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História Natural e Conservação da Ilha do Mel

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9 7 8 8 5 7 3 3 5 1 3 0 9
ISBN 85-7335-130-6
HISTÓRIA NATURAL E 
CONSERVAÇÃO DA
ILHA DO MEL
Reitor
Carlos Augusto Moreira Júnior
Vice-Reitora
Maria Tarcisa Silva Bega
Diretor da Editora UFPR
Luís Gonçales Bueno de Camargo
Conselho editorial
Elias Karam Júnior
EnEida Kuchpil
José antonio GEdiEl
José carlos cifuEntEs
luís lopEs diniz filho
luiz ErnandEs KozicKi
marcus lEvy albino bEncostta
maria bEniGna m. dE olivEira
marilEnE WEinhardt
ricardo mEndEs Júnior
Wilson da silva spinosa
HISTÓRIA NATURAL E 
CONSERVAÇÃO DA
ILHA DO MEL
MÁRCIA C. M. MARQUES E
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ (ORGS.)
ALEXANDRE SALINO
CARINA KOZERA
CARLOS BRUNO REISSMANN
FERNANDO CÉSAR VIEIRA ZANELLA
LUCIANA A. PIRES
MÁRCIA C. M. MARQUES
MARIA CRISTINA SOUZA
PAULO EUGÊNIO A. M. OLIVEIRA
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ
RICARDO R. RODRIGUES
ROBERTO XAVIER DE LIMA
RODOLFO ÂNGULO
RODRIGO DE ANDRADE KERSTEN
SANDRO MENEZES SILVA
SERGIO NEREU PAGANO
SIMONE ATHAYDE
VALÉRIA DOS SANTOS MORAES
VINÍCIUS ANTONIO DE OLIVEIRA DITTRICH
© Organizadores
Márcia C. M. Marques & Ricardo Miranda de Britez
 
HISTÓRIA NATURAL E CONSERVAÇÃO DA ILHA DO MEL
Coordenação Editorial 
Marildes Rocio Artigas Santos
Projeto Gráfico e Capa 
Rachel Cristina Pavim
Revisão: Patrícia Domingues Ribas
Revisão Final: dos Organizadores
Editoração Eletrônica: Alquimia Estúdio de Arte-final
Ilustração da Capa: Fotografias de Zig Koch
Série Pesquisa, n. 110
Coordenação de Processos Técnicos. Sistema de Biblioteca. UFPR
ISBN 85-7335-131-4 
Ref. 407
Direitos desta edição reservados à 
Editora UFPR
Centro Politécnico – Jardim das Américas 
Tel./fax (41) 3361-3380 
Caixa Postal 19.029 
81531-980 – Curitiba – Paraná – Brasil 
editora@ufpr.br 
www.editora.ufpr.br
2005
 História Natural e conservação da Ilha do Mel / organizadores 
H 673 Márcia C. M. Marques e Ricardo Miranda de Britez; [colaboradores]
 Alexandre Salino...[et al.].—[Curitiba] : Editora UFPR, [2005].
 271p. : il.; grafs., tabs. (Pesquisa; n.110)
 
 
 Inclui bibliografia
 
1. Comunidades vegetais. 2. Ecologia vegetal. 3. Vegetação-
 Mel, Ilha do(PR) – Classificação. 4. Recursos naturais – Conservação.
 Mel, Ilha do(PR) – Descrições e viagens. I. Marques, Márcia C.M. 
II.Britez, Ricardo Miranda de. III. Salino, Alexandre. Série. 
 CDD 20.ed. 918.162
________________________________________________________ 
 Samira Elias Simões CRB-9 / 755 
aprEsEntação
A Ilha do Mel é certamente uma das mais belas paisagens do litoral 
paranaense. A geologia, o relevo, a proximidade do continente e o regime climático 
determinaram a ocorrência de ecossistemas diversificados e importantes dentro do 
Bioma Mata Atlântica, fato este que contribuiu para a inclusão da Ilha, juntamente 
com o litoral norte paranaense, dentro da Reserva da Bioesfera da Mata Atlântica 
estabelecida pela Unesco. Aliado a isso, a Ilha do Mel foi cenário de importantes 
fatos históricos regionais, que resultaram na construção da Fortaleza Nossa Senhora 
dos Prazeres, no século XVIII, e do Farol das Conchas no século XIX. Por todos 
estes motivos, desde o início da década de 1980 o fluxo de turistas tem aumentado 
vertiginosamente na Ilha, o que gerou pressão sobre os recursos naturais, com 
incremento de áreas ocupadas por construção de edificações, principalmente 
voltadas à indústria do turismo. 
A partir de reivindicações de profissionais ligados ao meio ambiente e da 
motivação política do governo estadual, nos anos de 1982 e 2002, respectivamente, 
foram criados a Estação Ecológica e o Parque Estadual da Ilha do Mel, instrumentos 
legais que propiciam a conservação da maior parte dos ecossistemas da Ilha. 
No entanto, sabe-se que, além de estabelecer as áreas de proteção, a efetiva 
conservação se alcança a partir do conhecimento dos processos que mantêm o 
ecossistema, para que se possa predizer as implicações da pressão proporcionada 
pelo homem sobre a biota. 
No início da década de 1980, a partir principalmente da iniciativa de 
pesquisadores e estudantes da Universidade Federal do Paraná, foram iniciadas 
várias pesquisas que procuraram avaliar os componentes físico, biológico e social 
da Ilha do Mel. Ao longo destes 20 anos, várias dissertações, teses e monografias 
foram realizadas, resultando num vasto volume de informações. A execução 
desta quantidade ímpar de pesquisas focadas em um só local foi possível devido 
ao apoio, em diferentes épocas, da própria Universidade Federal do Paraná, de 
financiadores de projetos (CNPq e Capes), mas principalmente de iniciativas 
dos próprios pesquisadores que na maior parte dos casos trabalharam de forma 
voluntária. Além do fantástico conjunto de dados gerados, de importância 
no contexto dos estudos sobre Floresta Atlântica, os trabalhos na Ilha do Mel 
permitiram a capacitação de profissionais que nos dias de hoje atuam em diferentes 
campos das ciências ambientais. 
História Natural e Conservação da Ilha do Mel disponibiliza grande 
parte destas informações técnicas, na maioria inéditas, resultando em trabalhos 
que abordam o meio físico, o meio biológico e a conservação da Ilha do Mel. 
Certamente as informações servirão de base tanto para comparações com outros 
trabalhos acadêmicos em áreas semelhantes no litoral brasileiro, quanto para 
direcionar os futuros procedimentos que possam de alguma forma garantir a 
conservação, com um turismo controlado na Ilha do Mel. 
Os organizadores
ColaboradorEs
ALEXANDRE SALINO
Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas 
Gerais, Caixa Postal 486 - 30123-970 Belo Horizonte, MG
salino@icb.ufmg.br
CARINA KOZERA
Av. Senador Salgado Filho, 4876, Uberaba - Curitiba, PR. 
kozera23@yahoo.com
CARLOS BRUNO REISSMANN
Departamento de Solos e Fitotecnia, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do 
Paraná
Rua dos Funcionários, 1540 - 80035-050 Curitiba, PR
reissman@ufpr.br
FERNANDO CÉSAR VIEIRA ZANELLA
Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Campina Grande, 
Caixa Postal 64 - 58700-970 Patos, PB 
fzanella@cstr.ufcg.edu.br
 
LUCIANA ANDRÉA PIRES
Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Estadual 
Paulista, Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
luapires@hotmail.com
MÁRCIA CRISTINA MENDES MARQUES
Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Botânica, Setor de Ciências Biológicas, 
Universidade Federal do Paraná
Caixa Postal 19031 - 81531-970 Curitiba, PR
MARIA CRISTINA DE SOUZA
Pós-Graduação em Geologia, Laboratório de Estudos Costeiros - LECOST, Departamento 
de Geologia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná
Caixa Postal 19001 - 81531-990 Curitiba, PR
cristinasouza@ufpr.br
PAULO EUGÊNIO A. M. DE OLIVEIRA
Departamento de Biociências, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Uberlândia
Caixa Postal 593 - 38400-902 Uberlândia, MG
poliveira@ufu.br
RICARDO MIRANDA DE BRITEZ
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental. 
Rua Gutemberg, 296, Batel - 80420-030 Curitiba, PR
cachoeira@spvs.org.br.
