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Sociologia Aplica

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SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
U
N
ID
A
D
E 
1
A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA
COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo
uma análise do contexto sócio-histórico que propiciou o seu surgimento e, a
partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de
estudo.
OBJETIVO DA UNIDADE:
• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o
surgimento da Sociologia como ciência, identificando seu objeto
de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas
neste contexto, a fim de que possa participar do processo social
conscientemente.
PLANO DA UNIDADE:
• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da
Sociologia.
• A crise do Feudalismo.
• A formação dos Estados-Nacionais.
• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.
• A Sociologia se estabelece como Ciência.
Bem-vindo à primeira unidade de estudo.
Sucesso!
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA
SOCIOLOGIA
O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo
processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se
dá a desagregação da sociedade feudal no
século XV e vai até o período das revoluções
burguesas - revolução industrial inglesa e a
revolução francesa no século XVIII, marcando
a consolidação da sociedade capitalista.
Respondendo a essas indagações,
estaremos com os nossos estudos bem
encaminhados... Sendo assim, vamos em
frente!
A CRISE DO FEUDALISMO
Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a
nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas
as suas possibilidades de reprodução.
A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes
transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo.
Esses acontecimentos desestruturaram o
sistema feudal existente e deram origem a
um novo sistema – o capitalismo. A grande
crise do feudalismo desenvolveu-se na
Europa Ocidental no século XIV, atingindo
indiscriminadamente campo e cidade,
disseminando a fome, epidemias e as
guerras, podendo ser explicada por um
conjunto de fatores que trouxe, como
conseqüência, a superação do sistema
feudal.
A economia medieval encontrava-se em
crise face à baixa produtividade agrícola,
ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas
agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos,
gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.
Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da
região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a
morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças
de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um
castigo de Deus.
A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus
rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento
dos campos.
Capitalismo: sistema
social baseado no capital, no
dinheiro.
SOCIOLOGIA APLICADA
A mortalidade trazida pela fome e a peste
negra foi ainda ampliada pela longa Guerra
dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada
pela disputa das regiões de Bordéus e
Flandres, entre França e Inglaterra.
A conjuntura de epidemias, de aumento
brutal da mortalidade e de superexploração
camponesa que caracterizou a Europa do
século XIV trazendo a crise, foi sendo superada
no decorrer do século XV, com a retomada do
crescimento populacional, agrícola e comercial.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS
Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental
concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação
dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de
práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade
dos reis.
Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto
da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente
dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados
os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os
seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias
de regimentos militares.
Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos
para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à
manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e
administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos,
medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia.
Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em
Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no
sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder
total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as
regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a
Itália e a Alemanha, a tendência foi para o
fortalecimento do poder político dos
governantes locais.
MERCANTILISMO E A EXPANSÃO
COMERCIAL ULTRAMARINA
Veremos agora como os europeus –
pioneiramente Espanha e Portugal - chegam
a regiões nunca antes alcançadas e quais
os seus verdadeiros interesses. A expansão
territorial implementada pela política
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios
denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de
complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes
geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”,
ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas
entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também
conhecida como monopólio comercial.
Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar:
• expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados
fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra;
• busca incessante do lucro, através da manutenção de uma
balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais
do que importar;
• idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo
montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional;
• absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno
do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o
Estado controlando a política econômica em favor dos interesses
burgueses.
As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo
comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição
necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo.
Secularização
É importante agora, percebermos as mudanças do
entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição
feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos
centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um
pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de
todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade
da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da
antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura
teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade
Média.
Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a
realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento
principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção
anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter
à autoridade divina imposta pela Igreja Católica.
RenascimentoO Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura
européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda
a Europa.
SOCIOLOGIA APLICADA
Está associado ao humanismo e fudamentado nos conceitos da
civilização da antiguidade clássica, numa demonstração de
menosprezo pela Idade Média, considerada como “noite de mil anos”
ou “escuridão”.
O Renascimento representou uma nova visão de mundo que
atendia plenamente aos interesses da burguesia em ascensão. Suas
principais características eram o racionalismo, crença na razão como
forma explicativa do mundo em oposição à fé; o antropocentrismo,
colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposição ao
teocentrismo e o individualismo, em oposição ao coletivismo cristão.
O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica e a observação, em
oposição ao princípio da autoridade.
A explicação da origem italiana do Renascimento e do
Humanismo, se dá em função da riqueza das cidades italianas, da
presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma
e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito
para a divulgação das novas idéias.
Fases do Renascimento
O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases,
correspondentes aos séculos XIV, XV e o XVI.
Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, mais
especificamente na cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural da
região. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes. Suas
características gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da
pintura medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;
Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela península
itálica, atingindo seu auge. Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci,
Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os três últimos o “trio
sagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiração
greco-romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo e
experimentalismo;
Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século um
movimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência.
Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra-reforma instaura
o Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram Ludovico
Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael e
Michelangelo.
O Iluminismo
O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no século
XVII e teve o seu apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século das
Luzes”, que enfatizava o domínio da razão e da ciência como formas de
explicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosas
e o misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém
era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que
se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais para
todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra
as imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários
ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero.
O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a Revolução
Francesa, assim como na Inglaterra e em diversos países da Europa onde a
força dos protestantes era maior, chegando a ter repercussões, mesmo em
alguns países católicos.
Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro da
tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do
Homem e da Razão, contribuindo também para o avanço do capitalismo e
da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma
sociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e mais
oportunidades iguais para todos.
Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da
natureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam
Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos o que,
em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.
Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704),
ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo
através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de
pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático que
garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a
divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot
(1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram
uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da
época.
O outro lado da moeda
Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII,
por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução
SOCIOLOGIA APLICADA
Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações
nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora.
Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na
produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe
consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este
também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de
representatividade nos governos.
Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava
completamente transformada precisando se organizar para atender às novas
necessidades.
Revolução Industrial Inglesa
Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os
homens, configurando as formas do mundo contemporâneo.
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande
transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das
técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de
Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas
permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição
dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros.
Esse momento revolucionário de passagem da energia humana,
hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução
tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos
séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos
Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de
capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados
proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da
produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente,
passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas
para a produção mecanizada nas fábricas.
Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das
chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise
do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial.
Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos
Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios
iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea.
