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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL FRATURAMENTO HIDRÁULICO APLICADO A GÁS DE FOLHELHO: ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS. JORDANA GARRIDO SILVA SABA ORIENTADOR: MANOEL PORFÍRIO CORDÃO NETO MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL II EM ENGENHARIA CIVIL NA ÁREA DE GEOTECNIA BRASÍLIA/DF: NOVEMBRO/2014 ii UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL FRATURAMENTO HIDRÁULICO APLICADO A GÁS DE FOLHELHO: ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS. JORDANA GARRIDO SILVA SABA MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL. APROVADA POR: ___________________________________________ MANOEL PORFIRIO CORDÃO NETO, DSc (ORIENTADOR) ___________________________________________ Sylvia Brand, MSc (EXAMINADOR INTERNO) Letícia Moraes, BSc (EXAMINADOR EXTERNO) DATA: BRASÍLIA/DF, 09 DE DEZEMBRO DE 2014. iii FICHA CATALOGRÁFICA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA SABA, J. G. S. (2014). Fraturamento hidráulico aplicado a gás de folhelho: aspectos teóricos e práticos. Monografia de Projeto Final 1, Publicação G.PF-001/14, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 77 p. CESSÃO DE DIREITOS NOME DA AUTORA: Jordana Garrido Silva Saba TÍTULO DA MONOGRAFIA DE PROJETO FINAL: fraturamento hidráulico aplicado a gás de folhelho: aspectos teóricos e práticos. GRAU / ANO: Bacharel em Engenharia Civil / 2014 É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta monografia de Projeto Final e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta monografia de Projeto Final pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor. ______________________________________ Jordana Garrido Silva Saba Universidade de Brasília SQSW QD 103 Bl A apt 605 Sudoeste 70670-301 Brasília/DF JORDANA GARRIDO SILVA SABA Fraturamento hidráulico aplicado a gás de folhelho: aspectos teóricos e práticos, 77p., 210x297 mm (ENC/FT/UnB, Bacharel, Engenharia Civil, 2014, Monografia de Projeto Final-Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. 1. Petróleo 2.Gás de Folhelho 3.Fraturamento hidraulico 4.Modelagem I. ENC/FT/UnB II. Título (série) iv RESUMO Neste trabalho estudam-se os reservatórios não convencionais de petróleo, com foco em gás de folhelho e no método de extração desse gás, denominado fraturamento hidráulico. Para alcançar o foco do trabalho, é feita uma abordagem básica sobre engenharia de petróleo. Inicialmente a área de engenharia de petróleo desenvolvida no projeto remete ao processo de produção de petróleo. As etapas desse processo são: prospecção, perfuração e produção. No entanto a etapa mais interessante para esse estudo é a produção, etapa onde pode ser aplicado o método de fraturamento hidráulico. No trabalho também são apresentadas as etapas de formação do petróleo: geração, migração, acumulação e preservação. O petróleo não convencional de folhelho passa pelas mesmas fases, no entanto, o processo de migração é diferente do petróleo convencional. Ao invés de migrar para uma formação mais permeável e porosa, ela migra para uma rocha de baixa permeabilidade ou impermeável, dificultando a produção. Isso dificulta a extração do óleo/gás de folhelho, gerando a necessidade do uso da técnica de fraturamento hidráulico. O fraturamento hidráulico é uma técnica de estimulação de poço, que consiste em injetar um fluido viscoso sob pressão na rocha. O diferencial de pressão gerado pela injeção do fluido inicia uma fratura que se propaga pela rocha, facilitando a extração dos hidrocarbonetos presentes na rocha. Embora seja uma técnica muito eficiente para a estimulação de poços, gera muitas polêmicas ambientais, relacionadas à contaminação de lençóis freáticos. Em alguns países como a França, o fraturamento hidráulico é proibido por lei. Para projetar a perfuração de poço por meio de fraturamento hidráulico é necessário conhecer como a fratura se propaga e para calcular isso há vários métodos, sendo que um dos mais difundido na indústria petrolífera é o PKN. Este método considera que a fratura tem seção elíptica. Neste trabalho foram usadas duas formulações para calcular a propagação das fraturas, além disso, o leak off e a poroelasticidade foram consideradas nos cálculos. Os resultados apresentados demonstram que a formulação utilizada interfere nos resultados finais. Outro aspecto importante é que a simplificação da secção elíptica para uma secção na forma de losango, proposta por Morais (2013), leva a resultados satisfatórios. Além disso, a consideração ou não dos efeitos da poroelasticidade na formulação podem levar resultados distintos. v ABCTRACT In this project is studied the unconventional oil reservoirs, with a focus on shale gas and the gas extraction method known as hydraulic fracturing. However, to achieve the focus of the project, a basic approach to petroleum engineering is done. The area of petroleum engineering developed in the project refers to the oil production process. The main steps of this process are: exploration, drilling and production. However, the most interesting for this study is the production step, where the hydraulic fracturing method can be applied. The oil goes through several stages until it is ready to be explored, the stages are: generation, migration, accumulation and preservation. The unconventional shale oil/gas goes through the same phases, however, the migration process is different from conventional oil. Instead of moving to a more porous and permeable formation, it migrates to a rock of low permeability or impermeable, getting stuck inside this formation. This complicates the extraction of shale oil/gas, generating the need to use the technique of hydraulic fracturing. Hydraulic fracturing is a well stimulation technique, which consists of injecting a viscous fluid under pressure into the rock, the pressure differential generated by the injection of the fluid initiates a fracture that propagates through the rock, thus facilitating the extraction of the hydrocarbons present in it. Although it is a very effective technique for well stimulation, generates many environmental controversies related to contamination of groundwater. In some countries such as France, hydraulic fracturing is prohibited by law. To design the well drilling using hydraulic fracturing is necessary to know how the fracture propagates. To calculate this, there are several methods, but the most widespread in the petroleum industry is the PKN. This method considers that the fracture has an elliptical section. In this work two formulations were used to calculate the propagation of fractures besides the leak off and poroelasticity were taken in account in the calculations. These results demonstrate that the formulation used affects the final results. Another important aspect is that the simplification of the elliptical section to a section in the form of diamond, proposed by Morais (2013), leads to satisfactory results. Furthermore,the use of poroelasticity in the formulation may take different results. vi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 1.1 CONTEXTO GERAL .............................................................................................................................. 1 1.2 MOTIVAÇÃO .......................................................................................................................................... 2 1.3 OBJETIVO ............................................................................................................................................... 3 1.4 ESTRUTURA DO PROJETO................................................................................................................. 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - EXPLORAÇÃO DE RESERVATÓRIOS CONVENCIONAIS .................................................................................................................. 4 2.1 PROSPECÇÃO DO PETRÓLEO .......................................................................................................... 4 2.1.1 MÉTODOS DE PROSPECÇÃO ........................................................................................................... 6 2.2 PERFURAÇÃO ........................................................................................................................................ 8 2.3 PRODUÇÃO DE PETRÓLEO ............................................................................................................... 9 2.3.1 COMPLETAÇÃO DE POÇOS ............................................................................................................. 9 2.3.2 ESTIMULAÇÃO ................................................................................................................................. 10 2.3.3 RECUPERAÇÃO ................................................................................................................................ 12 2.3.3.1 RECUPERAÇÃO PRIMÁRIA ................................................................................................... 12 2.3.3.2 RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA ............................................................................................. 14 2.3.4 PROCESSAMENTO PRIMÁRIO ....................................................................................................... 