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Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Universidade Federal do Rio Grande do Norte Departamento de Física Teórica e Experimental Laboratório de Proc. de Materiais por Plasma Fone : (084) 215 3800 Fax: (084) 215 3791 e-mail: alvesjr@dfte.ufrn.br site: www.dfte.ufrn.br/labplasma TRATAMENTO E REVESTIMENTO DE SUPERFÍCIES CLODOMIRO ALVES JÚNIOR DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL LAB. DE PROCESAMENTO DE MATERIAIS POR PLASMA Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila APRESENTAÇÃO Essa apostila foi preparada inicialmente para um curso extracurricular ministrado no Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR, no ano de 1994. Em seguida, foi adaptada para servir como material didático à disciplina de Engenharia de Superfície do Curso de Engenharia de Materiais da UFRN. Durante o curso foi solicitado aos alunos que fizessem críticas e/ou inserções de técnicas e ilustrações que enriquecessem esse conteúdo. O resultado foi animador e me estimularam a estender a solicitação não apenas para os novos alunos, mas também para os demais usuários, internautas ou não, que sentirem a necessidade de informações complementares nessa apostila. Desde já agradeço profundamente aos estudantes da primeira turma de Engenharia de Materiais pela colaboração na confecção dessa apostila: Allison, André, Andressa, Cláudio, Eduardo, Eilson, Lílian, Marcelo, Michele, Ruthilene, Túlio, Ygor. : Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila ÍNDICE 1-TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE 8 1.1 - Tratamentos térmicos 8 1.1.a - Endurecimento por indução 8 1.1.b - Endurecimento por chama 12 1.1.c - Endurecimento por laser 13 Endurecimento por Têmpera 14 Endurecimento por solidificação rápida 15 Endurecimento por formação de ligas superficiais 15 Cladagem por laser 15 Endurecimento a laser por onda de choque 15 Laser Melt/Particle Injection 16 Laser CVD 16 Laser PVD 16 Revestimento auxiliado por laser 16 1.1.d - Endurecimento por centelhamento 17 1.1.e - Endurecimento por feixe de elétrons 17 1.2 - Tratamentos termoquímicos 18 1.2.a - Cementação 18 Cementação sólida 19 Cementação líquida ou em banho de sais 20 Cementação gasosa 21 Cementação a plasma 22 1.2.b - Carbonitretação 22 Carbonitretação líquida 23 Carbonitretação gasosa 23 1.2.c - Nitretação 23 Nitretação em amônia 24 Processos Modificados 25 Nitretação líquida 26 Nitretação em Banho de Sais Fundidos 26 Processos Especiais 27 Tratamentos termoquímicos por plasma 28 a) Nitretação iônica 28 Cementação iônica 37 1.2.d - Boretação 38 1.3 - Deposição Física de Vapor (PVD) 38 1.3.a - Implantação iônica 38 1.3.b - Implantação Iônica por Imersão em Plasma 40 1.4 - Tratamentos mecânicos 42 1.4.a - Jateamento (Shot peening ) 42 2 - REVESTIMENTOS DE SUPERFÍCIE 43 2.1 - Eletroquímico 43 Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila 2.2 - Revestimento químico 48 Revestimento por solda 49 Revestimento por aspersão térmica 50 2.5 - Deposição química de vapor (CVD) 55 2.5.1 Polimerização por descarga luminescente 57 2.5.2 Aplicações 59 2.6 - Deposição física de vapor (PVD) 62 2.6.1 - Evaporação 63 2.6.2 - Deposição por vapor ionizado (Ion plating) 65 Deposição por vapor ionizado assistido por plasma (glow-discharge ion-plating) 65 Deposição por vapor ionizado assistido por feixe de íons (ion-beam ion-plating) 68 2.6.3 - Deposição por sputtering 69 Métodos de sputtering 69 Sputtering diodo de corrente contínua 70 Sputering triodo de corrente continua 71 2.6.4 Deposição a laser pulsado 73 3 - TÉCNICAS HIBRIDAS DE PROCESSAMETO SUPERFICIAL 74 3.1 Introdução a Microeletrônica 74 3.1.1 Dispositivos básicos da microeletrônica 74 3.2 Processamento de um Circuito Integrado 75 3.2.1 Ciclo 0 76 3.2.2 Ciclo 1 77 3.2.3 Ciclo 2 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84 ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. TÉCNICAS DE TRATAMENTO E REVESTIMENTO DE SUPERFÍCIES Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Nos últimos anos, houve um grande crescimento no número de técnicas associadas a modificação de superfícies, isto é, métodos que modificam as propriedades da superfície sem alterar as propriedades do seu volume (Upadhya & Tiearney, 1989). A principal razão para esse crescimento é que as forças destrutivas em muitas aplicações tecnológicas concentram-se no exterior do componente requerendo, desse modo, propriedades superficiais que são intencionalmente diferentes do núcleo e pelo fato que raramente se faz um material com propriedades perfeitamente iguais a todos os requisitos de uma dada aplicação. Portanto isto freqüentemente torna-se necessário assumir um compromisso tal que um material tenha propriedades aceitáveis em cada área pertinente. Para atender tais exigências aplicasse a engenharia de superfície que melhora decisivamente e seletivamente a função e eficácia do tempo de vida de um material usado para fabricação de algum componente. Junto a racionalidade no uso dos materiais, há também a preocupação no uso de técnicas que causam impacto ambiental. Por isso, cada vez mais estas técnicas fazem uso de plasmas, feixes de íons ou elétrons, laser e deposição química e física de vapor, abandonando técnicas como a galvanoplastia, zincagem, pastas metálicas, nitretação e cementação convencionais e outras que possuem substancias nocivas ao ambiente e/ou baixa eficácia comparada com as técnicas modernas (Vento, 1988). De um modo geral, as técnicas tem como características a temperatura do processo, propriedades mecânicas, profundidade da camada e comportamento em serviço. Essas técnicas podem ser divididas em dois grandes grupos (Sankaran, 1992): Tratamento de superfície onde a composição e/ou propriedades mecânicas da superfície são alteradas; tendo como idéia geral, mudar as propriedades da superfície, fazendo com que o núcleo mantenha suas características originais; e esse tratamento de superfície inclui os processos mecânicos como o shot-peening que endurece a superfície por trabalho à frio; tratamento térmico por laser ou feixe de íons e elétrons, o qual endurece a superfície através de solidificação rápida; tratamentos por difusão como a cementação, nitretação e boretação que modifica a composição da superfície; tratamento químico, tais como o ataque e a oxidação, que remove ou muda a composição dos materiais por reação química e a implantação iônica, onde a composição da superfície é modificada pela implantação de íons de alta energia em camadas próximas à superfície. Revestimentos superficiais onde um material diferente é depositado para criar uma nova superfície. Inclui as técnicas de eletrodeposições e conversões químicas tradicionais, assim como técnicas mais recentes como a aspersão térmica, onde um plasma ou um arco elétrico é usado para fundir um pó ou um fio, e gotas do material fundido são aspergidas sobre a superfície do material que se deseja revestir; deposição física de vapor (PVD) em que um fluxo de vapor é criado por um processo físico como evaporação, sputtering ou remoção à laser e o processo de deposição química de vapor (CVD), onde uma reação das espécies no estado de vapor com as espécies da superfície da peça produzem o revestimento (Sandven, 1986). Os diagramas das figuras 1 e 2 sumarizam as principais técnicas utilizadas para modificação de superfícies(Oakley, 1985). Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Fillet Rolling Shot Peening Implantação Iônica Convencional Aeração Acelerada Sulfetação Acelerada Convencional Convencional Baixa Pressão Nitretação Iônica Endurecimento por Indução Endurecimento por Feixe de Elétrons Endurecimento por Chama Endurecimento a Laser Endurecimento por Centelhamento Carbonitretação Nitretação Boretação Gás Líquido Em caixa Iônica Em caixa Líquido Gás Gás Cementação Tratamentos termoquímicos PVD Tratamentos mecânicos Tratamentos térmicos Figura 1 - Tipos de tratamentos de superfície Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 2 - Tipos de revestimentos superficiais. Das várias técnicas mencionadas, serão detalhadas algumas consideradas mais importantes ou aquelas mais recentes que utilizam o plasma ou laser como fonte energética. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila 1-TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE 1.1 - Tratamentos térmicos Essa classe de tratamento abrange os processos que modificam a superfície através de um tratamento térmico superficial, sem haver qualquer reação química com o ambiente. De maneira geral os tipos de tratamentos térmicos permite ser aplicado a peças de grandes dimensões, como por exemplo, engrenagens de 2 a 3 m; permite o endurecimento em áreas localizadas; pode ser usado quando a geometria da peça ocasionar grandes deformações; permite obter a combinação de altas resistências ao desgaste e dureza na superfície, com ductilidade e tenacidade no núcleo da peça; não exige fornos de aquecimento; é rápida (pode ser aplicada na oficina); não produz grandes oxidações e descarbonetações no aço. 1.1.a - Endurecimento por indução Este processo é extensivamente usado para endurecimento de superfície. Ele utiliza o princípio da indução eletromagnética, ou seja, usando bobinas de indução; onde a passagem de uma corrente elétrica através de um condutor produzirá um campo magnético, o qual induz uma corrente elétrica em outro condutor colocada no campo magnético. A quantidade de calor gerada é dada pela lei de Joule: Q = 0,239 . i 2 . R . t Onde: i = corrente em ampére; R = resistência do condutor em ohms; t = tempo que circula a corrente em segundos. Quando uma corrente alternada de alta freqüência (500 a 15 x 106) flui através de um condutor, no caso em questão uma bobina de cobre, um campo magnético, também alternado e altamente concentrado, é criado em torno da bobina. Se nas proximidades dessa bobina é colocado um material condutor, o campo magnético induzirá uma corrente elétrica no mesmo que produzirá o aquecimento desse material (Alves Jr., 1984). A figura 3 ilustra o princípio. Figura 3 - Princípio de aquecimento por indução. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila O material sendo um circuito fechado terá um aquecimento que dependerá de sua resistência elétrica. Esse aquecimento é dado pelas características do forno e da amostra. As características do forno são a corrente na bobina, número total de espiras e o fator de acoplamento bobina-amostra. Quanto ao material a ser aquecido, as características que limitam o seu aquecimento é o tamanho, resistividade elétrica, permeabilidade magnética e sua inclinação com relação ao campo magnético. O calor é então gerado dentro dos limites de uma casca superficial da peça, cuja espessura é dada por : δ ρμν= 3 05. (1) onde δ é a profundidade de penetração das linhas de campo magnético(em mm), ρ é a resistividade do material (ohm/mm), μ é a permeabilidade magnética (Henry/mm) e ν é a frequência de alimentação da bobina (em Hz). Para o caso de endurecimento superficial de aços, tem-se que a profundidade de penetração é dada por (Child, 1980): δ ν= 20 (temperatura ambiente) (2) δ ν= 500 (800oC) (3) Uma planta de endurecimento por indução consiste basicamente de três elementos, isto é, um gerador de alta frequência, uma bobina indutora e um mecanismo para manuseio dos componentes durante o aquecimento e resfriamento. A bobina indutora é geralmente construida de tubos de cobre que podem ser refrigerados à água. Diferentes formas de bobinas são então construidas para atenderem aos mais diversos fins. Na figura 4 é mostrado algumas ilustrações de configurações de bobinas e o quadro de aquecimento resultante (Bhusman & Gupta, 1991) e na figura 5 é mostrado casos ilustrativos de tratamento de têmpera por indução. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 4 - Algumas configurações típicas de bobinas indutoras e o quadro de aquecimento resultante. Figura 5 - Aplicações de tratamento de têmpera por indução. Dependendo da área a ser tratada, a têmpera pode ser estacionária, progressiva ou rotativa. Para componentes como longas hastes é interessante fazer a bobina movimentar-se lentamente ao longo da mesma. Em outras situações como grandes engrenagens a bobina fará um movimento circular. Enfim, para cada uso haverá uma configuração e uma adaptação de bobina diferente. Os aços que são endurecidos por indução deve ser aqueles que se austenitizam completamente com o pequeno tempo de aquecimento. Aços que possuem carbonetos finamente dispersos dissolvem mais rápido esses carbonetos que aqueles possuindo carbonetos grosseiros, por exemplo, martensita envelhecida pode austenitizar totalmente num curto tempo de aquecimento enquanto uma estrutura esferoidizada não terá um bom resultado. Aços ligados, com carbonetos estáveis, devem ser aquecidos a uma maior temperatura de austenitização que os aços carbono. Os aços mais comumente Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila usados para endurecimento por indução são os aços de médio carbono contendo de 0,3 a 0,5 %C. Para maiores teores , o risco de trincamento é consideravelmente aumentado, mas com um controle adequado esses aços com alto carbono também podem ser endurecidos. Devido à alta taxa de aquecimento, na ordem de centenas de graus centígrados por segundo, a transformação da perlita em austenita ocorre em maiores temperaturas que a de equilíbrio. Os aços são normalmente resfriados em óleo ou água. Após o endurecimento, os aços são geralmente envelhecidos em 150oC a 200oC ou mais se uma menor dureza é desejada. Se as partes são envelhecidas em temperaturas inferiores haverá um grande risco de surgimento de tricas durante o lixamento da peça. Esse método apresenta algumas vantagens sobre os métodos de endurecimento convencionais por tratamento, tais como: • Pode-se determinar com precisão a profundidade da camada temperada; • O aquecimento é rápido; • As bobinas podem ser facilmente confeccionadas e adaptadas à forma da peça; • Geralmente, possibilita um maior aumento da dureza e da resistência ao desgaste; • A resistência a fadiga é também superior; • Não tem problema de descarbonetação; • O endurecimento localizado reduz consideravelmente a energia comparada aos outros processos de tratamentos térmicos. • Os tempos necessários para endurecimento são curtos (1 a 30s) dando maior produtividade. • Os componentes possuem pouca variação dimensional após o aquecimento. • O processo é capaz de completa automação. As limitações estão no alto investimento inicial e a aplicabilidade do processo em certas formas de peças. Aplicações típicas inclui cames, eixos de rotação, válvulas, engrenagens, alavancas, componentes excêntricos,facas, roletes, eixos, mancais, entre outros. O controle da profundidade da camada depende da forma da bobina, distância entre a bobina e a peça, frequência elétrica (500-2.000.000 ciclos/s) e tempo de aquecimento. A tabela 1 lista as temperaturas de endurecimento utilizadas para alguns aços e as respectivas durezas superficiais obtidas. Tabela 1 - Temperaturas de endurecimento por indução com os valores esperados da dureza superficial Metais Temp. de endurecimento (oC) Meio de têmpera dureza, HRC (HV) Aços Carbono e ligados 0,30%C 900-925 água 50(513) 0,35%C 900 água 52(544) 0,40%C 870-900 água 55(595) 0,45%C 870-900 água 58(653) 0,50%C 870 água 60(697) 0,60%C 845-870 água 64(800) Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila óleo 62(746) Ferros fundidos Ferro cinzento 870-925 água 45(446) Ferro maleável 870-925 água 48(484) Ferro nodular 900-925 água 50(513) Aço inoxidável AISI 420 1095-1150 óleo ou ar 50(513) 1.1.b - Endurecimento por chama Esse processo é semelhante ao processo de endurecimento por indução, em termos de materiais processados e suas aplicações (Bhushan & Gupta, 1991). É a forma mais simples de tratamento térmico superficial localizado. Consiste na utilização de maçaricos de solda a gás para aquecer a peça até o rubro (chegando à temperaturas acima da temperatura crítica – 850 a 950ºC), seguido de resfriamento em água. Os gases usados para aquecimento são misturas de gás combustível (gás natural, propano ou acetileno) com ar ou oxigênio. A mistura acetileno-oxigênio dá uma maior taxa de aquecimento e é usada para pequenas profundidades de camadas ou aplicações requerendo uma zona de transição mínima, isto é, com baixa tensão residual. Após o aquecimento, o resfriamento é realizado aspergindo água sobre a peça aquecida ou colocando-a num tanque. A taxa de endurecimento é relativamente baixa, 50 a 200mm/min, e depende do tamanho da chama e a profundidade de endurecimento é influenciada pela distância da chama e da duração do aquecimento. Profundidades de endurecimento variam de 2 a 30mm; onde pode ser aumentada pelo prolongamento do tempo de aquecimento. O controle da camada temperada depende da: intensidade, distância e tempo da chama aplicada. Esse processo é particularmente uma alternativa importante em componentes muito grandes, que não caibam em fornos, para endurecimento por indução como cilindros, guias de máquinas, etc. A figura 6 ilustra a disposição da peça, chama e resfriamento em duas situações diferentes no processo de endurecimento por chama (Child, 1980). Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 6 - Ilustração do processo de endurecimento superficial por chama. (a) Endurecimento progressivo. (b) Endurecimento rotativo. 