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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Engenharia Elétrica Eletromagnestismo Aula 2 Prof. Frank Coelho de Alcantara CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Olá! Esta é a nossa segunda aula de Eletromagnetismo. Nesta aula veremos o trabalho de Johann Carl Friedrich Gauss, um dos cinco mais importantes matemáticos da história. Não nos aprofundaremos na matemática de Gauss. Mas, usaremos seus teoremas para entender como funciona o dipolo elétrico. Você usa um smartphone? Tem o hábito de ouvir rádio no carro? Já usou um GPS? Estes são exemplos de tecnologias modernas que não seriam possíveis sem o entendimento que Gauss proporcionou sobre campos vetoriais. (Isso mesmo, não há como ficarmos muito longe dos vetores, pois Eletromagnetismo é o estudo dos campos vetoriais, elétricos e magnéticos.) O trabalho de Gauss está relacionado à integração de campos vetoriais em superfícies e volumes e ao operador nabla. Ao longo desta disciplina, você verá que este é um mundo de encantamento. Os eletricistas fazem mágica desde o século XIX. De fato, a própria palavra eletricista tem origem na mágica de palco. Mas, como qualquer mágico, temos que praticar e conhecer. É uma honra poder acompanhá-lo neste aprendizado. Contextualizando O campo elétrico surge em uma carga qualquer e se propaga até o infinito. Este campo dá origem a um escalar, o potencial elétrico. Nesta aula veremos como o fluxo elétrico (grandeza que representa a quantidade de campo elétrico que atravessa uma superfície) é importante na determinação do potencial elétrico e pode ser utilizado para explicar como funcionam as antenas de rádio transmissores. A transmissão via ondas eletromagnéticas simplificou o mundo tornando a comunicação mais rápida e eficiente. Quase na velocidade da luz, transmissões via satélite permitem que você saiba agora o que está acontecendo, neste exato momento, em qualquer CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 lugar do mundo. Sem antenas (uma no transmissor e outra no receptor) não há transmissão de rádio, muito menos televisão e internet. Uma antena é o exemplo mais cotidiano do uso de dipolos elétricos. Todas as antenas são dipolos, pois apesar de apresentarem as formas mais diversas possíveis, todas obedecem aos mesmos princípios descobertos pelos cientistas do século XIX e precisam ser entendidas para avançarmos tecnologicamente. Só uma pequena curiosidade: hoje criamos antenas tão pequenas e complexas que já não são mais projetadas por seres humanos. Algoritmos genéticos criaram, por exemplo, a antena que está dentro do seu smartphone. Nossa grande questão é: o que o fluxo elétrico tem a ver com antenas de rádio transmissão? Você saberá a resposta no final desta rota. Assista à contextualização do professor Frank Coelho de Alcantara sobre os temas que serão analisados nesta rota no material online. Fluxo Elétrico O fluxo elétrico é uma medida da passagem do campo elétrico através de uma área determinada. Como podemos representar o fluxo elétrico por linhas de campo, podemos dizer que este fluxo é proporcional ao número de linhas que atravessam uma superfície dada. Por enquanto, vamos considerar que este fluxo será constante no tempo e no espaço. Ainda no século XIX, Michael Faraday, estudando cargas elétricas isoladas, percebeu que independente do isolante (ou dielétrico) parecia existir um fluxo elétrico (Ψ) entre estas cargas. Não satisfeito, Faraday também demonstrou que existe uma relação entre o fluxo e a carga por meio de uma constante de proporcionalidade (𝝐𝟎) que depende do sistema de unidades que utilizamos. No nosso caso, no Sistema Internacional de Unidades, o fluxo é medido em Coulombs: 𝑄 = Ψ C CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Por definição, o fluxo elétrico começa em uma carga positiva e termina em uma carga negativa. Esse conceito indica apenas que este sentido foi arbitrado, assim como o sinal das cargas, apenas para padronização de estudos e medidas. A figura a seguir mostra as linhas de campo, o fluxo elétrico, entre duas cargas: 𝑄+ 𝑒 𝑄−. Se 𝑄+ estivesse só no universo ou 𝑄− estivesse muito longe, as linhas sairiam de 𝑄+ em um ângulo fixo, na direção do raio, e se estenderiam de forma constante até o infinito. O fluxo elétrico é uma grandeza escalar. Entretanto, a densidade de fluxo elétrico 𝑫 é um campo vetorial com direção e sentido determinado pelas linhas de fluxo. Se nas proximidades do ponto 𝑃, as linhas de fluxo apresentam a direção e o sentido do vetor unitário (versor 𝑎) poderemos definir a densidade de fluxo elétrico relacionando um elemento diferencial de fluxo elétrico 𝑑Ψ a um elemento diferencial de área 𝑑𝑠. De tal forma que a densidade de fluxo que atravessa a área 𝑑𝑠 será dada por: Desta forma, podemos definir o fluxo elétrico, medido em Coulombs, em termos da densidade de fluxo elétrico por: Ψ = ∫ 𝑫 𝑑𝑠 𝐶 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Podemos ainda relacionar o vetor campo elétrico com o vetor densidade de fluxo, no vácuo, de tal forma que: 𝑫 = 𝑬𝜖0 Isto explicita a relação que existe entre as equações que deduzimos a partir da Lei de Coulomb com a densidade de fluxo elétrico. Por exemplo. Considere um plano infinito de cargas: 𝑬𝑠 = 𝜌𝑠 2𝜖0 ∴ 𝑫𝑠 = 𝜌𝑠 2𝜖0 𝜖0 = 𝜌𝑠 2 Ou para uma distribuição volumétrica no vácuo, e somente no vácuo: 𝑫 = ∫ 𝜌𝑣 𝑑𝑣 4𝜋𝑅2 𝒂𝑅 Exemplo 1: Calcule a carga contida em um volume definido por: 0 ≤ 𝑥 ≤ 1, 0 ≤ 𝑦 ≤ 1 e 0 ≤ 𝑧 ≤ 1 com todas as distâncias estipuladas em metros supondo que exista uma densidade de cargas de 𝜌 = 30𝑥2𝑦 𝜇𝐶/𝑚 Solução: Sabemos que 𝑑𝑄 = 𝜌𝑑𝑣 podemos fazer a integral entre os limites dados. 