15 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - RESERVATÓRIOS NÃO CONVENCIONAIS ... 16 3.1 TEORIAS DE FORMAÇÃO DO PETRÓLEO .................................................................................. 19 3.2 ELEMENTOS EXCENCIAIS DE UM SISTEMA PETROLÍFERO ................................................ 22 3.3 PROCESSOS EXCENCIAIS NA FORMAÇÃO DE HIDROCARBONETOS ................................ 23 3.4 TRANSFORMAÇÃO DA MATÉRIA ORGANICA NAS BACIAS .................................................. 24 3.4.1 DIAGÊNESE ....................................................................................................................................... 24 3.4.2 CATAGÊNESE ................................................................................................................................... 25 3.4.3 METAGÊNESE ................................................................................................................................... 26 3.5 MIGRAÇÃO ........................................................................................................................................... 26 3.5.1 MIGRAÇÃO PRIMÁRIA ................................................................................................................... 27 3.5.2 MIGRAÇÃO SECUNDÁRIA ............................................................................................................. 27 3.5.3 MIGRAÇÃO DO GÁS DE FOLHELHO ............................................................................................ 28 3.6 GÁS DE FOLHELHO NO CONTEXTO MUNDIAL ........................................................................ 28 3.6.1 A REVOLUÇÃO DO GÁS DE FOLHELHO NOS ESTADOS UNIDOS ......................................... 31 3.6.2 GÁS DE FOLHELHO NA EUROPA .................................................................................................. 34 3.6.3 GÁS DE FOLHELHO NO RESTANTE DO MUNDO ...................................................................... 35 3.6.4 GÁS DE FOLHELHO NO BRASIL ................................................................................................... 37 vii 3.7 VIABILIDADE DO GÁS DE FOLHELHO ........................................................................................ 38 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA- FRATURAMENTO HIDRÁULICO ...................... 43 4.1 ETAPAS DO FRATURAMENTO HIDRÁULICO ............................................................................ 44 4.1.1 SELEÇÃO DO POÇO PARA FRATURAMENTO ............................................................................ 44 4.1.2 PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO ................................................................................................. 45 4.1.2.1 COLETA DE DADOS ................................................................................................................ 45 4.1.2.2 ESCOLHA DO FLUIDO DE FRATURAMENTO .................................................................... 45 4.1.2.3 ESCOLHA DO AGENTE PROPANTE ..................................................................................... 46 4.1.3 PERFURAÇÃO DO POÇO ................................................................................................................. 47 4.2 DIFICULDADES NO PROCESSO DE FRATURAMENTO HIDRÁULICO ................................. 49 4.3 ASPECTOS SÓCIO-AMBIENTAL ..................................................................................................... 49 4.3.1 IMPACTOS AMBIENTAIS ................................................................................................................ 49 4.3.2 IMPACTOS SOCIAIS ......................................................................................................................... 52 5- SIMULAÇÃO DO MODELO PKN CONSIDERANDO O LEAK OFF ...................... 53 5.1 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA POR DETOURNAY MODIFICADO POR MORAIS (2013) ........ 53 5.1.1 DINÂMICA DOS FLUIDOS .................................................................................................................. 53 5.1.2 BALANÇO DE MASSA ......................................................................................................................... 54 5.1.3 PRESSÃO-ABERTURA DA FRATURA ............................................................................................... 54 5.1.4 RESOLUÇÃO DO PROBLEMA (Detournay modificado por Morais, 2013) ........................................ 56 5.1.4.1- CONDIÇÕES DE CONTORNO ..................................................................................................... 57 5.1.4.2 MUDANDO AS COORDENADAS DO SISTEMA ........................................................................ 58 5.2 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA KOVALYSHEN & DETOURNAY (2009) ...................................... 59 5.3 SIMULAÇÃO DO MODELO PKN ............................................................................................................. 61 5.3.1- COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS DE DETOURNAY MODIFICADO POR MORAIS (2013), KOVALYSHEN & DETOURNAY (2009) E SOLUÇÃO ANALÍTICA. ........................................... 61 5.3.2 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO LEAK OFF NA ABERTURA, NA PRESSÃO E NO COMPRIMENTO DA FRATURA ................................................................................................................... 68 6- CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...........................71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 73 viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Etapas do processo de exploração do petróleo Figura 2.2 - Método sísmico realizado em terra Figura 2.3 – Método sísmico realizado na água Figura 2.4 - Método gravimétrico Figura 2.5- Método rotativo de perfuração Figura 2.6 - Completação de poços quanto ao revestimento de produção Figura 2.7- Zonas suplementadas simples Figura 2.8- Método de fraturamento hidráulico Figura 2.9- Mecanismo de gás em solução Figura 2.10- Recuperação primária por mecanismo de capa de gás Figura 2.11- Recuperação primária por mecanismo de influxo de água Figura 2.12- Método convencional de recuperação secundária por injeção de água Figura 2.13- Método térmico de recuperação secundária por injeção de gás Figura 3.1- Fonte não convencional de hidrocarbonetos chamada Gelo e fogo Figura 3.2- Fonte não convencional de hidrocarbonetos chamada Gelo e fogo Figura 3.3- Areias betuminosas Figura 3.4- Fraturamento hidráulico Figura 3.5- Folhelho de Utica Figura 3.6- Linha do tempo das principais teorias de formação do petróleo Figura 3.7- Principais tipos de migração do petróleo Figura 3.8- Bacias com formações de folhelho avaliadas Figura 3.9- Distribuição de gás de folhelho na China Figura 3.10- Mapa da região “Vaca Muerta”, maior bacia de folhelho da Argentina. Figura 3.11- Mapa de distribuição de gasodutos nos Estados Unidos da América. Figura 4.1- Estrutura do fluxo para um poço não faturado e um fraturado Figura 4.2- Tensões que atuam nas rochas das formações Figura 4.3- Composição básica dos fluídos de fraturamento Figura 4.4- Fraturamento hidráulico Figura 4.5- Mapa referente à formação folhelho de Macellus Figura 4.6- Protestos contrários ao fraturamento hidráulico Figura 5.1 Função evolucional da poroelasticidade (Xiang, 2011) Figura 5.2 Função evolucional adotada (Morais, 2013). ix Figura 5.3 Seção transversal da fratura (Morais, 2013). Figura 5.4 Modelo unidimensional da seção da fratura. Figura 5.5 Script do código utilizado para solucionar o problema de modo semelhante ao realizado por Moraes (2013). Figura 5.6 Script do codigo utilizado para solucionar o problema de modo semelhante ao realizado por Kovalyshen & Detournay (2009). Figura 5.7 Variação da abertura (w) na ponta da fratura versus tempo. Figura 5.8 Variação da pressão (P) na ponta da fratura versus tempo. Figura 5.9 Variação do comprimento (L) da fratura versus tempo. Figura 5.10 Gráfico Coeficiente de vazamento versus abertura na ponta da fratura. Figura 5.11 Gráfico Coeficiente de vazamento versus Pressão na ponta da fratura. Figura 5.12 Coeficiente de vazamento versus comprimento da fratura. LISTA DE TABELAS Tabela 3.1- Nível de maturação em cada estágio de alteração da matéria orgânica. Tabela 3.2- Recursos tecnicamente exploráveis de gás e óleo de folhelho no contexto mundial total. Tabela 3.3- Ranking dos países com as maiores reserva de folhelho do mundo. Tabela 5.1- Dados de entrada para verificação e simulação do problema Tabela 5.2- Dados de entrada para verificação e simulação do problema. LISTA DE SÍMBOLOS H altura da fratura w abertura da fratura Q0 vazão de injeção do fluido p0 poro pressão inicial da formação Cl coeficiente de vazamento L comprimento da fratura pf pressão do fluido na fratura q fluxo por unidade de altura da fratura x n constante para fluidos viscosos K constante para fluidos viscosos ψ fator de forma u velocidade do vazamento do fluido τ tempo de chegada da ponta da fratura em x (pf-σ0) tensão líquida (pf-p0) pressão líquida Mc rigidez da fratura η coeficiente poroelástico w_m abertura média L0 comprimento inicial q00 fluxo inicial w0 abertura inicial pf0 pressão inicial do fluido LD comprimento