RICARDO RIBEIRO RODRIGUES
Departamento de Ciências Biológicas, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 
Universidade de São Paulo, Caixa Postal 9 - 13418-900 Piracicaba, SP, 
rrr@esalq.usp.br
ROBERTO XAVIER DE LIMA
Ministério do Meio Ambiente
SAS QD 05 lote 05 Bl “H”
3º andar sala 305 - 70070914 Brasília, DF 
roberto.lima@mma.gov.br
RODOLFO JOSÉ ANGULO
Laboratório de Estudos Costeiros LECOST, Departamentode Geologia, Setor de Ciências 
da Terra da Universidade Federal do Paraná UFPR, Jardim das Américas, Caixa Postal 
19001 - 81531-990 Curitiba, PR 
angulo@ufpr.br
RODRIGO DE ANDRADE KERSTEN
Rua José de Alencar 158 apto. 124 
80050-240 Curitiba, Paraná, Brasil
kersten@bol.com.br
SANDRO MENEZES SILVA
Fundação O Boticário de Proteção a Natureza
Rua Gonçalves Dias, 225 - 80240-340 Curitiba, PR
sandros@fundacaoboticario.com.br
SÉRGIO NEREU PAGANO
Departamento de Botânica, Universidade Estadual Paulista, 
Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
SIMONE FERREIRA DE ATHAYDE 
R. Amintas de Barros, 93 apto 502 
80060-200 Curitiba, PR
simone@socioambiental.org
VALÉRIA DOS SANTOS MORAES
Sociedade Paranaense de Ensino e Informática (SPEI)
R. Carlos de Carvalho, 256 - 80410-180, Curitiba, PR
Endereço atual: R. Simão Álvares, 137 - 05417-020, São Paulo, SP
valerias.moraes@uol.com.br
VINÍCIUS ANTONIO DE OLIVEIRA DITTRICH
Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Estadual 
Paulista, Caixa Postal 199 - 13506-900 Rio Claro, SP 
vinarc@ig.com.br
sumário
Meio FísiCo
13
Caracterização geral
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
19
Geologia e Geomorfologia
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
35
Solos
Ricardo Miranda de Britez
Meio BiológiCo
49
A Vegetação da Planície Costeira
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
85
Flora pteridofítica
Alexandre Salino, Sandro Menezes Silva, Vinícius Antônio de 
Oliveira Dittrich & Ricardo Miranda de Britez
103
Floresta Ombrófila Densa Submontana: florística 
e estrutura do estrato inferior
Carina Kozera & Ricardo Ribeiro Rodrigues
125
Florística e estrutura de comunidades de epífitas 
vasculares da planície litorânea
Rodrigo de Andrade Kersten & Sandro Menezes Silva
145
Ciclagem de nutrientes na planície costeira
Ricardo Miranda de Britez, Luciana A. Pires, Carlos Bruno Reissmann, Sergio 
Nereu Pagano, Sandro Menezes Silva, 
Simone Ferreira de Athayde & Roberto Xavier de Lima
169
Características reprodutivas das espécies vegetais 
da planície costeira
Márcia C. M. Marques & Paulo Eugênio A. M. Oliveira
189
Abelhas da Ilha do Mel: estrutura da comunidade, 
relações biogeográficas e variação sazonal
Fernando César Vieira Zanella
209
Aves 
Valéria dos Santos Moraes
Conservação
229
As unidades de conservação
Simone Ferreira de Athayde & Ricardo Miranda de Britez
249
Conhecimento Etnobotânico 
Roberto Xavier de Lima
mEio físico
13
Caracterização geral
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques 
Localização, dimensões, toponímia e jurisdição 
A Ilha do Mel localiza-se na entrada da baía de Paranaguá, centro do 
litoral do Estado do Paraná (Figura 1), estando separada do continente (Ponta 
Inácio Dias, em Pontal do Paraná) por aproximadamente 2.800 metros. Em sua 
porção oriental afronta o oceano Atlântico, onde encontram-se as Ilhas das Palmas 
e da Galheta. Ao norte encontram-se as Ilhas das Peças e Superagüi; a oeste é 
banhada pelo chamado Mar de Dentro e avizinha-se das Ilhas das Cobras, da 
Cotinga e Rasa da Cotinga (Figura 1). 
Tem o formato de um oito mal traçado, mais largo ao Norte que ao Sul, 
sendo essas duas porções unidas por um istmo atualmente bastante reduzido. O 
perímetro é de 35 quilômetros e a área total de 2894 hectares. Os pontos extremos 
são, ao norte, a Ponta do Hospital (25o 29’ S, 48o 21’ 18’’ W), a leste a Ponta do 
Morro do Farol das Conchas (25o 32’ 17’’ S, 48o 17’ 15’’ W), ao sul a Ponta do 
Morro das Encantadas (25o 34’ 32’’ S, 48o 18’ 21’’ W) e a oeste a Ponta Oeste ou 
da Coroazinha (25o 30’ S, 48o 23’ 16’’ W) (Figura 2). 
A maior parte da ilha encontra-se ao nível do mar, sendo poucas as 
regiões com elevações (Figura 2). As maiores são o Morro Bento Alves (também 
chamado Morro do Miguel ou da Nhá Pina) com 148 m, o Morro do Meio (ou 
Morro do Belo) com 101 m, Morro da Fortaleza (ou Baleia) com 82 m, o Morro 
das Encantadas (ou Morro Principal) com 70 m, o Morro do Joaquim com 62 
metros e o Morro do Farol das Conchas com 50 m (Figueiredo 1956). 
No perímetro da Ilha destacam-se as praias das Conchas (ou do Farol) e 
da Fortaleza, além da praia de Fora, a praia Grande, a praia do Miguel e a praia do 
Belo, na porção sul da Ilha. Ao norte e oeste destacam-se as localidades denominadas 
Ponta do Bicho e a Ponta do Cassual (onde encontra-se o rio com o mesmo nome). 
A região voltada para o continente, no sudoeste da Ilha, é conhecida como Saco do 
Limoeiro (Figura 2). 
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
14
A Ilha pertence ao município de Paranaguá e sua jurisdição está a cargo 
do Instituto Ambiental do Paraná, vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do 
Estado do Paraná. O acesso à Ilha é feito de barco a partir do terminal de embarque 
localizado no Balneário de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, ou da cidade de 
Paranaguá. 
Clima 
O Brasil caracteriza-se por duas áreas climáticas: a zona temperada na 
região sul e a zona tropical. O clima do litoral paranaense está na transição entre 
essas duas zonas, sendo considerado por Maack (1981) como de transição entre 
a região tropical e subtropical, incluindo-se, segundo a classificação Köppen, na 
zona climática Af. Este autor acrescentou a letra “t” para indicar essa transição. 
As cartas climáticas elaboradas pelo Iapar (1978) caracterizam o clima como 
mesotérmico, superúmido, sem estação seca e isento de geada.
O clima da região é fortemente influenciado pela corrente marítima 
quente do Brasil e pelos constantes avanços e recuos de massas polares e tropicais, 
resultando em modificações severas no clima nas diferentes estações do ano 
(Maack 1981). Os meses de maior precipitação equivalem ao período no qual 
Figura 1 - Localização da Ilha do Mel no Brasil, Estado do Paraná e no litoral.
Meio Físico – Caracterização Geral
15
existem descontinuidades entre a massa de ar tropical marítima proveniente do 
Atlântico Sul e a massa de ar polar proveniente da região polar sul da América do 
Sul. Nesse período, em que há grande interação entre essas duas massas polares, 
são freqüentes fortes chuvas diárias (Nimer 1977). 
A partir dos dados climáticos obtidos na Estação Meteorológica de 
Paranaguá-PR (25o31’S e 48o31’W, 4,4 m s.n.m., a cerca de 20 km da Ilha) para o 
período de 1948 a 1988, observa-se um padrão climático bem definido para esse 
período de 41 anos (Figura 3). A temperatura média anual foi de 21,09 oC, sendo 
a média mensal mais alta registrada em fevereiro (25,14 o C), e a mais baixa em 
julho (17,26o C). A precipitação anual média do período foi de 1959 mm, sendo 
que os meses de janeiro a março tiveram as maiores médias de pluviosidade (272 
mm a 286 mm), enquanto em julho e agosto registraram-se as menores (72 mm 
e 73 mm). Esses dados denotam um padrão sazonal, no qual os meses de verão 
Figura 2 - Contorno geral, esboço planialtimétrico, toponímia e localização das unidades de 
conservação.
Ricardo Miranda de Britez & Márcia C. M. Marques
16
(janeiro a março) apresentam as maiores temperaturas e pluviosidades. Nessa 
região, além da alta pluviosidade, a freqüência de chuvas também é bastante 
elevada, com uma média de dias de ocorrência de chuva por ano de 180 dias 
(média dos anos de 1985 a 1988), ou seja, em quase metade do ano ocorrem 
chuvas (Silva 1990). 
A umidade relativa do ar é alta, com médias acima de 80% durante o ano 
todo, sendo os valores mais altos registrados em agosto e setembro, indicando uma 
grande quantidade de vapor d’água trazido pelos ventos úmidos dos quadrantes 
S, SW e SE (dados de 41 anos, Silva 1990). Segundo Moraes (1993), as chuvas 
orográficas que ocorrem na costa brasileira associada à Floresta Atlântica são 
formadas pela grande quantidade de vapor d’água queos ventos alísios do sudeste, 
constantes na direção do oceano para o continente, trazem e que, ao encontrar a 
Serra do Mar, resultam em densos nevoeiros e precipitação.
Embora o clima para a região de Paranaguá seja superúmido, sem 
estação seca e normalmente haja excedente hídrico no solo (Silva 1990), em 
alguns anos é possível a ocorrência de invernos mais secos, com menores valores 
de precipitação, principalmente nos meses de julho e agosto, levando à ocorrência 
de deficiência hídrica. Tal fato foi verificado nos anos de 1989, 1991 e 1993 (Britez 
1994).
Figura 3 - Distribuição mensal das médias de precipitação (mm) e temperatura (ºC) para a região 
de Paranaguá no período de 1948-1988. Fonte: 7º Disme/Inmet - Paranaguá.
Fonte: Silva (1990).
Meio Físico – Caracterização Geral
17
Referências
BRITEZ, R.M. 1994. Ciclagem de nutrientes minerais em duas florestas da planície litorânea 
da Ilha do Mel. Dissertação de Mestrado em Agronomia, Universidade Federal do Paraná, 
Paranaguá. 
