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Cap´ıtulo 9 Transic¸o˜es de fase Todo o formalismo que vimos ate´ agora pressupunha que o sistema em questa˜o apresentava-se em uma fase bem definida. Por fase entendemos um estado da mate´ria com propriedades te´rmicas, ele´tricas, mecaˆnicas, etc, bem definidas. O exemplo mais corriqueiro que lembramos e´ o da a´gua nas fases l´ıquida, so´lida ou gasosa. Quando pensamos no vapor de a´gua que se forma quando ela ferve, ou num cubo de gelo, ou na a´gua que bebemos, concluimos que deve ser bem fa´cil caracterizar esses treˆs estados, por exemplo pela compressilibidade, ou pela densidade. Veremos mais tarde que a caracterizac¸a˜o da fase pode ser bastante complicada em alguns casos, e que as diferenc¸as entre o l´ıquido e o ga´s nem sempre sa˜o ta˜o marcantes, sendo estes semelhantes em muitos aspectos. Mas, por enquanto, podemos nos deter nesse exemplo para fases da mate´ria. Nesta parte do curso estamos interessados na descric¸a˜o do processo de transic¸a˜o entre uma fase e outra. Veremos primeiro as transic¸o˜es em um fluido simples, e depois num sistema magne´tico. Finalmente explo- raremos as semelhanc¸as entre esse dois sistemas e estudaremos suas propriedades na criticalidade, ou seja, nas vizinhanc¸as do ponto cr´ıtico. 9.1 Fluidos Simples A figura 9.1 mostra duas poss´ıveis isotermas para um fluido real. As curvas podem ser obtidas atrave´s do monitoramento da pressa˜o de um flu´ıdo contido num recipiente munido de eˆmbolo, mantido a temperatura fixa. Comec¸amos numa temperatura alta, T1, com o ga´s expandido. Variando o volume muito lentamente, veremos o ga´s ter sua pressa˜o aumentada continuamente, seguindo a isoterma. Esse e´ o comportamento que vimos ate´ agora com o ga´s ideal. Repetindo a experieˆncia numa temperatura mais baixa, por exemplo T2, vemos algo diferente. Ate´ o volume Vg a diminuic¸a˜o de volume e´ acompanhada por um aumento de pressa˜o. A partir de Vg a pressa˜o permanece constante, a diminuic¸a˜o de volume causa a formac¸a˜o da fase l´ıquida. Enquanto o volume e´ diminuido entre Vg e V`, mais e mais l´ıquido e´ formado a` pressa˜o constante, ate´ que em V` todo o fluido esta´ na fase l´ıquida. A partir da´ı, a pressa˜o passa a aumentar a cada diminuic¸a˜o de volume, agora muito mais rapidamente, ja´ que o l´ıquido e´ bem mais incompress´ıvel que o ga´s. Na regia˜o Vg > V > V` observamos a coexisteˆncia entre as duas fases. Se continuamos a diminuir o volume na fase l´ıquida, eventualmente encontramos outra regia˜o de pressa˜o constante correspondendo a` formac¸a˜o da fase so´lida. E´ interessante visualizar o processo descrito acima num diagrama tridimensional como os das figuras 9.2 e 9.3. Esses diagramas nos dizem para quais valores das treˆs varia´veis as diversas fases sa˜o observadas. As Figuras (9.2) e (9.3) mostram os diagramas de fases para fluidos que se contraem e se dilatam ao se solidificar, respectivamente. Normalmente veremos esses diagramas nas formas bidimensionais (figuras 9.2.b, 9.2.c, 9.3.b, e 9.3.c) procure examina´-los comparando com o diagrama em 3 dimenso˜es. Repare nos seguintes aspectos: • Aparecem as palavras ga´s e vapor. Normalmente usamos a palavra vapor para o ga´s numa regia˜o de temperatura onde e´ poss´ıvel a coexisteˆncia com a fase l´ıquida. Essa distinc¸a˜o nem sempre e´ feita nos textos mais modernos. • No diagrama P ×T a linha que separa as fases ga´s e l´ıquido termina em um ponto denominado ponto cr´ıtico. O comportamento do sistema nesse ponto e´ muito interessante e complicado. Existe um ramo 65 CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 66 Figura 9.1: Isotermas para um ga´s real, para 2 valores diferentes de temperatura. (a) T = T1, ao ser comprimido isotermicamente o sistema permanece na fase gasosa. (b) Para uma temperatura mais baixa, T = T2, a compressa˜o partir de Vg deixa a pressa˜o constante, mas faz com que l´ıquido se forme dentro do cilindro. Ao atingir V = V` a substaˆncia esta´ toda na fase l´ıquida e a compressa˜o para volumes menores volta a causar aumento de pressa˜o. Figura 9.2: Diagrama de fases para uma substaˆncia que se contrai na solidificac¸a˜o. Figura 9.3: Diagrama de fases para uma substaˆncia que se dilata na solidificac¸a˜o. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 67 da mecaˆnica est´ıstica, a teoria dos fenoˆmenos cr´ıticos, que tudo o que faz e´ estudar o comportamento de diversos sistemas nas vizinhanc¸as esse ponto. Keneth G. Wilson recebeu o preˆmio Nobel em 1982 pela teoria do grupo de renormalizac¸a˜o, que e´ uma das mais importantes ferramentas no estudo dos fenoˆmenos cr´ıticos. • No gra´fico P × T , ao longo das linhas, as fases vizinhas podem coexistir. Essas linhas sa˜o as curvas de coexisteˆncia. • Uma linha qualquer trac¸ada nesses diagramas representa um processo revers´ıvel que leva do estado (ponto) inicial ao final. Cada vez que uma trajeto´ria dessas cruza por uma linha de coexisteˆncia, ha´ uma transic¸a˜o de fase envolvendo uma barreira de energia que causa a descontinuidade de diversas grandezas f´ısicas. A transic¸a˜o l´ıquido-ga´s pode ser realizada cruzando a linha de coexisteˆncia ou contornando o ponto cr´ıtico. No segundo caso na˜o ha´ descontinuidade. • Existe um ponto onde as treˆs fases coexistem, e´ o ponto triplo. O nu´mero de fases que podem coexistir pode ser calculado pela regra de Gibbs, como veremos mais adiante, meramente contando o nu´mero de varia´veis independentes do sistema. • Finalmente note a inclinac¸a˜o da curva S−L na Figura 9.2(b) e´ positiva e na Figura 9.3(b) e´ negativa. Isso implica que o fluido da primeira figura se solidifica quando pressionado a T constante. Ja´ o fluido da Figura (9.3) se liquefaz ao ser comprimido a T constante. A a´gua e´ um fluido com esta propriedade e grac¸as a ela a vida subaqua´tica (e a patinac¸a˜o no gelo) e´ poss´ıvel. Do ponto de vista