adimensional wD abertura adimensional pD pressão adimensional tD tempo adimensional E módulo de Young v coeficiente de Poisson c coeficiente de difusividade 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO GERAL Os combustíveis fósseis são essenciais para garantir o desenvolvimento de um país. A maioria das nações são dependentes de energia para mover sua indústria e economia. O petróleo é aplicado não só na indústria energética, mas também na indústria de fabricação de vários produtos, tendo seus derivados uma infinidade de empregos. Países que não tem acesso ao petróleo sofrem economicamente, politicamente e socialmente. Na grande maioria dos países, um corte no suprimento de combustíveis fósseis, causaria graves consequências econômicas. O petróleo é uma mistura complexa de hidrocarbonetos e derivados orgânicos oxigenados, sulfurados ou/e nitrogenados. O termo petróleo engloba todas as formas naturais de hidrocarbonetos (gasoso, líquido e sólido). É um recurso natural, abundante na Terra, mas esgotável, considerado uma energia não renovável. Apesar de o petróleo ser extremamente importante para todas as nações do mundo, ele não está igualmente distribuído entre elas. As nações participantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) possuem as maiores reservas de petróleo convencional explorável do mundo. Essas reservas estão localizadas no oriente médio, cujos países membros da OPEP são Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait, Catar, na África os países membros são Angola, Argélia, Líbia e Nigéria, por fim os países membros da América do Sul são Venezuela e Equador. Outras nações que controlam o suprimento de combustíveis fósseis do mundo são as produtoras de gás natural, as três maiores potências em produção de gás são a Rússia, o Irã e o Catar, sendo que os dois últimos também participam da OPEP (Barbosa, 2012). Os países citados sofrem com instabilidades políticas e econômicas, gerando um risco de abastecimento aos países importadores de petróleo. Esse risco levou a busca de novas fontes de combustíveis e de energia, sejam elas renováveis ou não. Além do risco na segurança de abastecimento energético, a possibilidade de tornar-se energeticamente independente atrai os países a busca de novas fontes energéticas. Embora as fontes de energia renováveis cumpram um importante papel na substituição de petróleo como fonte energética, elas não são suficientes para suprir a demanda energética e industrial. A partir disso, surge a necessidade de explorar novas fronteiras no 2 território de produção de petróleo, como extrair petróleo de reservatórios em águas profundas, usar técnicas de estimulação de poço e buscar novas fontes não convencionais de hidrocarbonetos. Dentre as fontes não convencionais de hidrocarbonetos está o gás e óleo de folhelho. São combustíveis fósseis com origem e composição semelhantes ao petróleo convencional, mas que se diferenciam na forma como são armazenados na natureza. As formações folhelho são compostas por rochas impermeáveis ou de baixa permeabilidade, portanto exigem operações de estimulação de poços para que possam produzir petróleo. No caso de folhelhos, a tecnologia usada é o fraturamento hidráulico. Essa técnica consiste na injeção de um fluido viscoso sob pressão e vazão pré-determinados em projeto, gerando uma fratura que se propaga pela rocha durante a injeção do fluido. Os estudos de estimulação de poço são bastante avançados nos Estados Unidos, país que sofreu uma grande revolução energética nos últimos 14 anos, graças a exploração do gásde folhelho em seu território. 1.2 MOTIVAÇÃO Embora o tema petróleo seja um tema explorado por pesquisadores da Universidade de Brasília, há poucos estudos voltados para exploração de reservatórios de petróleo não convencional. A técnica de estimulação de poço, além de possibilitar a exploração de fontes não convencionais de petróleo, pode elevar o fator de recuperação de petróleo de um reservatório, tornando os poços pré-existentes mais rentáveis. Assim, pretende-se com este trabalho gerar um estudo por meio de levantamento bibliográfico sobre a exploração de reservatórios não convencionais e a técnica de fraturamento hidráulico, usada para a prospecção de petróleo nesses reservatórios. Por fim, cabe destacar que embora o fraturamento hidráulico seja estudado desde a década de 70, ainda é uma técnica recente, cujas consequências são difíceis de prever com precisão, já que o processo de fraturamento ocorre em grandes profundidades. Essa imprevisão nas dimensões da propagação da fratura abre um novo campo de estudo, que será feito no decorrer desse trabalho. 3 1.3 OBJETIVO O objetivo geral deste trabalho é estudar e analisar como a extração de petróleo não convencional tem afetado o mercado energético mundial e como é o mecanismo de fraturamento hidráulico. Os objetivos específicos do trabalho são: Realizar uma revisão bibliográfica sobre engenharia de petróleo, enfatizando a área de exploração de petróleo; Realizar uma revisão bibliográfica sobre reservatórios não convencionais, com foco voltado para o gás de folhelho; Realizar uma revisão bibliográfica sobre as técnicas de estimulação de poço, com ênfase no método de fraturamento hidráulico. Realizar a modelagem do processo de fraturamento hidráulico utilizando métodos já disponíveis na literatura. 1.4 ESTRUTURA DO PROJETO O projeto será estruturado da seguinte forma: Capítulo 1- Introdução- Apresentação do tema estudado, contextualização, motivação para o estudo do tema e os objetivos do trabalho. Capítulo 2- Revisão bibliográfica- Exploração do petróleo convencional- O capítulo versa sobre as etapas de exploração de petróleo convencional: prospecção, perfuração e produção, com o objetivo de comparar a técnica de exploração convencional com a técnica de estimulação de poços. Capítulo 3- Revisão bibliográfica- Reservatórios não convencionais- Neste capítulo, além da abordagem dos aspectos técnicos dos reservatórios não convencionais, tendo como foco o gás de folhelho, também é feito um estudo sobre como essa nova fonte de combustível fóssil tem afetado os Estados Unidos, país pioneiro na exploração do gás de folhelho, e o resto do mundo. Capítulo 4- Revisão bibliográfica de fraturamento hidráulico- O capítulo aborda os principais fundamentos e conceitos para o entendimento da técnica de fraturamento hidráulico. Capítulo 5- Simulação do modelo PKN considerando o leak off – Neste capítulo foram realizadas simulações para verificar como a fratura se propaga ao longo do tempo. 4 Capítulo 6- Conclusões e sugestões para trabalhos futuros- É o último capítulo. Ele contém as conclusões obtidas neste estudo e oferece sugestões de trabalhos a serem futuramente desenvolvidos nessa área 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - EXPLORAÇÃO DE RESERVATÓRIOS CONVENCIONAIS Neste capítulo serão objeto de estudo as etapas de exploração dos reservatórios convencionais de petróleo. São elas: prospecção, perfuração e produção. Será dado um enfoque maior na etapa de produção, que envolve os métodos de estimulação de poços de petróleo. A figura 2.1 contém uma representação geral das etapas de exploração de reservatórios convencionais. Todas as etapas do processo de exploração do petróleo estão representadas na Figura 2.1. 2.1 PROSPECÇÃO DO PETRÓLEO A prospecção é a primeira atividade a ser realizada em m potencial campo de exploração de petróleo, sendo a técnica que envolve mapear, estudar e fazer uma caracterização do terreno para identificar se há reservas de petróleo ou gás natural na área avaliada. Além da descoberta de novas jazidas, a prospecção envolve a obtenção de dados como a extensão, profundidade e espessura das camadas de solo, o nível do lençol freático e a profundidade da rocha reservatório. Desta forma, é possível prever os locais com maior probabilidade de encontrar petróleo e iniciar as atividades de perfuração. Os métodos de prospecção dividem-se em potenciais e sísmicos. Os métodos mecânicos envolvem sondagens, galerias, valas, trincheiras e poços, os métodos geofísicos envolvem refração e reflexão física, resistividade elétrica, métodos eletromagnéticos, métodos gravimétricos, métodos magnéticos, métodos radiométricos e sondagens geoelétricas (Morais, 2013). 5 Figura 2.1 Etapas do processo de exploração (Morais, 2013) Prospecção Métodos Potenciais Métodos Sísmicos Perfuração Método Percursivo Método rotativo Equipamentos de perfuração Produção Completação de poços Métodos de completação Estimulação Fraturamento Hidráulico Acidificação da matriz Fraturamento ácido Amortecimento de poços Recuperação Recuperação primária Recuperação secundária métodos convencionais métodos especiais Processamento Primário Separadores Tratamento de emulsões 6 Para a construção dos mapas base ou topográficos é usada a aerofotogrametria; método que consiste em fotografar ao sobrecoar a área com equipamento qualificado para a tarefa. Também é usada a fotogeologia, que determina as feições geólogicas, também através de fotos aéreas, muito usadas em regiões áridas, sem cobertura vegetal, pois permite a identificação imediata da formação rochosa presente. Imagens de satélites são outro instrumento para traçar os mapas de exploração. 