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Aula 3 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL (4)

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HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
Não há como compreender a Constituição sem saber hermenêutica.
I – INTRODUÇÃO
As constituições escritas surgiram só no final do século XVIII, com as revoluções liberais. 
A primeira Constituição escrita foi a norte-americana, 1787, em seguida a Constituição Francesa, de 1791 e, a partir daí começaram a surgir as constituições escritas. 
Antes delas, não havia que se falar em interpretação constitucional porque as normas eram costumeiras. 
A interpretação começa a partir do constitucionalismo liberal.
Desde o final do século XVIII até meados do século passado (1950), durante cerca de 150 anos, a Constituição foi interpretada pelos mesmos métodos de interpretação desenvolvidos por Savigny, lá no direito privado. 
Não existiam métodos de interpretação específicos da Constituição. 
Mutação constitucional vs. Reforma constitucional
A reforma constitucional seria a modificação física, através dos mecanismos definidos pelo Poder Constituinte originário.
As mutações não são alterações físicas palpáveis, materialmente perceptíveis, mas sim alterações no significado e interpretação do texto.
As mutações constitucionais exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas que, por processos informais, se adéquam à sociedade.
II - Regras e princípios
Premissa: NORMAS, gênero!
Dividem-se entre Regras e Princípios, espécies.
Não guardam, entre si, hierarquia!
O sistema constitucional é composto por regras e princípios, o que auxilia em flexibilização e rigidez.
Critérios para diferenciar regras de princípios (Canotilho)
A) grau de abstração: os princípios são normas com grau de abstração elevado, ao passo que as regras possuem abstração reduzida.
B) grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por serem mais vagos, carecem de mediações concretizadoras por parte do aplicador do direito (juiz, legislador), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação direta.
C) Caráter de fundamentalidade no sistema jurídico: os princípios são normas de natureza fundamental no ordenamento jurídico.
D) “proximidade” da ideia de direito: os princípios são “standards” jurídicos, vinculados a ideia imediata de justiça; já as regras podem ser normas com conteúdo meramente funcional.
E) Natureza normogenética:os princípios são fundamentos das regras, constituem as ratio das regras
Derrotabilidade (Defeasibilty), ou superação das regras
Partimos de uma premissa geral: devemos obedecer as normas, com fulcro na obtenção da paz, segurança e igualdade.
Justificativa: 
A) eliminação da controvérsia e da incerteza.
B) eliminação ou redução de potencial arbitrariedade na aplicação costumeira dos valores morais.
C) necessidade de conhecimento técnico para solucionar problemas individuais evitando-se o casuísmo.
A ideia de derrotabilidade atribuída a Hart, acaba por superar o modelo do “tudo ou nada” de Dworking.
Para a superação de uma regra há que haver uma justificativa, uma fundamentação e uma comprovação condizentes.
Sobretudo, há que haver coerência do julgador.
III – MÉTODOS DE INTERPREAÇÃO CONSTITUCIONAL
Canotilho: “não existe só um método correto. Todos os métodos, apesar de partirem de premissas diferentes, são complementares.”
 Dependendo da situação, você pode usar mais um determinado método, ou outro. 
Vai ser muito importante que vocês guardem os nomes dos defensores de cada um dos métodos.
1.	MÉTODO HERMENÊUTICO CLÁSSICO OU JURÍDICO - Ernest Forsthoff
Este método é chamado de hermenêutico clássico por um motivo: ele utiliza os elementos clássicos de interpretação.
Gramatical ou literal – interpreta-se o texto a partir de regras gramaticais.
Lógico – interpreta-se o texto tendo por base postulados de lógica
Histórico – analisa-se o contexto histórico do surgimento da norma.
Sistemático – diz que a norma não existe isoladamente, mas faz parte de um sistema de normas.
Ex. Se você interpreta o direito constitucional à privacidade sozinho, você vai achar que uma privacidade jamais poderá ser violada. O que não é verdade porque há outros direitos que justificam a violação da privacidade, como a própria liberdade de imprensa, muitas vezes
Para Forsthoff, não há necessidade de método específico de interpretação da CF, podendo ser interpretadas por métodos tradicionais. 
E por que ele pensa dessa forma? 
Porque parte do que chama de tese da identidade entre a Constituição e a lei. 
Crítica principal – “Os elementos clássicos foram desenvolvidos para o direito privado, sendo insuficientes para dar conta da complexidade da interpretação constitucional.”
Esses elementos, quando foram desenvolvidos por Savigny, estava pensando exclusivamente no direito privado.
2.	MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL - Rudolf Smend
Os valores subjacentes à constituição, que deram origem à consagração às suas normas são importantíssimos. 
Por isso, é chamado por alguns de método valorativo, dado a importância dos valores.
No caso da CRFBR. Qual é a única parte da Constituição onde não temos normas jurídicas? 