𝑄 = ∫ ∫ ∫ 30𝑥2 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 1 0 1 0 1 0 Em 𝑥 : ∫ 30𝑥2𝑦 𝑑𝑥 1 0 = 10𝑦 Em 𝑦: ∫ 10𝑦 𝑑𝑦 1 0 = 5 Em 𝑧: ∫ 5𝑑𝑧 1 0 = 𝑄 = 5 𝜇𝐶 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Agora é com o professor Frank Coelho de Alcantara. Veja o que ele tem a dizer sobre o fluxo elétrico no material online. Lei de Gauss e Aplicações As experiências de Faraday podem ser extrapoladas para qualquer superfície. Podemos dizer que: o fluxo elétrico que atravessa qualquer superfície fechada é igual a carga total envolvida por essa superfície. Sendo este, o enunciado da Lei de Gauss. Se tomarmos Ψ como fluxo elétrico e 𝑄𝑒𝑣 como sendo a carga envolvida pela superfície fechada proposta por Gauss e os elementos diferenciais 𝑑Ψ e 𝑑𝑠, podemos afirmar que o fluxo total Ψ será dado pela integral de superfície fechada dos elementos diferenciais 𝑑𝑠. Ou: Ψ = ∮ 𝑑Ψ = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 Como a lei de Gauss determina: Ψ = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠𝑆 = 𝑄𝑒𝑣 O que é válido para algumas distribuições de cargas: Perceba que quando uma superfície envolve uma carga forma-se um volume em torno dela. Logo, a carga total será dada pela integral de todos os componentes diferenciais de carga. 𝑄 = ∫𝜌𝑣𝑑𝑣 𝑣 = ∮𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 𝑆 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Considerando uma distribuição volumétrica de cargas em que o produto escalar entre 𝑫𝑠 e o elemento diferencial de superfície 𝑑𝑠 enfatiza que para cada elemento diferencial de áreada superfície que envolve a carga, este fluxo deve ser perpendicular a este elemento. Isso simplesmente comprova que o fluxo elétrico total que atravessa uma superfície fechada é igual a carga envolvida. Aplicações da Lei de Gauss As distribuições simétricas de carga são conhecidas como Superfícies Gaussianas. Todas atendem as seguintes condições: 1. Trata-se de uma superfície fechada; 2. Em cada ponto desta superfície (𝑫𝒔) é normal (ou tangencial) à superfície; 3. D é constante para todos os pontos em que (𝑫𝑠) for normal. A segunda condição é importante por que, sendo 𝑫𝒔 normal à superfície 𝑆, então 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 se torna simplesmente Dsds , o que faz com que o processo de integração seja mais simples. Por outro lado, se 𝑫𝒔 for tangente à superfície 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 = 0 , a integração se dispensa e resulta na inexistência de fluxo nesta direção.Ψ Esfera de Gauss Tomemos, como exemplo uma carga 𝑄, pontual, situada na origem. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Como 𝑫𝑠 é normal em todos os pontos da superfície e tem o mesmo valor em qualquer ponto da superfície, usando a Lei de Gauss: Ψ = ∫𝜌𝑣𝑑𝑣 𝑣 = ∮𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 𝑆 Como vimos anteriormente a intensidade de campo elétrico de uma carga pontual é dada por: 𝑬 = 𝑄 4𝜋𝜖0𝑟2 𝒂𝑟 Vimos também que: 𝑫 = 𝜖0𝑬 substituindo, temos: 𝑫 = 𝜖0 𝑄 4𝜋𝜖0𝑟2 𝒂𝑟 = 𝑄 4𝜋𝑟2 𝒂𝑟 Como, em cada ponto infinitesimal da superfície da esfera, 𝑫 será normal à superfície, mas ainda seguirá o versor 𝑎𝑟 assim temos: 𝑫𝒔 = 𝑄 4𝜋𝑟2 𝒂𝑟 Por sua vez, o elemento diferencial de área de uma superfície esférica em coordenadas esféricas é dado por: 𝑑𝑠 = 𝑟2𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜙𝑑𝜃, este elemento diferencial seguirá o mesmo vetor unitário. Sendo assim: 𝑑𝑠 = 𝑟2𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜙𝑑𝜃 𝒂𝑟 Teremos então: Ψ = ∮ 𝑄 4𝜋𝑟2 𝑟2𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜙𝑑𝜃 𝒂𝑟 ⋅ 𝒂𝑟 𝑆 Ψ = ∮ 𝑄 4𝜋 𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜙𝑑𝜃 𝑠 Integrando de forma a cobrir toda a superfície da esfera, temos: Ψ = ∫ ∫ 𝑄 4𝜋 𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜙𝑑𝜃 𝜙=2𝜋 𝜙=0 𝜃=𝜋 𝜃=0 = 𝑄 2 (− cos 𝜃)| 0 𝜋 = 𝑄 O que, despudoradamente, confirma a Lei de Gauss. Q = ∮𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 𝑆 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Linha infinita de cargas Tomemos uma linha infinita de cargas com 𝜌𝐿 𝐶/𝑚 coincidente com o eixo 𝑧. Com esta distribuição, para determinar 𝑫 em um ponto 𝑃 qualquer, devemos optar por uma superfície também infinita e cilíndrica. Utilizando o sistema de coordenadas cilíndricas, podemos afirmar que a superfície que utilizaremos para cálculo do fluxo estará a uma distância 𝜌 da linha de cargas. Observe que, neste caso, o ponto 𝑃 deverá estar sobre a superfície