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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS – FADE CURSO DE DIREITO. DAVID BARROSO DA COSTA DIREITO EMPRESARIAL DUPLICATA Governador Valadares - MG 2017 DUPLICATA A duplicata mercantil é um título de crédito criado pelo direito brasileiro muito utilizado por conta da pouca utilização da letra de câmbio no comércio nacional. Ela nasceu como instrumento de controle de incidência de tributos. No fim dos anos 1960 a prática do controle de incidência tributária foi extinta, fazendo com que a função jurídica da duplicata passasse por mudanças. A edição da Lei n. 5. 474/68 (LD) e o Decreto-Lei n. 436/69 alteraram parcialmente a duplicata. A partir destas mudanças a duplicata passou a ter funções de natureza comercial relacionadas à constituição, circulação e cobrança do crédito nascido de operações mercantis ou de contratos de prestação de serviço, desprendendo-se dos aspectos fiscais que tinha anteriormente. A principal característica que diferencia a duplicata da letra de câmbio é está no que se refere ao regime aplicável ao aceite. Na letra de câmbio o ato de vinculação do sacado é facultativo, isto é, mesmo que devedor, o sacado não é obrigado a documentar sua dívida por meio da letra de câmbio, já na duplicata é obrigatório, ficando o sacado obrigado ao pagamento da duplicata, mesmo que não a assine. Existem duas duplicatas: A duplicata mercantil e a de prestação de serviços. Com relação à duplicata mercantil temos o entendimento do Amador Paes de Almeida, que muito se identifica com a causalidade da duplicata em sua emissão, apenas, desaparecendo então esse traço com o aceite do sacado e com a circulação mediante endosso. Para Amador a duplicata mercantil é um título causal, alicerçado no contrato de compra e venda mercantil ou na prestação de serviços. Não havendo estes a duplicata mercantil é, portanto, inexistente. Assim, apesar de guardar semelhanças com a letra de câmbio, a duplicata mercantil diferencia-se por ter sua origem ligada a um contrato mercantil, necessariamente. Disso decorre sua natureza causal. Por conta dessa natureza ela admite apenas com relação ao sacador as exceções fundadas em devolução de mercadoria, vícios, diferença de preço, etc., sendo que estas exceções não são arguíveis contra terceiros. A duplicata mercantil se torna abstrata por conta do aceite, desfazendo-se o vínculo do negócio jurídico implícito, principalmente com o estabelecimento da circulação por meio de endosso. Esclarecendo melhor sobre a emissão de duplicata, averba Fábio Ulhoa Coelho (2007, p.287): “embora não fixe a lei um prazo específico máximo para a emissão do título, deve-se entender que ele não poderá ser sacado após o vencimento da obrigação ou da primeira prestação”. A emissão de duplicata é facultativa, ou seja, não há a necessidade do vendedor sacá-la em nenhum momento. “Mas não poderá emitir, também, letra de câmbio, diante de expressa vedação legal (LD, art. 2º) [...]” (COELHO, 2007, p.287). Fábio Ulhoa Coelho, acerca da causalidade da duplicata mercantil leciona que "sua emissão somente é possível para representar crédito decorrente de uma determinada causa prevista por lei" (COELHO, 2010, p.290). É de notar-se que, sendo a duplicata mercantil um título de crédito, que traz consigo desde sua gênese os elementos tempo e confiança, não raro se observará sua circulação no mercado, vez que é característica sua poder ser negociada. Saliente-se, porém, que uma vez tratando-se de título de crédito causal, sua existência deve partir da premissa de que ocorrera a situação específica necessária à sua emissão, ou seja, a compra e venda mercantil ou a prestação de serviço. Com relação ao aceite da duplicata mercantil, Ulhoa ressalta sua obrigatoriedade: “O aceite da duplicata é obrigatório porque, se não há motivos para a recusa das mercadorias enviadas pelo sacador, o sacado se encontra vinculado ao pagamento do título, mesmo que não o assine.” (COELHO, 2011, p. 483) EXCEÇÕES PESSOAIS E SUA APLICABILIDADE. Por oponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé entende-se a impossibilidade do devedor de opor ao endossatário de boa-fé, as exceções que teria em relação ao endossante. Assim, o portador de boa-fé não pode ser responsabilizado nem prejudicado por exceções pessoais que não lhe dizem respeito. Segundo Fábio Ulhoa “o executado em virtude de um título de crédito não pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa estranha à sua relação direta com o exeqüente, salvo provado a má-fé dele. São, em outros termos, inoponíveis aos terceiras defesas (exceções) não fundadas no título. “ A oponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé encontra-se expressa no artigo 17 da Lei Uniforme que trata das letras de câmbio e notas promissórias: Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor. A má-fé pode ser caracterizada pelo simples fato do terceiro ter conhecimento da existência de fato oponível ao credor anterior do título, não sendo necessárias provas da ocorrência de conluio entre o exequente e o credor originário da cambial. Havendo um negócio jurídico de compra e venda de um carro, A vende seu carro para B. A concorda em receber metade do valor dentro de 60 dias, mas A é devedor de C, de valor próximo ao que tem a receber de B. Concordando C, A pode satisfazer o débito com o endosso. Desta forma, o pagamento de B resultaria em outras duas relações jurídicas: Satisfazendo a dívida com C e B devedor do título agora em mãos de C. (além da obrigação de B pagar C ser satisfeita). Cada obrigação é autônoma, ocorrendo vícios que comprometam qualquer uma delas as demais não se contaminam. Por exemplo, havendo problemas relacionados ao negócio de compra e venda do automóvel só interferem na relação jurídica de A e B, que efetuaram a compra e venda (relação originária do título), não alterando os direitos de terceiros de boa-fé para os quais o título não foi transferido. Por isso se diz que o princípio da Oponibilidade é subprincípio, pois o que o rege é o princípio da autonomia. MODELO DE DUPLICATA Assim, conforme os destaques na imagem acima, os elementos da duplicata são: Expressão Duplicata; Nome, domicílio e demais dados (CNPJ, Insc. Estadual, Telefone) do Vendedor/Credor, também chamado de sacador ou emitente; Data da emissão, que coincide com a data da fatura; Número da fatura e o número da duplicata; Data do vencimento da duplicata; Assinatura do sacador; Nome, domicílio e demais dados (CNPJ, Insc. Estadual, Telefone) do Comprador/Devedor, também chamado de sacado. E local de pagamento; Valor a ser pago, por extenso; Cláusula a ordem, possibilitando a circulação via endosso; Data do aceito com o local; Assinatura do comprador/sacado/devedor. Esses elementos são indispensáveis, porque a duplicata é um título de modelo vinculado, isso quer dizer que só poderá ser emitida obedecendo todos os padrões de emissão determinados pelo Conselho Monetário Nacional.
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