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CAPITULO 12 Aquisições cognitivas e biológicas da segunda infância

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CAPITULO 11
Os Contextos do Desenvolvimento na Primeira Infância
A FAMÍLIA COMO UM CONTEXTO PARA O DESENVOLVIMENTO
Um estudo intercultural da organização familiar e do desenvolvimento social
Configurações da família e práticas de socialização na América do Norte
OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO LIGANDO A COMUNIDADE E O LAR
As lições de história
Os livros
A televisão: babá inofensiva ou intruso prejudicial?
Os meios de comunicação interativos
A CRIANÇA PEQUENA NA COMUNIDADE
Variedades do cuidado diário
Efeitos desenvolvimentais do cuidado diário
Pré-escola
NO LIMIAR
440
Um novo nível de organização, na verdade, nada mais é do que um novo contexto importante.
C.H. Waddington, Organizers and Genes
Até agora, tratamos dos ambientes que as crianças habitam durante a primeira
infância fundamentalmente como um pano de fundo para nossas discussões sobre
o desenvolvimento cognitivo, físico e social das crianças. Neste capítulo, modificamos
o nosso enfoque para chamar a atenção para as maneiras como os contextos de vida
das crianças e das atividades em que as crianças se envolvem são parte e parcela do
seu desenvolvimento.
Quando deslocamos a nossa atenção para os contextos da primeira infância,
convém mais uma referência à idéia de Urie Bronfenbrenner de que os ambientes
de desenvolvimento devem ser pensados como um arranjo aninhado dos
ecossistemas representados na Figura 1.5. O sistema mais interno desse
diagrama, o microssistema, inclui contextos como o lar, a igreja, o parque local, a escola, etc. também são importantes os contextos do exossistema, como os locais de trabalho dos pais, as agências do governo e os meios de comunicação de massa, que influenciam as crianças diretamente, como a televisão, ou indiretamente, através do seu impacto sobre os pais e outros familiares.
Cada nível de contexto no modelo ecológico de Bronfenbrenner está reciprocamente relacionado aos outros níveis. As crianças são diretamente influenciadas pelo que ocorre em seus lares, mas o que ocorre em seus lares influencia indiretamente sua experiência na escola, no playground e em outros locais. O comportamento dos pais em casa é influenciado pelas experiências que eles têm no trabalho e em suas comunidades, enquanto a sociedade da qual a comunidade faz parte molda e é moldada por seus membros.
O contexto que influencia mais diretamente o desenvolvimento das crianças
pequenas é a família. Os pais influenciam o desenvolvimento de seus filhos de duas
maneiras complementares. Em primeiro lugar, moldam as habilidades cognitivas e
as personalidades de seus filhos pelas tarefas que lhes oferecem a desempenhar,
pelas maneiras como reagem a seus comportamentos particulares, pelos valores
que promovem, tanto explícita quanto implicitamente, e pelos padrões de comportamento que modelam. Mas essa é apenas parte da história. Os pais também influenciam o desenvolvimento de seus filhos selecionando muitos dos outros contextos
aos quais os filhos estão expostos, incluindo os locais que eles visitam, os meios
pelos quais eles se entretêm e as outras crianças com quem eles brincam.
Desde o início, é claro, a influência modeladora da interação pais-filhos é bilateral,
pois os filhos também moldam o comportamento de seus pais. Os interesses,
temperamento, aparência, capacidade verbal e outras características também desempenham seus papéis no processo de desenvolvimento social, influenciando a maneira como os pais interagem com a criança (Bugental e Goodnow, 1998; Park e Buriel,
1998).
Iniciamos nossa discussão dos primeiros contextos do desenvolvimento resumindo algumas características universais das famílias. Depois, comparamos as
configurações familiares e o desenvolvimento da personalidade em duas sociedades
marcantemente diferentes. Essa comparação entre nações é seguida por um exame das
principais variedades da configuração familiar e dos padrões de educação dos filhos
na América do Norte. Em seguida, examinamos a influência dos livros e da televisão,
dois meios de comunicação que vinculam a família à sociedade mais ampla. Finalmente, discutimos os efeitos socializadores de duas instituições sociais designadas
especificamente para servir as crianças pequenas e suas famílias nas sociedades
industrializadas modernas: a creche, que substitui o cuidado dos pais em casa; e as
pré-escolas, que vão além de cuidar das crianças, estimulando seu desenvolvimento
cognitivo e social.
441
A FAMÍLIA COMO UM CONTEXTO PARA O DESENVOLVIMENTO
Baseando-se em seu estudo das práticas de educação dos filhos em diversas culturas,
o antropólogo Robert Le Vine (1988) propôs que os pais do mundo todo compartilham três objetivos principais:
1. O objetivo da sobrevivência: para garantir que seus filhos sobrevivam, providenciando para que tenham saúde e segurança.
2. O objetivo econômico: para garantir que seus filhos adquiram as habilidades e
outros recursos necessários para serem adultos economicamente produtivos.
3. O objetivo cultural: para garantir que seus filhos adquiram os valores culturais
básicos do grupo.
Esses objetivos formam uma hierarquia. O objetivo mais urgente para os pais é
a sobrevivência física de seus filhos. Só quando a segurança e a saúde de seus filhos
parecem garantidas é que os pais podem concentrar-se nos outros dois objetivos,
transmitindo as habilidades economicamente importantes e os valores culturais de
que as crianças vão necessitar quando adultos, para garantir a existência continuada
da sua família e da comunidade.
Para adquirir esses dois objetivos, as famílias procuram estabelecer rotinas diárias
estáveis. As rotinas proporcionam conjuntos de atividades previsíveis e modelares
que asseguram um ajuste adequado entre os recursos da família e sua ecologia
local. Embora esses objetivos básicos dos pais sejam universais e todas as famílias
procurem criar atividades rotineiras para garantir que eles sejam alcançados, a maneira como os pais tomam providências para que os filhos os alcancem varia muito,
dependendo das circunstâncias econômicas, sociais e culturais do lugar onde vivem.
Na verdade, até mesmo a natureza da unidade social chamada de "família" varia
consideravelmente de uma sociedade para outra, mundo afora. Por exemplo, a imagem convencional de uma família na América do Norte é um lar constituído de um
marido, uma esposa e dois ou três filhos (ver o Destaque 11.1). Os antropólogos
referem-se a essa unidade social como sendo uma família nuclear (Murdock, 1949).
Embora essas famílias possam ser encontradas na maioria das comunidades norte-
americanas, elas não são de modo algum representativas da totalidade das configurações familiares da América do Norte. Em muitos lares norte-americanos, as crianças são educadas apenas por um dos pais (em geral, a mãe) ou por vários adultos em uma família extensiva. Quando consideramos as variações na configuração familiar em uma escala mundial, o ideal norte-americano de uma família nuclear realmente é incomum. A poligamia, em que um homem é casado simultaneamente com mais de uma mulher, é o padrão preferido entre 75% das sociedades do mundo, embora até mesmo nas sociedades onde a poligamia é preferida, ela coexista com outros padrões (Saxon, 1993). As maneiras como as famílias são organizadas, as atividades econômicas em que estão engajadas e os arranjos particulares de suas vidas cotidianas, assim como a maneira como os adultos pensam e tratam seus filhos, tudo isso contribui para o desenvolvimento das crianças.
442
DESTAQUE 11.1 
OS IRMÃOS E A SOCIALIZAÇÃO
A maior parte das teorias de socialização concentra-se nas relações entre uma criança e dois pais quando eles lidam com questões como o desenvolvimento da identidade do papel sexual, agressão e comportamento pró-social. Mas as famílias de verdade e a socializaçãode verdade são mais complexas. As famílias com um só filho são uma distinta minoria pelo mundo afora. Na América do Norte, a maioria das famílias inclui pelo menos dois filhos.
Os estudos mostram que, embora os pais sejam de fundamental importância na socialização dos filhos, os irmãos também desempenham papéis importantes nela (Parke e Buriel, 1998). Os papéis dos irmãos são mais óbvios nas sociedades agrícolas, como os gusii discutidos nesse capítulo, em que grande parte do cuidado com a criança é realizado por irmãos mais velhos ou pelas irmãs mais moças da mãe. É através desses cuidadores da criança, que, às vezes, não são mais que quatro anos mais velhos que aqueles por eles cuidados, que muitos comportamentos e crenças do grupo social são transmitidos (Zukow-Goldring, 1995). Nas sociedades industrializadas, em que as famílias tendem a ter menos filhos e essas crianças freqüentam a escola desde os cinco anos de idade, meninos e meninas têm menos responsabilidade por seus irmãos menores. Não obstante, os irmãos, ainda influenciam substancialmente a socialização um do outro.
Há ampla evidência de que os filhos menores aprendem muito com seus irmãos mais velhos. Margarita Azmitia e Joanne Hesser (1993) colocaram crianças pequenas a brincar com blocos de construção, enquanto seus irmãos mais velhos e um amigo mais velho (que tinham aproximadamente nove anos de idade) também brincavam com blocos de construção. As crianças menores passaram mais tempo imitando e consultando seus irmãos do que o amigo. Os irmãos mais velhos, por sua vez, ofereceram mais ajuda espontânea do que o amigo. Quando foi solicitado às crianças mais velhas que ajudassem uma criança menor a construir uma cópia de um
modelo dos blocos, os irmãos, mais uma vez, proporcionaram mais explicações e encorajamento.
Entretanto, nem sempre os irmãos mais velhos podem desempenhar o papel de tutores. Outras pesquisas mostraram que, até cerca de sete ou oito anos de idade, os irmãos mais velhos podem simplesmente assumir e realizar essas tarefas para seus irmãos ou irmãs menores, em vez de explicar ou ajudar a fazer eles próprios (Perez-Granados e Callanan, 1997).