gaussiana, ou seja, sobre o cilindro. Ainda que a linha de cargas seja infinita, nossa superfície gaussiana não é, estendendo-se de 𝑧 = 0 até 𝑧 = 𝐿. Utilizando a Lei de Gauss vemos que: 𝑄 = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 Observe que o campo elétrico produzido pela linha de cargas não tem componente vetorial na direção do vetor unitário da própria linha. Neste caso o 𝑫𝑡𝑜𝑝𝑜 = 𝑫𝑏𝑎𝑠𝑒 = 0. Consequentemente, a densidade de fluxo elétrico será determinada apenas pelo lado do cilindro, ou: 𝑄 = 𝑫𝑠 ∫ 𝑑𝑠 𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Utilizando os limites do cilindro e o elemento infinitesimal das coordenadas cilíndricas, temos: Novamente, como 𝑫𝑠 tem a mesma direção e sentido de 𝜌 temos que: 𝑫𝑠 = 𝑫𝜌 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 Se levarmos em consideração que a densidade de cargas é dada por 𝜌𝑙 = 𝑄/𝐿 podemos afirmar que: 𝑫𝜌 = 𝜌𝑙 2𝜋𝜌 ∴ 𝐸𝜌 = 𝜌𝑙 2𝜋𝜖0𝜌 Plano infinito de cargas Vamos estudar um plano infinito de cargas com 𝜌𝑠 𝐶/𝑚 2 sobre o plano 𝑧. Neste caso vamos escolher como superfície gaussiana uma caixa retangular com suas faces maiores perpendiculares ao plano. Lembre-se, se não conseguir encontrar uma superfície simétrica não poderá usar a Lei de Gauss. Para determinar 𝑫 em um ponto 𝑃 nas faces menores precisamos considerar que nossa distribuição de cargas é infinita, mas a superfície gaussiana escolhida é finita. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 As faces menores são escolhidas já que nelas o campo elétrico existe e é perpendicular ao plano. Assim sendo, não existem os componentes ax e ay. Nas faces maiores, como 𝑫, não tem componentes nesta direção 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 = 0. Logo: 𝑄 = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 = 𝐷𝑧 [∫ 𝑑𝑠 𝑡𝑜𝑝𝑜 + ∫ 𝑑𝑠 𝑏𝑎𝑠𝑒 ] Considere agora que as áreas referentes ao topo e a base sejam representadas pela leta 𝐴. Como 𝑑𝑠 representa um elemento infinitesimal e superfície, temos: 𝐴 = ∫ 𝑑𝑠 𝑡𝑜𝑝𝑜 + ∫ 𝑑𝑠 𝑏𝑎𝑠𝑒 Como vimos antes, graças a Lei de Gauss: 𝑄 = ∫𝜌𝑠𝑑𝑠 𝑠 = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 Ou, já que 𝜌𝑠 é constante temos: 𝑄 = 𝜌𝑠 ∫𝑑𝑠 𝑠 = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 Lembrando que ∫ 𝑑𝑠 𝑠 representa o somatório de todos os elementos infinitesimais de área, ou seja, área. Então: 𝜌𝑠𝐴 = 𝑫𝑧(𝐴 + 𝐴) Novamente precisamos prestar atenção ao vetor unitário referente ao campo 𝑬. Neste caso, este vetor só possui o componente az, sendo assim: 𝑫 = 𝜌𝑠 2 𝒂𝑧 ∴ 𝑬 = 𝜌𝑠 2𝜖0 𝒂𝑧 Em que az = aS, já que só temos componentes neste eixo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 Leitura Complementar: Se puder, leia o capítulo 3.3 do livro do Hayt (2012), que demonstra cuidadosamente outros exemplos da Lei de Gauss. HAYT, W.; BUCK, J. A. Eletromagnetism. 8º. ed. New York, NY, USA: McGrawHill, 2012. No material online, o professor Frank Coelho de Alcantara explica um pouco mais sobre a Lei de Gauss e suas respectivas aplicações. Não perca! Teorema da Divergência e Potencial Elétrico Existem duas formas de determinar como um campo vetorial varia através do espaço. A divergência (ou divergente) e o rotacional. Nesta aula iremos estudar a divergência. O teorema da divergência de Gauss relaciona o fluxo elétrico através de uma superfície com o comportamento de um campo vetorial no interior desta superfície. Ou, literalmente: “A divergência do vetor densidade de fluxo elétrico 𝑫 é a variação do fluxo através de uma superfície fechada de um pequeno volume que tende a zero” (HAYT e BUCK, 2012). A divergência de um campo vetorial pode ser nula, negativa ou positiva. Quando a divergência é positiva diz-se que nesta região do espaço existe uma fonte, quando a divergência é negativa diz-se que existe um sorvedouro. Existe uma relação entre a divergência positiva, as fontes e as cargas positivas. Similarmente, podemos associar a divergência negativa com o sorvedouro e as cargas negativas. Se uma região do espaço contém cargas positivas, contém também fontes de fluxo Ψ e a divergência do vetor densidade de fluxo 𝑫 será positiva. Definimos a divergência de um campo vetorial 𝑨 qualquer no ponto 𝑃, como: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Divergência Para definir a divergência em coordenadas cartesianas usaremos um cubo de arestas Δ𝑥 , Δ𝑦, Δ𝑧 , como pode ser visto na figura a seguir. Usando o ponto 𝑃, vértice com as menores coordenadas, podemos definir o vetor 𝑨 por: 𝑨 = 𝐴𝑧𝒂𝑧 + 𝐴𝑦𝒂𝑦 + 𝐴𝑧𝒂𝑧 Para obter o produto vetorial entre a integral de superfície de 𝑨 e o elemento diferencial 𝑑𝑠, ∮ 𝑨 ⋅ 𝑑𝑠, somos forçados a analisartodas as seis faces de cubo. O vetor 𝑑𝑠 será normal e estará saído de todas as faces do cubo. Isso implica que cada par de faces paralelas será atravessado apenas por um componente de 𝑨. Tomemos, por exemplo, as faces marcadas com a e b paralelas ao eixo dos x. Neste caso, a área da face a esquerda será igual a área da face a direita e ambas, por serem infinitesimais serão iguais a Δ𝑦Δ𝑧. Logo: ∫ 𝑨 ⋅ 𝒅𝒔 ≅ −𝐴𝑥(𝑥)Δ𝑦Δ𝑧 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎 ∫ 𝑨 ⋅ 𝒅𝒔 ≅ 𝐴𝑥(𝑥 + Δ𝑥)Δ𝑦Δ𝑧 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 ≅ [𝐴𝑥(𝑥) + 𝛿𝐴 𝛿𝑥 Δ𝑥] Δ𝑦Δ𝑧 Desta forma, o fluxo total referente a estas duas faces será dado por: 𝛿𝐴𝑥 𝛿𝑥 Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Extrapolando para todas as superfícies: ∮ 𝑨 ⋅ 𝒅𝒔 = ( 𝛿𝐴𝑥 𝛿𝑥 + 𝛿𝐴𝑦 𝛿𝑦 + 𝛿𝐴𝑧 𝛿𝑧 ) Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧 Ou: ∮ 𝑫 ⋅ 𝒅𝒔 = ( 𝛿𝐷𝑥 𝛿𝑥 + 𝛿𝐷𝑦 𝛿𝑦 + 𝛿𝐷𝑧 𝛿𝑧 ) Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧 Fazendo com que Δ𝑥Δ𝑦Δ𝑧 seja igual a um Δ𝑣 no limite, com Δ𝑣 → 0, temos: 𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 𝛿𝐷𝑥 𝛿𝑥 + 𝛿𝐷𝑦 𝛿𝑦 + 𝛿𝐷𝑧 𝛿𝑧 Com um pouco de trabalho podemos chegar a divergência em coordenadas cilíndricas: 𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 1 𝜌 𝛿 𝛿𝜌 (𝜌𝐷𝜌) + 1 𝜌 𝛿𝐷𝜙 𝛿𝜙 + 𝛿𝐷𝑧 𝛿𝑧 E esféricas: 𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 1 𝑟2 𝛿 𝛿𝑟 (𝑟2𝐷𝑟) + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝛿 𝛿𝜃 (𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑑𝜃) + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑚 𝜃 𝛿𝜙 𝛿𝜙 Por fim, é necessário observar que a divergência é uma operação realizada em um vetor que resulta em um escalar (HAYT e BUCK, 2012). Desta forma, definimos o operador nabla (∇), ou del, como sendo um operador que possa ser multiplicado por 𝑫 e forneça 𝑑𝑖𝑣 𝑫 de tal forma que: 𝑑𝑖𝑣 𝑫 = 𝛿𝐷𝑥 𝛿𝑥 + 𝛿𝐷𝑦 𝛿𝑦 + 𝛿𝐷𝑧 𝛿𝑧 Sendo assim, podemos definir ∇ como sendo: ∇ = 𝛿 𝛿𝑥 𝒂𝑥 + 𝛿 𝛿𝑦 𝒂𝑦 + 𝛿 𝛿𝑧 𝒂𝑧 Lembre-se, estamos trabalhando com vetores. Ou seja: ∇ ⋅ 𝐃 = ( 𝛿 𝛿𝑥 𝒂𝑥 + 𝛿 𝛿𝑦 𝒂𝑦 + 𝛿 𝛿𝑧 𝒂𝑧) ⋅ (𝐷𝑥𝒂𝑥+𝐷𝑦𝒂𝑦 + 𝐷𝑧𝒂𝑧) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Tomando ∇ ⋅ 𝐃, removendo os termos nulos por perpendicularidade teremos: ∇ ⋅ 𝐃 = 𝛿𝐷𝑥 𝛿𝑥 𝒂𝑥 + 𝛿𝐷𝑦 𝛿𝑦 𝒂𝑦 + 𝛿𝐷𝑧 𝛿𝑧 𝒂𝑧 Tome cuidado com o operador 𝜵. Este operador só é definido para coordenadas cartesianas. Podemos encontrar a divergência em coordenadas cilíndricas: Mas não encontraremos um: O mesmo vale para as coordenadas esféricas. Teorema da divergência de Gauss Partindo da Lei de Gauss e tomando uma carga elétrica sobre um volume qualquer temos que: ∮ 𝑫 ⋅ 𝑑𝑠 = 𝑄 = ∫ 𝜌 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙𝑠 Em termos vetoriais, a densidade de carga 𝜌 pode ser expressa por ∇ ⋅ 𝑫 substituindo temos: ∮𝑫 ⋅ 𝑑𝑠 𝑠 = 𝑄 = ∫ (∇ ⋅ 𝑫) 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙 A integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma superfície fechada é igual a integral da divergência deste campo através do volume envolvido pela superfície fechada (HAYT e BUCK, 2012). A Lei de Gauss diz que a integral de superfície fechada ∮ 𝑫 ⋅ 𝑑𝑠 𝑠 é igual a carga contida pela mesma. O Teorema de Divergência de Gauss afirma que conhecida da densidade de cargas 𝜌 do volume interno da superfície, a carga poderá ser encontrada por meio da integração de 𝜌 através do volume. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Não deixe de notar que o Teorema de Gauss tem uma função importante na solução de problemas complexos. Utilizando este teorema podemos resolver integrais de superfície em lugar de integrais de volume. Consequentemente, problemas de distribuição de cargas aparentemente insolúveis, dada sua geometria, são facilmente resolvidos com o uso de uma superfície gaussiana. Trabalho necessário para movimentar uma carga Uma carga pontual 𝑄 sujeita a um campo elétrico 𝑬 sobre a ação de uma força dada por: 𝑭 = 𝑄𝑬. Esta força dá origem a uma aceleração que tende a mover a partícula carregada segundo a direção do campo aplicado. Para manter essa partícula em equilíbrio precisamos de uma força de mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto: 𝑭𝒂 = −𝑄𝑬. Uma linha de campo elétrico mostra a direção e o sentido da força que atua sobre uma carga de testes. E o número de linhas que desenhamos tem uma relação arbitrária com a carga. Definimos trabalho, positivo ou negativo, como a ação de uma força sobre determinada distância. Uma força aplicada a uma partícula que se desloque realiza um trabalho infinitesimal 𝑑𝑊 ao longo da distância, também infinitesimal 𝑑𝑙. Quando a força e o deslocamento apresentarem direções distintas deveremos usar o componente da força segundo 𝑑𝑙: Em que 𝜃 é o ângulo ente o elemento de caminho e o vetor campo. Desta forma, como a força que devemos aplicar, segundo um agente externo, em um campo elétrico é dada por: 𝑭𝒂 = −𝑄𝑬 teremos: 𝑑𝑊 = −𝑄𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 De forma vetorial, podemos definir 𝑑𝑙 nos três sistemas de coordenadas. Tratando-se de quantidades infinitesimais, o trabalho necessário deve ser obtido a partir da integral entre os pontos que definem o deslocamento: 𝑊 = ∫ −𝑄𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 𝑓𝑖𝑚 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑜 Se a carga de prova for deslocada em uma direção perpendicular ao campo 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 0, nenhum trabalho será realizado, pois este caminho é dito estar sobre uma linha equipotente (aprofundaremos isso mais adiante). Devemos também observar que o maior trabalho por unidade de distância será realizado quando 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 1 ou quando o movimento for normal a uma superfície equipotencial Diferença de Potencial A diferença de potencial (𝑽) de um ponto 𝑨 em relação a um ponto 𝑩 pode ser definida como o trabalho realizado por uma fonte externa para movimentar uma carga de prova 𝑸 de 𝑨 para 𝑩 dentro de um campo elétrico 𝑬. 