1.1.c - Endurecimento por laser O laser é um oscilador/amplificador ótico que produz feixes extremamente colimados e coerentes. Consiste basicamente de um invólucro com dois eletrodos, contendo vapor de uma dada substância sob pressão adequada. A energia elétrica entregue ao sistema através dos eletrodos é de alguma forma absorvida pelos átomos (ou moléculas), que ficam num estado excitado. O decaimento subsequente à excitação resulta na luz emitida pelo laser. Na verdade, para que um tubo de descarga opere como um laser é necessário fazer com que sejam estimuladas emissões de um dado comprimento de onda numa dada direção (Dionísio, P.H., 1993). A densidade de potência do feixe requerida para processamento de materiais está entre 500 - 2000 W/cm 2 . Normalmente apenas lasers de CO2, garnet de Ytrio / Alumínio (YAG) ou laser do estado sólido de Nd são utilizados para modificação de superfície, sendo o primeiro mais utilizado em potências superiores a 500W/cm2. Quando um feixe de laser incide sobre uma superfície, parte de sua energia é absorvida como calor superficial. Se a densidade de potência for suficientemente alta, o calor pode ser gerado numa taxa maior que sua transferência para o interior da peça. Assim, num tempo muito curto de aplicação de laser, é possível encontrar a superfície da peça fundida enquanto seu interior ainda está fria (Sandven,1981) Conservando as propriedades do volume. Vantagens do laser: 9 Penetração térmica controlada e portanto controle da distorção; 9 Perfil térmico controlado e portanto controle da forma e da localização da região afetada; Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila 9 Pouco ou nenhum requerimento para tratamentos posteriores; 9 Possibilidade de processar sem contato; 9 Automação relativamente fácil. Baseado neste princípio de gradiente de temperatura, várias técnicas surgiram onde utilizam o laser em diferentes condições. Nessa seção serão incluidas todas elas, embora algumas não pertençam à classe de tratamentos térmicos, a saber (Sankaran,1992): • Endurecimento por têmpera • Endurecimento por solidificação rápida (LSM - Laser Surface Melting) • Ligas superficiais ( LSA -Laser Surface Alloying) • Cladagem ( LSC - Laser Surface Cladding) • Endurecimento por choque de laser (LSP - Laser Shock Processing) • Laser Melt/Particle Injection • Laser CVD • Laser PVD • Revestimento auxiliado por laser Variáveis que controlam a profundidade da camada: • Diâmetro do raio; • Intensidade; • Velocidade de varredura. Endurecimento por Têmpera Neste processo, um feixe de laser incidindo sobre uma superfície de um material endurecível, aquece-a numa temperatura de austenitização. Não há fusão, apenas o aquecimento da superfície, com isso é utilizada baixa densidade de potência. A taxa de resfriamento é geralmente rápida o suficiente para dar um endurecimento devido a formação de martensita. O aumento da temperatura abaixo da superfície é por condução apenas, portanto se a taxa de calor absorvido e as propriedades térmicas da amostra forem conhecido a distribuição de temperatura na amostra pode ser calculada e com isso é determinada a condição ótima do processo. As vantagens deste processo são (Ritter et alli, 1992): -O tratamento pode ser localizado. -O calor sendo bastante confinado dará pouca distorção, podendo ser usado para áreas selecionadas. -O tratamento pode ser realizado em peças acabadas. -O controle preciso da profundidade tratada é possível. -O processo pode ser facilmente automatizado, ou seja, softwares de automação podem ser usados para controlar os parâmetros. -A velocidade do processo são relativamente alta, levando a alta produtividade. O uso desta técnica se faz para reduzir o desgaste, aumentar a lubrificação, envelhecimento de metais, criar superfícies ricas em carbonetos. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Endurecimento por solidificação rápida A principal diferença entre este e o anterior é que neste caso a superfície deve ser fundida e portanto utilização de alta densidade de potência. As principais características desta técnicas são : -Taxa de solidificação rápida, produzindo uma estrutura extremamente fina. -Pouca penetração térmica. Isto resulta em pouca distorção e a possibilidade de operar próximo a materiais termicamente sensíveis. -Acabamento de superfície em torno de 25 μm é facilmente obtido. Três áreas de interesse atual, para utilização desta técnica incluem ferros fundidos, aços ferramentas e certos eutéticos que podem formar vidros intermetálicos em altas taxas de resfriamento. Endurecimento por formação de ligas superficiais Este processo é semelhante ao anterior , exceto que neste caso outro material é adicionado na poça fundida que se liga as primeiras camadas atômicas do substrato.Os elementosde liga adicionados difundem rapidamente na poça de fusão, resultando em profundidade desejada em curto período de tempo. As principais características deste processo são as seguintes (Tsai et alli, 1994): -Muitos materiais podem ser ligados em diferentes substratos. -A espessura da camada formada pode ser de 1-200 μm. -A região ligada apresenta microestrutura fina com mistura dos componentes homogênea; -Possibilidade de segregação mínima devido ao rápido resfriamento; -Outras características são semelhantes ao processo anterior. Cladagem por laser O objetivo deste processo é fundir uma liga na superfície de um substrato com um mínimo de diluição do substrato, a camada tratada apresentará microestrutura e propriedades completamente diferentes do substrato. O laser tem a capacidade de fundir ligas de elevado ponto de fusão em peças de baixo ponto de fusão, dentro das exigências requeridas do processo. O processo pode ser realizado colocando previamente o pó (material que se pretende reagir) sobre a superfície do substrato ou soprando o pó na poça fundida pelo laser. Outra opção é aplicar o material em forma de fio ou folhas finas. Aplicações típicas incluem assentos de válvulas, anéis de pistão, paredes de válvulas e outras aplicações que envolvam resistência ao desgaste abrasivo, erosivo, corrosivo e resistência ao impacto (Oakley, P. J.,1985) Endurecimento a laser por onda de choque Este processo consiste em revestir a superfície a ser tratada com um material opaco à luz do laser e depois com um material transparente. Quando o laser passa pelo material transparente, a energia do feixe é inicialmente absorvida pelo material opaco, vaporizando uma fina camada dele. O vapor então absorve o resto da energia do feixe, aquecendo-se e expandindo-se rapidamente e, confinado pelo material transparente, gera alta pressão. Parte da onda de choque da alta pressão penetra na peça quando o Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila material transparente é rompido, provocando um efeito semelhante ao shot - peening (Vaccari, J. A., 1993). Laser Melt/Particle Injection Neste processo há a formação de um compósito matriz metálica/partícula na superfície da peça, sem fusão da segunda fase, isto ocorre através da injeção das partículas, no estado sólido, na poça fundida por intermédio do laser, o processo pode ser observado na figura abaixo. Se a segunda fase é dura, como um carbeto, a camada formada (compósito) apresentará alta resistência ao desgaste. Figura 7 - Descrição do processo de laser Melt/Particle Injection. Laser CVD Este método atraiu, consideravelmente, pesquisadores da área de circuitos eletrônicos e de filmes resistentes ao desgaste, como TiC. A principal limitação do processo foi o aquecimento do substrato. Atualmente, lasers pulsados de alta potência são utilizados a fim de diminuir este problema. Ele consiste em soprar materiais quimicamente sensíveis sobre a superfície do substrato. Dessa forma são gerados vários pontos quentes, os quais experimentam a pirólise sobre a superfície (Ritter, U. et alli., 1992). Laser PVD Neste processo o laser é utilizado como aquecedor do substrato de forma a controlar a localização da condensação do vapor. Revestimento auxiliado por laser A irradiação por um feixe de laser em um substrato utilizado como catodo durante uma eletrólise causa uma modificação drástica na região irradiada. Os aspectos interessantes deste processo são: Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila - Possibilidade de aumentar a taxa de revestimento em áreas selecionadas. - Possibilidade de modificar a estrutura de revestimentos eletrodepositados. Devido a grande utilização de aços inoxidáveis em ambientes corrosivos, o emprego de técnicas de modificação de superfície tem sido adotado para aumentar a sua dureza e conseqüentemente a resistência ao desgaste, e uma técnica recentemente adotada é o processo de “laser alloying” (LSA) com pós de Si3N4, que aumenta a sua dureza e gera uma camada passivante que eleva a sua resistência a corrosão. 1.1.d - Endurecimento por centelhamento Neste processo, uma fina e dura camada é gerada pela ação de micro-arcos entre a superfície e o eletrodo de varredura. Um eletrodo positivamente carregado do material duro é colocado a vibrar contra outro carregado negativamente. Cada vez que o contato é feito, o material do eletrodo é rapidamente aquecido e resfriado resultando na transferência e difusão do material duro para o eletrodo negativo. Esse processo é usado em componentes de máquinas ferramentas e outros componentes onde a resistência ao desgaste seja desejável (Welsh & Watts, 1962). Recentemente, estudos foram dirigidos para aperfeiçoamento de técnicas de texturização superficial por subtração de biomateriais, envolvendo o uso de laser. A contaminação de superfícies de titânio que receberam técnicas tradicionais de texturização influenciou pesquisadores a desenvolver técnicas cuja realização não exigisse diferentes elementos químicos. O laser, por ser um feixe de luz concentrado, que necessita somente de um meio físico para propagar-se, foi utilizado para este fim. Estudos preliminares indicaram uma superfície mais regular quando da análise topográfica para implantes por laser, apresentando rugosidade com profundidade e diâmetro maiores ou menores de acordo com a programação de intensidade do pulso da fonte emissora. Além disto, o grau de contaminação superficial de implantes texturizados por laser, em comparação com as técnicas tradicionais de adição e subtração superficial, foi significativamente menor. 