da f´ısica, a transic¸a˜o l´ıquido-ga´s e´ a mais interessante, pela existeˆncia do ponto cr´ıtico. Por isso, praticamente o tempo todos vamos estudar so´ esse tipo de transic¸a˜o. 9.1.1 Propriedades da regia˜o de coexisteˆncia Compressibilidade Esta func¸a˜o de resposta mede o quanto o volume varia quando a pressa˜o e´ alterada. A compressibilidade isote´rmica e´ definida como κT = − 1 V ( ∂V ∂P ) T . (9.1) O sinal negativo faz que ela seja sempre positiva, garantindo equil´ıbrio mecaˆnico: a diminuic¸a˜o do volume causa aumento de pressa˜o, o ga´s resiste a ser comprimido. Na regia˜o V` < V < Vg temos ∂P∂V = 0, logo κT →∞. Isso e´ se´rio, porque significa a presenc¸a de flutuac¸o˜es enormes. Vamos ver como. Lembre que quando fixamos a pressa˜o e deixamos o volume variar, pudemos escrever 〈 V 2 〉 − 〈V 〉2 = 〈V 〉κT β (9.2) Essa expressa˜o pode ser escrita de uma maneira mais u´til em termos da flutuac¸a˜o relativa do volume por part´ıcula v = V/N , √ 〈v2〉 − 〈v〉2 〈v〉 = κT Nβ〈v〉 (9.3) A expressa˜o (9.3) diz que o volume fica bem definido quando N →∞ apenas se κT for finito. A divergeˆncia de κT na regia˜o de coexisteˆncia faz com que a flutuac¸a˜o relativa do volume espec´ıfico seja muito grande. Proporc¸a˜o entre fases Enquanto o flu´ıdo estiver na regia˜o de coexisteˆncia, dentro do cilindro havera´ Ng mole´culas na fase gasosa e N` da fase l´ıquida, sendo Ng + N` = N . Definindo como x a frac¸a˜o de cada fase, ou seja xg = Ng/N e x` = N`/N , temos 1 = xg + x`, ou xg = 1 − x`. O volume total pode ser escrito como V0 = Ngvg +N`v`. Dividindo por N temos v0 = xgvg + x`v` (9.4) = (1− x`)vg + x`v` CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 68 Assim, as frac¸o˜es de cada fase sa˜o dadas por x` = vg − v0 vg − v` e xg = v0 − v` vg − v` (9.5) Largura da regia˜o de coexisteˆncia Os valores de vg e v` tornam-se cada vez mais parecidos a` medida que a temperatura aumenta. O valor de vg − v` vai a zero no ponto cr´ıtico. 9.1.2 Derivac¸a˜o das curvas de Coexisteˆncia para um Sistema PV T Nosso problemaba´sico e´ responder a` seguinte pergunta: Dados os valores de P e T , em que estado uma determinada substaˆncia se apresenta? Como estamos controlando os valores de pressa˜o e temperatura, a energia livre de Gibbs fornece a resposta: o estado de equil´ıbrio para essa substaˆncia e´ aquele que minimiza a energia livre para valores de P e T especificados. Neste caso, a varia´vel que ficou livre foi o volume, o processo de minimizac¸a˜o envolve uma escolha de V que torne a energia livre de Gibbs mı´nima. Mas e se mais de um valor de volume corresponder a um mı´nimo? Nesse caso todos os estados descritos por esses volumes sera˜o igualmente bons e, portanto, podem coexistir. Assim, a condic¸a˜o ba´sica da coexisteˆncia e´ que as fases envolvidas tenham a mesma energia livre de Gibbs. A energia livre de Gibbs e´ dada por G(P, T,N) = U − TS + PV = Nµ(P, T ). Como queremos uma condic¸a˜o para a substaˆncia, na˜o importando a quantidade existente, devemos trabalhar com a energia livre de Gibbs por part´ıcula, definida como g(P, T ) = G/N = µ(P, T ). A condic¸a˜o de coexisteˆncia entre as fases I e II, num ponto (T0, P0) e´ portanto µI(P0, T0) = µII(P0, T0). (9.6) Supondo que essas fases tambe´m coexistam num ponto pro´ximo, (T0 + dT, P0 + dP ), temos µI (P0 + dP, T0 + dT ) = µII(P0 + dP, T0 + dT ). (9.7) Expandindo a condic¸a˜o acima em se´rie, em torno do ponto (P0, T0) temos µI(P0, T0)+ ( ∂µI ∂P ) P0,T0 dP+ ( ∂µI ∂T ) P0,T0 dT+ . . . = µII(P0, T0)+ ( ∂µII ∂P ) P0,T0 dP + ( ∂µII ∂T ) P0,T0 dT+ . . . Mantendo apenas os termos de primeira ordem e usando a condic¸a˜o de coexisteˆncia (9.6), temos dP dT = ( ∂µI ∂T ) − ( ∂µII ∂T ) ( ∂µII ∂P ) − ( ∂µI ∂P ) (9.8) Usamos agora as identidades para o volume e entropia por part´ıcula v = 1 N ( ∂G ∂P ) N,T = ( ∂µ ∂P ) T e s = − 1 N ( ∂G ∂T ) N,P = ( ∂µ ∂T ) P , para reescrever a equac¸a˜o (9.8) como ( dP dT ) coex = sII − sI vII − vI . (9.9) Com a equac¸a˜o (9.9) e´ poss´ıvel calcular-se a inclinac¸a˜o da curva de coexisteˆncia. E´ importante notar que na˜o se trata de calcular dPdT a partir da equac¸a˜o de estado, eventualmente teremos que lidar com duas equac¸o˜es de estado diferentes para as duas fases. A quantidade de calor trocada para promover a transfereˆncia de uma part´ıcula reversivelmente da fase I para a fase II , e´ o calor latente da transformac¸a˜o, definido como L = T (sII − sI). Sendo a variac¸a˜o de volume envolvida ∆v = vII − vI , temos a curva de coexisteˆncia na forma conhecida como equac¸a˜o de Clausius-Clapeyron ( dP dT ) coex = L T∆v (9.10) CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 69 Fusa˜o, evaporac¸a˜o e sublimac¸a˜o sa˜o processos que envolvem aumento de entropia e teˆm L > 0. Nas transic¸o˜es so´lido→vapor e l´ıquido→vapor, ∆v > 0, logo dP/dT > 0. Para a fusa˜o podemos ter ∆v > 0, o que ocorre na maioria dos casos, e consequentemente dP/dT > 0, ou ∆v < 0 como na a´gua e outras substaˆncias com pontes de hidrogeˆnio, e neste caso dP/dT < 0. Aproximac¸o˜es para a Curva de Pressa˜o de Vapor Para a transic¸a˜o l´ıquido→vapor, podemos considerar que ∆v = vg − v` ≈ vg = Vg/Ng . Para presso˜es da ordem de 1 atmosfera, vg/v` ≈ 103, portanto esta aproximac¸a˜o e´ razoa´vel. Para o ga´s podemos usar a equac¸a˜o dos gases ideais, ou seja PVg = κBNgT , logo Vg Ng = κBT P ≈ ∆v e dP dT ≈ LP κBT 2 ou dlnP dT = L κBT 2 Para L = L0 independente da temperatura, temos P (T ) = P0 exp ( − L0 κBT ) (9.11) A mesma aproximac¸a˜o tambe´m pode ser feita para a transic¸a˜o so´lido→vapor. Exemplo 9.1 Equil´ıbrio ga´s-so´lido Podemos desenvolver um modelo simples para essa transic¸a˜o supondo que o so´lido seja um so´lido de Einstein unidimensional e o ga´s seja ideal. Na fase so´lida temos N a´tomos como osciladores de frequeˆncia ω. Suponha que a energia de cada a´tomo no estado fundamental seja −�0 com relac¸a˜o ao a´tomo livre em repouso. Para um