𝑉𝐴𝐵 = 𝑊 𝑄 = − ∫ 𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 𝐴 𝐵 = − ∫ 𝐸 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝑙 𝐴 𝐵 A diferença de potencial, ou 𝑑𝑑𝑝, será medida, no Sistema Internacional de Unidades em volts (V) ou joule por Coulomb (J/C). O potencial 𝑉𝐴𝐵 será positivo se existir trabalho durante o deslocamento da carga positiva do ponto 𝐵 até 𝐴. Neste caso, dizemos que o potencial de 𝐴 é maior que o potencial de 𝐵. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 Este é um resultado muito importante. Chamaremos ao longo de toda carreira como engenheiros este potencial elétrico de tensão e o usaremos como referência em todos nossos projetos Apesar de calcularmos 𝑉𝐴𝐵 , calcularemos o trabalho considerando o deslocamento de 𝐵 até 𝐴. Parece estranho, principalmente com relação a notação mas, isso se justificará, na prática o ponto 𝐴 acabará sendo mais significativo. Note também que se 𝑉𝐴𝐵 é negativo existe uma perda de energia potencial. Isso indica que o trabalho está sendo realizado pelo campo onde a carga está. Se 𝑉𝐴𝐵 é positivo, existe um ganho de energia potencial indicando que o trabalho está sendo realizado por um agente externo. Por fim, no futuro, veremos que 𝑉𝐴𝐵 é independente do caminho usado para o deslocamento da carga sobre o campo. Exemplo 2: Calcule o potencial elétrico entre os pontos 𝐴(2, 0, 0) e 𝐵(0, 2, 0), sabendo que um campo elétrico de E = 2xax – 4yay V/m desloca uma carga de +2 𝐶 sob a reta que liga estes dois pontos. Solução: primeiro calculamos o vetor trabalho diferencial: 𝑑𝑊 = −𝑄𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 𝑑𝑊 = −(2)(2𝑥𝒂𝑥 − 4𝑦𝒂𝑦) ⋅ 𝑑𝑥𝒂𝑥 + 𝑑𝑦𝒂𝑦 + 𝑑𝑧𝒂𝑧 𝑑𝑊 = −4𝑥𝒂𝑥 +8𝑦𝒂𝑦 ⋅ 𝑑𝑥𝒂𝑥 + 𝑑𝑦𝒂𝑦 + 𝑑𝑧𝒂𝑧 𝑑𝑊 = −4𝑥𝑑𝑥 + 8𝑦𝑑𝑦 A equação da reta é dada por: 𝑥 + 𝑦 = 2, resolvendo em função de 𝑥 e derivando temos que 𝑦 = 2 − 𝑥 e 𝑑𝑦 = −𝑑𝑥 substituindo: 𝑑𝑊 = −4𝑥𝑑𝑥 + 8(2 − 𝑥)(−)𝑑𝑥 𝑑𝑊 = −4𝑥𝑑𝑥 − 16𝑑𝑥 + 8𝑥𝑑𝑥 𝑑𝑊 = (4𝑥 − 16)𝑑𝑥 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Sendo assim, o trabalho será dado por: 𝑊 = ∫ (4𝑥 − 16)𝑑𝑥 = 24 𝐽 0 2 Com a intensidade do trabalho realizado, o cálculo da diferença de potencial é dado por: 𝑉𝐴𝐵 = 𝑊 𝑄 = 24 𝐽 2 𝐶 = 12 𝑉 Potencial elétrico Na maior parte das vezes, o que mediremos será o potencial de um ponto. Contudo, este valor só terá sentido se concordarmos que estamos, na verdade, medindo a diferença de potencial entre este ponto e um ponto onde o potencial é zero. A referência mais utilizada em engenharia elétrica é a Terra. O potencial da superfície do planeta é no nível do mar e nas condições normais de temperatura e pressão. Na prática, consideramos a Terra como um terminal comum, ligado em um referencial conhecido. No seu celular, por exemplo, o potencial de referência será o terminal negativo da bateria. Em uma instalação industrial será o potencial existente em uma barra de cobre enterrada. O potencial elétrico pode ser calculado diretamente por meio da diferença de potencial: 𝑉𝐴𝐵 = 𝑉𝐴 − 𝑉𝐵 Entretanto, para que isso seja verdade, 𝑉𝐴 e 𝑉𝐵 deverão utilizar a mesma referência de zero. O potencial em qualquer ponto do espaço é a diferença de potencial entre este ponto e um ponto escolhido como referência, cujo potencial é zero. Leitura Complementar: Se puder, leia o capítulo 4.3 do livro do Hayt (2012), que descreve o valor potencial de referência. HAYT, W.; BUCK, J. A. Eletromagnetism. 8º. ed. New York, NY, USA: McGrawHill, 2012. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Saiba mais sobre o teorema da divergência e potencial elétrico assistindo à explicação do professor Frank Coelho de Alcantara, no material online. Potencial Elétrico: casos específicos Potencial de uma carga pontual Vimos que o campo elétrico provocado por uma carga pontual 𝑄 é totalmente radial. Sendo assim, o valor da diferença de potencial elétrico 𝑉𝐴𝐵 será dado por: 𝑉𝐴𝐵 = 𝑊 𝑄 = − ∫ 𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 𝐴 𝐵 Substituindo e equação de 𝑬 em coordenadas esféricas temos: 𝑉𝐴𝐵 = − ∫ 𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 = 𝐴 𝐵 − ∫ 𝑬𝒓 ⋅ 𝑑𝑟 = 𝐴 𝐵 − ∫ 𝑄 4𝜋𝜖0𝑟2 ⋅ 𝑑𝑟𝒂𝑟 = 𝐴 𝐵 𝑉𝐴𝐵 = − 𝑄 4𝜋𝜖0 ∫ 1 𝑟2 ⋅ 𝑑𝑟𝒂𝑟 = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑟𝑎 − 1 𝑟𝑏 ) 𝐴 𝐵 𝑉𝐴𝐵 = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑟𝑎 − 1 𝑟𝑏 ) Se a carga 𝑄 for positiva, o ponto 𝐴 estará em um potencial maior que o ponto 𝐵. Mas, queremos o potencial de uma carga pontual. Lembrando que o campo elétrico se estende da carga até o infinito, vamos colocar o ponto 𝐵 no infinito e teremos: 𝑉𝐴∞ = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑟𝑎 − 1 𝑟𝑏 ) ∴ 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑟𝑎 − 1 ∞ ) 𝑉 = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑟 ) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Observe