A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns
fatores contribuíram para isso:
• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal
em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o
comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e
aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres”
marcou o fim do uso comum dasterras, expulsando o homem
do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que
não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para
as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana,
o que favorecia às indústrias;
• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em
seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as
máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também
consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria-
prima utilizada neste período.
• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as
fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar
empregados por causa da grande taxa de poupança que existia
na época;
• a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas
técnicas e instrumentos de cultivo.
A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano,
composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho
diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas.
Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado
em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o
proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que
vendiam aos capitalistas em troca de um salário.
O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas
ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do
capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os
trabalhadores, conforme seus interesses.
As formas de transformação de matérias-primas em produtos são:
trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada
pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização
de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção,
desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos,
não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção
- oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu
trabalho.
trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a
indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e
a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada
trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção
do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com
interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria-
prima e a determinar o ritmo de produção.
indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela
Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo
SOCIOLOGIA APLICADA
produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de
operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a
manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de
produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o
produto final não mais lhes pertencem.
Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos:
Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século
XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho
intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa
remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias
têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.
Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas
do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho
cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a
partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O
petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de
energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva.
Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução
Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970,
sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada.
As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de
ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a
biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de
energia – hidrogênio, energia solar, etc.
A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos
transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com
que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos
produtos e aumentando o consumo.
Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior
produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros
urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia
nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a
construção dessas máquinas – carvão e ferro.
E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia
investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se
aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo,
estabelecendo laços de dependência entre as nações.
O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força
utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a
vapor cresce em lugar da energia humana.
Revolução Francesa
A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do
feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade
baseada na economia de mercado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do
Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo,
propiciou a ascensão da burguesia ao poder político, fortalecendo as condições
essenciais para a consolidação do capitalismo.
Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e
para o Ocidente, a Revolução Francesa teve início em 1789 e se prolongou
até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo, baseando-se
no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios
democráticos e liberais da Independência Americana(1776).
O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios
da nobreza e do clero, serviu de motivação para novos movimentos em
direção ao igualitarismo em outras partes da Europa.
A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes
períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção
e o Directório.
Causas da Revolução
A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores
sociais, econômicos, políticos e, pelo menos um desses fatores, é apontado,
pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento
do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os
abusos e privilégios do regime absolutista.
A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do
século XVIII, é marcada por uma rígida hierarquia e estratificação social. A
hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em função do
nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens
ou estados.
De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam
dos privilégios e da riqueza produzida pela sociedade francesa.
O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja
Católica, originário da nobreza, que em 1789 representava 2% da população
francesa.
A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como
outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5%
dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando emsuas
mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros
privilégios e não pagava impostos.
Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava
pelo peso de impostos que pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres
e do clero.
O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores
urbanos (a maioria deles desempregados), artesãos e camponeses - sans
cullotes.
SOCIOLOGIA APLICADA
O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista
de novos mercados na Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular
riquezas muito rapidamente. A confortável posição que desfrutava no campo
dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia
ocupava na vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura
social francesa barrava a ascensão da burguesia, uma vez que os privilégios,
honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto clero.
Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de
impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados
obstáculos aos interesses burgueses.
Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a
esmagadora maioria da população francesa viviam em precárias condições
de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria.
No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente
uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra. A elevada
carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietários a subsistir
trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a
produção artesanal.
Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe
trabalhadora operária uma melhoria das condições de vida e de trabalho. A
classe operária convivia com salários muito baixos e com altos níveis de
desemprego.
O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado
pela crise econômico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias
as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade.
Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores
urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho.
As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser
buscadas nas contradições dos interesses estabelecidos pelo regime
absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja, os
interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa
sufocada por uma organização social aristocrática e decadente fizeram
despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as
diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e
fraternidade, o povo foi atraído para a causa
revolucionária.
A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO
CIÊNCIA
Tendo em vista todos estes
acontecimentos, Augusto Comte (1798-
1857) defende uma proposta para resolver
os problemas da sociedade de sua época que
viria através da reforma intelectual do homem
alcançando a reforma das instituições.
Liberalismo: corrente
política de pensamento que
defende a liberdade do indi-
víduo frente ao
intervencionismo do Estado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no
século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém,
suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos
do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).
A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela
sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os
homens.
O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas
partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a
preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções
violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire
do Liberalismo, pregando o planejamento social.
Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima
objetividade possível.
A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também
os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira
nacional “Ordem e Progresso”.
A especificidade do conhecimento sociológico
As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus
métodos.
E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma
sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de
individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos
considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações
que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem
entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas
isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois
suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como
conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia
Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar!
Positivismo: corrente fi-
losófica cujo iniciador foi
Augusto Comte. Defendia a
ciência acima de tudo.
Laissez-faire: expressão
francesa que transmite uma
das essências do Liberalismo
que dizia: deixai - fazer, ou
seja, o homem era livre para
fazer o que quisesse.
Objeto de estudo: aquilo
que vai ser estudado pelo ci-
entista.
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SOCIOLOGIA APLICADA
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Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
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U
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ID
A
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A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Como vimos na Unidade 1, a Sociologia enquanto ciência surgiu como
resposta intelectual para as “crises” decorrentes da implantação e da
consolidação das sociedades capitalistas modernas. Nesta segunda unidade
de estudo, vamos a Sociologia Clássica.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Compreender o pensamento de três autores considerados clássicos
na Sociologia do século XIX e no início do século XX. São eles Émile Durkheim,
Max Weber e Karl Marx.
PLANO DA UNIDADE:
• Uma nova ciência: a Sociologia.
• A Sociologia de Émile Durkheim.
• A Sociologia de Karl Marx.
• A Sociologia compreensiva de Max Weber.
Bons estudos!
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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UMA NOVA CIÊNCIA: A SOCIOLOGIA
As transformações sociais, econômicas e políticas desencadeadas pelo
duplo processo revolucionário - a Revolução Industrial e a Revolução Francesa,
no século XVIII - fizeram emergir um novo gênero de “questões sociais” que
despertou o interesse de filósofos e intelectuais em investigar a sociedade.
A sociedade passava assim a se constituir em objeto de estudo de uma
nova ciência – a Sociologia.
Observadores da nascente sociedade industrial, cada um deles
procurou em estudos que realizaram, interpretar as questões sociais
fundamentais da sociedade de seu tempo. Todos três, de maneira diversa,
estavam comprometidos com o propósito de apresentar respostas para a
crise da sociedade moderna. Suas obras apresentam distintas interpretações
das crises sociais de uma nova sociedade que nasce mergulhada em
contradições profundas.