FIGUEIREDO, J.C. 1954. Contribuição à geografia da Ilha do Mel (Litoral do Paraná). Tese 
de Doutorado em Geografia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 
IAPAR. 1978. Cartas climáticas básicas do Paraná. Instituto Agronômico do Paraná.
MAACK, R. 1981. Geografia física do Estado do Paraná. 2. ed. José Olympio, Rio de Janeiro.
NIMER, E. Clima. In Geografia do Brasil - Região Sul (E. Nimer). IBGE, 1977.
SILVA, S.M. 1990. Composição florística e fitossociologia de um trecho de floresta de 
restinga na Ilha do Mel, município de Paranaguá, PR. Dissertação de Mestrado, Universidade 
Estadual de Campinas, Campinas
19
Geologia e Geomorfologia
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
A Ilha do Mel, localizada na desembocadura da Baía de Paranaguá, é 
formada principalmente por morros rochosos e planícies arenosas, semelhantes 
às que constituem a planície costeira paranaense.
Dentre os trabalhos que abordam aspectos da geologia e geomorfologia 
da Ilha do Mel destacam-se os trabalhos pioneiros de Bigarella (1946) e Figueiredo 
(1954), o mapeamento geológico da Comissão da Carta Geológica do Paraná 
(Rivereau et al. 1968), o trabalho de síntese sobre o litoral paranaense de Bigarella 
et al. (1978) e as contribuições de Martin et al. (1988), Angulo (1992a, b, 1999), 
Paranhos Filho et al. (1994), Angulo et al. (1996), Araújo (2001) e Giannini et 
al. (2004).
Os morros da Ilha do Mel concentram-se na parte sul da ilha e têm 
alturas variáveis que podem alcançar 148 metros, como no Morro Bento Alves 
(Figura 2 em Britez & Marques deste volume). 
Os morros são constituídos por rochas do embasamento cristalino, 
principalmente migmatitos estromáticos com paleossoma de biotita-hornblenda 
gnaisse, mica-quartzo xisto, ultrabasitos, metabasitos e anfibolitos do Complexo 
Gnáissico Migmático Costeiro do Proterozóico Inferior (Mineropar 1989). Essas 
rochas estão cortadas por enxames de diques basálticos, microdioritos, quartzo-
microdiorito e diorito pórfiro, do Juro-Cretáceo (Mineropar 1989), relacionados à 
abertura do Oceano Atlântico Sul. A erosão diferencial entre as rochas do Complexo 
Costeiro e dos diques gerou quebras nas vertentes dos morros e reentrâncias e 
grutas nos costões da ilha, tais como a Gruta de Encantadas (Figura 1).
As planícies têm relevo suave ondulado por causa da presença de cordões 
litorâneos (Figura 2) e altitudes predominantes entre 1 e 4 metros sobre o nível 
médio do mar, podendo alcançar 25 metros em locais onde ocorrem dunas eólicas.
As planícies são constituídas por sedimentos arenosos do Quaternário, 
principalmente areias finas bem selecionadas, com diversas estruturas sedimentares, 
tais como estratificação cruzada de baixo ângulo com laminação plano-paralela 
suborizontal; laminação cruzada de migração de marcas onduladas assimétricas, 
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
20
Figura 1 - Gruta de Encantadas, na parte sul da Ilha do Mel, originada por erosão diferencial entre 
migmatitos e pequeno dique basáltico, visível na parte superior da gruta.
Figura 2 - Foto aérea vertical de 1980 na qual se observam, ressaltados pela vegetação, os cordões 
litorâneos próximos ao Morro da Fortaleza na Ilha do Mel.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
21
às vezes acrescionais; estruturas de corte e preenchimento de canal e icnofósseis 
Ophiomorpha atribuídos a tubos de Callichirus major. Essas estruturas sugerem 
que a deposição desses sedimentos ocorreu em ambiente de face praial (beach 
face) (Angulo 1992a). Na base de afloramentos próximos ao Saco do Limoeiro 
foram observadas estratificações cruzadas de grande porte que foram atribuídas 
a dunas subaquosas em ambiente de delta de maré enchente (Araújo 2001).
Os sedimentos que formam a planície costeira freqüentemente 
apresentam um horizonte com diagênese precoce e coloração castanho-escura, 
conhecido popularmente como piçarra (Figura 3), que é originado principalmente 
por enriquecimento epigenético em matéria orgânica relacionado a processos 
pedogenéticos em Espodossolo (Angulo 1992b).
Completam a geologia da Ilha do Mel os ambientes de sedimentação 
atuais, tais como praias, planícies de maré, dunas frontais e deltas de maré.
Figura 3 - Falésia em sedimentos arenosos do Holoceno próxima à Ponta Oeste da Ilha do Mel. Na 
parte inferior da falésia os sedimentos apresentam enriquecimento epigenético em matéria orgânica, 
formando um horizonte conhecido popularmente como piçarra. A parte superior da falésia é formada 
por areias brancas com lâminas escuras devidas à concentração de minerais pesados.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
22
Evolução geológica e paleogeográfica
Para compreender as evoluções geológica e paleogeográfica das zonas 
costeiras durante o Quaternário, deve-se lembrar que estas foram comandadas 
pelas variações do nível do mar relacionadas aos ciclos glacial-interglacial ocorridos 
no período. Essas variações podem ser identificadas por meio de indicadores de 
paleoníveis marinhos a partir dos quais podem ser construídas curvas de variação 
do nível relativo do mar. Na costa paranaense foram encontrados diversos 
indicadores de paleoníveis marinhos que contribuíram para o conhecimento dessas 
variações (Angulo et al. 2002) (Figura 4). Especificamente na Ilha do Mel foram 
descritos indicadores espaciais de paleoníveis marinhos, tais como paleotômbolos 
erosivos, paleopilares marinhos (Figura 5), icnofósseis Ophiomorpha atribuídos a 
Callichirus major, locas de ouriço e limites de fácies sedimentares (Angulo 1993a, 
1994). Também foram descritos indicadores espaço-temporais correspondentes 
a restos de recifes formados por gastrópodes fixos da espécie Petaloconchus 
(Macrophragma) varians (Angulo 1993a).
A partir do conhecimento atual, a evolução geológica e paleogeográfica 
do litoral paranaense e especificamente da Ilha do Mel pode sintetizar-se como 
segue:
a) Durante o último interglacial, no Pleistoceno Tardio, o mar 
teria subido até alcançar uma elevação de 8 ± 2 m acima do nível atual 
aproximadamente 120.000 anos antes do presente (a.p.) (Martin et al. 1988). 
Durante esse máximo a costa paranaense apresentava configuração recortada, 
estando a Serra do Mar em contato com o mar. Em alguns locais podem ter 
existido ilhas barreiras associadas a lagunas e estuários. Nesse período, a Ilha do 
Mel estava reduzida a um pequeno arquipélago de ilhas rochosas correspondentes 
aos morros que atualmente fazem parte da ilha (Figura 6a). Entre os morros das 
Encantadas e Caraguatá, provavelmente existia um tômbolo erosivo (Figura 6a’).
b) Durante a fase regressiva subseqüente ao máximo, formaram-se 
na região extensas barreiras regressivas, que se estendiam em direção à plataforma, 
muito além de sua atual faixa de afloramento. Na atual localização da Ilha do Mel 
provavelmente existiam planíciesregressivas, semelhantes às existentes em outros 
setores da costa paranaense, que posteriormente foram erodidas.
c) Durante o período de mar baixo, correspondente ao último 
período glacial, que teve seu máximo entre 21.500 e 18.000 anos a.p. (Pirazzoli 
1996), o nível do mar esteve em torno de 130 metros abaixo do atual, 
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
23
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
0500100015002000250030003500400045005000550060006500
Idade (anos A.P.)
Pa
le
on
ív
el
 (m
)
(1) (2) (3)
Figura 4 - Paleoníveis marinhos holocênicos no litoral paranaense e na Ilha do Cardoso, no sul 
paulista, e curva de variação do nível relativo do mar a partir de tubos de vermetídeos (Angulo et al. 
2002). (1) paleonível com margem de erro inferida a partir de tubos de vermetídeos; (2) paleonível 
mínimo inferido a partir de conchas de moluscos com predominância de Anomalocardia brasiliana; 
(3) paleonível mínimo inferido a partir de indicadores compostos, principalmente estruturas associadas 
a fragmentos de madeira ou conchas.
Figura 5 - Paleopilar no Morro do Joaquim, na Ilha do Mel, formado provavelmente durante o último 
máximo transgressivo no Holoceno. Note-se a concentração de matacões no sopé da encosta, entre 2 
e 3 m acima do nível de preamar atual, atribuída ao retrabalhamento de colúvios pela ação das ondas 
durante nível relativo do mar superior ao atual (Angulo 1994).
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
24
estabelecendo-se na região uma rede de drenagem fluvial que dissecou a planície 
costeira e cujas evidências são freqüentes em diversos setores da costa paranaense 
e norte catarinense. Durante esse período a Ilha do Mel deixou de existir, tornando-
se parte de uma extensa planície que se estendia entre a Serra do Mar e a atual 
borda da plataforma continental.
d) Durante o último pós-glacial o mar subiu aceleradamente, até 
aproximadamente 6.000 anos a.p. para posteriormente ter relativa estabilização. 