2.1.1 MÉTODOS DE PROSPECÇÃO Dentre os métodos da etapa de prospecção, destacam-se os métodos sísmicos que são os mais utilizados. Atualmente recebem mais de 90% dos investimentos na área, pois fornecem boas estimativas da geologia local. Os métodos sísmicos adotam os fenômenos de propagação de ondas elásticas para identificar a composição do subsolo. Esse método é baseado no fato de as ondas mecânicas se propagarem em profundidade e velocidade diferentes, de acordo com a composição da matéria. São emitidos sinais na superfície por uma fonte geradora (dinamite e vibrador para exploração em terra e ar comprimido para levantamentos marítimos) que se propagam pelo solo e pelas rochas, até serem refletidas ou refratadas e voltarem para a superfície, para serem captadas por sensores (geofones), que registram as chegadas dos impulsos ondulatórios. A interpretação dos geofones fornece informações a respeito dos materiais no subsolo (Morais, 2013). Na Figura 2.2 pode-se observar a aplicação do método sísmico em terra e na Figura 2.3, pode-se observar a aplicação do método realizado na água. Figura 2.2 Método sísmico realizado em terra. (Vasco de la Energia, 2013). 7 Figura 2.3 Método sísmico realizado na água (Environmental Protection Agency, 2013). Outros métodos que compõe a prospecção são os métodos potenciais, conhecidos como magnetometria e gravimetria. Ambos são relevantes por revelar grandes formações geológicas que não podem ser observadas na superfície, viabilizando o mapeamento apropriado da região estudada. A gravimetria (Figura 2.4) é a área da geofísica que estuda variações da aceleração da gravidade ponto a ponto sobre a superfície da terra, utilizando as variações de densidade da superfície para prever alocalização do petróleo (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, [s. d.]). O equipamento usado na gravimetria chama-se gravímetro, que é um instrumento de medição de aceleração de gravidade. A magnetometria identifica as mínimas variações no campo magnético da terra. As rochas possuem diferentes valores de susceptibilidade magnéticos, tornando possível identificar rochas reservatório (Morais, 2013). Figura 2.4 Exemplo de mapa gerado a partir do método gravimétrico (USP, 2013). 8 2.2 PERFURAÇÃO A perfuração consiste em um conjunto de técnicas utilizadas para ultrapassar as barreiras geológicas criadas na natureza, até que se atinja a rocha reservatório, podendo ser realizada em terra ou em zonas marítimas (Santos 2007). Há dois métodos de perfuração de poços de petróleo, o primeiro é o percussivo e o segunto é o rotativo. O método percussivo é feito por golpeamento da rocha com uma broca, levando a sua fragmentação. Os cascalhos são retirados posteriormente a perfurção, com uma ferramenta chamada caçamba. O método rotativo utiliza uma broca em movimento rotativo, levando ao esmerilhamento da rocha (Halliburton, 1997 ). Os fragmentos gerados pela rotação são retirados pelo bombeamento de fluidos na coluna de perfuração. A Figura 2.5 apresenta os equipamentos usados durante a perfuração pelo método rotativo. Figura 2.5 Método rotativo de perfuração (Galp Energia, 2013). Os elementos da Figura 2-5 estão descritos a seguir : 1 Sistema de sustentação de cargas: Sustenta a coluna de perfuração e as tubagens de proteção (casing). 2 Sistema de movimentação de cargas: Através de cabos, permite a movimentação da coluna de perfuração e do casing. 3 Sistema de rotação: Induz a rotação da broca, que contribui para perfurar a formação. 9 4 Sistema de circulação: Permite a circulação e o tratamento do fluido de perfuração. 5 Sistema de geração e transmissão de energia: A energia, proveniente de motores a diesel ou energia elétrica, aciona todos os equipamentos da sonda. 6 Sistema de segurança do poço: Permite o controle e fechamento do poço, quando ocorre um influxo indesejável da formação para o poço. 2.3 PRODUÇÃO DE PETRÓLEO A Agencia Nacional de Petróleo (ANP) (Lei Nº 9478 /97) regulamenta que produção é o conjunto de ações coordenadas para extração de petróleo ou gás natural de uma jazida e o preparo para a sua movimentação. Esse processo inicia após o fim da perfuração do poço e é encerrado quando acaba o içamento dos produtos pela válvula, no campo de produção. O processo contém três etapas, completação de poços, recuperação e processamento primário (Domingues, 2009). 2.3.1 COMPLETAÇÃO DE POÇOS A completação é o conjunto de atividades que tem por objetivo ativar o poço para produzir petróleo ou gás, até mesmo injetar fluidos para estimular os poços. Essa etapa deve ser realizada de forma a maximizar a vazão de produção sem danificar o reservatório e fazer com que seja o mais permanente possível. Evitar que sejam necessárias manutenções ao longo do período de produção também é essencial para a completação (Domingues, 2009). Os métodos de completação podem ser divididos quanto à zona de produção, ao revestimento de produção (Figura 2.6) e ao número de zonas suplementadas (Figura 2.7). Figura 2.6 Completação de poços quanto ao revestimento de produção (Garcia, 1997). 10 Figura 2.7 Zonas suplementadas (a) simples; (b)seletiva; e (c) dupla. (Garcia, 1997). 2.3.2 ESTIMULAÇÃO A estimulação de poços consiste em uma série de técnicas para majorar a produtividade do poço. Esse método também possibilita a exploração de áreas consideradas pouco produtivas por ter rochas de baixa permeabilidade, como folhelho, que exigem o faturamento hidráulico, ou outras matrizes rochosas, que podem ter uma alteração na sua permeabilidade por meio de faturamento ácido, acidificação da matriz e amortecimento de poços. Fraturamento hidráulico O fraturamento hidráulico é um método de estimulação em que um fluido composto por água, aditivos e material propante é bombeado sob alta pressão para dentro da rocha matriz. Esse processo aumenta a pressão no interior da rocha, levando a criação de microfraturas. O material propante mantém as fraturas abertas, o que leva um aumento na permeabilidade da rocha, facilitando o escoamento dos hidrocarbonetos (Smith & Shlyapobersky, 2000). Na Figura 2.8 pode-se observar como o fraturamento ocorre. 11 Figura 2.8 Método de fraturamento hidráulico (Barreto, 2010) Acidificação da matriz Esse método usa a injeção de uma solução ácida, capaz de dissolver uma fração dos minerais que compõem a rocha, majorando ou retomando a permeabilidade da formação que rodea o poço (Barreto, 2010). Os ácidos adotados nesse método são o ácido clorídrico (HCL), capaz de dissolver carbonos e o ácido fluorídrico (HF), que dissolve silicatos. Outros ácidos podem ser usados, a fim de dissolver moléculas mais específicas. Essa técnica só é viável para pequenas regiões. Além dos altos custos, pode representar um risco ao meio ambiente (Barreto, 2010). Fraturamento ácido Essa técnica consiste em injetar soluções ácidas sob alta pressão, pressão esta suficientemente maior que a tensão da formação geológica a ser explorada, gerando uma fratura hidráulica. Um fluido de alta viscosidade antecede o ácido, para iniciar a fratura. Após o fluido viscoso, a solução ácida, que é gelificada, aerada ou emulsionada, é injetada sob alta pressão, levando a propagação da fratura. Após a reação entre o ácido e a rocha, são criados canais irregulares nas faces da fratura, que permaneceram mesmo após o fechamento da fratura, garantindo o fluxo de hidrocarbonetos (Barreto, 2010). Amortecimento de poços Essa técnica consiste em criar uma barreira hidráulica no interior do poço, para impedir a surgência de quaisquer fluidos de formação. Essa barreira pode ser feita por um fluido de peso específico suficiente para gerar um diferencial de pressão positivo entre o poço e a formação, chamado “overbalance”, fenômeno que ocorre quando a pressão criada pela injeção de fluido é maior do que a pressão natural do poço. 12 2.3.3 RECUPERAÇÃO A recuperação é o processo em que o petróleo é levado à superfície para ser processado, estocado ou distribuído. Esse processo é dividido em duas etapas, recuperação primária e recuperação secundária. 2.3.3.1 RECUPERAÇÃO PRIMÁRIA A recuperação primária é o processo (de recuperação) que ocorre apenas com o uso da energia pré-existente no reservatório, gerada pelo gradiente de pressão . No entanto essa energia é finita e à medida que o reservatório expele os hidrocarbonetos, a pressão que impulsiona a saída do petróleo diminui, devido a redução de massa na rocha. No momento em que a energia do reservatório não é suficiente para expelir o conteúdo da rocha, é criada a demanda de métodos artificiais de retirada dos hidrocarbonetos. Há três métodos mais usados para a recuperação primária: mecanismos de gás em solução, mecanismo de capa de água e de influxo de água. O mecanismo de gás em solução ocorre em reservatórios isolados e a energia usada na elevação deve estar na zona do óleo. Algumas frações do petróleo são voláteis e durante a expulsão do petróleo ocorre a vaporização dessas frações, que ficam confinadas no poço, gerando uma pressão adicional que conduz o petróleo a superfície. Esse processo inicia-se no mecanismo de gás em solução. A desvantagem desse método é que como o gás sai junto com o petróleo, o poço perde energia, sendo o fator de recuperação do reservatório menordo que 20% (Thomas, 2001). A Figura 2.9 apresenta uma curva da razão gás-óleo (RGO) e pressão versus tempo de produção durante uma recuperação primária por mecanismo de gás em solução. Figura 2.9 Mecanismo de gás em solução (mecanismos de produção de reservatórios EBAH) 13 O mecanismo de capa de gás (Figura 2.10) é possível quando os hidrocarbonetos estão nas fases líquidas e vapor em equilíbrio. Devido a menor densidade do vapor, este se acumula nas camadas superiores dos poros. Durante a produção do óleo, a pressão no interior do reservatório decai e a diminuição de pressão é sentida pelo gás que expande e impulsiona o óleo para fora do poço, mantendo assim a pressão no reservatório. O fator de recuperação desses reservatórios varia de 20 a 30% (Thomas, 2001). Figura 2.10 Recuperação primária por mecanismo de capa de gás (modificada Almeida, 2004) O mecanismo do influxo de água (Figura 2.11) está relacionado à vizinhança da rocha matriz à um aquífero. Com a retirada do óleo, a pressão no reservatório decresce, e o aquífero passa a ocupar mais espaço no reservatório, mantendo a pressão elevada no poço, durante a produção. Os reservatórios com esse mecanismo têm fator de recuperação entre 30 a 40% (Thomas, 2001). Figura 2.11 Recuperação primária por mecanismo de influxo de água (modificada Almeida, 2004). 