1.1.e - Endurecimento por feixe de elétrons Nesse processo, a superfície é aquecida rapidamente pelo bombardeamento direto de um feixe de elétrons acelerados, onde o processo é de fácil automatização, processo muito similar ao endurecimento por laser; sendo o feixe manipulado com o uso de espiras eletromagnéticas. Num ciclo de tratamento de 0,5 a 2,5s, o fluxo de elétron pára abruptamente para permitir que o componente sofra uma têmpera e assim formando uma estrutura martensítica com uma tensão compressiva na superfície da área endurecida. Como no endurecimento a laser, esse processo é normalmente adaptado para superfícies polidas, pois a transferência de energia rápida e controlada faz com que não provoque danos à superfície (Schiller et al., 1982). Esse processo é muito eficiente quando comparado com o laser (90% para 10%). Além disso, o custo de operação é a metade quando comparado ao endurecimento a laser. O processo é realizado num vácuo (0,5 x 10-2Pa ou ~10-4torr) ), visto que o feixe de elétrons dissipa-se facilmente no ar. Uma relação típica entre a profundidade de camada, temperatura da superfície e potência de entrada como função do tempo de tratamento são mostradas na figura 8. As Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila temperaturas são mantidas abaixo do ponto de fusão e ajustadas para produzir a profundidade de camada desejada. Figura 8 - Profundidade de camada, temperatura superficial e potência de entrada como função do tempo de tratamento durante o endurecimento por feixe de elétrons. 1.2 - Tratamentos termoquímicos Nesta classe de tratamentos estão aqueles onde ocorre reação química, termicamente ativada, da superfície com sua atmosfera. 1.2.a - Cementação A cementação é um processo termoquímico que objetiva a introdução de carbono na superfície do aço (acima da temperatura crítica, 850-950ºC, para austenitização). A finalidade do processo é conseguir peças com núcleo tenaz e superfície com propriedades tribológicas superiores. Os aços utilizados na cementaçãosão aqueles com médio e baixo teor de carbono, embora aços até 0,3%C seja o mais indicado para atender o compromisso de tenacidade do núcleo. A cementação é ainda usada com sucesso para substituir peças feitas de aço médio ou alto carbono que vão sofrer operações severas de dobramentos. Devido ao baixo alongamento, a tendência destas peças é se trincarem. Para solucionar tal problema, pode-se confeccioná-la com aço 1010, conformá-la e depois cementá-las totalmente, temperando e revenindo em seguida. Desta forma, o aço 1010, com a introdução do carbono na seção total, irá se comportar como um aço 1080 (Vendramin, 1994). Existem quatro meios diferentes de realizar a cementação, a saber: cementação sólida, cementação líquida, cementação gasosa e cementação em plasma. O processo deve ser seguido de têmpera e revenido para atingir máxima dureza e alta resistência ao desgaste sendo aplicável a aços de baixo carbono. Na superfície, o conteúdo de carbono fica acima da composição eutetóide decrescendo com a profundidade. A profundidade da cementação depende do tempo, temperatura, Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila concentração inicial de carbono no aço (se for o caso), natureza do gás de carbonetação ou do agente carbonetante e velocidade do fluxo do gás (se também for o caso). Cementação sólida A cementação sólida consiste na colocação das peças numa caixa de reação junto com o material cementante. A fonte fornecedora de carbono é constituida de carvão vegetal e um ativador (composto inorgânico, podendo ser carbonato de bário, sódio ou potássio ou óleo de linhaça (5 – 10%). Outra possibilidade está no uso de fórmulas previamente preparadas como o granulado Durferrit. Em qualquer caso, usa-se caixas como a apresentada na figura 9. Figura 9 - Caixa para cementação sólida. Nesse tratamento é aplicado temperaturas na faixa de 900 a 9500C, devido ao aumento da solubilidade dos elementos na matriz, assim como o aumento do coeficiente de difusão do carbono e a decomposição do material cementante. Entretanto, temperaturas demasiadamente elevadas podem acarretar um aumento excessivo na concentração de carbono na superfície do aço, o que torna a camada superficial frágil e quebradiça. Durante o aquecimento da caixa, formam-se dois gases, um deles proveniente da reação com o oxigênio existente nos poros do granulado de carvão e o outro de outras fontes de carbono e oxigênio oriundos dos compostos inorgânicos que atuam como ativadores (Coelho, 1978): C O CO C O CO + → + ⇔ 2 2 22 2 (4) (5) O monóxido de carbono reage quimicamente com o ferro do substrato, enriquecendo-o em carbono: 2 3 2 3 2 2 CO Fe Fe C CO CO C CO + ⇔ + + ⇔ (6) (7) Nessa última reação, o CO2 volta a combinar-se com o carbono do cementante e o ciclo reinicializa. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Pela figura 9, verifica-se que é dificil se atingir a uniformidade da camada, uma vez que a temperatura possui uma distribuição pouco uniforme, isto é, as partes mais próximas às paredes alcançam mais rapidamente a temperatura de austenitização. Uma vez atingida a temperatura, deixa-se um tempo, denominado de tempo de encharque, suficiente para atingir a profundidade de camada desejada, e em seguida tempera-se. A têmpera pode ser direta, isto é, da mesma temperatura de austenitização, ou as peças podem ser resfriadas, reaquecidas e temperadas de temperaturas mais baixas. A grande vantagem do processo é não necessitar de mão-de-obra especializada, nem fornos sofisticados. Em contrapartida, este processo resulta em baixa produtividade, não uniformidade de camada para espessuras até 0,5mm e impossibilidade de controle do potencial de carbono. Cementação líquida ou em banho de sais A cementação líquida utiliza o princípio ativo dos cianetos que, pela oxidação, produzem CO que entra em solução sólida no aço. Devido a decomposição do cianeto em cianato e deste em CO2 e N2, há também a formação de nitrogênio atômico que penetra em pequenas quantidades no aço, melhorando a resistência ao desgaste. Há dois tipos de cementação líquida: a de baixa penetração, utilizando temperaturas entre 800 e 9000C e a de grande penetração, utilizando altas temperaturas (900-9500C) (Vendramin & Vitorasso, 1994). Nas cementações a baixas temperaturas, o agente cementante ativo é o cianeto de sódio (NaCN) ou cianeto de potássio (KCN). Esses banhos são geralmente acelerados do tipo cianogênio contendo outros constituintes (10 a 23%NaCN, 20 a 40%NaCL, 30%Na2CO3(max.), 0,5 a 1%NaNCO, e KCl, outros sais de metais alcalinos e aceleradores). Várias reações ocorrem simultaneamente nessa baixa temperatura, dependendo da composição do banho, para produzir diferentes produtos finais, dentre eles o C, Na2CO3, N2 ou 2N, CO, CO2, Na2CN2(cianamida), e NaCNO. As duas principais reações que se acredita ocorrer durante o banho são são a formação da cianamida e a decomposição do cianeto para cianato. Estas reações são (Bhushan & Gupta, 1991): 2 2 2NaCN Na CN C⇔ + e a formação de cianetos em cianatos (8) 2 22NaCN O NaNCO+ → (9) Ou NaCN CO NaNCO CO+ ⇔ +2 (10) Reações que influenciam o conteúdo de cianato são as seguintes: NaNCO C NaCN CO+ → + (11) e ainda NaNCO O Na CO CO N+ → + +2 2 2 42 2 3 (12) ou ainda Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila 4 4 2 62 2 3NaNCO CO Na CO CO 4 N+ → + + (13) As reações que produzem ou CO ou C, que são importantes no controle da espessura da camada, são: Fe CO Fe C CO+ → +2 2[ ] (14) e Fe C Fe C+ → [ ] (15) Os banhos para cementações de penetração profunda consistem basicamente de cianetos e uma maior proporção de cloreto de bário com ou sem aceleração suplementar de outros sais de metais alcalinos terrosos (6 a 16%NaCN, 30 a 55%BaCl2\, 30%Na2CO3(máx.), 0,5%NaNCO(máx.), e sais de outros metais alcalinos terrosos, Kcl, NaCl, e aceleradores). Embora as reações mostradas para baixa temperatura também se aplica em algum grau para altas temperaturas, a principal reação é a formação da cianamida (Bhushan & Gupta, 1991): Ba CN BaCN C( )2 2→ + (16) Na presença de ferro, a reação será: Ba CN Fe BaCN Fe C( ) [2 2+ → ]+ (17) Embora em pequenos teores, pela decomposição do cianato, sempre ocorre a evolução de nitrogênio nascente que também entra em solução sólida no ferro. Cementação gasosa Ela é consideravelmente mais simples e mais largamente usada que os processo de banho de sais e cementação sólida. Ela consiste em aquecer a peça num meio gasoso contendo carbono (Bhushan & Gupta, 1991), o gás propano, raramente gás natural e, atualmente com bastante sucesso, o álcool etílico (Vendramin & Vitorasso, 1994). Os principais constituintes da atmosfera são CO, N2, H2, CO2, H2O, e CH4. Desses constituintes, N2 é inerte, atuando como um diluente. Nesses casos a cementação ocorre principalmente como resultado da decomposição do monóxido de carbono (Stickels et al., 1981) como 2 2CO C COFe→ +( ) (18) e ( ) OHCHCO Fe 22 +→+ (19) Um processo cementante baseado apenas na decomposição de CO deve requerer um grande fluxo de atmosfera gasosa. O enriquecimento com o gás metano ou propano, fornece a fonte primária do carbono para a cementação pelas reações lentas como Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila CH CO CO H4 2 2 2+ → 2+ (20) e CH H O CO H4 2 3+ → 2+ (21) que reduzem as concentrações de CO2 e H2O, respectivamente. Essas reações regenera o CO e H2. O controle do potencial da atmosfera do forno é realizado variando-se ofluxo de hidrogênio e mantendo um fluxo constante do gás endotérmico. Esse processo tem como vantagem em relação a cementação sólida e a líquida, o seguinte: (i) mistura carbonetante permanece estável durante toda a cementação; (ii) possibilidade de um melhor controle do teor de carbono e consequentemente da camada cementada; (iii) facilidade da cementação de peças delicadas; (iv) evita a oxidação; (v) permite a têmpera direta após a cementação (sem contato com o ar e sem reaquecimento); (vi) o processo é limpo (não precisa de limpeza posterior); (vii) a penetração do carbono é rápida e as deformações por tensões são menores. Tendo como desvantagem: (i) a temperatura e a mistura carborizante necessitam rígido controle durante o processo; (ii) as instalações são complexas e dispendiosas; (iii) as reações são complexas. Cementação a plasma Esse processo utiliza o plasma como fonte energética. Sendo o plasma criado por uma ionização do gás (metano) a baixa pressão, fazendo com que o carbono iônico seja transferido para a superfície da peça. Esse processo tem como vantagem: (i) tempos de processo menores (~30 % em relação à gasosa); (ii) a peça não sofre oxidação, já que o processo é feito sob vácuo; (iii) fácil automatização; (iv) produção de peças de alta qualidade. Ele será exaustivamente discutido juntamente com o processo de nitretação a plasma, neste curso. 