so´lido unidimensional ficamos com �n = nh¯ω − �0, e a func¸a˜o de partic¸a˜o para cada oscilador e´ Zs = ∞∑ n=0 exp[−β(nh¯ω − �0)] = exp(β�0) 1− exp(−βh¯ω) A energia livre de Gibbs por oscilador pode ser escrita como gs = µs = fs + Pvs. Como Ps = Pg (condic¸a˜o de coexisteˆncia) e vg � vs, podemos desprezar o termo Pvs de modo a ter µs ≈ fs = −κBT lnZs. Nesta aproximac¸a˜o temos λs = exp(βµs) = exp(−β�0) [1− exp(−βh¯ω)] Supomos que o ga´s seja um ga´s ideal com spin zero, ou seja λg = βP ( 2pih¯2 mκBT )3/2 . Na coexisteˆncia µs = µg , ou λs = λg dando P (T ) = ( m 2pih¯2 )3/2 (κBT )5/2 exp(−�0/κBT ) [1− exp(−h¯ω/κBT )] Regra de Gibbs para a Coexisteˆncia de Fases Podemos estender a condic¸a˜o de coexisteˆncia (9.6) para sistemas compostos por va´rias espe´cies qu´ımicas. Neste caso cada fase deve ser caracterizada pela quantidade de cada componente. Suponhamos enta˜o uma mistura de l espe´cies. Cada fase e´ caracterizada por (l+1) varia´veis independentes, ou seja, (Y, T, xi, . . . , xl−1), onde xi = Ni/N e´ a frac¸a˜o de part´ıculas da espe´cie i. Como N = N1 + . . . + Nl, ou 1 = x1 + . . . + xl, basta especificar as frac¸o˜es de l − 1 espe´cies. Supondo que r fases coexistam, devemos impor a condic¸a˜o de coexisteˆncia para cada espe´cie, µI1(Y, T, xI1, xI2, . . . , xIl−1) = µII1 (Y, T, xII1 , xII2 , . . . , xIIl−1) = . . . = µr1(Y, T, xr1, xr2, . . . , xrl−1) µI2(Y, T, xI1, xI2, . . . , xIl−1) = µII2 (Y, T, xII1 , xII2 , . . . , xIIl−1) = . . . = µr2(Y, T, xr1, xr2, . . . , xrl−1) ... µIl (Y, T, xI1, xI2, . . . , xIl−1) = µIIl (Y, T, xII1 , xII2 , . . . , xIIl−1) = . . . = µrl (Y, T, xr1, xr2, . . . , xrl−1) CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 70 onde µrl (Y, T, xr1, xr2, . . . , xrl−1) e´ o potencial qu´ımico da l-e´sima espe´cie na r-e´sima fase. As condic¸o˜es acima da˜o l(r−1) equac¸o˜es para determinar 2+ r(l−1) inco´gnitas. Para que exista soluc¸a˜o, o nu´mero de equac¸o˜es na˜o pode ser maior que o nu´mero de inco´gnitas. Portanto, devemos ter l(r− 1) ≤ 2+ r(l− 1), ou r ≤ l+2. Para um sistema com uma espe´cie apenas l = 1 e r ≤ 3, ou seja, no ma´ximo 3 fases podem coexistir. 9.1.3 Equac¸a˜o de van der Waals para a Transic¸a˜o L´ıquido-Ga´s A equac¸a˜o de estado do ga´s ideal na˜o preveˆ a possibilidade de uma transic¸a˜o para a fase l´ıquida, e serve apenas para descrever a fase gasosa. A fase l´ıquida tem entropia bem menor que a fase gasosa, para que este seja o estado de equil´ıbrio, e´ preciso que haja um descre´scimo considera´vel de energia, o que na˜o e´ poss´ıvel em um fluido sem interac¸a˜o. A introduc¸a˜o de interac¸a˜o entre as part´ıculas pode ser feita de va´rias maneiras. Vamos ver aqui a forma mais simples, chamada Teoria Cla´ssica, ou Teoria de Campo Me´dio. O termo “cla´ssica” na˜o corresponte a` separac¸a˜o quaˆntica-cla´ssica da mecaˆnica, je´ que podemos ter uma teoria cla´ssica de mecaˆnica estat´ıstica que inclui efeitos quaˆnticos. O segundo termo e´ mais adequado e traduz exatamente a ide´ia: cada part´ıcula sente a interac¸a˜o individual com cada outra part´ıcula na forma de uma me´dia. A teoria que veremos a seguir como nosso primeiro exemplo de teoria de campo me´dio foi proposta por van der Waals em sua tese de doutorado em 1873, e e´ a primeira teoria sobre fenoˆmenos cr´ıticos. Veremos aqui apenas uma pequena parte desse trabalho. As duas correc¸o˜es introduzidas por van der Waals a` lei dos gases ideais foram (1) o tamanho finito das mole´culas e (2) a interac¸a˜o atrativa para distaˆncias me´dias e longas entre as part´ıculas. Podemos derivar a equac¸a˜o de van der Waals de forma heur´ıstica, a partir da equac¸a˜o dos gases ideais PV = NκBT . As duas correc¸o˜es ficam: (1) Podemos escrever o volume mı´nimo ocupado pelo ga´s como Vmin = Nb onde b e´ da ordem do volume molecular. Este volume deve enta˜oser subtraido do volume total, levando a P (V −Nb) = NκBT . (2) A atrac¸a˜o entre as mole´culas tem como efeito diminuir a pressa˜o do ga´s, tanto pela diminuic¸a˜o do nu´mero de coliso˜es, quanto pela diminuic¸a˜o do momento transferido para as paredes do reservato´rio. Podemos fazer uma estimativa desse efeito pelo ca´lculo da variac¸a˜o ∆F na energia livre de Helmholtz. Seja u(r) o potencial de interac¸a˜o entre as mole´culas. u(r) e´ esfericamente sime´trico, e so´ depende da distaˆncia entre as mole´culas, ou seja e´ invariante por translac¸a˜o. Podemos calcular o efeito me´dio em cada mole´cula devido a` presenc¸a de todas as outras. Se existem N mole´culas, cada uma interage com (N − 1) mole´culas, de forma que a interac¸a˜o total e´ Eint = N 2 N−1∑ i=1 u(ri) = N 2 ∫ V ∑ i δ(r − ri)u(r)d3r = N 2 ∫ V φ(r)u(r)d3r onde φ(r) = ∑ i δ(r − ri) e´ a concentrac¸a˜o de part´ıculas e a divisa˜o por 2 aparece para corrigir a dupla contagem. Supomos que esta concentrac¸a˜o e´ uniforme, ou seja, desprezamos as flutuac¸o˜es em concentrac¸a˜o e escrevemos φ(r) = N/V . Com isso Eint = N2 2V ∫ V u(r)d3r = −N 2a V , onde −2a ≡ ∫ u(r)d3r depende da intensidade da interac¸a˜o intermolecular. Supondo que a variac¸a˜o de energia livre seja devida a` variac¸a˜o da energia interna apenas, na˜o afetando a entropia, temos ∆F = Eint ≈ − N2 a V , No limite termodinaˆmico, N →∞, V/N → v, ∆F = − N2a V = − Na v . Com isso a energia livre de van der Waals fica Fvdw N = fvdw = −κBT {ln [φQ(v − b)] + 1} − a v , CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 71 Figura 9.4: Isotermas de van der Waals para 3 temperaturas diferentes levando a` equac¸a˜o de estado P = − ( ∂f ∂v ) T = κBT v − b − a v2 , ou, colocando numa forma mais conhecida ( P + a v2 ) (v − b) = κBT , (9.12) ou ( P + N 2a V 2 ) (V −Nb) = NκBT . (9.13) Os paraˆmetros a e b dependem do ga´s. a e´ uma medida da intensidade da atrac¸a˜o entre as mole´culas e b do tamanho molecular. Esse valores podem ser obtidos por ajuste da forma (9.13) a dados experimentais. Alguns valores sa˜o fluido