nelson Hungria (1955, p 313) assinala que a lesão corporal compreende a toda e qualquer ofensa ocasionada à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico. 
Informa Rogério Greco (2008, p. 269) que o delito de lesão corporal compreende, também, a agravação de lesões já existentes. O autor assinala o significado da palavra outrem que aparece no tipo legal do referido delito. Para Greco (2008, p. 269) outrem deve ser entendido tão-somente como o ser humano vivo. Assim, não há possibilidade de se cogitar crime de lesões corporais tendo como vítima, pessoa jurídica, animais ou, ainda coisas inanimadas. 
Segundo o referido autor, a lesão corporal pode, de acordo com a análise do art. 129, caput, ocorrer por meio de 6 (seis) modalidades diferentes listadas a seguir e que serão conceituadas adiante:
OBS: toda lesão que não for grave ou gravíssima é leve. 
lesão corporal leve – art. 129, caput do CP; O núcleo do tipo é OFENDER.
lesão corporal grave – art. 129, § 1º, do CP; 
lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, do CP; 
lesão corporal seguida de morte – art. 129, § 3º, do CP; Crime preterdoloso 
lesão corporal culposa – art. 129, § 6º, do CP. cabe perdão judicial – Natureza jurídica da sentença do perdão judicial – a sentença é declaratória da extinção da punibilidade. Sumula 18 STJ.
Crime preterdoloso – dolo no antecedente e culpa no consequente – age com dolo de outro crime e comete outro por culpa.
	Nas lesões de natureza grave e gravíssima aplica-se ação pública incondicionada, cabendo ao ministério público oferecer a denuncia. Exceção são as lesões corporais leve e culposa nestas a ação cabível é a ação pública condicionada a representação da vítima ou de seu representante legal.
 
	Além dessas, foi introduzida a denominada violência doméstica, bem como a forma que qualificada do delito caso venha a ser praticado contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, conforme se verifica no § 9º inserido no art. 129 do C. Penal pela Lei nº 10.886, de 17 de junho de 2004. 
 
2- CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA 
Assinala Rogério Greco (2008, p. 271) que o crime de lesões corporais é crime comum quanto ao sujeito ativo, bem como em regra, quanto ao sujeito passivo, há exceção quanto ao sujeito passivo, nas hipóteses previstas nos incisos IV do § 1º, no inciso V do § 2º, bem como no § 9º; crime material, de forma livre, comissivo, omissivo; instantâneo (em alguns casos quando há perda de membro, poderá ser considerado instantâneo de efeitos permanentes); de dano; plurissubsistente; monossubjetivo. 
4-BEM JURÍDICO PROTEGIDO E OBJETO MATERIAL 
Os bens jurídicos protegidos no art. 129 do Código Penal são a integridade corporal e a saúde do ser humano. 
 Objeto material é a pessoa humana, mesmo que com vida intra-uterina, sobre o qual recai a 
 conduta do agente no sentido de ofender-lhe a integridade física ou a saúde. 
4 – SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO 
O tipo penal não individualiza determinado sujeito ativo, razão pela qual qualquer pessoa poderá configurar como sujeito ativo. 
Porém, quanto ao sujeito passivo existem algumas exceções: inciso IV do § 1º e o inciso V do § 2º, do art. 129, que prevêem, respectivamente, como resultado qualificador das lesões corporais a aceleração de parto e o aborto, bem como do § 9º, que prevê a modalidade qualificada relativa à violência doméstica. Na aceleração do parto somente a gestante pode ser considerada sujeito passivo; no caso de violência doméstica se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão cônjuge e companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, o fato será enquadrado nos §§ 9º e 10 do art. 129. 
Assina Fernando Capez (2007, p. 136) que a conduta que vulnera fisicamente um cadáver só poderá encontrar subsunção no núcleo típico “destruir”, do art. 211. 
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
	Consumação se dá com a efetiva produção de lesão a integridade física (incolumidade física) ou a saúde da vítma.
	O bem jurídico é a integridade corporal + a saúde do ser humano.
	Nos ensinamentos de Rogério Greco (2010, p. 277) consuma-se o delito com a efetiva produção da ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima, incluindo-se, também, os resultados qualificadores previstos pelos §§ 1º, 2º e 3º, que preveem, respectivamente, as lesões graves, gravíssimas e seguidas e morte. 