Tendo como base a pesquisa conduzida na Inglaterra e no Japão, Joseph Perner e seus colegas relatam que ter um irmão mais velho parece aumentar as habilidades das crianças de assumir a perspectiva social (Perner et al., 1994; Ruffman, et al., 1998). Em seus estudos, foi administrada a cada criança a tarefa da "falsa crença" descrita no Capítulo 9: uma história em que alguém retorna a um aposento em que um objeto que foi visto pela última vez em um local foi transferido para outro, e a criança é solicitada a dizer onde a pessoa da história deveria procurá-lo. Os pesquisadores descobriram que, quanto mais irmãos mais velhos tinha a criança, maior a probabilidade de ela entender que as pessoas podem manter falsas crenças. Ter irmãos mais moços não influenciou o desempenho de crianças. Segundo Perner, os irmãos mais velhos proporcionam um
"banco de dados rico" para o entendimento dos processos mentais das outras pessoas.
Outras evidências dos elos entre a experiência dos relacionamentos entre irmãos e o desenvolvimento cognitivo vem de estudos em que as mães e dois irmãos participaram de uma versão modificada a "situação estranha" descrita no Capítulo 6 (Garner et al., 1994 Howe, 1991). A mãe e dois filhos passaram algum tempo em um aposento, onde as crianças podiam brincar. Depois, a mãe saiu. pedindo à criança mais velha para cuidar da mais moça por alguns minutos. As crianças que conseguiram pontuação mais elevada nos testes da capacidade de assumir a perspectiva de outra pessoa foram
também mais capazes de confortar e distrair seus irmãos menores durante a ausência da mãe.
Os irmãos menores não são apenas encargos a serem cuidados são também alguém com quem brincar. É enquanto estão brincando juntos que os irmãos mais velhos exercem sua maior influência sobre seus irmãos e irmãs mais moços. Quando ainda são muito
pequenos, a maior parte das brincadeiras é imitativa. Durante o primeiro ano, é o primogênito que imita o novo bebê; depois, os papéis se invertem e é o menor que passa a imitar o maior (Abramovitch et al., 1982). Quando se aproximam dos quatro anos de
idade, os irmãos menores assumem um papel cada vez mais ativo em seus relacionamentos com seus irmãos mais velhos e intervém de maneira cada vez mais eficiente nas interações entre suas mães e os irmãos mais velhos (Dunn e Shatz, 1989). Eles também se tornam mais interessantes como interlocutores para seus irmãos
mais velhos (Brown e Dunn, 1991). Mesmo assim, o irmão mas velho continua a dominar o relacionamento e é aquele com mais probabilidade de iniciar a brincadeira e, também, interações altruístas e agressivas (Abramovitch et al., 1986).
Os relacionamentos entre irmãos são com freqüência ambivalentes impossíveis de caracterizar como consistentemente amigáveis ou consistentemente hostis. A explicação óbvia para a ambivalência que os irmãos competem pelo amor e pela atenção de seus pais, o nascimento de um segundo bebê é, em geral, perturbador para o
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primogênito, especialmente se ele tem menos de quatro anos de idade. Como o primogênito não teve competidores até a segunda criança entrar em cena, esses sentimentos são compreensíveis. O primogênito pode reagir à desatenção da mãe, sendo exigente e mostrando comportamentos mais negativos, tornando-se mais independente, assumindo um papel maior na iniciação das conversas e das brincadeiras ou se distanciando da mãe (Dunn, 1984).
Outro fator no relacionamento dos irmãos é a questão das diferenças individuais na personalidade e no comportamento (Stocker et al., 1989). As crianças que têm temperamentos "difíceis", que são hostis, ou intensos, têm maior probabilidade que as crianças com temperamentos "fáceis" de ter relacionamentos conflituosos com
seus irmãos (Munn e Dunn, 1988). Poder-se-ia esperar que a composição sexual do par de irmãos afetasse a natureza do relacionamento, mas os achados aqui são frágeis e inconsistentes. Alguns estudos mostram que os pares de irmãos do mesmo sexo se dão
melhor do que pares de sexos diferentes (Dunn e Kendrick, 1979), alguns mostram o oposto (Abramovitch et al., 1986). 
Um fator que afeta confiavelmente o relacionamento dos irmãos é clima emocional da sua família (Brody, 1998; Erel et al., 1998). Os irmãos têm maior probabilidade de brigar quando seus pais não estão se entendendo bem, quando os pais se divorciam e quando padrasto entra na família, sobretudo se um ou ambos os irmãos forem meninos (Hetherington, 1988).
Outro aspecto que certamente afeta os relacionamentos entre irmãos é a eqüidade de tratamento por parte dos pais. Os pais, em geral, não tratam seus filhos de maneira idêntica. Eles fazem acomodações levando em conta a idade, a personalidade, o comportamento e o sexo de cada criança. Muitas crianças entendem as razões por que seus pais as tratam de maneira diferente do que a seus irmãos e acham que esse tratamento é justo (Kowal e Kramer, 1997).
Entretanto, quando as crianças interpretam o comportamento diferencial de seus pais como uma indicação de que um filho está sendo favorecido em detrimento de outro, freqüentemente demonstram um sentimento de antagonismo com relação ao irmão (Boer, 1990; Brody, 1998; Brody et al., 1992).
Diante dos conflitos desenvolvidos entre seus filhos, os pais freqüentemente intervém para tentar resolver suas disputas. Mas muitos estudos descobriram que, quanto mais os pais intervierem nas disputas de seus filhos, maior o número de disputas. O que não está claro é qual a causa e qual o efeito disso. A intervenção dos pais pode aumentar a briga entre irmãos porque as crianças brigam para conseguir a atenção de seus pais e porque a intervenção dos pais priva-os da oportunidade de aprender como resolver seus conflitos. Mas também pode ser que os pais intervenham nas brigas de seus filhos quandoelas se tornam intensas; nesse caso, a conclusão adequada revela que as crianças que têm disputas intensas também têm disputas freqüentes, independentemente das atitudes tomadas por seus pais (Dunn e McGuire, 1992).
Figura
Os relacionamentos entre irmãos são freqüentemente marcados por
ambivalência: amorosos e protetores em um minuto, hostis e agressivos no outro. A
desatenção estudada desses irmãos à aflição de sua irmã sugere que eles podem
ter acabado de fazer algo para irritá-la.
UM ESTUDO INTERCULTURAL DA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR E DO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Um estudo clássico desenvolvido por Beatrice e John Whiting (1975) ilustra muito
bem como as diferenças na vida familiar modela o desenvolvimento das crianças.
Os Whitings organizaram equipes de antropólogos para observar a educação de
crianças em seis comunidades dos Estados Unidos, índia, Quênia e México que
diferiam em termos de complexidade social, atividades econômicas dominantes,
sistemas de crença cultural e arranjos de vida doméstica. Uma comparação de dois
dos três grupos estudados por essas equipes, os gusii de Nyansongo, no Quênia, e
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norte-americanos de uma pequena cidade da Nova Inglaterra, ilustram como as
diferenças nas circunstâncias de vida produzem variações nas atividades econômicas
básicas e na vida familiar e como influenciam na maneira como os pais tratam seus
filhos e no efeito de suas práticas de socialização sobre a personalidade e o desenvolvimento social das crianças.
Na época da realização do trabalho dos Whitings, na década de 1950, os gusii,
que antigamente eram pastores, trabalhavam como agricultores nas montanhas
férteis do Quênia Ocidental. As mulheres, que faziam a maior parte do trabalho da
fazenda, em geral moravam com seus filhos em casas separadas dentro do composto
familiar, longe de seus maridos. Os homens, não mais ativos como pastores de rebanhos, às vezes assumiam trabalhos assalariados, mas também passavam muito tempo discutindo a política local. Os grupos familiares eram, em geral, polígamos, com
várias esposas vivendo em um mesmo composto que continha uma casa para o marido.
A comunidade não tinha ocupações especializadas, tinha poucas edificações, e quase nenhuma diferença em posição social ou riqueza entre seus habitantes.
Como passavam a maior parte das horas do seu dia trabalhando na terra da
família, as mães gusii freqüentemente deixavam seus bebês e filhos pequenos aos
cuidados de irmãos mais velhos e dos membros mais velhos da família. Como é
característica das sociedades agrárias, a mão-de-obra das crianças era valorizada
para a produção de alimento e para o cuidado das crianças menores. Desde os três
ou quatro anos de idade, esperava-se que as crianças gusii começassem a ajudar
suas mães em tarefas domésticas simples. Aos sete anos de idade, suas contribuições
econômicas à família eram indispensáveis.
A cidade de "Orchard Town", na Nova Inglaterra, representava o extremo oposto
em organização e complexidade familiares. A maioria dos homens de Orchard Town
era assalariado e morava com suas esposas e filhos em lares de apenas uma família,
cada uma com seu próprio terreno. Algumas mães tinham empregos de tempo par-
cial, mas a maior parte delas passava seu tempo cuidando dos filhos, dos maridos e
de suas casas. A aldeia tinha muitas construções especializadas (ver a Figura 11.1)
e os cidadãos estavam engajados em uma grande variedade de ocupações especializadas - médico, bombeiro, mecânico de automóveis, professor, bibliotecário, comerciante e muitos outros.
Observou-se que as crianças de Orchard Town passavam mais tempo na companhia de adultos do que as crianças de Nyansongo. Em casa, as crianças de Orchard Town brincavam dentro de casa ou no quintal, ao alcance dos ouvidos de suas mães. Na escola, eram constantemente supervisionadas por seus professores. Em contraste com as crianças gusii, as crianças de Orchard Town raramente eram solicitadas a fazer tarefas domésticas. Em vez de contribuir economicamente para suas famílias, elas representavam uma drenagem nas rendas de suas famílias. (Educar filhos continua a ser uma questão dispendiosa na maior parte das sociedades tecnologicamente complexas.