14 2.3.3.2 RECUPERAÇÃO SECUNDÁRIA Os principais métodos de recuperação secundária envolvem a injeção de gás imiscível na formação para manter ou elevar a pressão no reservatório. É um método de comportamento mecânico, ou seja, não há nenhuma interação que possa modificar os fluidos, tanto quimicamente como termodinamicamente (Gadelha de Souza, 2005). O ideal é que a injeção de água ou de gás ocorra antes que a pressão diminua no reservatório. Isso garante que os investimentos e custos sejam baixos, sendo um dos métodos mais utilizados (Santos et al., 2010). Tanto a injeção de gás quanto a de água atuam expulsando o óleo, pois são imiscíveis aos hidrocarbonetos. No entanto, o gás deve ser tratado antes de ser injetado no reservatório, para evitar a cristalização da água naturalmente contida no gás. As Figuras 2.12 e 2.13 representam respectivamente a recuperação por injeção de água e de gás. Figura 2.12 Método convencional de recuperação secundária por injeção de água (modificada Almeida, 2004) Figura 2.13 Método convencional de recuperação secundária por injeção de gás imicível (modificada Almeida, 2004). 15 Há também métodos especiais de recuperação secundária, necessários quando a produção é atrapalhada não só pela baixa pressão no reservatório, mas pela alta viscosidade do óleo e as elevadas tensões interfaciais entre o fluido injetado e o óleo. Os métodos especiais podem ser térmicos e químicos dependendo da peculiaridade de cada processo (Curbelo, 2006). 2.3.4 PROCESSAMENTO PRIMÁRIO O petróleo retirado das reservas apresenta inúmeros compostos, mas com predominância de hidrocarbonetos. Por essa razão faz-se necessário o processamento desse petróleo “bruto”, a etapa de processamento primário é a etapa final da produção. Essa fase que tem por objetivo separar óleo, gás e água, de modo que o óleo e o gás sejam destinados a refinaria e a água a uma estação de tratamento especializada em tratá-la. A metodologia de processamento do petróleo extrapola o escopo desse projeto e desta forma não serão apresentados detalhes sobre esse processo. O objetivo deste capítulo foi apresentar as etapas de exploração de petróleo convencional para gerar uma base de comparação para o estudo de reservatórios não convencionais, que serão analisados no capítulo a seguir. 16 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - RESERVATÓRIOS NÃO CONVENCIONAIS Neste capítulo é exposto um panorama geral de reservatórios não convencionais que começaram a ser explorados no início do século XXI, graças aos contínuos avanços tecnológicos. Será dado um enfoque no gás de folhelho. Imagine um mundo em que as crises que acontecem no Oriente Médio, na Rússia ou em outros grandes fornecedores de combustíveis fósseis não causem preocupações aos que importam petróleo e gás, em que o medo de que os preços dos combustíveis fósseis aumentassem excessivamente, que assolava o futuro da indústria, tenha sido sanado. Isso se torna possível se as reservas de petróleo explorável estiverem mais uniformemente espalhadas. Esse cenário não parece tão distante, graças às fontes de petróleo não convencionais. Com novas tecnologias de exploração, o aproveitamento das reservas de gás e petróleo de difícil acesso ou cujo produto precisa passar por processos químicos específicos para que seja apropriado ao uso, se torna possível. A previsão é que em médio prazo os preços de combustíveis fósseis voltem a cair e países que até então importavam petróleo e gases passem a ser autossuficientes (Costas, 2012). Há várias tecnologias que trazem otimismo ao mapa de energia mundial. No Japão estão extraindo o gás chamado “gelo e fogo”, que leva esse nome porque os hidratos de metano se parecem com gelo. Encontrados em profundidades superiores a 500m e temperaturas de 4 o C ou menos, são compostos de moléculas de água em estrutura sólida, em que as moléculas de gás natural ficam confinadas (Correa, 2013). As Figuras 3.1 e 3.2 se referem ao gás “gelo e fogo”, A Figura 3.1 mostra a combustão dos hidratos de metano e a Figura 3.2 contém algumas informações adicionais a respeito. Outra fonte não convencional que se tornou viável com o desenvolvimento tecnológico é o petróleo de areia betuminosa, que só é aproveitável se passar por processos de aprimoramento físicos e químicos (Costas, 2012). A Figura 3.3 mostra um campo de exploração de areia betuminosa. É outra fonte de petróleo não convencional, viabilizada pelo avanço das tecnologias de extração, é o gás de folhelho, que usa a técnica de perfuração horizontal e o fraturamento hidráulico (Figura 3.4), técnica de exploração que será descrita no capítulo 4. Outra fonte não convencional que pode ser citada é o gás e o óleo aprisionados em arenitos de baixa permeabilidade, chamado tight sand gas e tight sand oil, essa fonte já está sendo explorada nos Estados Unidos. 17 Figura 3.1 Fonte não convencional de hidrocarbonetos Gelo e Fogo (Bastos, 2014). Figura 3.2 Fonte não convencional de hidrocarbonetos Gelo e Fogo (Bastos, 2014). Figura 3.3 Areias betuminosas (Voxeurop, 2012). 18 Figura 3.4 Fraturamento Hidráulico (modificada Macrobusiness, 2013). Gás de folhelho, também chamado de “gás de xisto” é um dos três combustíveis fósseis não convencionais. O que o diferencia do gás natural é o local e a forma que está armazenado. O gás encontra-se confinado em formações rochosas pouco permeáveis ou impermeáveis. Os folhelhos são formações argilosas e de origem sedimentar, que contêm grande quantidade de matéria orgânica, podendo originar o gás. Na Figura 3.5 pode-se observar o folhelho de Utica, localizado no estado norte americano Ohio. Figura 3.5 Folhelho de Utica (Jacobi, 2014). 19 O gás é comumente chamado de “gás de xisto” por causa de uma tradução equivocada do inglês para o português. O xisto é uma rocha metamórfica, que sofreu inúmeras transformações, impossibilitando a geração de gás. No entanto, o termo é válido, já que é muito difundido, usado inclusive por técnicos da área de petróleo. A rocha folhelho pode ser classificada como rocha capeadora ou selante. A rocha capeadora ou selante é qualquer rocha que seja impermeável e funcione como uma barreira ao fluxo dos hidrocarbonetosem seu movimento ascendente em direção as áreas de baixo potencial hidrodinâmico (superfície da Terra). Ela fica imediatamente acima da rocha reservatório. Há outros tipos de rochas capeadoras, como calcários fechados e densos, assim como camadas de sal (halita, anidrita, etc.) e derrames não saturados. Nas seções a seguir foi feito um estudo das teorias do processo de formação do petróleo, dos elementos essenciais de um sistema petrolífero, dos processos essenciais na formação de hidrocarbonetos e da migração dos hidrocarbonetos. O objetivo desse estudo é fazer uma abordagem geral, desde a formação do gás até o momento em que ele está pronto para ser extraído. É importante introduzir o conceito de sistema petrolífero, que será constantemente usado a seguir. O sistema petrolífero é um sistema físico-químico dinâmico que gera e concentra petróleo (Demaison & Huizinga, 1991). É um sistema natural que engloba uma rocha geradora e todas as acumulações dela originadas. 3.1 TEORIAS DE FORMAÇÃO DO PETRÓLEO Os processos de formação do petróleo, do gás natural convencional, do óleo e do gás de folhelho que serão mostrados a seguir, são semelhantes e se diferem no processo de migração. Assim se define que o termo petróleo faz referência tanto aos produtos e subprodutos dos hidrocarbonetos em forma de óleo e de gás. Este item e os itens 3.2, 3.3, 3.4, 3.5 e 3.6 foram baseados na referência bibliográfica Farias (2007). Assim como o carvão, o petróleo e o gás natural, o gás e o óleo de folhelho são essencialmente formados a partir de restos de plantas e animais que ficaram confinados nas rochas e foram deteriorados por micro-organismos há milhares de anos. No entanto, há diversas teorias a respeito da formação de combustíveis fósseis, que podem ser divididas em teorias iinorgânicas (emanações vulcânicas, origem cósmica e síntese orgânica) e as teorias orgânicas (primórdio: vulcanismo, aquecimento de óleos animais, algas, carvão; teoria orgânica moderna). 