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DOS DIREITOS REAIS DE GARANTIA PENHOR, HIPOTECA E ANTICRESE DOS DIREITOS REAIS DE GARANTIA: PENHOR, HIPOTECA E ANTICRESE 1. Evolução histórica - Sociedades primitivas: devedor respondia pelas dívidas com sua integridade física, sua liberdade e a de sua família. - Lei das XII Tábuas: devedor poderia ser encarcerado, vendido ou morto pelo credor. - Lex Poetelia Papiria: aboliu a execução contra a pessoa do devedor, instituindo a responsabilidade sobre os seus bens, se a dívida não procedia de delito. - Princípio da Responsabilidade Patrimonial: o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. - As garantias gerais poderiam não ser eficazes na hipótese de desequilíbrio financeiro do devedor: débitos ultrapassam o valor do patrimônio (estado de insolvência). 2. Garantias jurídicas: a) Pessoais/ fidejussórias: terceiro se obriga a solver o débito se o devedor não o fizer. - Fiança (art. 818 ss). - Garantia de limitada valia (Rodrigues). - Garantia relativa (Gonçalves). b) Reais: vincula determinada coisa do devedor ao pagamento da dívida. - Independe do estado em que venha a se encontrar o patrimônio do devedor, pois a coisa já está ligada ao cumprimento da obrigação. 3. Conceito - “É o direito que confere ao credor a pretensão de obter o pagamento da dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Sua função é garantir ao credor o recebimento da dívida, por estar vinculado determinado bem ao seu pagamento” (Orlando Gomes). - Direitos contemplados pelo CCB: Penhor, hipoteca e anticrese. - Art. 1.419. - Logo, são direitos de natureza acessória. 4. Classificação a) Quanto ao objeto - Penhor incide coisas móveis. - Hipoteca e anticrese incidem sobre coisas imóveis. - Distinção que, atualmente, não é absoluta. b) Quanto a titularidade da posse do bem dado em garantia - Penhor e anticrese: a coisa deve ser entregue ao credor, que passa a ser o possuidor direto. - Hipoteca: a coisa se conserva em poder do devedor ou de quem a dá em garantia, não havendo desdobramento da posse. c) Quanto à forma do exercício do direito - Art. 1.422, caput. - Ante o inadimplemento da obrigação, o credor pignoratício e o credor hipotecário podem promover a venda judicial da coisa. - O preço apurado deve ser destinado a satisfazê-los preferencialmente (direito de preferência). - Ressalvas: art. 1.422, parágrafo único. - Já o credor anticrético não possui o mesmo direito. A este cabe apenas reter a coisa enquanto a dívida não for paga, limitado ao prazo de 15 anos (direito de retenção) (art. 1.423). - “Prescrição liberatória” (Diniz). 5. Requisitos dos direitos reais de garantia 5.1 Capacidade genérica e capacidade especial para alienar - Art. 1.420, caput (1ª parte). - Justificativa: o bem dado em garantia pode ser penhorado e vendido em hasta pública. - Faz-se necessário além do domínio, a livre disposição da coisa, sob pena de nulidade absoluta. * Em linhas gerais, não podem hipotecar, empenhar ou dar em anticrese: a) Menores de 16 anos - Art. 3.º, inciso I: absolutamente incapaz. - Os pais só podem representá-los e gravar bens dos filhos em garantia real com autorização judicial (art. 1.691) – nos casos de necessidade ou evidente utilidade da prole. b) Maiores de 16 e menores de 18 anos - Art. 4.º, inciso I: relativamente incapaz. - Os pais só podem representá-los e gravar bens dos filhos em garantia real com autorização judicial (art. 1.691) – nos casos de necessidade ou evidente utilidade da prole. c) Menores sob tutela - Somente admitido se o tutor for autorizado pelo juiz. - Art. 1.748, inciso IV e 1.750: se é possível alienar, também será oferecer em garantia. d) Os interditos em geral - Art 1.781: somente se representados e autorizados pelo juiz. e) Pródigos - Impossível juridicamente apenas se atuarem sozinhos. - Quando assistidos por curador, podem gravar seus bens em garantia real, mesmo sem autorização judicial. - Aplicação de norma especial: art. 1.767, inciso V c/c 1.782. f) Pessoas casadas - Só admite que, sozinho, grave seus bens em garantia especial se o regime for o da separação absoluta de bens. - Art. 1.647, inciso I. - Regra que não incide sobre o penhor (móveis). - A falta de outorga conjugal gera nulidade relativa. - Art. 1.649: prazo de 2 anos após a dissolução da sociedade conjugal para requerer a anulabilidade do ato. * Convalidação da garantia real pela superveniência do domínio: - Art. 1.420, § 1.º. - É nulo gravar de garantia real coisa alheia por quem não é o proprietário. - Todavia, a garantia torna-se eficaz pela superveniência do domínio (efeitos ex tunc). 