a(l2atm.mol−2) b(l.mol−1) H2O 5.464 0.0305 N2 1.390 0.0391 CO2 3.592 0.0427 Isotermas de van der Waals Dependendo do valor da temperatura, podemos ter isotermas de comportamento bem diferente, como pode ser visto na figura 9.4. Nas isotermas para T = T3 e T = T2, cada vez que escolhemos um valor de pressa˜o temos apenas um valor de volume, mas na isoterma de T = T1, para alguns valores de pressa˜o temos 3 valores de volume associados. Isso certamente e´ um problema, ja´ que na˜o podemos determinar qual o volume do sistema para dados valores de pressa˜o e temperatura. Ale´m disso, nessa isoterma temos uma regia˜o central com (dP/dV ) > 0, ou seja, onde o volume aumenta quando aumentamos a pressa˜o. Mais adiante vamos ver como resolver este problema, por agora vamos nos deter na importante mudanc¸a de comportamento observada: dependendo do valor da temperatura temos uma relac¸a˜o biun´ıvoca entre pressa˜o e volume ou na˜o. Este fato indica que de alguma forma nosso sistema esta´ mudando. Para progredirmos nessa questa˜o vamos primeiro escrever a equac¸a˜o (9.12) na forma de um polinoˆmio em v, v3 − ( b+ κBT P ) v2 + av P − ab P = 0 . (9.14) CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 72 Figura 9.5: Comprovac¸a˜o experimental da lei dos estados correspondentes: regia˜o de coexisteˆncia para 8 fluidos diferentes, em func¸a˜o das varia´veis reduzidas Para baixas temperaturas podemos ter treˆs raizes reais para dados valores de P . Esta situac¸a˜o permanece ate´ que para uma certa T = Tc duas raizes se tornam complexas. Chamando de vc a raiz real que permanece, podemos escrever a isoterma cr´ıtica como (v − vc)3 = v3 − 3v2vc + 3vv2c − v3c = 0 ., (9.15) Comparando (9.15) com (9.14) com v = vc e P = Pc podemos identificar 3vc = b+ κBTc Pc 3v2c = a Pc v3c = ab Pc A partir das expresso˜es acima encontramos as os valores cr´ıticos Tc = 8a 27bκB vc = 3b Pc = a 27b2 (9.16) Podemos agora definir as varia´veis adimensionais P˜ = P Pc v˜ = v vc T˜ = T Tc . (9.17) Em func¸a˜o dessas varia´veis a equac¸a˜o de van der Waals fica ( P˜ + 3 v˜2 ) (3v˜ − 1) = 8T˜ . (9.18) A equac¸a˜o (9.18) e´ chamada lei dos estados correspondentes e na˜o depende da substaˆncia em questa˜o. A possibilidade de escrever a equac¸a˜o de estado nessa forma e´ um dos resultados mais importantes da teoria, e pode ser comprovado experimentalmente (ver figura 9.5). Construc¸a˜o de Maxwell A equac¸a˜o de estado proposta por van der Waals tem alguns problemas para temperaturas baixas: uma regia˜o com compressibilidade negativa, portanto com instabilidade mecaˆnica, e mu´ltiplos valores de volume para certos valores de pressa˜o. Tambe´m, ela na˜o apresenta a regia˜o de coexisteˆncia, com pressa˜o constante. A correc¸a˜o desses problemas vem com o que chamamos construc¸a˜o de Maxwell. A energia livre de Gibbs g(p, T ) para o ga´s de van der Waals na˜o pode ser escrita, porque na˜o podemos escrever uma func¸a˜o v(P ). Numericamente, entretanto, podemos calcular g(p, T ) integrando ao longo de CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 73 Figura 9.6: Isotermas de van der Waals no espac¸o P˜ v˜T˜ . g A B C D E F G (a) (b) Figura 9.7: Esboc¸o de uma t´ıpica isoterma de van der Waals. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 74 uma isoterma ja´ que dg = vdP nesse caso. Temos g− g0 = ∫ P P0 v(P )dP , tomando como refereˆncia um ponto arbitra´rio inicial, podemos ir calculando o acre´scimo em g escolhendo o limite superior de integrac¸a˜o ao longo da isoterma. Este procedimento pode ser visualizado na figura 9.7. Suponha que os pontos B e F tem o mesmo valor de g, nesse caso temos gF − gB = 0 = ∫ PF PB vdP = ∫ PC PB vdP + ∫ PD PC vdP + ∫ PE PD vdP + ∫ PF PE vdP ou rearrumando os termos ∫ PC PB vdP − ∫ PD PC vdP = ∫ PD PE vdP − ∫ PF PE vdP O lado esquerdo da igualdade acima e´ igual a` a´rea 1, e o lado direito, a` a´rea 2. Assim, a condic¸a˜o g(PB) = g(PF ) e´ equivalente a` igualdade das a´reas indicadas. A pressa˜o definida pela linha B-F corresponde a` pressa˜o de coexisteˆncia. Para finalizar a construc¸a˜o de Maxwell devemos: • Retirar o trecho CDE, que tem compressibilidade negativa. • Identificar os trechos BC e FE como relativos a estados metaesta´veis. Esses trechos tem sinais corretos para a compressibilidade, portanto sa˜o via´veis, mas na˜o correspondem a mı´nimos de g. Verifique a posic¸a˜o desses estados no gra´fico de g(P ). O valor da inclinac¸a˜o de g(P˜ ) num dado ponto e´ o valor de v (verifique!), assim nos pontos B e F temos dois valores poss´ıveis para v. Vindo de A, fase gasosa, a derivada de g(P˜ ) tem um valor maior do qeu vindo de G, na fase l´ıquida. Esse bico em g(P˜ ) desaparece em T > Tc, tornando-se um ma´ximo com variac¸a˜o suave de v. A isoterma experimental da figura 9.1 ja´ tem a construc¸a˜o de Maxwell incluida. Podemos repetir a construc¸a˜o de Maxwell para outras temperaturas, montando uma tabela com os valores de ˜vg(T ) e ˜v`(T ), correspondentes aos pontos B e F da figura 9.7, respectivamente. Os pontos C e E que definem a regia˜o insta´vel podem ser facilmente calculados pela condic¸a˜o de extremo ∂P˜∂v˜ = 0. Os estados metaesta´veis Nossa ana´lise ate´ agora baseou-se no comportamento de sistemas volume´tricos, ou bulk como se costuma dizer. Isso significa que nenhuma importaˆncia foi dada a` superf´ıcie que envolve o sistema. Ela pode ser de qualquer forma, de qualquer material, contanto que as condic¸o˜es termodinaˆmicas de contorno sejam satisfeitas (ex: paredes isolantes, permea´veis, etc). Em geral essa abordagem e´ correta, afinal se R e´ a dimensa˜o caracter´ıstica dosistema, a energia superficial varia com R2, enquanto que a volume´trica varia com R3. Quando fazemos R → ∞ a contribuic¸a˜o superficial torna-se desprez´ıvel. Mas o que ocorre se R for pequeno? Esse e´ o caso de um sistema formado por vapor, com uma pequena gota da fase l´ıquida, com raio R. O aparecimento