Foi avaliado que o custo da educação de uma criança em uma família de classe média dos Estados Unidos, do nascimento até os sete anos de idade, é de aproximadamente 157 mil dólares ([Lino, 1999].) Quando os Whitings examinaram os padrões de comportamento das crianças nessas culturas, encontraram diferenças gerais notáveis (ver a Tabela 11.1). As crianças gusii, por exemplo, tinham maior probabilidade de se envolver no que os Whitings chamaram de comportamentos "educacionais-responsáveis", oferecendo ajuda e apoio e fazendo sugestões responsáveis às outras pessoas. Ao mesmo tempo, as crianças gusii também reprimiam e agrediam outras crianças, comportamento cultural que os Whitings caracterizaram como "autoritário-agressivo". As crianças de Orchard Town, por outro lado, foram mais freqüentemente observadas buscando ajuda e atenção ou tentando controlar outras crianças. Os Whitings chamaram essas atitudes de um padrão de comportamento "dependente-dominador". E, em contraste com o padrão autoritário-agressivo dos gusii, as crianças de Orchard Town foram mais freqüentemente observadas envolvendo-se em brincadeiras sociáveis, tocando as outras pessoas e se juntando em grupos de maneira amigável. Esse padrão foi chamado de "sociável-íntimo".
Para explicar o comportamento social das crianças nas duas sociedades, os
diferentes padrões observados pelos Whitings precisam ser relacionados às condições
da vida familiar nas duas sociedades. Os Whitings acreditavam que as crianças
gusii eram mais educadas e responsáveis devido ao papel de cuidador das crianças
que o trabalho de seus pais requeriam que elas assumissem. Essa conclusão tem um apoio considerável: muitos outros pesquisadores relatam que, nas sociedades em que se espera que as crianças contribuam para o bem-estar econômico da família e da comunidade, os adultos as encorajam a desenvolver um senso de eu baseado na interdependência social (Greenfield e Cocking, 1994; Le Vine et al., 1994).
O aspecto autoritário-agressivo do comportamento das crianças gusii também
foi moldado pelas circunstâncias da sua família, assim como do seu papel dentro da
vida familiar. A mortalidade dos bebês era elevada entre os gusii, de modo que, para
satisfazer o objetivo fundamental de sobrevivência dos filhos, os pais exerciam uma
boa parte de autoridade direta sobre eles. Correspondentemente, quando as crianças
gusii mais velhas recebiam a atribuição de cuidar das crianças menores, elas tinham
uma autoridade legítima sobre seus irmãos menores. Recebiam essa autoridade
não para dominar seus irmãos menores, mas para controlá-los, tanto em prol da
sua segurança quanto para lhes ensinar a cumprir as normas culturais (incluindo o
respeito pelos mais velhos). As evidências mostradas por várias sociedades agrícolas
com costumes de criação de filhos similares àqueles dos gusii mostram que, embora
os irmãos mais velhos pudessem bater ou implicar com as crianças que cuidavam,
eles seriam punidos pelos mais velhos caso se excedessem na sua autoridade (Zukow-
Goldring, 1995).
Segundo os Whitings, as crianças das sociedades industrializadas, como aquelas
de Orchard Town, são menos educadas e responsáveis porque suas tarefas estão
446
menos claramente relacionadas ao bem-estar econômico das suas famílias e podem
até mesmo parecer arbitrárias. Além disso, as crianças de Orchard Town passam a
maior parte do seu dia na escola, onde, em vez de ajudar outras crianças, esperava-
se que competissem com elas por boas notas e que fossem estimuladas a pensar em
si enquanto indivíduos, em vez de como membros de um grupo. Assim como as
crianças de outrassociedades complexas, tecnológicas, elas eram encorajadas a de-
senvolver um sentido mais autônomo e individualista do eu (Kagitçibasi, 1997).
O mesmo conjunto de fatores ajuda a explicar por que as crianças de Orchard
Town eram mais sociáveis-íntimas do que as crianças de Nyansongo. As crianças de
Orchard Town moravam em famílias nucleares. O pai comia na mesma mesa que
sua esposa e filhos, dormia com sua esposa, provavelmente estava presente quando
os filhos nasciam, e ajudava a cuidar deles. Essas condições, possibilitadas e até
tornadas necessárias pelas exigências econômicas e pelas tradições culturais da Nova
Inglaterra, ajudavam a criar intimidade dentro da família. Os pais gusii, por outro
lado, caracteristicamente tinham mais de uma esposa. Além disso, os gusii viviam
junto com as famílias extensivas, chefiadas por um avô. A propriedade era da família
enquanto grupo. As crianças pertenciam ao clã de seu pai. Um homem gusii morava
na aldeia em que cresceu, cercado por seus pais, irmãos e outros parentes, enquanto
suas esposas deixavam suas comunidades de nascença quando se casavam. Como indica a Figura 11.2, cada esposa tem sua própria casa. Seu marido podia dormir na mesma casa que ela periodicamente, mas não na mesma cama, e o padrão preferido por ele era dormir e comer em uma casa separada. Segundo os padrões americanos, havia pouca intimidade entre maridos e esposas ou entre pais e filhos, mas um forte valor cultural atribuído à situação de membro do grupo.
Do ponto de vista da classe média americana, esses arranjos podem parecer
estranhos, até mesmo desagradáveis. A maior parte dos americanos acredita ser
imoral um homem ter mais que uma esposa e é improvável que aprovem os filhos
exibirem um comportamento que considerem autoritário e agressivo. Mas os costumes de educação de filhos dos gusii se ajustam às expectativas e à maneira de ser
dos gusii, e por isso, para eles, esses arranjos parecem adequados e desejáveis. Na
verdade, quando se contou a eles sobre as práticas americanas de educação dos
filhos, como permitir que as crianças pequenas chorem sem oferecer alguma forma
de apoio, os pais gusii ficaram chocados (Le Vine et al., 1994).
FIGURA 11.1
A cidade de Orchard Town, na Nova Inglaterra, na década de 1950. Cada casal com filhos morava em sua própria casa. (Extraída de Whiting e Whiting, 1975.)
TABELA 11.1 
PADRÕES DO COMPORTAMENTO SOCIAL QUE DISTINGUEM AS CRIANÇAS GUSII E AS CRIANÇAS DOS ESTADOS UNIDOS
Categoria de comportamento - Educacional-responsável 
Tipos específicos de comportamento - Oferece ajuda /Oferece apoio/Faz sugestões responsáveis 
Grupo cultural - Gusii
Categoria de comportamento - Dependente-dominador 
Tipos específicos de comportamento - Busca ajuda /Busca dominar /Busca atenção 
Grupo cultural - EUA
Categoria de comportamento - Sociável-íntimo 
Tipos específicos de comportamento - Age sociavelmente/Envolve-se em brincadeiras/Toca 
Grupo cultural - EUA
Categoria de comportamento - Autoritário-agressivo 
Tipos específicos de comportamento - Censura/Agride/Insulta 
Grupo cultural - Gusii
 
Fonte: Whiting e Whiting, 1975.
CONFIGURAÇÕES DA FAMÍLIA E PRATICAS DE SOCIALIZAÇÃO NA
AMÉRICA DO NORTE
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos mostraram que, embora as práticas de
criação de filhos variem muito, as dimensões ao longo das quais elas variam, como
quão exigentes são os pais, ou quão calorosos eles são em relação aos filhos, são
bastante restritas. Precisamente quantas dimensões são identificadas e como elas
são melhor definidas são aspectos que diferem um pouco de um pesquisador para
outro. Tendo como base uma revisão extensiva de muitos estudos do comportamento
dos pais, Eleanor Maccoby e John Martin (1983) propuseram um esquema que caracteriza as práticas da paternidade/maternidade ao longo de duas dimensões. A primeira corresponde ao grau em que os pais tentam controlar a maneira como seus filhos se comportam - ou seja, se eles são estritamente controladores, ou permitem uma boa quantidade de autonomia. A segunda dimensão é a quantidade de afeição que os pais exibem com relação aos filhos - ou seja, se eles são complacentes e compreensivos ou não-compreensivos e esquivos. Essas duas dimensões dão origem a quatro possíveis padrões de paternidade/maternidade, como está mostrado na Tabela 11.2
Muitos estudos de socialização familiar têm buscado determinar a importância dos padrões de paternidade/maternidade, como
447
aqueles mostrados na Tabela 11.2, para o desenvolvimento das crianças. Essa pesquisa trata de duas questões fundamentais: Que mistura de controle, autonomia e expressão da afeição contribui mais para o desenvolvimento saudável? Como os padrões de socialização familiar são influenciados pela classe social e pela etnia? Começamos
a examinar essas questões com pesquisas realizadas com a família nuclear de classe
média. Depois, examinamos as práticas de socialização de outros tipos de famílias
freqüentemente encontradas na América do Norte no final do século XX.
Estilos de pais da família nuclear da classe média norte-americana
Em um dos programas de pesquisa mais conhecidos sobre as conseqüências desenvolvimentais dos estilos de paternidade/maternidade, Diana Baumrind (1971, 1980) conseguiu que observadores treinados registrassem o comportamento dos filhos
durante atividades de rotina em uma pré-escola. Os observadores avaliaram o comportamento das crianças em uma escala de 72 itens e correlacionaram essas avaliações para obter sete grupos de pontuações, representando sete dimensões de comportamento na pré-escola* (tais como, hostil vs. amigável, resistente vs. cooperativo, dominador vs. tratável) (Tabela 11.3). O comportamento das crianças poderia, então, estar corelacionado com os estilos de paternidade/maternidade dos pais, como foi medido por observações e entrevistas.
