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Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre As Provas no Processo Penal - Conceito • Provar: demonstrar, no processo, a existência ou inexistência de um fato, a falsidade ou a veracidade de uma afirmação. • Prova: o instrumento pelo qual se tenta estabelecer a verdade de uma alegação ou de um fato. - Objeto • No processo, busca-se a reconstrução história do fato tido como criminoso. • Portanto, são objeto de prova: - Todos os fatos, acontecimentos, coisas e circunstâncias úteis e relevantes para formação da convicção do julgador acerca do ocorrido. • É através das provas que o juiz irá formular a solução cabível a cada ação penal • Não são objeto de prova: - Fatos inúteis à apuração da causa; - Fatos notórios (verdade sabida, senso comum); - Fatos sobre os quais exista presunção legal; • Ex.: inimputabilidade de menor de 18 anos. • Por outro lado, os fatos admitidos ou aceitos pelas partes (fatos incontroversos) precisam ser provados. - Sujeição ao princípio da verdade real - não pode o juiz tomar fato como verdadeiro somente pela alegação de veracidade formulada pelas partes. • Em regra, o direito não precisa ser provado, uma vez que se presume estar o juiz instruído sobre ele (jura novit curia). Há exceções no que tange às: - Leis estaduais e municipais; - Portarias e regulamentos; - Costumes e tradições; - Legislação estrangeira. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �1 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Meios de prova • Tudo que direta ou indiretamente seja útil na apuração da verdade real. O CPP enumera algumas delas (testemunhal, documental, pericial, etc). A enumeração não é taxativa, podem ser admitidos outros meios de prova não previstos na lei (provas inominadas). - Exemplo: filmagens, fotografias, etc. • Contudo, o princípio da verdade real não confere às partes ou ao juiz a faculdade de violar a lei para obtenção ou introdução de provas no processo (CF, art. 5º, LVI). São proibidas, portanto: - Provas ilícitas: aquelas em cuja obtenção há violação de norma de direito material, ou seja, foi obtida através de condutas ilícitas (geram nulidade absoluta). • Exemplo: prova obtida mediante tortura. - Provas ilegítimas: provas obtidas ou introduzidas aos autos com violação de regras do direito processual. Há violação de norma garantido de interesse vinculado ao processo e sua finalidade (geram nulidade relativa). • Exemplo: utilização no plenário de júri de prova juntada nos três dias que antecedem o julgamento; oitiva de testemunha que está proibida de depor, etc. - Observações: • Provas ilegítimas ou ilícitas, por serem vedadas, não poderão ser juntadas aos autos do processo. Se já juntadas, o juiz deverá determinar o desentranhamento destas. • Não se admite produção de prova com fundamentação no sobrenatural (previsão de vidente, profecias, presságios, etc.) ou que sejam incompatíveis com a dignidade humana. • Há tendência jurisprudencial e doutrinaria em considerar inadmissível a prova ilícita por derivação (Teoria dos frutos da árvore envenenada - theory of the fruits of a poisonous tree). Segundo esta teoria, a prova em si mesma lícita, mas que somente foi produzida em razão da preexistência de outra ilícita, deverá ser considerada ilícita também. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �2 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Divergência doutrinária e jurisprudencial, em relação à teoria acima explicada, se dá por força do princípio da proporcionalidade, que ensejaria na flexibilização da regra de vedação à admissibilidade da prova ilícita quando confrontada com princípios constitucionais mais pesados (presunção de inocência, garantia à liberdade, etc). • A lei 9.269/96 disciplinou as hipóteses e a forma em que é admitida a interceptação telefônica, para fim de investigação criminal ou instrução processual penal. O procedimento será sigiloso e correrá em autos apartados. Poderá o juiz portanto, de oficio ou a requerimento do MP/autoridade policial, determinar a interceptação, desde que: - O crime investigado seja apenado com reclusão; - Haja indícios razoáveis de autoria ou participação na infração; - Não exista outro meio de produzir a prova. - Finalidades das provas • Destinam-se