O máximo da transgressão pós-glacial teria ocorrido no Holoceno, entre 5.000 
e 5.400 anos a.p., e alcançado altitude em torno de 3,5 ± 1,0 m acima do atual 
(Angulo & Souza 1999). Nesse período, teriam existido na região ilhas-barreira 
e amplos estuários (Lessa et al. 2000). Durante a ascensão do nível do mar, os 
terraços do Pleistoceno Superior foram erodidos e afogados e, durante o máximo 
da transgressão, poucos vestígios deles tinham restado. Poderiam ser do Pleistoceno 
Figura 6 - Evolução paleogeográfica da Ilha do Mel durante o Quaternário até o máximo da transgressão 
pós-glacial (modificado de Angulo 1992b, Araújo 2001). (a) Arquipélago do Mel durante o máximo da 
transgressão do Pleistoceno Tardio, ocorrido aproximadamente 120.000 anos a.p.; (b) Arquipélago do 
Mel durante o período de mar alto no Holoceno, cujo máximo ocorreu entre 5.400 e 5.000 anos a.p.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
25
Tardio, apenas, dois pequenos terraços existentes em Encantadas e o terraço 
subjacente às dunas entre os morros do Meio e do Miguel, mas as idades desses 
depósitos precisam ser confirmadas (Figura 6b’). Durante a subida do nível do 
mar provavelmente existiam na região campos de dunas transgressivas, cujos 
últimos remanescentes seriam as dunas existentes na Ilha do Mel entre os morros 
do Meio e do Miguel; contudo, datações dessas dunas seriam necessárias para 
confirmar essa hipótese (Figura 6b’). Durante o período de mar alto existia, na 
área correspondente à parte oeste da ilha, um delta de maré enchente (Figura 6b), 
cujos depósitos afloram na ilha e foram detectados em subsuperfície por meio de 
sondagens (Araújo 2001).
e) A partir do máximo da transgressão, ou talvez 1.000 anos antes, 
formaram-se na região extensas barreiras regressivas com cordões litorâneos. A 
descida do nível relativo do mar também propiciou a diminuição do tamanho 
dos estuários. Durante o período também formaram-se esporões arenosos que 
migravam para norte sob o efeito das correntes de deriva litorânea, deslocando 
as desembocaduras dos estuários na mesma direção. As barreiras regressivas 
constituem a maior parte da Ilha do Mel. Inicialmente, formou-se a parte mais 
ocidental, que progradou para norte-nordeste (Figura 7a); posteriormente, os 
cordões litorâneos migraram para nordeste, leste-nordeste e finalmente para leste, 
sendo provável que tenham ocorrido períodos de retrogradação, como evidenciam 
os truncamentos dos feixes de cordões litorâneos (Figuras 7b e 7c). À medida que os 
cordões progradavam para leste, a ilha formada pelo Morro da Fortaleza começou 
a funcionar como um anteparo, provocando a refração das ondas e a conseqüente 
inflexão dos cordões em direção ao morro, até formar um tômbolo (Figura 7c). 
A barreira, cujos depósitos foram identificados por sondagens, estendia-se para o 
sul, e foi erodida pelas ondas e correntes existentes no Saco do Limoeiro (Araújo 
2001). Posteriormente, formou-se a planície que liga as partes noroeste e sudeste 
da ilha (Figura 7d).
f) Nas últimas centenas de anos até o presente, num período em 
que o mar já apresentava nível semelhante ao atual, ocorreram processos de 
progradação, com a formação de cordões litorâneos aproximadamente paralelos 
à linha de costa atual, e de retrogradação, evidenciados pelas superfícies de 
truncamento entre os cordões (Figura 7e).
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
26
Figura 7 - Evolução paleo-geográfica das barreiras regressivas na Ilha do Mel durante o Holoceno 
(modificado de Angulo 1992b, Araújo 2001). (a) primeiro estágio; (b) segundo estágio; (c) terceiro 
estágio; (d) quarto estágio; (e) formação de cordões litorâneos nas últimas centenas de anos com nível 
do mar semelhante ao atual. 
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
27
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
28
Ambientes atuais de sedimentação
Na Ilha do Mel e área próxima podem ser reconhecidos cinco ambientes 
de sedimentação principais: praias, dunas frontais, planícies de maré, deltas de 
maré enchente e deltas de maré vazante.
Praias
As praias da Ilha do Mel são constituídas predominantemente por areia 
fina a média, com diâmetro médio entre 3,6 e 2,1 phi, bem selecionada, composta 
por quartzo e subsidiariamente biodetritos calcários e minerais pesados, tais como 
ilmenita, zircão, rutilo e turmalina (Paranhos Filho 1996, Giannini et al. 2004). 
As praias ocorrem ao longo de quase todo o perímetro da ilha, exceto onde as 
rochas do embasamento alcançam o mar e onde as ondas não possuem energia 
suficiente para remover os sedimentos finos.
A dinâmica das praias da Ilha do Mel é fortemente influenciada pela 
dinâmica das desembocaduras da Baía de Paranaguá, especificamente pelas 
correntes de maré e pelos deltas de maré que ocorrem associados. Segundo Angulo 
(1993c), as praias da ilha apresentam grande mobilidade, sendo comuns rápidos 
e intensos processos de erosão e sedimentação. Ainda não existem estudos sobre 
a morfodinâmica dessas praias.
Dunas frontais
As dunas frontais são freqüentes na Ilha do Mel. Elas são formadas pela 
acumulação de areia retirada pelo vento da praia e depositada junto à linha de 
costa com o auxílio da vegetação. Na Praia do Forte (Figura 2 do Capítulo 1.1) 
são freqüentes os campos de dunas dômicas de altura inferior a 1 metro (Figura 
8); nas praias de Fora, Grande, do Miguel e de Fora em Encantadas (Figura 2 
do Capítulo 1.1) são comuns cordões de dunas frontais que podem alcançar 2 a 
4 metros de altura (Angulo 1993b).
Planícies de maré
As planícies de maré da Ilha do Mel estão restritas à margem voltada 
para a baía, destacando-se a existente entre o morro do Miguel e o istmo. Elas 
incluem ecossistemas de manguezais, marismas e bancos não vegetados.
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
29
Figura 8 - Dunas dômicas próximasao Morro do Farol das Conchas, na Ilha do Mel.
Figura 9 - Imagem Landsat-7 ETM+ de 1999, composição colorida RBG (processada no Laboratório 
da Oceanografia Costeira e Geoprocessamento do CEM/UFPR) da desembocadura do complexo 
estuarino de Paranaguá, na qual se observam bancos e zonas de arrebentação de ondas correspondentes 
aos deltas de maré vazante associados às desembocaduras.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
30
Figura 10 - Fotografia aérea vertical do Saco do Limoeiro ou Mar de Dentro, na Ilha do Mel, de 
1980, interpretado como delta de maré enchente e no qual se observam ondas de areia (sand waves) 
e dunas subaquosas (Angulo 1999).
Figura 11 - Vista aérea de ondas de areia (sand waves) durante a maré baixa, no Saco do Limoeiro, 
na Ilha do Mel. Estas dunas migram para oeste (seta) sob o efeito das correntes de maré enchente 
(Angulo 1999).
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
31
Deltas de maré 
Os bancos arenosos que existem associados às desembocaduras dos 
complexos estuarinos da costa paranaense foram caracterizados como deltas de 
maré por Angulo (1992a, 1999). Dois grandes deltas de vazante ocorrem associados 
às desembocaduras da Baía de Paranaguá (Figura 9). A mobilidade desses deltas 
é responsável por importantes processos de erosão e sedimentação nas costas 
da ilha. O Saco do Limoeiro foi caracterizado como um delta de maré enchente, 
no qual ocorrem campos de ondas de areia (sand waves) e dunas subaquosas 
(Angulo 1999) e cuja dinâmica foi estudada por Araújo (2001) (Figuras 10 e 11).
Variações da linha de costa e erosão costeira 
As costas da Ilha do Mel apresentam rápidas variações da linha de 
costa e intensos processos de erosão e sedimentação, que já foram identificados 
nos trabalhos pioneiros da década de 1950 (Figueiredo 1954). Nos anos 1950, o 
istmo da ilha tinha 152 metros de largura, medido entre as linhas de preamares 
(Figueiredo 1954). Nessa mesma área, na década de 1980, iniciou-se processo 
Figura 12 - Esporão arenoso ancorado no Morro do Farol das Conchas formado durante a década 
de 1990, simultaneamente ao processo de erosão no istmo. Anteriormente à formação do esporão, a 
linha de costa localizava-se aproximadamente junto à linha de vegetação arbórea.
Rodolfo José Angulo & Maria Cristina de Souza
32
Figura 13 - Variação da linha de costa na Ilha do Mel (Angulo et al. 2004).
erosivo que se intensificou nos anos 1990. Em 2001 existia no istmo um trecho de 
300 metros de comprimento sem qualquer remanescente da planície do Holoceno, 
existindo comunicação entre as águas da baía e as do mar. A intensificação da 
erosão na década de 1990 foi simultânea à formação de um esporão arenoso 
ancorado na Ponta do Farol das Conchas, cuja velocidade de crescimento 
longitudinal média foi estimada em 100 m.ano-1 (Giannini et al. 2004) (Figura 
12). Em outros locais da ilha foram identificadas variações de dezenas de metros 
nas últimas décadas (Angulo et al. 2004) (Figura 13).