20 As teorias inorgânicas defendem uma origem sem intervenção de organismos vivos de qualquer espécie, sendo mais desenvolvidas e defendidas na Rússia e Europa Oriental. Dentre essas teorias pode-se citar: Emanações Vulcânicas: associam a origem do petróleo a atividades vulcânicas; Origem Cósmica: propôs que a atmosfera dos grandes planetas (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno) é composta principalmente de metano e outros hidrocarbonetos gasosos, além de vapor d’água. Enquanto a Terra estava quente (atmosfera primitiva da Terra possuía metano, amônia, nitrogênio e vapor d’água), os hidrocarbonetos estavam sob a forma de vapor; posteriormente a uma “chuva de petróleo que se infiltrou no solo”´; Sínteses Inorgânicas: reações químicas envolvendo metais alcalinos livres (Na, K, Li), CO2, H2O no manto superior, próximo ao núcleo da Terra, gerariam eteno. Este material, através de reações químicas formaria os demais hidrocarbonetos, tanto os aromáticos quanto os saturados. As Teorias Orgânicas postulam a intervenção de organismos vivos na formação do petróleo. A Figura 3.6 contém uma linha do tempo dos principais avanços no estudo das teorias orgânicas: 21 Figura 3.6 Linha do tempo das principais teorias de formação orgânica do petróleo. Dados modernos mostram que o carvão gera pequenas quantidades de petróleo aromático e grandes quantidades de gás. A Teoria sinergética de Smith (1954) postula que: sedimentos recentes de foz de rios no Golfo do México, os mesmos contêm hidrocarbonetos, que, em maior concentração, formam petróleo. Há algumas objeções a essa teoria, considerando que as quantidades de petróleo geradas são muito pequenas, não contêm todos os componentes do petróleo (sem fração gasolina) e predominam as n-parafinas ímpares (o petróleo tem todas, pares e ímpares). Nas décadas de 60 e 70, foi estabelecido o conceito de rocha geradora, base da teoria orgânica: se foi encontrado petróleo, existe uma rocha geradora a ele associada. A teoria orgânica moderna foi definida nos seguintes termos: a matéria orgânica depositada com os sedimentos é convertida por processos bacterianos e químicos, durante o soterramento, num polímero complexo, o querogênio, que contém pequena quantidade de nitrogênio e oxigênio. Este processo é acompanhado pela remoção de água e pela compactação dos sedimentos. O querogênio, por sua vez, é convertido em hidrocarbonetos por craqueamento 1667 •Boccone atribuiu a origem do petróleo à destilação da matéria orgânica nas rochas sedimentares pela ação de fenômenos vulcânicos, influenciado pelas exsudações petrolíferas nas imediações de vulcões ativos na Itália 1830 •Lyell considerou a ação de fogos subterrâneos na sublimação da matéria orgânica por pirólise magmática. 1888 •Engler, obteve a geração de hidrocarbonetos a partir de matéria orgânica (óleo de peixe e animais marinhos) numa autoclave; posteriormente associou-se a Hofer, concluindo que “o petróleo se forma por destilação a temperaturas moderadas e altas pressões ". Essa conclusão é conhecida como a Teoria de Hofer-Engler. 1850 •Vários autores destacavam a importância de algas microscópicas para a geração do petróleo, hoje confirmada cientificamente. 1954 •Teoria Sinergética de Smith. 22 térmico a maiores profundidades e temperaturas relativamente elevadas. São consideradas como evidências da origem orgânica do petróleo/gás: Mais de 99% das acumulações de petróleo se encontram em rochas sedimentares; É possível produzir hidrocarbonetos do petróleo em laboratório a partir da matéria orgânica (síntese). É ainda mais notável a produção de hidrocarbonetos por pirólise (aquecimento a temperaturas elevadas) do folhelho betuminoso; Disseminação de hidrocarbonetos em rochas geradoras: a proporção de óleo encontrada nas rochas geradoras é muito superior à quantidade encontrada nas rochas reservatório. Entretanto, os seguidores das teorias inorgânicas negam estas afirmativas; alegam que as concentrações de hidrocarbonetos nas geradoras são baixas e que há dificuldade de migração para o reservatório. Estudos mais modernos mostram, porém, como será abordado adiante, que mais de 99% do petróleo formado nas geradoras são perdidos durante a migração até as trapas. O processo de migração é o que diferencia o petróleo e o gás convencional do de folhelho, onde a migração pode ocorrer, mas é barrado por rochas impermeáveis ou pouco permeáveis. Comprova-se atualmente que o petróleo só ocorre em reservatórios intimamente associados a folhelhos e calcários ricos em matéria orgânica. Atualmente, no mundo ocidental e especificamente na Petrobras, as teorias orgânicas possuem maior aceitação entre os geólogos. Pode-se concluir também que a maioria dos geólogos e geoquímicos advoga origem orgânica para o petróleo, mas não descarta a origem inorgânica. 3.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DE UM SISTEMA PETROLÍFERO Alguns termos são essenciais para o estudo de um sistema petrolífero, Esses termos serão definidos a seguir: Rocha geradora: é aquela capaz de gerar acumulações comerciais de petróleo. Geralmente constituída por folhelhos e calcilutitos, é o local em que o petróleo é formado e expulso. Deve conter matéria orgânica abundante, ser sepultada em profundidades tais que a pressão, temperatura e o tempo geológico sejam ideais para que ocorra a transformação da matéria orgânica para querogênio e daí para o petróleo; 23 Rocha Reservatório: é qualquer rocha que apresente poros ou fraturas capazes de armazenar e transmitir fluidos (gás ou óleo), isto é, tenha alta porosidade e permeabilidade. As principais rochas reservatóriosão arenitos, conglomerados e calcarenitos (grainstones), embora rochas fraturadas, que seriam normalmente selantes (embasamento cristalino, calcilutitos, folhelhos e basalto), também armazenem petróleo; Trapas: A trapa é uma feição tridimensional que concentra hidrocarbonetos, consistindo o conjunto da rocha reservatório e da rocha selante, a rocha selante impede a migração lateral e vertical do óleo acumulado na rocha reservatório; Rochas de sobrecarga: A acumulação de sucessivos estratos sobre as geradoras, em função da subsidência da bacia, é vital para que estas estejam aptas à geração de hidrocarbonetos, devido às elevadas condições de temperatura e pressão causadas pelo seu posicionamento cada vez mais profundo na bacia. As rochas de sobrecarga podem ter considerável impacto sobre a geometria da rota de migração e da trapa subjacentes (Magoon e Dow, 1994). Embora não incluídas por Magoon e Dow (1994) entre os elementos essenciais para um sistema petrolífero, as rochas carreadoras desempenham importante missão na acumulação de jazidas petrolíferas. São rochas permoporosas saturadas de água, percoladas pelos hidrocarbonetos expelidos pelas geradoras, em sua rota até as trapas. 3.3 PROCESSOS ESSENCIAIS NA FORMAÇÃO DE PETRÓLEO Nesta seção serão apresentados os processos essenciais na formação do petróleo. Processo de geração: consiste no craqueamento do querogênio, isto é, longas moléculas são quebradas para formar o petróleo. O sistema petrolífero é criado a partir do momento em que uma fase de petróleo é criada. Processo de migração: Engloba a movimentação do petróleo, desde gotículas no interior da rocha, até a sua acumulação. Ocorrem perdas substanciais no petróleo nesta fase. A migração pode ser lateralmente ou verticalmente. Processo de acumulação: É o preenchimento da trapa pelo petróleo gerado. Processo de preservação: Começa após a geração do óleo e do gás, a migração e a acumulação. Durante o período de preservação, ocorrem processos de reimigração, degradação física ou biológica e/ou destruição completa dos 24 hidrocarbonetos. Como o petróleo é uma mistura instável de compostos, sofrerá significativas mudanças físicas e químicas no tempo geológico. Logo, quanto maior o tempo de residência do petróleo na trapa, maiores as alterações que sofrerá. Durante o tempo de preservação o petróleo pode reimigrar para trapas terciárias, formadas depois de cessada a geração de hidrocarbonetos. No entanto, esse processo só ocorre se a atividade tectônica for significante durante esse período, como em dobramentos, falhamentos, soerguimento ou erosão. Se todos os elementos essenciais forem destruídos durante a etapa de preservação, a evidência de que houve um sistema petrolífero será completamente destruída. Um sistema em formação ativa ou recém-terminada não possui período de preservação. 3.4 TRANSFORMAÇÃO DA MATÉRIA ORGANICA NAS BACIAS O conjunto de processos de alteração do ciclo do carbono denomina-se processo de maturação. Há três estágios principais e consecutivos na evolução da matéria orgânica em sedimentos: Diagênese, Catagênese e Metagênese. 