1.2.b - Carbonitretação Esse processo é uma forma modificada da cementação. Nele, tanto o carbono como o nitrogênio são introduzidos simultaneamente na superfície do aço na condição austenítica, em temperaturas entre 800 e 8700C usando ou um meio líquido ou um meio gasoso e depois temperando. A quantidade difundida de carbono é superior a do nitrogênio; para uma camada típica de aço doce (0,08C; 0,19Si; e 0,4Mn), a quantidade de C e N é encontrado na ordem de 0,80% e 0,26%, respectivamente. O nitrogênio aumenta a dureza mais efetivamente que carbono. Assim, a carbonitretação é usada, principalmente, para aumentar a resistência ao desgaste. Embora sendo um processo derivado da cementação, a carbonitretação possui uma limitação de espessura de camada atingida, não superior a 750μm enquanto na cementação praticamente não existe limite de espessura. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Carbonitretação líquida Também chamado de carbonitretação em banho de sais ou cianetação, é um processo em que o aço é aquecido acima da temperatura de austenitização num banho contendo cianetos alcalinos e cianatos. A superfície do aço absorve carbono e nitrogênio dos sais fundidos. Quando temperados em óleo mineral, óleo à base de parafina, água ou salmoura, o aço desenvolve uma camada superficial dura que contém menos carbono e mais nitrogênio que a cementação líquida. O agente carbonitretante ativo é o cianeto de sódio (NaCN) com uma concentração de 30 a 97%. Os sais inertes de cloreto de sódio e carbonato de sódio são adicionados ao ao cianeto para aumentar a fluidez e controlar o ponto de fusão de toda a mistura.As vantagem em relação à cementação são: maior rapidez; maior resistência ao desgaste e a corrosão e menor temperatura de processo. Carbonitretação gasosa É uma modificação do processo de cementação gasosa. A prática usual é adicionar quantidades específicas de amônia na atmosfera cementante através do controle da taxa de entrada de gases inertes entre 3 e 8%. A concentração de nitrogênio no aço é função tanto da temperatura como da quantidade de amônia. A temperatura típica do banho é 8500C, quando menos amônia e distorção são requeridas. Após o tratamento, o aço é endurecido do mesmo modo que na cementação gasosa. As propriedades encontradas nos aços carbonitretados são semelhantes às encontradas nos aços cementados, com algumas pequenas diferenças: • A dureza da superfície é aumentada, uma vez que a têmpera pode ser realizada em óleo, em vez de água, com pouco risco de trincamento. • Maior resistência ao desgaste e à corrosão para muitas condições de serviço. • Resistência ao envelhecimento é superior. • Melhor resistência ao desgaste adesivo. 1.2.c - Nitretação Embora a primeira patente para nitretação de aços tenha sido registrada em 1913, por Adolph Machlet, o processo tornou-se comercialmente viável somente após o trabalho publicado por Adolph Fry em 1929 (Fry, 1986). Este trabalho tratou do desenvolvimento de aços especiais, contendo alumínio, os quais aumentavam consideravelmente a dureza da camada nitretada, conhecidos atualmente pelo nome de “nitralloy”. Além destes resultados, ele também sugeriu alguns trabalhos de caráter básico e também forneceu inúmeros resultados de pesquisas relacionadas com a teoria da dureza aplicadas na nitretação. Os materiais disponíveis até aquela época (1913 - 1929), quando expostos a uma atmosfera de amônia, embora produzisse uma camada muito dura, ela era apenas superficial tendo assim, uma aplicação muito limitada (Homemberg & Walsted, 1986). Após o surgimento destes aços começaram a surgir inúmeras patentes relacionadas com processos para nitretação de aços. A figura 10 apresenta um diagrama mostrando os principais processos existentes, até o momento, para nitretação de aços em temperaturas inferiores a 600° C. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila em amônia em amônia + hidrogê nio ou nitrogê nio em amônia + hidrogê nio + ar ou oxigê nio amônia + gá s natural amônia + gás endotérmico amônia + gá s exoté rmico em amônia + componentes contendo carbono Nitretaç ã o Gasosa banho de cianetos banho de cianetos-cianatos banho de carbonatos banhos de soda - nitratos banhos contendo enxôfre Nitretaç ã o Lí quida Nitretaç ã o Iônica NITRETAÇÃO ( T < 600° C) Figura 10. Processos de nitretação comercialmente popular (Kurney et al.; 1986). Todos estes processos possuem em comum a criação de nitrogênio atômico necessário para a formação da camada nitretada, mudando apenas o meio saturante (Kurney et al., 1986). De um modo geral, o processo de nitretação consiste de três etapas. A primeira etapa é a formação do nitrogênio atômico como resultado das diversas reações químicas (Novikov, 1994), a segunda etapa é a adsorção dos átomos de nitrogênio na superfície da peça e a terceira é a difusão dos átomos adsorvidos desde a superfície para o interior da peça. De um modo geral, o processo de nitretação permite: ¾ Obter alta dureza superficial; ¾ Obter elevada resistência ao desgaste; ¾ Melhorar a resistência à fadiga, à corrosão e ao calor; ¾ Propicia um menor empenamento das peças, já que é realizado a temperaturas mais baixas; ¾ Não necessita de tratamento térmico posterior. Considerações gerais do processo de nitretação: ¾ O tratamento térmico(com têmpera e revenido) se desejado deve ser realizado antes da nitretação; ¾ A nitretação promove um aumento nas dimensões da peça; ¾ Depois de um tratamento de nitretação só é possível retificar, não sendo possível usinar porque a superfície é muito dura. Nitretação em amônia Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Neste processo, a nitretação é realizada numa atmosfera de amônia numa temperatura entre 500 e 565°C. A amônia, nestas condições, dissocia-se parcialmente na superfície da peça liberando assim o nitrogênio nascente, de acordo com a equação 22. ( )Fe2233 NHNH +⇔ (22) O nitrogênio produzido combina-se com a ferrita formando nitreto de ferro ou forma nitretos complexos, de alta dureza, com os elementos de liga do aço. O processo é controlado medindo o fluxo de amônia e determinando a porcentagem de dissociação. A porcentagem de dissociação aumenta através do aumentoda temperatura ou diminuindo o fluxo de amônia (Gilder, 1977). Tipicamente o processo é conduzido numa condição tal que a dissociação de amônia esteja entre 15 e 30%. Este processo produz uma camada frágil, rica em nitrogênio, conhecida como camada branca, seguida de uma zona de difusão. Uma alternativa deste processo é o processo Floe, o qual consiste de uma nitretação em dois estágios. Ela é realizada com a finalidade de minimizar a camada branca. Consiste em nitretar a peça inicialmente em 525°C, com 20% de dissociação de amônia, durante 5 - 8 h, seguido de uma outra etapa em 550°C com uma dissociação de amônia entre 80 e 85%. Este segundo estágio serve como um ciclo de difusão com a superfície tendo uma alta concentração de nitrogênio. Processos Modificados Foi observado que o uso de adições de outros elementos à mistura gasosa muda, apreciavelmente, a composição da superfície nitretada e a cinética de nitretação. Adições de oxigênio, vapor d’água e ar na atmosfera do forno acelera o processo de nitretação (Kurney et al., 1986). Foi observado (Bell, 1977) que a espessura da camada de compostos de um aço nitretado numa mistura de 50% NH3 / 50% CH4 , varia com a adição de oxigênio. Para adições entre 0,5 e 2% de oxigênio, a camada variou de 10 - 15 μm de espessura, para um tratamento de duas horas. Rogalski et al. (Rogalski et al., 1976) observaram que a adição de 5% de H2O numa atmosfera de amônia, aumenta a espessura da camada nitretada quando aplicada a aços rápidos. Embora a adição de oxigênio aumente a cinética da nitretação, a sua dureza diminui sistematicamente. Ainda para aços rápidos, observou-se que a dureza diminui de 1300 HV (nitretado em amônia), para 900 HV (oxinitretado em 75% H2O + 25% NH3 ). Também foi observado (Gilder et al., 1977) que a passivação de aços contendo Cr pode ser eliminada através da adição de cloro e seus compostos, na atmosfera do forno. A ação positiva do cloro na nitretação destes aços não é devido a quebra do filme óxido mas, principalmente, devido a um acréscimo na energia dos elementos interagentes, que levam a um aumento na emissão eletrônica da superfície tratada e um maior numero de íons negativos de amônia na zona de