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Capítulo 7 Sistemas de Osciladores 7.1 N osciladores de mesma freqüência em equilíbrio térmico Vamos examinar, inicialmente, as propriedades termodinâmicas de um sistema de N osciladores harmônicos unidimensionais independentes, distinguíveis, de mesma freqüência ω , em equilíbrio térmico. Este problema serve de base para o estudo da radiação de corpo negro (radiação térmica) e do calor específico dos sólidos, como veremos. Os autovalores de energia de um oscilador harmônico unidimensional são 1 , 0,1,2,3,... 2n n nε ω⎛ ⎞= + =⎜ ⎟⎝ ⎠= (7.1) Como por hipótese os osciladores podem ser distinguidos um do outro, eles obedecem a estatística de Maxwell-Boltzmann. A função de partição para um oscilador é ( )/ 2 / 21 0 0 2 2 2 2 1 1 1 2senh n n n n Z e e e e e e e e β ω β ω β ω β ω β ω β ω β ωβ ω β ω ∞ ∞− − − − = = − − − = = = = =− ⎛ ⎞− ⎜ ⎟⎝ ⎠ ∑ ∑= = = = = = == = (7.2) A função partição dos N osciladores independentes é igual a 1 NZ Z= , ou 1 2 ( / 2) [2senh( )] {1 } N N Z e eβ ω β ω β ω − N− − − = = −= = = (7.3) De posse de Z, todas as propriedades termodinâmicas do sistema de osciladores podem ser facilmente encontradas. Para a energia livre de Helmholtz nós obtemos { } 1 ln ln 2senh 2 1 ln 1 2 B B F Z N T N T e β ω β ωβ κ ω κ − − ⎡ ⎤⎛ ⎞= − = ⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦ ⎡ ⎤= + −⎢ ⎥⎣ ⎦ = = = (7.4) A energia média do sistema pode ser calculada como 1 1 1coth 2 2 1 2 1 ZE Z N N eβ ω β ω β ω ωω ∂= − ∂ ⎛= ⎜⎝ ⎠ ⎞⎟ ⎡ ⎤= +⎢ ⎥−⎣ ⎦= = == = (7.5) E assim, temos para a entropia, ln{1 } 1 S Nk e e β ω β ω β ω −⎡ ⎤= − −⎢ ⎥−⎣ ⎦ = = = (7.6) Note que a entropia é independente do volume. Isso implica que a pressão do sistema é identicamente nula 0P = (7.7) Segue então que F = G e portanto, F N μ = (7.8) Finalmente, temos para a capacidade térmica do sistema: 2 2( ) ( 1V P B eC C N e β ω β ωκ β ω= = − = == ) ω (7.9) A capacidade térmica do sistema de osciladores, em contraste com a teoria clássica da eqüipartição da energia, depende da temperatura. Para altas temperaturas, quando , fazendo uso da expansão BTκ >> = 1eβ ω β ω≈ += = é fácil mostrar que recuperamos o valor clássico . equi BC Nκ= No desenvolvimento acima nós trabalhamos no formalismo canônico. Uma outra maneira de obter as propriedades termodinâmicas do sistema de osciladores é através do formalismo microcanônico. Escrevendo a energia total E dos N osciladores como 1 1 2 2 N i i NE n Mω ω = ⎛ ⎞ ⎛= + = +⎜ ⎟ ⎜⎝ ⎠ ⎝∑= = ⎞⎟⎠ (7.10) onde 1 N i i M n = = ∑ , você viu na seção 3.1.4 que a multiplicidade ( , )M NΩ é dada por (( , ) !( 1)! M NM N M N 1)!+ −Ω = − (7.11) A entropia é dada por e usando a fórmula de Stirling do fatorial de um número grande, obtemos lnBS κ= Ω {ln( )! ln ! ln !} {( ) ln( ) ln ln } B B S M N M N M N M N M M N N κ κ ≈ + − − ≈ + + − − (7.12) O número M é uma medida da energia do sistema. Logo, para a temperatura do sistema nós obtemos 1 2 1 2 1 1 ln lnB B N N E NS S M N T E M M E N ωκ κ ω ω ω ⎛ ⎞+∂ ∂ +⎛ ⎞ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞= = = = ⎜⎜ ⎟ ⎜ ⎟ ⎜ ⎟∂ ∂ −⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ = = = = =ω ⎟ (7.13) de onde segue que 1 2 1 E e N e β ω β ωω 1+= − = == (7.14) Este resultado é idêntico à equação (7.5). 7.2 Radiação térmica A radiação eletromagnética no interior de uma cavidade em equilíbrio térmico com as paredes da cavidade a uma temperatura T é chamada de radiação de corpo negro ou radiação térmica. A radiação em equilíbrio térmico tem uma densidade de energia que depende somente da temperatura, ou seja, sua energia interna é da forma ( , ) ( )E T V Ve T= (7.15) Por outro lado, da eletrodinâmica, a pressão de radiação é determinada somente pela densidade de energia: 1 ( ) 3 P e T= (7.16) Observe que essas equações não dependem de N, indicando que na cavidade não existem partículas conservadas para serem contadas por um parâmetro N. Veremos agora que as equações (7.15) e (7.16) são suficientes para determinar a dependência da densidade de energia com a temperatura. Usando a relação de Euler , temos que /S U T PV T= + / 4 ( ) 3 VS e T = T V (7.17) Em seguida, aplicamos a relação de Maxwell ( / ) ( / )TS V P T∂ ∂ = ∂ ∂ . Tendo em vista as equações (7.16) e (7.17), obtemos 4de e dT T = (7.18) Resolvendo esta equação, encontramos que 4( )e T Tσ= , onde σ é uma constante. Assim, temos para a energia interna da radiação de corpo negro (7.19) 4E T Vσ= O resultado de que a energia da radiação de corpo negro é proporcional à quarta potencia da temperatura é conhecido como Lei de Stefan-Boltzmann. A pressão da radiação de corpo negro em função da temperatura segue imediatamente substituindo a Eq. (7.19) na Eq. (7.16), 41 3 P Tσ= (7.20) e para a entropia, temos 34 3 S Vσ= T T (7.21) Um pequeno furo na parede da cavidade mantida à temperatura T, vai emitir radiação como um corpo negro (Veja a definição de corpo negro na seção seguinte). O fluxo de energia emitida é dado por ,ou ( / 4)( / )eJ c E V= (7.22) 4e BJ σ= O valor da constante de Stefan-Boltzmann Bσ não pode ser obtido pela Física Clássica. Sua determinação por Max Planck em 1900, através da imposição de que as energias de um oscilador harmônico deviam ser quantizadas, é considerado como a origem da Mecânica Quântica. 