Os pesquisadores entrevistaram os pais de cada criança, tanto separadamente
quanto juntos, sobre suas crenças e práticas de criação de filhos. Depois, visitaram
duas vezes os lares de seus filhos para observar as interações familiares, pouco antes do jantar e até depois de as crianças irem para a cama (Tabela 11.4). Quando as entrevistas e as observações foram pontuadas e analisadas, Baumrind e seus colegas descobriram que os comportamentos dos pais em 77% das suas famílias ajustaram-
se a um dos três padrões seguintes:
*N. de R. No original preschool. No Brasil, a LDB alterou a nomenclatura relacionada ao cuidado e ao ensino de crianças de 0 a 6 anos para educação infantil, com o objetivo, entre outros, de afirmar o caráter educacional dessa fase de ensino. Optou-se por manter as denominações do original que cita e diferencia creches (day-care centers) e pré-escolas.
FIGURA 11.2
Um plano de um composto residencial típico na aldeia de Nyansongo, no Quênia. Cada esposa morava no suo própria casa. As crianças mais velhas também moravam em casas separadas. Um marido podia dormir na casa de uma de suas esposas, mas não compartilhava sua cama com ela. (Extraída de Whiting e Whiting, 1975.)
448
TABELA 11.2 
UMA CLASSIFICAÇÃO BIDIMENSIONAL DE PADRÕES DE PATERNIDADE/MATERNIDADE
Exigente: O pai/mãe espera muito do filho. + Compreensivo: O pai/mãe é complacente e concentrado na criança. = Pai/mãe com autoridade.
O relacionamento é recíproco, com muita comunicação bidirecional.
Exigente: O pai/mãe espera muito do filho. + Não-compreensivo: O pai/mãe rejeita os filhos e é concentrado em si mesmo. = Pai/mãe autoritário/a.
O relacionamento é controlador, determinante do poder e com alta comunicação unidirecional.
 
Não-exigente: O pai/mãe espera pouco do filho. + Compreensivo: O pai/mãe é complacente e concentradona criança. = Pai/mãe indulgente.
O relacionamento é permissivo, com poucas tentativas de controle.
Não-exigente: O pai/mãe espera pouco do filho. + Não-compreensivo: O pai/mãe rejeita os filhos e é concentrado em si mesmo. = Pai/mãe negligente.
O relacionamento é indiferente, sem envolvimento.
Padrão de paternidade/maternidade autoritária: Pais que seguem um padrão de comportamento autoritário tentam moldar, controlar e avaliar o comportamento e as atitudes de seus filhos segundo um conjunto de padrões tradicionais. Eles enfatizam a importância da obediência para a autoridade e desencorajam as trocas verbais entre eles e seus filhos. Defendem medidas punitivas para reprimir a teimosia de seus filhos - sempre que o comportamento de seus filhos entra em conflito com o que eles acreditam ser o certo.
Padrão de paternidade/maternidade com autoridade: Pais que demonstram um padrão de autoridade admitem tacitamente que, embora eles tenham mais conhecimento e habilidades, controlem mais recursos e tenham mais força física do que seus filhos, as crianças também têm direitos. Os pais com autoridade têm menor probabilidade que os pais autoritários de usar a punição física e maior probabilidade de enfatizar a obediência à autoridade como uma virtude em si. Em vez disso, esses pais tentam controlar seus filhos explicando suas regras ou decisões e raciocinando junto com eles. Estão
dispostos a considerar o ponto de vista da criança, mesmo que eles nem sempre
o aceitem. Os pais autoritários estabelecem padrões elevados para o comportamento dos seus filhos e encorajam seus filhos a serem independentes.
Conceitos
Padrão de paternidade/maternidade autoritário: Um padrão de paternidade/
maternidade em que os pais tentam moldar, controlar e avaliar o comportamento e as atitudes de seus filhos de acordo com um padrão estabelecido. Enfatizam a importância
da obediência à autoridade e defendem medidas punitivas para provocar a obediência de seus filhos.
Padrão de paternidade/maternidade com autoridade: Um padrão de paternidade/maternidade em que oi admitem tacitamente que os filhos também têm direitos. Eles tentam controlar seus filhos explicando-lhes regras ou decisões e raciocinando junto com a criança. Estão dispostos a considerar o ponto de vista da criança mesmo que nem sempre o aceitem. Estabelecem padrões elevados para comportamento de seus filhos.
TABELA 11.3 
ITENS DE AMOSTRA DA ESCALA DE AVALIAÇÃO DE BAUMRIND PARA O COMPORTAMENTO NA PRÉ-ESCOLA
Itens reunidos em grupos estatisticamente relacionados. Fonte: Baumrínd, 1971.
Hostil-amigável – Egoísta / Compreende a posição das outras crianças na interação
 
Resistente-cooperativa – Impetuosa e impulsiva / Pode-se confiar nela
Dominadora-tratável – Manipula as outras crianças para melhorar a própria posição / Tímida com as outras crianças
Dominante-submissa – Líder dos pares / Sugestionável
Intencional-sem objetivo – Confiante / Espectadora
Orientada para a realização não-orientada – Dá o máximo na brincadeira e no trabalho / Não persevera quando encontra a frustração para a realização
Independente-sugestionável – Individualista / Estereotipada no pensamento
449
TABELA 11.4 
ITENS DA AMOSTRA NA ESCALA DE BAUMRIND SOBRE O
COMPORTAMENTO DOS PAIS
Determinam tarefas regulares
Exigem que a criança guarde os brinquedos
Proporcionam um ambiente intelectualmente estimulante
Determinam padrões de excelência
Restringem muito os horários de TV
Fixam a hora de dormir
A mãe tem vida independente
Encorajam o contato com outros adultos
Exigem um comportamento maduro à mesa
Esclarecem os ideais para a criança
Possuem pontos de vista estáveis e firmes
Não podem ser coagidos pela criança
Usam sanções negativas quando desafiados
Forçam o confronto quando a criança desobedece
As necessidades dos pais têm precedência
Encaram a si mesmos como pessoas competentes
Encorajam a ação independente
Solicitam as opiniões da criança
Dão razões com diretrizes
Encorajam a troca verbal
Inibem o aborrecimento ou a impaciência quando a criança está ociosa ou incomodando
Tornam-se inacessíveis quando contrariados
Carecem de um entendimento empático
Itens observados nas interações domésticas. Fonte: Baumrind, 1971.
Padrão de paternidade/maternidade permissivo: Os pais que exibem um padrão permissivo exercem um controle menos explícito sobre o comportamento de seus filhos do que os pais autoritários e com autoridade, ou porque acreditam que as crianças devem aprender como se comportar através da sua própria experiência, ou porque não se dão ao trabalho de proporcionar disciplina. Dão a seus filhos muito espaço para determinarem seus próprios horários e atividades e freqüentemente os consultam sobre as políticas familiares. Não exigem os mesmos níveis de realização e comportamento maduro exigidos pelos pais autoritários e com autoridade.
Baumrind descobriu que, na média, cada estilo de paternidade/maternidade
estava associado a um padrão diferente de comportamento das crianças na escola:
Os filhos de pais autoritários tendiam a carecer de competência social ao lidar
com outras crianças. Eles, freqüentemente, afastavam-se do contato social e raramente tomavam iniciativa. Em situações de conflito moral, tendiam a buscar a autoridade externa para decidir quem estava certo. Essas crianças eram freqüentemente caracterizadas como carentes de espontaneidade e de curiosidade intelectual.
Os filhos de pais com autoridade pareciam mais autoconfiantes, demonstravam
autocontrole e desejo de explorar o ambiente e as possibilidades, e também se
mostravam mais contentes do que aquelas criadas por pais permissivos ou
autoritários. Baumrind acredita que essa diferença é um resultado do fato de
que, embora os pais com autoridade estabeleçam padrões elevados para seus
filhos, eles lhes explicam por que estão sendo recompensados e punidos. Essas
explicações melhoram o entendimento e a aceitação das regras sociais por
parte das crianças.
Os filhos de pais permissivos tendiam a ser relativamente imaturos; tinham
dificuldade para controlar seus impulsos, para aceitar a responsabilidade pelas ações sociais e para agir independentemente.
450
Baumrind também relatou diferenças na maneira como as meninas e os meninos reagiam aos principais padrões de paternidade/maternidade. Os filhos de pais autoritários, por exemplo, pareciam mostrar dificuldades mais pronunciadas do que as filhas com as relações sociais. Eles, também, tinham maior probabilidade do que os outros meninos de mostrar raiva e desafio para com as pessoas que exerciam autoridade. 
As filhas de pais com autoridade tinham mais probabilidade de ser independentes do que seus irmãos, embora os meninos tivessem maior probabilidade de ser
socialmente responsáveis do que as meninas. Pesquisas conduzidas nos anos posteriores às primeiras publicações de Baumrind apoiaram, em geral, suas observações e as
estenderam a crianças mais velhas (Bornstein et al., 1996). Por exemplo, Sanford Dornbusch e seus colegas descobriram que a paternidade/maternidade com autoridade está associada a melhor desempenho escolar e a melhor ajustamento social do que a paternidade/maternidade autoritária entre alunos do ensino médio, assim como ocorre entre alunos da educação infantil (Dornbusch et al., 1987; Herman et al., 1997).
Apesar da consistência desses achados, a conclusão de que a paternidade/maternidade com autoridade conduz a uma maior competência intelectual e social deve ser qualificada de duas maneiras importantes. Em primeiro lugar, é importante lembrar que a estratégia básica para relacionar os comportamentos dos pais com os comportamentos dos filhos usados nessa linha de pesquisa baseia-se em dados correlacionados. 