adsorção. Outras modificações da mistura gasosa também pode ser feita introduzindo gás natural, gás endotérmico ou gás exotérmico à amônia. O gás endotérmico adicionado é o propano e o processo que faz uso do mesmo é conhecido como Nitemper, desenvolvido pela Ipsen Company (U.S.A), em 1970. Ele consiste de uma mistura de 50% de NH3 e 50% de propano. Algumas alternativas deste processo é encontrado em outros paises como a Alemanha onde ele é denominado de Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila “Nkotriding” e no Japão onde é denominado de “Naitemper” (Kurney et al., 1986). Outro processo igualmente conhecido é o “Nitroc” desenvolvido na Alemanha. Este processo utiliza gäs exotérmico não purificado como meio carbonitretante, para aumentar a formação de carbonitretos ε. O nível de amônia utilizada é geralmente 50% do fluxo do gás exotérmico (Bell, 1977). Nitretação líquida Esta técnica emprega a mesma faixa de temperatura que a nitretação gasosa, isto é, entre 500 e 570°C. Assim como na cementação líquida, o meio nitretante é constituido de sais de cianetos fundidos (como por exemplo: NaCN, Na2CO3, KCN, KCNO, KCl). Porém, ao contrário da cementação, ela é realizada em abaixo da temperaturas de transformação do aço a ser tratado. Além disso, a nitretação líquida adiciona mais nitrogênio e menos carbono ao aço. Em geral, o uso da nitretação líquida e nitretação gasosa são semelhantes entretanto, em aplicações onde se requer profundidades de camadas mais duras, a nitretação gasosa é preferida, e o tempo de tratamento é de no máximo de 2 horas. Em casos onde se deseja nitretar aços carbono com uma boa camada de compostos, utiliza-se a nitretação líquida (Gilder, 1977). Nitretação em Banho de Sais Fundidos A distinção precisa entre os vários métodos que utilizam sais fundidos é muito difícil devido ao grande número de patentes. No entanto, todos os processos são oriundos, basicamente, de duas patentes inglesas, comercialmente conhecidas por “Tufftride” e por “Sulfinuz” (Santos, 1987). Em ambos, as amostras são pré - aquecidas entre 350 e 400°C, e depois carbonitretadas a 570°C. Os processos se desenvolvem através de uma reação de oxidação e de uma reação catalítica. No método “Tufftride”, tem-se a oxidação do cianeto de sódio, transformando-se em cianato, conforme a reação: 4 2 42NaCN O NaCNO+ → (23) A reação catalítica ocorre quando o cianato entra em contato com a superfície do aço, produzindo o seguinte resultado: 4 22 3NaCNO Na CO NaC 2N CO N→ + + + (24) No método “Sulfinuz”, as reações são: Na SO NaCN Na S NaCNO2 3 23 3+ → + (25) 4 22 3NaCNO Na CO NaC 2N CO N+ + + + (26) Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila A função do enxofre ou cloro neste último, é acelerar a formação do cianato. Um banho típico é composto de 60 a 70% ( em peso) de sais de sódio ( NaCN, Na2CO3 e NaCNO) e 40 a 30% de sais de potássio ( KCN, K2CO3, KCNO e KCl ) operando em torno de 570 °C. Este banho deve ser envelhecido por 12 h, numa temperatura entre 570 a 590°C, antes de sua utilização. Este envelhecimento serve para diminuir o conteúdo de cianeto e aumentar o cianato e carbonato. Demonstrou-se que a taxa de nitretação e as propriedades da camada nitretada depende do teor de cianato no banho (Kurney, 1986). Os seguintes procedimentos devem ser obedecidos para se ter um bom resultado na nitretação líquida : i) O banho deve ser envelhecido e o conteúdo de cianato mantido constante. ii) As peças devem ser apropriadamente limpas, desengorduradas e pré - aquecidas, para ser introduzidas no banho. iii) O banho deve ser analisado periodicamente e as composições restabelecidas. Os produtos de oxidação deve ser eliminados. iv) Superaquecimento do banho acima de 600°C deve ser evitado. v) Os sais devem ser trocados após 3 a 4 meses de operação. vi) Geralmente, cadinhos de Ti ou revestidos de Ti dão melhores resultados. Em temperaturas superiores a 570°C, carbonatos e nitratos são formados, o consumo de sal aumenta e as propriedades do núcleo e da camada são inferiores. Em temperaturas inferiores, nitretos contendo carbono são formados, o processo torna-se mais lento e as propriedades da superfície deterioram devido a formação de nitretos indesejáveis (Santos & Baumvol, 1986). A principal desvantagem destes banhos está na toxidez e impregnação de resíduos sólidos na peça. Processos Especiais Assim como na nitretação gasosa, vários processos foram desenvolvidos usando adititivos para acelerar a atividade química do banho e melhorar as propriedades obtidas. Dentre eles pode-se citar: a) Nitretação em banho pressurizado - Neste processo a amônia é injetada num banho de cianetos-cianatos e mantida a uma pressão entre 1 a 30psi (Kurney, 1986). A dissociação da amônia é controlada pelo seu fluxo cujo valor está entre 15 e 30% (Gilder et al., 1977). A profundidade da camada nitretada também depende da temperatura e tempo de tratamento, no entanto um ciclo típico está em torno de 24 h, embora possa variar de 4 a 72 h. Se a dureza no núcleo deve ser mantida, recomenda-se, igualmente aos demais processo de nitretação, uma temperatura de revenimento com 30°C a mais que a temperatura de nitretação. b) Nitretação em Banho Aerado - Neste processo, quantidades medidas de ar são bombeadas através de um banho de sais fundidos. A introdução do ar aumenta a agitação e a taxa de nitretação devido a formação de mais Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimentode Superfícies – Apostila cianato. Este processo também é conhecido como nitretação ativada (Kurney et al., 1986). O teor de cianeto deste banho, calculado como NaCN, é preferencialmente mantido entre 50 - 60% do conteúdo total, enquanto o cianato fica entre 32 e 38% e o restante do banho sendo carbonato de sódio (Gilder et al., 1977). Este processo produz uma camada de difusão de 300 μm de profundidade em aços de médio ou baixo carbono, para um ciclo de 1,5 h. A camada superficial é composta da fase ε e cementita. A camada de compostos é normalmente mais espessa que no método de nitretação gasosa. c) Sulfocianetação - Neste processo, o aço é saturado simultaneamente com carbono, nitrogênio e enxofre. O enxofre, em quantidades de 2 - 25 % é adicionado ao banho de sais. A estrutura de uma camada sulfocianetada é a mesma que aquela obtida na nitretação líquida, exceto que ela possui uma fina camada de sulfeto na superfície. Este processo é também conhecido como o “Sursulf” ou “Soft Nitriding”. Tratamentos termoquímicos por plasma a) Nitretação iônica Praticamente tudo que será discutido neste item, poderá ser usado também para a cementação iônica. A principal diferença deste para a cementação iônica é que no segundo a atmosfera é cementante e a peça precisa sofrer um resfriamento rápido. Um equipamento típico de nitretação iônica está esquematizado na figura 11. Ele é constituído basicamente de um sistema de vácuo, uma fonte de potência e um reator. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 11 - Esquema básico de um equipamento para nitretação iônica (Jones et al., 1973). O sistema de vácuo deve ser capaz de atingir em torno de 10-2 torr de pressão e possuir válvulas para controlar a vazão dos gases introduzidos para tratamento. A fonte de potência possui uma saída d.c com uma voltagem máxima de aproximadamente 1500V e uma corrente capaz de fornecer energia à peça para que ela seja aquecida a uma temperatura entre 300 e 600° C (Jindal, 1978; Jones et al., 1973; Collignon, 1976; Alves Jr., 1991). No reator estão dois eletrodos onde o catodo é também o porta amostra. Ainda no reator devem existir saídas para medida da pressão, temperaturas e outras variáveis desejadas para o melhor controle do processo. Devem ter ainda entradas para a atmosfera nitretante, bomba de vácuo e outros acessórios que sejam necessários à nitretação da amostra. Inicialmente um vácuo de aproximadamente 10-2 torr é produzido no reator. Aplica-se uma diferença de potencial entre os eletrodos, entre 400 e 1200V e então introduz-se o gás nitretante (tipicamente uma mistura de N2- H2) no reator até atingir a pressão de trabalho (1-20torr). Para pressões baixas a descarga possui um brilho de cor rósea de pequena intensidade que é característico do material do catodo (geralmente aço) e do gás. À medida que se aumenta a pressão, este brilho vai ficando mais intenso e mais localizado em torno do catodo, até que se atinge uma condição de descarga propícia à nitretação, como é mostrada na figura 12. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 12 - Curva de voltagem vs. corrente, mostrando a condição onde ocorre a nitretação iônica. Nestas condições o plasma já está revestindo completamente o catodo e a peça a ser nitretada. Os íons deste plasma estão sendo acelerados para a superfície do catodo onde diversos efeitos ocorrem, dentre eles o aquecimento da peça devido ao bombardeamento pelos íons (Edenhofer, 1974). Outros efeitos que também ocorrem é a criação de defeitos na rede cristalina e o arrancamento de átomos superficiais da peça (sputtering). Esses átomos arrancados reagem com as espécies ativas do plasma, formando nitretos primários que são redepositados na superfície e recombinados para nitretos secundários mais estáveis. Dessa recombinação surgirá o nitrogênio de excesso que irá difundir para dentro do material. Através desse mecanismo duas zonas são formadas na peça; a mais superficial constituida de nitretos Fe2-3N - ε e Fe4N - γ’, denominada de zona de compostos e a zona mais interna formada por uma solução sólida de nitrogênio em ferro e precipitados dispersos de nitretos de elementos de liga, denominada de zona de difusão (Edenhofer, 1974). A figura 13 detalha esse mecanismo. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 13 - Mecanismo da nitretação iônica segundo Kölbel (Edenhofer, 1974) A temperatura da peça devido ao bombardeamento iônico é então controlada pela corrente até o valor desejado. A partir daí é contado o tempo de duração do processo. Após este tempo, a fonte é desligada e a peça é deixada resfriar naturalmente. O sucesso da nitretação iônica deve-se, além do caráter ecológico, às inúmeras vantagens da mesma sobre os processos convencionais . Elas podem ser sumarizadas como se segue (Kurney et al., 1986): i. Baixa temperatura de tratamento - Em temperaturas tão baixas como 300° C é possível se realizar a nitretação, evitando assim distorções dimensionais que normalmente ocorrem em tratamentos a maiores temperaturas. A nitretação em baixa temperatura também é particularmente importante em peças que já tiveram um tratamento térmico anterior para endurecimento do núcleo, pois a dureza do mesmo será menos reduzida em baixa temperatura de tratamento (Casteletti et al., 1994). ii.Controle da camada - A estrutura da camada pode ser completamente controlada através das variáveis do processo. Pode-se, com facilidade, produzir uma fina e tenaz camada monofásica de γ' (~1-8μm de espessura) ou então uma Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila espessa camada (~1-26μm) monofásica de ε, as quais são escolhidas dependendo da aplicação. iii. Tempo de tratamento inferior - O tempo efetivo de tratamento é inferior aos dos processos convencionais. Comparada com a nitretação gasosa, que apresenta tempos de 40 a 60h, na nitretação iônica obtém-se a mesma espessura de camada num tempo máximo de 20 h, utilizando a mesma temperatura de tratamento. Esta taxa acelerada de nitretação pode ser atribuída à transferência mais efetiva de nitrogênio do plasma para a superfície do metal e à presença de outras espécies ativas no plasma. iv. Uniformidade na espessura da camada - O plasma é uniforme em toda a superfície da peça, assim a espessura da camada é extremamente uniforme independente da distância entre eletrodos. v. Nitretação de partes da peça - O revestimento de estanho e cobre utilizado como proteção contra a nitretação convencional não pode ser utilizado na nitretação iônica. Ao invés disso, áreas que não se pretende nitretar podem ser protegidas com materiais isolantes ou com materiais metálicos sem haver necessidades de grandes ajustes entre a peça e a máscara. Normalmente é utilizado, como máscara de proteção contra a nitretação, aço carbono comum cuja folga máxima entre a máscara e a peça deve ser em torno de 1mm (Jones et al., 1986). vi. Possibilidade de desnitretação - A desnitretação é facilmente conseguida através de um tratamento em plasma utilizando apenas hidrogênio como atmosfera em fluxo contínuo. Através da formação de amônia, o nitrogênio vai sendo retirado da peça e sendo levado para fora do sistema. vii. Mais Economia - O custo da energia e do gás é bem menor que nos processos convencionais. Na nitretação se trabalha a uma baixa pressão (1-20 torr) e um fluxo muito baixo (menor que 25 sccm), diminuindo o consumo do gás, que apresenta também um custo inferior quando comparado com os sais de cianetos utilizados no banho químico. Quanto ao consumo da energia, o aquecimento é realizado diretamentesobre a peça, não necessitando aquecer nenhuma parede refratária, como ocorre nos fornos resistivos. Além disso, a transferência de calor por condução e convecção é muito baixa, de forma que o rendimento de um aquecimento a plasma chega até a 80% (Petitjean, 1982). De um modo geral, a manutenção do equipamento de nitretação possui um custo inferior ao custo da nitretação convencional. Obviamente algumas limitações existem na aplicação deste processo. A grande maioria das limitações já possui boas soluções que serão comentadas posteriormente. Outras limitações passam a ser vantagens sob alguns aspectos. Essas limitações podem ser sumarizadas como se segue: a.Efeito em catodo oco - Este efeito ocorre em peças com geometria complexa (Ahmed, 1987). Ele se baseia no aumento da densidade do plasma em algumas regiões que possuem pequenos furos ou concavidades que leva a um aumento da concentração de elétrons secundários na região. A figura 14 ilustra dois tipos de configurações sensíveis ao efeito de catodo oco. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila (a) (b) Figura 14 - Exemplos de confinamento de elétrons. (a) Eletrodo em forma de calota. Os elétrons são focalizados. (b) Eletrodo vazado. Os elétrons secundários são refletidos pelas paredes, aumentando seu tempo de residência no plasma. Na figura 14a, os íons bombardeando a superfície da peça liberam elétrons secundários que são focalizados numa região, aumentando dessa forma, a densidade do plasma (Dugdale, 1971). O aumento desta densidade afetará a temperatura da peça e a taxa de sputtering na superfície próxima a esta região. Na figura 14b ocorre também um confinamento de plasma, mas desta vez não é devido a focalização de elétrons secundários e sim por reflexão dos mesmos. Os elétrons secundários que são gerados em uma das superfícies dirigem-se para a superfície frontal, na qual são repelidos. Este efeito também aumentará a densidade do plasma e provocará resultados semelhantes ao caso da focalização discutida anteriormente. Este efeito é quase sempre indesejável porque leva a um maior aquecimento nas partes da peça que possuam geometrias complexas. Num tratamento de nitretação em peças com pequenos furos (φ = 5 mm), a diferença de temperaturas entre partes planas e o fundo do furo pode chegar mais que 100° C (Alves Jr, 1993). O efeito catodo oco pode ser aplicado quando se deseja aumentar o dano superficial, ou seja, para uma mesma temperatura de processo, produz-se mais defeitos na superfície que na nitretação iônica convencional, esse método é conhecido como Nitretação em Catodo Oco. Este método consiste em nitretar a peça numa atmosfera altamente ionizada. A alta ionização é conseguida porque os elétrons no plasma são obrigados a refletirem sucessivamente entre duas superfícies catódicas. A Figura 15 ilustra esta situação. Elétrons são repelidos pelo cátodo central que pode ser a peça que se deseja nitretar em direção aos cátodos externos. Ao se aproximarem destes, são também repelidos realizando, assim, um movimento de zig-zag que aumentará a taxa de ionização da região em questão. Uma alta densidade de íons significará maior bombardeamento na superfície, ocasionando uma alta incidência energética. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 15 - Desenho esquemático de uma amostra na nitretação em cátodo oco. Uma aplicação desse método está sendo desenvolvida pelo grupo de biomateriais da universidade Federal do Rio grande do Norte, que utiliza a Nitretação em Catodo Oco para nitretar implantes de titânio aplicados na odontologia. Esse método tem se mostrado eficaz tanto na cinética de formação da camada, como na criação de defeitos (rugosidade). A observação, por microscopia eletrônica de varredura, da superfície dos implantes nitretados indicam uma textura adequada para uma boa Adesão celular. A Figura 16 mostra um implante nitretado em descarga de catodo oco. Figura 16 - Textura da superfície de um implante nitretado, mostrando regiões de oclusões. b.Efeito da razão A/V - Um outro efeito igualmente indesejável na nitretação de peças é o superaquecimento em partes da peça que possuam uma maior relação entre a área superficial e o volume (A/V). Diferentemente dos métodos de aquecimento convencionais, na nitretação iônica a energia para aquecimento da peça é cedida através do bombardeamento de íons e espécies neutras energéticas na superfície da peça. A eficiência deste mecanismo pode chegar até 90% e depende da pressão e composição do gás (Ruset, 1991). A densidade de potência na superfície da peça não é constante. Ela depende significativamente da densidade de corrente que por sua vez está relacionada com a geometria da peça. Como a temperatura de uma determinada área da peça é estabelecida pelo equilíbrio entre a potência catodos Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila fornecida pelo bombardeamento e a potência dissipada por condução, convecção e radiação, espera-se que, numa peça que possua partes com razões A/V diferentes, haja um superaquecimento naquela área com maior razão A/V. Este caso é ilustrado na figura 17 e 18. Na figura 17 tem-se uma única peça com razões A/V diferentes. A parte inferior possui um volume de aproximadamente três vezes maior do que o volume da parte superior. Entretanto, a área superficial da parte inferior é apenas ligeiramente maior que a área da parte superior, assim, tem-se que a potência fornecida para as duas partes é aproximadamente a mesma, entretanto, a potência dissipada, principalmente por condução através da peça, são bem diferentes. Haverá então um superaquecimento da parte superior da peça. Na figura 18 o efeito ocorre quando colocam-se cargas de geometrias diferentes para serem nitretadas simultaneamente. O raciocínio é o mesmo seguido para a figura 17. As duas peças possuem a mesma massa, mas a potência de entrada da peça da figura 18a é aproximadamente três vezes maior do que a da peça da figura 18b (Grün & Günther, 1989). Figura 17 - Aquecimento diferenciado numa peça com razão A/V diferente, em diferentes partes. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila Figura 18 - Aquecimento diferenciado em peças com geometrias diferentes. A peça da figura (a) possui o mesmo volume que a peça da figura (b) c. Abertura de arcos catódicos - Quando partes de geometrias complexas como furos, arestas, pontas, cantos, microprojeções, contaminantes adsorvidos, contornos de grãos, etc.(Schwirzke, 1991) são nitretados, haverá normalmente um confinamento de plasma nestas regiões, como discutido anteriormente. Se este confinamento gerar uma densidade de corrente superior àquela existente na descarga anômala, haverá a abertura de arcos (Rossnagel et al. 1989). Quando o arco é aberto, haverá uma queda de potencial e, como este novo potencial é normalmente inferior à tensão de ruptura, o plasma se extinguirá. Por outro lado, se o equipamente for de alta potência, haverá uma fusão localizada, que poderá danificar as peças. Em aplicações industriais, peças como matrizes, bicos de injeção, virabrequins, pinhões, moldes de injeção para plásticos, entre outros, são suscetíveis aos efeitos de superaquecimento e abertura de arcos se a fonte de potência utilizada for de tensão contínua. d. Penetração do plasma em pequenos furos - No capítulo passado discutiu-se a existência da bainha catódica entre a luminescência negativa e a superfície da amostra. Foi visto que a largura desta bainha é de aproximadamente 1mm em 15 torr e que varia inversamentecom a pressão. É nesta região onde ocorrem todas as reações dos átomos da superfície com as espécies do plasma e também onde os íons são acelerados para bombardear a superfície. Quando nitreta-se peças com pequenos furos, existirá um limite de diâmetro abaixo do qual o plasma não penetrará. Este limite é de aproximadamente duas vezes a largura da bainha catódica (Chapman, 1980). Neste caso, a parte interna do furo não será nitretada. Na verdade esta limitação pode se transformar numa vantagem, caso não se pretenda nitretar o furo. Para isto, qualquer que seja o diâmetro do furo, pode-se variar a pressão até um valor tal que a largura da bainha tenha um valor no qual não exista penetração de plasma. A figura 19 ilustra estas situações (Grün & Günther, 1989). Figura 19 - Processo de cobertura do plasma em peças com pequenos furos. A pressão em (a) é menor que em (b), dificultando assim a penetração do plasma nos furos. e. Taxa de aquecimento - Existe um compromisso entre a pressão, a temperatura e a faixa de densidade de corrente para a descarga anômala, que pode ser assim Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila resumido: Se a temperatura da peça é baixa ou se a pressão no reator é alta, ou ambos, a faixa de densidade de corrente para a descarga anômala é estreita e levará a um plasma instável e um alto risco de abertura de arco. Se a temperatura da peça é alta ou se a pressão no reator é baixa, ou ambos, a faixa de densidade de corrente para a descarga anômala será alargada, o plasma será estável sem risco de abertura de arcos. Entretanto, em baixa pressão haverá uma baixa taxa de aquecimento o que torna o processo inviável. Quando inicia-se o processo, a situação se encontra na primeira condição, temperatura baixa. Para se aquecer a peça, sem risco de instabilidade do plasma, é preciso elevar a pressão lentamente até que a peça atinja uma temperatura alta (~ 200° C), para então elevar a pressão até o valor de trabalho. Este procedimento torna o aquecimento da peça extremamente lento (Grün & Günther, 1989). Cementação iônica Toda a discussão anterior para a nitretação iônica é válida para a cementação, com exceção de algumas complementações como a atmosfera utilizada, temperatura de tratamento e a taxa de resfriamento. Nesse processo é utilizada uma atmosfera de metanol, numa temperatura entre 850 a 9000C e taxas de resfriamento superiores a nitretação iônica. A figura 20 mostra a variação da temperatura e pressão, assim como a atmosfera utilizada num processo de cementação iônica típico (Akutsu & Nakamura, 1989). Figura 20 - Variação da temperatura e pressão durante um tratamento típico de cementação em plasma. Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila 1.2.d - Boretação A boretação é um processo desenvolvido principalmente para a indústria aeroespacial e aplicado em aços carbono e aços de baixa liga (Bibbulph, 1974; Carbucichio et al., 1980; Liliental et al., 1983; Rus et al., 1985). Mas também esse processo pode ser aplicado para aços baixa liga austeníticos; ligas não-ferrosas (níquel e cobalto); metais refratários como Ti e Ta; e carbonetos metálicos ligados, tais como WC-Co, para aumentar sua resistência ao desgaste (Sakai, 1985). Superfícies extremamente duras são obtidas por esse processo e alta resistência ao desgaste se a abrasão e triboxidação são os principais mecanismos de desgaste atuando. A boretação pode ser realizado em meios sólidos, líquidos, gasoso e plasma, em temperaturas normalmente entre 9000C e 11000C, por 1h a 6h de tratamento, dependendo do processo e do substrato. O método mais utilizado é a boretação em caixa, em que o substrato é enrolado em compostos de boro ou carbonetos de boro com ativadores. Esse método é tecnologicamente mais simples e particularmente apropriado para produção em pequena escala. A boretação líquida e gasosa atraiu menor interesse nos últimos anos, devido a sua alta toxidade de produtos químicos utilizados. A camada boretada pode ter espessuras até 100μm. Consiste de boretos de ferro, isto é, FeB (16,5%B) e Fe2B (8,84%B), com o primeiro concentrada na superfície com numa camada bifásica. O FeB é mais duro em aços médio carbono e mostra um valor entre 1800 e 2000HV, enquanto o Fe2B é mais mole, mais dútil e mais homogênea com dureza entre 1500 e 1600HV. Uma composição usada por St. John e Sammells (1981) para boretação sólida era composta de 20%molB4C, 5%molKBF4 (ativador), 75%mol de grafite. Substratos de aço 1008 foram aquecidos de 1 a 5h em 960±100C em recipientes de alumina ou aço 304. Na boretação líquida, os substratos metálicos são imersos em banhos de sais fundidos de compostos de boro em temperaturas entre 900 e 10000C por 4 a 12h. Qing’en & Zaizhi (1984) boretaram ferro puro , aços carbono, aços inox austenítico e aço baixo carbono forjado num banho de que consistia de 80 a 85% de borax e 15 a 20% de carbeto de silício em 9500C por 4 a 8h. Na boretação gasosa, vapores contendo boro são gerados através da decomposição térmica de hidretos de boro Me(BH4)n, e o processo é conduzido em altas temperaturas. O outro processo alternativo envolve redução por hidrogênio dos haletos de boro como o BCl3 e BBr3. Esse processo é particularmente vantajoso quando profundidade de camada devem ser controladas quanto a espessura e homogeneidade como componentes de precisão que possui formas geométricas complexas. 1.3 - Deposição Física de Vapor (PVD) 1.3.a - Implantação iônica A modificação da região próxima a superfície pelo uso de feixe de íons energéticos tem sido exaustivamente investigado nos últimos anos (Santos, 1987; Sankaran, 1992; Shohet, 1991; Hulett, 1985). A aplicação original desta técnica foi para controlar a composição de filmes semicondutores. A natureza do processo permite qualquer elemento ser introduzido na região próxima a superfície de uma forma controlada e reproduzível fazendo com que ocorra modificações nas propriedades da Clodomiro Alves Jr. DFTE/UFRN - Tratamento e Revestimento de Superfícies – Apostila superfície sem alterar as propriedades do volume. Devido ao caráter de não equilíbrio do processo, estruturas e composições não obtidas por outros processos podem ser obtidas. O processo consiste em implantar, sobre a superfície de um material, íons altamente energéticos produzidos por um canhão de íons. Este canhão acelera os íons com uma energia entre 10 - 500 keV, numa pressão em torno de 10 -6 torr. A área de impacto do feixe de íons deve ser constantemente movida para evitar superaquecimento local. Os parâmetros mais importante na implantação de íons são: • A espécie do íon; • A energia do feixe; • O número total de íons que bombardeia a superfície do material; • A densidade de corrente do feixe. Suas principais características são: -Controle preciso do número de íons injetados. -Controle da profundidade de penetração. -Permite usar todas combinações de materiais de íons e de alvos -Pode-se obter concentrações acima do limite de solubilidade. -Pode ser realizado em baixa temperatura. O grande número de publicações dessa técnica está mais concentrada em aplicações para aumento de resistência ao desgaste e para diminuir o atrito. Exemplo disso é a utilização de feixes de íons nas articulações de próteses ortopédicas para obter uma superfície mais dura e mais resistente ao desgaste. Outros dispositivos como, aplicações ortodônticas, instrumentos cirúrgicos e sondas venosas, são tratadas para melhorar a fricção, resistência a fadiga (fretting) e a biocompatibilidade dos materiais. As principais partes de um equipamento são (Bushan & Gupta, 1991): • A fonte de íon que ioniza sólidos, líquidos ou gases. • Um sistema de
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