Meio Físico – Geologia e Geomorfologia
33
Referências
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35
Solos
Ricardo Miranda de Britez
Introdução
Os aspectos que definem as características do solo são principalmente 
o material de origem, a idade e o relevo (Vieira 1988). Com base nesses fatores, 
a distribuição dos diferentes tipos de solo no território paranaense obedece à 
conformação da sua estruturação geológica-fisiográfica, a qual pode ser definida 
com base em suas grandes zonas: litoral, serra do mar e planaltos interiores.Na zona do litoral são encontradas duas principais unidades fisiográficas, as 
serras e as planícies litorâneas (Maack 1981), com características bem distintas 
e conseqüentemente com solos bastante diferenciados. A Ilha do Mel apresenta 
essas duas conformações, sendo que a planície litorânea representa cerca de 93,8% 
(2714 ha) e os morros 6,3% (180 ha) da área total da ilha. 
Conforme o mapa do Levantamento de Reconhecimento dos Solos do 
Estado do Paraná, elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
(Embrapa) e pelo Serviço Nacional de Levantamentos e Conservação de Solos 
(SNLCS) (1984 e escala 1:600.000), os solos de maior expressão no litoral 
paranaense são: Latossolos Vermelho-amarelo Álicos; Podzóis; Solos Indiscrimi-
nados de Mangue; Cambissolos Álicos; Podzólicos Vermelho-amarelo Distróficos; 
Cambissolos Distróficos; Solos Hidromórficos Gleyzados Indiscriminados, e 
Afloramentos de Rocha. 
No presente capítulo são descritos os solos que ocorrem na Ilha do 
Mel, considerando-se as descrições regionais feitas pela Empresa Brasileira de 
Pesquisas Agropecuárias (Embrapa 1994) e principalmente os trabalhos de Sema 
(1996), Britez (1994), Britez et al. (1997) e Pires (2001) e algumas observações 
de campo.
Ricardo Miranda de Britez
36
Os solos da Ilha do Mel
São encontradas quatro ordens e dez subordens de solos na Ilha do Mel 
(Tabela 1), denominados segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos 
(Embrapa 1999).
Os Neossolos compreendem os solos constituídos por material mineral 
ou por material orgânico pouco espesso em conseqüência da baixa intensidade de 
atuação dos processos pedogenéticos, que não conduziram, ainda, a modificações 
expressivas do material de origem. Tal situação ocorre em virtude de diversos 
aspectos, como as características do próprio material, resistência ao intemperismo, 
composição química e relevo, os quais podem impedir ou limitar a evolução desses 
solos. Os Neossolos Litólicos são solos com horizonte A ou O hístico com menos de 
40 centímetros de espessura, em contato direto com a rocha, sobre um horizonte 
C ou Cr ou sobre material com predomínio de fragmentos de rocha com diâmetro 
maior que 2 milímetros (cascalhos, calhaus e matacões) e que apresentam um 
contato lítico dentro de 50 centímetros da superfície do solo. Admitem um horizonte 
B em início de formação cuja espessura não satisfaz a qualquer tipo de horizonte 
B diagnóstico. Os Neossolos Quartzarênicos têm como seqüência de horizontes 
A-C, sem contato lítico dentro de 50 centímetros de profundidade. Apresentam 
textura areia ou areia franca nos horizontes até, no mínimo, a profundidade de 
150 centímetros a partir da superfície do solo ou até um contato lítico. O material é 
essencialmente quartzoso, tendo nas frações areia grossa e areia fina 95% ou mais 
Tabela 1 - Principais ordens e subordens de solos encontrados na Ilha do Mel, de acordo com a 
nomenclatura adotada por Embrapa (1999), e suas respectivas localizações. 
Meio Físico – Solos
37
de quartzo, calcedônia e opala e, praticamente, ausência de minerais primários 
alteráveis (menos resistentes ao intemperismo).
Os Cambissolos são constituídos por material mineral, e apresentam 
horizonte A ou hístico com espessura de 40 centímetros seguido de horizonte B 
incipiente. Têm seqüência de horizontes A ou hístico, Bi, C, com ou sem R. Por 
causa da heterogeneidade do material de origem, das formas de relevo e das 
condições climáticas, as características desses solos variam muito de um local 
para outro. Assim, a classe comporta desde solos fortemente até imperfeitamente 
drenados, de rasos a profundos, de cor bruna ou bruno-amarelada até vermelho 
escuro, e de alta a baixa saturação por bases e atividade química da fração 
coloidal. Cambissolos hísticos são solos com horizonte O hístico com menos de 
40 centímetros de espessura, ou menos de 60 centímetros quando 50% ou mais 
do material orgânico for constituído de ramos finos, raízes finas, casca de árvores 
e folhas, parcialmente decompostos. Já o Cambissolo Húmico apresenta horizonte 
A húmico e os Cambissolos Háplicos são os demais solos com características de 
Cambissolo que não se enquadram nas subordens anteriores.
Argissolos compreendem solos constituídos por material mineral, que têm 
como características diferenciais argila de atividade baixa e horizonte B textural 
(Bt), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte superficial, exceto o 
hístico. Parte dos solos desta classe apresenta um evidente incremento no teor de 
argila, do horizonte B para baixo do perfil. A transição entre os horizontes A e 
Bt é usualmente clara, abrupta ou gradual. São de profundidade variável, desde 
forte a imperfeitamente drenados, de cores avermelhadas ou amareladas e, mais 
raramente, brunadas ou acinzentadas. A textura varia de arenosa a argilosa no 
horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento 
de argila daquele para este. São forte a moderadamente ácidos, com saturação por 
bases alta ou baixa, predominantemente caulinítico. As subordens se distinguem 
principalmente em função da cor, e as principais são Argissolos Acinzentados 
(matiz mais amarelo que 5 YR e valor 5 ou maior e croma < 4 na maior parte 
dos primeiros 100 cm do horizonte B), Argissolos Amarelos (matiz mais amarelo 
que 5 YR na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B) e os Argissolos 
Vermelho-Amarelos (matiz 5 YR ou mais vermelho e mais amarelo que 2.5 YR 
na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte B).
Os Espodossolos são solos constituídos por material mineral, 
apresentando horizonte B espódico, imediatamente abaixo de horizonte E ou 
A, dentro de 200 centímetros da superfície do solo, ou de 400 centímetros de 
Ricardo Miranda de Britez
38
profundidade, se a soma do horizonte A + E ultrapassa 200 centímetros de 
profundidade. Os Espodossolos são chamados de Cárbicos quando apresentam 
acúmulo, principalmente de carbono orgânico e alumínio, no horizonte B espódico, 
com presença só de horizonte Bh, e de Ferrocárbicos quando apresentam acúmulo, 
principalmente, de carbono orgânico e ferro. 
As Unidades Fisiográficas
Áreas de Morro
Nos morros, apesar da pequena elevação (entre 50 e 148 metros; ver 
Britez & Marques neste volume), em função de condições topográficas os solos 
estão sujeitos a forte ação erosiva. O relevo variando desde suave ondulado (nos 
topos) ao montanhoso e escarpado resulta em um material de origem associado 
ao complexo gnaissico-migmatítico costeiro (Mineropar 1989). 
Apesar de não terem sido realizados estudos sistematizados dos solos dos 
morros, com base em Sema/Iap (1996) foram identificadas as ordens, de Cambissolo 
e Argissolo. Nas porções mais dissecadas da paisagem de quase todos os morros 
da Ilha, observam-se afloramentos rochosos associados a Neo-solos Litólicos, onde 
o material orgânico é pouco espesso, por causa da dificuldade de fixar-se nas 
porções de alta declividade. Esses solos apresentam-se bastante heterogêneos, com 
variações na seqüência de horizontes (A/R ou A/C/R) e com o horizonte superficial 
(h A) em geral moderado. Também próximo aos costões sobre influência direta 
do mar é comum encontrar uma camada fina de solo sobre as rochas, em uma 
sucessão gradativa de rocha exposta para solos cada vez mais profundos, à medida 
que ocorre um desenvolvimento mais acentuado da vegetação.
Onde houve condições para um melhor desenvolvimento dos solos, 
surgem os Cambissolos, que podem apresentar variações quanto à fertilidade 
(álicos ou distróficos), estrutura e textura (em geral argilosa), podendo exibir 
pedregosidade (seixos subangulosos e cascalhos) ao longo do perfil. Além disso, há 
variações na permeabilidade interna e grau de hidromorfismo do solo. No morro 
do Joaquim, onde ocorre acúmulo de água, foi observada a presença significativade Cambissolo com caráter intermediário para solo Glei Pouco Húmico, ou seja, 
Cambissolo Gleico (Sema/Iap 1996). Segundo Embrapa (1984), também ocorre 
nos morros solo Podzólico Vermelho Amarelo latossólico.
Meio Físico – Solos
39
Áreas de Planície
Quase toda a área da planície é constituída por um sistema de diferentes 
tipos de Espodossolos. Ocorrem ainda, ocupando uma área bem menor, o Neo-
solo Quartzarênico e os Solos Indiscriminados de Mangue (Sema/Iap 1996).
Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem nas áreas onde a deposição de 
sedimentos é recente, em alguns pontos da costa da Ilha e sobre formações eólicas 
(terraços da parte sul). Nesses casos há uma descontinuidade entre o material que 
formou a planície costeira original e os sedimentos novos, com horizonte A fraco 
sobre horizonte C inconsolidado, podendo apresentar lentes de material máfico 
ao longo do perfil do solo. Destacam-se também áreas de marismas onde ocorrem 
Neossolos Quartzarênicos hidromórficos com caráter solódico e/ou tiomórfico, 
intermediárias para Solos de Mangue (Sema/Iap 1996).