de uma gota significa que em uma pequena regia˜o houve um aumento de densidade, uma flutuac¸a˜o de densidade. O que veremos agora e´ que nem toda gota sobrevive, mesmo que a fase l´ıquida seja mais favora´vel no bulk, pelo fato de que junto com a formac¸a˜o da gota vem um acre´scimo de energia referente a` formac¸a˜o de uma superf´ıcie curva. Essa energia depende da a`rea da superf´ıcie da gota, numa gota grande ela e´ desprez´ıvel, mas numa pequena pode ser o bastante para fazer com que ela evapore e se torne ga´s de novo. Vamos realizar uma estimativa do tamanho mı´nimo que a gota deve ter para que a fase l´ıquida volume´trica seja formada. Seja σ a energia por unidade de a´rea, referente a` existeˆncia de uma interface separando o l´ıquido do vapor. Sendo N` e Ng os nu´meros de mole´culas nas fases l´ıquida e gasosa, respectivamente, e µ` e µg os potenciais qu´ımicos das duas fases, a energia livre de Gibbs para o sistema pode ser escrita como G = Ngµg +N`µ` + 4piR2σ (9.19) = (N −N`)µg +N`µ` + 4piR2σ = 4piR3φ` 3 (µ` − µg) +Nµg + 4piR2σ onde φ` = N` V` CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 75 Figura 9.8: Variac¸a˜o de energia livre de uma gota l´ıda pela formac¸a˜o de uma gota de raio R. O termo Nµg na˜o depende de R, portanto na˜o tem importaˆncia para nossa ana´lise, vamos elimina´-lo. A partir de agora trabalhamos com ∆G ≡ G−Nµg. Vamos determinar os pontos de equil´ıbrio. Os pontos de extremo sa˜o dados pela condic¸a˜o ∂∆G∂R = 0, levando a duas possibilidades R1 = 0 (9.20) R2 = 2σ φ`∆µ ∆µ = µg − µ` Para que seja formada uma gota com R 6= 0 devemos ter ∆µ > 0, ou µ` < µg . Isso significa que acima do ponto de ebulic¸a˜o a formac¸a˜o de gotas l´ıquidas na˜o e´ poss´ıvel. Satisfeita essa condic¸a˜o analisamos as concavidades. ∂2∆G ∂R2 = −8piRφ`∆µ+ 8piσ , (9.21) assim, a soluc¸a˜o R = R1 corresponde a um mı´nimo e R = R2 a um ma´ximo. Vamos reescrever ∆G(R) de maneira a eliminar paraˆmetros indeseja´veis. Seja R∗ ≡ R2 a abcissa do ponto de ma´ximo. O valor de ∆G nesse ponto e´ ∆G∗ = ∆G(R∗) = 4pi 3 R2∗σ . (9.22) Reescalamos ∆G, ∆G ∆G∗ = ∆G˜ = 3R˜2 − 2R˜3 R˜ = R R∗ (9.23) A figura 9.8 mostra o comportamento de (9.23). Pela forma da curva fica evidente que, se uma gota e´ formada com R˜ < 1, o aumento do raio, ou seja o aumento de volume da fase l´ıquida, causa aumento de energia livre, sendo, portanto, desfavora´vel. Isso significa que gotas pequenas demais evaporam. Se gota e´ formada com R˜ > 1, seu aumento e´ favora´vel e tem chances de proceder. Nossa conclusa˜o e´ que embora a fase l´ıquida seja a favora´vel do ponto de vista do bulk (µ` < µg), passar da situac¸a˜o R = 0 (sem gotas, ga´s metaesta´vel) para R =∞ (l´ıquido) requer que a barreira ∆G∗ seja ultrapassada. Comportamento nas proxidades do ponto cr´ıtico Vamos agora fixar a atenc¸a˜o no comportamento do fluido de van der Waals nas vizinhanc¸as do ponto cr´ıtico. Lembramos que o objetivo desse estudo e´ mais tarde comparar o flu´ıdo de van der Waals com o paramagneto de Curie-Weiss na criticalidade. Queremos usar a energia livre de Gibbs para responder a` pergunta: Dados P e T , como um determinado sistema se apresenta, como ga´s, tendo v = vg(P, T ), ou como l´ıquido tendo v = v`(P, T )? Podemos obter essa resposta minimizando a energia livre com relac¸a˜o a v, para os dados valores de pressa˜o e temperatura. Isso pode ser feito facilmente se consideramos as vizinhanc¸as do ponto cr´ıtico. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 76 Vamos expandir a energia livre de Gibbs em torno de vc definindo o paraˆmetro de expansa˜o ψ = v − vc. Primeiro separamos apenas os termos de g que sa˜o importantes no momento. Ficamos com g = −κBT ln(v − b)− a v + f0 + Pv, (9.24) onde f0 e´ uma func¸a˜o bem comportada da temperatura. A energia livre de Gibbs por part´ıcula, perto do ponto cr´ıtico pode enta˜o ser escrita como g(T, ψ) = g(T, 0) + ψ ( ∂g ∂ψ ) ψ=0 + 1 2 ψ2 ( ∂2g ∂ψ2 ) ψ=0 + · · · = ∞∑ n=0 gnψn (9.25) Alguns dos coeficientes sa˜o g0 = f0(T )− kT ln(2b)− a 3b + 3bP (9.26) g1 = − 4a 27b2 t+ a 27b2 pi (9.27) g2 = a 27b3 t (9.28) g3 = − a 81b4 t (9.29) g4 = a 1944b5 + a 216b5 t , (9.30) sendo t ≡ T − Tc Tc , e pi ≡ P − Pc Pc . (9.31) O estado de equil´ıbrio e´ aquele para o qual g e´ mı´nimo, para os dados valores de pi e t. Chamamos de geq o valor de g no seu mı´nimo global. A positividade de g4 garante que geq fique limitado ja´ que g → ∞ quando |ψ| → ∞, isso garante a existeˆncia de mı´nimos finitos, ou seja garante a existeˆncia de estados de equil´ıbrio. Vamos truncar a se´rie no termo qua´rtico, veremos a seguir que essa poteˆncia permite a obtenc¸a˜o do comportamento que nos interessa. Com a se´rie truncada, podemos eliminar o termo cu´bico redefinindo ψ como ψ′ = ψ − g3 4g4 . Reescrevemos g com a redefinic¸a˜o acima, mas voltando a usar o s´ımbolo ψ, obtendo finalmente g(T, P ;ψ) = A0 +A1ψ +A2ψ2 +A4ψ4, (9.32) com A1 = − 4a 27b2 t+ a 27b2 pi +O(t2) (9.33) A2 = a 27b2 t+O(t2) (9.34) A4 = a 1944b5 +O(t) (9.35) Vamos ver as principais propriedades desses coeficientes. 1. O coeficiente A0 e´ uma func¸a˜o bem comportada da temperatura e na˜o tem maior importaˆncia para o estudo das propriedades do ponto cr´ıtico. Podemos escolher A0 = 0 sem problemas. 2. O coeficiente A2 troca de sinal ao passar pelo ponto cr´ıtico. 3. A1 e A2 se anulam no ponto cr´ıtico. 4. O coeficiente A4 e´ sempre positivo e depende fracamente de t. A figura 9.9 mostra o comportamento de (9.32) acima e baixo da temperatura cr´ıtica. A coluna do meio tem A1 = 0, o que implica a condic¸a˜o pi = 4t para que os dois mı´nimos sejam equivalentes, em outras palavras, para que haja coexisteˆncia. Para T < Tc, A1 < 0 (ou pi < 4t) leva a um estado de equil´ıbrio com ψ > 0, ou seja v > vc, correspondendo a` fase gasosa. Ha´ um mı´nimo local para um valor ψ > 0, que e´ metaesta´vel. Ao contra´rio, se A1 > 0 o mı´nimo global esta´ em ψ < 0, correspondendo a` fase l´ıquida, com ga´s metaesta´vel. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 77 Figura 9.9: Gra´ficos de g(ψ) = A1ψ +A2ψ2 +A4ψ4. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 78 Figura 9.10: Soluc¸a˜o gra´fica de (9.38) 9.2 Sistemas magne´ticos Nos cap´ıtulos 4 e 6 estudamos o comportamento termodinaˆmico de sistemas formados por momentos magne´ticos uniaxiais, na˜o interagentes sob ac¸a˜o de um campo magne´tico externo. A equac¸a˜o de estado (4.20) nos diz que o momento magne´tico me´dio, 〈m〉 e´ nulo quando o campo externo e´ zero, ou seja, na˜o ha´ magnetizac¸a˜o espontaˆnea. Essa equac¸a˜o descreve qualitativamente o comportamento de diversas substaˆncias ditas paramagne´ticas. Entretanto, ha´ casos em que mesmo sem campo aplicado o material exibe magne- tizac¸a˜o. Os exemplos mais comuns sa˜o ferro, cobalto e n´ıquel, que sa˜o ferromagne´ticos a` temperatura ambiente. Na verdade essas substaˆncias apresentam comportamento paramagne´tico a` temperaturas altas, e ferromagne´tico abaixo de uma certa temperatura. Queremos exatamente de descrever essa transic¸a˜o. A origem do ferromagnetismo e´ puramente quaˆntica. Em determinados materiais os a´tomos tem ele´trons desemparelhados, que interagem entre si de forma a que o alinhamento paralelo entre os spins diminui a energia de repulsa˜o coulombiana, sendo, portanto, favora´vel energe´ticamente. Essa interac¸a˜o envolve o princ´ıpio de exclusa˜o de Pauli, e da´ origem a um termo de energia que se chama energia de troca ou energia de exchange. Esta´ fora dos nossosobjetivos discutir a origem dessa energia, mais informac¸o˜es podem ser encontradas em livros de f´ısica da mate´ria condensada como [?]. A interac¸a˜o e troca e´ de curto alcance, e uma boa aproximac¸a˜o e´ considerar que ela existe apenas entre a´tomos que sa˜o primeiros vizinhos na rede cristalina. Um modelo simples para o ferromagnetismo foi proposto por Weiss, que descreveu o ordenamento ferromagne´tico como proveniente de um campo molecular que seria resultante da interac¸a˜o me´dia com todos os outros a´tomos. O modelo pode ser formulado a partir do modelo de Curie para o paramagnetismo, com a substituic¸a˜o do campo magne´tico externo, por um campo efetivo Be ≡ B + λ〈m〉 , (9.36) que e´ a soma do campo externo, B, com o campo molecular λ〈m〉 proporcional ao momento magne´tico me´dio por part´ıcula, 〈m〉. O paraˆmetro λ da´ a intensidade da interac¸a˜o. Assim como o ga´s de van der Waals, esta e´ uma teoria de campo me´dio, ou cla´ssica. Levando a definic¸a˜o (9.36) em (4.20) temos 〈m〉 = m0 tanh [ m0Be κBT ] = m0 tanh [ m0 κBT (B + λ〈m〉) ] . (9.37) Para encontrar 〈m(B, T )〉 devemos resolver a equac¸a˜o transcedental acima. Como estamos interessados no caso B = 0, nosso problema e´ resolver a equac¸a˜o ψ = tanh (aψ) , (9.38) onde ψ ≡ 〈m〉/m0 e a = λm20/κBT . Em resumo, precisamos encontrar as intersec¸o˜es entre as curvas y = ψ e y = tanh(aψ). A figura 9.10 mostra as poss´ıveis soluc¸o˜es para diferentes valores de a. Para a ≤ 1 ha´ apenas a soluc¸a˜o ψ = 0, mas para CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 79 a > 1 temos tambe´m duas outras soluc¸o˜es sime´tricas. A condic¸a˜o para que existam as soluc¸o˜es ψ 6= 0 pode ser expressa como dtanh(aψ) dψ ∣∣∣∣ ψ=0 > 1 −→ a > 1 −→ T < λm 2 0 κB (9.39) Definimos assim a temperatura cr´ıtica Tc = λm 2 0 κB que separa os regimes ferro e paramagne´tico. Para continuar nossa ana´lise, vamos considerar o comportamento perto da temperatura cr´ıtica. Para isso reescrevemos a equac¸a˜o (9.37) como tanh−1 ψ = m0B κBT + Tc T ψ . (9.40) Quando T ≈ Tc temos que a soluc¸a˜o de (9.38) leva a |ψ| � 1. Nesse caso, usamos a expansa˜o tanh−1 ψ ≈ ψ + ψ 3 3 para obter B(ψ, T ) = κBT 3m0 ψ3 + (T − Tc) κB m0 ψ . (9.41) Agora a energia livre de Helmholtz por part´ıcula pode ser facilmente calculada ja´ que ∂f∂m = B. Temos enta˜o f(ψ, T ) = f0 + κBT 12 ψ4 + κB 2 (T − Tc)ψ2 . (9.42) A energia libre de Gibbs pode ser encontrada fazendo-se uma transformada de Legendre: g = f −m0Bψ = f0 + κBT 12 ψ4 + κB 2 (T − Tc)ψ2 −m0Bψ . (9.43) A forma de (9.43) e´ equivalente a (9.32), inclusive no que diz respeito a`s propriedades dos coeficientes. A condic¸a˜o de coexisteˆncia agora e´ B = 0. A partir de (9.43) podemos determinar o estado de equil´ıbrio do sistema: e´ aquele com o valor de ψ que minimiza a energia livre de Gibbs, para dados B e T . Chamando de ψ¯ o valor de equil´ıbrio de ψ, a condic¸a˜o de extremo de (9.43) leva a B(ψ¯, T ) = κBT 3m0 ψ¯3 + (T − Tc) κB m0 ψ¯ . (9.44) As expresso˜es (9.41) e (9.44) parecem iguais, mas sa˜o fundamentalmente diferentes, a segunda e´ uma ver- dadeira equac¸a˜o de estado porque envolve os valores de ψ de equil´ıbrio. Os valores de ψ¯ para B 6= 0 na˜o podem ser calculados analiticamente, mas no caso de B = 0 temos as possibilidades ψ0 = 0 e ψ± = ± √ −3(T − Tc) T (9.45) Claramente as soluc¸o˜es ψ± so´ podem existir se T < Tc. Finalmente temos que os mı´nimos ocorrem para (verifique voceˆ tambe´m!) T ≥ Tc ψ¯ = ψ0 (9.46) T < Tc ψ¯ = ψ± Finalmente podemos representar os diagramas de fase para o sistema. A figura 9.11 mostra as vizinhanc¸as do ponto cr´ıtico nos planos B-T (equivalente ao P -T para flu´ıdos) e ψ-T (equivalente ao v-T para flu´ıdos). A equac¸a˜o de Clausius-Clayperon, (9.9), para o sistema magne´tico fica (verifique!) ( dB dT ) coex = sI − sII mII −mI . (9.47) Sendo Bcoex = 0, temos (dB dT ) coex = 0, ou seja ∆s = 0 indicando que as fases F1 e F2 tem a mesma entropia. Podemos entender isso, ja´ que as duas fases esta˜o relacionadas por uma mera troca de sinal nos momentos magne´ticos. Como resultado temos tambe´m que na˜o ha´ calor latente relativo a` transic¸a˜o entre as duas fases ferromagne´ticas, no entanto a transic¸a˜o entre elas e´ descont´ınua ja´ que ψ varia descontinuamente quando cruzamos a linha B = 0 para T < Tc. Alguns textos associam a descontinuidade da transic¸a˜o