Para Durkheim(1858-1917), a crise da sociedade industrial moderna
estava associada à fragilidade moral da época em orientar com eficácia a
conduta dos indivíduos.A sociedade só poderia manter sua estrutura e
equilíbrio se reconstituísse uma nova moral comum que pudesse reunir os
membros da coletividade. Para ele, a Sociologia deveria servir para resgatar
o bom funcionamento da sociedade, reconstruindo novos hábitos e valores,
instituindo, enfim, uma nova moral capaz de recuperar a “normalidade social”
e preservando, assim, a ordem social.
Para Karl Marx (1818-1883), a questão fundamental da sociedade do
seu tempo eram as contradições insolúveis engendradas pela sociedade
capitalista. O antagonismo entre as classes sociais constituía a realidade
concreta do capitalismo. Para ele, a divisão do trabalho entre os homens
era uma fonte inesgotável de exploração e alienação. A ciência, em sua
tarefa de conhecer a realidade, deveria converter-se em um instrumento
político para a transformação social.
A contribuição dos trabalhos realizados por Weber(1864-1920) tornou-
se referência para o desenvolvimento da Sociologia. Polêmico pelas críticas
ao positivismo de Durkheim e ao Materialismo Histórico de Marx, Weber foi
capaz de compreender as particularidades das ciências humanas realçando
o caráter particular de cada formação social e histórica, realçando aquilo
que ela apresenta de específico.
Caro aluno, saiba que quando buscamos empreender uma análise da
vida social, nos deparamos com um conjunto significativo de pressupostos
teóricos, que nos levam a diferentes abordagens e concepções metodológicas
também variada. A marca principal da análise sociológica do fenômeno social
é a pluralidade de abordagens e contribuições teóricas que nos informam
como a realidade e a vida social foram analisadas e interpretadas. Essa
diversidade teórica nos permite construir diferentes imagens do fenômeno
estudado e apontam para diferentes direções.
SOCIOLOGIA APLICADA
27
A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM
Embora, Auguste Comte seja reconhecidamente apresentado como
fundador da Sociologia pela sua preocupação de dotar a Sociologia de bases
científicas, Durkheim é apontado como um dos primeiros grandes teóricos
desta ciência.
Representante do Positivismo, uma das preocupações centrais de
Durkheim foi estabelecer a Sociologia como uma disciplina rigorosamente
científica. De acordo com Durkheim, a Sociologia deveria assentar-se em uma
base sólida afastando-se de todas as orientações que transformavam a
investigação social numa dedução de fatos particulares, mergulhada em
generalidades abstratas, interpretando a realidade social sem critérios e
limites impostos pela ciência.
Autor de obras essenciais para o pensamento sociológico, como: A
Divisão de Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895), O
Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1909).
Em sua visão, a Sociologia deveria delimitar com rigor o objeto de
estudo de seu interesse; definir um objeto de investigação próprio, específico,
distinto do objeto analisado por outras ciências.
Em sua obra – “As Regras do Método Sociológico (1895)”, Durkheim
afirmava que a Sociologia deveria estudar fatos essencialmente sociais e
procurar interpretá-los sociologicamente.
O Fato Social como objeto de investigação da Sociologia
Para Durkheim, o objeto de estudo da Sociologia é o fato social.
Mas, o que são fatos sociais? Afirma Durkheim (1970, p.87-88):
“Antes de procurar saber qual é o método que convém ao estudo
dos fatos sociais, importa dar a conhecer os fatos que assim designamos.
A questão é tanto mais necessária quanto as pessoas se servem
desta qualificação sem grande precisão. Empregam-na correntemente
para designar, mais ou menos, todos os fenômenos que ocorrem na
sociedade, mesmo que apresentem, apesar de certas generalidades,
pouco interesse social. Mas, partindo desta acepção, não há, por assim
dizer, acontecimentos humanos que não possam ser apelidados de
sociais. Cada indiví-duo bebe, dorme, come, raciocina, e a sociedade
tem todo o interesse em que estas fun-ções se exerçam regularmente.
Assim, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto
que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir-se-ia com os da biologia
e da psicologia.
Mas, na realidade, há em todas as sociedades um grupo determinado
de fenômenos que se distinguem por características distintas dos
estudados pelas outras ciências da natureza.
Quando desempenho a minha obrigação de irmão, esposo ou
cidadão, quando satis-faço os compromissos que contraí, cumpro
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
28
deveres que estão definidos, para além de mim e dos meus atos, no
direito e nos costumes. Mesmo quando eles estão de acordo com os
meus próprios sentimentos e lhes sinto interiormente a realidade, esta
não deixa de ser objetiva, pois não foram estabelecidos por mim, mas
sim recebidos através da educação. Quantas vezes acontece
ignorarmos os pormenores das obrigações que nos incumbem e, para
os conhecer, termos de recorrer ao Código e aos seus intérpretes
autorizados! Do mesmo modo, os fiéis, quando nascem, encontram já
feitas as crenças e práticas da sua vida religiosa; se elas existiam
antes deles, é porque existiam fora deles. O sistema de sinais de que
me sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetário que
emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo
nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha
profissão, etc. funcionam independentemente do uso que deles faço.
Tomando um após outro todos os membros de que a sociedade se
compõe, pode repetir-se tudo o que foi dito, a propósito de cada um
deles.
Estamos, pois, em presença de modos de agir, de pensar e de
sentir que apresentam a notável propriedade de existir fora das
consciências individuais.
Não somente estes tipos de conduta ou de pensamento são
exteriores ao indivíduo, como são dotados dum poder imperativo e
coercivo em virtude do qual se lhe impõem, quer ele queira quer não.
Sem dúvida, quando me conformo de boa vontade, esta coerção não
se faz sentir ou faz-se sentir muito pouco, uma vez que é inútil. Mas
não é por esse motivo uma característica menos intrínseca de tais
fatos, e a prova é que ela se afirma desde o momento em que eu
tente resistir. Se tento violar as regras do direito, elas rea-gem contra
mim de modo a impedir o meu ato, se ainda for possível, ou a anulá-
lo e a restabelecê-lo sob a sua forma normal, caso já tenha sido
executado e seja reparável, ou a fazer-me expiá-lo, se não houver
outra forma de reparação. Tratar-se-á de máximas puramente morais?
A consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através
da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas
especiais de que dis-põe. Noutros casos, a coação é menos violenta,
mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo,
se, ao vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu país e
na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto
produ-zem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos
de uma pena propria-mente dita. Aliás, a coação não é menos eficaz
por ser indireta. Não sou obrigado a falar francês com os meus
compatriotas, nem a usar as moedas legais, mas é impossível fazê-lo
de outro modo. Se tentasse escapar a esta necessidade, a minha
tentativa falharia miseravelmente. Se for industrial, nada me proíbe
de trabalhar com processos e métodos do século passado, mas, se o
fizer, arruíno-me pela certa. Mesmo quando posso libertar-me dessas
regras e violá-las com sucesso, nunca é sem ser obrigado a lutar
SOCIOLOGIA APLICADA
29
contra elas. Mesmo quando são finalmente vencidas, ainda fazem sentir
suficientemente a sua força constrangedora, pela resistência que opõem.
Não há inovador, mesmo bem sucedido,cujos empreendimentos não
acabem por chocar com oposições deste tipo.
Aqui está, portanto, um tipo de fatos que apresentam
características muito especiais: consistem em maneiras de
agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um
poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem. Por
conseguinte, não poderiam ser confundidos com os fenômenos
orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os
fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos
indiví-duos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de
fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais.
Tal qualificação convém-lhes, pois, não tendo o indivíduo por substrato,
não dispõem de outro para além da sociedade, quer se trate da
sociedade política na sua íntegra ou de um dos grupos parciais que
engloba: or-dens religiosas, escolas políticas, literárias, corporações
profissionais, etc. Por outro lado, a designação convém unicamente a
estes fatos, visto a palavra “social” só ter um sentido definido na
condição de designar apenas os fenômenos que não se enquadrem em
nenhuma das categorias de fatos já constituídas e classificadas. Eles
são, portanto, o domínio próprio da sociologia.”
A partir dessa definição, podemos, então, afirmar que são três as
características básicas que permitem reconhecer os fatos sociais.
A primeira característica dos fatos sociais é a exterioridade. Segundo
Durkheim, o indivíduo ao nascer já encontra regras sociais, morais, legais,
religiosas, etc., que foram sedimentadas pelas gerações anteriores que
deverão ser internalizadas a sua existência para que ela possa viver em
sociedade. São maneiras de ser e de agir consolidadas pelo grupo, que
existem independente de sua vontade individual, ou seja, são fatos sociais
exteriores ao indivíduo. Ele não é consultado para decidir se agirá ou não
em concordância com esse conjunto de regras. O fato do indivíduo pertencer
a uma determinada sociedade ou grupo social implica na adesão obrigatória
de regras que servirão para orientar sua conduta e comportamento.
Portanto, além de exteriores, os fatos sociais são coercitivos, ou seja,
dotados de um poder imperativo que se impõem ao indivíduo pela força.
Essa é, pois, a segunda característica dos fatos sociais - exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior. Todo conjunto de regras: jurídicas, morais,
religiosas, financeiras, lingüísticas, etc., constituídas pela sociedade é imposto
coercitivamente ao indivíduo. Cabe a ele conformar-se às regras socialmente
instituídas e orientar-se de acordo com elas, independente de sua vontade
particular.
Segundo Durkheim, um fato social é reconhecido pelo poder de coação
externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a
presença desse poder é reconhecida, por sua vez, pela existência que o fato
opõe a qualquer iniciativa individual que tende a violentá-lo.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
30
Uma pessoa pode não querer usar o idioma falado em sua sociedade,
pode não querer usar a moeda corrente em seu país ou pode não querer se
subordinar aos códigos legais vigentes em seu meio, mas certamente, suas
atitudes serão severamente tolhidas pela força que a sociedade exercerá
sobre seu comportamento.
Além da exterioridade e coercitividade dos fatos sociais, uma terceira
característica deve ser considerada – a generalidade. Será considerado
social o fato que é geral, ou seja, o fato que se manifesta pela sua natureza
coletiva, difusa - formas de viver consolidadas socialmente, como os hábitos,
as crenças e os valores, e também, as formas de habitação, as vias de
comunicação que definem o fluxo das correntes migratórias e de escoamento
da produção.
Portanto, o domínio da Sociologia compreende um determinado grupo
de fenômenos – fatos sociais – que são reconhecidos pelo seu poder de
coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos;
e se manifestam pela sua generalidade, pela difusão que têm no interior de
uma determinada sociedade.
O Método Sociológico
Para Durkheim, o conhecimento e a explicação da vida social impõem
ao pesquisador a escolha de um método que permita investigar de maneira
cientifica os fatos sociais. Para observar e interpretar a realidade social, o
pesquisador deveria assumir posição semelhante a do estudioso das
ciências naturais, considerando, entretanto, que a Sociologia examina fatos
que pertencem ao reino social, com especificidades próprias que os
distinguem dos fenômenos da natureza.
Segundo Durkheim, a explicação científica dos fatos sociais exigiria
do pesquisador um compromisso com a objetividade e a neutralidade em
relação aos fenômenos observados. A regra fundamental para observação
dos fatos sociais era considerá-los como coisa, isto é, como realidades
exteriores ao indivíduo.
O distanciamento do pesquisador em relação ao objeto investigado é
condição essencial para garantir a cientificidade de seu estudo. O sociólogo
deve ser capaz de observar a realidade dos fatos sem “contaminar” a
interpretação com suas prenoções, seus preconceitos, sentimentos e
concepções de mundo pessoais, o que certamente, dificultaria conhecer
verdadeiramente o objeto em questão. O sociólogo deve procurar interpretar
a realidade tal como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse, fazendo
prevalecer visões permeadas de valores e preconceitos.
A Sociedade
Precursor da corrente positivista e inspirado nas análises das ciências
naturais, Durkheim compara a sociedade a um corpo vivo, em que cada
“órgão”, ou seja, cada uma das partes que compõem a sociedade,
SOCIOLOGIA APLICADA
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desempenha uma função específica para a preservação e a coesão do todo.
Ao comparar a sociedade a um organismo vivo, Durkheim identifica dois
estados em que a sociedade pode se encontrar: o normal e o patológico.
Para ele, os fenômenos que apresentam uma regularidade no meio
social e que estão previstos em sua estrutura e organização deverão ser
interpretados como normais. De outra forma, a sociedade poderá apresentar
comportamentos que podem ameaçar a integridade e a harmonia sociais,
colocando em risco o consenso que deverá prevalecer. Tais situações são
consideradas “patológicas”, anormais. Considerava Durkheim que a
sociedade poderia apresentar, como um “corpo vivo” que é, alguma disfunção.