Para Capez (2007, p. 136) trata-se de crime de dano, assim, a consumação se dá no momento da efetiva ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental da vítima. Afirma, também o autor que estamos diante de um crime instantâneo, de modo que pouco importa para a sua consumação o tempo de duração da lesão. Sendo crime material, a demonstração do resultado deve vir consubstanciada no laudo de corpo de delito. 
Nos ensinamentos de Ricardo Antonio Andreucci (2008, p. 177) em tese admite-se a tentativa de lesão corporal, que ocorre quando o sujeito, embora empregando o meio executivo capaz de causar o dano à incolumidade corporal da vítima, por circunstâncias alheias à sua vontade não consegue a consecução de seu fim. 
Luiz Regis Prado (2000, p. 123) assinala que a lesão corporal tentada não se confunde com as vias de fato (art. 21 LCP). Estas se caracterizam pela ofensa ultrajante realizada sem dano à integridade pessoal (ex: empurrão simples, puxão de cabelos, etc.). Fernando Capez (2007, p. 139) coloca o seguinte questionamento: o corte de cabelo ou da barba à revelia da vítima configura lesão corporal simples, injúria real ou vias de fato? Há controvérsia. Segundo Nelson Hungria o corte de cabelo ou barba, mesmo praticado de forma arbitrária ou violentamente, não deve ser considerado lesão corporal, mas vias de fato ou injúria real. Será injúria real se o corte for praticado com intuito de envergonhar, humilhar. Não havendo essa intenção, poderá ser configurada a contravenção de vias de fato. Na jurisprudência há julgados no sentido de considerar lesão corporal, dado que os pelos e os cabelos pertencem a integridade corporal. 
	
	Salienta o autor que não há que se falar em tentativa em se tratando de lesão corporal culposa (art. 129 § 6º) e de lesão corporal seguida de morte (art. 129 § 3º) em face da sua natureza preterdolosa.. A tentativa exige dolo em relação a todos os elementos do tipo. 
Importante ressaltar que há crimes que não admitem tentativa. Entre eles, a contravenção penal (art. 4º da LCP), crime culposo, crime habitual, crime preterdoloso, crimes nos quais a simples prática da tentativa é punida com as mesmas penas do crime consumado, ex: art. 352 do C. P, crime unissubsistente, crime omissivo próprio. Somente haverá tentativa, de acordo com Rogério Greco (2008, p. 258) toda vez que pudermos fracionar o inter criminis. Assim, o agente percorrendo ao inter criminis, der início a execução de um crime que não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade, poderemos atribuir-lhe o conatus. 
OBS:
	LESÃO CORPORAL GRAVE
	LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ELEMENTO SUBJETIVO 
O elemento subjetivo do crime de lesões corporais é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de ofender a integridade física ou a saúde de outrem. O Código Penal prevê amodalidade preterdolosa em algumas figuras qualificadas, as quais serão analisadas a seguir. O C. P, também prevê a modalidade culposa do delito em estudo (§ 6º). 
8- MODALIDADES DE LESÕES CORPORAIS ESTABELECIDAS NO ART. 129 DO CP
 
Segundo Ricardo Antônio Andreucci (2008, p. 177) o art. 129 do C. Penal apresenta algumas modalidades de lesões corporais: 
lesão corporal leve: prevista no caput, cujo conceito se dá por exclusão, ou seja, toda a lesão que não for grave, gravíssima e seguida de morte será leve; 
lesão corporal grave- prevista no § 1º do referido artigo, cujas conseqüências da conduta apresentam maior relevância jurídica, com penas mais rigorosas; 
lesão corporal gravíssima, prevista no § 2º, onde as conseqüências da conduta também apresentam maior relevância jurídica, com penas mais rigorosas; 