3.4.1 DIAGÊNESE Após a incorporação nos sedimentos da matéria orgânica submetida a pequenas profundidades e baixas temperaturas (até 1000m e 50ºC), a matéria orgânica passa por uma série de transformações denominada de diagênese. É a primeira etapa da alteração da matéria orgânica. Os restos de organismos aquáticos e/ou terrestres são alterados e/ou degradados por processos de transformação biológicos e químicos de baixa temperatura. O início da diagênese dá-se com a degradação bioquímica da matéria orgânica pela atividade de micro- organismos (bactérias, fungos, etc) aeróbicos e anaeróbicos (Petroleum Geoscience Technology, 2010). Os sedimentos que contém a matéria orgânica perdem água com a compactação crescente e vão sofrendo modificações mineralógicas diferenciadas segundo a sua composição. A atividade microbiana é maior na interface sedimento/água e a pequenas profundidades de soterramento, sendo responsável pela degradação de alta proporção da matéria orgânica originalmente depositada em moléculas mais simples, como CO2, N2 e H2O (sob condições aeróbicas), daí para NH3, H2S e CH4 (condições anaeróbicas), causando concomitantemente a remobilização de espécies minerais. A taxa de degradação da matéria orgânica bioderivada é variável. As proteínas e os carboidratos se transformam em 25 aminoácidos e em açúcares. Já os lipídios são convertidos em glicerol e em ácidos graxos. As proteínas e os carboidratos são compostos mais instáveis, enquanto os lipídios são mais resistentes à degradação (Petroleum Geoscience Technology, 2010), logo um fracionamento seletivo favorece substâncias não hidrolisáveis. O produto final da diagênese é o querogênio, definido como a fração comum da matéria orgânica insolúvel em ácidos não oxidantes, bases e solventes orgânicos comuns presentes nas rochas sedimentares (Petroleum Geoscience Technology, 2010). O querôgenio é formado a partir de ácidos orgânicos, que são os sobreviventes principais da degradação microbiana. A proporção de querogênio resultante, tanto de reações diagenéticas quanto da preservação direta, depende da natureza do material orgânico inicial e do ambiente deposicional. Durante a diagênese, o único hidrocarboneto produzido em grande escala é o metano. Do ponto de vista de exploração de petróleo, as rochas geradoras são consideradas imaturas neste estágio. 3.4.2 CATAGÊNESE A catagênese ocorre em seguida à diagênese e se inicia em temperaturas da ordem de 50 o C a 150 o C, com a continuação do soterramento dos sedimentos. Isso resulta na formação sucessiva de óleo condensado. O querogênio (proto-petróleo) é termicamente degradado, sendo responsável pela geração da maioria do petróleo. O final da catagênese é alcançado após todo querogênio ter completado a perda de suas cadeias alifáticas (cadeias acíclicas). A principal fase de formação de óleo e gás úmido (temperatura entre 150 – 200oC), constituindo a Zona Matura de Geração de Hidrocarbonetos. A maturação é uma referência ao estado térmico alcançado pelas rochas. No período da diagênese a rocha é considerada imatura, mas ao passar pela catagênese ela já é considerada matura. O princípio da catagênese pode ser chamado de “janela de geração de óleo”, estágio de produção majoritária de hidrocarbonetos líquidos. A segunda etapa da catagênese ocorre sob temperaturas mais elevadas, o querogênio passa pela zona regressiva de geração de óleo, fase em que os alcanos de baixo peso molecular são produzidos em maior proporção ( Petroleum Geoscience Technology, 2010). Na etapa final da catagênese, a rocha geradora atinge a “janela geradora de gás”. A progressiva perda de componentes da estrutura do 26 querogênio prossegue de acordo com a resistência das ligações, com as ligações mais fracas quebrando antes das mais fortes. Dentre inúmeros parâmetros utilizados para definir o grau de maturidade da rocha, o mais empregado é a medida da refletância vitrinita (%Ro). Essa técnica consiste na determinação, ao microscópio, do poder refletor de partículas de vitrinita, constituintes do querogênio. Na tabela 3.1 contém a relação entre a fase de formação do petróleo e o valor equivalente da refletância vitrinita (%Ro), também relacionando o nível de maturação da matéria. 3.4.3 METAGÊNESE A metagênese é um processo semelhante ao que ocorre em uma panela de pressão. Ocorre a altas pressões e temperaturas (> 200 o C), onde há destruição de hidrocarbonetos líquidos, sendo preservado apenaso gás seco, metano, e um pouco de oxigênio. Este estágio começa mais cedo que o metamorfismo da fase mineral, formando-se um resíduo carbonoso que em estágios mais avançados transforma-se em grafite. Em seguida, na tabela 3.1, apresenta-se um resumo das fases de transformação de matéria orgânica na bacia. Tabela 3.1 Nível de maturação em cada estágio de alteração da matéria orgânica (Passos, 1998 modificada). Estágio % Ro Nível de maturação Diagênese < 0,60 Imaturo Zona de óleo Catagênese 0,60 - 1,00 Catagênese 1,00 - 1,35 Maturo Zona regressiva Zona de gás úmido Catagênese 1,35 – 2,00 Metagênese > 2,00 Senil Zona de gás seco 3.5 MIGRAÇÃO O processo em que ocorre a acumulação de petróleo nas rochas-reservatório em quantidades comerciais é chamado de migração, mecanismo no qual o petróleo escoa desde a rocha geradora até encontrar uma armadilha. A migração pode ser dividida em primária e secundária. 27 3.5.1 MIGRAÇÃO PRIMÁRIA A migração primária é o processo de expulsão do petróleo das rochas geradoras, para as rochas reservatório, por meio de capilares e poros estreitos de uma rocha geradora madura ativa. A primeira teoria proposta para o processo de migração primária considerava que ela pode ocorrer através de soluções moleculares, fase óleo ou gás, mediamente gotículas de óleo ou bolhas de gás, ou ainda micelares ou coloidais. Esse conceito está ultrapassado e atualmente a teoria mais aceita diz que o mecanismo mais provável para a migração é que ela ocorre através de microfraturas causadas pelo alívio de uma superpressurização. A superpressurização é certamente o resultado da progressiva compactação de rochas geradoras seladas, da expansão dos fluídos (óleo e gás) com o aumento da temperatura, ou ainda devido a liberação da água formada pela desidratação de argilominerais com a compactação e a crescente temperatura resultante do soterramento. A Figura 3.7 mostra a migração primária e secundária. 3.5.2 MIGRAÇÃO SECUNDÁRIA É o processo que leva o petróleo das rochas geradoras até as trapas, local onde ficam retidas as rochas reservatórios. O petróleo armazenado em uma trapa perturbada pode migrar para outra trapa até chegar à superfície, esse é o fenômeno ocorrente em locais com poços de exploração de petróleo superficial. A migração secundária é decorrente de um mecanismo bifásico de água e óleo, que gera uma movimentação e um fluxo contínuo governado por quatro parâmetros: (1) força de flutuabilidade; (2) diferencial de pressão; (3) diferencial de concentração; (4) fluxo hidrodinâmico. Na última etapa da migração os hidrocarbonetos, após passarem pela rocha carreadora (rocha por onde o petróleo é transportado até a rocha reservatório), e atingir a trapa, inicia-se o processo de acumulação. 28 Figura 3.7 Principais tipos de migração do petróleo (Tissot & Welte, 1978). 3.5.3 MIGRAÇÃO DO GÁS DE FOLHELHO É na fase de migração que o gás e o óleo de folhelho se diferenciam do petróleo convencional. A migração ascendente do petróleo e o aprisionamento em uma rocha reservatório de alta porosidade e permeabilidade não ocorre no caso de gás de folhelho. Esse fenômeno é devido à presença de uma camada rochosa impermeável, logo acima da rocha geradora. Como o petróleo é incapaz de migrar, a rocha geradora passa a atuar como rocha reservatório também, e os próximos passos de formação do petróleo, que são acumulação e preservação, passam a acontecer na rocha geradora. No caso em estudo, as rochas geradoras são formações de folhelho, que dão origem ao nome gás de folhelho e óleo de folhelho. 3.6 GÁS DE FOLHELHO NO CONTEXTO MUNDIAL Neste item, primeiramente será exposta a distribuição de gás de folhelho no mundo, seguido de uma abordagem mais específica da exploração do gás que já foi iniciada nos Estados Unidos. Outro tema abordado é a contextualização da exploração do gás na Europa e no restante do mundo. Para finalizar, há um enfoque para contextualização no Brasil. 29 Há diversos depósitos de gás de folhelho espalhados ao redor do mundo. Um estudo feito pela U.S Energy Information Administration (EIA, 2010) estima que em 138 fontes de gás e de óleo de folhelho, espalhados por 42 países, contêm 10% do óleo bruto do mundo e 32% do gás natural do mundo que são tecnicamente exploráveis. A Figura 3.8 representa a localização das bacias avaliadas com recursos estimáveis, das bacias avaliadas com recursos não estimáveis e também expõe os países que foram avaliados e os que não foram avaliados. Figura 3.8 Bacias com formações de gás de folhelho avaliadas (modificada EIA, 2013). Na tabela 3.2, pode-se verificar a quantidade de óleo e gás de folhelho em um contexto mundial, além disso, há uma comparação entre a quantidade de gás/óleo de folhelho e a quantidade de gás/óleo convencionais. Observa-se que as reservas folhelho aumentam em 11% a quantidade de óleo natural explorável; e 47% a quantidade de gás natural no mundo. Tabela 3.2 Recursos tecnicamente exploráveis de gás e óleo de folhelho no contexto mundial total (modificado EIA,2013). Recursos tecnicamente recuperáveis de gás e óleo de folhelho no contexto mundial total Fora dos Estados Unidos Óleo cru (bilhão de barril) Gás natural (trilhão de pes 3) 30 Óleo e gás de folhelho 287 6.634 Sem ser de folhelho 2847 13.817 Total 3.134 20.451 Aumento no total de recursos 10% 48% Porcentagem de folhelho em relação ao total 9% 32% Estados Unidos Óleo e gás de folhelho 58 665 Sem ser de folhelho 164 1766 Total 223 2.431 Aumento no total de recursos 35% 38% Porcentagem de folhelho em relação ao total 26% 27% Total Mundial Óleo e gás de folhelho 345 7299 Sem ser de folhelho 3.012 15.283 Total 3.357 22.882 Aumento no total de recursos 11% 47% Porcentagem de folhelho em relação ao total 10% 32% Mais da metade das reservas de gás de folhelho estão concentrados em cinco países, China, Argentina, Argélia, Estados Unidos e Canadá. O Brasil é o décimo país com reserva tecnologicamente viável para a exploração do gás de folhelho. A tabela 3.3 contém o ranking dos países detentores das maiores bacias de folhelho do mundo. 