Conseqüentemente, pode não haver certeza de que as diferenças nos estilos de paternidade/maternidadecausassem diferenças no comportamento dos filhos (discutimos esse problema no Capítulo 1). Avshalom Caspi (1998) resumiu
várias pesquisas sugerindo que é tão provável que o estilo de paternidade/maternidade seja influenciado pelas características da criança quanto é provável que a criança
seja moldada por um estilo particular de paternidade/maternidade. Uma criança
particularmente ativa e facilmente frustrada, por exemplo, pode suscitar uma paternidade/maternidade autoritária, enquanto que os mesmos pais de uma criança dócil ou tímida podem adotar um estilo com autoridade.
Apoiando esse ponto de vista, uma pesquisa sobre as personalidades de crianças
biologicamente não-aparentadas vivendo no mesmo lar mostrou que as crianças
podem ser totalmente diferentes umas das outras, mesmo sendo criadas pelos
mesmos pais (Plomin e Bergeman, 1991). Esses achados implicam uma de duas
conseqüências: os padrões de cuidado não têm muito efeito sobre o comportamento
de uma criança, ou os padrões de cuidado dos pais variam de uma criança para
outra. Qualquer uma das conclusões derruba a idéia de que os estilos de socialização
dos pais são as causas das variações no desenvolvimento das crianças (Harris, 1998).
Baumrind está bem consciente dessas dificuldades. Ela concorda que os temperamentos das crianças influenciam os estilos de paternidade/maternidade, mas está
convencida de que a sua evidência mostra claramente que os estilos de paternidade/
maternidade têm um impacto importante sobre as personalidades das crianças e
seu desempenho posterior na escola (Baumrind, 1991a). Os pesquisadores estão,
atualmente, usando várias estratégias para isolar os efeitos dos estilos de paternidade/
maternidade sobre os padrões de desenvolvimento infantil (Collins et al., 2000).
A segunda razão para qualificar as conclusões do programa de pesquisa de
Baumrind é que suas famílias não eram representativas das famílias norte-americanas como um todo: elas eram, em geral, suburbanas, brancas, em grande parte de classe média, e famílias com pai e mãe presentes. Para conseguirmos obter um amplo entendimento da família, como um contexto de desenvolvimento, temos que considerar como várias configurações familiares, em combinação com a experiência educacional, as circunstâncias econômicas, a origem étnica e a herança cultural influenciam a socialização.
451
A própria Baumrind foi a primeira a levantar essa preocupação. Ela relatou que
o esperado relacionamento entre a paternidade/maternidade autoritária e o desenvol-
vimento da personalidade não foi encontrado entre um grupo de 16 crianças afro-
americanas e suas famílias, em sua amostra. Ela comentou que as filhas afro-ameri-
canas de pais autoritários, por ela observadas, tomavam iniciativa e se comporta-
vam positivamente no playground, mas podiam ser autocontroladas, polidas e
quietas em uma reunião na igreja. Pesquisa mais recente descobriu que os adolescentes
afro-americanos cujos pais adotavam um estilo autoritário tinham maior probabilidade de conseguir sucesso na escola do que os alunos cujos pais adotavam um
estilo com autoridade (Lamborn et al., 1996).
Outras replicações do trabalho de Baumrind levantaram a mesma questão. Da
mesma forma que Baumrind, Sanford Dornbusch e seus colegas descobriram que a
paternidade/maternidade com autoridade estava associada a melhor desempenho
na escola entre as crianças euro-americanas (Dornbush et al., 1987). Entretanto,
Dornbusch e seus colegas também descobriram que alunos asio-americanos, cujos
pais tiveram os escores mais elevados com relação às práticas de paternidade/ma-
ternidade autoritárias, foram o grupo de melhor desempenho na escola. O nível das
práticas de paternidade/maternidade autoritária não predizem o desempenho escolar
desses alunos, como o fez para os alunos brancos e latinos.
Em um estudo de acompanhamento, comparando famílias chino-americanas e
euro-americanas e seus filhos, os pesquisadores encontraram um obstáculo importante, quando tentaram utilizar categorias como "autoritário" e "com autoridade"
a dois grupos com línguas e origens culturais diferentes: essas palavras não têm os
mesmos significados para os dois grupos (Chão, 1994). Ao descrever esse estudo,
Ruth Chão escreveu que a palavra inglesa "authoritarian" (autoritário) carrega consigo muitas conotações negativas - tais como hostilidade, agressividade, desconfiança,
dominação - que não são aplicáveis aos métodos essenciais de socialização da família
chinesa. Embora seja verdade que os chineses dão muito valor à obediência e ao
controle dos pais, o padrão de socialização preferido dos chineses está mais próximo
ao conceito americano de "treinamento". Chão afirma que os pais chineses exercem
controle sobre seus filhos e exigem sua obediência "no contexto de um relacionamento mãe-filho protetor, altamente envolvido e fisicamente próximo" (p. 112).
Chão (1996) testou sua idéia de que as categorias de paternidade/maternidade
de Baumrind não se aplicam bem aos padrões de paternidade/maternidade chineses,
administrando um questionário a 50 mães chino-americanas e 50 mães euro-americanas. O questionário incluía itens padronizados, como aqueles usados por Baumrind (Tabela 11.4), mais um conjunto de perguntas relacionadas especificamente aos conceitos chineses de treinamento das crianças pequenas para a vida (as mães foram solicitadas, por exemplo, a indicar seu nível de concordância com a afirmação "as mães devem treinar seus filhos para trabalharem muito e serem disciplinados").
Como outras antes dela, Chão descobriu que as mães chino-americanas conseguiram
uma pontuação mais elevada nas medidas padronizadas de controle e autoritarismo.
Mas, mesmo depois de ela ter controlado suas pontuações no controle e no autoritarismo, as mães chino-americanas distinguiram-se das mães euro-americanas na
avaliação do treinamento, indicando que estava em jogo um padrão de maternidade
culturalmente distinto. Se pensarmos na comparação intercultural realizada com os gusii de Nyansongo e os norte-americanos de Orchard Town, os achados de Chão não devem surpreender. Afinal, os Whitings demonstraram, muitos anos atrás, que o uso de um termo como "autoritário" para descrever as práticas dos pais tem de ser considerado à luz das categorias e das práticas culturais locais. O que o trabalho mais recente sobre os
estilos de paternidade/maternidade e o desenvolvimento da personalidade nos Esta-
dos Unidos mostrou é que essa lição pode ser igualmente aplicada ao estudo de
grupos étnicos diferentes, em uma sociedade heterogênea (Parke e Buriel, 1998).
452
Padrões de socialização em famílias de pai/mãe solteiro
Em 1998, aproximadamente 28% das crianças norte-americanas estavam vivendo em famílias apenas com a presença da mãe ou do pai, quase sempre com suas mães (U.S. Bureau of the Census, 1998). Entre as famílias afro-americanas, a percentagem foi superior a 60%. Quais são as conseqüências de se crescer apenas com o pai ou apenas com a mãe, especialmente quando esse é jovem e solteiro?
Mães jovens não-casadas e seus filhos Muitas mulheres solteiras que estão criando filhos são, ainda, adolescentes. Como indica a Figura 11.3, o número de nascimentos entre adolescentes não-casadas aumentou rapidamente durante as décadas de
1970 e 1980. Apesar de um declínio nos nascimentos de mães adolescentes não-
casadas, na década de 1990, o número de mães solteiras adolescentes nos Estados
Unidos permanece alto. Essa situação é bastante preocupante, porque a pesquisa
tem mostrado que os filhos de mães solteiras adolescentes apresentam uma des-
vantagem desenvolvimental. Foi descoberto que os filhos pré-escolares de mães
solteiras adolescentes são mais agressivos, têm menos autocontrole e apresentam
um desenvolvimento cognitivo menos avançado que os filhos de mães mais velhas
casadas(Coley e Chase-Lansdale, 1998; Dunn et al., 1998).
Frank Furstenberg e seus colegas (1992) acreditam que três fatores contribuam
para o efeito desenvolvimental negativo de ser criado por uma mulher jovem não-
casada:
1. As mães jovens são, freqüentemente, mais despreparadas para criar filhos e
têm pouco interesse em fazê-lo. Em conseqüência disso, tendem a conversar
menos com seus bebês do que as mães mais velhas. A falta de comunicação
verbal parece conduzir, por sua vez, a habilidade cognitiva menor durante o
período de educação infantil e de ensino fundamental.
2. As mães jovens, especialmente aquelas sem maridos, têm probabilidade de dispor de recursos financeiros muito limitados. Em vista disso, é provável que tenham uma educação deficiente, vivam em bairros pobres, tenham acesso a serviços de saúde deficientes para elas próprias e para seus filhos, e sejam socialmente isoladas. Tem-se mostrado difícil especificar quanto cada um desses fatores contribui para os problemas de desenvolvimento de crianças criadas por mães solteiras jovens, porque os fatores estão intimamente interligados (Duncan e Brooks-Gunn, 1997). Voltaremos ao tópico das mães solteiras jovens quando explorarmos como a pobreza e o preconceito racial moldam as configurações familiares e as práticas de socialização.
As conseqüências do divórcio Aproximadamente metade de todos os casamentos nos
Estados Unidos terminam em divórcio e tem sido estimado que cerca de 30% de
todos os filhos nascidos de pais casados verão seus pais se divorciarem em algum
momento, antes de atingirem 18 anos de idade (Furstenberg e Cherlin, 1991).
Embora o índice de divórcio nos Estados Unidos seja de longe o mais elevado do
mundo, esse índice está aumentando rapidamente no Canadá e na Europa.