a` existeˆncia de calor latente, o que na˜o e´ correto, como podemos ver neste caso. CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 80 Figura 9.11: Diagramas de fases para a transic¸a˜o para-ferromagne´tica. F1 e F2 sa˜o as duas fases ferro- magne´ticas, caracterizadas por magnetizac¸a˜o positiva e negativa, respectivamente. (a) Diagrama B-T , com a linha de coexisteˆncia B = 0 terminando no ponto cr´ıtico. A transic¸a˜o entre um estado na fase F1 e outro na fase F2 pode ser feita continuamente contornando o ponto cr´ıtico, ou descontnuamente cruzando a linha de coexisteˆncia para T < Tc. (b) Diagrama ψ-T , o ramo F1 corresponte a` raiz positiva ψ¯ = ψ+, e o ramo F2 a` raiz negativa ψ¯ = ψ−. Neste caso na˜o as fases F1 e F2 na˜o coexistem, o sistema deve escolher uma delas para se apresentar. Como elas sa˜o equivalentes, normalmente uma pequena tendeˆncia inicial (por exemplo um pequeno campo aplicado) faz que uma delas seja a escolhida. 9.3 Energia livre de Landau A semelhanc¸a entre as transic¸o˜es no flu´ıdo e no sistema magne´tico nas vizinhanc¸as do ponto cr´ıtico sa˜o um indicativo de que devem existir fenoˆmenos ba´sicos ideˆnticos nos dois sistemas. Na verdade existem va´rios outros sistemas com o mesmo comportamento (veja o problema ?? para outro exemplo). A primeira tentativa de uma descric¸a˜o unificada da criticalidade deve-se a Landau. Sua preocupac¸a˜o original eram as transic¸o˜es entre diferentes estruturas cristalinas. Em seu livro de 1967, [?], va´rios casos sa˜o descritos. Tudo se baseia na definic¸a˜o do paraˆmetro de ordem (PO), ψ, que deve ser uma varia´vel (escalar, vetor, tensor, real, complexa, etc) que se anula para T ≥ Tc sendo na˜o nulo para T < Tc. No ga´s va´rias definic¸o˜es sa˜o usadas, por exemplo ψ = v − vc ou ψ = vg − v`. A linha ψ¯(T ) define a regia˜o de coexisteˆncia (verifique!). Essa formulac¸a˜o rapidamente foi estendida a outros modelos, e passou a ter um cara´ter gene´rico. A maneira de trabalhar e´ a seguinte: escreve-se a energia livre L, como uma se´rie de poteˆncias de ψ, truncando assim que o comportamento desejado for encontrado. Os coeficientes sa˜o escolhido tambe´m com o intuito de simplificar a descric¸a˜o. Os estados de equil´ıbrio correspondem a valores de ψ que levam a mı´nimos de L. Assim a expressa˜o matema´tica de L tem que ser mais simples que tenha os mı´nimos desejados. Por exmplo, queremos descrever uma transicao continua de L com um mı´nimo, para L com dois, a` medida que T varia diminuindo ale´m do ponto cr´ıtico. Nessa regia˜o de T com os dois mı´nimos, queremos que a possibilidade de fazer com que os dois sejam equivalentes, ou de tornar um deles um mı´nimo global e o outro local, e vice-versa. Na transic¸a˜o entre esses mı´nimos ψ varia descontinuamente. A forma mais simples com esse comportamento e´ a que encontramos para o ferromagneto de Curie-Weiss, (9.43), que e´ L = u 4 ψ4 + r 2 ψ2 −Bψ . (9.48) O coeficiente do termo ψ4 e´ positivo, e pode ser considerado constante. Ja´ o coeficiente do termo ψ2 deve mudar de sinal ao passar pelo ponto cr´ıtico, sendo negativo para T < Tc. Sua forma mais simples e´ r = a(T − Tc), sendo a uma constante positiva. B e´ um campo externo, devendo ser termodinamicamente conjugado a ψ. L so´ e´ a energia livre depois de susbstituido o valor ψ¯ que a minimiza. Os pontos de extremo sa˜o os mesmos do modelo de Curie-Weiss, (9.47). Sendo ψ¯ o valor do PO no mı´nimo, temos que ψ¯(T,B) e´ uma equac¸a˜ode estado A grandezas termodinaˆmicas podem ser calculadas a partir de (9.48), depois que a devida expressa˜o para ψ¯(T,B) for substituida em (9.48). CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 81 Expoente Definic¸a˜o Campo me´dio Experieˆncia Ising (d = 2) Ising (d = 3) α CX ∼ |t|−alpha 0 (disc) 0,110-0,116 0 (log) 0,0110(5) β ψ ∼ tβ 1/2 0,216-0,327 1/8 0, 325± 0, 0015 γ χ ∼ |t|−γ 1 1,23-1,25 7/4 1, 2405± 0, 0015 δ ψ|t=0 ∼ B1/δ 3 4,6-4,9 15 4,82(4) Tabela 9.1: Alguns valores de expoentes cr´ıticos, tabela extra´ıda de ([?]). Os valores experimentais referem-se a experimentos realizados em flu´ıdos. 9.4 Expoentes cr´ıticos Para terminar este cap´ıtulo vamos falar um pouco sobre expoentes cr´ıticos. A caracterizac¸a˜o de um sistema nas vizinhanc¸as de seu ponto cr´ıtico e´ feita atrave´s dos expoentes que dominam a expansa˜o em se´rie de diveras grandezas temodinaˆmicas. Esses expoentes sa˜o denominados por letras gregas, seguindo uma convenc¸a˜o adotada por todo mundo. Por exemplo, a variac¸a˜o do PO com a temperatura e´ escrita como ψ ∼ (T − Tc)β ou ψ ∼ tβ , Significando que β = lim t→0 logψ(t) log t . (9.49) Em outras palavras, supomos que, para |t| � 1, o PO pode ser escrito como ψ = Ctβ (1 + tx + · · ·) . (9.50) O expoente δ mede o achatamento da isoterma cr´ıtica. Ele e´ definido pela expressa˜o ψ|t=0 ∼ B 1/δ . (9.51) Exemplo 9.2 Vamos ver o ca´lculo de β e δ para teorias de campo me´dio. O expoente β mede como a regia˜o de coexisteˆncia vai a zero quando T → Tc. Podemos partir da expressa˜o de Landau, equac¸a˜o (9.48). Temos que para t < 0 ψ¯ = √ −r/u. Como r = at, β = 1/2. Este resultado vale tanto para o ferromagneto de Curie-Weiss quando para o ga´s de van der Waals. A isoterma cr´ıtica do modelo de Landau e´ dada por B = uψ¯3 + rψ¯. Mas r = 0 quando t = 0, enta˜o B = uψ¯3, ou ψ¯ ∼ B1/3. Logo temos δ = 3. A tabela ?? lista alguns valores para teorias de campo me´dio, e para o modelo de Ising em duas e treˆs dimenso˜es. O modelo de Ising descreve a transic¸a˜o entre as fases para e ferromagne´tica, atrave´s da definic¸a˜o da energia total do sistema como E = −J ∑ 〈ij〉 mimj −B ∑ i mi . (9.52) Como no modelo de Curie-Weiss, m = ±m0. A soma ∑ 〈ij〉 e´ feita sobre os pares de primeiros vizinhos. J e´ uma constante positiva, a constante de troca. O primeiro termo da energia favorece o alinhamento paralelo de momentos magne´ticos vizinhos, levando a` possibilidade de ordem ferromagne´tica. Em uma dimensa˜o o modelo de Ising na˜o apresenta magnetizac¸a˜o espontaˆnea para T > 0. Para d = 2 e d = 3 ha´ transic¸a˜o e os expoentes referentes a` ela esta˜o na tabela. Para d ≥ 4 os expoentes do modelo de Ising sa˜o ideˆnticos aos de campo me´dio [?]