lesão corporal seguida de morte – prevista no § 3º, do art. 129, definido o chamado homicídio preterdoloso ou preterintencional, onde existe o dolo no momento antecedente (quanto a lesão) e culpa no momento conseqüente (previsibilidade quanto à morte da vítima) É indispensável a previsibilidade do resultado, ou seja a culpa com relação ao resultado morte. Exemplos dados por André Estefam (2010, p. 173): já se reconheceu esse crimes quando: a) “...segurança de casa noturna conduz, de forma truculenta, pessoa embriagada, de idade avançada e compleição física inferior, para fora do estabelecimento, havendo liame causal entre a conduta do agente e o resultado morte qu, embora não desejado, decorreu de tal ato ...”; b) os seguranças de um supermercado que abordam de forma ríspida, humilhante e agressiva um octogenário, em razão de suspeitarem haver ele deixado de pagar o produto que adquirira, fato que teria acarretado distúrbio psíquico na vítima, que caiu, desfalecida, no estacionamento do estabelecimento comercial, vindo a falecer pouco depois, cometem o crime de lesão corporal seguida de morte”; 
lesão corporal privilegiada – no § 4º , que ocorre quando o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. O juiz nesses casos poderá reduzir a pena de um sexto a um terço. Se as lesões forem leves poderá, também o juiz substituir a pena de detenção pela pena de multa, nos termos do art. 5º; 
lesão corporal culposa – prevista nos § 6º a 8º, que ocorre quando o sujeito ativo age com imprudência, imperícia ou negligência, ofendendo a integridade corporal ou a saúde de outrem. André Esfefam (2010, p. 176) informa que a lesão corporal culposa trata-se de crime material. Para que o fato possa enquadrar-se no dispositivo legal é necessário que haja: a) conduta voluntária, b) resultado (involuntário), c) nexo causal (baseado na teoria da equivalência dos antecedentes), d) tipicidade (correspondência entre o fato e a norma, e) quebra do dever de cuidado objetivo, por imprudência, negligência ou imperícia, f) previsibilidade objetiva do resultado, g) relação de imputação objetiva (como fator limitador do nexo de causalidade fundado na equivalência dos antecedentes) – art.129, do CP § 6º. Obs: Segundo Claus Roxin a teoria da imputação objetiva é aplicável aos crimes materiais. Para ele, a imputação objetiva deveria substituir a relação de causalidade, abandonando de vez a teoria da causalidade, fundada na teoria da equivalência dos antecedentes ou a conditio sine qua non. O penalista estrutura a da imputação objetiva a partir de 3 (três níveis) ou três requisitos jurídicos para imputar um resultado jurídico a uma determinada conduta: São eles: de que a) a criação de um risco relevante e proibido, b) a realização do risco no resultado; c) a exigência o resultado esteja dentro do alcance do tipo. Exemplos de riscos irrelevantes para Roxin: induzir alguém a praticar paraquedismo, na esperança de que um dia o aparelho falhe e a vítima faleça, ou incentivar uma pessoa a realizar viagem de automóvel por uma estrada perigosa, visando a ocorrência de um acidente fatal. Desta forma, quem se aproveita de tais riscos não pode ser considerado pelo resultado, já que este não pode ser tido como sua obra.
lesão corporal culposa qualificada – prevista no § 7º, que ocorre quando o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências de seu ato, ou foge para evitar a prisão em flagrante. 
Nesse sentido a seguinte jurisprudência: “A inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, que importa agravação especial, não se confunde com imperícia, que é uma das modalidades da culpa. Na imperícia, o agente não tem conhecimentos técnicos, na agravante, ao contrário, o agente tem esses conhecimentos, mas deixa de empregá-los, por indiferença ou leviandade” (JTACrim, 69/250). 
Obs: 1) Lesão corporal leve (129 caput): A ofensa corporal dá-se quando houver um dano anatômico, tais como escoriações, equimoses, feridas incisas luxações, perfuroincisas, fraturas, cicatrizes etc. Não é preciso emanar sangue ou mesmo que venha acompanhada de dor. A ofensa à saúde corresponde a perturbações funcionais, tais como deficiências de sensibilidade, de motricidade, alterações no sistema digestivo, respiratório, circulatório, reproduzido ou no psiquismo. 
Não se pode confundir lesão corporal com contravenção penal de vias de fato (art. 21 da LCP) ou com crime de injúria real (CP, art. 140 § 2º). 
A lesão corporal de natureza leve constitui infração de menor potencial ofensivo, ficando sujeita às disposições da Lei . 9.099, de 1995. 
Trata-se, ademais, de crime que se processa por ação penal condicionada à representação do ofendido, por força do art. 88 da lei acima citada (André Estefam, 2010, p. 168). 