7.2 Potência emitida por um corpo Tomemos um corpo cuja superfície é mantida a uma temperatura absoluta T. Por exemplo, o Sol. Um outro exemplo seria a resistência de um aquecedor elétrico. Em cada caso sabemos que o corpo em questão emite radiação eletromagnética e estamos interessados em saber quanta energia por unidade de tempo ( )eJ dω ω é emitida por radiação na faixa de freqüências entre ω e dω ω+ . Estas situações certamente não são situações de equilíbrio. Pense na resistência do aquecedor elétrico em uma sala. As paredes da sala estão a uma temperatura muito mais baixa que a resistência e existe uma transferência contínua de energia por radiação da resistência para as paredes. Portanto, não parece à primeira vista que possamos usar a termodinâmica e física estatística de equilíbrio para calcular ( )eJ dω ω . Mas podemos sim, através de um procedimento que logo descreveremos. Considere radiação eletromagnética numa cavidade em equilíbrio térmico com as paredes da cavidade a uma temperatura T. Seja ( , )e T dω ω a energia média por unidade de volume da radiação com freqüência angular na faixa entre ω e dω ω+ . A condição de equilíbrio térmico exige que a densidade de energia seja homogênea, não dependa do estado de polarização da radiação ou da direção do vetor de onda k G , nem da forma ou tamanho da cavidade; só pode depender do módulo do vetor de onda /k cω= e da temperatura. Note que ( , )e Tω contém uma informação mais detalhada que a densidade que introduzimos na seção anterior. As duas estão relacionadas por ( )e T 0 ( ) ( , )e T e T dω ω∞= ∫ (7.23) Definimos a emissividade de um corpo como: ( , )eJ k d dα ω Ω G = potência, por unidade de área do corpo, emitida com polarização α , na faixa de freqüência angular entre ω e dω ω+ , e num ângulo sólido d em torno da direção . Ω k G A emissividade depende da natureza do corpo e de sua temperatura. Para calcular a potência emitida por um corpo cuja temperatura da superfície é mantida constante e igual a T, fazemos o seguinte: imaginamos o corpo imerso na radiação da cavidade e em equilíbrio térmico com ela à temperatura T. Entãoele estará emitindo e também terá radiação incidindo sobre ele a uma taxa tal que sua temperatura permaneça T. Quando a resistência do aquecedor está ligada na tomada, quem mantém sua temperatura igual a T é a dissipação Joule da corrente elétrica passando por ela. Já no Sol, são as reações de fusão de hidrogênio que são responsáveis pela temperatura de sua superfície. Seja a potência incidente numa unidade de área do corpo. Somente uma fração ( , )iJ k d dα ω Ω G ( , )a k αG da radiação incidente será absorvida. A condição de equilíbrio térmico exige que ( , ) ( , ) ( , )eJ k a k J kiα α− = α G G G (7.24) ou ( , ) ( , ) ( , ) e i J k J k a k α αα − = G GG (7.25) O parâmetro ( , )a k αG , chamado de absortividade, é uma característica do corpo e depende em geral de sua temperatura T. O lado direito da equação (7.25), ( , )iJ k α G , depende somente da temperatura de equilíbrio da radiação e é independente da natureza do corpo. Portanto, podemos concluir que a razão do lado esquerdo da equação (7.25) depende somente da temperatura. Isso leva à seguinte conclusão importante, conhecida como “lei de Kirchhoff” (uma de suas leis): Um bom emissor de radiação é também um bom absorvedor de radiação, e vice-versa. Quando para todas as polarizações, freqüências e direções de incidência da radiação, o corpo é um absorvedor de radiação perfeito e Kirchhoff (que foi professor de Planck) deu o nome de corpo negro a um corpo com essa propriedade. Para um corpo negro, a equação (7.24) torna-se ( , ) 1a k α =G ( , ) ( , )e iJ k J kα α− = G G (7.26) Voltando ao problema do cálculo da potência emitida, note que o lado direito da equação (7.25) nós sabemos como calcular uma vez que a densidade ( , )e Tω seja dada. Vamos supor que conhecemos ( , )e Tω . Então a potência incidente por unidade de área do corpo, na faixa de freqüência angular entre ω e dω ω+ e num ângulo sólido da