As crianças cujos pais se divorciaram têm uma probabilidade duas vezes maior do que as crianças cujos pais ainda estão juntos de ter problemas na escola, de ter um temperamento explosivo, de serem deprimidas e infelizes, de ter menos auto-estima e de serem menos responsáveis e competentes socialmente (Amato e Keith, 1991; Hetherington et al., 1998). Finalmente, a maioria das crianças cujos pais se divorciam consegue de algum modo ajustar-se à situação e se tornar indivíduos competentes e que apresentam um comportamento normal (Emery e Forehand, 1994). A curto prazo, no entanto, o rompimento de uma família é perturbador para todos os envolvidos. Em geral, imediatamente depois de um divórcio há uma deterioração nos papéis de pai/mãe. Mavis Hetherington e seus colegas descobriram que,
453
após um divórcio, as mães tendem a fazer poucas exigências a seus filhos e a se
comunicar com eles de maneira menos eficiente do que as outras mães. Sua disciplina
torna-se errática, e elas são ríspidas. É, também, menos provável que expliquem
suas ações ou raciocinem junto com seus filhos (Hetherington et al, 1982).
O divórcio conduz a várias outras mudanças nas experiências de vida das crianças que podem vir a prejudicar seu desenvolvimento. Muitos dos problemas associados
ao divórcio são do mesmo tipo que aqueles enfrentados por mulheres não-casadas.
Em primeiro lugar, segundo um estudo realizado pelo U.S. Bureau of the Census
(1991), a renda média das famílias de um só pai/mãe criadas pelo divórcio ou pela
separação cai 37% nos quatro primeiros meses após o rompimento. Somente 73%
dos pais detentores da custódia dos filhos, que têm direito a uma pensão para os
filhos, recebem algum dinheiro de seus ex-cônjuges e a maioria recebe apenas uma
parte do que lhes é devido (U.S. Bureau of the Census, 1999). Em conseqüência
disso, cerca de 30% de todos os pais detentores da custódia dos filhos se vêem vivendo
abaixo da linha de pobreza. (Em 1999, o Census Bureau definiu uma família de
quatro membros como pobre, se sua renda anual for inferior a 15.150 dólares).
Essas alterações no status econômico freqüentemente significam que, depois que
seus pais se divorciam, as crianças têm de se afastar dos seus amigos e vizinhos e se
mudar para bairros mais pobres, freqüentando escolas diferentes e creches mais
pobres. É difícil para as crianças lidar com essas mudanças. Segundo Mavis Hetherington e seus colegas, mesmo quando o status econômico não é alterado pelo divórcio, as conseqüências negativas do divórcio sempre permanecem (Hetherington et al., 1998).
Em segundo lugar, os pais que criam filhos sozinhos tentam tomar para si todas
as responsabilidades, o que, em geral, é uma tarefa que cabe a dois adultos realizar.
Tanto os pais quanto as mães que têm a custódia única de seus filhos se queixam de
que são sobrecarregados pela necessidade de lidar sozinhos com o cuidado da criança
e as responsabilidades domésticas e financeiras (Hetherington e Stanley-Hagen,
1987). O divórcio, a separação e a viuvez obrigam muitas mães a entrar na força de
trabalho ao mesmo tempo em que elas e seus filhos estão se adaptando a uma nova
configuração familiar. Setenta e oito por cento das mães divorciadas fazem parte da
força de trabalho; a maioria delas trabalha em tempo integral (U.S. Bureau of the
Census, 1995). Devido às muitas demandas ao tempo de suas mães, os filhos do
divórcio não somente recebem menos orientação e assistência, mas tendem a desperdiçar oportunidades importantes de estimulação social e intelectual (Hethering-
ton et al., 1999).
Em terceiro lugar, os pais que detêm a custódia dos filhos são, em geral,
socialmente isolados e solitários (Hetherington et al., 1982). Eles não têm ninguém
para apoiá-los quando as crianças questionam sua autoridade e ninguém age como
ponte entre eles e seus filhos quando não estão agindo bem enquanto pais. A tarefa
da maternidade/paternidade é ainda mais difícil para uma mãe que detém a custódia
dos filhos quando o pai só vê seus filhos ocasionalmente e, nessas ocasiões, é
indulgente e permissivo.
Embora intuitivamente faça sentido que as perdas associadas com o rompimento
de uma família sejam as causas dos vários problemas comportamentais e sociais
experimentados pelos filhos do divórcio, vários estudos que coletaram dados sobre
as crianças antes de seus pais se divorciarem questionam essa idéia. Observando
que o divórcio é uma conseqüência da desarmonia na família, vários pesquisadores
têm sugerido que é o conflito entre os pais, e não o divórcio em si, que constitui o
maior risco para as crianças (Block et al., 1986).
Essa conclusão é confirmada por dois grandes estudos longitudinais de crianças
que moram em famílias intactas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos (Cherlin et
ai., 1991). Todos os pais foram entrevistados sobre o comportamento de seus filhos
quando esses tinham sete anos de idade e, novamente, quando estavam com 11
anos de idade. As crianças cujos pais se divorciaram ou se separaram entre as duas
entrevistas foram comparadas com as crianças cujas famílias, que permaneceram
454
intactas. De acordo com a pesquisa anterior, ambos os estudos descobriram que as crianças cujos pais se divorciaram entre as duas entrevistas tinham mais problemas
de comportamento do que as crianças cujas famílias permaneceram intactas. Entretanto, quando os pesquisadores examinaram os relatos sobre as mesmas crianças, quando elas tinham sete anos de idade e suas famílias ainda estavam intactas, descobriram que muitas das crianças, cujos pais mais tarde se separaram, já estavam exibindo muitos problemas de comportamento, incluindo acessos de raiva, pesadelos, resistência a ir para a escola, desobediência em casa e brigas com outras crianças.
Esses são os tipos de comportamento que tendem a acompanhar o conflito dos pais
e que, também, podem contribuir para agravá-lo(Grych e Fincham, 1997). Como a harmonia e a estabilidade familiar são fundamentais para a sensação de segurança e de bem-estar das crianças, não deve surpreender que oconflito dos pais deva ser ameaçador e perturbador para a maioria das crianças. Além disso, há uma grande diversidade na maneira como as crianças reagem ao conflito entre seus pais e ao subseqüente divórcio, embora tenham emergido alguns padrões gerais.
Para começar, os meninos, que tendem a ser mais ativos, mais positivos e menos
dóceis do que as meninas, freqüentemente reagem ao tumulto e ao estresse do
divórcio tornando-se rebeldes e zangados. Eles exibem um índice mais elevado de
desordens do comportamento e problemas em suas relações sociais do que as
meninas cujas famílias passaram por um divórcio ou que moram com ambos os pais. Às
vezes, as meninas reagem ao divórcio de seus pais com autocrítica, retraimento e
choro, mas é mais comum as meninas se tornarem mais exigentes e buscarem
chamar a atenção (Hetherington et al., 1998).
As crianças temperamentalmente difíceis correm um risco especial quando seus
pais estão em conflito ou se divorciam. Elas têm maior probabilidade de se tornar
alvos da raiva e da crítica de seus pais do que as crianças que são mais dóceis e têm
de enfrentar um período difícil quando isso acontece.
Os achados sobre os efeitos da idade sobre a capacidade das crianças de enfrentar
o divórcio são contraditórios. Embora alguns estudos tenham descoberto que as
crianças pequenas correm um risco maior de enfrentar problemas de longo prazo
no desenvolvimento social e emocional após o rompimento do casamento de seus
pais do que as crianças maiores, outros estudos não têm encontrado esses efeitos
(Amato e Keith, 1991; Zill, 1994). Dois ou três anos após o divórcio, a maioria das
crianças e seus pais fizeram adaptações à nova situação. No entanto, alguns problemas permanecem. Freqüentemente, as mães divorciadas e seus filhos continuam a
experimentar intercâmbios coercitivos e conflitos com relação ao controle.
O fator isolado mais importante no ajustamento de uma criança após um divórcio
é até que ponto o pai/mãe detentor da custódia lida com o estresse do divórcio,
protege a criança de conflitos familiares e proporciona à criança uma paternidade/
maternidade protetora. As crianças parecem ficar melhor quando seus pais põem
de lado seus desacordos e apoiam um ao outro em seus papéis de pais. Avós, tias,
tios e amigos carinhosos podem minorar a dor do rompimento conjugal e reduzir o
estresse das crianças.
Hoje, no entanto, em muitas famílias, o equilíbrio estabelecido após um divórcio
não dura muito. Aproximadamente dois terços dos pais divorciados tornam a se
casar nos cinco anos que se seguem ao divórcio, o que requer que seus filhos enfrentem outra importante mudança em sua vida familiar, escolar e no grupo de amigos.
Vários estudos indicaram que os primeiros estágios do novo casamento são estressantes para todos, incluindo os pais, enquanto os membros da família reconstituída fazem as acomodações e os ajustamentos necessários para viverem na mesma casa (Forgatch e Paterson, 1998). Alguns membros da família, especialmente meninos pequenos em lares chefiados pelas mães, parecem beneficiar-se da presença de um padrasto em casa. Outros, especialmente meninas adolescentes, têm maior probabilidade de sofrer com a nova configuração familiar, encarando seus padrastos como intrusos que ameaçam seu relacionamento próximo com suas mães. Freqüentemente reagem ao novo casamento de suas mães, ignorando seu padrasto e sendo
455
mal-humoradas, resistentes e críticas (Hetherington, 1989; Hetherington e Clingem-
peel, 1992).
O ajustamento a longo prazo das crianças com as novas configurações familiares
parece ser determinado por vários fatores, incluindo sexo e idade quando o pai/mãe
torna a se casar, e a duração do novo casamento (Chase-Lansdale e Hetherington,
1990). A paternidade/maternidade com autoridade, que combina calor, apoio e envolvimento do pai/mãe com os filhos, e a monitoração de suas atividades parecem ser a chave para o ajustamento das crianças nas novas famílias criadas pelo novo casamento de seus pais (Hetherington e Clingempeel, 1992).