a fornecer ao julgador, destinatário da prova, elementos suficientes para que possa conhecer a verdade acerca do fato delituoso, e, assim, aplicar o direito. - Sistemas de valoração das provas • Sistema das provas irracionais ou sistema ordálio - Adotado na antiguidade. A decisão acerca da veracidade dos fatos era entregue a um ser sobrenatural. Uma ou ambas as partes eram submetidas a uma prova, e o resultado desta determinaria quem estava com a razão. • Sistema da prova legal ou da certeza moral do legislador - A lei atribui a cada prova um valor, não podendo o juiz desvincular-se de tais parâmetros, não tendo poder para apreciação pessoal, seja ela motivada ou não. Utilizado principalmente nos séculos XIII a XVI. • Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do juiz - A lei atribui ao julgador a liberdade plena para avaliação das provas (valoração secundum conscientiam), não mostrando-se necessária a fundamentação da decisão. Vigora apenas no Tribunal do Júri, já que os jurados não precisam fundamentar sua decisão. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �3 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Sistema da livre convicção ou da persuasão racional do juiz - O l ivre convencimento, sistema consagrado pelos ordenamentos contemporâneos, é adorado como regra pelo CPP em seu art. 157. O juiz deverá sopesar todas as provas existentes nos autos, formando livremente seu convencimento, que deverá ser fundamentado e motivado (demonstração dos caminhos intelectuais que o levaram até a conclusão). - Ônus da prova • No processo penal vigora o princípio da comunhão da prova, segundo o qual os elementos de convicção servem a ambas as parte e não apenas ao sujeito que a produziu. • O art. 156 do CPP prevê que o ônus da prova da acusação recai sobre quem a fizer. Dessa maneira, a acusação deverá ser acompanhada das provas dos fatos constitutivos da pretensão punitiva (provas de autoria, materialidade, dolo ou culpa). • Cabe a defesa, por sua vez, provar eventuais fatos extintivos, impeditivos, ou modificativos do direito de punir postulado em juízo (excludentes de ilicitude, de culpabilidade, etc.). • Também segundo o art. 156, é permitido ao juiz que tome a iniciativa de determinar, de ofício, a produção de provas que entender relevantes. - Classificação das provas • Quanto à natureza - Direta - a prova, por si só, demonstra o fato controvertido. - Indireta - a prova demonstra um fato do qual se deduz o que deve ser provado. • Quando ao valor - Plena (ou perfeita, ou completa) - prova apta a conduzir o julgador a um juízo de certeza. - Não plena (ou imperfeita, ou incompleta) - traz apenas uma probabilidade acerca da ocorrência do fato e de sua autoria (ex.: indícios). PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �4 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Quanto à origem - Originária - quando não há intermediários entre o fato e a prova (ex.: testemunha presencial). - Derivada - quando há intermediação entre o fato e a prova. • Quanto à fonte - Pessoal - tem como fonte alguma manifestação humana (ex.: testemunho, confissão, documento redigido pela parte, etc.) - Real - tem como fonte a apreciação de elementos físicos distintos da pessoa humana (ex.: cadáver, arma do crime, padrão de manchas de sangue, etc.) - Prova emprestada ou trasladada • Aquela colhida em uma ação e transportadapara outro processo, no qual será utilizada. • Há divergências sobre a validade da prova emprestada: - Para alguns é valida somente quando se destina a gerar efeito contra uma das partes do processo originário no qual foi produzida, pois afirma-se que, em caso contrário, haveria violação do princípio do contraditório. - Momentos da atividade probatória • Requisição - Requerimentos das partes. • Admissibilidade - Julgador decide se a prova deve ou não ser admitida; • Produção - Juiz determina que certas provas deverão ser introduzidas no processo pelas partes; • Apreciação - Valoração das provas juntadas ao processo. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �5 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Espécies • Perícias em geral - Conceito e objeto • Exame realizado por pessoa com conhecimentos específicos sobre a matéria técnica (perito) útil para o deslinde da causa, destinado a instruir o julgador. • Pode ter como objeto: escritos, cadáveres, pessoas, lesionadas, instrumentos do crime, etc. - Laudo pericial • É o documento elaborado pelos peritos com base no que foi observado por ele. - Partes do laudo: • Preambulo; • Quesitos (reprodução dos quesitos formulados pelas partes); • Histórico; • Descrição - é a parte mais importante do laudo, em que o perito deverá transformar as sensações que teve durante o exame em palavras); • Discussão; • Conclusão; e, por fim, • Resposta aos quesitos - Realização da perícia • Pode ocorrer na fase de inquérito ou durante o processo, por determinação da autoridade policial (art. 6º, VII, CPP) ou do juiz (de oficio ou a requerimento das partes). • Não viola o principio do contraditório a realização de perícia na fase policial e a não repetição em juízo, pois pode-se apresentar quesitos (art. 176, CPP), criticar o laudo apresentado, requerer fundamentadamente a complementação ou realização de novo exame (art. 181, CPP), etc. • As partes não intervirão na nomeação dos peritos (art. 276, CPP). • A perícia devera ser realizada, em regra, por dois peritos oficiais (art. 159, CPP). Na sua falta, deverá a autoridade nomear duas pessoas idôneas e com formação especifica (peritos não oficiais), que prestarão compromisso. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �6 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • É nulo o exame pericial realizado por apenas um perito (Súmula 361 do STF). • Havendo divergência entre os peritos, será nomeado terceiro perito para se manifestar. • Caso haja necessidade de exame por carta precatória, o juízo deprecado nomeará os peritos. - Vinculação do juiz ao laudo • No Brasil foi adotado o sistema liberatório, segundo o qual o juiz, fundamentadamente, poderá rejeitar, no todo ou em parte, as conclusões dos peritos. • O laudo não vincula também os jurados de Tribunal do Júri. - Exame de corpo de delito • Art. 158 CPP: é obrigatória a realização de exame de corpo de delito, direto ou indireto, nas infrações que deixam vestígios (delitos não transeuntes - homicídio, estupro, lesões corporais, incêndios). • Art. 167 CPP: uma vez inviabilizada a realização do exame de corpo de delito pelo desaparecimento dos vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. - Para que se aceite a prova testemunhal é necessário que o desaparecimento não possa ser imputado aos órgãos estatais incumbidos da persecução penal. Assim, a demora injustificada na realização do exame e o consequente desfazimento dos elementos não autoriza a prova testemunhal. • Art. 564, III, b, CPP: A inexistência do exame nas infrações que deixam vestígios é causa de nulidade da ação penal. • O corpo de delito - Conjunto de elementos sensíveis (vestígios) deixados pelo crime, isto é, todas aquelas alterações perceptíveis no mundo fático, e derivadas da ocorrência do delito que, de alguma forma, comprovam a ocorrência do fato. • O exame de corpo de delito - É a atividade voltada para a captação dos vestígios acima mencionados, e posterior elaboração de documento que registre a existência destes (laudo). PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �7 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Exame de corpo de delito direto - Realizado sobre o proprio corpo de delito. • Exame de corpo de delito indireto - Realizado sobre dados e vestígios paralelos • Ex.: ficha médica da vítima • Necrópsia ou autópsia - Exame realizado para constatar a causa mortis • Exumação de cadáver - Desenterro de cadáver para realização de exame póstumo. • Exames e perícias específicos - Exame docuintentoscópico • Realizado para constatação de eventual falsidade material em crimes de falsificação de documentos. - Exame grafotécnico • Possibilita a apuração do responsável pelo preenchimento e lançamento de assinatura falsa em crimes de falsificação de documentos. - Exame complementar em crime de lesão corporal grave • Art. 168, § 2º, CPP: em crimes de lesão corporal grave que resultam na incapacidade da vitima para ocupações habituais por mais de trinta dias, deverá ser realizado exame complementar após o trigésimo dia. • Art. 181, CPP: exame complementar é necessário também quando há falha ou omissão no laudo primário, hipóteses em que o juiz poderá