2) Lesão corporal de natureza grave (129 § 1º) As modalidades de lesão corporal grave constituem infrações qualificadas pelo resultado. O resultado agravador somente pode ser imputado ao agente se para este concorreu, ao menos culposamente (art. 19 do CP). Os resultados agravadores que tornam a lesão grave são: a) incapacidade para ocupações habituais, por mais de trinta dias; b) perigo de vida; c) debilidade permanente de membro, sentido ou função; d) aceleração do parto. O fato é punido, em tais casos, com pena de reclusão, de um a cinco anos. 
Incapacidade para ocupações habituais por mais de trinta dias: estas constituem atividades rotineiras do indivíduo. Não é preciso que tenham natureza lucrativa. Até porque, se assim fosse, as crianças e aposentados ficariam excluídos da proteção penal, o que se mostraria verdadeiro absurdo. 
O cômputo do prazo de trinta dias deve obedecer ao critério do art. 10 do CP, isto é, inclui-se o dia do começo e exclui-se o último. 
A comprovação dessa qualificadora deve se dar mediante exame de corpo de delito. De acordo com o art. 168, § 2º do CPP, ele deve ser realizado “logo que decorra o prazo de 30 dias, contando da data do crime”. André Estefam (2010, p. 169) assinala que a falta desta prova pode ser substituída pela prova testemunhal (art. 168 § 3º do CPP). 
Perigo de vida: cuida-se da “probabilidade do resultado letal”. O resultado agravador em questão pode ser determinado pela natureza do meio empregado ou pelo modo de atuar do agente. Assim, por exemplo, quem agride a vítima e a empurra contra uma movimentada via pública, põe em risco sua vida. O mesmo vale se alguém engana violentamente uma pessoa (sem animus necandi) ou que transmite a terceiro o vírus da AIDS. 
Na jurisprudência podem se colher os seguintes exemplos: facada no pulmão, lesões penetrantes no abdome. 
Informa o referido autor que há necessidade de laudo que aponte as razões que produziram o “perigo de vida”, ainda que sucintamente, não sendo suficiente que o perito se limite a dizer que este ocorreu. 
Debilidade permanente de membro, sentido ou função: membros são os braços, antebraços e mãos (membros superiores) e as coxas, pernas e pés (membros inferiores).Nossos sentidos: são a visão, o tato, o olfato, a audição e o paladar. Consubstanciam-se nos mecanismos pelos quais percebemos o mundo exterior. 
Por funções entendem-se as funções orgânicas do corpo, como a função respiratória, mastigatória, digestiva, circulatória, secretora, reprodutora, sensitiva, locomotora, cerebral etc. 
A perda da capacidade do membro do sentido ou da função configurará lesão gravíssima. Não é necessário que seja perpétua, mas permanente, isto é, que não possua caráter temporário. 
Com relação a órgãos duplos ou geminados (vista, audição, rins, pulmões, testículos etc) ou ainda complexos, como o órgão da mastigação, a perda de um deles caracterizará lesão grave (sua supressão completa, todavia, considerar-se-á lesão gravíssima).
Nossos Tribunais já reconheceram a qualificadora no seguinte caso: perda de um dente que incapacita a capacidade mastigatória. 
No sentido de perda de um dedo, olho, orelha, rim – órgãos duplos ou múltiplos – não caracteriza a qualificadora, pode configurar, todavia, deformidade permanente (André Estefam, 2010, p. 170). 
ACELERAÇÃO DE PARTO 
Ensina André Estefam (2010, p. 171) a aceleração de parto é a antecipação do termo natural ou esperado da gravidez. 
O autor assevera que o resultado agravador é tão somente a realização de uma parto antes do período previsto e não a morte do feto. Se da agressão à ofendida resulta aborto, a lesão é gravíssima. 
LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA (art. 129, § 2º) 
Dá-se a referida modalidade quando a conduta produzir na vítima: a) incapacidade permanente para trabalho; b) enfermidade incurável; c) perda ou inutilização de membros, sentido ou função; d) deformidade permanente; e) aborto. A pena é de reclusão de dois a oito anos.
Incapacidade permanente para o trabalho: significa a interrupção definitiva da capacidade laboral do sujeito passivo. A doutrina dominante entende que se trata da supressão da capacidade in genere ao trabalho, não somente da ocupação atual da vítima. André Estefam (2010, p. 171) entende que com essa compreensão há quase um esvaziamento do alcance dessa figura qualificada, pois sempre haverá alguma profissão que o indivíduo incapacitado possa fazer.