FIGURA 11.3
O número de crianças filhas de mães solteiras adolescentes nos Estados Unidos, 1960-1995. (U.S. Bureau odke Census, 1995e 1998).
O impacto da pobreza na criação dos filhos
A pobreza toca todos os aspectos da vida familiar: a qualidade do alojamento e do
cuidado à saúde, o acesso à educação e aos locais de recreação, e até a própria
segurança, quando se anda pela rua (Duncan e Brooks-Gunn, 1997; McLoyd, 1998a,
1998b). A pobreza também parece afetar a abordagem dos pais à criação dos filhos.
Estudos realizados em muitas partes do mundo descobriram que, nas famílias que
vivem próximo ao nível de subsistência, é provável que os pais adotem práticas de
criação dos filhos que sejam tão controladoras quanto o padrão autoritário descrito
por Baumrind. Segundo Robert Le Vine (1974), os pais que sabem o que significa
ganhar a vida "enxergam a obediência como o meio pelo qual seus filhos serão
capazes de abrir seu caminho no mundo e se estabelecer economicamente ao se
tornarem adultos, quando precisar ser assentada a base para a segurança econômica
de suas famílias nascentes" (p. 63).
Ênfase na obediência é também freqüentemente encontrada em famílias pobres
nos Estados Unidos, em parte devido à base econômica citada por Le Vine. Além
disso, alguns pesquisadores sugeriram que as mães das minorias pobres dos Estados
Unidos exigem obediência inquestionável e desencorajam a curiosidade de seus
filhos devido às perigosas circunstâncias da sua vida diária tornar a independência
por parte de seus filhos arriscada demais (McLoyd, 1998b).
Outra maneira importante como a pobreza influencia a paternidade/maternidade
é aumentando o nível de estresse dos pais. Os pais que estão sob estresse são menos
protetores, têm maior probabilidade de recorrer à punição física e são menos con-
sistentes quando interagem com seus filhos (ver a Figura 11.4 e a discussão sobre
abuso infantil no Destaque 11.2). Esse relacionamento entre o estresse e a paterni-
dade/maternidade autoritária foi observado por Forgatch e Wieder (resumido em
Patterson, 1982), que estudaram as interações entre mães e filhos em casa durante
vários dias. Os pesquisadores obtiveram relatos diários das mães sobre acontecimentos muito estressantes, tais como contas altas, doença na família e brigas com seus
maridos. A irritabilidade da mãe, em geral, aumentava quando os fatores externos ao
seu relacionamento com seus filhos estavam indo mal e, nessas ocasiões, aumentava
a probabilidade de punição ou repreensão a seus filhos e de recusar suas solicitações.
Os tipos de estresse documentados por Forgatch e Wieder não são de modo
algum restritos às famílias que vivem na pobreza, mas a pobreza torna essas fontes
universais de estresse mais sérias porque aumentam a probabilidade da família
ficar simultaneamente sob pressão de várias dessas fontes (Sameroff et al., 1998).
A pobreza também reduz a probabilidade da família vir a ter os meios para lidar
com estresses múltiplos.
Embora estresses múltiplos e recursos escassos ofereçam uma explicação para
os estilos de paternidade/maternidade orientados para a obediência, esses não são
os únicos fatores. Vários estudos mostraram que o tipo de trabalho dos pais está
diretamente relacionado ao seu estilo de interação com seus filhos em casa (Crouter,
1994; Greenberger et al., 1994; Kohn, 1977). As ocupações da classe média requerem
a capacidade para trabalhar sem supervisão de perto. O conteúdo desse trabalho é
freqüentemente complexo e o fluxo de trabalho é irregular; por isso, os trabalhadores
devem ser autodirecionados. Nas novas formas de grupo de trabalho cooperativo,
que estão se tornando disseminadas na indústria americana, o trabalho não deve
ser apenas autodirecionado, mastambém socialmente cooperativo e democrático.
As ocupações tradicionais da classe trabalhadora, em contraste, exigem obediência
e pontualidade. O fluxo de trabalho é, em geral, tão rotineiro que um robô pode
realizá-lo - e cada vez mais o faz - de maneira tão eficiente quanto um ser humano
(os empregos de linha de montagem são um exemplo clássico). A incidência elevada
de estilos de paternidade/maternidade autoritária entre as pessoas economicamente
desfavorecidas é perfeitamente compreensível à luz dos fatos combinados de que as
ocupações da classe trabalhadora requerem obediência diante do trabalho de rotina
e de que a pobreza cria circunstâncias familiares estressantes (Silverstein e Krate,
1975). Ao mesmo tempo, os efeitos das ocupações da classe trabalhadora tradicional
sobre a socialização familiar criam obstáculos adicionais - falta de iniciativa e de
independência - que as crianças pobres têm de superar se quiserem melhorar sua
situação socio-econômica. Robert Halpern (1990) chama atenção para o problema
quando observa que o tipo de educação dos filhos que os psicólogos de classe média
recomendam, que envolve discussão e raciocínio junto com as crianças, pode não
ser apropriado para as circunstâncias de vida real das pessoas pobres.
456
DESTAQUE 11.2 
 
MAUS-TRATOS A CRIANÇA NOS ESTADOS UNIDOS
Nas últimas décadas, o público tornou-se cada vez mais consciente de que muitas crianças nos Estados Unidos são maltratadas por seus pais, por outros parentes ou por conhecidos da família. É raro o dia em que a mídia não relate uma história sobre uma criança que foi negligenciada, maltratada ou até assassinada por um pai/mãe ou outro parente. Entre 1990 e 1993, o índice de maus-tratos aumentou de 13,4 para 15,3 para cada 1.000 crianças, mas caiu nos últimos anos para aproximadamente o índice de 1990 (National Child Abuse and Neglect Data System, 1999). Apesar dessa melhora recente, é evidente que os maus-tratos à criança persiste como um problema sério nos Estados Unidos. As histórias da mídia podem levar-nos a acreditar que a violência dos adultos contra as crianças é um problema novo. Mas o infanticídio era praticado rotineiramente nas antigas Grécia, Roma, Arábia e China. Na primeira parte do século XX, as crianças eram, via de regra, espancadas nas escolas, e muitas eram obrigadas a realizar durante longas horas tarefas extenuantes sob as piores condições possíveis (Zigler e Hall, 1989). 
Embora vários movimentos para proteger os direitos das crianças tenham sido iniciados nas décadas de 1910 e 1920, só no final da década de 1960 todos os 50 Estados passaram a ter leis obrigando a denúncia de suspeitas de maus-tratos às crianças. Em 1974, diante da preocupação pública e da necessidade de providenciar padrões uniformes para propósitos legais, o Congresso aprovou o Ato de Prevenção do Abuso Infantil, que define o mau tratamento infantil como dano físico ou mental, abuso sexual, tratamento negligente ou mau tratamento de qualquer criança menor de 1 8 anos de idade por uma pessoa responsável pelo bem-estar da criança sob circunstâncias que indiquem que, em conseqüência disso, a saúde ou o bem-estar da criança está sendo prejudicado ou ameaçado. (Lei Pública 93024, parte 2).
Mais da metade de todos os casos relatados de abuso infantil são por negligência do bem-estar físico da criança, que inclui provisão inadequada de alimento e vestuário, assim como ausência de supervisão. O abuso físico, como espancar, queimar, chutar ou atingir uma criança com um objeto, é responsável por cerca de um quarto dos casos relatados, enquanto o abuso sexual é responsável por 13% dos casos. Maus-tratos emocionais, foram relatados, em 5% dos casos, e negligência médica (deixar de levar ao médico uma criança doente ou machucada) foram relatados em 3% dos casos (NCCAN, 1997). Freqüentemente, as crianças que são expostas a um tipo de abuso são, também, expostas a outros (Barth, 1998).
Com exceção de mau-trato extremo e de abuso sexual, os julgamentos sobre a aplicabilidade dessas categorias podem ser difíceis, porque o que é julgado tratamento adequado e inadequado às crianças, incluindo a freqüência e a gravidade da punição física, varia muito de uma família e comunidade para outra (Holden e Zambarano, 1992). Segundo várias pesquisas, por exemplo, mais de 90% de todos os pais nos Estados Unidos já espancaram seus filhos. Em algumas famílias e em algumas comunidades, o espancamento é considerado adequado, e até esperado, quando uma criança se comporta mal. Em outras famílias e comunidades, o espancamento é considerado como abuso, não importa qual seja a provocação.
Evidentemente, os limites entre o castigo físico culturalmente aceitável e o castigo físico que é definido como maus-tratos dependem muito das crenças dos pais sobre os filhos e dos modos de interação sancionados nas famílias e nas comunidades das crianças. Independente de quão ampla ou restritamente os maus-tratos à criança são definidos, muitos casos de negligência, brutalidade e abuso sexual nunca foram relatados e permanecem não detectados pelas pessoas estranhas à família. Muitos especialistas consideram os casos oficialmente relatados de abuso e negligência como apenas a ponte do iceberg. A única certeza é que a cada ano grande número de
crianças sofrem abuso ou negligência (Finkelhor e Dziuba-Leottaman, 1995).
Quem corre o risco de ser maltratado?
Qualquer criança pode ser negligenciada ou sofrer abuso, mas algumas crianças parecem correr um risco maior que outras. A idade é um fator: as crianças de sete anos de idade e menos que isso representam metade dos casos de maus-tratos infantis. Das crianças que morreram em conseqüência de abuso em 1995, nos Estados Unidos, 77 tinham menos de três anos de idade, e quase a metade tinha menos de um ano. O sexo é um segundo fator: os meninos têm muito maior probabilidade que as meninas de serem alvos de abuso físico, enquanto as meninas têm o dobro da probabilidade dos meninos de serem vítimas de abuso sexual. A raça é um terceiro fator: em 55% dos casos de maus-tratos infantis relatados em 1997, as crianças eram brancas; em 27%, eram afro-americanas; em 10%, hispânicos e em 2%, nativas americanas (NCCAN, 1999). A classe socioeconcmica é um quarto fator: as crianças que vivem na pobreza têm uma
probabilidade maior de sofrer abuso que aquelas de classe média (Barnett et al., 1993; Barth, 1998; Wilson e Soft, 1993).