determinar ao perito que supra a formalidade faltante, complemente ou esclareça o laudo - Perícia em crime de furto mediante destruição ou rompimento de obstáculo • Art. 171, CPP: além de descrever os vestígios, os peritos deverão também indicar com que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �8 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Perícia em incêndios • Art. 173, CPP: peritos deverão verificar a causa e o lugar em que houver iniciado o incêndio, o perigo de dano que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio (ex.: risco iminente de queda do prédio, fuligem no ar), a extensão desse dano, o seu valor, e demais circunstancias que interessarem para a elucidação do fato. - Laudos técnicos de avaliação • Art. 172, CPP: deve ser realizada avaliação de coisas destruídas, deterioradas, subtraídas ou que constituam produto do crime. Se impossível a avaliação direta, os peritos deverão realizar a avaliação através dos elementos constantes dos autos e doa que resultarem das diligências. • Interrogatório - Conceito e natureza • Ato no qual o juiz ouve o acusado acerca da imputação que lhe é feita. • Tem natureza mista, pois é meio de prova e também meio de defesa. - Características • Ato personalissimo: só o reu pode ser interrogado; • Ato privativo do juiz: as partes não podem fazer perguntas; • Ato oral; • Ato não sujeito à preclusão: o acusado pode ser interrogado a qualquer tempo, até o transito em julgado da sentença. - Momento do interrogatório • O juiz, ao receber a denuncia, determina a citação do réu e designa data para realização do interrogatório. - Se o réu estiver preso, será apresentado nessa data. - Se estiver em liberdade e comparecer, proceder-se-á ao interrogatório. - Se estiver em liberdade mas tornar-se revela pelo não comparecimento na data designada, mas vier a ser preso, será interrogado na primeira oportunidade. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �9 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Art. 564, III, e, CPP: a falta de interrogatorio do reu presente é causa de nulidade absoluta do processo. • Art. 196, CPP: o juiz poderá proceder a novo interrogatório do réu a qualquer momento da ação, se entender necessária tal providência. - Silêncio e mentira do réu • Art. 5º, LXIII, CF/88:pode o réu, em exercício de autodefesa, permanecer calado, circunstancia essa que não poderá pesar em seu desfavor. • Desta maneira, a ele é conferido o direito de não responder a qualquer pergunta do juiz, o qual não advertira o acusado de que o silencio poderá ser interpretado em seu desfavor. - Infere-se, a partir deste dispositivo constitucional, que parte final do art. 186 do CPP não foi recepcionada pela CF. • Além do silêncio, o réu poderá mentir, sem que isso importe em qualquer consequência prejudicial a ele. • Observações: - O art. 194 CPP, que previa que o réu menor de 21 anos deveria ser interrogado na presença de seu curador, foi revogado pelo art. 59 do Código Civil. - No Estado de São Paulo, o interrogatório pode ser feito via carta precatória quando o réu residir em outra comarca (Provimento CXCI de 1984, do Conselho Superior de Magistratura do Estado de São Paulo). - Havendo mais de um réu, cada qual será interrogado separadamente. - Ao mudo deverão ser feitas perguntas orais que serão respondidas por escrito. Ao surdo, serão feitas perguntas por escrito e estas serão respondidas oralmente. Caso se trate de surdo-mudo, perguntas e respostas serão escritas. Caso seja o réu surdo-mudo seja analfabeto, haverá necessidade de auxilio de intérprete que o entenda. • Confissão - Conceito • Declaração, por parte do acusado, de verdade dos fatos criminosos cuja prática a ele foi imputada. É admissão, por parte do acusado, de que praticou a infração penal. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �10 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Momento e efeitos da confissão • Via de regra, ocorre no interrogatório, porém pode se dar em qualquer outra fase, caso em que será tomada por termo nos autos. • Art. 190 CPP: havendo confissão, o réu será especialmente perguntado sobre os motivos e circunstâncias do crime, bem como se outras pessoas concorreram para o delito. • Não existe confissão ficta em nossa legislação. Assim, ainda que o réu deixe o processo correr à revelia, não se presumem verdadeiros os fatos narrados na denúncia ou na queixa. • Confissão delatória / delação / chamada de co-réu: quando o réu, admitindo a prática da infração, incrimina também terceiro. • Confissão parcial/divisível/cindível - O réu pode se pronunciar segundo o critério da persuasão racional do juiz, isto é, confessar somente parte da conduta ou confessar um crime e negar outro (confissão parcial). - Deverá tal confissão parcial ser confrontada com o restante das provas, pois apesar de seu valor significativo, não constitui prova absoluta. - Não são precedidas de compromisso e não ensejam a responsabilização criminal • Classificação - Simples: quando o réu atribui a si mesmo a prática de um único delito. - Complexa: quando o acusado reconhece ser o autor de mais de uma infração. - Qualificada: ocorre quando o réu admite a autoria da conduta, porem alega em seu beneficio fato modificativo, impeditivo ou extintivo (excludente de ilicitude, culpabilidade, etc.) - Judicial: feita perante juízo. - Extrajudicial: feita durante o inquérito policial, fora do processo judicial, ainda que posteriormente anexada aos autos. • Características - Ato personalíssimo - só o réu pode confessar sobre sua conduta. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �11 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Espontaneidade e liberdade - a confissão deverá ser livre e espontânea para ser considerada válida, não pode ser forçada. - Retratabilidade - o réu pode voltar atrás em suas declarações. • Declarações do ofendido - Art. 201, CPP: o ofendido, pessoa titular do interesse jurídico violado pela conduta criminosa, sempre que possível, será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, sobre quem é ou quem ele presuma ser o autor do crime, bem como sobre as provas que possa indicar. - As declarações serão tomadas por termo. - Constituem prova de relevante valor. - Art. 201, parágrafo único, CPP: se devidamente intimado, deixar o ofendido de comparecer sem motivo justo, poderá ser determinada sua condução coercitiva. • Prova testemunhal - Conceito • Testemunha é a pessoa diversa dos sujeitos processuais (juiz e partes) chamadas a juízo para prestar informações sobre os fatos relacionados à infração. • Art. 213, CPP: a testemunha depõe, portanto, sobre o fato, não devendo manifestar suas apreciações pessoais sobre a narrativa do fato. • Art. 202, CPP: em princípio, toda pessoa poderá ser testemunha. • Art. 206, CPP: se arrolada, não poderá se eximir da obrigação de depor. - Podem recusar-se a testemunhar: o ascendente (pais) ou descendente em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, os irmãos e os filhos adotivos do acusado, SALVO quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias. • Art. 208, CPP: Se as pessoas acima desejarem depor, não será tomado o compromisso testemunhal, e, dessa maneira, estas serão ouvidas na condição de informantes, sendo relativo o valor de suas declarações. - Também serão ouvidos como informantes: incapazes (deficientes mentais e menores de 14 anos) PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �12 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Art. 207, CPP: estão proibidas de depor as pessoas que, em razão de sua função, ministério, oficio ou profissão, devam guardar segredo, salvo se desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar seu depoimento. • Art. 214, CPP: testemunha suspeita de parcialidade ou indigna de fé não está impedida de depor. Ela deverá ser objeto de contradita, que é o mecanismo processual destinado a arguir a suspeição de testemunha. - Contraditada a testemunha, se se tratar das previstas nos arts. 206 a 208 do CPP, haverá, de acordo com a hipótese, dispensa ou oitiva, independentemente de compromisso. - Não se cuidando de parentes do réu, deficientes mentais, menores de 14 anos ou de pessoas proibidas de depor, o juiz tomará o depoimento, valorando-o posteriormente. • Observações: - Art. 53, § 6º CF: deputados e senadores não são obrigados a depor sobre informações recebidas no desempenho de suas funções. - Lei nº 9.807/99: estatele normas para organização e manutenção de programas especiais de proteção à vítimas e testemunhas ameaçadas. - Classificação das testemunhas • Numerárias - arroladas de acordo com o numero legal. Devem ser indicadas na denuncia (testemunhas de acusação) ou defesa prévia (testemunhas de defesa), sob pena de preclusão. - O número de testemunhas varia de acordo com os procedimentos de ação penal. • Extranumerárias (ou do juízo) - são as testemunhas referidas, ouvidas pelo juiz, porque mencionadas no depoimento de outras testemunhas, ou aquelas que o juiz julgar importantes para descobrir a verdade, mas que não foram arroladas pelas partes (art. 209, CPP). • Informantes - pessoas ouvidas independentemente de compromisso. • Próprias - as que prestam depoimento sobre o fato apurado no processo. • Impróprias - as que prestam depoimento sobre um ato do processo. - Ex.: testemunha instrumentária do flagrante. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �13 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Diretas - quando não há intermediação entre o fato e o testemunho (testemunhas que presenciaram o fato). • Indiretas - quando a prova é derivada (testemunho de testemunho, quem “ouviu dizer”) - Características da prova testemunhal • Judicialidade - Só é prova testemunhal aquela colhida pelo juízo competente. O depoimento prestado em outra ação e transportado para o processo (prova emprestada) é considerado prova documental.• Objetividade - A testemunha deve expor os fatos de forma objetiva, sem emitir opiniões pessoais e de juízo de valor sobre o ocorrido. • Oralidade - O depoimento deve ser prestado verbalmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Pode, todavia, utilizar-se de breves anotações para consulta (art. 204, caput e parágrafo único, CPP). • Individualidade - Cada testemunha é ouvida isoladamente, de forma que uma não ouça o depoimento de outra. - Colheita do testemunho • Ordinariamente a testemunha é ouvida na sede do juízo. • Art. 215, CPP: o juiz reduzirá o depoimento a termo, devendo ater-se, tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente suas frases. • As partes, em seguida, poderão fazer as perguntas por intermédio do magistrado. - Se a testemunha for de acusação, é o MP (querelante) quem primeiro fará a pergunta. No caso de testemunha arrolada pelo acusado, a defesa perguntará em primeiro lugar. • Ao juiz incumbe zelar pela celeridade processual, indeferindo perguntas impertinentes ou repetidas. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �14 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • No Plenário do Júri, as perguntas poderão ser feitas diretamente pelas partes, cabendo ao juiz reduzi-las à termo. • Se a testemunha reside em outra comarca, será ouvida por intermédio de carta precatória. - A expedição da carta precatória não suspende a instrução criminal. - Art. 222, CPP: findo o prazo marcado pelo juízo deprecante para a devolução da carta, sem que esta tenha sido cumprida, o juiz poderá realizar o julgamento, mas a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será juntada aos autos. • Residindo a testemunha no interior, esta será ouvida através de carta rogatória. • Art. 220, CPP: as pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer ao fórum para depor, serão inquiridas onde estiverem. • Art. 219, CPP: se a testemunha intimada falta à audiência sem motivo justificado, poderão ser tomadas as seguintes medidas: condução coercitiva, multa, pagamento da diligência e responsabilização pelo crime de desobediência. • Art. 255, CPP: havendo razões para temer que uma ou mais testemunhas não possam depor no futuro, pode o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, ouvi-las antecipadamente. • Art. 217, CPP: se o juiz verificar que a presença do réu na sala de audiência, pela sua atitude, pode interferir no depoimento da testemunha, deverá determinar sua retirada, consignando no termo a ocorrência e os motivos que o levaram a adotar tal medida. • Art. 223: Caso a testemunha não fale português, o juiz deverá nomear intérprete. - Reconhecimento de pessoas e de coisas - Arts. 226 a 228, CPP • Reconhecimento de pessoas - Submeter o réu ao reconhecimento, por parte das testemunhas e do ofendido, possibilitando sua identificação como autor do delito. - Aquele que precisar fazer o reconhecimento deverá descrever, antes de ver a pessoa que deverá ser reconhecida. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �15 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Após o indivíduo cujo reconhecimento se pretender ser colocado, se possível, ao lado de outros que com ele pareçam, convida-se a pessoa a apontar quem ela reconhece como autor ou partícipe do crime. • É recomendável, e não obrigatório, que se coloquem outras pessoas ao lado do suspeito. A inobservância deste procedimento não acarreta em qualquer invalidade. - Na fase de inquérito policial, a autoridade deverá atentar para que a pessoa chamada a efetuar o reconhecimento não seja vista pelo suspeito, caso entenda que possa haver intimidação. - Finda a diligência, será lavrado auto pormenorizado. - Caso várias pessoas sejam chamadas para realizar o reconhecimento, cada uma delas deverá fazê-lo separadamente. - O reconhecimento fotográfico, apesar de não ser contemplado expressamente como meio de prova, é admitido como prova inominada. • Seu resultado deverá ser apreciado com cautela. • Retrato falado é meio investigativo, nunca probatório. • Reconhecimento de objetos - Art. 227, CPP: no reconhecimento de objetos, serão observadas as cautelas previstas para o reconhecimento de pessoas, no que forem aplicáveis. - A pessoa chamada a identificar um objeto deve descrevê-lo e, após isso, apontá-lo em meio a objetos semelhantes. • Também será lavrado auto pormenorizado - Caso várias pessoas sejam chamadas para realizar o reconhecimento, cada uma delas deverá fazê-lo separadamente. • Acareação - Conceito • Acarear = “colocar cara a cara”. • Ato consistente em colocar frente a frente duas ou mais pessoas que apresentaram versões essencialmente conflitantes sobre questão importante para a solução da lide. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �16 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Pressupostos • As pessoas submetidas à acareação já deverão ter sido ouvidas em oportunidade anterior; • Deve haver divergência entre as declarações dessas pessoas, referentes a ponto relevante para o resultado final do processo. - Sujeitos • A acareação pode ser admitida - Entre acusados; - Entre acusado e testemunhas; - Entre testemunhas; - Entre a acusado ou testemunha e a pessoa ofendida; - Entre as pessoas ofendidas. - Procedimento • As pessoas acareadas serão indagadas pelo juiz ou pela autoridade policial (fase do inquérito) acerca das divergências, devendo apontar as razões que dão base à versão apresentada, lavrando-se termo no qual constem estas explicações. - Observações • Art. 230 CPP: é possível a acareação entre sujeitos que se encontrem em comarcas diferentes, através de carta precatória. • Prova documental - Conceito • Documentos são os escritos. Podem ser instrumentos ou apenas papéis, públicos ou particulares, dos quais se pode extrair qualquer conclusão que represente um fato. - Instrumentos: documento elaborado com a finalidade de servir como prova do ato nele representado (prova pré-constituída). - Público: documento formado por pessoa investida em função pública, competente para a prática de tal ato. Dotado de fé pública. - Particular: documento editado por particular ou funcionário (nos casos que não se referem à sua atribuição). PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �17 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Documento em sentido amplo: todos os objetos, não só os escritos, aptos a corporificar uma manifestação humana (fotografias, vídeos, gravações de som, etc.). • Documento em sentido estrito: apenas os escritos. - Art. 232, CPP: adotado o sentido estrito no Código de Processo Penal. - CPP cuida das provas fotográficas e micrográficas em outros dispositivos (arts. 165 a 170). - Requisitos para a eficácia probante • Autenticidade - Quando o documento foi realmente formulado pelo autor nele indicado. • Veracidade - Quando, além de autêntico, retrata a verdade (ideologicamente íntegro). • Observação: documentos públicos, desde que observadas as formalidades legais, gozam de presunção juris tantum (relativa) de autenticidade e veracidade - fé pública. - Produção da prova documental - Produção espontânea - quando a exibição, leitura ou juntada é de iniciativa da parte. - Produção provocada (ou coacta) - quando o juiz, tomando conhecimento da existência de documento relacionado à ponto