31 Tabela 3.3 Ranking dos países com as maiores reservas de folhelho do mundo (modificado EIA, 2013) Posição País Gás de folhelho ( trilhão de pés 3 ) 1 China 1.115 2 Argentina 802 3 Argélia 707 4 Estados Unidos 665 (161) 5 Canadá 573 6 México 545 7 Austrália 437 8 África do Sul 390 9 Rússia 285 10 Brasil 245 Total Mundial 7.299 3.6.1 A REVOLUÇÃO DO GÁS DE FOLHELHO NOS ESTADOS UNIDOS Os Estados Unidos da América (EUA) são os pioneiros na extração de gás de folhelho, e até hoje são os únicos que já estão usando o gás para suprimento doméstico. A “Revolução de gás de folhelho” se refere à emergência do uso do gás para suprimento doméstico. O gás de folhelho nos Estados Unidos cresceu de menos de 1% de uso doméstico produzido no ano 2000 para mais de 20% no ano 2010. Estudos feitos pelo EIA estimam que no ano 2035 o suprimento com gás de folhelho será equivalente a 46% do suprimento total de gás no país. Apesar do grande crescimento da produção em dez anos, os números só passaram ser significativos em 2005. A revolução do gás de folhelho gerou inúmeros impactos globalmente e localmente significantes. O aumento no suprimento de gás gerou uma queda bastante 32 relevante nos preços de gás doméstico dos EUA. Por exemplo, em 2010 os preços da Henry Hub (principal centro comercial degás nos EUA) caíram 46% de 2010 para 2012, apesar de o consumo tenha aumentado nesse período. Essa revolução afetou também os países que exportavam gás para os EUA, que perderam seu principal mercado, e, com a perda desse mercado, parte dos investidores de empresas importadoras e produtoras de gás natural retiraram seus investimentos. Desde 2010, questões ambientais tem sido uma ameaça para a produção de gás de folhelho, ou pode-se dizer que a revolução de gás de folhelho tem sido uma ameaça para o meio ambiente. Para ambientalistas o fraturamento hidráulico é extremamente nocivo ao meio ambiente e a baixa dos preços do gás pode levar a uma retração na produção de energias renováveis. Isso tem causado um grande debate entre os ambientalistas e os produtores de gás de folhelho, gerando diversos estudos a respeito do impacto do fraturamento hidráulico no meio ambiente. Esse assunto será mais aprofundado no item 4. 3. Apesar da oposição entre a preservação do meio ambiente e o fraturamento hidráulico, a produção do gás de folhelho continua crescendo e consequentemente os preços continuam reduzindo. Além disso, há estudos que comprovam que a tecnologia usada na revolução do gás de folhelho pode ser aplicada à produção de hidrocarbonetos líquidos. Esses fatores, somados a evolução de novas tecnologias, podem levar os EUA à autossuficiência energética, uma condição extremamente desejada pelo país, considerando as preocupações referentes à segurança de suprimento de óleo e os altos preços, e também devido às incertezas políticas geradas por revoluções nos países que detém grande parte das reservas de gás e de petróleo convencional. Portanto é bastante provável que a revolução de gás de folhelho irá continuar nos EUA. A revolução de gás de folhelho levantou três questionamentos para o futuro. A primeira é se ela irá continuar a acontecer nos EUA, a segunda, se é possível reproduzir a mesma experiência em outras partes do mundo e a terceira é quais seriam as implicações na área de investimentos, tanto de gás natural, convencional ou não convencional, quanto na área de energias renováveis. Tudo indica que a demanda de gás mundial crescerá, levando em consideração o consumo dos últimos anos e o crescimento populacional. Relatórios recentes feitos pelo IEA como “Are we entering a Golden Age of Gas?” (IEA, 2011) ou “Golden Rules for a Golden Age of Gas” (IEA, 2012) indicam que a demanda de gás pode crescer em mais de 50% até 2035. Com a continuidade da exploração de gás de folhelho no EUA e a criação de novos poços de exploração, as demandas de gás natural a preços acessíveis poderão ser supridas nas 33 décadas seguintes. Também para garantir esse suprimento, projetos e estudos de novas tecnologias para a exploração de gás de folhelho não podem ser interrompidos, pois caso isso ocorra em cinco e dez anos os mercados podem sofrer imensos cortes de fornecimento. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento tecnológico das operações de extração de gás de folhelho está progredindo muito rápido e extrapolando as expectativas. Os produtores aumentaram drasticamente a eficiência de drenagem. Além disso, o tempo de perfuração de poços reduziu drasticamente, de 30 dias para 10 dias por poço e a produção inicial aumentou. Ambas as mudanças levam a diminuição no valor do gás, gerando uma incerteza a respeito do valor do gás natural nas próximas décadas. As consequências negativas do fraturamento ao meio ambiente podem ser uma ameaça para o crescimento da produção de gás de folhelho. A oposição de ONGs cresce desde que em 2005 a Environmental Protection Agency (EPA) usou o Environmental Protection Agency para excluir explicitamente o fraturamento hidráulico. Esse ato determina a estrutura básica para regular a descarga de poluentes em aquíferos nos EUA, regulando normas de qualidade para águas superficiais (EPA, 2005). Era de conhecimento geral que, no processo de fraturamento, substâncias químicas eram injetadas nos poços junto com água e areia. Porém, ao serem questionadas a respeito dos químicos usados no fraturamento hidráulico as empresas se recusaram a revelar a informação, alegando que não o fariam por razões comerciais. Com isso inúmeras teorias da conspiração surgiram. Até então as operações de extração de gás de folhelho funcionavam sem um relatório de impactos ambientais oficiais. A pressão crescente nas empresas resultou na transparência de inúmeras empresas a respeito do processo de fraturamento e dos químicos usados para o processo. Um Ato de Fraturamento (Fracking Act) já está em julgamento no Congresso Americano, e caso seja aprovado irá obrigar todas as operadoras de gás de folhelho a revelar quais produtos químicos adotam. A mídia americana também não é favorável ao fraturamento, tanto que o Instituto de Energia concluiu em 2012 que a mídia estava exagerando as consequências ambientais negativas do fraturamento (EIA, 2013). Há também preocupações a respeito do tratamento da água após ser usada no fraturamento. Essa água pode conter metais pesados, elementos radioativos, e portanto, demanda tratamento especial para evitar contaminação de águas voltadas ao abastecimento local. Apesar de todas as mídias e as ONGs apontarem contra o fraturamento, um estudo feito pela University of Texas`s Energy Institute (Sample, 2012), concluiu que as evidências de o fraturamento hidráulico ter gerado contaminação em aquíferos são mínimas, em alguns casos 34 inexistentes, mas ainda assim requisitaram às empresas operadoras para tomar maiores medidas de prevenção de acidentes ambientais. Por fim, cabe destacar que desde que o presidente Nixon assumiu o comando dos EUA em 1973, a busca pela autossuficiência energética tornou-se um importante alvo político compartilhado por todos os seus sucessores. Em 1977 o Presidente Carter descreveu a crise energética como uma equivalente moral à guerra em um de seus discursos. Os eventos associados a revoltas no mundo árabe em 2011 e as tensões geradas entre o Iran e os EUA por causa do programa nuclear deram força ao anseio pela autossuficiência energética. Nesse contexto um possível substituto ao petróleo e gás convencional pode diminuir o poder político e econômico dos grandes produtores de gás como os países do Oriente Médio, Rússia e Venezuela. 3.6.2 GÁS DE FOLHELHO NA EUROPA Após os conflitos envolvendo a Rússia e a Ucrânia na disputa pela Crimeia no ano de 2014, os Países da Europa Ocidental sentiram maior necessidade de novas formas de obter gás natural, dado que um terço do gás usado na Europa vem da Rússia. Não é a primeira vez que a Europa tem o suprimento de gás ameaçado pela Rússia. No dia primeiro de janeiro de 2006 o governo Russo decidiu que aumentaria o preço de 1000 metros cúbicos em 400%. A Ucrânia recusou o aumento e a Rússia fechou os registros dos gasodutos por algumas horas. Países como França, Alemanha, Áustria e Itália reportaram uma queda na vazão dos gasodutos de aproximadamente 30%. Outro episódio semelhante aconteceu três anos depois. Novamente no ano novo, a Rússia cortou suprimentos para Bulgária e Eslováquia, durante mais de duas semanas, até que por fim a Rússia e a Ucrânia entraram em um acordo que deveria durar dez anos (Kroeger, Hotten, 2014). Por outro lado, em alguns países como França e Bulgária o fraturamento é proibido por razões ambientais. Na Polônia e no Reino Unido o processo já é legalizado. Os demais países europeus como Irlanda, República Tcheca, Romênia, Alemanha e Espanha declararam moratória à técnica de extração para poder analisar mais detalhadamente os impactos ambientais (Anderson, 2014). O Reino Unido tem saído à frente dos demais países.
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