Quem pratica o abuso?
O risco de abusar fisicamente dos filhos é inerente a todos os pais. em parte porque há momentos em que os pais acham que têm que coagir seus filhos a cumprir os seus desejos. Não obstante, a #meio-parte dos pais não abusa de seus filhos. Os fatores que levam a reduzir a probabilidade de maus-tratos infantis são a capacidade do adulto
para controlar a sua raiva, as sanções da comunidade contra o abuso e a disponibilidade de apoio externo para a família.
Em geral, acredita-se que os pais que sofreram abuso físico de seus próprios pais tenham maior probabilidade de abusar de seus próprios filhos do que os pais que não sofreram abuso (Belsky, 1993; Kempe et al., 1962). Entretanto, somente 30% daqueles que sofreram abuso tornaram-se, eles próprios, perpetradores de abuso infantil; 70% não
se tornaram (Kaufman eZigler, 1989). Por isso, uma história de abuso pode ser considerada um fator de risco em abuso posterior, mas não pode ser considerada uma causa simples.
Também é da crença comum que as crianças estão mais sujeitas a sofrer abuso sexual por parte de estranhos. Isso não é verdade. O abuso sexual é cometido na maioria das vezes por adultos, principalmente homens, que conhecem as crianças que eles estão a abusar. Com muita freqüência, são parentes (Finkelhor, 1994).
O que precipita os maus-tratos à criança?
Deveria estar claro pela discussão que está sendo até agora realizada que nenhum fator de risco isolado representa o estímulo para o abuso #negligênciainfantis. Em vez disso, um interjogo complexo de múltiplosfatores de risco parece configurar o palco para os maus-tratos Bamettet al., 1997). Há boas evidências de que um fator de risco é o estresse sofrido pela família. Os estresses podem ser de muitos tipos, e cada um deles apresenta compostos dos outros: pobreza crônica, perda de emprego recente, discórdia conjugal e isolamento social tem sido todos ligados a aumentos na incidência de abuso infantil Goodman et al., 1998). A probabilidade de abuso também é mais
elevada quando a mãe é muito jovem, tem uma educação deficiente, abusa de drogas ou de álcool, ou recebe pouco apoio financeiro do #que? -JÍGoodmanetal., 1998; Pianta et al., 1989; Sternberg, 1993).
Muitos estudiosos que têm pesquisado o abuso físico das crianças nos Estados Unidos enxergam-no como uma doença social que acompanha a aceitação da violência nas famílias, na comunidade local e na sociedade em geral. Dois tipos de evidência corroboram essa posição (1) a maior parte do abuso infantil ocorre quando os pais decidem disciplinar seus filhos castigando-os fisicamente e, então, terminam por machucá-los (Zigler e Hall, 1989); (2) países em que o castigo #das crianças é desaprovado, como a Suécia e o Japão, têm índices muito baixos de abuso físico infantil (Belsky, 1 993; Cicchetti e th, 1993).
O abuso sexual das crianças é freqüentemente observado em situações nas quais o pai que detém a custódia se divorcia e torna a se casar várias vezes, ou introduz uma série de novos parceiros em casa. Mas abuso sexual também ocorre em lares relativamente estáveis (Gots-Schwartz et al., 1990). Ao contrário da negligência e do abuso físico, o abuso sexual é cometido por adultos de qualquer nível de renda e educacional.
Os efeitos de sofrer abuso
Estudos que comparam as conseqüências intelectuais, sociais e emocionais do abuso infantil atestam seus efeitos negativos (Cicchetti ith, 1998). Na fase de bebês, muitos bebês que sofrem maus-tratos são tristes, medrosos e freqüentemente zangados. Raramente iniciam contato social, e seu comportamento de apego na situação
estranha pode ser classificado como inseguro ou esquivo (Toth e hetti, 1993). Na escola, as crianças fisicamente abusadas acham difícil lidar com as outras crianças e são menos benquistas que seus colegas(Haskett e Kistner, 1991). Sua popularidade permanece baixa na segunda infância, porque seus colegas e professores os vêem como agressivos e menos cooperativos que as outras crianças (Salzinger 1993). Relata-se que elas são mais temerosas que as outras crianças em presenciar interações de raiva entre adultos (Hennessy et oi., 1994). Um exame dos registros escolares e do serviço social mostrou que as crianças que sofrem maus-tratos têm notas mais baixas que seus colegas, um mau desempenho nos testes padronizados e uma probabilidade maior de ter que repetir o ano (Eckenrode 1993).
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Assim como as crianças que sofreram outros tipos de abusos, as crianças que sofreram abusos sexuais tendem a ser ansiosas, deprimidas, retraídas e agressivas; esses traços fazem com que tenham problemas na escola. Muitas vezes exibem um interesse precoce
em sexo e se comportam de maneira sedutora (Kendall-Tackett et al., 1993).
Algumas crianças, no entanto, parecem emergir da experiência de abuso sexual sem quaisquer sintomas (Kendall-Tackett et al., 1993). Considerados como um todo, os efeitos psicológicos do abuso sexual podem ser considerados dependentes da idade da criança, do relacionamento da criança com o perpetrador do abuso, da gravidade e da duração do abuso e das reações das outras pessoas se o abuso torna-se conhecido (Kendall-Tackett et al., 1993).
O que pode ser feito?
Por mais chocante que possa parecer, devido à falta de pessoal, muitos relatos de maus-tratos jamais são investigados, e, em muitos casos que são investigados e confirmados, as crianças envolvidas não recebem serviços sociais (Barth, 1998). Quando as agências
de proteção à criança conseguem ficar envolvidas, usam dois tipos de intervenções para proteger as crianças de mais abuso: serviços domiciliares intensivos para a família ou colocação da criança sob os cuidados de outras pessoas. Os serviços domiciliares intensivos incluem enfermeiras visitadoras especialmente treinadas para proporcionar apoio emocional e também educação sanitária para os pais; números de telefone para os pais ligarem, se acharem que estão ficando muito perturbados e organizações especiais como os Pais Anônimos, que proporcionam cursos de educação para os pais, grupos de apoio e um número de telefone para intervenção na crise para pais que se sentem tentados a abusar de seus filhos. Entretanto, como muitas intervenções duram apenas um mês, elas só podem ajudar a família a lidar com suas crises mais recentes. Um estudo descobriu que, embora as intervenções domiciliares sejam bem recebidas pelos pais, elas não reduzem a probabilidade de continuação dos maus-tratos (Rzepnicki et al., 1994).
Como tem havido casos em que as crianças cujas famílias estão recebendo cuidado domiciliar morrem em conseqüência de maus-tratos, alguns profissionais preocupados com o bem-estar infantil estão atualmente defendendo que as crianças vítimas de abuso sejam imediatamente colocadas sob os cuidados de outras pessoas e lá sejam mantidas até que os pais que perpetram abusos tenham se reabilitado (Barth, 1998). Essa proposta parece sensível, mas seria difícil realizá-la em grande escala por duas razões: o cuidado por parte de terceiros é muito caro e não há lares adotivos suficientes para as crianças que têm sofrido abuso.
A longa história de abuso infantil adverte-nos para não esperar resultados significativos a partir de esforços fragmentários e de meras expressões de preocupação por parte da comunidade. Uma campanha sistemática que ataque vários fatores de risco simultaneamente pareceria oferecera melhor esperança de reduzir o problema a longo
prazo.
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FIGURA 11.4
Um modelo analítico de como a pobreza e a perda econômica afetam as crianças afro-americanas. Neste modelo, a pobreza aumenta a angústia psicológica e enfraquece o elo conjugal. Esses fatores também têm um efeito adverso nas relações sociais dos pais com seus filhos, e isso pode conduzira problemas socioemocionais nas crianças (quadros
azuis). Características especiais dos pais e da criança e sistemas de apoio sócio modificam a maneira como esses efeitos se manifestam nos casos individuais (quadros vermelhos). (Baseada em McLoyd, 1990.)
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A família extensiva e as redes sociais
Muitos estudiosos têm descoberto que uma fonte de recursos para a resolução de
problemas e redução de estresse para as crianças pequenas e pobres dos grupos
minoritários é a família extensiva (Manns, 1997; Wilson, 1995). Uma família extensiva é aquela em que não somente os pais e seus filhos, mas outros familiares avós,
primos, sobrinhos ou parentes mais distantes - compartilham um lar. Em alguns
casos, uma família extensiva envolve filhos que foram enviados para passar algum
tempo com amigos de confiança, com sócios nos negócios ou com os avós.
Não se sabe ao certo até que ponto o fenômeno das famílias extensivas tornou-
se disseminado nas últimas décadas. Melvin Wilson (1986) estima que talvez 10%
das crianças afro-americanas morem com famílias extensivas, e há indicações de
que o número pode ser muito mais elevado quando as mães são jovens e solteiras
(Sandven e Resnick, 1990). As famílias extensivas também são comuns entre os
lares hispânicos, asiáticos do Pacífico e nativos americanos nos Estados Unidos (Harrison et al, 1990).
Os pesquisadores identificam duas fontes importantes para a formação de uma
família extensiva: tradições culturais e dificuldade econômica. Arranjos de vários
tipos dessas famílias extensivas eram a norma entre os povos africanos trazidos
para as Américas e vendidos durante a escravidão. As ligações familiares fortes
persistiram

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