 
Exemplo: uma pessoa que exercia atividade que exigia complexo raciocínio mental poderá, em função de um dano à sua capacidade cerebral, continuar realizando trabalhos exclusivamente manuais e repetitivo, como numa linha de produção de alguma indústria. 
Também não é razoável interpretar a qualificadora como sendo a incapacidade para o trabalho que o ofendido exercia, se ele puder realizar outro trabalho, equivalente. 
O melhor critério é um intermediário. Não se trata de exigir a impossibilidade de praticar todo o tipo de atividade laborativa, mas de trabalhos análoga aos que o agente realizava antes do delito. 
André Estefam (2010, p. 171) exemplifica: a redução do movimento das mãos inabilita um pianista profissional para o exercício de seu mister (mas não obsta que ele seja, por exemplo, crítico musical. Uma redução de grande monta da fala impede um professor de prosseguir lecionando (embora possa ele redigir textos científicos). Nesses casos, parece-nos, não terá incidência a qualificadora, pelo exercício de funções análogas às anteriormente exercidas. 
Enfermidade incurável: a incurabilidade, segundo André Estefam (2010, p. 172) deve ser avaliada segundo o estágio da Medicina, ao tempo da ação ou omissão, pois este é o momento do crime (CP, art. 4º). 
Pode se tratar de qualquer doença, física ou mental, cujo prognóstico pericialmente confirmado seja de ausência de perspectiva de cura. 
Perda ou inutilização de membro, sentido ou função: a perda pode se dar por meio da ablação (seja decorrente de mutilação ou amputação), que consiste no destacamento do corpo do sujeito passivo. A inutilização dá-se quando o órgão ainda pertencer à estrutura corporal do indivíduo, mas perder por completo a finalidade a que se destina (por exemplo, a paralisia). Caracterizam as hipóteses de lesões que acarretam impotência (seja para procriar – impotência generandi, seja incapacidade de ereção – impotência coeundi). 
A colocação de próteses ou a realização de transplantes não desqualifica a lesão gravíssima. Trata-se de de um crime instantâneo de efeitos permanentes (e permanência significa “eternidade”). Ademais, importante citar a regra do art. 4 do CP, segundo o qual a infração considera-se praticada no momento da ação ou omissão.
Deformidade permanente: informa André Estefam (2010, p. 172) que a deformidade permanente, do ponto de vista objetivo trata-se de uma lesão à fisionomia do agente, podendo encontrar-se em qualquer parte do corpo humano, desde que seja, de alguma maneira visível a terceiros. Sob o aspecto subjetivo, significa que deve causar certa repugnância ou, ao menos, desagrado à vista dos outros. Há de provocar mal-estar nas pessoas, não importa em que grau. A posterior realização de cirurgia estética corretiva não desqualifica o crime. Vale a regra do art. 4 do CP acima mencionada. O autor cita alguns exemplos: vitriolagem (arremesso de ácido sulfúrico contra a vítima, com objetivo de lhe causar lesões deformantes da pele e dos tecidos subjacentes) tatuagens em menores sem autorização dos pais, queimaduras que provocam danos estéticos.
Aborto: O aborto consiste na morte do nascituro. É fundamental que entre o evento letal e a conduta do agente exista mínima relação de causalidade. Cuida-se de modalidade de lesão corporal gravíssima exclusivamente preterdolosa. Havendo dolo direto ou eventual, com respeito à supressão da vida intrauterina, haverá lesão corporal da gestante (leve ou agravada com base em outro inciso, se cabível) e aborto sofrido (art. 125, do CP). 
	
 
9-PERDÃO JUDICIAL 
O perdão judicial está previsto no § 8º, do art. 129, do C. Penal e ocorre quando o juiz deixa de aplicar a pena por terem as conseqüências do crime atingido o sujeito ativo de forma tão grave que a sanção penal se torna desnecessária. Ex: sujeito ativo provocou acidente de trânsito, no qual mulher, filhos e cunhada falecem. Embora tenha agido de forma imprudente, a sanção penal se torna desnecessária.
André Estefam (2010, p. 180) assinala que o perdão judicial é uma causa extintiva da punibilidade por meio da qual o Estado, mediante de certos requisitos, renuncia o direito de punir, geralmente fundado na desnecessidade da pena. Só é admissível nos casos expressos em lei. 
O legislador, quando pretende autorizar o juiz a conceder referido benefício, utiliza a fórmula “o juiz poderá deixar de aplicar a pena”. 