Depois de instalada, a “doença” deveria ser tratada para não provocar
prejuízos maiores e comprometer a integridade e “bom” funcionamento da
ordem social. Os fenômenos sociais “patológicos” deveriam ser tratados
para restabelecer a “saúde” e o equilíbrio da sociedade.
Para Durkheim, a sociedade industrial se encontrava em um estado
patológico porque as crises geradas por ela colocavam em risco o seu pleno
funcionamento. A crise que se encontrava a sociedade capitalista, não era
de natureza econômica, como defendiam os socialistas, mas sim uma certa
fragilidade moral e a ausência de regras de conduta e comportamento que
correspondessem à nova realidade, capazes de frear o ímpeto de destruição
e de desordem sociais e guiar com eficácia a vida dos indivíduos.
A Sociologia de Karl Marx
Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx faz parte do grupo
seleto de intelectuais que integram o pensamento teórico da Sociologia
Clássica.
Autor de obras fundamentais para a teoria sociológica, como o Manifesto
do Partido Comunista(1848), Contribuição à Crítica da Economia Política (1859)
e, sem dúvida, a mais importante obra dedicada a interpretar o funcionamento
do sistema capitalista – O Capital (1867). A questão central que orientou os
trabalhos de Marx foi analisar o funcionamento do capitalismo, o processo
histórico que o gerou e a sua evolução.Em sua trajetória intelectual, contou com a colaboração de outro
importante intelectual alemão – Friederich Engels(1820-1903).
Comprometidos com a não-preservação da ordem socioeconômica do sistema
capitalista, Marx e Engels não estavam interessados em dotar a Sociologia
de um caráter científico, institucionalizá-la como disciplina acadêmica, como,
aliás, fizeram Durkheim e Weber, mas sim torná-la instrumento político de
reflexão e crítica da sociedade capitalista, denunciando as contradições e os
antagonismos entre as classes sociais, com o objetivo extremo de
proporcionar os fundamentos teóricos para a transformação revolucionária
desse modelo de sociedade. Embalados por um ideal revolucionário,
defendiam a adesão da ciência a uma proposta de ação política prática. Para
Marx, a ciência deveria converter-se em um instrumento de transformação
radical da sociedade.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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A análise socioeconômica do capitalismo
Enquanto para análise positivista, as crises sociais e os conflitos entre
trabalhadores e empresários na sociedade capitalista eram interpretados
como fenômenos passageiros, passíveis de serem superados pela inclusão
de um sistema de regras para orientar a conduta dos indivíduos. A análise
marxista procurou realizar uma crítica radical a esse modelo histórico de
sociedade, apontando suas contradições e antagonismos.
Comprometidos com ideal revolucionário de transformação social, Marx
e Engels identificavam a luta de classes como a principal característica da
sociedade capitalista. Concordavam que a crescente divisão de trabalho na
sociedade moderna era a principal fonte de exploração, opressão e alienação.
Afirmava Marx, em O Manifesto do Partido Comunista:
A história de todas as sociedades que existiram até os nossos dias
tem sido a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre
de corporação e companheiro, numa palavra opressores e oprimidos,
em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição
das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte,
uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala
graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios,
cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores vassalos,
mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes,
gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir
novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às
que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia caracteriza-se
por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se
cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes
classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
(Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In: FERNANDES, Florestan. Marx e Engels –
História. São Paulo: Editora Ática, p.365-366)
Dois conceitos essenciais para o pensamento de Marx podem ser
analisados a partir deste trecho do Manifesto do Partido Comunista: classe
social e alienação.
Marx partiu da idéia de que a sociedade estava dividida em classes,
cada uma com regras e condutas apropriadas, mas que estão inseridas em
um único sistema que é o modo de produção capitalista.
SOCIOLOGIA APLICADA
33
Para Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção
definem duas classes principais: a burguesia – classe dominante detentora
dos meios de produção (propriedades, máquinas, ferramentas, capital, etc.),
e o proletariado que destituído dos meios de produção, oferece a sua força
de trabalho em troca de salário.
Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria
desigualdade social, uma vez que a concentração de riquezas se daria pela
exploração dos trabalhadores. O capitalismo se revelaria, portanto, em um
sistema “selvagem”, pois o trabalhador produziria mais para o seu empresário
do que o seu próprio custo para a sociedade. O capitalismo se apresentaria
necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-
valia a lei fundamental do sistema.
O capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus
meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas, etc.), provocando
um “estranhamento” entre o trabalhador e seu trabalho. O homem aliena-
se de sua própria essência que é o trabalho. A divisão social do trabalho no
capitalismo promove, então, a alienação, uma vez que o trabalhador deixa
de ter o domínio do processo de trabalho e dele não se beneficia.
As crises e conflitos em que se envolviam a burguesia e o proletariado
decorriam, em grande medida, da oposição de interesses entre as classes
sociais. No capitalismo, os trabalhadores estão submetidos à dominação
econômica, uma vez que se encontram destituídos da propriedade dos meios
de trabalho. A enorme capacidade de produzir do regime capitalista não foi
capaz de reduzir a miséria da grande massa da população.
Os trabalhadores, no entanto, não estavam submetidos somente a
dominação econômica. A dominação estendia-se ao campo político, ideológico
e jurídico da sociedade. Para Marx, o instrumento de que dispõe a burguesia
para fazer prevalecer seus interesses e privilégios é o Estado. Através do
Estado e dos seus aparatos repressivos (exércitos, polícias), a classe
dominante impõe seus interesses ao conjunto da sociedade, fazendo-a
submeter-se às regras políticas. Além do aparato repressivo, a classe
dominante dispõe do aparato jurídico – o Direito – para garantir, através do
estabelecimento de leis que sua vontade prevaleça.
Materialismo Histórico
Para interpretar o capitalismo e compreender a história das sociedades
humanas, Marx desenvolveu uma teoria – o Materialismo Histórico, que
procurava explicar qualquer tipo de sociedade, em todas as épocas, através
de fatos materiais, essencialmente econômicos.