O preâmbulo. 
Neste método o preâmbulo é importantíssima diretriz hermenêutica porque é exatamente no preâmbulo que estão os valores supremos da nossa sociedade.
Um outro fator extraconstitucional muito importante que este método leva em consideração é a realidade social. 
Por isso que este método recebe esse nome, também conhecido como método sociológico, por levar em consideração esta realidade social.
Críticas – Para Canotilho: “indeterminação e mutabilidade de resultados.” – como este método leva em consideração fatores extraconstitucionais (subjacentes à CF), a decisão pode variar de acordo com a realidade social. 
Isso pode gerar insegurança jurídica.
Essa mutabilidade dos resultados pode causar problemas dessa ordem.
3.	MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO - Theodor Viehweg
Método que foi desenvolvido em 1950 – em reação ao positivismo jurídico. Por que se chama assim? 
Tópico porque é um método que se baseia em “Topos” ou “Topoi” (no plural). 
O que é Topos? “Plano de raciocínio, de argumentação, esquema de pensamento, ponto de vista” são expressões comumente utilizadas para designar um topos.
Parte-se do problema para a norma.
Críticas principais:
A interpretação deve partir da norma para o problema e não o contrário
Casuísmo ilimitado – como vocês devem ter percebido, a utilização desse método é perigosa porque pode levar a esse casuísmo, cada caso ser decidido de uma forma.
Pouca importância atribuída à jurisprudência
4.	MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR – Konrad Hesse
Visa à concretização de uma norma. O que significa isso? 
Concretizar uma norma é aplicar uma norma abstrata a um caso concreto. É essa a associação do concretizador.
 E aí, teremos a premissa da qual esse método parte: interpretação e aplicação são indissociáveis? Constituem um processo unitário? 
Essa é a premissa da qual ele parte: interpretação e aplicação são inseparáveis. Constituem um processo unitário.
Segundo Konrad Hesse, seriam necessários três elementos básicos
Problema – Sem o problema diante de você, não há como usar esse método.
Norma – Aqui a norma é elemento básico. O método hermenêutico concretizador entende que existe uma primazia da norma sobre o problema. Você não deve partir do problema para a norma e sim, o contrário.
Compreensão prévia da norma pelo intérprete!
III – PRINCÍPIOS INTERPRETATIVOS da constituição ou PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS 
PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO
Conceito:“O princípio da unidade da Constituição impõe ao intérprete a harmonização das tensões e conflitos entre normas constitucionais.”
Magistratura/MG: “Qual princípio afasta a hierarquia entre normas da Constituição?” 
Princípio da unidade.
Princípio do efeito integrador
Associado ao princípio da unidade da constituição rege que:
Na solução dos problemas jurídicos com fundo constitucional, deve dar-se primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social da norma.
PRINCÍPIO DA MÁXIMA
EFETIVIDADE
Também chamado de princípio da eficiência ou da interpretação efetiva, rege que a interpretação constitucional deve dar a norma a mais ampla efetividade social.
PRINCÍPIO DA JUSTEZA OU EXATIDÃO FUNCIONAL
O interprete máximo da Constituição, STF, ao concretizar a norma constitucional, será responsável por estabelecer a força normativa da Constituição, não podendo alterar a repartição de funções do Poder, isto é, o intérprete máximo da norma não pode chegar a uma interpretação que subverta ou perturbe o que foi constitucionalmente estabelecido.
	PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA
Definição: “Na interpretação constitucional, deve ser dada preferência às soluções densificadoras de suas normas que as tornem mais eficazes e permanentes”. 
Densificar é concretizar. 
PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO
Esse primeiro postulado não é utilizado para interpretar a Constituição, mas para interpretar as leis a partir da Constituição.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE OU RAZOABILIDADE
Fundamental na solução de colisão de valores constitucionalizados.
PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE ou COLIDÊNCIA DAS LIBERDADES 	PÚBLICAS
Definição: “Não existem princípios absolutos pois todos encontram limites em outros princípios também consagrados na Constituição.”
Se nós tivéssemos um princípio absoluto, ele sempre teria que prevalecer em face de outros princípios. 
Isso geraria um problema muito sério para a cedência recíproca dos princípios. 
Para que os princípios possam conviver, é preciso que eles se flexibilizem. 
Em não ocorrendo, não há como resolver esse caso concreto.
Exemplo de cedência recíproca
 Há autores que dizem que o princípio da dignidade da pessoa humana é absoluto.
Situação concreta: A ADPF 54: não realização do aborto no caso de anencefalia.
 Um dos argumentos usados pelos favoráveis: princípio da dignidade da pessoa humana da mãe.
 Argumento usado pelos que condenam o aborto de feto anencefálico: dignidade da pessoa humana do feto (seria violado se o aborto fosse permitido).

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