5.2 Requisitos objetivos - Art. 1.420, caput (2ª parte). - Só podem ser objeto de garantia os bens alienáveis. * A questão do condômino - Condômino de coisa indivisível pode gravar de garantia real a sua quota ideal? - Art. 1.420, § 2.º: não faz distinção sobre divisibilidade ou indivisibilidade. - Portanto, malgrado as controvérsias doutrinárias, pode gravar, ainda que em coisa indivisível (Gonçalves, Lisboa, Rodrigues, Venosa) - Art. 1.314, caput. - Ojeriza do legislador ao condomínio (Rodrigues). 5.3 Requisitos formais - Eficácia perante terceiros. a) O Princípio da Especialização - Art. 1.424. - Trata-se da pormenorização enumerada dos elementos caracterizadores da obrigação e do bem dado em garantia, que deverão ser consignadas no instrumento. - Finalidade: evidenciar a terceiros a situação do devedor e dos seus bens. - Se o contrato não contiver tais dados, será ineficaz como direito real, surtindo efeitos apenas de direito pessoal (ineficácia relativa/ inoponibilidade). b) O Princípio da Publicidade - Hipoteca e anticrese: decorre do registro do título constitutivo no Registro de Imóveis. - Art. 1.227. - Penhor convencional: decorre do registro no Cartório de Títulos e Documentos (art. 127, inciso II da Lei n.º 6.015/73) * Sob o aspecto formal, exigível também que, no penhor, ocorra a tradição (art. 1.226). 6. Efeitos dos direitos reais de garantia a) Direito de preferência - Jus praeferendi ou prelação: primazia deferida a determinado credor, em virtude da natureza de seu crédito, de receber, preterindo aos concorrentes (Gonçalves). - Art. 961, 1ª parte. - Não beneficia o credor anticrético. - Exceções: art. 1.422, p, único (situações descritas pelo art. 961 e na Lei de Falências – 11.101/2005: credores trabalhistas limitados a 150 SM, credores decorrentes de acidente do trabalho). - E se o produto da arrematação for insuficiente para solver a dívida? - Art. 1.430. - Caráter quirografário do saldo devedor restante. b) Direito de sequela - Jus persequendi ou direito de reclamar e perseguir a coisa em poder de quem quer que se encontre para sobre ela exercer o seu direito de excussão. - Ex.: adquirente de imóvel hipotecado está sujeito a vê-lo levado à hasta pública para pagamento da dívida. “Direito de sequela e o de preferência constituem a virtude, a força dos direitos reais de garantia” (Gonçalves). c) Direito de excussão - Direito do credor hipotecário e do pignoratício de promover a venda judicial da coisa em hasta pública. - Requisito que a obrigação esteja vencida. - Havendo mais de um credor hipotecário, deverá ser observada a prioridade no registro. - “A ordem dos registros é que determina a prevalência da garantia, não a data do contrato” (Pereira, C. M. S.). d) Indivisibilidade - Art. 1.421. - Pagamento parcial não acarreta a liberação da garantia na proporção do pagamento efetuado, salvo convenção em contrário. - Logo, não se admitiria, em princípio, a exoneração parcial e proporcional ao valor pago. * Consequência: não se admite remição parcial. - Art. 1.429. Remição -> Remir -> Liberação da coisa gravada mediante o pagamento/ consignação feito ao credor (art. 826 CPC/ 2015). Remissão -> Remitir -> Perdão da dívida, extinção anormal da obrigação sem o pagamento (art. 385 CCB). 7. Vencimento antecipado da dívida - Hipóteses previstas em lei em que se pode exigir o vencimento antecipado da dívida assegurada por garantia real. - Arts. 333 c/c 1.425. - Não se admite, entretanto, o vencimento antecipado dos juros correspondentes ao prazo por decorrer (art. 1.426). 8. Vedação ao pacto comissório ou cláusula comissória - Art. 1.428, caput. - “Pacto comissório é a convenção acessória, autorizando o credor de dívida garantida por penhor, anticrese ou hipoteca a ficar com a coisa dada em garantia, se a prestação não for cumprida no vencimento” (Rodrigues). - A celebração do pacto comissório é defesa. - Intuito de proteger o devedor, parte mais fraca do contrato (Rodrigues). - Razão de ordens moral e ética: resguardar o fraco (devedor) contra o forte (credor) (Gonçalves). - “É nulo o pacto com o qual se convém que, no caso de falta de pagamento do crédito no termo estabelecido, a propriedade da coisa hipotecada ou dada em penhor passe ao credor. É princípio reconhecido por todas as legislações que o credor não poderá apropriar-se da coisa dada em garantia, se o devedor não cumprir a obrigação garantida” (RT 687/69). 8.1 Ressalva - Art. 1.428, parágrafo único. - Embora proibido o pacto comissório, é permitido ao devedor, após o vencimento da obrigação, entregar em pagamento da dívida a mesma coisa ao credor, que a aceita, liberando-o. - Razão: inexistência de presunção de fraude, ante a vontade manifesta do devedor. - Se o credor concorda, opera-se a dação em pagamento. - Art. 356.
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