Na Contribuição à Critica a Economia Política, afirmava Marx (1957, 4-5):
“O resultado geral ao qual cheguei, e que, uma vez adquirido, serviu
de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado brevemente
assim: na produção social de sua existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independente de suas vontades,
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
34
relações de produção que correspondem a um grau de
desenvolvimento determinado de suas forças produtivas materiais. O
conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica
da sociedade, base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem formas de consciências sociais
determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o
processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a
consciência dos homens que determina o seu ser; é inversamente seu
ser social que determina sua consciência. A um certo estágio de seu
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram
em contradição com as relações existentes, ou, o que não é senão a
expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais
se moviam até então. De formas de desenvolvimento de forças
produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre-
se, então, uma época de revolução social. A mudança na base
econômica transtorna mais ou menos rapidamente toda a enorme
superestrutura. Considerando-se estes transtornos, torna-se
necessário sempre distinguir entre a desordem material – que pode
-constatar de forma cientificamenterigorosa - das condições de
produção econômica e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas
ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os
homens tomam consciência desse conflito, levando-o às últimas
conseqüências. Da mesma forma que não se pode julgar um indivíduo
pela idéia que faz de si mesmo, não se poderia julgar uma época de
transtornos pela consciência que ela tem em si mesma; é necessário,
ao contrário explicar esta consciência pelas contradições da vida
material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as
relações de produção. Uma formação social nunca desaparece antes
que sejam desenvolvidas todas as forças produtivas que ela possa
conter, e nunca relações de produção novas e superiores tomam seu
lugar antes que as condições de existência materiais destas relações
surjam no seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se
coloca problemas que possa resolver; pois, olhando isso de mais perto,
poder-se-á observar sempre que o problema só surge onde as
condições materiais para resolvê-lo já existem ou estão pelo menos
em vias de existir. Em geral, os modos de produção asiático, antigo,
feudal e burguês moderno podem ser qualificados de épocas
progressivas da formação social-econômica. As relações de produção
burguesas são a última formação contraditória do processo de produção
social, contraditória, não no sentido de uma contradição individual,
mas de uma contradição que nasce das condições de existência
social dos indivíduos; entretanto, as forças produtivas que se
desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo
as condições materiais para resolver esta contradição. Com esta
formação social termina então a pré-história da sociedade humana.”
Nessa passagem destacamos algumas questões centrais que serviram
de suporte teórico ao materialismo histórico:
SOCIOLOGIA APLICADA
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1) os homens constroem a sua vida (social) e a sua história, porém não
as constroem em condições por eles escolhidas, determinadas pela sua
vontade. A vida em sociedade estabelece relações sociais que não foram
geradas pela vontade individual. A ação do indivíduo no mundo que o envolve
obriga-o a contrair relações, as relações sociais. Elas determinam o ser
social, ou seja, o indivíduo é o resultado das forças econômicas e das relações
sociais que atuam sobre ele.
Para viver, os homens têm de inicialmente transformar a natureza,
arrancando dela tudo o que necessita para subsistir e para ultrapassar a
vida simplesmente natural. É pelo trabalho que os homens transformam e
dominam a si próprios e a natureza. Assim, é pelo trabalho, através dos
instrumentos que ele gerou, como as ferramentas ou máquinas, as técnicas
empregadas para produzir e a divisão do trabalho, que os homens produzem
a sua existência.
Portanto, as relações fundamentais de qualquer sociedade são as
relações de produção. As relações de produção são as formas pelas quais
os homens se organizam para executar a atividade produtiva. São as relações
fundamentais dos homens com a natureza e dos homens entre si na sua
atividade produtiva.
As relações de produção articulam-se a três elementos: as condições
naturais (clima, solo, fauna, flora, etc.) determinada pela própria natureza,
as tecnologias e a divisão do trabalho. Esses três elementos constituem as
forças produtivas.
No curso da história, cada um desses elementos pode sofrer
modificações e aperfeiçoamentos. Por exemplo, a exploração e o uso de
novos recursos naturais exigem o aperfeiçoamento tecnológico e a invenção
de novas técnicas para atingir o máximo de produção. Por outro lado, além
da incorporação de novos instrumentais e tecnologias, uma nova organização
da divisão do trabalho também será exigida, determinando novos padrões
de formação e aperfeiçoamento da capacidade técnica da força de trabalho.
Portanto, as forças produtivas e as relações de produção são fatores
essenciais para organização de toda atividade produtiva realizada em
sociedade. A forma como cada uma existe e se desenvolve vai determinar o
que Marx chamou de modo de produção.
2) Defendendo rigoroso determinismo econômico em todas as sociedades
humanas, Marx distingue as etapas da história humana a partir dos modos
de produção. São quatro os modos de produção: o asiático, o antigo, o feudal
e o capitalista.
Segundo Aron (1987), esses quatro modos de produção podem ser
reunidos em dois grupos. Os modos de produção antigo, feudal e capitalista
são representantes da história do Ocidente. Enquanto o modo de produção
asiático caracteriza uma civilização distinta da do Ocidente. O modo de
produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal
pela servidão e o modo de produção capitalista pelo trabalho assalariado.
Eles correspondem a três modos distintos de exploração do homem pelo
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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homem. O modo de produção capitalista seria a última etapa de uma
formação social baseada na exploração do homem pelo homem, na medida
em que o modo de produção que o substituiria, seria o modo de produção
socialista, não submeteria a massa de trabalhadores à exploração e à
opressão.
3) Estabelece uma distinção entre a infra-estrutura e a superestrutura.
Compara a sociedade a um edifício, cuja base, a infra-estrutura, seria
representada pelas forças econômicas - forças produtivas e relações de
produção, enquanto a superestrutura representaria as idéias, costumes e
instituições jurídicas e políticas, as ideologias e as filosofias.
É sobre essa base econômica que se ergue a superestrutura da
sociedade moderna. O campo político, jurídico e ideológico por sua vez
representa a forma como os homens estão organizados no processo
produtivo. Para Marx, a esfera econômica determina e condiciona o
desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.
A Sociologia compreensiva de Max Weber
Pretendendo distanciar-se do Positivismo de Durkheim – que pretendia
estabelecer “leis universais” comuns a várias ou a todas as configurações
históricas, e do Materialismo Histórico de Marx – que pressupõe um
determinismo econômico na análise dos processos históricos, Max Weber
parte da idéia de que cada formação histórica carrega especificidade e
importância próprias. Sendo tarefa do sociólogo trazer à tona o que há de
peculiar, de particular em cada uma delas.
Para Weber, os fenômenos sociais que interessam a Sociologia não
devem ser tratados como “coisa”, ou seja, fatos exteriores que devem ser
analisados à distância pelo pesquisador.
 “O domínio do trabalho científico não tem por base as conexões
‘objetivas’ entre as ‘coisas’ mas as conexões conceituais entre os
problemas. Só quando se estuda um novo problema com auxílio de
um método novo e descobrem verdades que abre novas e importantes
perspectivas é que nasce uma nova ciência”.