. 9.5 Problemas 1. A pressa˜o de vapor P (em mil´ımetros de mercu´rio) da amoˆnia so´lida e´ dada por lnP = 23, 03−3754/T , e da amoˆnia l´ıquida, lnP = 19, 49− 3063/T . CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 82 (a) Qual e´ a temperatura do ponto triplo? R: 195 K (b) Quais sa˜o os calores latentes de sublimac¸a˜o e de vaporizac¸a˜o no ponto triplo? R: 31212 J/mol e 25480 J/mol (c) Qual e´ o calor latente de fusa˜o no ponto triplo? R:5740 J/mol 2. Uma substaˆncia com massa molecular m, tem seu ponto triplo definido por T0 e P0. Nesse ponto as densidades (massa/volume) das fases so´lida e l´ıquida sa˜o ρs e ρl, respectivamente, e o vapor pode ser aproximado por um ga´s ideal. Se no ponto triplo a inclinac¸a˜o da linha de coexisteˆncia so´lido-l´ıquido e´ (dP/dT )sl, e a l´ıquido-vapor (dP/dT )lv, qual a inclinac¸a˜o da linha so´lido-vapor? 3. O he´lio se vaporiza a T0 = 4.2 K, quando a pressa˜o e´ P0 ≈ 1 atm. O calor latente de vaporizac¸a˜o por a´tomo e´ L, e pode ser considerado independente da temperatura. O he´lio l´ıquido e´ armazenado em recipientes isolantes (dewars), mas o isolamento na˜o e´ perfeito. A cada segundo uma quantidade de calor Q penetra no recipiente e evapora uma parte do l´ıquido. Para chegar a temperaturas mais baixas, pode-se bombear o vapor acima do l´ıquido, reduzindo a sua pressa˜o. Suponha que o vapor chega na bomba a` temperatura ambiente, Ta, e que esta e´ capaz de bombear um volume ∆V a cada segundo, independente da pressa˜o do vapor. Supondo que o vapor se comporta como um ga´s ideal, mostre que (a) A pressa˜o mı´nima que pode ser mantida sobre o l´ıquido nessas condic¸o˜es e´ Pm = QκBTa L∆V . (b) A temperatura do l´ıquido em equil´ıbrio com o vapor a` pressa˜o Pm e´ T = T0( 1− T0κBL ln Pm P0 ) 4. Considere o ga´s de van der Waals. (a) Encontre as coordenadas do ponto cr´ıtico i. usando que, nesse ponto, ∂P ∂V = 0 e ∂2P ∂V 2 = 0 ii. impondo que no ponto cr´ıtico existe apenas uma raiz V = Vc. (b) Encontre a func¸a˜o P (V ) que define a regia˜o insta´vel da equac¸a˜o de van der Waals, para T < Tc. (c) Mostre que a entropia e´ dada por S = κBN { ln [ ρQ(V −Nb) N ] + 5 2 } (d) Mostre que CV na˜o depende do volume. (e) Supondo que o calor espec´ıfico na˜o varie a temperatura, mostre que, numa expansa˜o livre, Ti − Tf = − a cV ( 1 vf − 1 vi ) > 0 . (f) Verifique que na˜o e´ poss´ıvel escrever a func¸a˜o G(P, T,N). 5. Considere o vapor em equil´ıbrio te´rmico com a fase so´lida. Considere para o so´lido o modelo de Einstein em 3 dimenso˜es, com as energias dos osciladores escritas como nh¯ω− �0, n = 0, 1, 2 etc. �0 e´ a energia de um a´tomo do so´lido no seu estado fundamental. O vapor pode ser descrito como um ga´s ideal. (a) Mostre que, quando κBT � h¯ω P ≈ ( M 2pi )3/2 ω3√ κBT exp ( − �0 κBT ) . CAPI´TULO 9. TRANSIC¸O˜ES DE FASE 83 (b) Explique porque o calor latente por a´tomo e´ �0 − κBT/2. 6. Defina a susceptibilidade magne´tica como χ = ∂ψ¯∂B e mostre que χ = m0 κB(T − Tc) T ≥ Tc (9.53) χ = m0 2κB(Tc − T ) T < Tc sendo portanto divergente quando T → Tc. 7. A partir de (9.43) e (9.47): (a) Escreva as expresso˜es de g(B, T ), no equil´ıbrio, acima e abaixo da temperatura cr´ıtica. (b) Verifique a continuidade de g e de sua primeira derivada no ponto cr´ıtico. (c) Mostre que o calor espec´ıfico a ψ constante sofre uma descontinuidade em T = Tc. 8. A energia de interac¸a˜o entre a´tomos A e B numa mistura bina´ria pode ser escrita, na aproximac¸a˜o de campo me´dio, como Eint = λxAxB , onde xi = Ni/N e´ a concentrac¸a˜o de a´tomos do tipo i. (a) Explique porque essa forma de energia favorece a segregac¸a˜o de A e B. (b) Calcule a entropia S do sistema. (Dica: considere de quantas maneiras diferentes voceˆ pode arrumar NA a´tomos do tipo A e NB a´tomos do tipo B em um so´lido.) (c) Considere que NA e NB sa˜o muito grandes. Defina o paraˆmetro de ordem como ψ = xA − xB e mostre que g = ( g0A − g0B 2 ) ψ + ( κBT − λ 2 ) ψ2 2 + κBT 12 ψ4 , onde g0A = µ0A e g0B = µ0B sa˜o os potenciais qu´ımicos de A e B quando λ = 0. Na expressa˜o acima termos constantes foram desprezados. (d) Qual a temperatura cr´ıtica para o sistema? (e) Considere o caso sime´trico em que µ0A = µ0B . Esboce a curva de coexisteˆncia T -ψ, indicando as coordenadas do ponto cr´ıtico. Bibliografia [1] H. B. Callen. Thermodynamics and an Introduction to Thermostatistics. John Wiley & Sons, 1985. [2] H. Moyse´s Nussenzveig. Curso de Fı´sica Ba´sica 1 - Mecaˆnica. Edgard Blu¨cher, 1983. [3] H. Moyse´s Nussenzveig. Curso de Fı´sica Ba´sica 2 - Flu´ıdos, Oscilac¸o˜es e Ondas, Calor. Edgard Blu¨cher, 2002. [4] E. A. Jackson. Perspectives of nonlinear dynamics, volume 1. Cambridge, 1989. [5] O cientista sueco Svante Arrhenius (1859-1927), ganhou o preˆmio Nobel em 1903 pela teoria da disso- ciac¸a˜o dos eletro´litos. Entre outras coisas ele estudou a dependeˆncia da taxa de reac¸a˜o em func¸a˜o da temperatura e propos a lei fenomenolo´gia que atualmente leva o seu nome. Sua formulac¸a˜o original foi em func¸a˜oda energia de ativac¸a˜o, ou energia necessa´ria para iniciar um reac¸a˜o qu´ımica. [6] P. Collet and J. P. Eckmann. Instabilities and Fronts in Extended Systems. Princeton University, 1990. [7] L. E. Reichl. A Modern Course in Statistical Physics. Univertity of Texas Press, 1980. [8] M. Doi. Introduction to Polymer Physics. Clarendon Press-Oxford, 1997. [9] C. Kittel. Introduction to Solid State Physics. John Wiley & Sons, 2004. [10] L. Landau and Lifshitz. Physique Statistique. MIR, Moscou, 1967. [11] Lectures on phase transictions and the renormalization group. xx, 1990. 84
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