direção kdΩ G é (veja a figura 7.1) 1 1( , ) ( , ) cos 2 2i J k d d c e T d dα ω ω ω θΩ =G Ω (7.27) O primeiro fator ½ foi incluído porque numa dada direção metade do fluxo está num sentido e metade no sentido oposto. O segundo, porque ( , )e Tω é igual a duas vezes o valor para uma polarização. Figura 7.1. A quantidade de radiação que vai atravessar o elemento de área dA do corpo no intervalo de tempo dt é igual a ( , )cosce T dtdAω θ , onde θ é o ângulo entre a direção de incidência e a direção do vetor normal à de superfície no ponto de incidência nˆ Queremos agora encontrar a potência total ( )eJ dω ω emitida por unidade de área na faixa de freqüências entre ω e dω ω+ para ambas as direções de polarização. Vamos supor que a absortividade dependa somente de ω , ou seja, ( )a a ω= . Então, substituindo a equação (7.27) na equação (7.24), temos 1 1( , ) ( ) ( , ) cos 2 2e J k d d a c e T d dα ω ω ω ω θ− Ω =G Ω / 2 (7.28) Devemos integrar a (7.28) sobre todas as possíveis direções de emissão, isto é, sobre todos os ângulos sólidos na faixa de ângulo polar 0 θ π< < e faixa de ângulo azimutal 0 2φ π< < . E também multiplicar por 2 para incluir ambas as direções de polarização. Como send d dθ θ φΩ = / 2 0 2 ( ) ( , ) 1( ) ( , ) 2 cos sen 2 e eJ d J k d d a ce T d d π π ω ω α ω ω ω ω π θ θ Ω = − Ω = ∫ ∫ θ (7.29) ou, 1( ) ( ) [ ( , )] 4e J a ce Tω ω ω= (7.30) Para um corpo negro, 0 1( ) ( ) 4e e J J d ce Tω ω ∞ = =∫ (7.31) A determinação de ( , )e Tω será feita quando estudarmos o modelo de Planck da radiação de corpo negro. Mesmo sem conhecer sua forma funcional, ainda podemos dizer alguma coisa sobre como as variáveis e Tω devem aparecer em ( , )e Tω . A lei de Stefan- Boltzmann exige que e Tω apareçam combinadas na forma const. /x Tω= , onde x é uma variável adimensional. De fato, seja ( , )Tε ω a energia média de um modo normal da radiação na cavidade e ( )dω ωD número de modos normais por unidade de volume na faixa de freqüências ( , )dω ω ω+ . Então, com o valor de ( )ωD dado pela equação (7.42) temos 2 2 3( , ) ( , )e T d T dc ωω ω ε ωπ= ω x (7.32) Agora, fazendo ( , ) ( )T fε ω ω∝ , é fácil de ver que 4 3 3 0 ( , ) ( ) ( ) e T d T x f x d x f x dx xσω ω ∞= ∫ (7.33) onde σ é a constante que aparece na equação (7.19). Em 1896, Wilhelm Wien, baseado em argumentos semi-empíricos, propôs a seguinte expressão para a distribuição espectral da radiação de corpo negro 4 3 3 0 ( , ) xWWien xe T d T x ex e dx dxσω ω −∞ −= ∫ (7.34) onde Wσ é uma constante. (Planck, que era amigo de Wien, publicou um trabalho no qual acreditava ter dado uma justificativa teórica para a distribuição de Wien). A (7.34) dá ótimos resultados quando . Isto sugere que 1x >> ( )f x deve satisfazer 1lim ( ) x x f x e − >> → (7.35) A expressão da física clássica ( , )clássicae Tω é facilmente obtida sabendo-se que do princípio da eqüipartição da energia a energia média por modo de vibração é , kT 2 2 3( , )clássicae T d kTc ω dω ω π= ω (7.36) Este é um resultado conhecido como lei de Rayleigh-Jeans (1900) . È interessante notar que o limite clássico exige que (comparando a equação (7.33) com a (7.34)) 1 1lim ( )x f x x<< → (7.37) Não é difícil imaginar uma função ( )f x que tenha como limites as equações (7.35) e (7.37): 1( ) 1x f x e = − (7.38) Também não é difícil chegar à conclusão que /x kT ω= = , onde k é a constante de Boltzmann e / 2h π== , onde h é uma constante que já existia na mecânica estatística e que foi introduzida por Gibbs para designar o volume de uma célula elementar no espaço de fase. (No entanto, só alguém com um profundo conhecimento de termodinâmica e mecânica estatística como Planck, poderia ter concluído que a quantização da energia levaria à (7.38)). Exemplo 7.1. Ciclo de Carnot num diagrama P-V para a radiação de corpo negro. Num ciclo de Carnot, para gerar trabalho a partir do calor, a substância de trabalho é expandida e comprimida em quatro estágios, dois isotérmicos e dois isentrópicos, como mostrado na figura 7.2. Queremos o diagrama P-V de um ciclo de Carnot quando a substância de trabalho é a radiação térmica. Figura 7.2. O ciclo de Carnot Da equação (7.20), as isotermas num diagrama P-V são retas paralelas ao eixo V. Agora, usando a expressão da pressão para eliminar T da equação (7.21), obtemos (7.39) 4/3 ( )PV f S= onde ( )f S é uma função somente da entropia. Portanto, num processo adiabático, (7.40) 4/3 const.PV = Note que esta relação não significa que a razão /P VC C para a radiação de corpo negro seja igual a 4/3. Ela é provavelmente infinita. De fato, como a pressão da radiação de corpo negro depende somente da temperatura, se a pressão for mantida constante durante uma transferência de calor para o sistema, a energia do sistema vai variar sem variação de sua temperatura. Ou seja, PC é infinita para a radiação de corpo negro. Usando (7.20) e (7.40), podemos então construir o ciclo de Carnot como mostrado na figura abaixo. Figura 7.3. Diagrama P-V de um ciclo de Carnot quando a substância de trabalho é radiação de corpo negro. 