(WEBER, M. A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. Weber –
Sociologia. São Paulo: Editora Ática, p.84)
Nem tampouco devem tentar interpretá-los sempre tomando como
única explicação causal a esfera econômica. “Em nenhum domínio dos
fenômenos culturais pode a redução unicamente a causas econômicas ser
exaustiva, mesmo no caso específico dos fenômenos ‘econômicos’”.
(WEBER,Op.Cit,86)
Sua obra é marcada pela análise teórica e empírica dos fatos
econômicos, históricos e culturais. Weber partia do pressuposto que a
realidade social era infinita e inesgotável, portanto, o conhecimento e os
fundamentos gerados pelas ciências sociais não deveriam se limitar a
determinar “leis” gerais que explicassem a totalidade da vida social.
SOCIOLOGIA APLICADA
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“A ciência social que nós pretendemos praticar é uma ciênciada
realidade. Procuramos compreender a realidade da vida que nos
rodeia e na qual nos encontramos situados naquilo que tem de
específico; por um lado, as conexões e a significação cultural das
suas diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as
causas pelas quais se desenvolveu historicamente assim e não de outro
modo.
Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do modo como
se nos apresenta imediatamente a vida, verificamos que se nos
mani-festa, “dentro” e “fora” de nós, sob uma quase infinita diversidade
de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente.
E a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem qualquer
atenuante do seu caráter intensivo, mesmo quando prestamos a nossa
atenção, isoladamente, a um único “objeto” - por exemplo, uma
transação concreta -; e isso tão logo tentamos sequer descrever de
forma exaus-tiva essa “singularidade” em todos os seus componentes
individuais, e muito mais ainda quando tentamos captá-la naquilo que
tem de causal-mente determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo
da realidade infinita realizado pelo espírito humano finito baseia-se na
premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa realidade
poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica, e de
que só ele será “essencial” no sentido de “digno de ser conhecido”.
(WEBER, In: COHN, 1979, p.88)
Segundo Weber, o propósito da ciência não é dar conta da infinita e
exaustiva totalidade da vida social, reduzindo-a às leis gerais “vazias de
conteúdo”.
“Isto porque quanto mais vasto é o campo abrangido pela validade
de um conceito genérico – isto é quanto maior a sua extensão -, tanto
mais nos afasta da riqueza da realidade, posto que para poder abranger
o que existe de comum no maior número possível de fenômenos,
forçosamente deverá ser mais abstrato e pobre de conteúdo.”
 (Ibid., p.96)
Na perspectiva de Weber, a ciência pode e deve produzir uma análise
objetiva das diversas dimensões (econômica, política, cultural, religiosa, etc.)
da realidade, sem a intenção de reduzir e aprisionar toda a riqueza dos
fatos a leis gerais. O que importa é compreender a significação que a
realidade da vida possui para os indivíduos em diferentes contextos e em
diferentes épocas.
O método sociológico interpretativo
Para Weber, todo o conhecimento da realidade social é parcial, limitado
e subordinado a pontos de vista particulares. O cientista social fará sempre
uma seleção, consciente ou inconscientemente, dos elementos da realidade
que pretende analisar a partir do seu ponto de vista particular, destacando
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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“conexões” que, para ele, possui significado. O fenômeno social que o
pesquisador escolhe, assim como a delimitação do problema que orientará
a sua investigação serão determinados pelas suas escolhas, orientado
pelas suas idéias de valor, ou seja, o pesquisador é orientado pela sua
convicção pessoal e subjetiva, que é ele que confere ao seu estudo uma
direção e exprime uma determinada interpretação do fato estudado.
Afirmava Weber que apenas as idéias de valor que dominam o
investigador e uma época podem determinar o objeto de estudo e os limites
desse estudo.
Mas, no que refere a validade científica, uma questão emerge: como
conferir ao conhecimento produzido a partir das idéias e dos valores
subjetivos do pesquisador, a validade e o rigor de uma obra científica? Como
alcançar a objetividade científica?
No que se refere ao método de investigação, defendia Weber que
para alcançar maior objetividade científica seria fundamental o pesquisador
construir sua interpretação baseada nas normas e preceitos válidos e
determinados pela ciência de seu tempo “só será considerada uma verdade
científica aquilo que se pretende válido para todos os que querem a
verdade.”(WEBER,idem,p.100)
Segundo Aron (1987), a ciência, na perspectiva weberiana, apresenta
dois pressupostos fundamentais para o alcance de sua validade científica.
O primeiro significa que a ciência moderna se caracteriza pelo não-
acabamento, isto, porque o conhecimento científico é um processo que
jamais se esgotará.
Weber não acreditava que o conhecimento gerado na atividade
científica representava um retrato fiel e acabado da realidade, já que esta é
ampla e inesgotável, impossível de ser encerrada em sua totalidade. O
conhecimento será sempre parcial, fragmentado e inacabado. O que o
pesquisador consegue alcançar em sua tarefa investigativa é apenas uma
comparação aproximada da realidade.
O segundo diz respeito à objetividade do conhecimento como requisito
indispensável para qualquer cientista que procure construir um conhecimento
verdadeiro e válido.
Ação Social: objeto da ciência
Segundo Weber, a Sociologia é uma ciência voltada para a
compreensão interpretativa da ação social, conduta humana dotada de
sentido e subjetivamente elaborada. À Sociologia caberia buscar
compreender o sentido que os indivíduos atribuem a sua conduta. Segundo
Cohn (1979) é tarefa da Sociologia desvendar o sentido que manifesta em
ações concretas e que envolve um motivo sustentado pelo indivíduo como
fundamento da sua ação. Tanto o indivíduo como as suas ações são
considerados pontos-chave da investigação científica, evidenciando o que
SOCIOLOGIA APLICADA
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para Weber era o ponto de partida para a Sociologia: a compreensão e a
percepção do sentido que cada indivíduo atribui à sua conduta.
Portanto, é tarefa do cientista social reconstruir o motivo que
fundamenta a ação, porque ela figura como causa e efeitos da conduta dos
indivíduos. Na concepção weberiana, o indivíduo age orientado por
motivações informadas pelos valores, por interesses racionais ou pela
emoção.
Existirá uma ação social toda vez que um indivíduo estabelecer com
outro algum tipo de comunicação, a partir da sua conduta com os demais
indivíduos. Para Cohn (1979) a ação social é a conduta à qual o indivíduo
associa um sentido subjetivo. É a ação orientada significativamente pelo
indivíduo conforme a conduta de outros indivíduos e que transcorrem
consonância com isso.