Os Solos Indiscriminados de Mangue não são muito representativos na 
Ilha, e sua ocorrência está relacionada com a presença da vegetação dos mangues, 
que ocorrem no Saco do Limoeiro e na parte noroeste da Ilha (área da Estação 
Ecológica), na região da Ponta Oeste, Ponta do Hospital e rio Cassual (ver Britez & 
Marques e Silva & Britez neste volume). Estes estão sujeitos à influência direta do 
fluxo e refluxo das marés, localizando-se nas desembocaduras dos rios, reentrâncias 
da costa e margens de lagoas, onde as águas são mais calmas e o substrato é de 
aspecto lodoso. Os sedimentos da planície de maré são argilo-arenosos, com altos 
teores de matéria orgânica. A diminuição da corrente de água favorece a deposição 
de sedimentos finos argilosos ou argilo-siltosos, mas não exclui a possibilidade da 
presença de depósitos arenosos. Portanto, são solos de textura variável, dependente 
da natureza do substrato e com conteúdos variáveis de sais, principalmente de 
Na+, Mg++, Ca++, K+ e outros; a concentração desses sais no solo também é 
dependente da maior ou menor influência da água do mar. Nesses locais, há uma 
grande variação nas características definidoras das classes de solo, com gradações 
intermediárias entre os Solos de Mangue e Espodossolos. As principais variações 
observadas em campo são o tipo de horizonte A (moderado até hístico), caráter 
tiomórfico, textura (arenosa até siltosa, com diferenciações na granulometria da 
fração areia) e seqüência de horizontes/suborizontes subsuperficiais. Apesar de 
sua importância ecológica, as áreas transicionais para manguezais são pouco 
expressivas em termos geográficos (Sema/Iap 1996).
Os Espodossolos ocupam a maior área da ilha, com cerca de 80% da 
área total. De acordo com a Embrapa (1984), estes ocorrem no litoral do Estado 
do Paraná numa extensão de 855 quilômetros quadrados (0,43% da área do 
Ricardo Miranda de Britez
40
Estado). A sua característica mais marcante é a presença de um horizonte espódico, 
de acúmulo de material de natureza orgânica e mineral. 
Ao contrário dos demais tipos de solo, esses solos foram mais estudados 
na ilha. Figueiredo (1954) analisou cinco amostras de solo em diferentes locais 
na Ilha do Mel, caracterizou os solos como sendo originários de sedimentos 
quaternários recentes, constituídos de alto teor de areia grossa uniforme com pouco 
húmus e insignificante porcentagem de argila; em alguns locais eram providos de 
Ca e P, por causa da presença nas amostras de fragmentos de conchas. 
Silva (1990), ao analisar as características dos solos em uma área da 
planície arenosa da Ilha do Mel, identificou os solos da restinga como oligotróficos, 
com baixa CTC e poucos sítios para retenção de íons, alta potencialidade de 
lixiviação, distróficos, fortemente ácidos e, portanto, com limitações para o 
estabelecimento e desenvolvimento vegetal.
Pires (2001) descreveu um Espodossolo Cárbico Órtico Espessarênico, 
na Praia Grande, porção sul da Ilha, paralelamente à linha da praia, na vertente 
interna das dunas eólicas do primeiro cordão, e Britez et al. (1997), um Espodossolo 
Cárbico Órtico e um Espodossolo Cárbico hidromórficos na Estação Ecológica da 
Ilha do Mel. Cabe salientar que, embora não tenha havido um estudo específico 
sobre outros Espodossolos, foi observada a ocorrência de Ferrocárbicos órticos 
dúricos típicos e Ferrocárbicos hidromórficos, inclusive com a ocorrência de 
inclusões de Organossolos.
A situação típica da planície litorânea pode ser representada pelo estudo 
de Britez et al. (1997) no qual duas áreas florestais (Floresta não inundável e Floresta 
inundável, de acordo com Silva & Britez neste volume) com estruturas diferenciadas 
(Menezes-Silva 1998) localizadas ao nordeste da Ilha foram analisadas (Figura 
1). Nas áreas onde o relevo é mais elevado, a vegetação é mais baixa e o lençol 
freático é mais profundo. A profundidade do horizonte B iluvial também está 
relacionada com a faixa de oscilação do lençol freático. Ocorrem também dois 
compartimentos distintos de nutrientes, um no horizonte A1 e outro no B iluvial. 
Segundo os autores, a disponibilidade de água e de nutrientes do horizonte B deve 
influenciar na estrutura das duas florestas. Na Floresta inundável (mais alta), tanto o 
lençol freático como o horizonte B estão mais próximos da superfície, possibilitando 
que essa formação esteja menos sujeita ao estresse hídrico provocado pela falta 
de água no sistema radicial, que é superficial, além de poder aproveitar mais 
facilmente os nutrientes acumulados no horizonte B (Britez et al. 1997, Figura 1). 
Já na Floresta não inundável, nos períodos de seca o solo não tem capacidade 
Meio Físico – Solos
41
de reter a água por causa do seu caráter arenoso, e nesse sistema a absorção de 
nutrientes ocorre principalmente nos primeiros centímetros da superfície do solo, 
provavelmente influenciando na produtividade do sistema e conseqüentemente 
na estrutura da floresta (Britez 1994).
Na parte central da Ilha na Estação Ecológica, também na planície 
litorânea, em algumas regiões o lençol permanece sobre a superfície do solo boa 
parte do ano, propiciando o desenvolvimento de uma vegetação de maior porte 
(Menezes-Silva 1998). Com exceção de pequenas elevações no terreno, de onde 
estabelecem-se as árvores, nas depressões, o afloramento do lençol freático provoca 
a formação de pequenos canais de escorrimento de água, fazendo com que o 
microrrelevo da área seja bastante irregular. Nessas áreas ocorrem os Espodossolos 
Cárbicos hidromórficos. 
A descrição morfológica e a classificação de um perfil característico 
de Espodossolo da planície litorânea da Ilha do Mel são exemplificadas abaixo 
(Britez 1994). 
Ricardo Miranda de Britez
42
Os Espodossolos apresentam uma classe textural arenosa, com muito 
pouca quantidade de argila, e valores mais elevados de silte no horizonte A1, 
como pode ser observado na Tabela 1 referente ao perfil de solo descrito acima.
A textura arenosa confere-lhe boa aeração e drenagem e promove uma 
baixa capacidade de retenção de nutrientes e água; a alta pluviosidade da região 
tende a lixiviar a maior parte dos nutrientes (Britez et al. 1997).
Em relação às características químicas dos Espodossolos, exemplificadas 
na Tabela 2, os valores de pH em CaCl2 são muito baixos, variando de 3,4 a 4,2. 
Pires (2001) e Silva (1990) também encontraram a mesma faixa de valores para 
esse solo em outra porção da Ilha. A forte acidez do solo propicia o aparecimento 
de alumínio trocável, o que é comprovado pelas altas porcentagens de saturação 
em alumínio. Em contrapartida, os valores de V são menores que 20 %, indicando 
que apenas pequenas quantidades de bases trocáveis ocupam os sítios de carga 
negativa, e que a maior parte delas está sendosaturada pelo Al (Britez 1994).
A matéria orgânica é a principal responsável pela retenção de cátions 
nos solos estudados. Além do carbono, os elementos trocáveis, a soma de bases, 
a capacidade de troca catiônica, cálcio, magnésio, potássio e o fósforo apresentam 
valores mais elevados no horizonte A1. O acúmulo de matéria orgânica na 
superfície do solo origina-se da deposição da serapilheira, o que propicia que 
os horizontes superficiais acumulem uma quantidade maior de nutrientes. Hay 
& Lacerda (1980) e Hay et al. (1981) obtiveram correlações altas entre matéria 
orgânica e capacidade de troca catiônica em solos de restinga. Silva (1990), além 
da correlação da matéria orgânica e capacidade de troca catiônica em espodossolos 
na Ilha do Mel, obteve correlações significativas entre matéria orgânica e P, K, Mg 
e Ca. Também Pires (2001) correlacionou o conteúdo de Mg, S, Na, SB (soma 
de bases) e CTC (capacidade de troca catiônica) com a porcentagem de argila, 
Tabela 2 - Análise granulométrica de um perfil de Espodossolo na planície litorânea da Ilha 
do Mel (Britez 1994).
Meio Físico – Solos
43
que, no entanto, trata-se de partículas mais finas de matéria orgânica, o que foi 
detectado na análise granulométrica como argila. 
Também ocorre um acúmulo de matéria orgânica e outros nutrientes no 
horizonte B iluvial proveniente da translocação do horizonte E (Britez 1994). O 
Espodossolo caracteriza-se pela remoção do Fe do horizonte E, sendo transferido 
para a parte mais inferior do horizonte B, precipitando-se junto com o Al e o Mn 
(Vieira 1988).
Ocorrem algumas diferenças em termos de teores de alguns nutrientes no 
solo relativas à distância do mar. Comparando os solos localizados mais distantes 
do mar (Moraes 1993, Britez et al. 1997) com os valores de Pires (2001), todos os 
elementos trocáveis, principalmente Ca, K e P, foram mais elevados no horizonte 
A1 dos solos mais próximos do mar, provavelmente por causa da influência de 
aerossóis marinhos na deposição de nutrientes no solo. A relação direta entre 
diversos atributos da comunidade, inclusive nível de nutrientes no solo com a 
proximidade do mar, foi comentada por Henriques & Hay (1992).