que não há razão para indicar o ponto 𝐴 no index da diferença de potencial. Esta equação define o valor do potencial elétrico em um ponto qualquer, distante 𝒓 metros da carga 𝑸 desde que tenhamos considerado o infinito como referência de potencial zero. A equação obtida para o potencial de uma carga pontual, ainda que não tenha sido explicitado, só estará correta se colocarmos a carga 𝑄 na origem do sistema de coordenadas. Fazemos isso para facilitar os cálculos. Contudo, se a carga 𝑄 não estiver na origem, tudo que teremos que fazer é encontrar o vetor posição 𝑹 referente ao ponto em que a carga se encontra e, neste caso, teremos: 𝑉 = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 |𝑟 − 𝑟′| ) Superfície equipotencial Definimos o potencial de uma carga pontual. Podemos aplicar os mesmos conceitos para definir o potencial de outros tipos de distribuição de cargas. Para isso, tudo que precisamos é considerar qualquer distribuição de cargas como um conjunto de cargas pontuais. O princípio da superposição pode ser aplicado para o cálculo do potencial. Sendo assim, se tivermos um conjunto de 𝑛 cargas 𝑄1, 𝑄2, … 𝑄𝑛 localizadas em pontos com vetores posição 𝑟1, 𝑟2, … 𝑟𝑛, teremos: 𝑉(𝑟) = 𝑄1 4𝜋𝜖0 ( 1 |𝑟 − 𝑟1| ) + 𝑄2 4𝜋𝜖0 ( 1 |𝑟 − 𝑟2| ) + ⋯ + 𝑄𝑛 4𝜋𝜖0 ( 1 |𝑟 − 𝑟𝑛| ) O que, em notação mais amigável, nos leva a: 𝑉(𝑟) = 1 4𝜋𝜖0 ∑ ( 𝑄𝑘 |𝑟 − 𝑟𝑘| ) 𝑛 𝑘=1 Para distribuições contínuas de carga, em que cada carga é infinitesimal, precisamos recorrer aos princípios da integração e a densidade de cargas. Neste caso a carga 𝑄 será substituída por: 𝜌𝑙𝑑𝑙, 𝜌𝑠𝑑𝑠 𝑜𝑢 𝜌𝑣𝑑𝑣 e os potenciais serão determinados por: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Em que as coordenadas 𝑟 indicam o ponto de origem do campo elétrico e as coordenadas 𝑟´ o ponto em que o potencial precisa ser medido (SADIKU, 2014). O potencial 𝑽𝒓 é definido em relação ao infinito (referência zero) e é o trabalho necessário para trazer uma carga do infinito até o ponto r (HAYT e BUCK, 2012). Uma vez que entendemos como podemos calcular o potencial devido a uma superfície, definimos superfície equipotencial como sendo uma superfície composta de pontos que tenham o mesmo potencial. Note que, em superfícies equipotenciais, não há trabalho para o deslocamento de cargas já que todas as cargas da superfície estão no mesmo potencial. (HAYT e BUCK, 2012). Observe que nas equações de potencial das diversas superfícies, independente da superfície, o potencial elétrico é inversamente proporcional à distância do ponto e não há referência ao caminho entre a carga e o ponto em que o potencial é medido. Então, se a energia gasta para deslocar uma carga entre pontos em qualquer direção e sentido for sempre o mesmo, não há trabalho no deslocamento de cargas em circuitos fechados. ∮ 𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 = 0 Esta é uma das mais importantes afirmações do eletromagnetismo e serve como explicação da lei de Kirchhoff, ainda que estejamos falando apenas de correntes contínuas e campos estáticos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Agora é com o professor Frank Coelho de Alcantara. Veja o que ele tem a dizer sobre os casos específicos do potencial elétrico no material online. Dipolo Elétrico Os métodos que vimos até o momento carecem de praticidade na determinação do potencial elétrico de um ponto. Mas, na maioria das vezes, não temos o conhecimento necessário do campo elétrico presente ou da distribuição de cargas sobre a superfície. Na vida real, geralmente, desejamos encontrar a capacitância que existe entre dois condutores, ou a distribuição de correntes sobre uma superfície, ou ainda, entender por que existe tanto ruído em um ponto do circuito. Nestes casos, por motivo de praticidade, precisamos relacionar o potencial elétrico com o campo elétrico. Gradiente de potencial elétrico Tomemos a equação da diferença de potencial entre dois pontos. 𝑉𝐴𝐵 = 𝑉𝐴 − 𝑉𝐵 = − ∫ 𝑬 ⋅ 𝑑𝑙 𝐴 𝐵 Se considerarmos, como o fizemos até o momento, o campo 𝑬 constante e lançarmos mão dos conceitos infinitesimais, poderemos representar esta equação em termos mais simples, antes da integração: Δ𝑉 = −(𝑬 ⋅ 𝚫𝒍) Considerando um ângulogenérico 𝜃 entre estes vetores, poderemos resolver o produto escalar de tal forma que: (𝑬 ⋅ 𝚫𝒍) = 𝐸Δ𝑙 cos 𝜃 ∴ Δ𝑉 = −𝐸Δ𝑙 cos 𝜃 Desta equação podemos tirar que o elemento infinitesimal de potencial elétrico, a variação do potencial, pode ser relacionada com o elemento infinitesimal do caminho ou: 𝑑𝑉 𝑑𝑙 = − 𝐸 𝑐𝑜𝑠𝜃 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 Quando cos 𝜃 = −1, teremos o valor máximo desta relação em 𝜋. Ou seja, a magnitude do campo elétrico é dada pela taxa máxima de variação do potencial elétrico com a distância e esta magnitude será encontrada quando a direção do caminho infinitesimal for oposta a direção do campo elétrico. Considere, duas superfícies equipotenciais, como ilustrado na figura a seguir. Observe a existência de um ponto 𝑃, colocado sobre a superfície 𝑉(𝑥,𝑦,𝑧) = 𝑣1 e queremos encontrar o potencial sobre a