Weber elabora uma distinção entre quatro tipos de ação social: a ação
racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a
ação tradicional e a ação afetiva.
1) A ação racional com relação a fins: é uma ação concreta em
que o agente concebe claramente objetivos específicos a serem alcançados.
Exemplo: o atleta que se prepara para realizar uma competição; a ação do
cientista.
2) A ação racional com relação a um valor: é a ação definida pela
crença consciente no valor - moral, ético, religioso, estético, etc. – que justifica
determinada conduta. O indivíduo age motivado pela “força” dos valores
sobre a sua conduta. Aceita todos os riscos para manter-se fiel a sua honra
ou causa que acredita. Por exemplo: o “homem-bomba”, que mesmo
consciente do fim trágico de sua ação, age em conformidade com a sua
crença religiosa.
3) A ação afetiva: é a ação que corresponde ao “estado de
espírito” do agente que a pratica. É definida por uma reação emocional dos
indivíduos em determinadas circunstâncias, que necessariamente não foi
orientada por um planejamento prévio ou motivada por valores. Exemplo: a
explosão de raiva do motorista quando leva uma “fechada” no trânsito.
4) A ação tradicional: é a ação ditada pelos hábitos, costumes e
crenças arraigadas. O indivíduo age obedecendo a reflexos adquiridos pela
prática. Para agir conforme a tradição, o indivíduo não precisa orientar-se
por um objetivo ou valor, nem tragado por uma emoção, obedece
simplesmente a hábitos enraizados por longa prática. Exemplo:o batismo
dos filhos realizados por pais pouco comprometidos com a religião.Segundo Quintaneiro (1999), o sociólogo pode usar essas categorias
para analisar o sentido de quase todas as condutas que o indivíduo pode ou
não praticar: estudar, dar esmolas, comprar, casar, participar de uma
associação, fumar, presentear, socorrer, castigar, comer certos alimentos,
assistir à televisão, ir à missa, à guerra, etc. É tarefa do sociólogo, portanto,
compreender o sentido que o sujeito atribui à sua ação e seu significado
social.
UNIDADE 2 - A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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Os “tipos ideais”
Para tornar possível a investigação e a compreensão de categorias e
conceitos empregados na análise sociológica, Weber recorreu a certos
instrumentos metodológicos que permitiriam ao cientista uma investigação
dos fenômenos particulares. A este recurso metodológico Weber chamou
de tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar
explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas
sutilezas concretas.
Para Weber(Falta o ano e a página), o tipo ideal é construído:
“mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista,
e mediante o encadeamento de grande quan-tidade de fenômenos
isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior
ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam
segundo os pontos de vista unilateralmente acentua-dos a fim de se
formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível
encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza
conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historio-gráfica
defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular, a
proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, em
que medida portanto o caráter econômico das condições de determinada
cidade poderá ser qualificado como “economia urbana” em sentido
conceitual. Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito
cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da
investigação e da representação”.
Trata-se, portanto, de uma construção teórica abstrata dos fenômenos
particulares que se pretende investigar. O cientista constrói um modelo (tipo
ideal) acentuando algumas características cujo exame lhe parece importante
na observação do fenômeno selecionado para o estudo.
Segundo Costa(2005, 100):
o tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado pelas
forma-ções sociais históricas nem mesmo em qualquer realidade
observável. É um instrumento de análise científica, numa construção
do pensa-mento que permite conceituar fenômenos e formações sociais
e iden-tificar na realidade observada suas manifestações. Permite
ainda com-parar tais manifestações.
A construção do tipo ideal permite ao sociólogo explicar uma realidade
complexa, partindo de traços característicos essenciais.
Chegamos ao final desta unidade, abordando as principais questões
e conceitos que orientaram os estudos dos principais teóricos clássicos da
Sociologia. Esperamos que você tenha percebido que a realidade social é
um fenômeno que pode ser compreendido de várias formas distintas e que
a análise sociológica é plural, porque permite olhar um mesmo fenômeno
por diferentes ângulos.
SOCIOLOGIA APLICADA
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LEITURA COMPLEMENTAR:
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da
sociedade. 3a.ed. ver. ampl..SãoPaulo: Moderna, 2005. 416p.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38a. ed. São
Paulo: Brasiliense,1994. (Coleção Primeiros Passos-57). 58p.
QUINTANEIRO, T. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e
Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 157p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na unidade 3, estudaremos a caracterização da sociedade humana.
Vamos em frente!
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SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
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U
N
ID
A
D
E 
3
CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE
HUMANA
Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em
grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano.
Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá!
OBJETIVOS DA UNIDADE:
• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal,
identificando seus elementos principais.
• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.
• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria
cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico.
PLANO DA UNIDADE:
• Elementos principais da sociedade humana.
• A essência da cultura.
• Classificação da cultura.
• Cultura popular e cultura erudita.
• Indústria cultural ou cultura de massa.
Bons estudos!
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
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Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos
agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da
sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste
ambiente.
ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA
O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua
existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente
pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por
exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes
queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de
hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver
com outros homens e a se comportar como tal.
Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo
com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que
ele irá aprender a conviver.
Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade.
A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo,
primeiramente, com seus grupos mais íntimos
(família e escola) e depois com outros grupos
que irá se tornar um membro ativo da sociedade
em que nasceu. A esse processo chamamos de
socialização.
Conseqüentemente, podemos observar que
a criança tem poucas possibilidades de seguir
seus desejos e suas vontades, que
normalmente são hedonistas e egoístas e que
muitas vezes são opostas às vontades do
grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem
e abnegação. E nesta relação, a sociedade
normalmente sai ganhando.
Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o
fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este
processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre
aprendendo coisas novas em nossa sociedade.
O ambiente social influencia até no tipo de
personalidade dos indivíduos, assim
observamos, ao longo da História, sociedades
que geraram homens guerreiros, homens
caçadores, homens viajantes, homens
executivos com tino para negócios, etc. De um
modo geral, pode-se dizer que cada cultura
produzirá seu tipo especial ou tipos especiais
de personalidades.
Socialização: processo de
aprendizagem da cultura da
sociedade em que nascemos.
Hedonista: ligado aos praze-
res.
SOCIOLOGIA APLICADA
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Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o
comportamento dos indivíduos são determinados pelas “representações
coletivas”. Esta representação indicava o corpo de experiências, idéias e
ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a
formulação de suas idéias, atitudes e comportamento.
A ESSÊNCIA

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