relevante para a resolução do caso, providencia sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das partes (art. 234, CPP). • Exceções - exemplo do art. 475, CPP: proibição de proceder-se, em plenário, à leitura ou exibição de documento que não tenha sido comunicado à parte contrária,com antecedência de pelo menos 3 dias. - Observações • Art. 236, CPP: documentos em idioma estrangeiro deverão ser traduzidos por tradutor público, ou, na falta deste, por pessoa nomeada pelo juiz, para que todos possam compreender o seu teor • Não é admitida a juntada de documento por meio ilícito. • Art. 238, CPP: Os documentos originais que não necessitem permanecer juntados poderão ser desentranhados e devolvidos às partes, ficando traslado nos autos. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �18 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre • Art 232, parágrafo único, CPP: a cópia autenticada de documento original tem o mesmo valor do que este. • Indícios - Conceito • Art. 239, CPP: circunstâncias conhecidas e provadas que, tendo relação com o fato, autorizam, por indução, concluir-se pela existência de outra ou outras circunstâncias. • Elementos que não se relacionam diretamente ao fato mas que, por via de raciocínio lógico, permitem a formação de convicção acerca de algum aspecto da infração. - Exemplos: a conhecida inimizade entre o réu e a vítima, a existência de um amante, ameaças do réu contra a vítima documentadas em conversas nas redes sociais, etc. - Valor • Em razão de ser livre o convencimento do magistrado, os indícios são equivalentes a qualquer outro meio de prova. • Para que embasem uma sentença condenatória, é necessário que eles se mostrem conectados com as demais provas, entre si mesmos, e que sejam unívocos (não deve haver divergências sobre eles). • Busca e apreensão - Conceito • Providência destinada a encontrar e conservar pessoas ou bens que interessem ao processo criminal. - A diligência de busca pode não resultar na apreensão (busca negativa). - Oportunidades de realização • A diligência de busca e apreensão pode ser realizada: - Em momento anterior à instauração de inquérito policial, se a autoridade policial tiver conhecimento da existência de infração penal cuja ação é pública incondicionada; - Durante o inquérito policial; - No curso do processo penal. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �19 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Mesmo podendo ser realizada a qualquer momento, via de regra, a busca e apreensão mostra-se como procedimento cautelar, tendente a impedir o perecimento de um meio de prova. - Espécies • Art 240, caput, CPP: busca domiciliar e busca pessoal • Busca domiciliar - incisos do §1º do art. 240 (rol taxativo) - Deve ser fundamentada, e é admissível nas seguintes situações: • Prender criminosos; • Apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; • Apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação, e objetos falsificados ou contrafeitos; • Apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados à fins delituosos; • Descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu; • Apreender pessoas vítimas de crimes; • Colher qualquer elemento de convicção. • Busca pessoal - incisos do § 2º do art. 240 - Consiste na revista do corpo da pessoa, suas vestes, bolsas, pastas, veículos, etc. - Exige o fumus boni iuris • Art. 249, CPP: lei prevê que a busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar em retardamento ou prejuízo da diligência. - Art. 243, CPP: deve haver mandado assinado pelo juiz, contendo: • Inciso I: o nome da pessoa na qual será realizada a busca ou os sinais que a identifiquem. • Inciso II: menção do motivo e finalidades da diligência. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �20 Direito Processual Penal II Victória Barbosa Bonfim Resumo - 2º bimestre - Ressalva - art. 244, CPP: dispensa-se o mandado quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito de alguma infração penal, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. - Pode ocorrer quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo: • Arma proibida; ou • Objetos relacionados com infração penal. PUC-SP - 8º Semestre Prof. Des. Hugo Crepaldi Neto �21
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