7.3 O modelo de Planck da radiação de corpo negro Podemos explicar as propriedades termodinâmicas da radiação de corpo negro de dois modos conceitualmente distintos: (a) como uma aglomeração de osciladores harmônicos com energias quantizadas in iω= , onde e 0,1, 2,3,...in = iω é a freqüência angular de um oscilador, ou (b) um gás de fótons, sendo a energia de um fóton dada por iω= Aqui, nós vamos considerar a primeira abordagem, devida a Max Planck no seu histórico trabalho de 1900 (Planck voltou ao problema da radiaçãode corpo negro quando Lummer e Pringsheim e Rubens e Kurlbaum fizeram medidas para longos comprimentos de onda e verificaram que a lei de Wien (7.34) não fitava seus dados (veja a figura 7.4)). Mais adiante, quando estivermos estudando o gás ideal de Bose veremos como tratar a radiação como um gás de fótons. Figura 7.4. Comparação ente a lei de Wien (azul), 3( ) xu x x e−= e a lei de Planck (vermelho, exata), . 3( ) /( 1)xu x x e= − Suponha que a radiação esteja contida dentro de um recipiente fechado, de volume V, que podemos pensar, sem perda de generalidade, como sendo uma cavidade cúbica com paredes perfeitamente refletoras. Então a energia da radiação reside nos modos eletromagnéticos ressonantes da cavidade. As energias possíveis de um modo de freqüência iω são in ω= , com O nosso problema se reduz então a tratar a radiação como uma aglomeração de osciladores harmônicos em equilíbrio térmico. Os osciladores são distinguíveis por suas freqüências e portanto obedecem a estatística de Maxwell- Boltzmann. O valor esperado da energia de um oscilador pode ser calculada a partir da função de partição (7.2) e é dada por, excluindo o termo de energia de ponto zero, 0,1, 2,3,....in = 1i i i eβ ω ωε = −= = (7.41) O número de modos normais de vibração por unidade de volume de cavidade na faixa de freqüências ( , )dω ω ω+ é (ver seção7.4.3) 2 2 3( ) dd c ω ωω ω π=D (7.42) Das equações (7.41) e (7.42), a densidade de energia associada à faixa de freqüências ( , )dω ω ω+ é dada por 3 2 3 /( , ) 1kT de T d c e ω ω ωω ω π= −= = (7.43) Esta é a famosa lei de Planck da distribuição espectral da radiação de corpo negro. A densidade de energia total na cavidade é dada por 4 3 2 4 4 2 3 3 3 3 0 0 ( )( , ) 1 15x E kT x dxe T d T V c e πω ω π ∞ ∞ = = =−∫ ∫= =kc (7.44) onde introduzimos a variável adimensional /x kTω= = e usamos que 3 4 0 1 15 x x dx e π∞ =−∫ A equação (7.44) permite escrever a constante de Stefan-Boltzmann em termos de constantes fundamentais e assim obter seu valor numérico: 2 4 8 2 3 2 5,670 1060B k Wm K c πσ 4− − −= = ×= (7.45) Exemplo 7.2 Temperatura da superfície de algumas estrelas conhecidas Um corpo negro é uma idealização. O espectro de potência ( )eJ ω de corpos reais radiantes pode desviar-se bastante do espectro de corpo negro. Ainda assim, podemos fazer predições úteis usando esse modelo. O espectro de potência de corpo negro tem um pico quando 2,8kTω= � . Isto significa que a freqüência do pico de radiação cresce linearmente com a temperatura do corpo. Em outras palavras, corpos quentes tendem a emitir radiação em freqüências mais altas que corpos frios. Este resultado é conhecido como lei do deslocamento de Wien e permite estimar as temperaturas de superfície de estrelas a partir de suas cores (estrelas comportam-se surpreendentemente bem como corpos negros). A Tabela 7.1 mostra algumas temperaturas estelares determinadas por esse método (na verdade, todo o espectro de emissão é ajustado a um espectro de corpo negro). Note que as cores aparentes (que correspondem bastante bem às cores da radiação de pico) varrem todo o espectro visível, desde o vermelho até o azul, à proporção que as temperaturas estelares gradualmente sobem. Tabela 7.1: Temperaturas de superfície de algumas estrelas Nome Constelação Temp. da sup. (K) Cor Antares Escorpião 3300 Muito vermelha Aldebaran Touro 3800 Avermelhada Sol 5770 Amarela Procyon Cão Menor 6570 Amarelada Sirius Cão Maior 9250 Branca Rigel Órion 11,200 Branco azulada . Exemplo 7.3 Radiação cósmica de fundo. O espectro de corpo negro mais famoso tem origem cosmológica. Logo após o “big bang” o Universo era essencialmente uma “bola de fogo” com a energia associada à radiação dominando sobre a energia