superfície 𝑉(𝑥,𝑦,𝑧) = 𝑣2 > 𝑣1, sendo assim, a maior taxa de potenciais ocorrerá no sentido de Δ𝑉.] Como vimos, graças ao produto escalar a magnitude do campo elétrico será oposta a direção de Δ𝑉 . Consequentemente, podemos definir o vetor campo elétrico como sendo o produto desta variação máxima por um vetor unitário 𝑎𝑛 ou em termos matemáticos: Se fizermos a derivada direcional desta expressão podemos expressar o vetor campo elétrico máximo como sendo: 𝑬 = − 𝑑𝑉 𝑑𝑁 𝒂𝑛 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 A operação 𝑑𝑉 𝑑𝑁 𝒂𝑛 é conhecida com gradiente do potencial elétrico, e pode ser escrito na forma: 𝐸 = −𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑉 O gradiente é uma operação vetorial realizada sobre um escalar, cujo resultado é um vetor. Trata-se de um termo para indicar a taxa de variação de um campo vetorial indicando a direção desta variação. Clique no link a seguir e acesse um site (em inglês) que explica um pouco mais sobre esse tipo de operação. http://betterexplained.com/articles/vector-calculus-understanding-the- gradient/ A forma mais tradicional de representar o gradiente inclui o uso de derivadas parciais para expressar os componentes do vetor infinitesimal 𝑑𝑙. Neste caso podemos utilizar o operador ∇: ∇ = 𝛿 𝛿𝑥 𝒂𝑥 + 𝛿 𝛿𝑦 𝒂𝑦 + 𝛿 𝛿𝑧 𝒂𝑧 Como, em termos de derivadas parciais pode ser representado por: 𝑑𝑉 = 𝛿𝑉 𝛿𝑥 𝑑𝑥 + 𝛿𝑉 𝛿𝑦 𝑑𝑦 + 𝛿𝑉 𝛿𝑧 𝑑𝑧 = −𝐸𝑥𝑑𝑥 − 𝐸𝑦𝑑𝑦 − 𝐸𝑧𝑑𝑧 De onde podemos tirar que: Em termos de derivadas parciais, considerando os sistemas de unidades estudados até agora, podemos representar o gradiente como: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 Exemplo 3: Dada a função potencial 𝑉 = 2𝑥 + 4𝑦 volts. Calcule a energia necessária para carregar um capacitor que possui um volume de 1 𝑚3 centrado na origem e no espaço livre. Solução: Resolvendo as derivadas parciais: 𝐸 = −2𝒂𝑥 − 4𝒂𝑦 ∴ |𝐸| = √20 O campo 𝑬 tem magnitude de √20, tem direção e sentido constantes e está definido em todo e qualquer ponto do espaço livre. Sendo assim, a energia acumulada é infinita. Seria necessária uma quantidade de trabalho infinita para carregar este capacitor. Exemplo 4: Dado um potencial de 𝑉 = 10 𝑟2 𝑠𝑒𝑛 𝜃 cos 𝜙, calcule a densidade de fluxo elétrico em (2, 𝜋 2 , 0) Solução: 𝑬 = −∇𝑉 = ( 𝛿𝑉 𝛿𝑟 𝒂𝑟 + 1 𝑟 𝛿𝑉 𝛿𝜃 𝒂𝜃 + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝛿𝑉 𝛿𝜙 𝒂𝜙) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 Substituindo e calculando as diferencias parciais temos: 𝐸 = 20 𝑟3 𝑠𝑒𝑛 𝜃 cos 𝜙 𝒂𝑟 − 10 𝑟3 cos 𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜙 𝒂𝜃 + 10 𝑟3 𝑠𝑒𝑛 𝜙 𝒂𝜙 Sabendo que 𝑫 = 𝜖0𝑬 no ponto (2, 𝜋 2 , 0), teremos: 𝑫 = 𝜖0 ( 20 𝑟3 𝑠𝑒𝑛 𝜃 cos 𝜙 𝒂𝑟 − 10 𝑟3 cos 𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜙 𝒂𝜃 + 10 𝑟3 𝑠𝑒𝑛 𝜙 𝒂𝜙) 𝑫 = 𝜖0 ( 20 8 𝒂𝑟 − 0𝒂𝜃 + 0𝒂𝜙) = 22,1 𝒂𝑟 𝑝𝐶/𝑚 2 Dipolo elétrico Damos o nome de dipolo elétrico, ou simplesmente dipolo, ao conjunto de duas cargas pontuais de igual magnitude e sinais contrários separados por uma pequena distância em relação ao ponto 𝑷, onde mediremos o potencial e o campo elétrico. A figura a seguir mostra uma distribuição de um dipolo em um sistema de coordenadas cartesianas. Vamos calcular o valor do potencial elétrico em 𝑃. Desta forma, vamos considerar as distâncias entre as cargas como 𝑅1𝑒 𝑅2, respectivamente. Sendo assim: 𝑉(𝑟) = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 1 𝑅1 − 1 𝑅2 ) 𝑉(𝑟) = 𝑄 4𝜋𝜖0 ( 𝑅2 − 𝑅1 𝑅1𝑅2 ) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 28 Neste caso, observe que se o ponto 𝑃 estiver muito distante das cargas, o potencial neste ponto tende a zero. Contudo, podemos colocar o ponto 𝑃 suficientemente distante para que o potencial não seja zero, mas suficientemente perto para que possamos considerar os vetores entre as cargas e o ponto com sendo paralelos na proximidade da carga. Sendo assim: 𝑅1 − 𝑅2 = 𝑑 𝑐𝑜𝑠𝜃 Desta forma: 𝑉 = 𝑄𝑑𝑐𝑜𝑠𝜃 4𝜋𝜖0𝑟2 Usando o gradiente em coordenadas esféricas podemos encontrar 𝑬. 𝑬 = −∇𝑉 𝑬 = − ( 𝛿𝑉 𝛿𝑟 𝒂𝑟 + 1 𝑟 𝛿𝑉 𝛿𝜃 𝒂𝜃 + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝛿𝑉 𝛿𝜙 𝒂𝜙) CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 29 Substituindo: Voltando ao potencial 𝑉 , vamos escolher um dipolo onde 𝑄𝑑/4𝜋𝜖0 é igual a 1 e resolver a equação do potencial. 𝑉 = 𝑄𝑑𝑐𝑜𝑠𝜃 4𝜋𝜖0𝑟2 ∴ 𝑉 = 1 × 1 𝑟2 × 𝑐𝑜𝑠𝜃 Logo, como cos 𝜃 = 𝑉𝑟2, uma plotagem desta equação pode ser vista na figura a seguir, em que as linhas azuis indicam as linhas equipotenciais para valores diferentes de potencial elétrico. Observe também que o dipolo é vertical com carga positiva no topo e as linhas referentes ao campo elétrico, em preto, são obtidas das equações de campo elétrico em coordenadas esféricas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 30 Podemos simplificar o cálculo do campo potencial de um dipolo elétrico fazendo uso do momento do dipolo. Primeiro identificamos o vetor dirigido de −𝑄 para 𝑄 com a letra 𝒅 minúsculo e em negrito, para indicar vetor e não confundir com derivada. Definimos o momento do dipolo 𝑄𝒅 e representamos por 𝒑, de tal forma que: 𝒑 = 𝑄𝒅 Como 𝒅 ⋅ 𝑎𝑟 = 𝑑 𝑐𝑜𝑠𝜃 o potencial elétrico do dipolo é