Na lesão culposa, dá-se quando as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária (art. 129, § 8º). Por exemplo: uma mãe efetua uma manobra em seu veículo e, inadvertidamente, atropela o filho pequeno, causando-lhe ferimentos.
Interessante observar que, em tais casos, o fato cometido demonstra-se típico, antijurídico e culpável, mas a imposição da pena se torna desnecessária, por não atender a nenhuma finalidade preventiva. Em outras palavras: o sujeito é culpável, mas não responsável penalmente pelo ato.
Discute-se a natureza jurídica da sentença que concede, prevalecendo atualmente o entendimento de que não é nem absolutória, nem condenatória, mas declaratória da extinção da punibilidade (Súmula 18 do STJ).
 
10 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
Segundo André Estefam (2010, p. 181) quando a lesão (dolosa) for praticada por “ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou ainda, prevalecendo-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”, o fato é punido mais severamente (detenção de três meses a três anos). O valor resguardado deixa de ser somente a integridade corporal e a saúde para incluir também a dignidade da pessoa no seio familiar e das relações domésticas.
Quando a violência doméstica constituir lesão grave, gravíssima ou seguida de morte, haverá um aumentode pena em um terço. 
O mesmo ocorrerá quando, na hipótese do § 9º, a vítima for portadora de deficiência. Nesse aspecto, informa o referido autor que deva adotar-se o conceito previsto no art. 1 da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, que o Brasil ratificou com força de Emenda Constitucional, nos termos do art. 5º § 3º. . A execução ao documento internacional se deu mediante a expedição do Decreto presidencial n. 6.949, de 25-8-2009.
Registre-se que sempre que a vítima do crime for mulher, terá incidência da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
César Roberto Bitencourt (2007, p. 174) assinala que a Lei 11.340/2006 abusou na definição das espécies e quantidade de “violência doméstica e familiar” e, dentre outras, classificou as seguintes: a) violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e violência moral (art. 7º). O autor prefere denominar de “lesões corporais domésticas”. Acrescenta ainda, que esse tipo penal é oriundo dos movimentos feministas, que recebeu apoio de inúmeros segmentos da sociedade, sem qualquer ranço social, ideológico. 
Segundo Fernando Capez (2007, p. 155) a violência doméstica, tipificada primeiramente na Lei nº 11.340, de 7/08/2006, tem os seguintes objetivos: a) criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher; b) dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (art. 14 da Lei); c) estabeleceu medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
 Assinala ainda o autor que a referida Lei tem fundamento no art. 226 § 8º da Constituição Federal, Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher; Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil. A Lei vedou a incidência da Lei dos Juizados Especiais Criminais. A partir da Lei nº 11.340/2006 o crime de lesão corporal dolosa leve qualificado pela violência doméstica, previsto no § 9º deixou de ser considerado infração de menor potencial ofensivo, em face da majoração do limite máximo da pena, o qual passou a ser de 3 (três) anos. E a partir da referida Lei não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, vedando, assim, por completo, a incidência dos institutos benéficos da Lei 9.099/95. A Lei dificultou a aplicação de penas alternativas, de acordo com o art. 17 “É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de pena de cesta básica e outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa”. 
AÇÃO PENAL – 
A ação é pública incondicionada nos casos de lesão corporal de natureza grave e gravíssima.
A ação é pública condicionada a representação nos casos de crimes de lesões corporais leves e lesões culposas (Lei n. 9.099/ 95, art. 88).
A Procuradoria Geral da República ingressou com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) para mudar de ação condicionada a representação para Incondicionada e o Supremo Tribunal Federal julgou procedente. A referida ação foi julgada no dia 9 de fevereiro de 2012. Hoje, a ação penal no crime de violência doméstica é Pública Incondicionada. 
REFERÊNCIAS 
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 4 ed., São Paulo: Saraiva, 2008. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial 2. v. 2, 7 ed. rev. e atual, São Paulo: Saraiva, 2007. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. v. 2, 7ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva. 
ESTEFAM, André. Direito Penal: parte especial. São Paulo: Saraiva, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. v. II. 5 ed., Niterói/ RJ: Impetus, 2008. 
______. Curso de Direito Penal: parte especial. v. II. 7 ed. ver. e atual. Niterói/ RJ: Impetus, 2010.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro: parte especial. v. 2. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.

Outros materiais