associada à matéria. O Universo primordial também era bem descrito pela termodinâmica estatística de equilíbrio, o que significa que a radiação tinha um espectro de corpo negro. À proporção que o Universo foi se expandindo, a radiação foi gradualmente sofrendo um deslocamento Doppler para comprimentos de onda cada vez maiores, mas seu espectro permaneceu invariante. Nos dias de hoje, essa radiação primordial é detectada como uma fraca radiação em microondas de fundo que permeia todo o Universo. A radiação cósmica de fundo foi descoberta acidentalmente por Penzias and Wilson em 1961. A figura 7.5 mostra os dados obtidos para o espectro da radiação cósmica de fundo ajustado perfeitamente por um espectro de corpo negro de temperatura característica igual a 2,735 K, que podemos considerar como sendo a “temperatura do Universo''. Figura 7.5. Espectro da radiação cósmica de fundo. 7.4 O calor específico dos sólidos Considere um sólido clássico composto de N átomos cujas posições no espaço são especificadas pelas coordenadas 1 2 3( , ,..., )Nx x x . No estado de energia mais baixa, os valores dessas coordenadas são representados por 1 2 3( , ,..., )Nx x x . Cada átomo é livre para vibrar com uma pequena amplitude em torno de sua posição de equilíbrio. Vamos representar os deslocamentos ( i i )x x− dos átomos de suas posições de equilíbrio pelas variáveis iξ ( ). A energia cinética do sistema na configuração 1,2,...,3i = N 1 2 3( , ,..., )Nx x x é dada por 3 3 2 1 1 1 1 2 2 N N i i i K m x m 2iξ = = = =∑ ∑ �� (7.46) Como os deslocamentos são pequenos iξ , a energia potencial pode ser expandida numa série de Taylor e obtemos ( ) ( ) 2 ( ) ( ) ( ) ( ) 1 ( )( ) ... 2 i i i i i i i i i x x i i j j i j x x VV V x x x x V x x x x x x = = ⎛ ⎞∂= + −⎜ ⎟∂⎝ ⎠ ⎛ ⎞∂+ −⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂⎝ ⎠ ∑ ∑ − + (7.47) O primeiro termo nesta expressão é a energia potencial do sólido quando os átomos estão na configuração de equilíbrio e chamaremos de . O próximo termo é identicamente nulo, porque a função tem um mínimo em 0V ( )iV x ( ) ( )i ix x= e portanto sua primeira derivada se anula. Introduzindo as constantes 2 ( ) ( )i j ij i j x x VA x x = ∂= ∂ ∂ (7.48) Mantendo somente até os termos quadráticos em ξ , obtemos para a energia potencial do sistema 0 1 2 ij i jij V V A ξ ξ= + ∑ (7.49) As quantidades são reais (porque V é real) e simétricas, ijA ij jiA A= , (porque as segundas derivadas parciais de V são contínuas). A energia total do sistema fica 3 3 2 0 1 1 1 1 2 2 N N i ij i i E V m A i jξ ξ ξ = = = + +∑ ∑� (7.50) A forma da energia potencial (7.49) indica que as oscilações dos átomos no sólido são acopladas, como devem ser. Mas, resolver um sistema de 3N equações do movimento acopladas é complicado. No entanto, você já viu em Física II que quando temos osciladores acoplados é sempre possível encontrar um conjunto de 3N coordenadas, as coordenadas normais do sistema, em termos das quais as equações do movimento são desacopladas. Em outras palavras, é sempre possível uma transformação linear (7.51) 3 1 N i i j a qξ = =∑ j j tal que a energia do sólido toma a forma 3 2 2 2 0 1 1 ( 2 N i i i i E V m q qω = = + +∑ � ) N (7.52) onde ( 1, 2,...,3 )i iω = são as freqüências características dos modos normais. Assim, a mudança de variáveis (7.51) reduz o problema complicado de N átomos interagindo ao problema equivalente de 3N osciladores harmônicos independentes. O estado quântico do sistema é especificado pelo conjunto de 3N números quânticos , onde cada número quântico toma valores de zero a infinito. A energia total do sistema é a soma das energias dos osciladores unidimensionais 1 2 3( , ,..., )Nn n n in 1 2 3 3 1 , ,..., 0 2 1 ( ) N N n n n i i iE V n ω = = + +∑ = (7.53) e que vamos escrever numa forma ligeiramente diferente 1 2 3 3 , ,..., 1 N N n n n i i i E N nε ω = = − +∑ = (7.54) onde 3 0 1 1 2 N i i N Vε ω = − = + ∑= (7.55) é uma constante independente dos números quânticos .É evidente que in ε representa a energia de ligação por átomo no sólido no zero absoluto. A função de partição do sistema é dada por 1 1 2 2 3 3 1 2 3 3 31 1 1 3 31 ( ... , ,... 0 0 ... 1 1... 