dado por: 𝑉 = 𝒑 ⋅ 𝒂𝑟 4𝜋𝜖0𝑟2 Que pode ser generalizado para qualquer dipolo por: 𝑉 = 1 4𝜋𝜖0|𝑟 − 𝑟′|2 𝑝 ⋅ 𝑟 − 𝑟′ |𝑟 − 𝑟′| Em que 𝑟 localiza o ponto 𝑃 e 𝑟′ localiza o centro do dipolo, independentemente de qualquer sistema de coordenadas. Observe que no caso do dipolo, o campo potencial decresce com o quadrado do inverso da distância mais rápido que o campo potencial proveniente de uma carga pontual. Note também que, como o momento do dipolo é o produto da carga pela distância, ele e o potencial não variarão quando a carga crescer ou a distância decrescer desde que o produto permaneça constante. Leitura Complementar: Se puder, leia o capítulo 4.e do livro do Hayt (2012), que demonstra alguns exemplos de dipolo elétrico. HAYT, W.; BUCK, J. A. Eletromagnetism. 8º. ed. New York, NY, USA: McGrawHill, 2012. Aprofunde os seus conhecimentos sobre o dipoloelétrico assistindo à explicação do professor Frank Coelho de Alcantara, no material online. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 31 Na Prática Uma aplicação direta dos conceitos de potencial elétrico é utilizada para proteger vidas e propriedades: o para-raios. Use os conhecimentos sobre eletrostática e potencial elétrico, adquiridos nesta aula e pesquise o funcionamento do para-raios. Será enriquecedor. Que tal um pouco de prática por meio de uma atividade? Uma carga pontual de 𝑄 = 12 𝑛𝐶 está localizada na origem. Quatro linhas de cargas uniformes e infinitas estão localizadas no plano 𝑥 = 0 segundo a seguinte distribuição: 80 𝑛𝐶/𝑚 em 𝑦 = −1 𝑚 𝑒 𝑦 = −5 𝑚 e 50 𝑛𝐶/𝑚 em 𝑦 = −2 𝑚 𝑒 𝑦 = −4 𝑚. Encontre a densidade de fluxo elétrico 𝑫 no ponto 𝑃(0, −3,2) e a intensidade e a direção do fluxo elétrico que atravessa o plano 𝑦 = −3 𝑚. Solução: Primeiro temos que encontrar a densidade de fluxo no ponto especificado. Podemos começar plotando as cargas e linhas no espaço. Observe que o ponto 𝑃(0, −3,2) se encontra equidistante de todas as linhas e que os componentes em x, y e z referentes as linhas será nulo. Logo a densidade de fluxo em 𝑃(0, −3,2) será devida apenas a carga pontual. Sendo assim: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 32 Neste caso, ainda falta encontrar o vetor unitário entre a carga 𝑄 = 12 𝑛𝐶 que está na origem e o ponto 𝑃(0, −3,2). 𝒂𝒓 = (0 − 0, −3 − 0,2 − 0) = −3𝒂𝑦 + 2𝒂𝑧 Agora podemos usar a Lei de Gauss para determinar a densidade de fluxo elétrico referente a uma carga elétrica pontual. Ψ = ∮ 𝑑Ψ = ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 = 𝑄𝑒𝑛𝑣 ∮ 𝑫𝑠 ⋅ 𝑑𝑠 = 𝑄𝑒𝑛𝑣 Se colocarmos uma superfície gaussiana de raio 𝑟 em torno desta carga pontual, podemos observar que, devido a simetria, a densidade superficial de fluxo 𝑫, devido a 𝑸, será constante em módulo e normal a esta superfície em qualquer ponto. Sendo assim: 𝑫𝑠 ∮ 𝑑𝑠 = 𝑄𝑒𝑛𝑣 𝑫𝑠4𝜋𝑟 2 = 𝑄𝑒𝑛𝑣 𝑫𝑠 = 𝑄𝑒𝑛𝑣 4𝜋𝑟2 𝒂𝑟 Ou: 𝑫𝑠 = 12 × 10−9(−3𝒂𝑦 + 2𝒂𝑧) 4𝜋(32 + 22)3/2 = −61,1𝒂𝑦 + 40,7𝒂𝑧 𝑝𝐶/𝑚 2 Síntese Você viu que cargas elétricas provocam um campo no espaço que atravessa superfícies próximas. Viu também como calcular o fluxo desse campo elétrico em superfícies diversas. Durante todo este processo, você estava sendo preparado para entender o potencial elétrico. Todos os seus projetos terão que levar em consideração o potencial elétrico. Será esse escalar que irá definir os limites de funcionamento dos seus circuitos. Nesta aula, você pôde aprender que o potencial elétrico não tem sentido se não considerarmos uma referência, o que te fez entender o porquê das tomadas de sua casa terem pelo menos dois fios, bem como o motivo de CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 33 usarmos um fio de aterramento. E, finalmente mergulhou na análise do dipolo elétrico. Esta foi uma jornada interessante. Observamos o trabalho de Gauss com superfícies fechadas e entendemos o teorema da divergência enquanto caminhávamos em direção as antenas de rádio transmissão. Agora fica fácil responder à pergunta que fizemos lá na contextualização, de como as antenas funcionam, não é mesmo? Solução: as antenas funcionam graças a existência de um dipolo elétrico que cria um campo elétrico em uma direção específica. Estamos formando a base do seu conhecimento de eletricidade e eletrônica. Foi uma honra poder acompanhá-los nesta jornada. Para finalizar, assista às considerações do professor Frank Coelho de Alcantara sobre os temas analisados nesta rota, no material online. Referências BAKSHI, U. A.; BAKSHI, A. V. Eletromagnetic Fields. Pune: Tchenical Publications Pune, 2000. EDMINISTER, J. A. Eletromagnetismo. [S.l.]: McGraw Hill, 1979. HAYT, W.; BUCK, J. A. Eletromagnetism. 8º. ed. New York, NY, USA: McGrawHill, 2012. JOHN D. KRAUS, K. R. C. Eletromagnetismo. 2º. ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1990. OPENSTAX - RICE UNIVERSITY. College Physics. Houston, TX, USA: Rice University, 2013. SADIKU, M. Elements of Electromagnetics. London, UK: Oxford University Press, 2014. TAFLOVE, A. Why Study Electromagnetics: The First Unit in an Undergraduate Electromagnetics Course. Evanston, IL, USA. 2002.
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