Segundo Clayton (1972), os íons Ca e K não são transportados até 
muito distante do oceano, pelo fato de estarem em concentrações baixas na água 
do mar. O nível alto encontrado para o elemento Ca pode exercer um efeito 
positivo na retenção dos demais cátions, possibilitando uma maior capacidade 
de troca catiônica.
Embora a fertilidade do solo seja considerada muito baixa, vários 
autores que estudaram comunidades vegetacionais também estabelecidas em solos 
oligotróficos (Jordan 1985, Moraes 1993, Britez 1994) salientam que a eficiência 
na ciclagem de nutrientes compensa essa restrição para o desenvolvimento 
das plantas. Também existem diferenças específicas das plantas quanto às suas 
exigências nutricionais, capacidade de absorção de nutrientes e desenvolvimento 
radicial, e dos vários mecanismos de adaptação, tais como a tolerância ao alumínio, 
Tabela 3 - Análise química de um perfil de solo da planície litorânea da Ilha do Mel.
Ricardo Miranda de Britez
44
por mecanismos de exclusão das raízes, aumento do pH da rizosfera, excreção de 
mucilagens na zona apical do meristema de raízes e complexação do alumínio, 
eficiência na utilização dos nutrientes, principalmente P, Ca e Mg, pela associação 
com micorrizas (Marchner 1986, Britez 2001). 
Figura 1 - Desenho esquemático da localização dos perfis nas Floresta não inundável e Floresta 
inundável, de acordo com Britez et al. (1997). Os horizontes são definidos da seguinte maneira: A - 
horizonte superficial, E - horizonte eluvial, Bhs - horizonte com acúmulo de matéria orgânica e ferro, 
Bs - horizonte com acúmulo de ferro.
Meio Físico – Solos
45
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Ricardo Miranda de Britez
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mEio biolóGico
49
A Vegetação da Planície Costeira
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
Introdução
A vegetação ocorrente sobre as planícies costeiras brasileiras tem 
recebido um tratamento muito heterogêneo dos diferentes estudiosos que atuaram 
ou atuam na área. Essa heterogeneidade manifesta-se tanto nas abordagens dos 
estudos realizados como no maior ou menor esforço de investigação em uma 
área específica, muitas vezes de abrangência geográfica restrita. Encontram-se na 
literatura desde relatos genéricos sobre os seus principais aspectos fitofisionômicos 
até listagense descrições detalhadas de diferentes regiões do litoral, além de 
várias propostas de mapeamento e denominação dos seus diferentes tipos e/ou 
comunidades vegetacionais.
O objetivo deste capítulo é, com base nas descrições e relatos disponíveis 
na literatura e em um extenso trabalho de levantamento em campo, apresentar um 
proposta de classificação para a vegetação da planície costeira da Ilha do Mel, bem 
como uma descrição de cada tipo vegetacional ocorrente na área. Esta proposta 
de classificação tem a característica de poder ser adaptada para outros trechos 
de planície costeira no Brasil, pois tem uma abordagem hierarquizada e flexível.
A vegetação das planícies costeiras brasileiras
Na primeira tentativa de classificação fitogeográfica do Brasil, elaborada 
por Karl P. Von Martius em 1824, a região litorânea foi incluída na província 
denominada “Dryas”, representada principalmente pela conhecida “floresta 
atlântica”, sem distinção entre a vegetação das planícies costeiras e das encostas 
da serra (Martius 1951). Outros naturalistas que passaram pelo Brasil deram 
contribuições importantes para o conhecimento da vegetação litorânea, além de 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
50
aspectos geográficos da costa, principalmente porque muitas das áreas descritas 
atualmente encontram-se completamente descaracterizadas (Lacerda et al. 
1982; Araujo 1987). Alguns desses relatos foram traduzidos e lançados no Brasil, 
destacando-se os trabalhos de Avé-Lallemant (1980), Gardner (1942), Saint 
Hillaire (1935, 1936, 1941, 1974), Spix & Martius (1938), Wettstein (1970) e 
Wied-Neuwied (1958), entre outros.
Até aproximadamente meados do século passado, diversos naturalistas 
e pesquisadores mencionaram a região costeira em trabalhos sobre a vegetação 
brasileira, em geral referindo-se a esse conjunto de tipos de vegetação como 
um “complexo”, dada a sua grande heterogeneidade (Campos 1912, Sampaio 
1934, Santos 1943, Azevedo 1950, Rizzini 1963, Romariz 1964, Kuhlmann 1956, 
Andrade-Lima 1966, Veloso 1966, entre outros)
Foi a partir do trabalho clássico de Rizzini (1979) que a vegetação da 
zona costeira do Brasil passou a ter um tratamento mais detalhado, considerando 
a diversidade de tipos fisionômicos encontrados nessa região. Alguns termos que 
ficaram bastante conhecidos para referenciar tipos costeiros de vegetação foram 
inicialmente empregados por esse autor, tais como “floresta paludosa”, “floresta 
esclerófila”, “thicket” e “scrub”. 
Eiten (1983), misturando termos universalizados com outros de uso 
regional e considerando características climáticas e fisionômicas, reconheceu no 
litoral a “restinga costeira”, diferenciada em “arbórea, arbustiva fechada, arbustiva 
aberta, savânica e campestre”, e os “campos praianos”. Seguindo a tendência 
de reconhecer o solo como um fator condicionador importante na vegetação 
litorânea, e procurando adequar a classificação da vegetação brasileira a um 
sistema internacional, a equipe do projeto Radam, posteriormente Radambrasil, 
realizou diferentes tentativas de classificação fitogeográfica do espaço brasileiro, 
sumarizadas por Veloso & Góes-Filho (1982) e Veloso et al. (1991), que, embora 
passíveis de críticas, principalmente no que diz respeito à escala de trabalho, 
apresentam critérios objetivos de classificação. As planícies litorâneas brasileiras 
incluem áreas representativas de diferentes unidades fitoecológicas, como a Floresta 
Ombrófila Densa de Terras Baixas (região da Floresta Ombrófila Densa) e as 
Formações pioneiras com influência marinha, flúvio-marinha ou fluvial/lacustre 
(Sistemas Edáficos de Primeira Ocupação).
Dentro das Formações pioneiras com influência marinha, às quais 
também denominaram de “restinga”, Veloso et al. (1991) reconheceram os tipos 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
51
arbóreo, arbustivo e herbáceo de vegetação, procurando contemplar as suas 
principais variações fisionômicas. 
A denominação empregada para designar e classificar a vegetação 
litorânea e para diferenciar as suas respectivas fitofisionomias é bastante diversa, 
e em alguns casos um tanto quanto confusa. A chamada “restinga” e também os 
“manguezais”, ambos tipos vegetacionais expressivos da planície costeira, são 
reconhecidos praticamente em todos os trabalhos citados, mas a definição das 
suas diferentes “comunidades”, “fisionomias” e/ou “formações” ainda é pouco 
clara, e muitas vezes carece de critérios de classificação mais objetivos e flexíveis.
Desde os trabalhos clássicos de Löfgren (1896) para o litoral paulista, 
de Ule (1901) para a região de Cabo Frio (RJ) e de Lindman (1906) para o Rio 
Grande do Sul, algumas propostas foram feitas por outros autores, destacando-se 
Rawischter (1944), que apresentou uma proposta para o litoral brasileiro como 
um todo, e de Dansereau (1947), Hueck (1955) e Reitz (1961), para as regiões 
litorâneas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Santa Catarina, respectivamente.
Vale ainda mencionar os estudos realizados por Stellfeld (1949b), 
Romariz (1964), Klein (1980) e Roderjan & Kunyoshi (1988), além de outros com 
enfoques mais regionais, destacando-se os estudos de Araujo & Henriques (1984) 
para o Rio de Janeiro e Waechter (1985, 1990) para o Rio Grande do Sul. Várias 
publicações posteriores a estas utilizaram a classificação proposta por Araujo & 
Henriques (1984), às vezes com algumas adequações, dentre os quais destacam-
se Henriques et al. (1986), Araujo & Oliveira (1988), Pereira (1990), Sá (1992) e 
Pereira & Gomes (1994), entre outros.
Araujo (1992), baseando-se em todo o conjunto de informações 
produzidas em quase 10 anos de pesquisa nas “restingas” fluminenses, propôs 
uma primeira aproximação de classificação da vegetação das planícies costeiras 
arenosas do Brasil que, embora de grande valor, não se aplica integralmente a 
todo o litoral brasileiro em função de sua grande diversidade de ambientes.
Atualmente pode-se dizer que a vegetação ocorrente nas planícies 
costeiras arenosas do Brasil, notadamente das regiões sul e sudeste, onde essas 
feições são mais características, tem vários dos seus aspectos relativamente bem 
conhecidos, notando-se um grande incremento nos trabalhos produzidos nos 
últimos 20 anos.
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
52
A vegetação da planície costeira no Paraná
A planície costeira no Paraná, conforme definida por Angulo (1992), é 
bem desenvolvida em relação aos estados vizinhos, chegando a cerca de 50 km 
de largura; sua delimitação é o Oceano Atlântico a leste e a Serra do Mar a oeste, 
incluindo sedimentos de naturezas distintas. 