1 1 N N N N N N N N n n n n n n nnN n n N Z e e e e e e e β ε ω ω ω β ωβ ωβ ε β ε β ωβ ω − − + + + + ∞ ∞ −− = = = ⎛ ⎞⎛ ⎞= ⎜⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎛ ⎞ ⎛ ⎞= ⎜ ⎟ ⎜ ⎟− −⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ∑ ∑ ∑ = = = == == ) ⎟ (7.56) Z é um produto de funções de partição de osciladores harmônico simples unidimensionais que já calculamos antes. Desse modo, (7.57) 3 1 ln ln(1 )i N i Z N e β ωβ ε − = = − −∑ = Como nos problemas em que estaremos interessados o espaçamento entre os possíveis valores das freqüências dos modos normais é pequeno, é conveniente introduzir a densidade de modos ( )D ω , como fizemos para a radiação de corpo negro, tal que, ( )dω ω =D número de modos normais com freqüência angular entre ω e dω ω+ Figura 7.6 Densidade de modos normais do Alumínio. Estão indicadas a freqüência angular máxima mω , e a freqüência angular de Debye Dω . A curva ( )ωD contra ω deve ter a forma indicada na figura 7.6. Como o número de modos normais de um sistema de N partículas é igual a 3N, ( )ωD deve satisfazer a condição (7.58) 0 ( ) 3dω ω ∞ =∫D N A energia média total do sólido torna-se 0 ln ( ) 1 ZE N eβ ω ω dε ω ωβ ∞∂= − = − +∂ −∫ == D (7.59) A capacidade térmica do sólido a volume constante é 2V V V EC k T β Eβ ⎛ ⎞∂⎛ ⎞= = −⎜ ⎟ ⎜ ⎟∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ∂ (7.60) ou, 22 0 ( ) ( ) ( 1)V eC k d e β ω β ω β ω ω ∞ = −∫ = = = D ω (7.61) Assim como no problema da radiação do corpo negro, as propriedades termodinâmicas do sólido estarão completamente determinadas uma vez que a densidade de modos seja conhecida. Porém, diferentemente da radiação térmica, encontrar ( )ωD é um problema complicado, em geral. 7.4.1 O modelo de Einstein Em 1907, Einstein publicou o trabalho “Teoria de Planck da radiação e a teoria do calor específico”. Através desse trabalho, Einstein foi o primeiro a aplicar o conceito de quantização da energia à teoria dos sólidos e mostrar que assim seria possível explicar porque o calor específico molar de um sólido depende da temperatura. Ele evitou o problema do cálculo da densidade de modos fazendo a aproximação simplificadora de que todas as freqüências dos modos normais são iguais. Vamos designar o valor comum por Eω , ou seja, ( ) ( )ENω δ ω ω= −D (7.62) Substituindo essa expressão na equação (7.61), podemos escrever o calor específico molar do sólido como 3R ( )Vc E x= ⋅ (7.63) onde é a função de Einstein ( )E x 2 2( ) ( 1) x x x eE x e = − (7.64) com / /E Ex kT Tω= = Θ= (7.65) O calor específico molar é definido como /V Vc C n= , onde ( / )An N N= e é o número de Avogadro. Na equação (7.63), AN R AkN= é a constante dos gases. Para temperaturas bem mais altas que a temperatura de Einstein EΘ , temos que 1x << , e o resultado de Einstein para o calor específico tende ao valor clássico de Dulong e Petit . Mas para temperaturas suficientemente baixas, onde 3R ET << Θ e portanto , o calor específico cai exponencialmente rápido, 1x >> 2 3R exp( / )EVc T Θ⎛ ⎞→ −⎜ ⎟⎝ ⎠ E TΘ (7.66) Experimentalmente, para baixas temperaturas. 3VC T∼ A figura 7.7 mostra a comparação feita por Einstein de sua fórmula para o calor específico com os dados disponíveis do diamante. CONTINUA Figura 7.7 Calor específico molar do diamante. Os círculos são resultados experimentais e a linha tracejada é o ajuste por obtido por Einstein com seu modelo de fazendo . 1320KEΘ = 7.4.2 O modelo de Debye O método usado por Debye para o cálculo aproximado da densidade de modos ( )ωD trata um sólido como se fosse um meio elástico contínuo. Seja λ o comprimento de onda caracterizando um modo de vibração desse contínuo elástico e a a separação interatômica média de um sólido real. Se aλ >> , átomos vizinhos no sólido deslocam-se aproximadamente da mesma quantidade. O fato de os átomos estarem a uma separação finita a um do outro não é muito significante e os modos normais de vibração do meio elástico devem ser muito aproximadamente os mesmos que os do sólido real. No entanto, quando λ é comparável a a, os deslocamentos de átomos vizinhos são marcadamente diferentes. O espaçamento discreto dos átomos é então muito importante e os modos de vibração dos átomos são, conseqüentemente, bem diferentes daqueles do meio contínuo elástico. A análise acima leva às seguintes conclusões: para baixas freqüências (comprimentos de onda grandes), a densidade de modos do meio elástico contínuo ( )c ωD deve ser muito aproximadamente a mesma que a densidade de modos do sólido real ( )ωD ; para altas freqüências (comprimentos de onda curtos), ( )ωD e ( )c ωD devem diferir crescentemente. Finalmente, quando λ é aproximadamente igual ou menor que a, ( )ωD e ( )c ωD são completamente diferentes. De fato, em um sólido real, existe uma freqüência máxima mω tal que ( ) 0ω =D para mω ω> (veja, por exemplo, a figura 7.6). 7.4.3 Densidade de modos Vamos calcular a densidade dos modos normais de um sólido d-dimensional considerando o mesmo como um meio contínuo elástico isotrópico de volume V. Por simplicidade, vamos supor que dV L= . Uma onda estacionária em uma dimensão deve ter um comprimento de onda λ tal que um número inteiro de meios comprimentos de onda seja igual a L. Isto é, o vetor de onda 2 /k π λ= deve ser da forma /n Lπ . Para uma onda com uma orientação qualquer, em d dimensões, há restrições semelhantes em cada uma das d componentes de k 1 2 1 21/ 1 2 3 ( , ,..., ) ( , ,..., ) , ,..., inteiros d dn n n n n nL V n n n π π⎛ ⎞ ⎛ ⎞= =⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎝ ⎠ = k d (7.67) Consideremos, por simplicidade, um meio isotrópico, para o qual a freqüência angular ω depende somente de k = k , isto é, ( )kω ω= . Então, o número de modos com freqüência angular menor que ω é igual ao número de conjuntos de inteiros positivos para os quais 11 2 2 2 2 1 2 ( )( ... ) dd kn n n V ωπ+ + + ≤ (7.68) Podemos pensar como um raio num espaço no qual são distâncias inteiras ao longo dos d eixos coordenados. Cada conjunto define um ponto nesse espaço. O número de pontos com raio menor que 2 2 2 1/ 1 2( ,..., )dn n n+ + + 2 1 2, ,..., dn n n 1 2( , ,..., )dn n n 1/ ( ) /dV k ω π é o volume dentro desse raio. Somente a parte do volume na qual todos os números são positivos é aceitável. Logo, o número de modos com freqüência angular 1 2, ,... e dn n n ω≤ é / 2 1/1 2 1 ( )( ) 2 ( / 2) dd d d kV d d π ωω π ⎛= ⎜Γ ⎝ ⎠N ⎞⎟ (7.69) onde (x) é a função gama. Diferenciando a (7.69) nós encontramos o número de modos Γ ( )dω ωD no intervalo entre ω e dω ω+ 11 / 2 1 / 2 ( ) ( )( ) ( ) 2 ( / 2) 2 ( / 2) d d d d d d V dk V dkd d k d d d d d ω ω dω ω ωπ ω π − − −= =Γ ΓD ω ωω (7.70) Para um sólido tridimensional, fazendo 3d = na equação (7.70), obtemos 22 ( )( ) ( ) 2 V dkd k d dωω ω ωπ ω=D ω (7.71) onde usamos que (3/ 2) (1/ 2) (1/ 2) / 2πΓ = Γ = . Se além disso a relação entre k e ω for linear, da forma /k cω= , então a equação (7.71) se reduz à equação (7.42). 7.4.4 A aproximação de Debye Vamos então consideraras vibrações de um sólido como se ele fosse um meio elástico contínuo de volume V. Os modos normais correspondem a ondas estacionárias. As ondas num sólido são tanto longitudinais como transversais. Assim, temos modos normais longitudinais e transversais. Seja a velocidade das ondas longitudinais. A relação funcional Lc ( )k ω para os modos longitudinais é ( ) L k c ωω = (7.72) Substituindo na equação (7.71), encontramos para a densidade dos modos longitudinais 22 3( ) 2L L Vd c dω ω ωπ=�D ω (7.73) De modo semelhante, achamos para os modos transversais 22 3( ) 2 2T T Vd c dω ω ωπ=�D ω (7.74) onde é a velocidade das ondas transversais no sólido e incluímos um fator 2 em virtude das duas polarizações dos modos transversais. Finalmente, o número total de modos na faixa de freqüências entre Tc ω e dω ω+ é 22 3( ) ( ( ) ) 3 2c L T Vd d c dω ω ω ω ωπ= + =�DD D ω (7.75) onde c é uma velocidade do som efetiva 3 3 3 1 2 L Tc c c 3= + (7.76) A aproximação de Debye consiste em aproximar ( )ωD por ( )c ωD não apenas para baixas freqüências, onde elas devem ser quase as mesmas, mas para todos os 3N modos de freqüências mais baixas do contínuo elástico. Ou seja, ( ) para ( ) 0 para c D D D ω ω ωω ω ω <⎧= ⎨ >⎩ D D (7.77) onde a freqüência de Debye Dω é escolhida de modo que ( )D ωD forneça o número total correto de 3N modos normais (7.78) 0 0 ( ) ( ) 3 D D cd d ω ω ω ω ω ∞ =∫ ∫D D N= Substituindo (7.75) na (7.78), obtemos 2 32 3 2 3 0 3 3 2 2 D D V Vd c c ω ω ω ωπ π= =∫ N (7.79) ou 1 326D Nc V ω π⎛= ⎜⎝ ⎠ ⎞⎟ (7.80) A freqüência de Debye depende somente das velocidades do som no sólido e do número de átomos por unidade de volume. Podemos fazer uma estimativa do valor de Dω notando que, da equação (7.80), o comprimento de onda correspondente 2 / Dcπ ω é da ordem do espaçamento interatômico . Tomando .... 1/3( / )a V N≈ Com a aproximação de Debye, o capacidade térmica (7.61) torna-se 2 2 2 2 3 0 ( ) 3 ( 1) 2 D V B e VC e c ω β ω β ω β ω dκ ω ωπ= −∫ = = = (7.81) ou, em termos da variável adimensional x β ω= = , 42 3 2 0 3 2 ( ) ( 1) D x V B x V eC c e β ω κ π β= −∫ = = x dx (7.82) Podemos colocar esta expressão numa forma sugestiva se substituímos V por seu valor dado da equação (7.80), 3 26 D cV Nπ ω ⎛ ⎞= ⎜ ⎟⎝ ⎠ (7.83) Obtemos 3 ( ) 3 DV B D D B DC N F N F T κ β ω κ Θ⎛= = ⎜⎝ ⎠= ⎞⎟ (7.84) onde definimos a função de Debye 43 2 0 3( ) ( 1) y x D x eF y x dx y e = −∫ (7.85) e também introduzimos a “temperatura de Debye” DΘ como sendo tal que B D Dκ ωΘ = = (7.86) Para altas temperaturas, ou seja, quando DT >> Θ , podemos fazer 1xe x≈ + e aproximar o integrando da equação (7.85) como 4 02 1 ( 1) (1 1) x xx e 4 2 2x x xe x→ ⎯⎯⎯→− + − = (7.87) Assim, 20 3 0 3( ) 1 y D yF y x dxy→ ⎯⎯⎯→ ∫ = BN (7.88) e concluímos que o capacidade térmica de Debye tende