Os trabalhos pioneiros abordando de forma mais definida a vegetação 
costeira paranaense, principalmente com uma abordagem fitogeográfica clássica, 
podem ser creditados a Maack (1949, 1950, 1981) e Stellfeld (1949a, 1949b), 
além de menções genéricas à cobertura vegetal da planície litorânea como 
Bigarella (1947), Fernandes (1946-47) e Figueiredo (1954), este último na 
própria Ilha do Mel.
O primeiro trabalho de caráter ecológico feito na região litorânea do 
Paraná foi efetuado por Hertel (1959), que, além de ter abordado aspectos 
conceituais acerca de fitoecologia e fitogeografia, avaliou determinadas condições 
ambientais sob as quais a vegetação desenvolve-se e apontou as espécies mais 
típicas de cada situação, embora o trabalho não tivesse o propósito de uma 
caracterização florística da região litorânea. Trata-se sem dúvida de um trabalho 
muito interessante, de consulta obrigatória aos interessados na vegetação litorânea 
paranaense, embora seja pouco conhecido e referenciado.
Outros trabalhos que preocuparam-se em descrever os diferentes tipos de 
vegetação instalados sobre a planície costeira paranaense, com ênfase e abordagens 
distintas, foram realizados por Roderjan & Kunyoshi (1988),Bòlos et al. (1991), 
Ziller (1992) e Jaster (1995), entre outros. 
Os tipos vegetacionais da planície litorânea da Ilha do Mel
Os sistemas de classificação fitogeográfica propostos para o território 
brasileiro, notadamente aqueles associados a propostas de mapeamento (Rizzini 
1963, 1979, Romariz 1964, Andrade-Lima 1966, e Veloso et al. 1991, entre outros), 
utilizaram escalas de trabalho incompatíveis com a variedade de tipos vegetacionais 
observada nas planícies costeiras, cujo conjunto é comumente designado como 
“restinga”. Essa heterogeneidade fica evidenciada pelo tratamento dado por 
alguns desses autores ao referirem-se a esta como um “complexo” ou “mosaico” 
de vegetação (Azevedo 1950, Rizzini 1963, 1979, Romariz 1964). 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
53
Estudos de abrangência regional, realizados em escalas de trabalho mais 
adequadas a este tipo de vegetação, conseguiram obter resultados mais satisfatórios, 
pois foi possível o reconhecimento de tais variações fisionômicas (v. Pfadenhauer 
& Ramos 1979, Henriques et al. 1986, Oliveira-Filho & Carvalho 1993). No 
entanto, à medida que se obtêm resultados mais detalhados, surge o problema 
de designação nomenclatural dada às diferentes fitofisionomias, muito variável 
entre as diferentes regiões estudadas. É grande a variedade de critérios, nomes 
e propostas de classificação da “restinga”, sendo muitas destas com aplicação 
eminentemente regional, como pode ser visto nos estudos de Waechter (1985, 
1990) no Rio Grande do Sul, Reitz (1961) em Santa Catarina, Hueck (1955) em 
São Paulo, Araujo & Henriques (1984) para o Rio de Janeiro, Pereira (1990) no 
Espírito Santo, Oliveira-Filho & Carvalho (1993) na Paraíba e Bastos et al. (1995) 
no Pará, para citar somente os de maior área de abrangência. 
Com base em observações em campo, estudos florísticos e estruturais 
(Silva et al. 1994, Menezes-Silva 1998), estudos descritivos de solo (Britez et al. 
1987) e análises de imagens de satélite, ao longo de mais de 18 anos (1985 a 
2003), foi possível sugerir uma proposta de classificação para a vegetação da 
planície litorânea da Ilha do Mel. Conforme já observado em outras regiões do 
litoral brasileiro, a vegetação da planície litorânea da Ilha do Mel também mostra 
muitas variações, sendo representada por formações campestres, arbustivas e 
florestais, com cobertura e altura da sinúsia dominante muito variáveis entre os 
diferentes locais. Uma síntese das formações, com as respectivas denominações 
empregadas, critérios usados para o reconhecimento e localização na planície 
litorânea da Ilha, pode ser vista na Tabela 1. 
Formações campestres 
Predominam espécies herbáceas (rizomatosas, cespitosas e reptantes), 
com pequenos arbustos e árvores de ocorrência isolada e pouco expressiva; tais 
formações foram denominadas de “campos”, termo de conotação puramente 
fisionômica, cujo uso normalmente é direcionado para formações mais extensas 
e contínuas de localização planáltica, e com predomínio fisionômico de espécies 
“graminóides”. 
As formações campestres descritas na planície costeira da Ilha do Mel 
têm variações nas suas respectivas fisionomias e composições, assim como nos 
seus graus de cobertura, além de ocorrerem em ambientes com condições bastante 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
54
Tabela 1 - Principais formações vegetais ocorrentes na planície litorânea da Ilha do Mel, Paranaguá, PR. 
Meio Biológico - A VegetAção dA PlAnície costeirA
55
diferenciadas. O substrato nos locais de ocorrência dos campos variam desde areia 
quartzosa marinha exposta e praticamente desprovida de cobertura orgânica, 
passando por locais inundados por água doce ou salobra, até áreas inundáveis 
por água do salgada, afetadas pelo regime diário de marés. Foram reconhecidos 
quatro tipos de formações campestres: campo aberto não inundável, campo aberto 
inundável, campo fechado não inundável e campo fechado inundável. 
Campo aberto não inundável
Vegetação com altura inferior a 50 cm, onde espécies herbáceas reptantes 
e cespitosas constituem as formas biológicas predominantes, com cobertura 
proporcionada pela sinúsia dominante variável, desde valores em torno de 10%, 
nas partes mais próximas ao mar e sujeitas ao alcance episódico das marés, até 
mais de 50% em locais mais afastados. Arbustos baixos podem ocorrer de forma 
isolada, aumentando em densidade à medida em que se afastam da atual linha 
de maré. Sua principal região de ocorrência são as partes superiores das praias e 
as chamadas “antedunas”, em locais com substrato arenoso, de formação relativa-
mente recente (Figura 1).
As áreas de praia, em alguns casos associadas a pequenas dunas e 
faixas mais ou menos extensas de “antedunas”, são bem representadas na Ilha 
do Mel; circundam cerca de 80% de sua área, na sua maior parte delimitando 
a Estação Ecológica (Sema/Iap 1996). O processo erosivo que atinge diferencial-
mente a costa da Ilha destruiu parte das áreas de ocorrência dos campos não 
inundáveis mas, em contraposição a este fato, em locais próximos aos pontos 
intensamente erodidos, como no canto do Farol, nas praias Grande, do Cedro 
e do Bicho, observou-se nos últimos 15 anos um intenso processo deposicional, 
na primeira claramente notado pelo avanço de um banco de areia em forma 
de esporão, com cerca de 100 m, em direção ao mar (ver Angulo & Souza 
neste volume). A formação desses depósitos sedimentares é acompanhada pelo 
desenvolvimento dessa formação, e em locais próximos às desembocaduras dos 
pequenos canais de águas escuras, por formações arbustivas dominadas por 
Dalbergia ecastophylla, descritas na seqüência.
Como espécies características dos campos não inundáveis podem 
ser mencionadas Blutaparon portulacoides, Alternanthera maritima e Ipomoea 
pescaprae, além de várias poáceas (Paspalum distichum, Spartina ciliata, Sporobolus 
virginicus, Andropogon arenarius, Cenchrus echinatus e Digitaria connivens) 
e ciperáceas (Cyperus ligularis, Cyperus polystachyos e Cyperus sesquiflorus), 
Sandro Menezes Silva & Ricardo Miranda de Britez
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que nas pequenas depressões mais úmidas e afastadas do mar constituem os 
elementos dominantes na formação. Espécies herbáceas reptantes e eretas de 
outras famílias, como Asteraceae e Fabaceae, podem destacar-se em alguns locais, 
sem constituírem, no entanto, elementos importantes fisionomicamente. Dalbergia 
ecastophylla, arbusto baixo com ramos prostrados, pode ocorrer isoladamente 
nesta formação, tornando-se mais expressivo nos locais onde faz vizinhança ao 
fruticeto fechado inundável, no qual é a espécie dominante.
A distinção entre o que muitos autores denominaram de “comunidades 
halófitas” e “comunidades psamófitas” é imprecisa, não só estrutural como floris-
ticamente, sendo estas muitas vezes tratadas em conjunto, conforme pode ser 
visto em Thomaz & Monteiro (1992). O fator principal nessa diferenciação deve 
ser a suscetibilidade ao alcance das marés, e por conseqüência a(s) espécie(s) 
dominante(s), além do estado sucessional local, uma vez que áreas mais 
recentemente colonizadas pela vegetação normalmente são compostas por um 
número menor de espécies e têm menor cobertura. 
A halofitia, isto é, a afinidade ou tolerância de uma determinada planta 
a um ambiente salino, freqüentemente referida para as plantas típicas desta 
formação, deve ser vista com ressalvas. Hertel (1959) analisou a salinidade da 
água subterrânea nestas áreas e concluiu que trata-se de um “halofitismo relativo”, 
chegando mesmo a afirmar que não existe formação verdadeiramente halófita 
na costa arenosa brasileira. O que na verdade ocorre são plantas psamófitas que 
toleram temporariamente a presença da água do mar. Pfadenhauer (1978) chegou 
a conclusão semelhante, embora tenha apontado a salinidade, juntamente com o 
transporte eólico da areia, como

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