corretamente ao valor clássico: 3 DV T C κ>>Θ⎯⎯⎯→ (7.89) Vejamos agora o limite de temperaturas muito baixas, DT << Θ . Neste caso, o limite superior da integral na equação (7.85) pode ser substituído por ∞ e segue imediatamente que (7.90) 3VC β −∝ ∝ 3T Figura 7.8. Calor específico do argônio sólido. A temperatura de Debye do Ar, determinada a partir da inclinação da curva, é 92D KΘ = . Tabela 7.2. Temperaturas de Debye para alguns elementos* Elemento DΘ (K) Elemento DΘ (K) Li 400 A 85 Na 150 Ne 63 K 100 Cu 315 Be 1000 Ag 215 Mg 318 Au 170 Ca 230 Zn 234 B 1250 Cd 120 Al 394 Hg 100 Ga 240 Cr 460 In 129 Mo 380 Tl 96 W 310 C(diamante) 1860 Mn 400 Si 625 Fe 420 Ge 360 Co 385 Sn (cinza) 260 Ni 375 Sn (branco) 170 Pd 275 Pb 88 Pt 230 As 285 La 132 Sb 200 Gd 152 Bi 120 Pr 74 *As temperaturas foram determinadas ajustando os calores específicos observados cv à fórmula de Debye (7.84 ) no ponto onde cv = 3NκB/2. Fonte: B 7.4.5 Calor específico e dimensionalidade Na equação (7.90), a proporcionalidade entre o calor específico e a potência 3 da temperatura reflete o fato do sólido ser tridimensional. Para ter certeza de que isso não é apenas uma coincidência fortuita, basta verificar o que acontece quando substituímos a expressão d-dimensional (7.70) da densidade de modos na equação (7.61) para . É fácil mostrar que para temperaturas muito baixas e uma relação linear entre k e VC ω , o calor específico é proporcional à temperatura absoluta elevada a uma potência igual ao número de dimensões do sólido: (7.91) dVC T∝ Portanto, não é uma coincidência. Para um sólido tridimensional a potência é igual a 3, para um sistema bidimensional a potência é igual a 2, para um sistema unidimensional a potência é 1. Esse comportamento é observado na natureza. Um exemplo é a grafite, uma variedade alotrópica do carbono. A grafite tem uma estrutura de camadas planas. Os átomos em cada plano formam uma rede de hexágonos. Para deslocamentos perpendiculares a um plano, as forças restauradoras são muitíssimas mais fracas que para deslocamentos similares no próprio plano. Assim, de 0 K até uma certa temperatura, as vibrações suaves contribuem para o calor específico e eventualmente saturam. Nesta faixa a dependência na temperatura é cúbica, característica de um sólido tridimensional. Para valores mais altos da temperatura, a grafite se comporta como se os planos estivessem separados. O calor específico depende do quadrado da temperatura, característica de um sólido bidimensional. 7.5 Gás de moléculas diatômicas – Vibração O último tópico que vamos tratar que envolve a contribuição do oscilador quântico se refere às vibrações das moléculas diatômicas de um gás. Você viu na seção 6.3 do capítulo anterior que, além da translação do centro de massa como um todo, uma molécula do gás pode ter energia associada a graus de liberdade internos, tais como rotação, vibração, excitação eletrônica e excitação nuclear e que essas contribuições podem ser consideradas de forma independente em muitos casos de interesse. Vamos continuar supondo, como foi feito no capítulo 6, que o gás é um gás ideal. A função de partição é dada pela equação (6.5) 1 1 ( ) ! NZ Z N = onde 1 1 1 1 1 1 trans elet rot vib nucZ Z Z Z Z Z= (7.92) Você já viu o cálculo de de 1 transZ 1 rotZ . Aqui, veremos a parte vibracional, 1 vibZ . Vamos supor que as vibrações são de pequena amplitude de modo que elas possam ser tratadas como oscilações harmônicas simples Seja ω uma das freqüências de vibração da molécula e vamos supor que todas as moléculas do gás estejam nesse modo de vibração. São N osciladores de mesma freqüência, um em cada molécula. O problema consiste então em calcular as propriedades termodinâmicas de um sistema de N osciladores distinguíveis e já foi resolvido na seção 7.1. A capacidade térmica, por exemplo, é dada pela equação (7.9), que aqui vamos escrever como 2 / / 2( 1 v v T v vib B T eC N T e κ Θ Θ Θ⎛ ⎞= ⎜ ⎟ −⎝ ⎠ ) (7.93) onde introduzimos a temperatura característica /v kωΘ = = . A figura 7.9 mostra um gráfico de . Note que é essencialmente o mesmo que a figura 7.7 do modelo de Einstein. vibC Figura 7.9. Gráfico da capacidade térmica em função da temperatura T vibC E assim, temos para a entropia, No desenvolvimento acima nós trabalhamos no formalismo canônico. Uma outra maneira de obter as propriedades termodinâmicas do sistema de osciladores é através do formalismo microcanônico. Escrevendo a energia total E dosN osciladores como 7.4 O calor específico dos sólidos 7.4.1 O modelo de Einstein 7.4.2 O modelo de Debye 7.5 Gás de moléculas diatômicas – Vibração
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